A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO SEMIÁRIDO NORTEMINEIRO: A IMPORTÂNCIA DO PROJETO GORUTUBA COMO RESPALDO DOS MORADORES DOS MUNICÍPIOS DE JANAÚBA E NOVA PORTEIRINHA COSTA, DAYANE STEPHANIE MAIA/UNIMONTES1 DIAS, LUCIMAR SALES/UNIMONTES² PEREIRA, ANETE MARÍLIA/UNIMONTES² Resumo: O problema de escassez da água no semiárido está relacionado aos curtos períodos de chuva durante o ano na região. Em meio a esse contexto, vários projetos têm sido criados e o seu desenvolvimento tem contribuído para diminuir os efeitos de longos períodos de secas que afetam de forma negativa na vida socioeconômica dos moradores que habitam áreas com essas características. Essa pesquisa se justifica através da busca de conhecer projetos que promovam desenvolvimento e melhorias na convivência com o semiárido. Portanto o artigo tem como principais motivações conhecer o Projeto de Irrigação Gorutuba, onde, segundo dados, vários moradores do município de Janaúba e Nova Porterinha garantem o próprio sustento através do beneficiamento do mesmo. Sendo assim, percebe-se a prática comercial respaldada pelo projeto como uma atividade gerenciadora de uma renda mensal para os moradores dessa área. Palavras-chave: Semiárido; Projeto Gorutuba; Irrigação Abstract: The water shortage problem in the semiarid region is related to short periods of rain during the year in the region. Amid this context, various projects have been created and its development has contributed to decrease the effects of long periods of drought affecting negatively on the socio-economic life of the semiarid residents. This research is justified by seeking to know projects that promote development and improvements in living with these regions. So the article 's main motivations know Irrigation Project Gorutuba where, according to several residents of the municipality of frangipani and New Porterinha guarantee support themselves through the same processing. Thus, we see the business practice supported by the project as a Managing Company activity of a monthly income for the residents of this area. Key-words: semiarid; Gorutuba project; irrigation 1 – Introdução O presente trabalho visa conhecer o Projeto de Irrigação do Gorutuba que dentro do palco de discussões do semiárido refere-se a busca por alternativas que ajudem na construção de soluções que superem as consequências da falta de água. Segundo dados de pesquisas realizadas, vários moradores de comunidades no município de Nova Porterinha garantem o próprio sustento através do beneficiamento do referido projeto. Portanto, existem muitas famílias na área de Nova Porteirinha que também além de comercializarem na cidade os seus produtos 1 Mestranda em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros ² Mestrando em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros ³Orientadora Doutora em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia 3139 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO obtidos pelo projeto, os vendem em outras cidades vizinhas. O Projeto Gorutuba, tem se enquadrado como um promotor no aumento do índice de indicadores econômicos nos municípios de Janaúba e Nova Porteirinha sendo estes incluídos na área de delimitação do semiárido brasileiro conforme o Ministério da Integração Nacional 2005. O projeto foi implantado em 1978 e encontra-se situado nos municípios mencionados com uma área total de 7.249 ha e capacidade de irrigar 4.780 ha. Atualmente a área irrigada é de 4.281 há, sendo 64,5% de fruticultura, 18% de grãos e cereais, 17,5% de outras culturas, mas com cerca de 2.700 ha (63%) da área irrigada ocupada pela cultura de banana, das variedades prata-amnã e nanica. (CODEVASF, 1991). Através da barragem do Bico da Pedra com capacidade de armazenar 705 milhões de metros cúbicos o projeto apresenta 11 colonizações com assentamentos de 409 colonos (2.530 ha) e 43 empresários (92.250 ha), com obras de infraestrutura sociais. Além disso possui uma extensa rede de canais. A metodologia desse trabalho seguiu de diversas formas, por meio da análise de artigos, livros e periódicos seguidos de avaliação documental, que constaram informações sobre a realidade do semiárido brasileiro, em específico no norte de Minas Gerais. Realização de visitas aos referidos municípios do semiárido nortemineiro, com entrevistas informais a agricultores moradores dos municípios de Janaúba e Nova Porterinha e entrevistas com trabalhadores rurais que frequentam a feiras no mercado principal de Janaúba. 2 – Desenvolvimento O tema ora estudado sobre a escassez da água no semiárido está relacionado aos curtos períodos de chuva durante o ano na região. O semiárido mineiro, assim como todo o semiárido brasileiro, apresenta temperaturas elevadas, chuvas escassas e irregulares, com períodos secos e longos e a pluviosidade concentrada em poucos meses do ano. Diante do exposto, Ayoade (2007, p. 249) pontua que: O clima semi-árido é caracterizado pela precipitação baixa. O principal controle é a sua localização em interiores continentais bem distantes da influência das massas de ar marítimas. A amplitude anual de temperaturas é grande, com verões quentes e invernos frios. A preciptação é baixa e variável de ano para ano, com aproximadamente 150-400 mm por ano no 3140 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO clima semi-árido e muito menor do que isso no clima árido. A vegetação de deserto é característica de desertos de latitudes médias, enquanto as gramíneas de estepe predominam na região semi-árida. O clima semi-árido é caracterizado pela precipitação baixa. O principal controle é a sua localização em interiores continentais bem distantes da influência das massas de ar marítimas. A amplitude anual de temperaturas é grande, com verões quentes e invernos frios. A preciptação é baixa e variável de ano para ano, com aproximadamente 150-400 mm por ano no clima semi-árido e muito menor do que isso no clima árido. A vegetação de deserto é característica de desertos de latitudes médias, enquanto as gramíneas de estepe predominam na região semiárida. A degradação ambiental e social do Semi-árido não decorre unicamente das restrições hídrica, de um balanço oferta demanda de água desfavorável que tem como causas o regime intermitente dos rios, as chuvas irregulares, o predomínio de rochas cristalinas e clima megatérmico. Assim, o que mais falta ao Semi-árido não é uma dotação exuberante de recursos naturais. Do que ele mais carece é de certo tipo de mentalidade, de determinado padrão cultural que agregue confiança, gere normas de convivência civilizadas, cria redes de associativismo e melhore a eficiência das organizações (BAIARDI e MENDES, 2007, p. 31). Apesar de todo o discurso alienante da temática que envolve o semiárido, que perdura por muitos anos, é importante destacar que, o semiárido não apenas mineiro, mas em geral de todo o país, apresenta significativa diversidade ambiental e cultural. Os problemas do semiárido não se restringem apenas a falta de água e a fatores climáticos, são também questões de ordem política. Apesar da difícil realidade, advinda dos períodos de seca, ao se analisar o semiárido brasileiro, como um todo, verifica-se que este é muito rico em diversidade faunística e florística, com alto índice de chuvas, podendo alcançar 800 mm ao ano em alguns locais. A esse respeito Malvezzi (2007, p. 10) ressalta: É o Semi-árido mais chuvoso do planeta: a pluviosidade em média, 750 mm/ano (variando, dentro da região, de 250 mm/ano a 800 mm/ano). É também o mais populoso, e em nenhum outro as condições de vida são tão precárias como aqui. O subsolo formado em 70% por rochas cristalinas, rasas, o que dificulta a formação de mananciais perenes e a potabilidade da água, normalmente salinizada. Por isso, a captação da água de chuva é uma das formas mais simples, viáveis e baratas para se viver bem na região. 3141 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Portanto, a região do norte de minas incluindo o semiárido, apresenta grande diversidade biológica e diversos tipos de paisagens com muitas características e peculiaridades com significativo potencial para o desenvolvimento sustentável, é com base nesse contexto que o presente artigo apresentará informações sobre a agricultura irrigada incorporada ao Projeto Gorutuba que se refere a um promotor do aumento do índice de indicadores econômicos nos municípios de Janaúba e Nova Porteirinha sendo estes incluídos na área de delimitação do semiárido brasileiro conforme o Ministério da Integração Nacional 2005. 3- A importância do Projeto Gorutuba para o semiárido nortemineiro Devida as condições climáticas que atuam sobre a região do Vale do Gorutuba a prática da agricultura até o período da década de 80 era dificultada devido às condições climáticas que atuam sobre a região. O clima do Vale do Gorutuba é classificado como tropical semiúmido (megatérmico) de savana de acordo com a classificação de Koppen. Portanto, esse clima apresenta como característica uma estação chuvosa no verão e no inverno estação seca. O período considerado como frio na região alcança temperaturas superiores a 18°C com índice pluviométrico superior a 750mm no ano podendo alcançar até 1800 mm. Sendo assim, a produção de culturas tropicais torna- se viável na região. No entanto o maior desafio para o desenvolvimento dessas atividades encontra-se na irregularidade pluviométrica que gera períodos de seca. Segundo a CODEVASF (2006), os municípios de Janaúba e de Nova Porteirinha, apresentam características de uma economia sustentada no setor pecuário de alta concentração na estrutura de posse da terra e por uma produção agrícola reservada à agricultura familiar, com ou sem posse da terra, com baixo excedentes de produtos comercializáveis. Uma das principais culturas, de acordo com a CODEVASF (2006) consistia no algodão. No entanto, com a disseminação da praga “Bicudo” esse tipo de produção foi drasticamente reduzido na região. Além disso, torna-se possível considerar as tentativas por meio de incentivo governamental da introdução da cultura comercial da mamona que também não alcançaram êxito em função da rentabilidade de exploração. 3142 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Dentro desse contexto, dessas tentativas, percebe-se que a responsabilidade se deu ao pequeno produtor, no que se refere a produção de culturas de subsistência, que também pela escala de produção e riscos de estiagem, mostrouse insuficiente para manter a qualidade de vida das famílias no campo. Contudo o êxodo rural para regiões mais desenvolvidas ganha destaque nesse cenário. Diante da situação socioeconômica do Vale do Gorutuba foi implantado o Projeto de irrigação pelo Governo Federal, almejando o desenvolvimento através da agricultura irrigada e, ao mesmo tempo, do processo de modernização agrícola na região. Além desse projeto de irrigação, onde se percebe um caráter mais capitalista aos empreendimentos implantados no Vale do São Francisco, a CODEVASF, intervém, ainda, em mais dois expressivos projetos no Norte de Minas Gerais, como o projeto de irrigação de Pirapora, no município de Pirapora-MG, e o projeto de irrigação do Jaíba, nos municípios de Jaíba e Matias Cardoso (ALMEIDA, 1999, p.12). 3.1-O Perímetro de Irrigação do Gorutuba O Perímetro de Irrigação do Gorutuba (Figura 01) localiza-se ao Norte de Minas Gerais, no município de Nova Porteirinha – MG, na margem direita do Rio Gorutuba. Este empreendimento foi projetado pelo Departamento Nacional de Obras Contra a seca – DNOCS, que iniciou a sua implantação na área do Paraguaçu, mediante a construção das residências dos colonos e dos canais de distribuição de água suspensos, chamados de acéquias, transferindo, em seguida, a responsabilidade de implantação do projeto para Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba – CODEVASF. 3143 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Mapa 01: Perímetro Irrigação Gorutuba Fonte: Distrito de Irrigação do Perímetro Gorutuba (DIG), 2015. A CODEVASF a partir de 1978, conduziu a implantação de toda a infraestrutura de uso comum, compreendendo a barragem do “Bico da Pedra”, a rede de canais complementares para condução de água e a rede de estradas vicinais. Em 1979, após a implantação da infraestrutura básica e necessária para irrigação, a CODEVASF voltou-se para ocupação da área do projeto, dividida em lotes agrícolas, com pequenos produtores, pequenos e médios empresários, de acordo com a concepção a sua concepção planejada (CODEVASF, 2006). Com base nos documentos da empresa, os lotes destinados para agricultura familiar foram ocupados por pequenos produtores, após serem selecionados mediante critérios estabelecidos pelas normas de colonização da CODEVASF e pelo Estatuto da Terra, Lei nº 4504/64, enquanto os lotes empresariais foram ocupados por empresários, pequenos e médios, mediante processos de licitação das áreas, de acordo com a Lei de Irrigação. Os pequenos produtores e empresários foram assentados com o compromisso de exploração dos seus lotes agrícolas, utilizando-se da técnica de irrigação, sendo, indistintamente, chamados de irrigantes, em conformidade com artigo 45 da Política Nacional de Irrigação que define o irrigante como sendo a pessoa física ou jurídica que se dedique, em determinado projeto de irrigação, à exploração do lote agrícola, do qual seja proprietária, promitente ou compradora concessionária de uso. 3144 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Em maio de 1986 o Perímetro de irrigação do Gorutuba foi emancipado, passando a ser administrado pela COVAG – Cooperativa Agrícola de Irrigação do Vale do Gorutuba até Janeiro de 1992. Em de fevereiro de 1992 as atividades de operação e manutenção do projeto retornaram para a CODEVASF, que em 1993, mediante convênio, transferiu a responsabilidade de gerenciamento da infraestrutura de irrigação de uso comum para a Organização de Produtores do Perímetro, o Distrito de Irrigação do perímetro Gorutuba – DIG. Segundo a CODEVASF (2007), o Perímetro possui uma área total de 8.902,70 hectares, sendo 4.747,11 irrigáveis e 3.216,24 aproveitadas em forma de sequeiros, basicamente com pastagem. O restante 939,35 hectares são destinados a vários usos, que não agricultura. A área total contempla 392 lotes agrícolas para pequenos produtores, que ocupam 3.222,30 hectares, sendo 2.456,22 irrigáveis. Cada lote tem uma área média de 8,37 hectares, sendo 6,27 hectares irrigáveis. Contempla, ainda, 53 lotes agrícolas empresariais, com 3.808,29 hectares, sendo irrigáveis 2.290,29 hectares. Os lotes empresariais têm em média 71,85 hectares e, desta área, 43,21 hectares são irrigáveis. Além dos lotes mencionados, o Perímetro tem ainda 100 lotes considerados pela empresa como área de sequeiro, não contíguos aos lotes irrigáveis, num total de 872,80 hectares. Os lotes agrícolas estão distribuídos nas áreas do projeto, denominadas de áreas de colonizações, tais como: Bico da Pedra, Matinha, Colonização I, II e III, Caraíbas, Beira Rio, Mosquito, Algodões, Ceará, Banavit e área empresarial. De acordo com a CODEVASF (2007), uma parcela dos pequenos agricultores foi assentada basicamente nos núcleos habitacionais das colonizações I, II, III e Bico da Pedra. Nas demais colonizações, os produtores residem em casas construídas nos próprios lotes. Os empresários, em sua maioria, residem nas cidades de Janaúba, Porteirinha e em outros municípios do Estado de Minas Gerais. Segundo o DIG (2010), 78% do pessoal assentado no Perímetro têm origem dos municípios de Janaúba e Porteirinha - MG.A irrigação das áreas agrícolas do Perímetro, de acordo com o DIG (2010), é feita utilizando-se a água armazenada pela barragem “Bico da Pedra” que é conduzida por gravidade aos lotes agrícolas. A infraestrutura hidráulica é constituída por canais de irrigação principal, secundários e terciários, que a partir 3145 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO da barragem distribui água para cada lote. Ao todo são 28,52 km de canal principal, 103 km de canais secundários e terciários e 320 km de estradas. A característica principal de produção do Perímetro de Irrigação do Gorutuba é a sustentação econômica através da bananicultura, que segundo dados da CODEVASF, representa mais de 80% da área explorada, representando, ainda, 83% da receita dos lotes de pequenos produtores e 86,8% da receita dos lotes empresariais. Atualmente a economia de Janaúba está baseada na fruticultura, sobretudo na produção de banana, com origem principalmente nos Projetos de Irrigação do Gorutuba e Lagoa Grande, além da pecuária de corte e leite. Os projetos de irrigação exercem uma importância fundamental para as regiões de baixos índices pluviométricos, como é o caso do Vale do Gorutuba. Com a irrigação o produtor tem a oportunidade de plantar e colher até mesmo nos períodos de seca, o que lhes garantem uma maior produção e rentabilidade financeira. Embora os impactos socioeconômicos de um projeto de irrigação como o Gorutuba possam ter repercussões regionais e estaduais, eles refletem-se primeiramente nos municípios da Serra Geral: Janaúba, Porteirinha, Nova Porteirinha, Espinosa, Mato verde, Monte Azul e Riacho dos Machados. Atualmente, os impactos socioeconômicos positivos são visivelmente observados nos municípios de Janauba e Nova Porteirinha. Estes podem ser comprovados através da expansão urbana dos dois municípios, a partir do crescimento populacional e dos setores de comércio e prestação de serviços, juntamente com o surgimento de empresas ligadas ao meio rural. Não resta dúvida que esse crescimento se deve à presença do empreendimento irrigado implantado pelo poder público federal, conforme afirmativa já citada por Hermano (2006) que o fortalecimento econômico de Janaúba e de Nova Porteirinha se deu pela implementação da infraestrutura ou macrossistemas, representados pela barragem, pelos canais de irrigação, rodovias e outros, levando a região a um processo de desterritorialização, traduzida numa nova função econômica. 3146 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 4-As práticas comerciais respaldadas pelo Projeto Gorutuba Pouco se conhece em termos de trabalhos técnicos voltados para avaliação qualitativa e quantitativa dos efeitos diretos e indiretos da agricultura irrigada na economia dos municípios de Janaúba e Nova Porteirinha-MG. Um estudo direcionado para essa finalidade foi feito em 1998, pela Universidade Federal de Viçosa, intitulado “Impactos Socioeconômicos do Perímetro Irrigado do Gorutuba nos municípios de Janaúba e de Nova Porteirinha”, onde se verificou que a agricultura irrigada, à época, já se apresentava como um componente significativo no desenvolvimento econômico dos municípios citados. Registrou-se que 3.428 empregos diretos foram gerados após a implantação do perímetro irrigado, além da ocupação da mão-de-obra familiar com salários ligeiramente superiores aos pagos pelos setores industriais e de comércio da região. Nesse mesmo estudo, as condições de saúde, lazer e educação, bem como a satisfação com a qualidade de vida, foram avaliadas positivamente pelos colonos habitantes das agrovilas. Pode-se afirmar, com bastante convicção, que a implantação do Perímetro Irrigado do Gorutuba foi capaz de promover mudanças socioeconômicas importantes na região, especificamente para os municípios de Janaúba e Nova Porteirinha-MG. Com o Projeto de Irrigação Gorutuba, segundo entrevista informal com uma família moradora da comunidade denominada da colonização no município de Nova Porterinha (Figura 01), os mesmos garantem o próprio sustento através do beneficiamento do projeto de irrigação gorutuba, a família mora na colonização, porém possui um sitio em outra comunidade: banavit que é onde o canal passa. Contudo ainda foi possível visualizar que existem muitas famílias nessa área de Nova Porterinha, que além de comercializarem seus produtos na própria cidade obtidos pelo projeto, vendem em outras cidades vizinhas, sendo assim percebe-se que é uma forma de convivência, essa atividade permite aos mesmos gerenciar uma renda mensal. 3147 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Figura 02: Família da comunidade Colonização-Nova Porterinha Autor: Costa, 2013 Essa constatação, embora em caráter contemplativo, é visível quando se observa em ambas cidades, o crescimento do ambiente urbano, o movimento comercial, a presença de fábrica de embalagens de produtos agrícolas, a presença das indústrias de transformações agropecuárias, tais como: agroindústria de laticínios, de polpa de tomate e dezenas de pequenas indústrias de alimentos e de produção de aguardente. Citam-se, ainda, as oportunidades de empregos, direta e indiretamente, proporcionadas pela agricultura irrigada, os avanços na área da saúde, com redes hospitalares equipados, na área educacional, com a presença de faculdades de ensino superior, que no conjunto são exemplos contundentes do crescimento da economia a partir da implantação do empreendimento de irrigação Contudo ao considerar os impactos socioeconômicos positivos ocasionados pelo projeto deve-se ressaltar também as práticas comerciais nas feiras que são realizadas no mercado Anerindo Miranda (figura 03 e 04) da cidade de Janaúba que contribuem para aumentar o índice desses impactos. Figura03: Imagem da Feira Livre de Janaúba – MG. Fonte: Dias, 2014. 3148 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Figura 03: Imagem da localização da Feira Livre (Mercado Anerindo Miranda) de Janaúba –MG. Fonte: Google Earth, 2015. O mercado principal de Janaúba apresenta uma variedade de produtos comercializados de forma generalizada por Pequenos Produtores e Feirantes. Os diversos produtos comercializados nessas feiras são resultado do trabalho de pequenos produtores participantes da agricultura familiar. Quadro 01: Dados obtidos através de entrevista informal a feirantes no mercado de Janaúba Nome Comunidade 1º 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° Janaúba Colonização III Jacarezinho Coloni/ Ceará Jataí Poções Estrada velha Banavit Porteirinha Lagoa Grande Renda Mensal 250,00 550,00 500,00 490,00 320,00 400,00 420,00 250,00 150,00 160,00 Associação Não Sim Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Origem dos Produtos própria própria própria própria 50%própria própria 70%própria própria própria Própria Programa do Governo Não Sim Não Não Não Sim Não Sim Sim Sim Org.: Costa, D. S. M; 2015. Em entrevista informal a 10 produtores no mercado municipal de Janaúba 80% desses produtores pertencem a alguma associação e 50% são atendidos por programas do governo como Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Esses programas incrementam a renda do produtor, sendo que os produtos de maior comercialização são em primeiro lugar as hortaliças em geral. Dos produtores entrevistados, tornou-se possível identificar que cerca de 5% em média das pessoas que integram as famílias dos mesmos apresentam alguma relação com a atividade prática da agricultura familiar, sendo possível ressaltar assim a significativa importância dessa atividade no que se refere a geração de empregos e elevação na renda dos produtores rurais. 3149 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 5- Considerações Finais Contudo, percebe-se por meio dessa pesquisa que o Projeto Gorutuba apresenta de uma forma ampla vários benefícios para a região, é possível considerar o mesmo, como um promotor de alternativas de convivência diante da característica de semiaridez que esta por sua vez apresenta. É possível ainda considerar a prática comercial respaldada pelo projeto como uma atividade gerenciadora de uma renda mensal para os moradores dessa área. Torna-se importante no contexto das feiras que as mesmas desenvolvem um papel de fundamental importância nos municípios, na medida em que promovem o desenvolvimento do comércio local de pequenos produtores, o sociocultural torna-se evidente por meio da divulgação de produtos culturais regionais. Evidentemente que mesmo diante dessa reflexão de impactos positivos este trabalho não poderia ser finalizado sem considerar a necessidade de se lembrar em que pese o alcance social e econômico da agricultura irrigada, conforme se evidencia, torna-se necessário analisar também as consequências danosas ao meio ambiente advindas da implantação e operação de empreendimentos dessa natureza. São relevantes as observações e análise dessas ocorrências, considerando as amplas discussões sobre o assunto e o reconhecimento dos efeitos das atividades econômicas no meio ambiente. 6- REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria Ivete Soares. “Algumas considerações sobre o papel do estado na reorganização do espaço norte mineiro”. In: Caderno geográfico. Montes Claros: vol.3, Outubro-1999, p. 9-15. AYOADE. J.O: Introdução a Climatologia para os Trópicos. Bertrand Brasil, 10ª edição, 2004 BAIARDI, A; MENDES, J. Agricultura familiar no semi-árido: fatalidade de exclusão ou recurso para o desenvolvimento sustentável. Revista Bahia Agrícola, v. 8, n. 1, nov. 2007. Disponível em: <www.seagri.ba.gov.br/pdf/4_socioeconomia01v8n1.pdf>. Acessado em 04/05/2015. 3150 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO CAA-CENTRO DE AGRICULTURA ALTERNATIVA. Disponível em www.caa.org.br. Acessado em Maio de 2013 DIG – Distrito de Irrigação do Gorutuba. O Perímetro do Gorutuba. Janaúba, Agosto, 2015. CODEVASF. Inventários dos Projetos de irrigação. Ministério da Integração Nacional-Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco, 2° ed.1991. 160 p. CODEVASF. Relatório de Gestão 2009 / Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba. Brasília: Codevasf, Área de Gestão Estratégica, Gerência de Planejamento e Estudos Estratégicos, 2009. 326 p.: il. CODEVASF. Relatório de Impactos Ambientais - RCA. Empreendimento: Projeto de Irrigação do Gorutuba. Brasília –DF, 2006. CODEVASF. Plano de Controle Ambiental – PCA. Empreendimento: Projeto de Irrigação do Gorutuba. Brasília-DF, 2007. CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco. Internet: http://www.codevasf.gov.br, 2010. EMATER-MG. EMPRESA DE ASSITÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Disponivel em http://www.emater.mg.gov.br/ . Acessado em abril de 2014 MALVEZZI, R. SEMI-ÁRIDO Uma Visão Holística. – Brasília: Confea, 2007. 140p. – Pensar Brasil. PIERRI, Maria; VALENTE, Ana. A Feira Livre Como Canal De Comercialização De Produtos Da Agricultura Familiar. Disponível em: http://www.sober.org.br/palestra/15/234.pdf. Acessado em: 01 de abril 2014. 3151