O USO DA ÁGUA NO HIDROTERRITÓRIO DO GORUTUBA AFONSO, Priscilla Caires Santana (Unimontes/UFU, [email protected]) HERMANO, Vívian (Unimontes/FAVAG, [email protected]) 1. Introdução A água se tornou recurso estratégico na sociedade capitalista. Nas últimas décadas, muitos foram os estudiosos que analisam e trabalham com o tema através dos sistemas de gestão desse recurso pela sociedade. Esse estudo tem como objetivo discutir o uso da água no hidroterritório do Gorutuba em Janaúba e Nova Porteirinha/MG. Nesse sentido, a pesquisa está estruturada em dois eixos complementares, a saber: (a) o primeiro, busca o entendimento de um novo conceito na Geografia, o hidroterritório, fundamental para a delimitação do locus da pesquisa, (b) o segundo, analisa os usuários do hidroterritório da sub-bacia do Gorutuba em Janúaba e Nova Porteirinha/MG. Para alcançarmos o objetivo desse trabalho adotamos uma metodologia baseada em pesquisa bibliográfica, entrevista com órgãos responsáveis pela gestão e usuários da água, além de trabalho de campo. Os resultados parciais demonstram que existe uma tentativa por parte da sociedade civil organizada, ONG’s e governo de se gerir a água de forma democrática. Entretanto, as entrevistas revelam que a gestão democrática ainda não é uma realidade na sub-bacia que conta com um comitê bem estruturado e paritário, preparado para ouvir pequenos e grandes usuários, mas existe a necessidade de se encontrar o equilíbrio entre o uso social da água e a demanda de empresas capitalistas, entendidas nesse trabalho como agricultores irrigantes e demais empresas usuárias. 2. Hidroterritório (novos territórios da água): uma análise Ao analisarmos a tardia construção do conceito de hidroterritório na Geografia, é impossível não pensarmos porque essa ciência se eximiu por tanto tempo da análise do tema Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 água e de sua cultura. Vianna (2005, p. 230) levanta a seguinte questão: “Seria a Geografia a rainha do Espaço e a viúva das águas?” e complementa se a Geografia falha por não incluir a água, os recursos hídricos e as intervenções nos espaços hídricos na análise espacial, por outro lado o conhecimento do espaço geográfico como um todo é incompleto sem uma visão espacial desse elemento. (VIANNA, 2005, p. 217-218) Ribeiro (2003, p. 8) também analisa o papel da Geografia na geopolítica das águas: A crise da água é, principalmente, gerada pela sua distribuição pelo planeta e pelo seu uso. Ela combina natureza a história, dando-lhe um caráter eminentemente geográfico. A crise circunscreve os países que mais consomem água no mundo e os que apresentam escassez dessa substância, assumindo caráter geográfico. Os processos naturais ocorrem dentro de uma organização territorial construída ao longo de séculos. Os rios são resultados de processos naturais que se realizam sobre territórios demarcados pela história. Assim, a geografia de um rio sintetiza história e natureza. Nesse sentido, geógrafos como Vianna (2005), Torres (2007, 2008), Brito (2008), Mendonça (2005), Afonso (2008) trabalham na tentativa de rever esse cenário. A partir desses esforços, e com o auxílio de áreas como a Sociologia e Economia, começam as discussões sobre a categoria hidroterritório dando a Geografia o status de ciência a que cabe seu conceito central. O termo hidroterritório para esses autores expressa um fenômeno social onde o controle da água representa o domínio do território, trazendo à tona conflitos e movimentos espaciais e temporais. “Estes movimentos se percebem tanto nos temas relacionados com os aspectos humanos como os físicos da geografia” (TORRES, 2008, p. 2). Ainda segundo a autora, o hidroterritório (...) é aquele de poder político e/ou cultural oriundas da gestão da água, assumindo assim, o papel determinante em sua ocupação. A princípio este território é demarcado pela disputa dos estoques de água, não se restringindo a limites de aqüíferos onde estão localizados, podendo inclusive gerar conflito pela posse e controle da água, (...). No aspecto de formação territorial, o hidroterritório pode assumir dimensões e delimitações múltiplas, a origem e trajetória da água é que vai demarcar seu tamanho e forma. (TORRES, 2007, p. 15) Podemos entender que o hidroterritório está associado às dimensões “clássicas” do conceito de território; como a política, a econômica e a sócio-cultural (mais recentemente discutida) e a dimensão ambiental sendo, portanto, uma categoria socioambiental que nos Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 permite a análise de fenômenos que vão do uso e gestão até as relações ambientais que se estabelecem no tempo e no espaço. A gestão da água em cada território é sempre diversificada, e pode estar relacionada à cultura de um povo. Pode acontecer por interesse de um agente privado de explorar, controlar e consumir a água ou pode vir num movimento verticalizado, por imposições da globalização repassadas pelos Estados-Nação. Em cada um desses casos podemos verificar territorialidades que não são isoladas ou dividas espacialmente. As diversas territorialidades (multiterritorialidades) presentes no espaço muitas vezes geram conflitos, demonstrando o confronto de poder. À medida que uma se sobrepõem a outra acontece à imposição dessa dada “força” (ler-se poder) sobre uma população, se estabelece novas ou mantém antigas práticas no território. A luta como movimento, se expressa como uma inacabável territorialização, até que um dos lados aceite as intervenções do outro. A dinâmica imposta é bastante similar a do mercado, de acordo com o ritmo e a necessidade do Capital. Sobre a territorialidade do capital no território em situação de disputa, Torres (2007, p. 15) adverte: Os ciclos e os ritmos acontecem porque, por vezes, alguns anseios do Capital não conseguem obter êxito nas suas empreitadas, pois, para algo ser considerado como mercadoria, assume-se como postulado o reconhecimento pela sociedade desse algo como mercadoria. Nesse caso, a tentativa de criar uma nova mercadoria não será descartada, ela será então, gotejada em pequenas doses de forma que a sociedade assimile lentamente. E a rejeição ou resistência a uma nova mercadoria, geralmente só acontece se a transformação imprime uma mudança brusca e/ou bruta no hábito dessa sociedade. Vianna (2005, p. 220) sugere com base nessas idéias a classificação dos hidroterritórios: a) Hidroterritórios Privados, totalmente mercantilizados, que expressam um valor econômico por quantidades de água, distinto do pagamento de serviço de tratamento e distribuição; b) Hidroterritórios de Luta, resistentes à mercantilização e que não reconhecem a água como mercadoria travando assim uma luta de classe, denotados por questões de exploração econômicas e sociais; c) Hidroterritórios Livres, situação em que a política aplicada de gestão da água deve ser de total socialização, tornando-a inalienável e disponível para as gerações futuras. Esses últimos apresentam raízes profundas da cultura, das Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 crenças e costumes, dos que habitam esse território. Ao negar a prática da água mercantilizada, os aparelhos ideológicos culturais demonstram a autonomia de identidade. Podemos inferir que essa luta está em curso quando pensamos a gestão e o uso da água no Norte de Minas. A questão hídrica da região não pode ser analisada sem se levar em consideração a implementação dos projetos de irrigação, que modificaram as relações de poder em relação à utilização dos recursos hídricos. Nesse artigo destacamos o caso do Hidroterritório do Gorutuba. 3. O Hidroterritório do Gorutuba Nessa pesquisa, entendemos o hidroterritório do Gorutuba com uma área que compreende desde a barragem Bico da Pedra (barragem que torna o rio perene) até a sua foz, onde deságua na sub-bacia do Verde Grande. De acordo com a teoria discutida até aqui, pudemos fazer um recorte espacial que não coincide com a sub-bacia hidrográfica em questão, que abrange uma área mais extensa. Entretanto, entendemos que classificá-lo em privado, de luta e livres, nos parece um tanto quanto simplista, pois não estamos estudando áreas bem delimitadas, onde de um lado está o agrohidronegócio e do outro estão as comunidade rurais. Longe disso, como discutiremos a seguir, o espaço que compreende o hidroterritório é marcado por múltiplos interesses e usuários bem distintos, o que caracteriza as contradições sócio-espaciais que compõe as sociedades. O que podemos refletir até aqui, é que quanto mais os usuários se aproximam das lógicas capitalistas de uso e apropriação dos recursos naturais (agrohidronegócio) temos a caracterização de hidroterritórios mais mercantilizados (privados). À medida que temos propriedades rurais mais voltadas para o auto-consumo, se caracteriza o hidroterritório de estilo livre. Devemos analisar, no entanto, que o Gorutuba não se enquadra perfeitamente nessas definições. Exemplo disso é o pagamento pelo uso da água (não pelo tratamento ou distribuição, mas pelo uso consultivo, como prevê a Lei das Águas – Lei n.º 9433/97) ainda não foi instituído na sub-bacia. Entretanto, com base na perspectiva metodológica do hidroterritório, conseguimos dividir os usuários em: (a) Barragem Bico da Pedra e o principal perímetro irrigado do Gorutuba; (b) demais usuários. São eles que discutiremos nos sub-tópicos a seguir. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 3.1. Barragem Bico da Pedra e o principal perímetro irrigado do Gorutuba A Barragem Bico da Pedra está localizada no rio Gorutuba que é o principal afluente do rio Verde Grande pertencentes à bacia hidrográfica do São Francisco. Essa foi construída em terra com maciço de 43 metros de altura e 275 metros de comprimento. A capacidade de descarga do sangradouro é de 500 m3/s. O lago em sua capacidade máxima forma um espelho d’água com uma área de 1.0000 hectares. (RELATÓRIO DO DISTRITO IRRIGADADO DO GORUTUBA, 2001). Segundo relatório da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba - CODEVASF (2002) a barragem permitiu a implementação do Perímetro Irrigado do Gorutuba. Este projeto é fruto de políticas públicas pós-1964 e, como outros, foi concebido com o intuito de buscar alternativa para a região semi-árida do Nordeste, “exposta ao fenômeno das secas, que ciclicamente provoca queda na atividade agrícola gerando impactos negativos sobre a produção, o emprego, a renda e impedindo o desenvolvimento de suas forças produtivas” (CODEVASF, p. 15, 2002). As áreas do projeto estão divididas em propriedades irrigadas onde merece destaque a fruticultura, que somam uma área total de 4.895,15 ha e propriedades que fazem plantio de sequeiro, que somadas têm 2.339,11 ha. As primeiras são mais valorizadas devido ao acesso fácil à água, estão divididas entre os colonos que detém cerca 68% das propriedades. Outros 42% do total das terras irrigadas estão nas mãos de empresários do agrohidronegócio. Quanto às terras não irrigadas, denominadas de sequeiro, foram em sua maior parte compradas por empresários, que utilizam de poços artesianos particulares para uso doméstico. Quanto à utilização da água para a irrigação, a CODEVASF dá destaque aos seguintes métodos: por gravidade (sulco) 40,85%, aspersão convencional 14,92% e micro aspersão correspondendo à 44,23% (CODEVASF, 2002). Sabe-se que a irrigação é uma atividade, que na grande maioria dos casos, demanda um alto consumo de energia. No tocante a essa questão, a estrutura de irrigação nas propriedades da sub-bacia é considerada pelo Serviço de Apoio a Micro Empresa de Minas Gerais – SEBRAE/MG “de baixo custo energético” (RELATÓRIO SEBRAE/MG, 2004). A estrutura fundiária do assentamento de colonos segundo Hermano (2006), está organizada por núcleos habitacionais; Colonização I, Colonização II, Colonização III, Bico da Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 Pedra, sendo que nas áreas de colonização de Matinha, Beira Rio, Caraíbas, Mosquito, Algodões, Banavit e Nordeste não existem núcleos habitacionais. O projeto Gorutuba, tendo como base os projetos de irrigação regionais como o Jaíba e Pirapora é considerado de médio porte, mas possui infra-estrutura suficiente para proporcionar um processo de transformação econômico regional. A inserção dessa “nova agricultura”, moderna (dependente de insumos agrícolas) e irrigada (com uso de novas tecnologias e energia) realmente “transforma” a realidade local. De um lado temos empresários oriundos de outras partes do Brasil e do Mundo, de outro na luta pela sobrevivência, estão os colonos que buscam a cada dia se “encaixar” na nova realidade regional/mundial. O produto dessa “nova realidade” é a banana, que estrutura uma nova rede econômica regional. Assim, colonos (em alguns casos, empresários) devem se adequar a nova realidade que exige um uso diferenciado da água (que deixa de ser comunitário e passa a ser gerido pela lógica do capital) e da terra (deixa de ser praticada a policultura de auto-consumo para a monocultura de mercado), causando extensos e profundos impactos ambientais e sociais na região, ao avesso do que previa as políticas públicas idealizadoras do projeto. 3.2 Demais usuários Esse grupo de usuários é muito diversificado e os usos da água também são múltiplos. Pudemos identificar o Projeto Lagoa Grande que é uma segunda área de irrigação empresarial composta por 27 usuários; uma empresa de beneficiamento de alimentos que faz uso da água para abastecimentos de postos de gasolina e lava jatos; a captação de um Frigorífico que utiliza os recursos hídricos em todas as etapas do seu processo produtivo, além das comunidades rurais que utilizam a água para consumo doméstico, dessedentação de animais e irrigação de pequenas hortas. O Projeto Lagoa Grande possui uma associação de agricultores irrigantes denominada de Associação dos Irrigantes da Margem Esquerda do Gorutuba - ASSIEG responsável pela representatividade política desses empresários no comitê de bacia e em outros órgãos. Esse projeto responde como o perímetro irrigado da margem esquerda do rio Gorutuba. Outros usuários que chamaram nossa atenção no processo de reconhecimento da área em estudo são as Comunidades de Jacaré Grande, Jacarezinho e Vila Nova dos Poções Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 localizadas em Janaúba/MG e Mandassaia e Ramalhudo em Nova Porteirinha/MG. Essas comunidades estão localizadas à jusante do Projeto Lagoa Grande e realizam captação direta da calha do rio, através de bombas de sucção. Em entrevistas realizadas de janeiro a março de 2010, esses usuários revelaram que além do uso da água do rio, também fazem uso da água da Companhia de Saneamento de Minas Gerais – COPASA para uso doméstico, mas demonstram enorme insatisfação com a qualidade da água oferecida pela empresa. Segundo os entrevistados, a empresa os servem com água de poço artesiano e para eles esse fato garante uma água salobra de péssimo sabor e de péssima qualidade para as atividades domésticas como lavar a louça. A saída então é recorrer à água da calha do rio, ou melhor, a água que saí do dreno que serve ao projeto de irrigação Lagoa Grande. Apesar de não haver estudos sobre a qualidade da água da calha do rio que está sendo usada por essas comunidades, podemos averiguar que a cor e o sabor parecem não ser alterados. No tocante as políticas que regulam o uso, pudemos observar que muitas dessas cotas de uso não estão sendo levadas em consideração no “parcelamento da água” ou Alocação Negociada da Água, documento elaborado pelo Comitê de Bacia com o apoio da Agência Nacional das Águas – ANA no ano de 2002. Constatamos que os estudos que envolvem o tema estão desatualizados e o consumo segue de forma desordenada, tema que retomaremos no próximo item. 4. Alocação negociada da água no Gorutuba De acordo com o relatório da Agência Nacional das Águas - ANA (2003) na alocação negociada da água da barragem os resultados de pesquisas realizadas pela agência e Comitê de Bacia, foram apresentados e discutidos com os usuários em diversas reuniões no período de abril a outubro de 2002. Na análise dos resultados apresentados constatou-se que haveria o atendimento integral às demandas, ou seja, 100% da demanda por água de cada um dos usuários poderia ser atendida. Os estudos que embasaram essa análise foram feitos com base na capacidade de operação do reservatório. Esses, são divididos em duas partes, operação estratégica e operação tática. As regras operativas estratégicas são determinadas pelas análises de toda a série histórica de observações hidrológicas e que, em conseqüência, indicam diretrizes de Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7 operação de longo prazo. Determinou-se, com isso, a vazão regularizada pelo reservatório, para os vários níveis de garantia (FREITAS, 2008). Os operadores do reservatório necessitam tomar decisões no início de um período de irrigação, e nem sempre as diretrizes estratégicas são as mais adequadas. Isto ocorre principalmente diante de situações excepcionais quando o volume do reservatório está muito baixo, como no final da estação da seca (inverno) ou quando se deseja analisar as conseqüências de secas muito críticas. Nessas situações são necessárias a operacionalização tática do reservatório. Está elencada na Alocação Negociada da Água, a prioridade de demanda hídrica da barragem de acordo com os usos prioritários. Conforme o documento, as prioridades de uso estão a seguir: I – Abastecimento público: no município de Janaúba e Nova Poteirinha. O abastecimento urbano é executado pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais - COPASA-MG. II – Abastecimento domiciliar coletivo: abastecimentos comunitários de captação direta do rio e do reservatório. Esses usos foram inclusos no cadastro de usuários realizados pela Agência Nacional das Águas - ANA em 2002. Das comunidades que fazem a captação, destacam-se as comunidades de Jatobá, no entorno do lago, e a comunidade de Vila Nova dos Poções, abaixo da Associação de Irrigantes da Margem Esquerda do Gorutuba ASSIEG. III – Agroindústria: destaque para a empresa que processa extrato de tomate e doces de frutas, com captação na ordem de 0,09 m3/s, vinda via adutora da barragem. IV – Irrigação: A irrigação se constitui no principal consumo de água do reservatório, sendo que o Distrito Irrigado do Gorutuba - DIG apresenta a maior demanda. As demandas levantadas pelo cadastramento de usuários com captação direta das águas do reservatório e da calha do rio e o Distrito Irrigado do Gorutuba - DIG, foram calculadas em função da área irrigada, necessidades das culturas implantadas, sistema de irrigação utilizado, período de irrigação no decorrer do ano e turno de rega. O DIG realiza captações 4 dias por semana, e a área irrigada atualmente é de 3467,67 ha. Destes, 2.916,06 estão destinados à fruticultura, com destaque para a cultura da banana que ocupa uma área de 2.503,59 ha. O restante, é destinada a culturas anuais: capineiras, canaviais e viveiros de produção de mudas. A demanda máxima é de 2,67 m3/s, requerendo uma vazão média de 2,0 m3/s. A ASSIEG Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8 demanda uma vazão média de 1,00 m3/s, para irrigar um total de 900,7 ha, a fruticultura e principalmente a bananicultura, também são predominantes nessa área. V - Turismo: Apesar de não apresentar uso consultivo de água, a atividade turística corresponde a um importante segmento econômico sustentado pelo reservatório. Como já discutimos anteriormente, o Comitê de Bacia afirma estar garantido aos diferentes usuários à disponibilidade hídrica necessária a cada um deles e fazendo valer a Lei das Águas (Lei n.º 9433/97), que afirma que a água deve ser utilizada seguindo o princípio dos usos múltiplos e garantindo a prioridade de uso (abastecimento humano, dessedentação animal, abastecimento industrial, agricultura irrigada, geração de energia, pesca, pisicultura e aquicultura, navegação). No entanto muitos usuários como as comunidades rurais de Jacarezinho, Mandassaia e Ramalhudo que estão fora dos acordos, sofrem com falta d’água principalmente no período seco do ano. Assim, no Hidrotorritorio do Gorutuba existe um avanço político na perspectiva da negociação, mas esta ainda não consegue gerenciar de forma equitativa a distribuição hídrica. 6. Considerações finais Atualmente o entorno da Barragem Bico da Pedra abriga, além dos Perímetros Irrigados, uma população de aproximadamente 70 mil habitantes, e nem todos eles tem sido atendidos em suas demandas hídricas como afirma o Comitê de Bacia. Tal barragem é de fundamental importância para a sub-bacia, pois garante a perenização de um rio até pouco tempo (1960) intermitente (o rio Gorutuba), em uma área que tem como característica prolongados períodos de estio. Além disso, conta com uma característica importante, as necessidades de seus diferentes usuários, que garantem o uso múltiplo de suas águas que são utilizadas para fins de irrigação, pesca, turismo e o abastecimento urbano e industrial. Por outro lado, essas mesmas necessidades impedem o uso da água por comunidades rurais que estão a jusante. O objetivo principal da Alocação Negociada da Água é propiciar a sustentabilidade da sub-bacia, garantindo aos seus usuários o atendimento de suas demandas. Nesse sentido, pode-se afirmar que da forma como a água está sendo gerida, a Alocação Negociada da Água não cumpre com seus objetivos. Nem todos os usuários são respeitados em suas demandas, e os grandes grupos empresariais acabam por utilizar grande Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 9 parte dos recursos hídricos a montante, deixando pequenos usuários sem água em períodos de estio. A visão mercadológica capitalista é preponderante sobre o hidroterritório do Gorutuba e tal situação gera conflitos pelo uso da água. Referências AFONSO, P . C. S. Gestão e Disputa pela água na Sub-sub-bacia do Riachão, Montes Claros/MG. Dissertação (Mestrado em Geografia) - P rograma de P ós-Graduação em Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2008. ________________. Os usos e conflitos pela água na sub-sub-bacia do Riachão no Norte de Minas. In: XVIII ENCONT RO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, 2006, Rio de Janeiro. 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