Conceitos básicos de imuno-oncologia é tema de palestra no IOP Especialista abordou os motivos que fazem do tratamento imunoterápico uma boa opção para pacientes oncológicos O Instituto de Oncologia do Paraná (IOP) recebeu na última quinta-feira, dia 16, a médica onco-hematologista Bárbara Emoingt Furtado, que ministrou a palestra “Conceitos básicos de imuno-oncologia” como parte do Ciclo de Palestras que o IOP realiza mensalmente. A especialista contou um pouco da história do tratamento imunoterápico e explicou quais são os principais benefícios para os pacientes oncológicos. “A imunoterapia foi escolhida pela Sociedade Americana de Oncologia (ASCO) como a grande novidade para o ano de 2016. Todos que trabalham com a oncologia, independente da área, sabem que hoje o câncer é a principal causa de morte no mundo. Algumas abordagens terapêuticas utilizadas atualmente em pacientes com doença avançada apresentam baixa resposta ou, em certos casos, o paciente responde ao tratamento, mas recai precocemente ou precisa de medicações mais fortes. Com a imunoterapia, buscamos melhorar essa realidade”. Confira a entrevista que realizamos com a especialista: Instituto de Oncologia do Paraná – A base da imuno-oncologia é estimular as defesas do organismo a reconhecer o tumor e eliminá-lo. Como isso se dá? Bárbara Emoingt Furtado – Nosso sistema de defesa, ou sistema imune, é a melhor forma que temos para combater os mais diversos “perigos”. Desde uma bactéria ou vírus até uma célula cancerígena. Contudo, em alguns casos, nosso sistema de defesa pode ser “enganado” pelo tumor e termina sendo inativado. Essas novas medicações imunoterápicas, conhecidas como inibidores de checkpoint, funcionam impedindo que o tumor passe despercebido pelo nosso sistema de defesa. IOP – A imuno-oncologia potencializa uma resposta no tratamento do câncer de forma mais rápida? BEF – A imunoterapia utiliza o próprio sistema imune para combater o câncer. Alguns pacientes apresentam respostas rápidas, após uma ou duas aplicações. Porém, todas as respostas são diferentes para cada paciente. Na maioria dos estudos, vemos respostas entre a nona e a décima segunda semana de tratamento. IOP – É por “superestimulação” do sistema imunológico do paciente? BEF – O que acontece é uma otimização da resposta contra as células malignas, levantando o “freio” que o próprio tumor faz no nosso sistema imunológico. As novas imunoterapias, ou inibidores de checkpoint, são as encarregadas de retirar esse “freio”. Quando falamos de uma classe de imunoterápicos, os Anti-PD-1, eles agem nos Linfócitos T Citotóxicos já ativados e por isso sua ação fica mais restrita e específica ao local onde existe o tumor. Isso tem a vantagem de melhorar a resposta de combate ao tumor e fazer o perfil de segurança e tolerabilidade mais favoráveis, quando comparados a outras classes de imunoterápicos e de quimioterapia tradicional. IOP – A imuno-oncologia pode ser utilizada em combinação com terapias tradicionais e outros tratamentos convencionais, como a quimioterapia e a radioterapia? BEF – Os estudos mais recentes, que levaram à aprovação nos Estados Unidos e Europa, em sua maioria usam as drogas em monoterapia (isoladamente). Porém, há diversos estudos em andamento e alguns com resultados precoces que associam as drogas imunoterápicas a outros tratamentos, como quimioterapia, radioterapia, terapias-alvo e outras imunoterapias. Como os mecanismos de ação são diferentes, há expectativa de bons resultados dessas combinações. Ainda há um longo caminho pela frente para determinar quais doenças e doentes precisarão combinar terapias e quais poderão usar isoladamente. Os próximos anos deverão responder parte dessas perguntas. IOP – Quais os principais benefícios comprovados? BEF – Hoje existem estudos em vários tipos de tumores. Os que já vemos com resultados importantes em ganho de sobrevida global e livre de progressão, assim como taxa de resposta do tumor, são melanoma e pulmão (os primeiros a serem estudados), mas há outros tumores, como alguns tipos de cólon, mama, cabeça e pescoço, rim, bexiga e Linfoma de Hodgkin, que já mostraram responder a essas terapias. Porém, precisamos aguardar os dados estarem mais maduros para poder avaliar os benefícios reais na sobrevida dos pacientes tratados. Recentemente alguns dados de estudos de anti-PD-1 em melanoma metastático mostraram pacientes com resposta ao tratamento há dois anos, uma avanço significativo, uma vez que dados mostram que quando oferecíamos apenas quimioterapia (DTIC) a sobrevida mediana desses pacientes era de 6 meses apenas. IOP – A imuno-oncologia deixou de ser o futuro para virar o presente? BEF – Sem dúvida nenhuma! É o presente para os pacientes com câncer no mundo e esperamos que muito em breve para os pacientes do Brasil. IOP – O Brasil já se utiliza de medicamentos imuno-oncológicos? BEF – Sim. O Ipilimumabe, um medicamento anti-CTLA4, está disponível há alguns anos para o tratamento de doentes com melanoma metastático. Da família dos anti-PD1s, há um medicamento recentemente aprovado, mas ainda não comercializado, e outro em fase de revisão e aprovação da agência regulatória.