ENVOLVIMENTO DES-ENVOLVIMENTO1a José Antônio Pavanb INTRODUÇÃO Entre 1880 e 1882 Joseph Breuer atendeu à sua famosa paciente Anna O. Era uma jovem de 21 anos incomumente inteligente, portadora de sintomas histéricos, os quais vinha tratando pelo método catártico, por ele desenvolvido. Anos mais tarde Freud comunica a seu biógrafo oficial, Ernest Jones as circunstâncias singulares sobre o fim deste tratamento: A esposa de Breuer passou a entediar-se por este não falar de outro assunto a não ser a respeito desta paciente. Quando Breuer percebeu o estado de animo de sua mulher resolveu abandonar o tratamento de Anna O., que nesta ocasião estava bem melhor de seus sintomas. Anunciou sua decisão a Anna O. e despediu-se dela. Nesta mesma noite Breuer foi chamada para ver a paciente que tinha apresentado uma recaída de seus sintomas, encontrando-a muito excitada e tão mal quanto anteriormente. A paciente que até então fora vista por ele como assexuada nunca fazendo alusão a estes assuntos, estava com dores de parto histérico devido a uma pseudociese que se desenvolvera em resposta ao trabalho de Breuer. Este procurou acalmar a paciente, embora estivesse chocado com os fatos, hipnotizou-a, e foi para sua casa suando frio. No dia seguinte ele e sua mulher partiam para Veneza numa segunda lua de mel da qual resultou a concepção de uma filha. Cerca de dez anos depois destes acontecimentos, Breuer comenta sobre uma paciente com Freud e este percebe que havia nos seus sintomas evidências de que eram produtos típicos de uma fantasia de gravidez. A recorrência daquela antiga situaçào era demais para Breuer, que sem dizer palavra pegou seu chapéu e bengala e apressadamente deixou a casa.2 Em 1932 Freud escreve para Stefan Zweig, comentando a respeito do episódio com Anna O.: “Breuer naquele instante teve ‘a chave na mão’, mas não podendo ou não querendo usa-la ele a deixou cair. Apesar de seus grandes dotes mentais, ele não tinha nada de faustiano em si. Com um horror convencional, ele recorreu à fuga e entregou sua paciente a um colega”.3 Freud que nos seus atendimentos psicoterápicos utilizava os mesmos recursos de seu colega mais velho, também esteve sujeito às mesmas consequências derivadas destes procedimentos, mas diferentemente de Breuer esse envolvimento com suas pacientes não foi acompanhado por uma fuga da situação. Quando uma de suas pacientes o enlaçara pelo pescoço devido a um envolvimento erotizado consequência da hipnose, Freud não deixou a ‘chave cair’, pelo contrário, utilizou-a para abrir as portas da compreensão da vida sexual e afetiva dos pacientes e de si mesmo. Como vemos a fuga de Breuer não resolveu seu problema de envolvimento, ao passo que a postura de Freud permitiu se aproximar do que estava excluído da consciência dos pacientes (e até então dos próprios terapeutas): sua sexualidade a Trabalho apresentado em reunião científica da SBPSP no dia 27 de abril de 1996. Membro Efetivo da SBPSP. E do Núcleo de Psicanálise de Marília e Região b 2 (infantil). Posteriormente, suas vivências no caso Dora, chamaram sua atenção a estes aspectos do envolvimento do analista no processo psicanalítico. O termo “envolvimento” tem sido pouco explorado em psicanálise, talvez porque não tenha uma conceituação específica. Em nenhum dos dicionários psicanalíticos pesquisados encontrei referência direta deste termo4. Por outro lado os aspectos derivados do envolvimento emocional da dupla no encontro analítico estão presentes desde o início da historia da psicanálise, como estas passagens acima descritas vividas pelos seus criadores, são testemunho. A escolha destes termos (envolvimento des-envolvimento) deu-se por pensar que houvesse uma possibilidade de fazer uma estratificação partindo de algo mais genérico para o mais específico dentro do contato analítico. Este “específico” seriam os conceitos psicanalíticos de transferência e contratransferência na relação analítica, estabelecidos a partir de uma visão metapsicológica dos fenômenos envolvidos. Essa estratificação é considerada a partir do reconhecimento que todo contato é vivido como uma totalidade. Considero difícil a relação analítica, apesar de todo seu enquadramento (setting), ser dissociada de qualquer vivência que se passa entre dois seres humanos. Esse enquadramento determina muito das características da relação analítica, mas ele não tem a capacidade de retirar da mesma sua natureza humana. Pode-se fazer uma analogia com a cirurgia em que toda a assepsia, os procedimentos técnicos, a habilidade do cirurgião e até mesmo a anestesia do paciente não tiram a condição de se lidar com um ser humano, com todas as vicissitudes inerentes a esta condição. No entanto é esse enquadramento específico o que torna viável o ato cirúrgico, feito normalmente para preservar e/ou melhorar a vida deste ser. Dentro desta estratificação, na psicanálise seu aspecto mais genérico é então, tratando-se de dois seres humanos, as vivências emocionais entre eles. O mais específico que se relaciona com a tarefa analítica, é que ela vai se valer destes acontecimentos para a consumação de seu objetivo: o contato do paciente consigo mesmo. Neste sentido os conceitos de transferência e contratransferência vieram viabilizar o desenvolvimento técnico do trabalho de análise. HISTÓRICO O fato de o analista estar envolvido emocionalmente no processo analítico já ocupava a mente dos primeiros analistas e dentre estes se destacou Ferenczi. Em seus trabalhos, esse tema esteve frequentemente presente, determinando inclusive modificações na sua maneira de ver a técnica (e também a teoria). Seus procedimentos podem ser questionáveis, mas ele foi muito ousado no sentido de considerar o envolvimento emocional do analista no contato analítico e suas consequências. Como todos nós, não estava livre da sua “equação pessoal” quando praticava e teorizava a psicanálise. Em um trabalho apresentado em Budapeste sob a égide da Associação Psicanalítica Húngara em 1918 aborda o tema “O domínio da contratransferência”, como um dos tópicos do artigo “A técnica psicanalítica”5. (Em “As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica”, Freud [1910] fazia menção aos aspectos do médico que poderiam interferir em sua tarefa. Voltou novamente ao assunto em “Observações sobre o amor transferencial” [1915(1914)], alertando sobre os perigos e 2 3 portanto a necessidade de ‘controlar a contratransferência’). Esse artigo de Ferenczi estava relacionado com estes aspectos. Ferenczi proferiu outra conferência dez anos depois na mesma Sociedade. No trabalho “Elasticidade da técnica analítica” prenuncia com duas décadas de antecedência questões que serão desenvolvidas pelos kleinianos ( H. Racker e P. Heimmann especialmente), e também por Winnicott, como veremos adiante, sobre a contratransferência no trabalho analítico6. Outro aspecto importante suscitado neste trabalho referia-se à postura do analista frente ao paciente: inicialmente argumenta que em função da “equação pessoal” (do analista), deva ser prescrita “a segunda regra fundamental da psicanálise, isto é, que quem quer analisar os outros deve, em primeiro lugar, ser ele próprio analisado”. Prossegue com uma descrição importante a respeito do “tato” para “sentir com” (Einfühlung) e ainda sobre a “bondade” (do analista) e sua influencia na comunicação da interpretação ao paciente. Neste texto recomenda que o analista não deve se deixar levar pelos seus sentimentos (de antipatia) a priori. O analista deve entender que estes pacientes querem curar-se (deste problema). Finalmente alerta para o mau uso pelos analistas de sua “técnica ativa” e da “elasticidade” como forma de encobrir suas próprias dificuldades. Foi se tornando cada vez mais evidente que a prescrição para “não se envolver” com o paciente, na prática, tornava-se totalmente inatingível. O reconhecimento desta inevitabilidade do envolvimento do analista no processo ocasionou em relação à contratransferência o mesmo que sucedeu em relação à transferência: de um aspecto obstrutivo (resistencial) no tratamento passou a ser vislumbrado também um meio para a compreensão do que se passava com o paciente através da relação com o analista. Não se trata aqui quando falamos em “envolvimento”, obviamente, dos seus aspectos éticos e morais relacionados a atuações de natureza sexual e agressivas com os pacientes. O que se procurou desenvolver foi a utilização destes inevitáveis acontecimentos da relação analítica num instrumento útil, para beneficiar a análise e o paciente. Historicamente o desenvolvimento destes aspectos do analista envolvidos no processo psicanalítico teve um ponto de virada crítico no final dos anos 40 e início dos 50 com os trabalhos de P. Heimmann e H. Racker (ver adiante em Considerações Teórico-Clínicas). Winnicott apresentou em 5 de fevereiro de 1947 perante a British Psycho-Analytical Society seu trabalho intitulado “O ódio na contratransferência” 7. Neste artigo Winnicott expressa suas ideias a respeito dos sentimentos (de ódio) do analista em relação ao paciente, suas influências e consequências no tratamento de determinados pacientes (psicóticos) e o manejo destes sentimentos na análise e noutras relações extra-analíticas. Embora os autores psicanalíticos de um modo geral considerassem a contratransferência algo no analista para ser analisado, a possibilidade da utilização destas vivências no trabalho analítico nunca foi pacífica. Nem mesmo nossos autores mais conceituados dentre eles Bion8 estão sempre em acordo quanto à possibilidade de utilizarmos a contratransferência em nosso trabalho clinico. Considera que a contratransferência sendo inconsciente não pode ser usada. Porem a seguir diz que existe algo, que é a reação emocional do analista, que pode ser usada na análise. Assim a experiência transitória, como se refere à transferência, quando pensamentos, ideias, sentimentos estão em caminho para outro lugar, podem ser acompanhadas pelas vivências do analista. Obviamente aquilo que o analista não possa ter contato, não pode ser usado (como afirmou Bion). 3 4 Muitas das controvérsias quanto a esta utilização, poderiam a meu ver, serem amenizadas se as definições conceituais pudessem ser mais claramente estabelecidas. De um modo geral, penso que, a contratransferência só poderia vir a ser utilizada pelo analista quando em primeiro lugar pudesse ser algo captável ( portanto por definição não estando mais no domínio do inconsciente) e em segundo lugar deve ser considerada como sendo derivado do paciente, ou que de algum modo seja despertado pelo mesmo no analista. Essa conceituação deveria estar presente para que o que se entende como contratransferência, tenha pelo menos alguns aspectos que possam ser usados pelo analista. Caso contrário seria simplesmente “problemas (inconscientes) do analista” e neste caso nada mais resta que a indicação de psicanálise com outro analista. Reconheço o risco que estas conceituações poderiam descaracterizar o próprio conceito de contratransferência contraposto ao de transferência por parte do paciente, mas isso criaria uma conceituação mais adequada para troca de experiências a respeito do envolvimento do analista na relação analítica e suas consequências para o desenvolvimento da psicanálise, do paciente e do analista. Entre nós Junqueira de Mattos910 desenvolveu trabalhos onde a partir da obra de Bion aventa a possibilidade do uso da contratransferência na análise. Suas proposições a respeito de uma classificação baseada nas suas concepções de uma contratransferência normal (ou cognitiva) e uma contratransferência anormal ou misconceptiva responderia a questão colocada acima sobre as condições em que a contratransferência possa ser utilizada no trabalho analítico. CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-CLÍNICAS Exporei algumas idéias relacionadas ao tema envolvimento e des-envolvimento e sua relação com a prática do trabalho analítico. Como entendemos e utilizamos os aspectos relacionados a este tema, vai determinar ao final uma postura diante daquele que vem nos procurar para análise. Neste sentido eu concebo que seja a mesma postura que Freud adotou quando se viu envolvido com seus pacientes e com suas próprias vivências psíquicas. Ao longo de nossa prática analítica estamos vivendo numa atividade altamente envolvente, de intensa relação humana. Não só estamos envolvidos nesta atividade, dela em geral nos sustentando, como tambem este envolvimento pode estar a serviço da satisfação de nossas necessidades internas ( conscientes ou inconscientes), mais ou menos patológicas. De outro lado temos o nosso paciente que dentre tantas alternativas possíveis para lidar com suas angustias, vem buscar na análise um meio que pensa poder auxilia-lo a se desenvolver. São dois seres envolvidos com seus desejos, fantasias, conflitos, angústias, cada um a seu modo. Quando se encontram, está implícito uma busca de desenvolvimento. Desenvolvimento este num sentido de mudança, de transformação do “establishment”. O uso dos efeitos da relação no analista faz com que se tenha a oportunidade de lidar com fenômenos vivos (vivenciados) e atuais (atualizados) transformando assim a análise num campo operativo e as transformações nele ocorrendo através de uma interação dinâmica. Este envolvimento só se torna utilizável sob determinadas condições internas do analista. Podemos estar envolvidos numa relação da mesma forma que o psicótico 4 5 que não consegue fazer a diferenciação entre as coisas que vive e a coisa que o faz viver. Não seria as produções mentais em si o que diferencia a normalidade-neurosepsicose. Afinal todos sonhamos, devaneamos, fantasiamos. (No referencial de Bion, a função faria a diferença). Muitos dos desenvolvimentos teóricos e práticos da psicanálise são derivados desta visão do envolvimento do analista no processo. Os trabalhos de Racker11 e Heimann12 são a expressão manifesta desta tendência histórica, que agora numa visão retrospectiva, poderíamos ver como “natural”, em relação ao uso das vivências do analista no processo analítico. A relação e o que ocorre entre a dupla foi sendo cada vez mais utilizada como instrumento de investigação, de técnica terapêutica e de desenvolvimento da teoria psicanalítica, mantendo neste sentido os princípios contidos na famosa definição de Freud13 sobre a disciplina que criou. Destaco Heinrich Racker, dentre os autores que no meu entendimento conseguiu transformar em um útil instrumento as vivências contratransferenciais, e especialmente pôde ver metapsicológicamente os aspectos deste “estar envolvido” do analista no processo de análise. Suas conceituações são expostas de uma forma que tornam as vivências do analista dentro do contato, um instrumento para compreender o que se passa com o paciente. A atuação do analista no contato, restrita a uma atividade interpretativa, ganha status de uma força de vida. Por apresentar esta vertente relacionada ao envolvimento e seu uso para o desenvolvimento analítico é que estou privilegiando neste momento as contribuições deste autor ao tema que me propus. Antes de tudo, esse autor considera a contratransferência uma resposta vivencial à transferência14. Derivado disto e ainda levando em conta uma mútua influência (TCT) é o que torna possível o uso da Contratransferência no trabalho analítico15. Existem condições necessárias para que haja a captação do que é inconsciente no outro16. Estas condições, no meu entender, estão na dependência do desenvolvimento do analista no sentido de ter adquirido através de sua análise uma capacidade de entrar em contato com o seu mundo interno livre de angústia (persecutória) e rejeição (portanto vencidas suas resistências). O que em outras palavras entendo que possa, no momento, estar numa posição depressiva (M.Klein); no uso da sua “função analítica” (função de Bion); mantendo sua “atenção livremente flutuante” (Freud), ou seja, “flutuando” entre suas vivências irracionais e o ego observador. Como há um dinamismo de interação o analista participa tanto criando condições através da técnica para o surgimento e emergência da transferência (neurose transferencial)17, como posteriormente através do re-conhecimento em si recupera o reprimido no paciente. O trabalho de vencer resistências desenvolve o que o paciente tem em potencial18 Toda a obra de Racker sobre técnica psicanalítica está permeada das questões relacionadas aos aspectos contratransferenciais no processo analítico. Um capitulo em especial está mais especificamente relacionado ao tema aqui proposto: “La posición (actitud) interna básica del analista frente al analizado y su material”. O autor em sua exposição compara a atenção flutuante do analista à regra básica (associação livre) do paciente. Segundo Freud a compreensão do que se passa com o paciente é captada graças a esta posição do analista. Esta posição estaria na 5 6 dependência do analista vencer seus próprios complexos e resistências. Freud em seus trabalhos sobre técnica alerta para os perigos que trazem a ambição de curar e educar. Dentro desta linha de pensamento em seus escritos sobre técnica, Freud indicava como meta para o analista conhecer e dominar a contratransferência, porque via nesta algo pernicioso para a tarefa analítica. Com o sentido dado por Racker para a possibilidade de utilizar a contratransferência esta foi vista como o meio de compreender o que se passa no inconsciente do paciente porque em parte a transferência do paciente determina a contratransferência do analista. Usa um exemplo da recomendação de Freud de que o analista afaste de si a compaixão e adote a atitude interna de um cirurgião. Do ponto de vista da neutralidade e abstinência do analista tal regra continua válida, mas Racker em nota de rodapé dá um exemplo de como a compaixão sentida pelo analista pode ajuda-lo a compreender o processo transferencial subjacente: “ La compasión del analista puede ser, por ejemplo la consecuencia de un proceso defensivo del analizado frente a los propios sentimientos depresivos, o sea frente a la preocupación por el daño hecho (en la fantasía) al analista (madre,padre), o frente a la culpa y compasión del analizado por éste. La defensa puede consistir en una identificación con el objeto, transformándose el analizado de esta manera en la víctima, mientras el objecto (el analista) debe sentir culpa o compasión.”19. Muda assim a atitude do analista diante do que vem do paciente, pois esta nova forma de tratar o material ( do paciente e seu próprio) transforma a ambição terapêutica e pedagógica em devolver ao paciente aquilo que foi depositado no analista20. Na atitude do analista frente ao paciente estão duas possibilidades de ser: ativo e passivo. ( Racker esclarece que isto nada tem a ver com a técnica “ativa” de Ferenczi). Nestes polos de posições do analista diante do material do paciente estão o escutar, identificar-se e compreender por um lado e o interpretar de outro. Faz uma analogia do contato analítico com uma relação sexual para tratar da questão da atividade e passividade descrevendo estes conceitos de uma forma que nos convida a pensar a questão do envolvimento a partir de um ponto de vista metapsicológico do par analítico21. Nesta analogia considera a mulher normal ativa no seu papel passivo e uma “passividade passiva” determina uma atitude de frigidez (sexual ou analítica). Racker faz uma advertência quanto ao entendimento do que Freud prescreveu como a atitude do cirurgião, podendo num mal entendido levar à repressão da contratransferência e um distanciamento do paciente. Entende que Freud prescrevia uma atitude de cirurgião para proteger o analista da ambição de cura e uma identificação sem reserva, mas escreve em seguida: “Pero por otra parte Freud adjudicaba mucha importancia a la actitud activa, luchadora, y, creo, aun calurosa”. Racker lembra que Freud acreditava que só o “calor fervente (Siedehitze) da transferência” (tranferência positiva) podia fazer com que o paciente abandonasse suas resistências e aceitasse as interpretações, e continua: “según mi experiencia, se logran tales temperaturas sólo si también el analista aporta suficiente calor -suficiente contratransferencia positiva realizada en labor-- a la situación analitica”. Quanto ao conselho de Freud para que o analista fosse um espelho significa que deve-se falar ao paciente só o que é dele, mas isto não significa que o analista deva deixar de ser alguém de carne e osso para se transformar num vidro coberto de nitrato de prata22. Diferentes atitudes internas do analista determinam técnicas distintas. Isto está relacionado com as atitudes do analista frente a si mesmo. Por exemplo se o analista se angustia frente ao próprio inconsciente ocorrerá o mesmo diante do inconsciente do paciente que vai determinar distanciamento, frieza, rigidez. Se o analista ficar 6 7 inundado pela neurose de contratransferência poderá ocorrer o retrocesso da transferência e contratransferência positivas com reflexos no trabalho analítico que necessita desta vertente para se realizar. O analista necessita ( do mesmo modo que o paciente) dividir seu ego em um racional, observador e, um vivencial, irracional. Este ultimo deve ficar livre para ser vivenciado em resposta ao material do paciente. Conservando sua contratransferência positiva, o analista pode romper com o círculo vicioso da transferência negativa e contratransferência negativa ( resposta expontânea e inevitável) e com isso mobilizar a transferência positiva reprimida do paciente23. Observo que o embasamento freudiano de Racker está relacionado com as teorias a respeito de transferência, contratransferência, identificação, e resistência. Especial atenção é devotada aos conceitos de pulsões e à teoria da libido. Seu débito com M. Klein aparece nos conceitos da teoria das posições (esquizoparanóide e depressiva). A aplicação à prática clínica dos conceitos de relação objetal e uma forma “kleiniana” de ver as pulsões (Eros e Tanatos) formam a base das conceituações que como entendo, estão subjacente às suas formulações. Baseado nestes referenciais é possível uma visão psicanalítica ( metapsicológica) do envolvimento do analista no processo, da mesma forma que o foi em relação ao paciente. APROXIMAÇÃO AO TEMA COM MATERIAL CLÍNICO Numa tentativa de aproximação ao tema através de algumas vivências, apresentarei a título de ilustração, alguns movimentos dentro do contato com os pacientes em determinados momentos da relação em que julguei estarem presentes os aspectos clínicos do tema que estou tratando. Não apresento o histórico dos pacientes, devido ao meu propósito acima, embora reconheça que todo acontecer dentro de uma análise esteja dentro de um contexto global da relação em termos de um processo em andamento. Com o material clínico não tenho a pretensão de comprovar as teorias, pois é possível que nele apareçam também os envolvimentos sem des-envolvimento. MOVIMENTO A. A paciente inicia a sessão após breve silencio e diz que gostaria de falar de um assunto. Conta seus sentimentos em relação ao companheiro que tem lhe dado muito pouca atenção, não sabe se sua preocupação com ele é porque ainda gosta dele, se ele dá pouco porque é ruim mesmo, ou se é o limite dele etc. Enfim parecia uma narrativa de fatos coerente e com questionamentos pertinentes. Comecei a observar que seu relato provoca em mim algo enfadonho. Me surpreendi distraindo-me. A minha ideia era que sua mente (como a minha) estaria saturada com aquele relato. Num primeiro momento tentei compreender transferencialmente o conteúdo do que estava trazendo. Sentia que ela estava distante. A percepção de minhas sensações me fez pensar que isto poderia ser a função da narrativa. Baseado nestas percepções ao invés de procurar interpretar os 7 8 conteúdos, fiz-lhe um apontamento a respeito da motivação para ela estar me contando aquilo tudo. Ela para, sorri, e diz: “Na verdade não era isso o que eu ia falar. O que veio na minha cabeça logo que eu deitei aqui foram duas coisas: sexualidade e um fato que aconteceu hoje. Não queria falar sobre isso. Estava envergonhada”. Conta então o fato que ocorreu hoje ao lhe perguntarem qual era o tipo de pessoa que a atraia sexualmente, em seu ambiente de trabalho. Ela de antemão já disse que não era para ser levada a sério porque não queria nada com o sujeito por ele ser casado, mas quem era charmoso, sensual, atraente era o fulano X (esta é a primeira vez em alguns anos de análise que ela se refere a alguém de seu relacionamento pelo nome próprio). Ela me conta isso muito envergonhada, pondo as mãos no rosto cobrindo os olhos dandome a impressão de não querer ser vista por mim e não me ver também. Ao me dar conta das minhas sensações pôde ser retomada a via do que estava sendo vivenciada pela paciente e assim daí por diante a sessão pode retomar o caminho indicado pelas associações livres da paciente, que resistencialmente havia sido desviado no inicio deste contato. O outro assunto que a paciente estava “envergonhada” de trazer foi que ao ler um artigo numa revista uma frase fixou-se em sua mente: “as fantasias sexuais revelam o que a pessoa realmente sente a respeito de sexo”. Assim tanto aquela sensação provocada em mim, tanto quanto o assunto que escolhera para “desviar” o foco daquilo que estava lhe angustiando, tinham uma conexão com o que estava tentando esconder. A vergonha encobria a resistência, que depois foi visto na sessão estando relacionada a conteúdos ligados à sua sexualidade infantil, reativada no presente tanto na relação com o companheiro quanto transferencialmente na sessão. MOVIMENTO B Estamos voltando das férias de final de ano. Numa segunda-feira, portanto após fim de semana, estávamos vendo alguns conteúdos ligados aos sentimentos da paciente quanto à separação. Interpretei alguma coisa no sentido dela viver esta separação (fim de semana) como ser rejeitada por mim. Ela não concordou. Achou que a questão estava mais ligada ao fato de que o marido não gosta da companhia dela, porque saiu sozinho e não a convidou para ir junto. Refletindo sobre a situação pude me dar conta que a paciente talvez estivesse com razão quando diz que sente que sua presença não é agradável. Me dei conta que vinha trabalhando com ela desde a volta das férias de uma maneira meio “amarrada”. Não me sentindo solto, produtivo. Minhas intervenções davam-me uma sensação que a paciente ainda não havia chegado. Ela deve ter captado a minha postura diante dela ( um certo distanciamento, me sentindo pouco produtivo, pouco criativo). Quer dizer, a paciente estava fazendo (sem se dar conta, creio) uma interpretação da relação que era mais próxima do que estava ocorrendo do que aquela que eu lhe havia feito. Eu estava vivenciando na relação esse marido/analista que não está muito interessado na mulher/paciente. Contratransferencialmente, pude perceber a conexão relacionando com o fato que até então me passara desapercebido. A paciente saiu de férias antes de mim, e provavelmente eu tenha me sentido abandonado por ela e reagido de uma forma a agora com minha atitude abandona-la, talionicamente.[Considero isto obviamente uma reativação neurótica de conflitos infantis do analista]. Portanto estava havendo 8 9 uma sobreposição conflitual, que só foi possível ser detectada quando pude “ouvir” o que a paciente me dizia levando em conta o que eu tambem estava sentindo. Assim que pude entrar em contato com estas situações internas, eu penso que houve possibilidade de ver e trabalhar os conflitos, angustias e as defesas dela em relação às separações. Acredito que sem me dar conta destes aspectos meus a situação configuraria a repetição dos conflitos inconscientes do passado de ambos na relação, através de identificações projetivas mutuas. [Esta paciente tem internalizado dificuldades relacionadas com a capacidade de continência de sua mãe, em sua tenra infância.] MOVIMENTO C No atendimento de uma quinta feira (tem as sessões de segunda a sexta), a paciente trouxe uma situação na qual havia ganho alguns presentes da mãe, ficou muito emocionada, desejou abraça-la em agradecimento, mas o gesto não saiu. Na situação transferencial fazia referencia a desejo de se aproximar de mim , sentir-se acolhida, mas preocupou-se com o final da sessão. Achou que não haveria muito tempo. Indico a ela o conflito: ela querer o acolhimento e receia ser mandada embora (término da sessão). Relaciono que a mesma angustia estaria presente no contato com a mãe (o abraço sem correspondência). Tive o impulso de acrescentar que o fim de semana próximo estava muito difícil de ser tolerado. Me contive. Percebi que este “impulso” estava relacionado a “acrescentar” algo ao material que a paciente trazia. Este acréscimo de algo evidentemente se tratava de algo meu. Só alguns instantes após me dei conta que era quinta e não sexta e portanto ela teria sessão no dia seguinte. Fiquei impactado ao perceber estar vivenciando dentro de mim uma situação de rejeição em relação à paciente (eu desejar me ver distante dela). Esse fato não me ocorrera até então. Pelo contrário. Tive que pensar nos aspectos de ódio dentro da relação e como uma “grande aceitação” poderia estar encobrindo uma rejeição inconsciente. Toda esta situação estava também relacionada a uma ambivalência em trabalhar com ressentimentos da paciente que haviam surgido em relação a um reajuste de honorários. A minha “contenção” no contato, foi, naquele momento, o que pude fazer em decorrência de perceber estas situações permeando nossa relação. Tenho um sonho, que além de qualquer outra interpretação quanto a minhas situações internas, segundo entendo me ajudaram a pensar minhas observações a respeito das condições em que me encontrava: uma parte de minha casa foi alugada para uma pessoa que eu achei altamente intrusiva. Além de estar ocupando uma parte de minha casa estava utilizando o telhado onde deixou várias gaiolas de pássaros. Alem disso havia um acumulo de palha ou coisa semelhante numa parte do telhado. Fico bravo e digo que não iria admitir aquilo, haveria um entupimento das calhas causando grandes transtornos, etc. Esta minha situação interna estava determinando um impasse dentro da relação analítica, pois inconscientemente até então, eu estava identificado com a mãe rejeitadora e portanto impossibilitado de estar numa função analítica. O contato com esta situação interna permitiu que houvesse uma mudança no acolhimento do material da paciente ( a partir da mudança do acolhimento em relação ao meu). Admitindo minha contratransferência negativa, (considerando evidentemente que não seja isto feito por sentimentos de culpa persecutória por eu não tratar bem o objeto), e assim podendo aceitar com tolerância estes aspectos, isto propiciou que no trabalho analítico o material da paciente referente a estes aspectos de ambivalência e cisão em 9 10 relação a sentimentos de amor e ódio pudessem ser vividos e integrados no contato com o analista e também com sua mãe. RESUMO Todo conhecimento da teoria da técnica psicanalítica que por exemplo Racker ( e outros analistas) utilizaram para estar diante do paciente eram um “equipamento” muito mais sofisticado para lidar com a relação do que possuíam seus criadores. Freud que em termos de teoria (transferência p.ex.) estava precariamente equipado, em função de sua privilegiada condição interna pôde se aproximar de seus pacientes ( e de si mesmo) para fazer ilações muito revolucionárias. Quero com isso argumentar que havia nele algo que estava acima de conhecimentos e que penso estar relacionado à sua postura, a qual fez a diferença no caso entre ele e Breuer. Essa postura está ligada a não rechaçar as vivências mentais (dos pacientes e de si mesmo) e a consequência disto foi que a análise dos pacientes e de seus próprios sonhos e sua autoanálise formaram os elementos da fundação da obra psicanalítica. Resumindo gostaria de nesta exposição ter dado a devida importância ao envolvimento afetivo na relação analítica, especialmente aos do analista, o uso de suas vivências e as consequências para o des-envolver da relação analítica e suas repercussões no paciente. Esse envolvimento é de uma natureza muito especial, como espero possa ter se tornado claro nesta exposição baseando-me nas ideias de Racker a esse respeito. Enfatizo a relevância de que esse envolvimento deva ter um norteamento fundado numa teoria metapsicológica (psicanalítica) e que afastando-se disso corremos o risco de atuações erotizadas e agressivas e de cair-se em um posicionamento ideológico/moralista dissociados da natureza de nosso contato. Em suma, estar envolvido significa podermos funcionar como um espelho vivo que reflete o que o paciente tem e irradia em nós e assim possamos participar com ele das batalhas de Eros e Tanatos num mesmo campo. Para finalizar expresso condensadamente minha vivência analítica, a qual determina em grande parte minha maneira de ver a análise: “Quando sentia a minha analista muito próxima, não era simplesmente para que eu me sentisse em seu caloroso colo. É que nesta posição eu ficava numa condição de contato cuja proximidade entre nós me permitia ouvir as dolorosas verdades a meu respeito”. Desejo com estas observações expressar meus pontos de vista, sem qualquer pretensão de originalidade, embasado-me nos conhecimentos de autores que respeito. Espero que os tenha compreendido satisfatoriamente, e utilizado analiticamente com meus pacientes. 10 11 BIBLIOGRAFIA BION, W.R. (1992) Conversando com Bion. Rio de janeiro: Imago Editora. CUNHA, A.G. (1982) Dicionário Etmológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa - Rio de Janeiro: Nova Fronteira. FERENCZI, S. (1992) Psicanálise/ Sandor Ferenczi (Obras Completas - 4 Vol.). São Paulo: Martins Fontes. GAY, P. (1989) - Freud: Uma Vida Para o Nosso Tempo. São Paulo: Companhia das Letras. HEIMANN, P. (1950) On countertransference - Int. J. Psychoanal., 31: 81-4. JONES, E. (1989) - A Vida e a Obra de Sigmund Freud. 3 Vol. Rio de Janeiro: Imago Editora. MATTOS, J.A.J.(1992) A Psicanal. 26 (3) : 313-34. contratransferência e a obra de Bion. - Rev. Bras. ______________ (1994) Contratransferência uma re-visão. - Rev. Bras. Psicanal., 28 (2) : 229-52. RACKER, H.(1979) Estudios Sobre Tecnica Psicoanalitica. Buenos Aires: Editorial Paidós. WINNICOTT, D.W.(1949) - Hate in the countertransference. Int. J. Psychoanal., 30 p. Envolvimento e Desenvolvimento etmológicamente provém do radical ‘volver’ (do lat. volvere), que significa ‘mudar de posição ou direção de’. Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua portuguesa/ Antônio Geraldo da Cunha - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. 2 Jones, Ernest - A vida e a obra de Sigmund Freud, - vol. l, 232-3, Rio de Janeiro - Imago Editora, 1989. 3 Gay, Peter - Freud: uma vida para nosso tempo - pg 77 , São Pulo: Companhia da Letras, 1989 4 -Laplanche e Pontalis - Vocabulário de Psicanálise; São Paulo: Martins Fontes, 1991 -Hinshelwood, R.D. - Dicionário do pensamento kleiniano ; Porto Alegre: Artes Médicas, 1992 -Moore, Burnes, E. - Termos e conceitos psicanalíticos; Porto Alegre: Artes Médicas, 1992 -Chemama, R. - Dicionário de psicanálise; Porto Alegre: Artes Médicas, 1995 5 Ferenczi, S. - PsicanáliseII/Sandor Frerenzi (Obras Completas) - São Paulo: Martins Fontes, 1992 p.364 6 ”Mencionarei agora um problema que nunca foi suscitado até o presente momento, ou seja, uma eventual metapsicologia dos processos psiquicos do analista durante a análise. Seus investimentos oscilam entre identificação (amor objetal analítico), por um lado, e autocontrole ou atividade 11 11 12 intelectual, por outro.” - Ferenczi, S. - Psicanálise IV/Sandor Ferenczi (Obras Completas); São Paulo: Martins Fontes, 1992 p. 34 7 Winnicott,D.W. - Hate in the countertransference; Int. J. Psa. XXX, 1949 8 ” Um dos pontos essenciais em relação à contratransferencia é que ela é inconsciente. As pessoas falam sobre ‘fazer uso’ de sua contratransferencia; não se pode usar algo que não se sabe o que é. Existe algo que é a minha reação emocional ao paciente; posso esperar que, através de minha consciência do fato de ter características humanas, tais como preconceitos e fanatismo, eu possa ser mais tolerante, e permitir que o paciente sinta se minha interpretação é ou não correta. Isto é uma experiência transitória. É uma razão para denomina-la ‘transferencia’; é um pensamento, sentimento ou idéia que você tem, em seu caminho para outro lugar. Quando você está na presença de algo que aprendeu a chamar de transferencia, será que você pode sentir mais precisamente o que é isso na hora? Depende de se permitir que aquilo que o paciente diz entre em você, de se permitir que pule para fora, como se fosse o seu ser interior refletindo-se para fora” - Bion, W.R. - Conversando com Bion; Rio de Janeiro: Imago Ed., 1992 p. 82 9 Mattos, J.A.Junqueira - A contratransferencia e a obra de Bion - Rev.Bras.Psicanal. 26 (3) : 313-34, 1992 10 -------------- Contratransferencia uma re-visão - Rev. Bras. Psicanal. 28 (2) : 229-52, 1994 11 Racker, H. - O artigo La Neurosis de Contratransferencia, foi apresentada à Associación Psicoanalítica Argentina em setembro de 1948. Foi publicado no Int. Journal of Psycho-Analysis, vol. 34, 1953. 12 Heimann, P.(1950) - On countertransference - Intern. Journal Psycho-Anal. ,vol.31, pp 81-4. (Também publicado na Rev. Psicanál. da SPPA, Porto Alegre; 2 (1) : 171-6, 1995 tradução de Jussara Schestatsky Dal Zot) 13 Freud, S - Dois verbetes de enciclopédia (1923[1922]) - Ed. Stand. Brasil. Obras Psic. Compl. Sigm. Freud - Rio de Janeiro, Imago - 1976, Vol. XVIII, pg 287: “PSICANALISE é o nome de 1) um procedimento para a investigação de processos mentais que são quase inacessíveis por qualquer outro modo, 2) um método (baseado nesta investigação) para o tratamento de disturbios neuróticos e 3) uma coleção de informações psicológicas obtidas ao longo destas linhas, e que gradualmente se acumula numa nova disciplina cientifica.” (grifos meus). 14 ”Pues la contratransferencia es la respuesta vivencial a la transferencia, y si aquélla es silenciada, tampoco ésta puede desarrollar-se con plenitud de vida y de conocimiento. - Racker, H. - Estudios sobre técnica psicoanalitica ; Buenos Aires: Editorial Paidós, 1979 p. ll 15 “Finalmente se comprendió que la contratransferencia no sólo puede perturbar o ayudar a la compreensión del analista y a su capcidad de interpretar los conflictos inconscientes del analizado, sino que también, al codeterminar la actitud del analista frente al analizado, codetermina los destinos de la transferencia; pues el analista es el objeto de la transferencia y la actitud del analista representa la actitud de este objeto, lo que a su vez influye sobre la transferencia. Siendo así la contratransferencia decisiva para la transferencia y su elaboración, lo es también para todo el tratamiento. - Idem p. 34 16 “Esta ‘captación’ se produce a través del proprio inconsciente, puesto que ‘solo lo igual puede conocer lo igual’, ... sólo puede conocer-se en otro lo que es proprio de uno mismo. Más precisamente, sólo puede captar-se el inconsciente de otro en la medida en que la propria conciencia está abierta a los proprios instintos, sentimientos e fantasías.... Sólo sirve captar en el otro aquello que es analista ha aceptado dentro de él como proprio y lo que, por lo tanto, puede ser re-conocido en el otro, sin angustia ni rechazo”.- Idem, p. 31 17 ”La relación afectiva con el analista que de esta manera es creada, es algo que latentemente ya existe dentro del analizado. La creación de la transferencia es, pues, en este aspecto, un desentierro de estas relaciones que necesitan ser revividas para darles un nuevo e mejor destino. Idem p. 28 18 ”El principio básico de toda la técnica analítica es el antiguo ‘conócete a ti mismo’ socrático,....Pero debemos agregar en seguida que el conocimiento de sí mismo al que nos referimos no es un saber intelectual. El verdadero conocimiento es equivalente a la unión consigo mismo, a una plena aceptación en la conciencia y en el sentir de todo aquello del propio ser que antes ha sido rechazado patológicamente....En este sentido la técnica analítica es, como ya he mencionado, un método para llegar aser lo que se es, puesto que no hace otra cosa que intentar devolver ao ser lo que es suyo y lo que, en el camino de su vida, en el interjuego de conflictos internos y sucesos externos, él habia perdido o no lo habia podido desarrollar.” - Idem p. 36-7. 19 -----------Idem, p.46 12 13 ”Tanto más podemos prescindir de querer curar y educar cuanto mejor sepamos movilizar el saber latente del analizado, ayudándole a superar lo que se opone dentro de el a tal movilización” -Idem p.48 21 ”Tendemos a identificarnos, e identificarse es un proceso mental en parte activo, implicando, además, la reprodución de la actividad psicológica del objeto. Dejamos que el material penetre en nosotros y a veces vibra inmediatamente la cuerda que fue ‘tocada’; pero otras veces esta recepción debe ser seguida por un proceso activo en el que nosotros ‘tocamos’y detectamos lo penetrado con nuestro sentir y pensar insconsciente, para poder, finalmente, unirnos com él. Así como en el acto sexual la mujer es, en un aspecto, receptiva y por lo tanto ‘pasiva’, siendo sin embargo --en cuanto es sana y ama al hombre-- plenamente activa dentro de este papel pasivo, así es también el analista frente al analizado. Una pasividad exagerada del analista tiene cierta similitud con la conducta de la mujer frígida, que no responde, que no se une realmente. En tal caso cumplimos con las ‘obligaciones’ del contrato matrimonial-analítico, pero sin sentir psicológicamente, responder ni gozar. Claro está, nuestros analizados --hombres y mujeres-- suelen ser neuróticos, su potencia psicológica es dañada, sus palabras carecen frecuentemente de ‘elevación’, o son --como los hombres sádicos-- sin amor. Pero para algo somos analistas y por esto ellos vienen a nosotros. Ser analista significa, en este aspecto, no responder taliónicamente, no entrar en el círculo vicioso neurótico, no someterse a las defensas del analizado, lo que implica una continua actividad en la búsqueda de la compreensión.” -Idem p. 50-1. 22 “ La intención positiva de no mostrar más de lo imprescindible de la propia persona --indicada especialmente por el analisis de la transferencia-- no tiene que ser llevada tan lejos como para negar ante el analizado (o aun impedir) el interés y el afecto del analista por él. Pues sólo Eros puede originar Eros. Y es esto lo que en última instancia importa, tanto si se piensa en la finalidad del análisis que es la nueva movilización de la libido rechazada, como si se piensa en el papel decisivo que desempeña la transferencia positiva o si se piensa en la elaboración de la ‘posición depresiva’ que sólo puede lograrse por medio del incremento de Eros. Así como la tranferencia positiva es de importancia fundamental para la labor analítica, así lo es también la contratranferencia positiva y su pleno despliegue a través de la intensa labor que debe efectuar el analista mediante su esfuerzo de comprender y de interpretar. Sólo así puede crear-se en la situación analítica un clima realmente favorable a la labor a realizarse. La relación del analista con el analizado es una relación libidinal y una constante vivencia afectiva; los deseos, las frustaciones y las angustias del analista --por leves que sean-- son reales; la contratransferencia oscila --en una parte-- constantemente con las oscilaciones de la transferencia, y el destino del tratamiento depende en buen grado de la capacidad del analista de mantener por encima de los destinos de su ‘neurosis de contratransferencia’ su contratransferencia positiva, o bien de hacerla nacer de nuevo de todo daño que haya sufrido, como el pájaro mítico Fénix que resurge siempre de su propia ceniza.”22--- Idem pg. 52-3. 23 “El proceso analítico de transformación depende, pues, en buen grado, de la cantidad y cualidad de eros que el analista puede movilizar por su analizado. Es una forma específica de eros, es el eros que se llama comprensión, y, es, además, una forma específica de compresión. Es, ante todo, la comprensión de lo rechazado, de lo temido y odiado en el ser humano, y esto gracias a una maior fuerza de lucha --una mayor agresión-- contra todo lo que encubre la verdad, contra la ilusión y la negación; en una palabra: contra aquel temor y odio del hombre hacia sí mismo y sus consequencias patológicas” - Idem pg. 55. 20 13