DIREITOS HUMANOS, JUSTIÇA SOCIAL E EDUCAÇÃO PÚBLICA: REPENSAR A ESCOLA PÚBLICA COMO UM DIREITO NA ERA DOS MERCADOS ESTÊVÃO, Carlos V1. – UMINHO Grupo de trabalho – Violências nas escolas Agência financiadora: não contou com financiamento Resumo Nessa discussão, o autor começa por sublinhar as pressões que se exercem sobre os direitos humanos em muitas sociedades ditas evoluídas, no contexto da era do predomínio dos mercados, do novo espírito do capitalismo actual e da pós-democracia. Poderia afirmar-se que, face ao cenário descrito, os direitos se confrontam com grandes ambiguidades, com formas e discursos contraditórios, que ora sustentam desigualdades e injustiças num contexto político de uma democracia distante e meramente formal, ora ajudam a regenerar os valores da igualdade e da equidade e a própria democracia, recolocando-a na senda da emancipação. É por isso que, ao nível da prática, os direitos tanto podem contribuir para nos colocarmos numa atitude guerreira em prol da sua defesa, como podem subsidiar a nossa posição ajoelhada, como adoradores de outros deuses ou de bezerros de oiro, com outras promessas e outros paraísos. Tendo presente este mesmo contexto e as suas implicações a vários níveis, o autor expõe, então, ainda que brevemente, diferentes concepções de justiça, que reflectem, de certo modo, a “anormalidade” da justiça nos tempos que vivemos, tal como nos lembra a pensadora norte-americana Nancy Fraser. A justiça, nesta era dos mercados e de globalização acentuadamente neoliberal, não pode confinar-se às fronteiras nacionais, porque omitiria, se tal acontecesse, a responsabilidade de todos os cidadãos pelo que acontece noutras partes do globo, designadamente em termos de direitos fundamentais ou básicos. Considero, por isso que a nacionalidade não é critério moral para dirimir o alcance e a aplicabilidade dos direitos, tal como não é também a autonomia kantiana dos cidadãos que vai impor o escopo das 1 Coordenador do Núcleo de Educação para os Direitos Humanos Instituto de Educação da Universidade do Minho - UMINHO - Braga- Portugal e-mail. [email protected] 28782 obrigações de justiça a todos. É antes a interdependência dos cidadãos, estejam eles onde estiverem e pertençam a que Estado pertencerem. É que agora estamos numa outra forma e num outro patamar de cidadania; estamos num outro domínio, no da cosmopoliticidade democrática e da justiça global (ESTÊVÃO, 2012b), que impõe outros direitos e outros deveres. Um terceiro momento de reflexão incide sobre o lugar dos direitos no novo espaço público, compreendido por vários autores como um espaço plural e democrático, um espaço de espaços, aberto a todos os públicos, mesmo àqueles que tradicionalmente têm sido subalternizados ou permanecido no exterior do que habitualmente se entende por esfera pública. Este novo espaço público requer um outro posicionamento mais militante em favor dos direitos; de facto, ele deve apresentar-se como um espaço de intervenção, que demanda empenhamento com uma sociedade mais livre, mais justa e mais igualitária; como um meio de integração social ou como uma “forma de solidariedade social” (CALHOUN, 2002); como “um domínio social pluralista, composto de uma variedade de públicos, que se opõem ou sobrepõem, implicados num diálogo transnacional (ou intercultural) e de práticas de cidadania” (NANZ, 2003, p. 5). Na última parte do texto, a educação e a escola são interrogadas criticamente enquanto serviço público, tradicionalmente pouco problematizado, procurando situá-las, agora, nas novas exigências e nos novos compromissos de uma esfera pública mais ampla e reconfigurada num sentido mais democrático, mais solidário, mais cosmopolítico e mais justo. O tornar-se pública exige à escola de hoje um compromisso com a justiça pensada também politicamente, o que obriga a educação a actuar de modo a que os actores educativos, mas não só, se tornem não apenas beneficiários de instituições justas, mas também actores e autores democráticos do futuro destas instituições e das suas realizações, pugnando pela paridade participativa e pela ampliação até ao nível global das fronteiras da justiça e dos direitos humanos. Daqui decorre que uma escola a tornar-se pública deve constituir-se também num espaço de intervenção, que demanda empenhamento com uma sociedade mais livre, mais justa e mais igualitária. E isto exige claramente, em termos políticos, um outro tipo de democracia, mais deliberativa, cooperativa e dialógica, enfim, uma democracia substantiva compreendida intrinsecamente como direitos humanos. Palavras-Chave: Educação. Direitos humanos. Justiça. Espaço público.