Marta Halfeld Ferrari Alves Lacordia ESTUDO COMPARATIVO DA AÇÃO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A E DA CROTOXINA SOBRE AS CÉLULAS SATÉLITES DA MUSCULATURA EXTRÍNSECA OCULAR EM MODELO ANIMAL Belo Horizonte Faculdade de Medicina da UFMG 2007 2 Marta Halfeld Ferrari Alves Lacordia ESTUDO COMPARATIVO DA AÇÃO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A E DA CROTOXINA SOBRE AS CÉLULAS SATÉLITES DA MUSCULATURA EXTRÍNSECA OCULAR EM MODELO ANIMAL Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Medicina, área de Oftalmologia, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do grau de Doutor em Medicina. Orientador: Prof. Dr. Henderson Celestino de Almeida Co-orientador: Prof. Dr. Geraldo de Barros Ribeiro Belo Horizonte 2007 3 L143e Lacordia, Marta Halfeld Ferrari Alves Estudo comparativo da ação da toxina botulínica tipo A e da crotoxina sobre as células satélites da musculatura extrínseca ocular em modelo animal. / Marta Halfeld Ferrari Alves Lacordia. – 2007. 140 f. Orientador: Henderson Celestino de Almeida Co-orientador: Geraldo de Barros Ribeiro Tese (doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Medicina. 1. Músculos oculomotores. 2. Células satélites de músculo esquelético. 3. Toxina botulínica Tipo A. 4. Crotoxina 5. Estudo comparativo 6. Animais. I. Almeida, Henderson Celestino de. II. Ribeiro, Geraldo de Barros. III. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Medicina. IV. Título. NLM: WW 400 CDU: 617.7 4 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Reitor Prof. Ronaldo Tadêu Pena Pró-Reitor de Pós-Graduação Prof. Jaime Arturo Ramirez Pró-Reitor de Pesquisa Prof. Carlos Alberto Pereira Tavares Diretor da Faculdade de Medicina Prof. Francisco José Penna Diretora do Hospital das Clínicas Profª. Tânia Mara Assis Lima Coordenador do Centro de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina Prof. Carlos Faria Santos Amaral Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Oftalmologia Prof. Joel Edmur Boteon Chefe do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia Profª. Ana Rosa Pimentel de Figueiredo Membros do Colegiado do Curso de Pós-Graduação em Medicina, área de Oftalmologia Prof. Fernando Oréfice Prof. Henderson Celestino de Almeida Prof. Homero Gusmão de Almeida Prof. Joel Edmur Boteon Prof. Márcio Bittar Nehemy Prof. Marco Aurélio Lana Peixoto Prof. Sebastião Cronemberger Sobrinho Representante discente: Leonardo Rodrigues Pereira 5 6 DEDICATÓRIA Ao meu pai, Amaury, pelo amor incondicional e pelo exemplo de vida, de caráter e de força. À minha mãe, Dalva, também pelo amor, carinho e apoio constantes. À minha irmã, Mírian, pela amizade e pela maneira de estar sempre presente na minha vida, apesar da distância geográfica. Ao meu irmão, Mauro, pelo modelo de dedicação aos estudos e à profissão. Ao meu marido, Roberto, pelo amor, pelo companheirismo e por nunca ter me deixado desistir. E especialmente à minha filha, Raquel, que veio junto com este meu sonho, trazendo mais alegria para a minha vida. Eu te quero a todo instante Nem mil alto-falantes Vão poder falar por mim. Eu não existo longe de você E a solidão é meu pior castigo Eu conto as horas Pra poder te ver Mas o relógio tá de mal comigo Abdullah/ Cacá Moraes 7 AGRADECIMENTOS A Deus, por ter me poupado a vida e por ter me dado forças para continuar minha missão. Ao Professor Dr. Henderson Celestino de Almeida, pelo incentivo, pela dedicação, pelo carinho e por ter contribuído tanto para meu aprimoramento científico e para a realização deste grande sonho. Ao Professor Dr. Geraldo de Barros Ribeiro, pela disponibilidade, pela competência, pela simplicidade e por sua extraordinária orientação. Ao Dr. Carlos Henrique Reis de Araújo Silva, médico veterinário e diretor da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC Campus VI – Juiz de Fora), pelo grande auxílio prestado no desenvolvimento deste trabalho, pela excelência e pelo profissionalismo. Ao Dr. Raul Fernando Binato Lamim e à Dra. Maria do Carmo Jordão Coelho, professores adjuntos do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora, pelo auxílio no estudo imunoistoquímico. Ao Dr. Márcio José Martins Alves, professor adjunto do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora, pela dedicação e pela disponibilidade em ajudar na realização deste estudo. À Dra. Maria de Lourdes Motta Moreira Villas Boas, por ter despertado em mim o gosto pelo estudo do estrabismo e pelo privilégio de tê-la como amiga. Ao Dr. Galton Carvalho Vasconcelos, pelos constantes incentivos. Ao Professor Dr. Joel Edmur Boteon, coordenador do Curso de Pós-Graduação em Oftalmologia da Faculdade de Medicina da UFMG, por ter acreditado em mim e por ter me apoiado sempre. 8 Ao Professor Dr. Márcio Bittar Nehemy, subcoordenador do Curso de Pós-Graduação em Oftalmologia da Faculdade de Medicina da UFMG, pelos incentivos desde a minha residência médica no Instituto Hilton Rocha e pelas gentilezas que lhe são peculiares. A Rosemary Rodrigues Silva e a Maria do Rosário Pompéia de Aquino, secretárias do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da UFMG, por terem sempre sido prestativas, acolhedoras, carinhosas e bem humoradas. Ao Dr. Rafael Vidal Mérula, pelo apoio, pela amizade, pelos desabafos, pelos estímulos e por ter entendido verdadeiramente o significado desta tese para mim. À Dra. Juliana Lambert Oréfice, pelo coleguismo, pelo exemplo e pelo apoio. Ao Laboratório de Anatomia Patológica da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora e, em especial, a Débora Tavares Grizendi, pelo trabalho de preparação das lâminas. À Universidade Federal de Juiz de Fora, por ter contribuído para a realização desta etapa tão importante na minha vida profissional. À UNIPAC (Faculdade de Medicina Veterinária), por ter cedido o espaço físico para a realização do experimento com coelhos. Ao Cleber Ornelas e à Beth Halfeld, por terem me hospedado com muito carinho durante o curso do doutorado, incentivando-me a todo o momento. À Dona Cleonice, à Karla, ao Pierre, à Renata, ao Nélson e a todos os familiares, pela torcida. Aos meus lindinhos Alberto, Bernard, Henrique, Manuela, Pedro e Gustavo, por conseguirem, juntamente com minha Raquel, me fazer sorrir. 9 Aos amigos: Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos! Vinícius de Moraes Cristine Sotto-Maior (pela generosidade), Ronaldo (merci beaucoup), Monica (companheira de estrada), Cristiana, Martinha e família (tão importantes para mim, desde minha residência no Instituto Hilton Rocha), Christiane Marie (“meu anjo da guarda”), Eliane, Carla, Angelina e Cleide (pela ajuda nos momentos mais críticos), Rubens, Ema, Dale (thank you), Regina Beluco, Lucianno e Hélio De Maria (amigos da pós-graduação), Dilourdes, Neide e Lúcia Gerhein (minha torcedora fiel e sempre presente) e todos aqueles que de alguma maneira acreditaram em mim e me ajudaram nesta conquista. 10 Dias inteiros de calmaria, noites de ardentia, dedos no leme e olhos no horizonte, descobri a alegria de transformar distâncias em tempo. Um tempo em que aprendi a entender as coisas do mar, a conversar com as grandes ondas e não discutir com o mau tempo. A transformar o medo em respeito, o respeito em confiança. Descobri como é bom chegar quando se tem paciência. E para chegar, onde quer que seja, aprendi que não é preciso dominar a força, mas a razão. É preciso, antes de mais nada, querer. Amyr Klink 11 RESUMO Lacordia MHFA. Estudo comparativo da ação da toxina botulínica tipo A e da crotoxina sobre as células satélites da musculatura extrínseca ocular em modelo animal. Tese [Doutorado]. Belo Horizonte: Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais; 2007. Introdução: Quando ocorre uma lesão muscular, as células satélites tornam-se ativas, dividem-se e reparam as fibras lesadas ou formam novas miofibras. Ao contrário da musculatura esquelética, que é pós-mitótica, os músculos extrínsecos oculares apresentam-se em contínua renovação celular, devido às células satélites. O tratamento cirúrgico do estrabismo visa equilibrar as forças geradas pelos músculos oculares extrínsecos, porém compromete a dinâmica muscular normal e, inevitavelmente, provoca cicatrizes, incomitâncias e, ocasionalmente, estrabismos secundários. A necessidade de se descobrir um tratamento farmacológico para o estrabismo que não cause enfraquecimento muscular permanente, mas que tenha uma duração maior que a da toxina botulínica, estimula a comunidade científica a pesquisar novas substâncias. Estudos recentes verificaram que a crotoxina é capaz de induzir uma paralisia transitória em músculo reto superior de coelhos e que sua ação e seu efeito foram semelhantes aos da toxina botulínica do tipo A. Objetivo: Avaliar o efeito da toxina botulínica do tipo A e da crotoxina na ativação de células satélites das fibras musculares de músculos retos superiores de coelhos. Material e métodos: Os músculos retos superiores do olho direito de 29 coelhos machos albinos neozelandeses foram inoculados com toxina botulínica do tipo A, ou com crotoxina, em diferentes doses. Os músculos retos superiores contralaterais de cada coelho foram inoculados com solução salina em volume igual ao das toxinas. Os animais foram sacrificados 12, 18 e 25 dias após as aplicações. Os olhos foram enucleados, mantendo-se os músculos 12 retos superiores intactos. Cada músculo foi preparado para análise imunoistoquímica, com marcadores de células satélites – Myo D e PCNA. Foi realizada contagem dos núcleos corados pelos marcadores a cada cem miofibras. Resultados: A aplicação de toxina botulínica e de crotoxina provocou um aumento no número de células satélites ativadas e em proliferação nos músculos retos superiores dos coelhos. A inoculação de solução salina nos músculos contralaterais não causou aumento significativo. Uma maior ativação celular foi observada após a aplicação de crotoxina embora, estatisticamente, a diferença do efeito de ativação entre os grupos botox e crotoxina não tenha sido considerável. Nos grupos botox e crotoxina, não houve correlação estatisticamente significativa entre a dose e o aumento na ativação das células. Da mesma forma, não foi encontrada correlação entre o volume de substância aplicada e a ativação celular nos grupos botox, crotoxina e controle. O tempo de vida após a aplicação contribuiu para o aumento de células satélites ativadas em todos os grupos. No estudo histológico, o grupo crotoxina revelou acentuado desarranjo na arquitetura das fibras musculares e mais evidências de regeneração. Conclusão: A observação de maior desorganização na estrutura muscular e de sinais de regeneração mais evidentes no grupo crotoxina parece estar correlacionada ao aumento de células satélites ativadas. Supõe-se que o processo de regeneração das fibras musculares após a aplicação da crotoxina seja mais lento que após a aplicação da toxina botulínica, o que explicaria a ação mais duradoura da crotoxina. Palavras-chave: Células satélites. Toxina botulínica do tipo A. Crotoxina. Estrabismo. Regeneração de fibra muscular. 13 ABSTRACT Lacordia MHFA. A comparative study of the effects of type A botulinum toxin and crotoxin on satellite cells of extraocular muscles in rabbits. Thesis (Doctorate) Belo Horizonte: Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais; 2007. Introduction: When muscle lesions occur, the satellite cells spring into action, by dividing and either repairing damaged fibers or forming new myofibers. Unlike skeletal muscle which is postmitotic, the extraocular muscles are in a continuous process of cellular regeneration, due to these satellite cells. Surgical treatment of strabismus attempts to balance the forces generated by extraocular muscles. However, this procedure modifies the normal muscle dynamics and unavoidably causes scarring, incomitant gaze and, occasionally, secondary strabismus. The need to discover pharmacological treatment for strabismus, which does not cause permanent muscle weakening, but has a longer lasting effect than botulinum toxin, has stimulated the scientific community to seek alternative substances. Recent studies have verified that crotoxin was successful in inducing temporary paralysis in the superior rectus muscles of rabbits and that its action and effects were similar to those produced by botulinum toxin A. Purpose: To evaluate the effect of botulinum toxin A and crotoxin on satellite cell activation in the muscle fibers of superior rectus muscles of rabbits. Material and Methods: The superior rectus muscles in the right eyes of 29 male, albino, New Zealand rabbits were inoculated with different doses of botulinum toxin A or crotoxin. The contra-lateral superior rectus muscles in each rabbit were inoculated with the same volume of saline solution only. The animals were sacrificed either 12, 18 or 25 days after the inoculation. The eyes were enucleated, maintaining the superior rectus muscles intact. 14 Subsequently, each muscle was prepared for immunohistochemical analysis, using satellite cell markers – Myo D and PCNA. The positive nuclei, revealed by the markers in each 100 myofibers, were counted. Results: The application of the botulinum toxin A and crotoxin triggered a more significant increase satellite cell activation and proliferation in right superior rectus muscles in rabbits when compared with a saline solution inoculation in the contralateral muscles. Greater cell activation was observed after crotoxin application, although, statistically, the difference in the effects of this activation between the botox and crotoxin groups was not significant. There was no statistically significant correlation between the dose applied and resulting cell activation in the botox and crotoxin groups. Similarly, no correlation was found between the volume of the applied substance and cell activation in the botox, crotoxin and control groups. Post-application survival time contributed to the increase in activated satellite cells in all groups. Histological examination revealed more accentuated disorganization in muscle fibre architecture and more evidence of regeneration in the crotoxin group. Conclusion: The observed increase in disorganization in the muscle structure together with more obvious signs of regeneration in the crotoxin group suggests a correlation with the increase in satellite cell activation. It may be concluded that the process of muscle-fibre regeneration after the crotoxin application is slower than that which occurs after the botulinum toxin A application, which may explain the longer lasting action of crotoxin. Key words: Satellite cells. Botulinum toxin A. Crotoxin. Strabismus. Muscle-fibre regeneration. 15 Lista de ilustrações Figura 1- Desenho esquemático ilustrando a organização do músculo estriado esquelético...................................................................................................................................9 Figura 2- Diagrama ilustrando a estrutura e a posição dos filamentos finos e grossos do sarcômero....................................................................................................................................9 Figura 3- Estrutura dos tecidos conectivos orbitários e suas relações com as camadas de fibras musculares.......................................................................................................................11 Figura 4- Desenho esquemático de uma célula satélite quiescente envolta pela lâmina basal e pelo sarcolema da miofibra justaposta......................................................................................14 Figura 5- Modelo computacional da estrutura da crotoxina....................................................34 Figura 6- Aplicação de toxina no músculo reto superior do olho direito de coelho........................................................................................................................................44 Figura 7- Fase final da aplicação de toxina no músculo reto superior do olho direito........................................................................................................................................44 Figura 8- Globo ocular de coelho enucleado...........................................................................48 Figura 9- Lâmina preparada para análise imunoistoquímica ..................................................52 Figura 10- Corte longitudinal do músculo reto superior de um coelho, submetido à marcação pelo anticorpo anti- Myo D.......................................................................................................53 Figura 11- Corte longitudinal do músculo reto superior de um coelho, submetido à marcação pelo anticorpo anti- PCNA........................................................................................................54 Figura 12- Ptose palpebral discreta em olho direito do coelho 12...........................................60 Figura 13- Ptose palpebral moderada em olho direito do coelho 23.......................................60 Figura 14- Coelho 28 com lesão na pálpebra inferior esquerda causada por provável ferimento traumático.................................................................................................................61 16 Figura 15- Corte histológico de área do músculo reto superior normal de coelho (aumento de 100 vezes, corado pela hematoxilina-eosina)..................................................................101 Figura 16 - Corte histológico de área do músculo reto superior normal de coelho (corte transversal, aumento de 100 vezes, corado pela hematoxilina-eosina)................................101 Figura 17- Corte histológico do músculo reto superior do olho esquerdo do coelho1..................................................................................................................................102 Figura 18 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho esquerdo do coelho 2............................................................................................................................................102 Figura 19 - Corte histológico de músculo reto superior do olho direito do coelho 6............................................................................................................................................103 Figura 20- Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 6............................................................................................................................................103 Figura 21- Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 7............................................................................................................................................104 Figura 22 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 7............................................................................................................................................104 Figura 23 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 7............................................................................................................................................105 Figura 24 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 7............................................................................................................................................105 Figura 25 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 7............................................................................................................................................106 Figura 26- Corte histológico de músculo do reto superior do olho direito do coelho 9............................................................................................................................................106 17 Figura 27- Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 9...............................................................................................................................................107 Figura 28- Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 15.............................................................................................................................................107 Figura 29- Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 15.............................................................................................................................................108 Figura 30- Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 15.............................................................................................................................................108 Figura 31- Corte histológico de músculo reto superior do olho direito coelho 16.............................................................................................................................................109 Figura 32 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 19.............................................................................................................................................109 Figura 33 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 20.............................................................................................................................................110 Figura 34 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 20.............................................................................................................................................110 Figura 35 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 21.............................................................................................................................................111 Figura 36 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 23.............................................................................................................................................111 Figura 37 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 23.............................................................................................................................................112 Figura 38 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 25.............................................................................................................................................112 18 Figura 39 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 25.............................................................................................................................................113 Figura 40 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 25.............................................................................................................................................113 Figura 41 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 25.............................................................................................................................................114 Figura 42 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 25.............................................................................................................................................114 Figura 43 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 25.............................................................................................................................................115 Figura 44 - Corte histológico do músculo reto superior do olho esquerdo do coelho 25.............................................................................................................................................115 Figura 45- Esquema dos estágios de regeneração da reparação muscular....................................................................................................................................86 19 Lista de tabelas Tabela 1- Núcleos corados e total de núcleos em cada grupo (botox e controle).................................................................................................................................100 Tabela 2- Núcleos corados e total de núcleos em cada grupo (crotoxina e controle)..................................................................................................................................100 Tabela 3- Percentuais de núcleos corados pelo Myo D e PCNA nos grupos controle, botox e crotoxina....................................................................................................................................63 Tabela 4- Percentuais de núcleos corados pelo Myo D e PCNA nos grupos botox e crotoxina....................................................................................................................................66 Tabela 5- Percentuais de núcleos corados pelo Myo D e pelo PCNA nos grupos de acordo com as doses..............................................................................................................................67 Tabela 6- Percentuais de núcleos corados pelo Myo D e pelo PCNA nos grupos de acordo com os volumes.........................................................................................................................71 Tabela 7- Percentuais de núcleos corados pelo Myo D e pelo PCNA nos grupos de acordo com os dias de vida após a aplicação.....................................................................................................................75 20 Lista de quadros Quadro 1- Ações dos músculos oculomotores a partir da posição primária do olhar............................................................................................................................................7 Quadro 2- Distribuição dos coelhos em grupos.......................................................................43 Quadro 3- Toxina botulínica aplicada no músculo reto superior do olho direito dos coelhos 1 a 14............................................................................................................................................45 Quadro 4- Crotoxina aplicada no músculo reto superior do olho direito dos coelhos 15 a 29...............................................................................................................................................46 Quadro 5- Relação dos dias em que foram realizadas as eutanásias dos coelhos, coelhos sacrificados e número de olhos enucleados..............................................................................47 Quadro 6- Ocorrência de ptose palpebral no olho direito dos coelhos após a aplicação de toxina botulínica e de crotoxina................................................................................................59 Quadro 7- Alterações histológicas de cada músculo reto superior em que foram aplicados Botox® 10 U e solução salina em igual volume.......................................................................80 Quadro 8- Alterações histológicas de cada músculo reto superior em que foram aplicados Botox® 5 U e solução salina em igual volume.........................................................................80 Quadro 9- Alterações histológicas de cada músculo reto superior em que foram aplicados Botox® 2,5 U e solução salina em igual volume......................................................................81 Quadro 10- Alterações histológicas de cada músculo reto superior em que foram aplicadas crotoxina 10 U e solução salina em igual volume....................................................................81 21 Quadro 11- Alterações histológicas de cada músculo reto superior em que foram aplicadas crotoxina 5 U e solução salina em igual volume......................................................................82 Quadro 12- Alterações histológicas de cada músculo reto superior em que foram aplicadas crotoxina 2 U e solução salina em igual volume......................................................................82 22 Diagrama Diagrama 1- Representação gráfica das variáveis do presente estudo....................................56 23 Lista de gráficos Gráfico 1- Representação em box-plot dos percentuais de núcleos de CS ativados e marcados pelo Myo D...............................................................................................................................64 Gráfico 2- Representação em box-plot dos percentuais de núcleos de CS ativados e marcados pelo PCNA................................................................................................................................65 Gráfico 3- Diagrama de dispersão representando a correlação entre a dose (U) e o percentual de núcleos ativados marcados pelo Myo D..............................................................................68 Gráfico 4- Diagrama de dispersão representando a correlação entre a dose (U) e o percentual de núcleos ativados marcados pelo PCNA...............................................................................69 Gráfico 5- Diagrama de dispersão representando a correlação entre o volume (ml) e o percentual de núcleos ativados marcados pelo Myo D.............................................................72 Gráfico 6- Diagrama de dispersão representando a correlação entre o volume (ml) e o percentual de núcleos ativados marcados pelo PCNA..............................................................73 Gráfico 7- Diagrama de dispersão representando a correlação entre os dias de vida após a aplicação e o percentual de núcleos ativados marcados pelo Myo D................................................................................................................................................76 Gráfico 8- Diagrama de dispersão representando a correlação entre os dias de vida após a aplicação e o percentual de núcleos ativados marcados pelo PCNA........................................................................................................................................77 Gráfico 9- Relação entre a média de núcleos ativados para cada grupo, para cada marcador, em cada período de vida após a aplicação das substâncias.......................................................78 24 Lista de abreviaturas, siglas e símbolos ANOVA- análise de variância Brd U- bromodeoxiuridina °C- grau Celsius CETEA- Comitê de Ética em Experimentação Animal CICS- crotoxin inhibitor from Crotalus serum COBEA- Colégio Brasileiro de Experimentação Animal Crtx- crotoxina CS- células satélites DAB- diaminobenzidina DFP- di-isopropil-fluor-fosfato DL-50- dose letal em 50% dos animais inoculados EUA- Estados Unidos da América FDA- Food and Drug Administration FGF- fibroblast growth factor FUNED- Fundação Ezequiel Dias g- grama GB- grupo botox GC- grupo controle GCrtx- grupo crotoxina H0- hipótese de nulidade HGF- hepatocyte growth factor IGF - I- insulin-like growth factor I IGF- II- insulin-like growth factor II 25 IL-6- interleucina 6 kDa- quilodalton kg- quilograma LIF- leukemia inhibitory factor M- mol mg- miligrama MG- Minas Gerais MIFs- multiply innervated muscle fibers (fibras de contração lenta) ml- mililitro MOE- músculos oculares extrínsecos Myo D- myogenic determination gene D μg- microgramas nº- número N-CAM- neural cell adhesion molecule OD- olho direito OE- olho esquerdo p- nível de significância PBS- phosphate-buffered saline PCNA- proliferating cell nuclear antigen pH- potencial de hidrogênio iônico PR- Paraná r- coeficiente de correlação SIFs- singly innervated muscle fibers (fibras de contração rápida) SP- São Paulo SPSS- Statistical Package for Social Science 26 TGF-β- transforming growth factors U- unidade UFMG- Universidade Federal de Minas Gerais UNIPAC- Universidade Presidente Antônio Carlos %- percentual ®- marca registrada ™- marca comercial 27 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................1 2 REVISÃO DA LITERATURA...................................................................................5 2.1 Musculatura ocular externa e células satélites....................................................6 2.1.1 Anatomia dos músculos oculares extrínsecos...........................................6 2.1.1.1 Aspectos macroscópicos................................................................6 2.1.1.2 Organização celular.......................................................................8 2.1.1.3 Tipos de fibras da musculatura extrínseca ocular........................10 2.1.2 Células Satélites.......................................................................................13 2.1.2.1 Identificação das células satélites musculares.............................15 2.1.2.2 Marcadores para células satélites................................................15 2.1.2.3 Distribuição e quantificação das células satélites........................17 2.1.2.4 Fatores de crescimento como reguladores das células satélites..18 2.1.2.5 Respostas funcionais das células satélites a estímulos fisiológicos...........................................................................................................21 2.1.2.5.1 Estímulo hipertrófico...................................................21 2.1.2.5.2 Estímulo atrófico.........................................................22 2.1.2.5.3 Envelhecimento...........................................................23 2.1.2.6 Respostas funcionais e estados de doença...................................23 2.1.2.7 Modelos de regeneração muscular..............................................24 2.1.3 Particularidades da musculatura ocular extrínseca.................................24 2.2 Revisão da toxina botulínica............................................................................26 2.2.1 Introdução...............................................................................................26 2.2.2 Farmacologia...........................................................................................28 2.2.3 Mecanismo da ação.................................................................................28 2.2.4 Preparações comerciais............................................................................29 2.2.5 Imunologia da toxina botulínica..............................................................30 2.2.6 Efeitos colaterais......................................................................................30 2.2.7 Indicações................................................................................................31 2.3 Revisão da crotoxina........................................................................................33 2.3.1 Introdução................................................................................................33 28 2.3.2 Estrutura...................................................................................................34 2.3.3 Mecanismo de ação..................................................................................34 2.3.4 Imunologia da crotoxina..........................................................................36 2.3.5 Utilização da crotoxina.............................................................................36 3 OBJETIVOS...............................................................................................................38 4 MATERIAIS E MÉTODOS......................................................................................40 4.1 Estudos anatomopatológico e imunoistoquímico.............................................47 4.2 Metodologia estatística.....................................................................................55 5 RESULTADOS...........................................................................................................58 5.1 Análise estatística dos dados............................................................................62 5.1.1 Comparação das médias entre os grupos independentemente dos co-fatores........................................................................................................................62 5.1.1.1 Comparação com o grupo controle...............................................62 5.1.1.2 Comparação sem o grupo controle...............................................66 5.1.2 Avaliação da influência dos co-fatores nos grupos..................................67 5.1.2.1 Comparação entre a dose e a resposta..........................................67 5.1.2.2 Comparação entre o volume e a resposta......................................70 5.1.2.3 Comparação entre os dias de vida após a aplicação e a resposta.74 5.2 Análise histológica.........................................................................................79 6 DISCUSSÃO...............................................................................................................83 7 CONCLUSÕES...........................................................................................................88 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................90 ANEXO A......................................................................................................................99 ANEXO B....................................................................................................................100 ANEXO C....................................................................................................................101 ANEXO D....................................................................................................................102 29 30 1 Introdução 31 1 Introdução O estrabismo é um desalinhamento dos olhos, freqüentemente associado à hiper ou à hipofunção de músculos oculares extrínsecos. Quando surge na infância, pode causar ambliopia e incapacidade visual permanente; quando surge na fase adulta, pode acarretar diplopia. O objetivo do tratamento cirúrgico do estrabismo é equilibrar as forças musculares, de maneira que, na presença de impulsos motores eferentes anormais, o alinhamento binocular normal possa ser alcançado ou mantido. Normalmente, um ou mais músculos oculares extrínsecos são fortalecidos ou enfraquecidos, o que altera o comprimento do músculo (ressecção) ou a inserção do músculo no globo ocular (retrocesso). (1, 2) Embora eficaz na mudança da posição rotacional do globo ocular, a cirurgia compromete a dinâmica muscular normal. O arco de contato com o globo ocular, a elasticidade intrínseca dos músculos envolvidos na cirurgia, a tensão latente no agonista/antagonista e a contração muscular mudam após a cirurgia. Além disso, tal procedimento inevitavelmente provoca cicatrizes que podem alterar a função do músculo ocular extrínseco. Ressecções e retrocessos amplos podem resultar em incomitâncias e, ocasionalmente, em estrabismos secundários. (1) Em 1977, Scott começou a utilizar a toxina botulínica do tipo A para a correção do estrabismo em seres humanos. A toxina foi aprovada para uso clínico na década de 1980 e tem sido utilizada eficazmente para o enfraquecimento de músculos hiperfuncionantes no estrabismo de crianças e adultos, o que mostra que a idéia de um tratamento medicamentoso para o estrabismo é possível. A toxina botulínica gera um enfraquecimento do músculo em que é aplicada, sem alterar sua inserção e sem causar as cicatrizes e/ou fibroses que um procedimento incisional produziria. (3, 4) 32 Outras toxinas e outras substâncias começam a ser estudadas com o objetivo de se aprimorar o tratamento do estrabismo. A crotoxina, principal neurotoxina do veneno da cobra cascavel sul-americana Crotalus durissus terrificus, atua como bloqueador neuromuscular. Ribeiro (2001) avaliou, em coelhos, a ação e a aplicabilidade da crotoxina na indução da paralisia da musculatura extrínseca ocular, comparando seus efeitos com os da toxina botulínica do tipo A. (5) As fibras musculares esqueléticas dos mamíferos adultos não são substituídas nem remodeladas sem que haja algum processo de crescimento ou trauma. Entretanto, tais músculos possuem uma população quiescente de células progenitoras, conhecidas como células satélites. Após um trauma, essas células tornam-se ativas e dividem-se, promovendo, assim a regeneração do músculo lesado. (6) As células satélites foram identificadas e descritas pela primeira vez por Mauro, em 1961, como células intimamente associadas à periferia de fibras musculares de rãs. Tal denominação se deve a sua localização anatômica. (7) Em 2002, McLoon et al. utilizando marcadores específicos, demonstraram a existência de células satélites ativadas na musculatura extrínseca ocular de mamíferos, incluindo coelhos, macacos e humanos. (8, 9) McLoon e Wirtschafter (2003) identificaram, em macacos e humanos adultos, células satélites ativadas em miofibras de músculos extrínsecos oculares que não haviam sofrido qualquer trauma. (9) Ugalde et al. (2005) estudaram o efeito da paralisia induzida pela toxina botulínica nas fibras musculares remodeladas de músculos extrínsecos oculares de coelhos. (10) O aumento de células satélites nos músculos retos de coelhos submetidos à ressecção foi verificado por Christiansen e McLoon, em 2006. (11) Antunes-Foschini et al. (2006) observaram um aumento de células satélites ativadas nos músculos oblíquos inferiores hiperfuncionantes de pacientes com estrabismo, quando 33 comparados com os músculos oblíquos inferiores de pacientes sem história de estrabismo. (12) A compreensão do efeito dos procedimentos cirúrgicos, assim como da utilização de toxinas na ativação de células satélites musculares, é útil para o aperfeiçoamento do tratamento do estrabismo. Este estudo tem o propósito de verificar comparativamente o efeito da aplicação da toxina botulínica do tipo A e da crotoxina sobre as células satélites de músculos retos superiores de coelhos, o que poderá ajudar na investigação da ação dessas toxinas e na melhoria da correção dos estrabismos. 34 2 Revisão da literatura 35 2 Revisão da literatura 2.1 Musculatura ocular externa e células satélites 2.1.1 Anatomia dos músculos oculares extrínsecos 2.1.1.1 Aspectos macroscópicos Os músculos oculares extrínsecos (MOE) exercem uma função importante para a visão, promovendo não só um ajuste estático para o alinhamento binocular, necessário para se obter a fusão e a estereopsia, como também movimentos dinâmicos precisos, importantes para adquirir e manter a visão foveal, independentemente da movimentação da cabeça e do corpo. (2) Os MOE e suas ações a partir da posição primária do olhar estão resumidos no QUADRO 1. (2) Os quatro músculos retos originam-se de um anel tendinoso, o anel de Zinn, que envolve o forame óptico e uma porção da fissura orbital superior, circundando o nervo óptico. (2, 13) Eles inserem-se na esclera, perto do limbo, a distâncias crescentes em relação a este, partindo do reto medial (RM) em direção horária e formando uma espiral imaginária chamada espiral de Tillaux. O músculo oblíquo superior também se origina do anel de Zinn, no ápice da órbita. Entretanto, sua origem funcional é a tróclea, situada na porção súpero-medial, próxima à borda orbitária. Nos humanos, o músculo é tendinoso após passar por esse anel fibrocartilaginoso, e o tendão direciona-se póstero-lateralmente para inserir-se no quadrante 36 temporal súpero-posterior do globo ocular. O músculo oblíquo inferior origina-se da parede medial da órbita e insere-se no quadrante temporal ínfero-posterior do globo ocular. (2, 13) QUADRO 1 Ações dos músculos oculomotores a partir da posição primária do olhar Músculo Ação primária Ação secundária Reto medial Adução --- Reto lateral Abdução --- Reto superior Elevação Adução, inciclodução Reto inferior Depressão Adução, exciclodução Oblíquo superior Inciclodução Depressão, abdução Oblíquo inferior Exciclodução Elevação, abdução O III nervo craniano (nervo oculomotor) inerva os músculos reto medial, reto superior, reto inferior e oblíquo inferior. O IV nervo craniano (nervo troclear) inerva o oblíquo superior. O VI nervo craniano (nervo abducente), inerva o reto lateral. (2, 13) As artérias musculares provêm dos ramos musculares medial e lateral da artéria oftálmica e dirigem-se anteriormente, pelos corpos dos músculos retos. A partir das inserções dos músculos retos, percorrem um curto trajeto pela episclera e, denominando artérias ciliares anteriores, perfuram a esclera e passam a constituir importantes vias de irrigação para o segmento anterior do olho. Cada músculo reto possui duas artérias musculares, exceto o reto lateral, que possui apenas uma. (2) 37 2.1.1.2 Organização celular Embora a musculatura ocular extrínseca difira em vários aspectos da musculatura esquelética típica, algumas características são comuns. (13) O músculo é envolvido por uma membrana de tecido conjuntivo chamada epimísio. Do epimísio, partem septos muito finos de tecido conjuntivo, que se dirigem para o interior do músculo, dividindo-o em fascículos. Esses septos são denominados perimísios. Cada fibra muscular, por sua vez, é envolvida por uma camada muito fina de fibras reticulares, formando o endomísio. (13) A fibra muscular é delimitada por uma membrana, o sarcolema. O seu citoplasma (sarcoplasma) é preenchido principalmente por fibrilas paralelas, as miofibrilas, que correspondem ao tecido contrátil. (FIGURA 1) (13, 14) As miofibrilas possuem estriações que alternam zonas claras (bandas I) e escuras (bandas A). No centro de cada banda I, aparece uma linha transversal escura – a linha Z. A banda A apresenta uma zona mais clara no centro – a banda H, que possui uma linha escura central, chamada banda M. (13, 14) A unidade contrátil da miofibrila chama-se sarcômero e localiza-se entre duas linhas Z sucessivas. Quando estimulado, o sarcômero contrai-se pela aproximação das bandas I e A. (FIGURA 2) (13, 14) 38 FIGURA 1: Desenho esquemático ilustrando a organização do músculo estriado esquelético. À direita, esboço de um músculo do qual foi retirado um segmento, representado na figura maior, à esquerda. Fonte: Junqueira LC, Carneiro J. Histologia básica. 5ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1982. FIGURA 2: Diagrama ilustrando a estrutura e a posição dos filamentos finos e grossos do sarcômero. Fonte: adaptado de Junqueira LC, Carneiro J. Histologia básica. 5ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1982. 39 As miofibrilas do músculo estriado contêm pelo menos quatro proteínas principais: miosina, actina, tropomiosina e troponina. Os filamentos grossos são formados de miosina, e as outras três proteínas são encontradas nos filamentos finos. (14) A miosina e a actina, juntas, representam 55% do total de proteínas do músculo estriado. (14) A força contrátil de um músculo é gerada pela interação da miosina e da actina. As bandas I (regiões claras) são compostas de filamentos finos (actina); as bandas A (escuras) são compostas de filamentos espessos (miosina) e de filamentos finos (actina) interpostos. A banda H apresenta apenas filamentos espessos. (13, 14) A contração muscular é estimulada por impulsos nervosos que levam à liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático, gerando mudanças nas interações entre as pontes de ligação formadas entre a porção globular da molécula de miosina e a molécula de actina. Isso resulta no deslizamento dos filamentos finos sobre os espessos. A banda A permanece com o mesmo tamanho, e as bandas I e Z diminuem de tamanho quando ocorre contração. (14) 2.1.1.3 Tipos de fibra da musculatura extrínseca ocular As miofibras da musculatura ocular externa são derivadas do mesoderma, enquanto o tecido conectivo adjacente e a musculatura lisa da órbita são derivados da crista neural. (2, 15, 16) A miogênese dos músculos estriados oculares ocorre em duas fases: primária e secundária. (2, 15) Cedo, na primeira etapa da miogênese, na 11ª semana de gestação, os tecidos conectivos perimusculares, assim como a tróclea e as polias dos músculos retos, iniciam as 40 associações com as condensações de mioblastos que irão formar os MOE. Os tecidos conectivos perioculares desenvolvem-se posteriormente, por volta da segunda etapa da miogênese. O desenvolvimento dos MOE induz a inervação pelos nervos cranianos correspondentes. (2) A musculatura ocular externa é classicamente dividida em duas camadas distintas. (FIGURA 3) A camada orbital periférica estende-se ao longo da superfície muscular, faceando a parede da órbita. Essa camada circunda outra, a camada global, próxima ao globo ocular. (13, 16, 17, 18, 19) Uma zona intermediária entre as camadas orbital e global tem sido descrita. (2) FIGURA 3: Estrutura dos tecidos conectivos orbitários e suas relações com as camadas de fibras musculares. IO: oblíquo inferior; IR: reto inferior; LPS: elevador da pálpebra superior; LR: reto lateral; MR: reto medial; SO: oblíquo superior; SR: reto superior. Fonte: Demer JL, Oh SY, Poukens V. Evidence for active control of rectus extraocular muscle pulleys. Invest Ophthalmol Vis Sci 2000; 41 (6): 1280-90. 41 A camada orbital contém fibras de diâmetro menor, com numerosas mitocôndrias e abundantes vasos. A camada global contém fibras de diâmetro maior, com variável conteúdo mitocondrial e poucos vasos. (16) A camada global existe por toda a extensão de cada músculo reto, desde a origem, no ápice da órbita, até a continuidade com o tendão, que se insere no globo. (2) A porção média do músculo (correspondente à região entre a terminação anterior das miofibras no tendão e sua origem posterior no ápice da órbita) contém de 8 280 a 16 374 fibras, com variação discreta entre os quatro músculos retos. (17) Na porção média da camada orbital, o número de fibras varia amplamente de acordo com o músculo reto considerado, sendo maior no músculo reto medial (de 7 845 a 14 991 fibras) e menor no músculo reto superior (de 5 119 a 9 367 fibras). (2, 17) As fibras da camada orbital não são contíguas com as inserções esclerais, pois se inserem nas polias dos respectivos músculos. (19) Estudos anatômicos recentes confirmaram que cada músculo reto passa através de uma polia, que consiste em um anel (ou uma bainha) de colágeno, localizado próximo ao equador do globo ocular, na fáscia de Tenon. (18) No mínimo seis tipos diferentes de fibras musculares foram identificados nos músculos oculares. Esses tipos podem ser divididos em duas categorias principais: fibras musculares de contração lenta e fibras musculares de contração rápida. (20) Pela classificação de Siebeck e Krüger (1955), as fibras de contração lenta são aquelas com inervação múltipla (multiply innervated muscle fibers - MIFs) e são chamadas de “Felderstruktur”; as fibras de contração rápida são inervadas por terminações nervosas simples (singly innervated muscle fibers - SIFs) e denominadas de “Fibrillenstruktur”. (13, 20, 21) As fibras de contração rápida (SIFs) são o tipo de fibra muscular que constitui todos os músculos esqueléticos. Elas não respondem ao estímulo elétrico, tampouco 42 apresentam contração total, que se propaga ao longo de toda fibra. São inervadas por nervos relativamente grandes (de 7 a 11 μm), que terminam como uma grande placa motora no terço central do músculo. (20) As fibras de contração lenta (MIFs) são incomuns em mamíferos, ocorrendo apenas em músculos oculares, na laringe e em músculos do ouvido médio. Entretanto, são comuns em músculos de anfíbios. Elas são resistentes à fadiga e respondem ao estímulo elétrico com uma contração tônica lenta que se propaga ao longo da fibra muscular. São inervadas por fibra nervosa mielinizada, usualmente de calibre fino (de 3 a 5 μm). As placas motoras são tipicamente pequenas e estão distribuídas ao longo de toda a fibra, mas têm uma concentração maior na metade distal do músculo. (13, 20) A camada orbital dos MOE contém dois tipos de fibras musculares. Aproximadamente 80% das fibras são de contração rápida e 20% são de contração lenta. (2, 13) A camada global possui um tipo de fibra de contração lenta e três tipos de fibra de contração rápida. (2) 2.1.2 Células satélites Em 1961, Mauro identificou e descreveu pela primeira vez células intimamente relacionadas com a fibra muscular esquelética de rãs. Denominou-as de células satélites (CS) devido à localização anatômica – periferia da fibra muscular. (FIGURA 4) (7) Os músculos esqueléticos de mamíferos adultos apresentam uma notável capacidade de adaptação a exigências como crescimento, remodelação e trauma. Os processos pelos quais essas adaptações ocorrem são largamente atribuídos à pequena população de células que se localiza nos músculos esqueléticos adultos, as CS. (6) 43 CS quiescentes distinguem-se fisicamente das fibras musculares adultas por localizarem-se nas identações entre o sarcolema e a lâmina basal. Fibras musculares esqueléticas são terminalmente diferenciadas, de modo que o crescimento muscular e a regeneração são realizados pelas CS. (6, 22) FIGURA 4: Desenho esquemático de uma célula satélite quiescente envolta pela lâmina basal e pelo sarcolema da miofibra justaposta. Fonte: adaptado de Vierk J, O’Reilly B, Hossner K, Antonio J, Byrne K, Bucci L, et al. Satellite cell regulation following myotrauma caused by resistance exercise. Cell Biol Int 2000; 24: 263-72. Enquanto o tecido muscular esquelético encontra-se livre de agressões, as CS permanecem em um estado não proliferativo, quiescente. Entretanto, em resposta a estímulos como trauma, as CS tornam-se ativas, proliferam-se e expressam marcadores miogênicos, sendo então denominadas mioblastos. Essas células fundem-se a fibras musculares pré-existentes ou a CS vizinhas para formar novas fibras musculares. (6, 22, 23) 44 2.1.2.1 Identificação das células satélites musculares Tais células constituem uma população de células miogênicas mononucleadas e indiferenciadas. São encontradas nos músculos esqueléticos de mamíferos, aves, répteis e anfíbios. (24) Uma característica importante das CS é que a lâmina basal que as circunda e a fibra muscular associada são contínuas. Outras características das CS são: alta relação núcleo/citoplasma com poucas organelas; núcleo menor em comparação com os núcleos adjacentes da fibra muscular; e aumento na quantidade de heterocromatina nuclear, comparada à do mionúcleo. (6, 22, 23, 24) Essas características morfológicas são compatíveis com a idéia de que, em condições normais, as CS são relativamente quiescentes e menos ativas, mas desaparecem após a ativação ou a proliferação das CS em resposta ao crescimento, à remodelação ou ao trauma muscular. (6, 22, 23, 24) Após a ativação, as CS são mais facilmente identificadas, pois aparecem como um edema na fibra muscular devido ao aumento na relação citoplasma/núcleo. Em associação com o aumento da atividade mitótica, existe uma redução na heterocromatina e um aumento no número de organelas intranucleares. (6, 23, 24) 2.1.2.2 Marcadores para células satélites O método mais fidedigno para identificar as CS é a microscopia eletrônica. Porém esse método não é muito acessível. (25) Conseqüentemente, grande interesse foi dado a bons anticorpos para a identificação de proteínas específicas nas CS quiescentes e ativadas in vivo pela luz do microscópio. (6, 25, 26) 45 O perfil de expressão gênica das CS quiescentes ou ativadas ainda é pouco conhecido. (6, 27) Através da identificação de marcadores de CS, pesquisadores estarão aptos a lidar com a origem das CS, com o controle do ciclo celular e com a regulação molecular dessa população única de células durante o crescimento e a regeneração. (6) Diversos marcadores de CS foram identificados, mas são restritos para os estados quiescente, ativado ou proliferativo. (6, 23, 24, 27) Alguns marcadores já bem estabelecidos são: a) Myo D (Myogenic determination gene D) É um fator de transcrição descoberto em 1987, pertencente à família de proteínas basic helix-loop-helix, à qual também pertencem outras proteínas, como o Myf 5, a miogenina e o MRF 4. Tais proteínas controlam a diferenciação de células da linhagem miogênica. (23) CS Myo D negativas apresentam capacidade de diferenciação reduzida e retardada. (28) O Myo D é um excelente marcador para CS ativadas. (28) É encontrado em elevados níveis no músculo em regeneração e em recém-nascidos. Sua função na musculatura esquelética após o nascimento de mamíferos ainda não é clara. Doze horas após o trauma muscular, pode-se detectar a presença de Myo D e de outras proteínas relacionadas à diferenciação de células da linhagem miogênica, como desmina e miogenina. Em relação às fases do ciclo celular, o Myo D apresenta-se em altos níveis durante a fase G1 da interfase, quando tem início a diferenciação celular. Cai para níveis 46 baixos na transição G1/S e aumenta novamente no transcorrer da fase S para a mitose propriamente dita. (23, 27, 29) b) PCNA (Proliferating cell nuclear antigen) É uma proteína cuja síntese ocorre no início das fases G1 e S do ciclo celular. Mesmo sendo inespecífica, é um excelente marcador para CS em proliferação. (23) 2.1.2.3 Distribuição e quantificação das células satélites A quantificação da população de CS na musculatura esquelética de adultos tornou-se possível graças à utilização de técnicas ultraestruturais. Recentemente, técnicas imunoistoquímicas foram utilizadas para identificação de CS. (6) A expressão de Myo D ocorre precocemente durante a ativação de CS (aproximadamente seis horas após o trauma muscular). (6) Vários marcadores não seletivos para proliferação celular têm sido utilizados também para caracterizar a proliferação de CS. Esses marcadores incluem antígeno nuclear de células proliferativas, bromodeoxiuridina (Bdr U) e [³H] timidina. (6) O número de CS depende da espécie animal, da idade e do tipo de fibra muscular. (6, 23, 24, 31, 32, 33, 34, 35) Em ratos, as CS constituem aproximadamente 30% dos núcleos no músculo de neonatos. Decrescem para cerca de 4% nos adultos e para 2% nos idosos. (6, 23, 24, 31, 32, 35) A diminuição da porcentagem de CS com a idade é resultado de um aumento de mionúcleos. (6, 23, 24, 31) 47 A distribuição de CS entre os grupos de músculos é resultado da heterogeneidade no conteúdo de CS nos diferentes tipos de fibras musculares. Há um aumento no número de CS nas proximidades de capilares, nos mionúcleos e nas junções mioneurais. (6, 23, 33) 2.1.2.4 Fatores de crescimento como reguladores das células satélites O processo de regeneração muscular requer a influência de fatores de crescimento e uma seqüência de eventos celulares que resulta na regulação da população de CS. (6, 24) Muitos dos estudos que analisaram o efeito dos fatores de crescimento na biologia das CS têm utilizado cultura de CS. Esses estudos têm definido o efeito de fatores de crescimento isolados ou combinados e têm proporcionado um discernimento preciso sobre a regulação de CS. (6) Os estudos in vitro são limitados devido à carência de fatores permissivos ou repressivos que estão presentes in vivo e que podem influenciar a atividade celular. (6, 23) A maioria das culturas de CS é feita na musculatura esquelética neonatal devido à abundância delas nesses tecidos em comparação com indivíduos mais idosos. (6) Fatores de crescimento que são importantes na regulação da proliferação, diferenciação e motilidade das CS: 48 a) Fatores de crescimento semelhantes à insulina Músculos esqueléticos secretam fatores de crescimento semelhantes à insulina (IGF – insulin-like growth factor) I e II (IGF-I e IGF-II). Tais fatores são importantes na regulação do metabolismo da insulina. Também são importantes na regulação da regeneração da musculatura esquelética. Tanto o IGF-I quanto o IGF-II aumentam a proliferação e a diferenciação de CS in vitro. (6) b) Fator de crescimento do hepatócito O fator de crescimento do hepatócito (HGF – hepatocyte growth factor) é uma citoquina multifuncional, inicialmente descrita como um mitógeno para hepatócitos maduros. (6) Atualmente, o HGF é considerado um dos fatores de crescimento mais importantes no que diz respeito à regeneração orgânica devido às suas propriedades mitogênica e motogênica. (24) O HGF é a chave reguladora da atividade das CS durante a regeneração muscular. (24) O HGF e seu receptor c-Met têm sido localizados nas CS e miofibras adjacentes, mas estão ausentes nos fibroblastos adjacentes. (6) A expressão do HGF é proporcional ao grau de lesão muscular. (2) O estiramento mecânico induz a ativação das CS em cultura, com liberação de HGF. Assim, o HGF pode estar envolvido na ativação das CS após uma perturbação mecânica. (36) 49 c) Fatores de crescimento de fibroblastos O fator de crescimento de fibroblastos (FGF – fibroblast growth factor) tem nove isoformas diferentes (FGF-1 a FGF-9). A isoforma FGF-6 é restrita para músculos esqueléticos. (37) Os FGFs estimulam a síntese de tecido conjuntivo, induzem a proliferação de CS e suprimem a diferenciação miogênica. (23) Os níveis dos FGFs são proporcionais ao grau de expressão dos seus receptores. Quando ocorre um aumento na expressão dos receptores para o FGF, há aumento na proliferação e redução na diferenciação de CS. (23) d) Fatores de crescimento de transformação Fatores de crescimento de transformação (TGF-β - transforming growth factors) são importantes citoquinas que regulam o crescimento celular. (6, 24) Geralmente, a função dos membros da família dos TGF-β é a inibição da proliferação e da diferenciação musculares através da inibição da transcrição de genes da família Myo D. (6) e) Citoquinas interleucina-6 O fator inibidor de leucemia (LIF – leukemia inhibitory factor) e a interleucina-6 (IL-6) são membros da família de citoquinas IL-6 produzidas por diferentes células, incluindo mioblastos e macrófagos. (6) 50 A regeneração de músculo esquelético é atenuada após lesão no LIF de camundongo mutante. A administração exógena de LIF aumenta o processo de regeneração e produz aumento de miofibras. (6, 24, 38) A IL-6 promove a degradação de tecido necrótico, sincroniza o ciclo de CS e induz a apoptose de macrófagos após trauma muscular. (6, 30) Diferente do LIF, a expressão de IL-6 em músculo lesado não aumenta a proliferação de CS. Coletivamente, essa família de fatores de crescimento parece ter a função integral na regeneração da musculatura esquelética. (6) Muitos outros fatores podem estar envolvidos na regulação de CS de músculo esquelético adulto, como, por exemplo, óxido nítrico e testosterona. (6) 2.1.2.5 Respostas funcionais das células satélites a estímulos fisiológicos 2.1.2.5.1 Estímulo hipertrófico Exercícios de resistência e de carga induzem à hipertrofia muscular, tanto em humanos como em modelos animais. (6) A hipertrofia muscular ocorre através de um processo de ativação, proliferação e quimiotaxia de CS, além da fusão dessas células a miofibras já existentes, para contribuir com o crescimento muscular. (39) A capacidade migratória (quimiotaxia) das CS depende da integridade da lâmina basal. Após a ruptura ou interrupção na lâmina basal ocasionada por miotrauma, CS podem migrar para as miofibras adjacentes, utilizando pontes de tecidos. (40) Em resposta a miotrauma em que não ocorra ruptura da lâmina basal, CS migram da porção proximal intacta da miofibra, por baixo da lâmina basal, para o local do trauma, com a finalidade de participar do processo de reparo. (39, 41) 51 Miotrauma induzido por exercícios provoca uma resposta imunológica, resultando no fluxo de macrófagos para a região lesada. Após a fase aguda, a infiltração de macrófagos chega ao máximo em quarenta e oito horas. Inicialmente, acreditava-se que a função desses macrófagos era limitada à fagocitose e à digestão de fibras musculares necrosadas. Entretanto, novas funções dos macrófagos, durante o estágio inicial do reparo muscular, foram descritas. Os macrófagos são essenciais na orquestração do processo de reparo muscular, pois secretam uma coleção de fatores citoquímicos que regulam o número de CS. (41, 42, 43) Não há regeneração muscular na ausência de uma resposta dos macrófagos, mas, na presença dessa resposta, ocorre aumento na proliferação e na diferenciação de CS. (44) Na resposta a exercícios de resistência, o miotrauma resulta na liberação de fatores de crescimento que irão, em parte, regular a população de CS durante a regeneração. (42) Embora ainda existam dúvidas sobre a função das CS na remodelação muscular, a conseqüência fisiológica primária da resposta hipertrófica é produzir um músculo com capacidade para gerar força máxima. (6) 2.1.2.5.2 Estímulo atrófico A atrofia de um músculo esquelético resulta na redução do número de núcleos da miofibra e pode ser induzida por diversos fatores, como denervação, imobilização e nutrição deficiente. (45) Em experiências com ratos pré-púberes, a imobilização de um músculo levou à diminuição do número e da capacidade proliferativa de CS, o que alterou irreversivelmente a remodelação muscular. Isso não ocorreu em animais adultos, nos quais as CS proliferaram e repovoaram o músculo atrófico. (46) 52 Após a denervação, há um aumento de CS na fase aguda; posteriormente, na fase crônica, ocorre um decréscimo dessas células. (47) 2.1.2.5.3 Envelhecimento O aumento da idade está associado à diminuição da capacidade de proliferação e de diferenciação das CS. (6, 23, 48) 2.1.2.6 Respostas funcionais a estados de doença A maioria das miopatias apresenta uma mutação molecular que afeta as proteínas musculares, acarretando alterações estruturais no músculo esquelético. (6, 23) A distrofia muscular de Duchenne é a mais comum e a mais devastadora das distrofias musculares. (6, 23, 49) A progressão da doença e a morte ocorrem porque as CS falham em manter a regeneração muscular. (6) É uma doença recessiva ligada ao cromossoma X, que resulta em mutação em um gene relacionado a uma proteína do citoesqueleto da fibra muscular. A ausência dessa proteína no citoesqueleto torna a fibra muscular extremamente frágil. O estresse mecânico associado a contrações repetidas leva a uma degeneração difusa. As CS respondem a essa lesão repovoando o músculo esquelético com miofibras defeituosas, com falta de distrofina. Tal processo resulta em ciclos contínuos de degeneração-regeneração, culminando com a exaustão das CS. (6, 23, 50, 51) Renault et al. demonstraram que a sobrevida das CS provenientes de um paciente de nove anos com distrofia muscular de Duchenne era de aproximadamente um terço da sobrevida das CS de um indivíduo sadio com a mesma idade. (48) 53 2.1.2.7 Modelos de regeneração muscular Uma estratégia para o estudo da ativação, da proliferação e da regeneração de CS é produzir experimentalmente uma lesão muscular controlada. Estratégias incluindo compressão, congelamento e lesão química induzida foram utilizadas com sucesso para o estudo biológico das CS. (6, 38) Um dos modelos mais estudados consiste na injeção da cardiotoxina (purificada do veneno da cobra Naja nigricollis) no músculo gastrocnêmico, levando a uma degeneração de cerca de 80% a 90% das fibras musculares. Seis horas após a lesão, as CS tornam-se ativas e proliferam durante dois a três dias. A arquitetura do músculo lesado regenera-se após dez dias. (6, 23) 2.1.3 Particularidades da musculatura ocular extrínseca A presença de um grande número de isoformas da cadeia pesada da miosina (uma das proteínas responsáveis pela contração muscular) representa uma das características que tornam a musculatura ocular extrínseca distinta dos outros músculos esqueléticos. As isoformas rápida e lenta, a específica para a musculatura cardíaca e as isoformas encontradas no período de desenvolvimento e no período neonatal estão presentes na musculatura ocular extrínseca. Existe também uma co-expressão de mais de um tipo de isoforma em uma mesma fibra. (52, 53, 54) Outra característica das fibras musculares da musculatura ocular extrínseca é a expressão da forma imatura do receptor da acetilcolina e da N-CAM (neural cell adhesion molecule). Essa é uma molécula de adesão celular envolvida entre células que se expressam 54 em fibras musculares em desenvolvimento ou em regeneração; ela é ausente em fibras musculares esqueléticas adultas. (55, 56) Fibras musculares esqueléticas normais de mamíferos adultos não são substituídas nem remodeladas, a menos que sofram algum trauma. Após o trauma, as CS tornam-se ativas e dividem-se, resultando na regeneração do músculo lesado. Os músculos em regeneração expressam um número de fatores de crescimento miogênico e isoformas de cadeia pesada de miosina imatura que permanecem metabolicamente ativas na musculatura ocular extrínseca adulta lesada. (9,57) McLoon e Wirtschafter demonstraram, em 2002, que existe uma adição contínua de mionúcleos a miofibras normais, não lesadas, na musculatura ocular extrínseca de coelhos e ratos adultos. (8, 57) Em 2003, os mesmos autores descreveram a presença de CS ativadas nos MOE de macacos e humanos adultos normais. (9) Novos estudos sobre o papel das CS na musculatura ocular extrínseca são necessários para aumentar os conhecimentos e a capacidade de tratar desordens musculares como, por exemplo, a distrofia muscular de Duchenne. (58) 55 2.2 Revisão da toxina botulínica do tipo A 2.2.1 Introdução O fisiologista Claude Bernard, em 1875, escreveu que “venenos podem ser empregados com o objetivo de destruir a vida ou como agentes terapêuticos na doença”. Diversas substâncias tóxicas de origem animal e vegetal foram usadas na prática médica durante sua época. Atualmente, uma grande variedade de substâncias venenosas de plantas, animais e microrganismos é utilizada em estudos de fisiologia animal, e algumas já são aplicadas medicinalmente em humanos. (59, 60) A primeira descrição dos sintomas do botulismo foi publicada entre os anos de 1817 e 1822, pelo médico e poeta alemão Justinus Kerner (1786-1862). Kerner descreveu clinicamente o botulismo: os sintomas, a duração dos sintomas e os achados clínicos (o desaparecimento da secreção lacrimal, as pupilas dilatadas, a paralisia dos músculos oculares extrínsecos, a supressão da secreção salivar, o ressecamento da pele, a paralisia dos músculos esqueléticos e a preservação da cognição). Finalmente, Kerner sugeriu o uso terapêutico da toxina causadora do botulismo para bloquear movimentos anormais, como na coréia, e o uso em desordens como hipersecreção. (61, 62, 63) Em 1895, a bactéria Bacilinum (posteriormente denominada Clostridium botulinum) foi identificada por E. P. van Ermengem, professor de bacteriologia da Universidade de Gante, na Bélgica. Na década de 1920, a toxina botulínica do tipo A foi isolada na forma purificada pelo Dr. H. Sommer, da Universidade da Califórnia, São Francisco. Em 1946, a toxina foi isolada na forma cristalina por Edward J. Schantz, ph.D. da Universidade de Wisconsin-Madison. Na década de 1950, o Dr. Vernon Brooks provou que a toxina botulínica bloqueia a liberação de acetilcolina nas extremidades nervosas motoras, 56 provocando um relaxamento dos músculos. Na década de 1960-1970, o processo de purificação da toxina botulínica do tipo A foi aprimorado. (64) A idéia de injetar um agente farmacológico nos músculos extrínsecos oculares para produzir uma paralisia temporária foi de Conrad Behrens. Ele injetou álcool, método que se demonstrou ineficaz. Em 1973, Alan Scott e colaboradores experimentaram várias drogas como o di-isopropil-fluor-fosfato (DFP), a neurotoxina bungaro (toxina do veneno da cobra Bungarus multicinactus), o álcool e a toxina botulínica tipo A – na tentativa de paralisar os músculos extrínsecos oculares de macacos Rhesus. (3, 4, 65, 66) A intoxicação alimentar, ou seja, o botulismo, provoca sintomas oculares como visão embaçada e diplopia, pois paralisa os músculos oculares intrínsecos e extrínsecos. Daí a idéia de se utilizar a toxina botulínica para provocar o enfraquecimento transitório de músculos oculares e mudanças permanentes no alinhamento ocular, sem efeitos colaterais severos. (3) Scott iniciou a utilização da toxina botulínica do tipo A em seres humanos em 1977. Seus relatos preliminares haviam demonstrado que a toxina poderia ser utilizada como alternativa à cirurgia tradicional de estrabismo. (3, 66) Posteriormente, a toxina botulínica foi considerada eficaz para o tratamento de outras patologias, como blefaroespasmo, espasmo hemifacial, mioquimias, entrópio da pálpebra inferior, oftalmopatia de Graves, nistagmo, úlcera corneana e regeneração aberrante do sétimo nervo. (65) Em 1982, a toxina passou a ser utilizada, ainda experimentalmente, por vários pesquisadores nos Estados Unidos e em outros países, sob a orientação de Scott. Foram tratados 5 725 pacientes com estrabismo, 9 983 pacientes com blefaroespasmo e 3 571 pacientes com espasmo hemifacial. (65) 57 Em 29 de dezembro de 1989, o FDA (Food and Drug Administration) liberou a toxina botulínica para o tratamento do estrabismo, do espasmo hemifacial e do blefaroespasmo, em pacientes acima de 12 anos de idade. (60, 65) 2.2.2 Farmacologia As toxinas do Clostridium botulinum (bactéria anaeróbica, Gram positivo) são potentes neurotoxinas. São classificadas em oito sorotipos (A, B, C1, C2, D, E, F e G), baseados nas propriedades imunológicas. Os tipos A, B e E são comumente associados à intoxicação humana. O tipo A foi o primeiro a ser obtido na forma cristalizada, altamente purificada e estável. (3, 60, 65, 66, 67) A forma cristalizada do tipo A é uma proteína de alto peso molecular (cerca de 900 kDa [quilodaltons]) e consiste em duas subunidades que se dissociam em solução. Cada subunidade (450 kDa) consiste de três cadeias peptídicas de peso molecular semelhante (150 kDa). Uma das cadeias é tóxica, enquanto as outras duas não têm toxidade. A cadeia peptídica tóxica consiste de uma unidade pesada (100 kDa) e de uma leve (50 kDa). (65, 66, 67) 2.2.3 Mecanismo de ação A ação da toxina botulínica do tipo A ocorre na terminação nervosa e é processada em três etapas: acoplamento, internalização e paralisia. A toxina, quando injetada, é rápida e firmemente acoplada aos receptores das fibras colinérgicas. O acoplamento ocorre através da porção pesada da cadeia peptídica tóxica. A penetração da toxina através da membrana até o compartimento intracelular é realizada pelas vesículas sinápticas. A paralisia muscular é 58 causada pela inibição da liberação da acetilcolina. A toxina ocupa os sítios que seriam ocupados pelo cálcio e, desse modo, previne a exocitose da acetilcolina, que é cálciodependente. (65, 68, 69) O efeito parético da toxina botulínica é dose-dependente, e o efeito máximo ocorre de cinco a sete dias após a injeção. (70) Histopatologicamente, o músculo denervado mostra atrofia muscular e um grau leve de mudanças desmielinizantes na terminação nervosa, com subseqüente regeneração. O tempo é de seis a nove meses para que se recupere totalmente dos efeitos da toxina. (3, 70, 71) Os experimentos de Scott com macacos Reshus indicaram que: 1- a toxina botulínica produziu um enfraquecimento transitório dos músculos oculares extrínsecos e mudanças permanentes no alinhamento ocular, sem efeitos colaterais severos; 2- o início e a duração da denervação foram dose-dependentes; 3- o efeito da toxina foi reduzido pela injeção de antitoxina no músculo tratado (se a injeção fosse aplicada de 0 minuto a 30 minutos após a primeira injeção); 4- injeções repetidas de toxina não foram reconhecidas pelo sistema imune; 5- os efeitos tóxicos locais foram evitados por imunização prévia com toxóide. (3, 70) 2.2.4 Preparações comerciais A toxina botulínica do tipo A é comercializada com o nome de Botox® 100 U (Allergan Herbert, Irvine, Califórnia), Dysport® 500 U (Speywood Group Beautour-Ipsen) e Prosigne® 100 U (Cristália). (69) 59 Recentemente, a toxina botulínica do tipo B tornou-se disponível nos Estados Unidos, com o nome de Myobloc™ (Elan Pharmaceuticals, South San Francisco, Califórnia), e na Europa, com o nome de Neurobloc™. (72) 2.2.5 Imunologia da toxina botulínica Como a toxina botulínica é uma proteína de origem não humana, ela pode estimular a formação de anticorpos. Uma vez que anticorpos neutralizadores estejam presentes, a eficácia da toxina será perdida. Entre os fatores que aumentam o risco de formação de anticorpos estão altas doses e curtos intervalos entre os tratamentos. Recomendações para minimizar a imunorresistência incluem a utilização de doses efetivas, porém baixas, e em intervalos maiores. Quando a resistência a um sorotipo da toxina botulínica desenvolve-se, a troca por outro sorotipo pode restaurar a resposta terapêutica. (5, 71, 73) 2.2.6 Efeitos colaterais As injeções de toxina botulínica são geralmente bem toleradas. Após a aplicação, a toxina se difunde dentro do músculo e de outros tecidos. O efeito é menor em áreas distantes do local da injeção. Quando a toxina é aplicada em altos volumes, ela se espalha pelos músculos adjacentes. (5) Foram relatados casos de erupção difusa na pele e de edema no local da aplicação durante alguns dias após a injeção. (65) A ptose palpebral temporária é a complicação mais freqüente quando a toxina é aplicada na região ocular. (65, 66) 60 Quando a toxina é injetada nos músculos do pescoço, pode ocorrer disfagia. (5, 74) O eletromiógrafo ajuda a localizar acuradamente os músculos. (74) 2.2.7 Indicações A toxina botulínica tornou-se um importante agente terapêutico, com ampla aplicação em várias patologias. O primeiro uso terapêutico da toxina botulínica purificada e altamente diluída foi no tratamento de estrabismo, na década de 1970. (4) Nos últimos anos, a toxina botulínica tem demonstrado ser útil no tratamento de espasmos, movimentos involuntários, posturas anormais e dores associadas a várias desordens. A terapia com toxina botulínica tornou possível o controle de algumas condições neurológicas que antes exigiam tratamento sistêmico, bem como tem evitado as conseqüências dos espasmos musculares e dos movimentos involuntários de longa duração. (74) Injeções de toxina botulínica são agora consideradas o tratamento de escolha para a maioria dos pacientes com distonia focal ou segmentar. A distonia é uma desordem neurológica caracterizada por contrações repetitivas e padronizadas dos músculos, o que produz movimentos e posturas anormais. (71) A toxina botulínica também é o tratamento de escolha para o blefaroespasmo primário (fechamento involuntário dos olhos). As aplicações são feitas no músculo orbicular das pálpebras superior e inferior. (75, 76) A distonia oromandibular é manifestada pelo fechamento involuntário da mandíbula, pelo bruxismo, pela abertura da mandíbula ou pelo desvio desta. A injeção da 61 toxina botulínica no músculo masseter, no temporal e no pterigóide interno dos pacientes com distúrbio de fechamento da mandíbula, bem como no digástrico e pterigóide externo dos pacientes com distúrbio de abertura da mandíbula, melhora acentuadamente os sintomas da síndrome da articulação têmporo-mandibular e de outros problemas orais e dentais. (5, 71) O espasmo hemifacial é outra desordem para a qual se indica o tratamento com a toxina botulínica. Ao contrário do blefaroespasmo, o espasmo hemifacial é unilateral e usualmente causado por compressão ou irritação do nervo facial devido a uma artéria aberrante ou a vascularização anormal. (71, 77) Outras indicações: a) distonia cervical; (71) b) distonia laringeal; (5, 71, 74) c) câimbras (distonias ocupacionais); (5, 71, 78) d) doença de Parkinson; (71) e) tremores; (79) f) desordens no tônus muscular, incluindo espasticidade associada à paralisia cerebral, acidente vascular cerebral, traumatismo cranioencefálico e esclerose múltipla; (80,81) g) fissura anal; (82) h) cefaléia por contração muscular e enxaquecas; (83) i) hiper-hidrose palmar; (84) j) desordens geniturinárias; (85) l) rugas ou linhas de expressão. (86) 62 2.3 Revisão da crotoxina 2.3.1 Introdução Em 1938, Slotta e Fraenkel-Conrat isolaram a crotoxina (Crtx) do veneno da cobra Crotalus durissus terrificus (a cascavel sul-americana), tendo sido essa a primeira toxina de veneno de cobra a ser obtida na forma cristalizada. (87, 88) A Crtx pertence à classe das β-neurotoxinas, que bloqueiam a neurotransmissão nas junções neuromusculares, primariamente, em nível pré-sináptico, impedindo a liberação da acetilcolina. Todas β-neurotoxinas são fosfolipases A2. (89) A Crtx é composta por duas subunidades distintas: a subunidade B - a crotactina de peso molecular de aproximadamente 14,5 kDa, enzima fosfolipásica A2 básica, com fraca toxicidade - e a subunidade A - chamada de crotapotina, com peso molecular de aproximadamente 9,5 kDa, ácida, não tóxica, não enzimática e constituída de três cadeias polipeptídicas (α, β e γ). (90, 91, 92, 93) As duas subunidades da Crtx atuam de maneira sinérgica. A subunidade B sozinha pode ser fracamente tóxica e bloquear a transmissão neuromuscular, embora altas doses sejam necessárias para provocar o mesmo efeito. A ligação da subunidade B às membranas sinápticas não é específica. A subunidade A se comporta como potencializador da ação da subunidade B, pois reduz a ligação não específica. (92, 94, 95) Após interagir com a membrana sináptica, o complexo Crtx se desassocia: a subunidade B se liga à membrana, enquanto a subunidade A é liberada. (92, 94, 95) 63 2.3.2 Estrutura Em 1985, Achari et al. obtiveram cristais da Crtx, e Mascarenhas et al. (1992) construíram um modelo computacional da estrutura da toxina. (FIGURA 5) (96, 97) FIGURA 5: Modelo computacional da estrutura da crotoxina. Np, Cp: extremidades de amino e carboxi terminal da subunidade básica. Na ,Ca, Nb, Cb, Nc, Cc : extremidades amino e carboxi terminal das cadeias α, β, γ da subunidade ácida. Fonte: Mascarenhas YP, Stouten PFW, Beltran JR, Laure CJ, Vriend G. Structure-function relationship for the highly toxic crotoxin from Crotalus durissus terrificus. Eur Biophys J 1992; 21: 199-205. 2.3.3 Mecanismo de ação Foi demonstrado, em estudos eletrofisiológicos, que a Crtx produz um bloqueio neuromuscular em três fases. Na fase inicial, há uma redução na amplitude dos potenciais provocada pela inibição transitória da liberação do neurotransmissor, relacionada provavelmente à ligação da toxina ao sítio receptor. (5, 97) 64 Na fase seguinte, ocorre um aumento na amplitude dos potenciais, durante 20 a 30 minutos, em conseqüência de uma estimulação na liberação do neurotransmissor. (98, 99) A última fase mostra um progressivo decréscimo na amplitude dos potenciais, até o seu completo desaparecimento. Essa última fase leva a um bloqueio completo na transmissão neuromuscular. (98, 99) Em 1983, Muniz e Diniz observaram uma redução na contração da musculatura lisa dos fragmentos de músculo longitudinal do plexo mioentérico de íleo de cobaia; tal redução foi ocasionada pela ação da Crtx. Adicionando-se acetilcolina, a contração permaneceu inalterada. Portanto, a redução na contração parece ser de natureza pré-sináptica. (100, 101) A hipótese de que o bloqueio fosse pré-sináptico foi confirmada, uma vez que a liberação de acetilcolina foi significativamente deprimida pela Crtx. (101) A Crtx também afeta a cinética do potencial de ação demonstrado em estudos realizados em músculos esqueléticos de rãs. (97) A Crtx aumenta a duração do potencial de ação e diminui a velocidade de despolarização e repolarização. Provavelmente, interfere nos canais de sódio e, assim, retarda a repolarização. (5) O potencial de repouso não é afetado, o que se acredita que a inativação dos canais de sódio e a ativação dos canais de potássio ocorram. Essas alterações nos potenciais de ação devido à atuação nos canais iônicos não dependem da atividade fosfolipásica da crotoxina e são inibidas ao substituir-se cálcio por estrôncio. (102, 103) A Crtx também inibe a captação por sinaptossomas de noradrenalina, dopamina e serotonina. Observou-se que a Crtx pode inibir a captação de colina, dependendo do tempo e da atividade fosfolipásica. (104, 105, 106) 65 A Crtx pode causar miotoxicidade, necrose degenerativa do músculo esquelético, hemólise, neurotoxicidade e insuficiência renal aguda com necrose tubular. Através da microscopia eletrônica, observou-se que a Crtx lesa as estruturas pré-sinápticas antes de lesar o músculo. As primeiras estruturas afetadas, quando administradas doses letais de Crtx em cobaias, foram as mitocôndrias e depois as vesículas sinápticas. Apenas posteriormente é que surgiram os sinais de intoxicação sistêmica. (107, 108, 109, 110, 111) 2.3.4 Imunologia da crotoxina Uma proteína denominada crotoxin inhibitor from Crotalus serum (CICS) neutraliza a toxicidade e inibe a atividade enzimática da Crtx. (112, 113) A interação molecular entre a CICS e a Crtx é semelhante ao mecanismo de ligação entre a Crtx e seu receptor. Supõe-se que a CICS atue como um falso receptor para a Crtx. Desse modo, a ligação da Crtx com a membrana do neurônio periférico é evitada. A CICS liga-se à subunidade básica da Crtx, o que impede a atividade neurotóxica e fosfolipásica. (112, 113) 2.3.5 Utilização da crotoxina A Crtx tem sido mencionada no tratamento de vários pacientes com câncer. Cura et al., em 2002, realizaram a primeira fase de um ensaio clínico com a Crtx em pacientes com tumores sólidos, refratários ao tratamento convencional. Vinte e três pacientes foram avaliados após a administração de Crtx (injeções intramusculares diárias, por trinta dias, em doses acima de 0,9 mg). Nenhuma morte relacionada à toxina ocorreu 66 durante esse estudo. Reações locais e diplopia foram os efeitos colaterais mais observados. Nenhuma alteração respiratória foi observada. Dezoito dos 23 pacientes relataram uma progressiva melhora ou mesmo o desaparecimento da dor. Não houve progressão da doença em quatro pacientes. Pacientes com carcinoma de tireóide e carcinoma retal tiveram suas massas tumorais reduzidas. (114) Yan et al., em 2006, investigaram a participação da autofagia e da apoptose na morte induzida por Crtx da linhagem de células K562 da leucemia mielóide crônica. A neurotoxina, dependendo da dose, inibiu a viabilidade de células K562. (115) Outros estudos têm demonstrado que, além do potente efeito antitumoral, a Crtx tem um alto efeito analgésico, o que contribui para torná-la uma valiosa droga contra o câncer. (115) Em 2001, Ribeiro realizou um estudo em 12 coelhos para avaliar a ação e a aplicabilidade da Crtx na indução da paralisia da musculatura extrínseca ocular, comparando seus efeitos com os da toxina botulínica do tipo A. Verificou-se que a Crtx foi capaz de induzir uma paralisia transitória do músculo reto superior (músculo no qual foi realizada a aplicação da toxina). Esse efeito foi caracterizado pela redução na amplitude dos potenciais de ação e sinais inespecíficos de fibrilação. A ação da Crtx proporcionou efeito semelhante ao da toxina botulínica do tipo A, o que foi comprovado através dos estudos anatomopatológico e eletromiográfico. (5) 67 3 Objetivos 68 3 Objetivos 1)Verificar a ocorrência de ativação ou inibição de células satélites miogênicas após a aplicação de toxina botulínica do tipo A e de crotoxina no músculo reto superior de coelhos. 2) Avaliar comparativamente o efeito da aplicação de toxina botulínica do tipo A e de crotoxina nas células satélites de músculos retos superiores de coelhos. 3) Verificar se há correlação entre a dose de toxina botulínica ou de crotoxina a ser aplicada e a ativação ou inibição das células satélites. 4) Verificar se há correlação entre o volume de toxina botulínica ou de crotoxina a ser aplicado e ativação ou inibição das células satélites. 5) Verificar se o tempo de vida após a aplicação de toxina botulínica ou de crotoxina contribui para a ativação ou inibição das células satélites. 6) Analisar histologicamente o músculo reto superior de cada coelho e verificar se há correlação com a ativação ou inibição da células satélites. 69 4 Material e métodos 70 4 Material e métodos A amostra deste estudo experimental e longitudinal foi constituída de 29 coelhos machos albinos, da raça Nova Zelândia, com peso variando de 1,5 kg a 2,5 kg, clinicamente sadios, provenientes da Fazenda Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (Igarapé – MG). O projeto da presente pesquisa (Protocolo número 28/2006) foi aprovado pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal (CETEA/UFMG), em 28/6/2006. (ANEXO A) A pesquisa foi conduzida obedecendo-se aos critérios recomendados pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) e respeitando a Lei Federal Brasileira número 6 638, de maio de 1979, que “estabelece normas para a prática didático-científica da vivissecção de animais”. Os animais foram mantidos em gaiolas suspensas, com água e ração específica para a espécie ad libitum, no biotério da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC), em Juiz de Fora, Minas Gerais. Os coelhos foram divididos aleatoriamente em dois grupos: grupo botox (GB) e grupo crotoxina (GCrtx). O GB foi formado pelos coelhos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13 e 14. O GCrtx, pelos coelhos 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28 e 29. Aplicou-se a toxina botulínica do tipo A ou a crotoxina no músculo reto superior do olho direito de cada coelho. Em cada músculo reto superior do olho esquerdo dos coelhos do GB e do GCrtx, foi aplicado soro fisiológico a 0,9%, em volume igual ao das toxinas. O grupo assim formado foi chamado de grupo controle (GC). O QUADRO 2 mostra a distribuição dos grupos. A aplicação foi realizada após a instilação de colírio anestésico de cloridrato de benoxinato a 0,4% (oxibuprocaína - Oxinest® - Latinofarma Indústrias Farmacêuticas Ltda., Cotia, SP) no saco conjuntival de cada olho. A toxina botulínica do tipo A (Botox® – 71 Allergan Pharmaceuticals Ltd. – Westport, Irlanda) e a crotoxina (cedida pela Divisão de Imunobiológicos da Fundação Ezequiel Dias de Belo Horizonte - MG [FUNED]) foram injetadas no músculo reto superior do olho direito de cada coelho com uma seringa de insulina (BD Plastipak® Becton Dickinson Ind. Cirúr. Ltda., Curitiba, PR). Foi utilizada a técnica de aplicação segundo Ribeiro (5). Após a colocação de um blefarostato no olho do animal, foi utilizada uma pinça denteada para elevar a conjuntiva. A agulha foi introduzida transconjuntivalmente e penetrada no músculo reto superior, a aproximadamente 4 mm da inserção muscular. A toxina foi injetada lentamente. As FIGURAS 6 e 7 ilustram a aplicação da toxina no olho direito de um dos coelhos. No coelho 5, não foi aplicada a solução salina a 0,9% no olho esquerdo, pois o animal apresentava atrofia ocular, por provável trauma perfurante. No coelho 13, houve extravasamento de toxina botulínica durante a aplicação. A dose de crotoxina utilizada foi baseada na comparação entre a dose letal mínima da crotoxina e a dose letal mínima da toxina botulínica do tipo A, ambas para camundongos (DL-50: dose que mata exatamente metade de uma população de animais, geralmente no período de 7 a 14 dias). Uma unidade de toxina botulínica do tipo A comercializada (Botox®) equivale a uma DL-50 para camundongos. A crotoxina utilizada possuía uma DL-50 de 1,5 μg (equivalente a 1 U). A toxicidade é determinada pela dose letal mínima que mata 50% dos animais inoculados - DL-50, (camundongos swiss-webster, com peso entre 18 g e 22 g). A dose mínima eficaz estimada de crotoxina, comparada com a de toxina botulínica do tipo A, em estudo de Scott, Rosenbaum e Collins (1973), seria de 0,15 μg. (3) Os QUADROS 3 e 4 mostram as doses de toxina botulínica e crotoxina aplicadas em cada coelho. 72 QUADRO 2 Distribuição dos coelhos em grupos Grupos Olho da aplicação Identificação dos coelhos Grupo Botox (GB) *OD (14 olhos) 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13 e 14 Grupo Crotoxina (GCrtx) OD (15 olhos) 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28 e 29 Grupo Controle (GC) **OE (28 olhos) 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28 e 29 * OD: olho direito ** OE: olho esquerdo 73 . FIGURA 6: Aplicação de toxina no músculo reto superior do olho direito de coelho. FIGURA 7: Fase final da aplicação de toxina no músculo reto superior do olho direito. Observa-se discreta quemose após a aplicação. 74 QUADRO 3 Toxina botulínica aplicada no músculo reto superior do olho direito dos coelhos 1 a 14 Identificação Toxina Volume dos coelhos aplicada e aplicado Data da aplicação Músculo em que foi aplicada dosagem 1 Botox® 10 U 0,5 ml 25/11/2006 RS OD* 2 Botox® 10 U 0,5 ml 25/11/2006 RS OD 3 Botox® 10 U 0,5 ml 25/11/2006 RS OD 4 Botox® 10 U 0,5 ml 25/11/2006 RS OD 5 Botox® 10 U 0,5 ml 25/11/2006 RS OD 6 Botox® 5 U 0,25 ml 25/11/2006 RS OD 7 Botox® 5 U 0,25 ml 25/11/2006 RS OD 8 Botox® 5 U 0,25 ml 25/11/2006 RS OD 9 Botox® 5 U 0,25 ml 25/11/2006 RS OD 10 Botox® 5 U 0,25 ml 25/11/2006 RS OD 11 Botox® 2,5 U 0,1 ml 25/11/2006 RS OD 12 Botox® 2,5 U 0,1 ml 25/11/2006 RS OD 13 Botox® 2,5 U 0,1 ml 25/11/2006 RS OD 14 Botox® 2,5 U 0,1 ml 25/11/2006 RS OD * Reto superior do olho direito 75 QUADRO 4 Crotoxina aplicada no músculo reto superior do olho direito dos coelhos 15 a 29 Identificação Toxina aplicada Volume Data dos coelhos aplicação e dosagem aplicado da Músculo em que foi aplicada 15 Crotoxina 10 U 0,5 ml 25/11/2006 RS OD* 16 Crotoxina 10 U 0,5 ml 25/11/2006 RS OD 17 Crotoxina 10 U 0,5 ml 25/11/2006 RS OD 18 Crotoxina 10 U 0,5 ml 25/11/2006 RS OD 19 Crotoxina 10 U 0,5 ml 25/11/2006 RS OD 20 Crotoxina 5 U 0,25 ml 25/11/2006 RS OD 21 Crotoxina 5 U 0,25 ml 25/11/2006 RS OD 22 Crotoxina 5 U 0,25 ml 25/11/2006 RS OD 23 Crotoxina 5 U 0,25 ml 25/11/2006 RS OD 24 Crotoxina 5 U 0,25 ml 25/11/2006 RS OD 25 Crotoxina 2 U 0,1 ml 25/11/2006 RS OD 26 Crotoxina 2 U 0,1 ml 25/11/2006 RS OD 27 Crotoxina 2 U 0,1 ml 25/11/2006 RS OD 28 Crotoxina 2 U 0,1 ml 25/11/2006 RS OD 29 Crotoxina 2 U 0,1 ml 25/11/2006 RS OD *Reto superior do olho direito 76 4.1 Estudos anatomopatológico e imunoistoquímico Os animais foram sacrificados por médico veterinário, nos momentos estabelecidos (12º, 18º e 25º dias após as aplicações), com tiopental sódico (Thiopentax – Cristália), na dosagem de 20 mg/kg, seguido de injeção intracardíaca de cloreto de potássio a 10%. O QUADRO 6 esquematiza os dias das eutanásias e os coelhos sacrificados. QUADRO 5 Relação dos dias em que foram realizadas as eutanásias dos coelhos, coelhos sacrificados e número de olhos enucleados. Dia da eutanásia Identificação dos coelhos sacrificados Total de olhos 07/12/2006 1, 6, 11, 15, 20, 25 12 13/12/2006 2, 3, 7, 8, 12, 16, 17, 21, 22, 26, 27 22 20/12/2006 4, 5, 9, 10, 13, 14, 18, 19, 23, 24, 28, 29 23 Total: 29 coelhos Total: 57 olhos Posteriormente, os olhos foram cuidadosamente enucleados, mantendo-se os músculos retos superiores intactos. (FIGURA 8) Os músculos mediam de 10 a 15 milímetros. Os globos oculares foram colocados em frascos numerados, com formol tamponado a 10%. Os músculos retos superiores foram desinseridos dos globos oculares com auxílio de uma tesoura de ponta. Cada músculo foi colocado em cassete plástico e identificado com o mesmo número contido no frasco de origem. O material foi levado para o processador de tecidos (Autothecnicon), no qual foi submetido a seis lavagens com álcool absoluto (uma hora 77 cada lavagem), a três lavagens com xilol (uma hora cada lavagem) e a duas lavagens de parafina a 68°C (uma hora e trinta minutos cada lavagem). Posteriormente, o material foi incluído em blocos de parafina e igualmente identificado. FIGURA 8 - Globo ocular de coelho enucleado. Músculo reto superior preservado. Os blocos foram cortados em micrótomo manual (Spencer 820), com navalha descartável. Os cortes, com espessura de três micra, foram colocados em banho-maria à temperatura de 60°C e, posteriormente, estendidos em lâminas especiais de silano (dimetiltrietoxisilano-SIGMA - A - 3648), com a mesma identificação dos blocos. O material foi desparafinado em estufa, a 70°C, por cinco minutos. As lâminas foram colocadas em berços de vidro, passando por três cubas de vidro contendo xilol e três cubas de vidro contendo álcool absoluto; finalmente, foram lavadas em água corrente. Os cortes histológicos foram submetidos à coloração pela hematoxilina-eosina e a estudo imunoistoquímico, conforme o seguinte protocolo: 78 Primeiro processo: 1- Bloqueio da peroxidase endógena por meio de quatro lavagens de cinco minutos em água oxigenada 10 volumes. 2- Lavagem em água corrente por dez minutos. 3- Recuperação antigênica, feita em panela de pressão contendo solução de ácido cítrico (0,01M, pH 6,0). Quando a panela soltou a pressão, fez-se a contagem de dois minutos e vinte segundos; posteriormente, a panela foi esfriada em água corrente por quatro minutos. 4- Lavagem das lâminas em tampão salínico (PBS) de pH 7,40 (duas lavagens de cinco minutos). 5- Diluição dos anticorpos em solução de PBS e soro de albumina bovina (Sigma/B4287). 6- Para o anticorpo Myo-D1 (Novocastra Lab.), foi utilizada uma concentração de 1 microlitro de anticorpo para 50 microlitros de solução diluente. Para o anticorpo PCNA (proliferating cell nuclear antigen – Kit EmVision TM Doublestain Syatem, DAKO Corp., Dinamarca), foi utilizado 1 microlitro de anticorpo para 200 microlitros de solução. 7- Incubação das lâminas com o anticorpo. 8- Secagem com papel absorvente, somente ao redor do corte. Colocação dentro de uma vasilha plástica, sobre uma espuma umedecida (câmara úmida). Com auxílio de uma pipeta graduada, instilou-se o anticorpo em torno de 100 microlitros ou até que cobrisse o corte. Isso foi feito em cada lâmina. 9- Terminado o processo, a câmara úmida foi fechada com tampa própria e colocada na estufa, a 40°C, por trinta minutos. 10- Após esse tempo, a câmara foi levada à geladeira, a 4°C, por quinze horas. 79 Segundo processo: 1- A câmara úmida foi retirada da geladeira e deixada à temperatura ambiente por quinze minutos. 2- O anticorpo foi aspirado e lavado com tampão PBS (duas lavagens de cinco minutos). 3- Foi feita incubação com a solução de biotina (DAKO – kit LSAB/ K-690) pronta para uso, a 40°C, por vinte minutos. 4- A câmara úmida foi retirada da estufa e deixada à temperatura ambiente por oito minutos. 5- O anticorpo foi aspirado e lavado com tampão PBS (duas vezes, por cinco minutos). 6- Foi feita incubação com a solução de Streptavidina (DAKO - kit LSAB/K-690) pronta para uso, a 40°C, por vinte minutos. 7- A câmara úmida foi retirada da estufa e deixada à temperatura ambiente por oito minutos. 8- Foi feita aspiração e lavagem com tampão PBS (duas vezes, por cinco minutos). 9- As lâminas foram colocadas na solução cromógeno por cinco minutos, a 40°C. (Solução cromógeno: 200 ml de PBS 7,40; 0,12 g de 3,3 diaminobenzidina – DAB [Sigma/D5 637]; 3 ml de água oxigenada 100 volumes. DAB dissolvido em PBS, filtrado com papelfiltro, mais 3 ml de água oxigenada). As lâminas foram colocadas em uma cuba de vidro e levadas para a estufa. 10- Contra-coloração com hematoxilina de Harris. 11- Lavagem em água corrente por dez minutos. 12- Lavagem das lâminas em três banhos de álcool e três de xilol. 13- Montagem das lâminas com verniz Acrilex e lamínula. 80 Controles positivos (biópsia de rabdomiosarcoma) e negativos (omissão do anticorpo primário) foram utilizados para avaliar e controlar as reações imunoistoquímicas. Ao lado da identificação de cada lâmina, situou-se o corte histológico com Myo D; à direita, o corte histológico com PCNA. (FIGURA 9) Núcleos celulares corados em marrom são positivos para o Myo D; núcleos celulares corados em azul são negativos para o Myo D (FIGURA 10). Os núcleos positivos para o PCNA foram corados em marrom. (FIGURA 11) As lâminas foram mantidas com suas identificações recobertas durante a análise, realizada em microscópio da marca Nikon, por dois patologistas. As lâminas coradas pela hematoxilina-eosina foram examinadas e fotografadas com máquina fotográfica digital Sony Cyber-shot DSC-H1, acoplada à ocular do microscópio. Nas lâminas preparadas para a avaliação imunoistoquímica, foram examinadas cem miofibras escolhidas ao acaso, com aumento de mil vezes (ocular de dez vezes e objetiva de cem vezes); foi feita a contagem dos núcleos positivos para o Myo D e para o PCNA, bem como a contagem do total de CS (núcleos positivos e negativos para os marcadores). 81 FIGURA 9 - Lâmina preparada para análise imunoistoquímica. À esquerda, identificação que foi recoberta durante toda a contagem no microscópio. A primeira preparação foi feita com Myo D (seta em azul); a segunda (lado esquerdo), com PCNA (seta em verde). 82 FIGURA 10 - Corte longitudinal do músculo reto superior de um coelho, submetido à marcação pelo anticorpo anti-Myo D. Núcleo positivo para o Myo D é corado em marrom (círculo verde). (Aumento de mil vezes). 83 FIGURA 11- Corte de músculo reto superior de um coelho submetido à marcação pelo anticorpo anti-PCNA. Os núcleos marcados em marrom são positivos para o PCNA (círculos verdes) (Aumento de mil vezes). 84 Encerrada a contagem das células em cada lâmina, os dados foram analisados, calculando-se as médias aritméticas, o desvio-padrão e a amplitude da variação. Todas as informações colhidas foram armazenadas em um banco de dados criado no programa Excel, versão 7 (Microsoft Corporation, EUA); posteriormente, as informações foram analisadas com o pacote estatístico SPSS (Statistical Package for Social Science), versão 11,0. 4.2 Metodologia estatística Este estudo experimental caracterizou-se por uma amostra de 29 coelhos, dos quais foram tomados como unidades independentes de análise os seus olhos (57 olhos, sendo 29 olhos direitos e 28 olhos esquerdos). As variáveis independentes foram representadas pelas substâncias injetadas no músculo reto superior do olho direito desses coelhos, bem como pelos co-fatores tempo de vida após a aplicação, volume aplicado e dose das substâncias. A avaliação do efeito foi realizada pela medida da ativação dos núcleos de células satélites, pelos dois marcadores, segundo o cálculo: % núcleos ativados = nº de núcleos ativados/100 miofibras / total de núcleos/100 miofibras As variáveis dependentes foram representadas pela porcentagem de núcleos de CS ativados. (DIAGRAMA 1) 85 Variáveis Independentes (causas) Principal (variável categórica) Dependentes (efeitos) Co-fatores (variáveis contínuas, numéricas) Toxina botulínica e crotoxina % dos núcleos de CS ativados corados pelo MyoD e PCNA(variável contínua, numérica) Tempo de vida após a aplicação, volume aplicado e dose da substância aplicada DIAGRAMA 1: Representação gráfica das variáveis do presente estudo. O modelo estatístico empregou a comparação de médias de porcentagem de núcleos de CS ativados entre os grupos definidos pelo tipo de substância. Isso foi representado através de gráficos, tabelas e testes estatísticos. Inicialmente, foram realizadas as análises entre os três grupos, utilizando-se testes de diferenças de médias. Para avaliar a diferença das médias de porcentagem de núcleos de CS ativados entre os grupos de substâncias, utilizou-se o teste de ANOVA, quando foram atendidos os pressupostos de normalidade e homogeneidade das variâncias. No caso do não atendimento dos pressupostos, foi utilizado o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis. 86 Para avaliação da normalidade, foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov. Para avaliação da homogeneidade das variâncias, utilizou-se o teste de Levene. Para avaliar a existência de correlação entre o percentual de núcleos ativados, as doses, os volumes e os dias de vida após a aplicação, foram utilizados o coeficiente de Pearson e a inspeção do diagrama de dispersão. Esse coeficiente fornece uma medida da força de associação linear entre duas variáveis contínuas. A interferência dos co-fatores nas associações foi avaliada com o teste ANOVA de dois critérios, quando atendidos os pressupostos dos testes paramétricos. Todos os resultados foram considerados significativos em um nível de significância de 5% (α = 0,05). Portanto, é possível ter 95% de certeza de que as conclusões estavam corretas. Valores de p entre 0,05 e 0,10 foram considerados marginalmente significativos. 87 5 Resultados 88 5 Resultados Os coelhos foram examinados diariamente, para observação de existência de efeitos colaterais locais e sistêmicos. Não foram utilizados colírios nem medicação sistêmica na pósaplicação. Não houve mudança no comportamento dos animais nem prostração. Ptose palpebral direita moderada ocorreu nos coelhos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23 e 24, com duração média de cinco dias; ptose palpebral direita discreta ocorreu nos demais coelhos, por dois dias. No olho esquerdo, não se observou ptose. O QUADRO 6 resume a ocorrência de ptose palpebral no olho direito dos coelhos. As FIGURAS 12 e 13 demonstram a ocorrência de ptose palpebral nos coelhos números 12 e 23. QUADRO 6 Ocorrência de ptose palpebral no olho direito dos coelhos após a aplicação de toxina botulínica e de crotoxina. Coelhos Ptose moderada em OD Ptose discreta em OD GB 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 11, 12, 13, 14 GCrtx 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24 25, 26, 27, 28, 29 89 FIGURA 12: Ptose palpebral discreta em olho direito do coelho 12. FIGURA 13: Ptose palpebral moderada em olho direito do coelho 23. 90 Houve sinais de hiperemia conjuntival em todos os coelhos no primeiro dia após a aplicação. Tais sinais desapareceram, na maioria dos animais, no terceiro dia após a aplicação. Secreção conjuntival não foi observada. O coelho 28 apresentou, no terceiro dia, lesão na pálpebra inferior do olho esquerdo (conforme indicada na FIGURA 14), ferimento provavelmente causado por conflito com outros coelhos. FIGURA 14: Coelho 28 com lesão na pálpebra inferior esquerda causada por provável ferimento traumático. 91 5.1 Análise estatística dos dados Dos 57 músculos retos superiores de coelhos estudados, 14 receberam aplicação de toxina botulínica (grupo botox), 15 receberam crotoxina (grupo crotoxina) e 28 receberam solução salina (grupo controle). O ANEXO B apresenta tabelas (TABELAS 1 e 2) que sumarizam a contagem de núcleos de CS corados e o total de núcleos visualizados nos três grupos. Os pressupostos da normalidade foram atendidos para ambas as variáveis dependentes (p = 0,20). Com relação à homogeneidade das variâncias, o teste de Levene indicou homogeneidade para os núcleos marcados com Myo D (p = 0,626) e não homogeneidade para os núcleos marcados com PCNA (p = 0,017). 5.1.1 Comparação das médias entre os grupos independentemente dos cofatores 5.1.1.1 Comparações com o grupo controle Após a realização dos testes para a análise entre os grupos dos percentuais de contagem dos núcleos corados respectivamente pelo Myo D e pelo PCNA, notou-se que a diferença entre os efeitos mensurados foi estatisticamente significativa (p = 0,000). A inspeção visual dos box-plots (GRÁFICOS 1 e 2) sugere que o grupo controle foi o responsável pela significância apresentada. A TABELA 3 mostra as análises descritivas das médias dos percentuais de núcleos corados respectivamente pelo Myo D e pelo PCNA. 92 TABELA 3 Percentuais de núcleos corados pelo Myo D e PCNA nos grupos controle, botox e crotoxina Marcadores Grupos MyoD (p=0,000) PCNA (p=0,000) N Média 33,6 Desvio padrão 11,2 Valor mínimo 14,4 Valor máximo 51,8 Controle 28 Botox 14 47,6 13,1 30,1 66,9 Crotoxina 15 52,2 14,0 23,4 71,0 Controle 28 37,3 10,7 12,2 54,3 Botox 14 51,7 16,8 23,7 72,0 Crotoxina 15 56,9 11,5 35,7 73,4 93 Os GRÁFICOS 1 e 2 são representações em box-plot dos percentuais de núcleos de CS ativados corados pelo Myo D e pelo PCNA em cada grupo. 80,00 70,00 pcmyo 60,00 50,00 40,00 30,00 48 20,00 10,00 controle botox crotox Grupo GRÁFICO 1: Representação em box-plot dos percentuais de núcleos de CS ativados e marcados pelo MyoD. 94 80,00 70,00 pcPCNA 60,00 50,00 40,00 30,00 20,00 10,00 controle botox crotox Grupo GRÁFICO 2: Representação em box-plot dos percentuais de núcleos de CS ativados e marcados pelo PCNA. 95 5.1.1.2 Comparação sem o grupo controle A TABELA 4 mostra que não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos botox e crotoxina em relação aos núcleos corados pelo Myo D (p = 0,374) e pelo PCNA (p = 0,485). TABELA 4 Percentuais de núcleos corados pelo Myo D e pelo PCNA nos grupos botox e crotoxina Myo D (p = 0,374) PCNA (p = 0,485) Grupos N Média Desvio padrão Valor mínimo Valor máximo Botox 14 47,6 13,1 30,1 66,9 Crotoxina 15 52,2 14,0 23,4 71,0 Botox 14 51,7 16,8 23,7 72,0 Crotoxina 15 56,9 11,5 35,7 73,4 96 5.1.2 Avaliação da influência dos co-fatores nos grupos 5.1.2.1 Comparação entre a dose e a resposta A TABELA 5 demonstra que a relação entre a dose e a resposta não foi significativa em nenhum dos grupos analisados. Vale ressaltar que essa tabela mostra apenas o efeito da dose dentro de cada grupo de substância, sem comparação dos grupos entre si. TABELA 5 Percentuais de núcleos corados pelo Myo D e pelo PCNA nos grupos de acordo com as doses Grupos Doses N Média Desvio padrão Valor mínimo Valor máximo Botox 2,5 U 4 46,84 12,25 35,65 58,97 Marcador MyoD 5,0 U 5 (p=0,864)* 10,0 U 5 45,60 50,30 15,45 13,91 31,10 30,06 66,87 64,65 Botox Marcador PCNA (p=0,761)** 2,5 U 4 5,0 U 5 10,0 U 5 54,12 46,95 54,51 17,58 19,28 16,42 34,38 23,66 27,73 70,54 72,05 68,01 Crotoxina Marcador MyoD (p=0,936)* 2,0 U 5 5,0 U 5 10,0 U 5 52,31 50,43 53,88 14,11 18,26 12,12 28,91 23,37 37,56 64,95 71,02 69,13 2,0 U 5 Crotoxina Marcador PCNA 5,0 U 5 (p=0,852)** 10,0 U 5 58,53 55,59 56,61 14,94 8,40 12,68 35,75 42,86 38,05 73,38 64,44 70,61 * ANOVA; ** Teste de Kruskal-Wallis 97 Os GRÁFICOS 3 e 4 são diagramas de dispersão que representam a correlação entre a dose e o percentual de núcleos ativados marcados pelo Myo D e pelo PCNA, respectivamente. O coeficiente de correlação (r) para o grupo botox foi igual a 0,14 e a 0,06 (Myo D e PCNA, respectivamente) e para o grupo crotoxina foi igual a 0,06 e a 0,05 (Myo D e PCNA, respectivamente). Esses resultados sugerem que não houve correlação estatisticamente significativa entre a dose e o aumento do percentual de núcleos ativados, ou seja, que a dose não interferiu no aumento de ativação das CS. GRÁFICO 3: Diagrama de dispersão representando a correlação entre a dose (U) e o percentual de núcleos ativados marcados pelo Myo D. 98 GRÁFICO 4: Diagrama de dispersão representando a correlação entre a dose (U) e o percentual de núcleos ativados marcados pelo PCNA. Ao realizar-se a análise de variância de dois critérios (para o marcador Myo D), testouse também a hipótese de nulidade (H0), ou seja, de que não há interação entre os dois fatores (substância e dose). Como a estatística de teste não excedeu o valor crítico, não se rejeitou a H0 (p = 0,925). Portanto, há evidências para concluir que os efeitos substância/dose são independentes. Os resultados desse tipo de análise sugerem significância marginal tanto para a substância (p = 0,094) quanto para a dose (p = 0,100). 99 5.1.2.2 Comparação entre o volume e a resposta A TABELA 6 demonstra que a relação entre o volume e a resposta não foi significativa em nenhum dos grupos analisados. Vale ressaltar que essa tabela mostra apenas o efeito do volume dentro de cada grupo de substância, sem comparação dos grupos entre si. Os GRÁFICOS 5 e 6 são diagramas de dispersão que representam a correlação entre o volume e o percentual de núcleos ativados marcados pelo Myo D e pelo PCNA, respectivamente. O coeficiente de correlação (r) para o grupo botox foi igual a 0,13 e a 0,05 (Myo D e PCNA, respectivamente); para o grupo crotoxina, foi igual a 0,06 e a 0,05 (Myo D e PCNA, respectivamente); para o grupo controle, foi igual a 0,27 e a 0,04 (Myo D e PCNA, respectivamente). Sugere-se que não houve correlação entre o volume e o aumento do percentual de núcleos ativados, ou seja, que o volume não interferiu no aumento de ativação das CS. 100 TABELA 6 Percentuais de núcleos corados pelo Myo D e pelo PCNA nos grupos de acordo com os volumes Grupos Volume N Média 46,84 45,60 50,30 Desvio padrão 12,25 15,45 13,91 Valor mínimo 35,65 31,10 30,06 Valor máximo 58,97 66,87 64,65 Botox Marcador MyoD (p = 0,864)* 0,10 ml 0,25 ml 0,50 ml 4 5 5 Botox Marcador PCNA (p = 0,761)** 0,10 ml 0,25 ml 0,50 ml 4 5 5 54,12 46,95 54,51 17,58 19,28 16,42 34,38 23,66 27,73 70,54 72,05 68,01 Crotoxina Marcador MyoD (p = 0,936)* 0,10 ml 0,25 ml 0,50 ml 5 5 5 52,31 50,43 53,88 14,11 18,26 12,12 28,91 23,37 37,56 64,95 71,02 69,13 Crotoxina Marcador PCNA (p = 0,852)** 0,10 ml 0,25 ml 0,50 ml 5 5 5 58,53 55,59 56,61 14,94 8,40 12,68 35,75 42,86 38,05 73,38 64,44 70,61 Controle Marcador MyoD (p = 0,269)* 0,10 ml 0,25 ml 0,50 ml 9 10 9 38,58 31,81 30,56 10,59 12,28 9,99 17,23 14,39 19,05 48,28 51,78 45,19 Controle Marcador PCNA (p = 0,676)** 0,10 ml 0,25 ml 0,50 ml 9 10 9 26,09 35,26 45,44 11,11 7,75 5,86 12,18 24,13 32,17 42,48 48,30 54,27 * ANOVA; ** Teste de Kruskal-Wallis 101 GRÁFICO 5: Diagrama de dispersão representando a correlação entre o volume (ml) e o percentual de núcleos ativados marcados pelo Myo D. 102 GRÁFICO 6: Diagrama de dispersão representando a correlação entre o volume (ml) e o percentual de núcleos ativados marcados pelo PCNA. Ao realizar-se a análise de variância de dois critérios (para o marcador Myo D), testouse também a hipótese de nulidade (H0), ou seja, de que não há interação entre os dois fatores (substância e volume). Como a estatística de teste não excedeu o valor crítico, não se rejeitou a H0 (p =0,815). Portanto, há evidências para concluir que os efeitos substância/volume são independentes. Os resultados desse tipo de análise sugerem significância marginal tanto para a substância (p = 0,004) quanto para o volume (p = 0,531). 103 5.1.2.3 Comparação entre os dias de vida após a aplicação e a resposta A TABELA 7 demonstra que a relação entre os dias de vida após a aplicação e a resposta foi estatisticamente significativa em todos os grupos analisados. Vale ressaltar que essa tabela mostra apenas o efeito dos dias dentro de cada grupo de substância, sem comparação dos grupos entre si. Os GRÁFICOS 7 e 8 são diagramas de dispersão que representam a correlação entre os dias de vida após a aplicação e o percentual de núcleos ativados marcados pelo Myo D e pelo PCNA, respectivamente. O coeficiente de correlação (r) para o grupo botox foi igual a 0,72 e a 0,82 (Myo D e PCNA, respectivamente); para o grupo crotoxina, foi igual a 0,95 e a 0,95 (Myo D e PCNA, respectivamente); para o grupo controle, foi igual a 0,76 e a 0,70 (Myo D e PCNA respectivamente). Sugere-se que houve forte correlação entre os dias de eutanásia e o aumento do percentual de núcleos ativados, ou seja, o tempo de vida após a aplicação interferiu no aumento de ativação das CS. 104 TABELA 7 Percentuais de núcleos corados pelo Myo D e pelo PCNA nos grupos de acordo com os dias de vida após a aplicação. Dias de vida N Média 32,70 45,87 56,58 Desvio padrão 3,71 13,54 7,91 Valor mínimo 30,06 33,43 42,59 Valor máximo 36,95 64,65 66,87 Botox Marcador MyoD (p = 0,018)* 13 19 26 3 5 6 Botox Marcador PCNA (p =0,016)** 13 19 26 3 5 6 28,59 50,41 64,33 5,41 13,44 7,98 23,66 36,70 50,33 34,38 68,01 72,05 Crotoxina Marcador MyoD (p = 0,000)* 13 19 26 3 6 6 29,95 50,31 65,23 7,15 2,84 3,96 23,37 45,45 61,62 37,56 53,85 71,02 Crotoxina Marcador PCNA (p = 0,002)** 13 19 26 3 6 6 38,88 55,14 67,70 3,63 2,27 4,40 35,75 52,22 61,78 42,86 58,77 73,38 Controle Marcador MyoD (p = 0,000)* 13 19 26 6 11 11 22,27 29,83 43,52 10,31 8,33 3,92 14,39 19,71 38,37 42,55 45,49 51,78 Controle Marcador PCNA (p = 0,001)** 13 19 26 6 11 11 26,09 35,26 45,44 11,11 7,75 5,86 12,18 24,13 32,17 42,48 48,30 54,27 * ANOVA; ** teste de Kruskal-Wallis 105 GRÁFICO 7: Diagrama de dispersão representando a correlação entre os dias de vida após a aplicação e o percentual de núcleos ativados marcados pelo Myo D. 106 GRÁFICO 8: Diagrama de dispersão representando a correlação entre os dias de vida após a aplicação e o percentual de núcleos ativados marcados pelo PCNA. Ao realizar-se a análise de variância de dois critérios (para o marcador Myo D), testouse também a hipótese de nulidade (H0), ou seja, de que não há interação entre os dois fatores (substância e dias). Como a estatística de teste não excedeu o valor crítico, não se rejeitou a H0 (p = 0,246). Portanto, há evidências para concluir que os efeitos substância/dias de vida após a aplicação são independentes. Os resultados desse tipo de análise sugerem significância tanto para a substância (p = 0,007) quanto para os dias (p = 0,002). O tempo de vida após a aplicação contribuiu para o aumento da ativação das CS, independentemente da substância. O GRÁFICO 9 ilustra a relação entre as médias dos núcleos ativados em cada grupo, para cada marcador (azul: Myo D; verde: PCNA), em cada período de vida após a aplicação das substâncias. 107 GRÁFICO 9: Relação entre a média de núcleos ativados para cada grupo, para cada marcador, em cada período de vida após a aplicação das substâncias. 108 5.2 Análise histológica As lâminas com cortes histológicos dos músculos retos superiores dos grupos deste estudo foram analisadas com coloração de hematoxilina-eosina. Inicialmente, foi realizado um estudo com quatro músculos retos superiores retirados de coelhos que não receberam inoculação de qualquer substância, com a finalidade de se conhecer histologicamente a musculatura extrínseca ocular normal dos coelhos. O ANEXO C apresenta fotografias dessas lâminas. Nos grupos controle, botox e crotoxina, as alterações musculares observadas no músculo reto superior foram focais, ou seja, encontradas no local da aplicação das substâncias. Os QUADROS de 7 a 12 esquematizam as alterações histológicas encontradas em cada músculo. As cores destacam os dias de vida após a aplicação (azul: 13 dias; amarelo: 19 dias; verde: 26 dias). Toda a documentação fotográfica referente aos achados histológicos encontra-se no ANEXO D. 109 QUADRO 7 Alterações histológicas de cada músculo reto superior em que foram aplicados Botox® 10 U e solução salina em igual volume. Coelho/olho Substância aplicada Dose Volume Achados histológicos 0, 5 ml Dias de vida após aplicação 13 dias 1 OD Botox® 10 U 1 OE Solução salina - 0, 5 ml 13 dias Botox® 10 U 0, 5 ml 19 dias 2 OE Solução salina - 0, 5 ml 19 dias Necrose, reação inflamatória bem delimitada ao local da aplicação; presença de núcleos picnóticos enfileirados e centralizados (FIGURA 17) Fibras degeneradas, necrose e fagocitose; congestão vascular Necrose, fagocitose; desarranjo da arquitetura das fibras no local da aplicação (FIGURA 18) 2 OD 3 OD Botox® 10 U 0, 5 ml 19 dias 3 OE Solução salina - 0, 5 ml 19 dias 4 OD Botox® 10 U 0, 5 ml 26 dias 4 OE Solução salina - 0, 5 ml 26 dias 5 OD Botox® 10 U 0, 5 ml 26 dias Núcleos reacionais levemente aumentados Fibras degeneradas, necrose e fagocitose; congestão vascular Necrose, fagocitose; desarranjo da arquitetura das fibras no local da aplicação Arquitetura das fibras musculares preservada Arquitetura das fibras musculares preservada Arquitetura das fibras musculares preservada QUADRO 8 Alterações histológicas de cada músculo reto superior em que foram aplicados Botox® 5 U e solução salina em igual volume. Coelho/olho Substância aplicada Dose Volume 6 OD Botox® 5U 0,25 ml Dias de vida após aplicação 13 dias 6 OE Solução salina - 0,25 ml 13 dias 7 OD Botox® 5U 0,25 ml 19 dias 7 OE Solução salina - 0,25 ml 19 dias 8 OD Botox® 5U 0,25 ml 19 dias 8 OE Solução salina - 0,25 ml 19 dias 9 OD Botox® 5U 0,25 ml 26 dias 9 OE Solução salina - 0,25 ml 26 dias 10 OD Botox® 5U 0,25 ml 26 dias 10 OE Solução salina - 0,25 ml 26 dias Achados histológicos Núcleos reativos; raras fibras necrosadas, (FIGURAS 19 e 20) Arquitetura das fibras musculares preservada Necrose; presença de infiltrado inflamatório; congestão vascular (FIGURAS 21 a 25) Pouco desarranjo da arquitetura das fibras musculares Necrose; presença de infiltrado inflamatório Pouco desarranjo da arquitetura das fibras musculares Presença de fibras degeneradas e necrosadas (FIGURAS 26 e 27) Arquitetura das fibras musculares preservada Arquitetura das fibras musculares preservada Arquitetura das fibras musculares preservada 110 QUADRO 9 Alterações histológicas de cada músculo reto superior em que foram aplicados Botox® 2,5 U e solução salina em igual volume. Coelho/olho Substância aplicada Dose Volume Dias de vida após aplicação Achados histológicos 11 OD Botox® 2,5 U 0,1 ml 13 dias Presença de núcleos centralizados com nucléolos evidentes; ausência de macrófagos 11 OE Solução salina - 0,1 ml 13 dias Arquitetura das fibras musculares preservada 12 OD Botox® 2,5 U 0,1 ml 19 dias 12 OE Solução salina - 0,1 ml 19 dias Arquitetura das fibras musculares discretamente agredida; não houve congestão vascular Arquitetura das fibras musculares preservada 13 OD Botox® 2,5 U 0,1 ml 26 dias 13 OE Solução salina - 0,1 ml 26 dias 14 OD Botox® 2,5 U 0,1 ml 26 dias 14 OE Solução salina - 0,1 ml 26 dias Arquitetura das fibras discretamente agredida Congestão vascular discreta musculares Arquitetura das fibras musculares discretamente agredida Arquitetura das fibras musculares preservada QUADRO 10 Alterações histológicas de cada músculo reto superior em que foram aplicadas crotoxina 10 U e solução salina em igual volume. Coelho/olho Substância aplicada Dose Volume 15 OD Crotoxina 10 U 0, 5 ml Dias de vida após aplicação 13 dias Achados histológicos 15 OE Solução salina - 0, 5 ml 13 dias 16 OD Crotoxina 10 U 0, 5 ml 19 dias 16 OE Solução salina - 0, 5 ml 19 dias 17 OD Crotoxina 10 U 0, 5 ml 19 dias 17 OE Solução salina - 0, 5 ml 19 dias Congestão vascular; núcleos enfileirados e centralizados Arquitetura das fibras musculares preservada 18 OD Crotoxina 10 U 0, 5 ml 26 dias Núcleos reativos; fibras em necrose 18 OE Solução salina - 0, 5 ml 26 dias Arquitetura das fibras musculares preservada 19 OD Crotoxina 10 U 0, 5 ml 26 dias 19 OE Solução salina - 0,5 ml 26 dias Núcleos reativos; núcleos picnóticos; fibras em necrose (FIGURA 32) Arquitetura das fibras musculares preservada Miofagocitose; núcleos com nucléolos evidentes; núcleos enfileirados e centralizados; endomísio espessado; núcleos em picnose (FIGURAS 28 a 30) Arquitetura das fibras musculares preservada Desarranjo da arquitetura das fibras; congestão vascular; núcleos enfileirados e centralizados (FIGURA 31) Arquitetura das fibras musculares preservada 111 QUADRO 11 Alterações histológicas de cada músculo reto superior em que foram aplicadas crotoxina 5 U e solução salina em igual volume. Coelho/olho Substância aplicada Dose Volume 20 OD Crotoxina 5U 0,25 ml Dias de vida após aplicação 13 dias Achados histológicos 20 OE Solução salina - 0,25 ml 13 dias 21 OD Crotoxina 5U 0,25 ml 19 dias 21 OE Solução salina - 0,25 ml 19 dias 22 OD Crotoxina 5U 0,25 ml 19 dias 22 OE Solução salina - 0,25 ml 19 dias 23 OD Crotoxina 5U 0,25 ml 26 dias 23 OE Solução salina - 0,25 ml 26 dias Desarranjo da arquitetura das fibras; núcleos centralizados (FIGURAS 36 e 37) Arquitetura das fibras musculares preservada 24 OD Crotoxina 5U 0,25 ml 26 dias Miofagocitose 24 OE Solução salina - 0,25 ml 26 dias Arquitetura das fibras musculares preservada Núcleos reativos no centro das fibras; núcleos picnóticos (FIGURAS 33 e 34) Arquitetura das fibras musculares preservada Processo inflamatório discreto; infiltrado perivascular; núcleos picnóticos; núcleos centralizados e enfileirados (FIGURA 35) Arquitetura das fibras musculares preservada Núcleos picnóticos; núcleos centralizados e enfileirados Arquitetura das fibras musculares preservada QUADRO 12 Alterações histológicas de cada músculo reto superior em que foram aplicadas crotoxina 2 U e solução salina em igual volume. Coelho/olho Substância aplicada Dose Volume 25 OD Crotoxina 2U 0,1 ml Dias de vida após aplicação 13 dias Achados histológicos 25 OE Solução salina - 0,1 ml 13 dias 26 OD Crotoxina 2U 0,1 ml 19 dias Aumento da vascularização; presença de vasos no endomísio; miofagocitose; congestão vascular perimisial; presença de processo inflamatório (FIGURAS 38 a 43) Reação inflamatória perivascular no local da aplicação (FIGURA 44) Desarranjo da arquitetura das fibras 26 OE Solução salina - 0,1 ml 19 dias Arquitetura das fibras musculares preservada 27 OD Crotoxina 2U 0,1 ml 19 dias Desarranjo da arquitetura das fibras 27 OE Solução salina - 0,1 ml 19 dias Arquitetura das fibras musculares preservada 28 OD Crotoxina 2U 0,1 ml 26 dias Arquitetura das fibras musculares preservada 28 OE Solução salina - 0,1 ml 26 dias Arquitetura das fibras musculares preservada 29 OD Crotoxina 2U 0,1 ml 26 dias Arquitetura das fibras musculares preservada 29 OE Solução salina - 0,1 ml 26 dias Arquitetura das fibras musculares preservada 112 7 Discussão 113 7 Discussão A necessidade de se descobrir um tratamento farmacológico para o estrabismo que não cause enfraquecimento muscular permanente, mas que tenha uma duração maior que a toxina botulínica, estimula a comunidade científica a estudar novas substâncias. O conhecimento da participação das células satélites no funcionamento dos músculos oculares extrínsecos assim como os métodos de se controlar a ativação dessas células, têm se tornado um campo de estudo de grande interesse. Christiansen et al. (2000) injetaram ricin-mAb 35, uma imunotoxina que se liga aos receptores de acetilcolina nos músculos esqueléticos, no músculo reto superior de coelhos, com o objetivo de determinar os efeitos histológicos e ultra-estruturais nos músculos. Verificaram lesões focais dose-dependentes, processos inflamatórios auto-limitantes e significante perda de fibras musculares. Notaram uma lenta regeneração das miofibras. (1) Em 2003, Christiansen et al. voltaram a estudar os efeitos dessa imunotoxina na força muscular de músculo extrínseco ocular. Concluíram que esse lento processo de regeneração poderia explicar a longa duração da ação da ricin- mAb 35. Demonstraram através de estudos histológicos que a aplicação da substância resultava em lesão citotóxica discreta, com boa preservação das miofibras periféricas no local da injeção. Sugeriram que a ricin-mAb poderia ser uma alternativa para o retrocesso cirúrgico e também uma opção mais duradoura que a toxina botulínica no tratamento farmacológico do estrabismo. (116) Ugalde et al. (2005) observaram que a paralisia dos MOE induzida por toxina botulínica em olhos de coelhos resultou em aumento da ativação de CS a curto intervalo de tempo, em comparação com olhos em que havia sido injetada solução salina. (10) Scott et al. (2007) relataram um caso de uma paciente que fora tratada previamente com cirurgia para correção de estrabismo, mas que persistia com uma esotropia de 14 dioptrias prismáticas e diplopia. A inoculação de bupivacaína 0,75% no músculo reto lateral 114 foi, então, o tratamento escolhido. Houve paresia do reto lateral por sete dias. A melhora da função muscular, um desvio convergente de apenas quatro dioptrias prismáticas e a eliminação da diplopia ocorreram 33 dias após a aplicação. Cinqüenta e quatro dias após a aplicação, o desvio se mantinha estável (quatro dioptrias prismáticas). A ressonância magnética revelou um aumento no tamanho do músculo reto lateral de 58%, no local da inoculação. Os autores sugeriram que, por volta de dois dias após a aplicação, CS foram ativadas e a regeneração iniciou-se, com o músculo alcançando seu tamanho e força originais em aproximadamente 21 dias. As CS continuaram a elaborar novas fibras musculares, o que resultou em hipertrofia por vários dias. (119) Este estudo confirma tais relatos, demonstrando haver um aumento significativo na ativação das CS após a utilização da toxina botulínica e, de forma um pouco mais acentuada, após a aplicação da crotoxina. O estudo histológico das fibras musculares dos grupos botox e crotoxina revelou sinais de regeneração (centralização de núcleos), sem apresentar sinais significantes de atrofia muscular. Demonstrou também que as lesões foram focais. Ao contrário do que foi demonstrado por Christiansen et al., verificou-se que a dosagem das toxinas não foi tão importante no acréscimo das CS. O volume de solução salina ou de toxina aplicado também não influenciou no aumento das CS. Os animais sacrificados mais tardiamente apresentaram maior aumento na ativação das CS e pouco desarranjo da arquitetura das fibras musculares. Porter et al. (1991) demonstraram que as alterações histológicas causadas pela toxina botulínica são reversíveis. (117) Supõe-se que o aumento na ativação das CS esteja diretamente relacionado à regeneração das fibras. Neste estudo, observou-se, no exame histológico do grupo crotoxina, maior agressão na estrutura das fibras e sinais de regeneração mais evidentes, o que poderia estar correlacionado com o aumento de CS ativadas. Quando foram aplicadas 10 U de toxinas, o 115 grupo crotoxina ainda apresentou alterações histológicas marcantes após 26 dias (núcleos reativos e fibras em necrose); já no grupo botox a arquitetura das fibras musculares foi preservada. Acredita-se que o processo de regeneração das fibras musculares após a aplicação da crotoxina seja mais lento que após a aplicação da toxina botulínica, o que poderia explicar a ação mais duradoura da crotoxina. Entretanto, Ribeiro (2001) verificou que a crotoxina e a toxina botulínica produziram paralisia transitória do músculo reto superior de coelhos, de maneira semelhante, em determinadas concentrações. Considerando-se os estágios regenerativos do processo de reparação muscular ativação (iniciada por volta de duas horas após o trauma) e proliferação (iniciada por volta de dois a três dias após o trauma), seguidas da diferenciação e da maturação, foram utilizados os marcadores de CS Myo D (julgado um excelente marcador para CS ativadas) e PCNA (considerado um excelente marcador para CS em proliferação). (FIGURA 45) (118) Notou-se um discreto aumento no percentual de núcleos marcados com o PCNA, o que demonstrou a existência de maior porcentagem de CS em proliferação. No entanto, não foi detectada diferença estatisticamente significativa entre o percentual de núcleos. FIGURA 45: Esquema dos estágios de regeneração da reparação muscular. Fonte: adaptado de Shi X, Garry DJ. Muscles stem cells in development, regeneration, and disease. Genes & Dev. 2006; 20: 1692-708. 116 É importante ressaltar que o presente estudo tem limitações, incluindo o tamanho da amostra e o tempo de acompanhamento, fatos importantes para uma melhor compreensão e análise dos resultados encontrados. Estudos futuros são necessários para maiores esclarecimentos sobre a ação a longo prazo da toxina botulínica e da crotoxina nas CS da musculatura ocular extrínseca. 117 8 Conclusões 118 8 Conclusões 1) A aplicação de toxina botulínica e de crotoxina provocou o aumento no número de células satélites ativadas e em proliferação nos músculos retos superiores de coelhos. 2) Estatisticamente, a diferença na ativação das células entre os grupos botox e crotoxina não foi significativa. 3) Não houve correlação estatisticamente significativa entre a dose aplicada e o aumento na ativação das células satélites nos grupos botox e crotoxina. 4) Não houve correlação estatisticamente significativa entre o volume de substância aplicado e o aumento na ativação das células satélites nos grupos botox, crotoxina e controle. 5) O tempo de vida após a aplicação contribuiu para o aumento de células satélites ativadas, independentemente da substância aplicada. 6) O grupo crotoxina apresentou ao estudo histológico maior desarranjo na arquitetura das fibras musculares e mais evidências de sinais de regeneração, podendo tal fato estar correlacionado com o aumento da ativação das células satélites. 7) Os resultados deste estudo sugerem que o processo de regeneração das fibras musculares após a inoculação da crotoxina seja mais lento que após a inoculação da toxina botulínica, podendo tal fato estar relacionado à ação mais duradoura da crotoxina. 119 8 Referências bibliográficas 120 1. Christiansen SP, Sandnas A, Prill R, Youle R J, McLoon LK. Acute effects of skeletal muscle-specific immunotoxin ricin-mAb 35 on extraocular muscles of rabbits. Invest Ophthalmol Vis Sci 2000; 41 (11): 3402-9. 2. Demer JL. Duane’s Clinical Ophthalmology. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2000. 3. Scott AB, Rosenbaum A, Collins CC. Pharmacologic weakening of extraocular muscles. Invest Ophthalmol Vis Sci 1973; 12: 924-7. 4. Scott AB. Botulinum toxin injection into extraocular muscles as an alternative to strabismus surgery. Ophthalmology 1980; 87: 1044-9. 5. Ribeiro GB. Estudo da crotoxina na indução de paralisia da musculatura extrínseca ocular em modelo animal [tese]. Belo Horizonte: Faculdade de Medicina da UFMG; 2001. 6. Hawke TJ, Garry DJ. Myogenic satellite cells: physiology to molecular biology. J Appl Physiol 2001; 91:534-51. 7. Mauro A. Satellite cell of skeletal muscle fibers. J Biophys Biochem Cytol 1961; 9: 493-5. 8. McLoon LK, Wirtschafter JD. Continuous myonuclear addition to single extraocular myofibers in uninjured adult rabbits. Muscle & Nerve 2002; 25; 348-58. 9. McLoon LK, Wirtschafter JD. Activated satellite cells in extraocular muscles of normal adult monkeys and humans. Invest Ophthalmol Vis Sci 2003; 44: 1927-32. 10. Ugalde I, Christiansen SP, McLoon LK. Botulinum toxin treatment of extraocular muscles in rabbits results in increased myofiber remodeling. Invest Ophthalmol Vis Sci 2005; 46: 4114-20. 11. Christiansen SP, McLoon LK. The effect of resection on satellite cell activity in rabbit extraocular muscle. Invest Ophthalmol Vis Sci 2006; 47:605-13. 12. Foschini RMSA, Ramalho FS, Ramalho LNZ, Bicas HEA. Increased frequency of activated satellite cells in overacting inferior oblique muscles from humans. Invest Ophthalmol Vis Sci 2006; 47: 3360-5. 13. Porter JD, Baker RS, Ragusa RJ, Brueckner JK Extraocular muscles: basic and clinical aspects of structure and function. Surv Ophthalmol 1995; 39(6): 451-84. 14. Junqueira LC, Carneiro J. Histologia Básica. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1982. 15. Porter JD, Baker RS. Prenatal morphogenesis of primate extraocular muscle: neuro muscular junction formation and fiber type differentiation. Invest Ophthalmol Vis Sci 1992; 33(3): 657-70. 121 16. Diehl AG, Zareparsi S, Qian M., Khann R, Angeles R, Gage PJ. Extraocular muscle morphogenesis and gene expression are regulated by Pitx2 gene dose. Invest Ophthalmol Vis Sci 2006; 47 (5): 1785-93. 17. Oh SY, Poukens V, Demer JL. Quantitative analysis of rectus extraocular muscle layers in monkey and humans. Invest Ophthalmol Vis Sci 2001; 42 (1); 10-6. 18. Demer JL, Oh SY, Poukens V. Evidence for active control of rectus extraocular muscle pulleys. Invest Ophthalmol Vis Sci 2000; 41 (6):1280-90. 19. Demer JL. The orbital pulley system: a revolution in concepts of orbital anatomy. Ann N Y Acad Sci 2002; 956: 17-32. 20. Büttner-Ennever JA, Horn AKE, Scherberger H, D’Ascanio P. Motoneurons of twitch and nontwitch extraocular muscle fibers in the abducens, trochlear, and oculomotor nuclei of monkeys. J Comp Neurol 2001; 438:318-35. 21. Siebeck R, Kruger P. Die histologische Struktur der äuβeren Augenmuskeln als Ausdruck ihrer Funktion. Graefes Arch Ophthalmol 1955; 156: 637-52. 22. Campion DR. The muscle satellite cell: a review. Int Rev Cytol 1984; 87: 225-51. 23. Foschini RMSA, Ramalho FS, Bicas HEA. Células satélites musculares. Arq Bras Oftalmol 2004; 67(4): 681-7. 24. Chargé SBP, Rudnicki MA. Cellular and molecular regulation of muscle regeneration. Physiol Rev 2004; 84:209-38. 25. Grounds MD, White JD, Rosenthal N, Bogoyevitch MA. The role of stem cells in skeletal and cardiac muscle repair. J Histochem Cytochem 2002; 50: 589-610. 26. Zammit PS, Beauchamp JR. The skeletal muscle satellite cell: stem cell or son of stem cell? Differentiation 2001; 68: 193-204. 27. Foschini, RMSA. Estudo das células satélites de músculo oblíquo inferior de pacientes com hiperfunção de músculo oblíquo inferior e de pacientes sem estrabismo [tese]. Ribeirão Preto – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP; 2005. 28. Cornelison DDW, Wold BJ. Single-cell analysis of regulatory gene expression in quiescent and activated mouse skeletal muscle satellite cells. Dev Biol 1997; 191: 270-83. 29. Kitzmann M, Carnac G, Vandromme M, Primig M, Lamb NJC, Fernandez A. The muscle regulatory factors MyoD and Myf-5 undergo distinct cell cycle-specific expression in muscle cells. J Cell Biol 1998; 142(6):1447-59. 30. Schmidt K, Glaser G, Wernig A, Wegner M, Rosorius O. Sox8 is a specific marker for muscle satellite cells and inhibits myogenesis. J Biol Chem 2003;278(32):29769-75, 122 31. Gibson MC, Schultz E. Age-related differences in absolute numbers of skeletal muscle satellite cells. Muscle & Nerve 1983; 6:574-80. 32. Snow MH. The effects of aging on satellite cells in skeletal muscles of mice and rats. Cell Tiss Res 1977; 185:399-408. 33. Schmalbruch H, Hellhammer U. The number of nuclei in adult rat muscles with special reference to satellite cells. Anat Rec 1977; 189;169-76. 34. Gibson MC, Schultz E. The distribution of satellite cells and their relationship to specific fiber types in soleus and extensor digitorum longus muscles. Anat Rec 1982; 202:329-37. 35. Chen JCJ, Goldhamer DJ. Skeletal muscle stem cells. Rep Biol Endo 2003; 1:101-6. 36. Tatsumi R, Sheehan SM, Iwasaki H, Hattori A, Allen RE. Mechanical stretch induces activation of skeletal muscle satellite cells in vitro. Exp Cell Res 2001; 267:107-14. 37. Floss T, Arnold HH, Braun T. A role for FGF-6 in skeletal muscle regeneration. Gens Dev 1997; 11:2040-51. 38. Kurek JB, Bower JJ, Romanella M, Koentgen F, Murphy M, Austin L. The role of leukemia inhibitory factor in skeletal muscle regeneration. Muscle Nerve 1977; 20: 815-22. 39. Schultz E, McCormick KM. Skeletalmuscle satellite cells. Rev Physiol Biochem Pharmacol 1994; 123:213-57. 40. Schultz E, Jaryszak DL, Gibson MC, Albright DJ. Absence of exogenous satellite cell contribution to regeneration of frozen skeletal muscle. J Muscle Res Cell Motil 1986; 7:361-7. 41. Schultz E, Jaryszak DL, Valleire CR. Response of satellite cells to focal skeletal muscle injury. Muscle Nerve 1985; 8:217-22. 42. Vierck J, O’Reilly B, Hossner K, Antonio J, Byrne K, Bucci L, et al. Satellite cell regulation following myotrauma caused by resistance exercise. Cell Biol Int 2000; 24:263-72. 43. Nathan CF. Secretory products of macrophages. J Clin Invest 1987; 79:319-26. 44. Lescudron L, Peltekian E, Fontaine-Perus J, Paulin D, Zampieri M, Garcia L, et al. Blood borne macrophages are essential for the triggering of muscle regeneration following muscle transplant. Neuromuscul Disord 1999; 9:72-80. 45. Grounds MD. Muscle regeneration: molecular aspects and therapeutic implications. Curr Opin Neurol 1999; 12: 535-43. 46. Mozdziak PE, Pulvermacher PM, Schultz E. Unloading of juvenile muscle results in a reduced muscle size 9 wk after reloading. J Appl Physiol 2000; 88: 158-64. 123 47. Maier A, Zhou Z, Bornemann A. The expression profile of myogenic transcription factors in satellite cells from denervated rat muscle. Brain Pathol 2002; 12(2):170-7. 48. Renault V, Piron-Hamelin G, Forestier C, Didonna S, Decary S, Hentati F et al.. Skeletal muscle regeneration and the mitotic clock. Exp Gerontol 2000; 35:711-9. 49. Burghes AHM, Logan C, Hu X, Belfall B, Worton RG, Ray PN. A cDNA clone from the Duchenne/Becker muscular dystrophy gene. Nature 1987; 328:434-40. 50. Cossu G, Mavilio F. Myogenic stem cells for the therapy of primary myopathies: wishful thinking or therapeutic perspective? J Clin Invest 2000; 105(12): 1669-74. 51. Heslop L, Morgan JE, Partridge TA. Evidence for a myogenic stem cell that is exhausted in dystrophic muscle. J Cell Sci 2000; 113:2299-308. 52. Fischer MD, Gorospe JR, Felder E, Bogdanovich S, Pedrosa-Domellöf F, Ahima RS et al.. Expression profiling reveals metabolic and structural components of extraocular muscles. Physiol Genomics 2002; 9, 71-84. 53. Weiss A, Leinwahd LA. The mammalian myosin heavy chain gene family. Annu Rev Cell Dev Biol 1996; 2:417-39. 54. McLoon LK, Rios L, Wirtschafter JD. Complex three-dimensional patterns of myosin isoform expression: differences between and within specific extraocular muscles. J Muscle Res Cell Motil 1999; 20:771-83. 55. Horton RM, Manfredi AA, Conti-Tronconi BM. The ‘embrionic’ gamma subunit of the nicotinic acetylcholine receptor is expressed in adult extraocular muscle. Neurology 1993; 43:983-6. 56. McLoon LK, Wirtschafter JD. N-CAM is expressed in mature extraocular muscles in a pattern conserved among three species. Invest Ophthalmol Vis Sci 1996; 37:318-27. 57. McLoon LK, Wirtschafter JD. Activated satellite cells are present in uninjured extraocular muscles of mature mice. Trans Am Ophthalmol Soc 2002; 100: 119-24. 58. McLoon LK, Christiansen SP. Increasing extraocular muscle strength with insulin-like growth factor II. Invest Ophthalmol Vis Sci 2003; 44:3866-72. 59. Bernard C. La science experimentale. Bailliere, Paris, 1875 apud Schantz EJ, Johnson EA. Properties and use of botulinum toxin and other microbial neurotoxins in medicine. Microbiol Rev 1992; 56:80-99. 60. Schantz EJ, Johnson EA Properties and use of botulinum toxin and other microbial neurotoxins in medicine. Microbiol Rev 1992; 56:80-99. 61. Erbguth FJ, Naumann M. Historical aspects of botulinum toxin: Justinus Kerner (1786-1862) and the “sausage poison”. Neurology 1999; 53:1850-3. 124 62. Erbguth FJ. Historical notes on botulism, Clostridium botulinum, botulinum toxin, and the idea of the therapeutic use of the toxin. Mov Disord 2004; 19, suppl. 8:S2-6. 63. Scott AB. Development of botulinum toxin therapy. Dermatol Clin 2004; 22:131-3. 64. Ting PT, Freiman A. The story of Clostridium botulinum: from food poisoning to Botox. Clin Med 2004; 4:258-61. 65. Osako M, Keltner JL. Botulinum A toxin (Oculinum®) in Ophthalmology. Surv Ophthalmol 1991; 36:28-46. 66. Villas Boas MLMM. Estudo comparativo entre o tratamento dos estrabismos de pequeno e médio ângulos com cirurgia e aplicações unilaterais e bilaterais de toxina botulínica [tese]. Belo Horizonte: Faculdade de Medicina da UFMG;1998. 67. Gonnering RS. Pharmacology of botulinum toxin. Int Ophthalmol Clin 1993; 33: 20326. 68. Sellin LC. The pharmacological mechanism of botulism. Trends in Pharmacological Science 1985; 6: 80-2. 69. Durand A, Serment G. Toxines botuliques: utilisation pratique. ANNRMP 2003; 46:386-8. 70. Scott AB. Botulinum toxin injection of eye muscles to correct strabismus. Trans Am Ophthalmol Soc 1981; 79:734-70. 71. Jankovic J. Botulinum toxin in clinical practice. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2004; 75:951-7. 72. Parish JL. Commercial preparations and handling of botulinum toxin type A and B. Clin Dermatol 2003;6;481-4. 73. Brin MF. Botulinum toxin: chemistry, pharmacology, toxicity, and immunology. Muscle Nerve 1997; 20:146-68. 74. Pullman SL.The myriad uses of botulinum toxin. Ann Intern Med 2005; 143:838-9. 75. Biglan AW, May M. Treatment of facial spasm with Oculinum (C. Botulinum toxin). J Pediatr Ophthalmol Strabismus 1986; 23:216-21. 76. Engstrom PF, Arnoult JB, Mazow ML, Prager TC, Wilkins RB, Byrd WA et al. Effectiveness of botulinum toxin therapy for essential blepharospasm. Ophthalmology 1987; 94:971-5. 77. Mauriello JA, Coniaris H, Haupt EJ. Use of botulinum toxin on the treatment of one hundred patients with facial dyskinesias. Ophthalmology 1987; 94: 976-9. 125 78. Djebbari R, Du Montcel ST, Sangla S, Vidal JS, Galloueded G, Vidailhet M. Factors predicting improvement in motor disability in writer’s cramp treated with botulinum toxin. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2004; 75:1688-91. 79. Trosch RM, Pullman SL. Botulinum toxin type A injections for the treatment of hand tremors. Mov Disord 1994; 9:601-9. 80. Graham HK, Aoki KR, Autti-Rämö I, Boyd RN, Delgado MR, Gaebler-Spira DJ et al. Recommendations for the use of botulinum toxin type A in the mangement of cerebral palsy. Gait and Posture 2000; 11:67-79. 81. Bhakta BB, Cozens JA, Chamberlain MA, Bamford JM. Impact of botulinum toxin type A on disability and carer burden due to arm spasticity after stroke: a randomised double blind placebo controlled trial. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2000; 69:21721. 82. Jost WH, Schimrigk K. Botulinum toxin in therapy of anal fissure. Lancet 1995; 345:188-9. 83. Ashkenazi A, Silberstein SD. Botulinum toxin and other new approaches to migraine therapy. Annu Rev Med 2004; 55:505-18. 84. Shelley WB, Talanin NY, Shelley ED. Botulinum toxin therapy for palmar hyperhidrosis. J Am Acad Dermatol 1988; 38:227-9. 85. Schurch B, Schmid DM, Stohrer M. Treatment of neurogenic incontinence with botulinum toxin A. N Engl J Med 2000; 342:665. 86. Carruthers A, Carruthers J. Clinical indications and injection technique for the cosmetic use of botulinum A exotoxin. Dermatol Surg 1998; 24:1189-94. 87. Slotta K, Fraenkel-Conrat H. Snake venoms II. Nature of the sulphur union. Ber Deutsche Chem Ges 1938; 71B: 1076-81. 88. Hawgood BJ. Karl Heinrich Slotta (1895-1987) biochemist: snakes, pregnancy and coffee. Toxicon 2001; 39:1277- 82. 89. Délot E, Bon C. Model for the interaction of crotoxin, a phospholipase A2 neurotoxin, with presynaptic membranes. Biochemistry 1993; 32:10708-13. 90. Salvini TF, Amaral AC, Miyabara EH, Turri JAO, Danella PM, Selistre de Araújo HS. Systemic skeletal muscle necrosis induced by crotoxin. Toxicon 2001; 39:1141-9. 91. Choumet V, Bouchier C, Délot E, Faure G, Saliou B, Bon C. Structure and function relationship of crotoxin, a heterodimeric neurotoxic phospholipase A2 from the venom of a South American rattlesnake. Adv Exp Med Biol 1996; 391:197-202. 92. Aguiar AS, Melgarejo AR, Alves CR, Giovanni-de-Simone S. Single-step purification of crotapotin and crotactine from Crotalus durissus terrificus venom using preparative isoelectric focusing. Braz J Med Biol Res 1997; 30:25-8. 126 93. Bon C, Changeux J, Jeng T, Fraenkel-Conrat H. Postsynaptic effects of crotoxin and of its isolated subunits. Eur J Biochem 1979; 99: 471-81. 94. Santos RMM, Oliveira LC, Estevão-Costa MI, Lima ME, Santoro MM, Fortes-Dias C L. Inhibition of crotoxin binding to synaptosomes by a receptor-like protein from Crotalus durissus terrificus (the South American rattlesnake). Biochim Biophys Acta 2005; 1717:27-33. 95. Achari A, Radvanyi FR, Scott D, Bon C, Sigler PB. Crystals of crotoxin suitable for high resolution X-ray diffraction analysis. The J of Biol Chem 1985; 260:9385-7. 96. Mascarenhas YP, Stouten PFW, Beltran JR, Laure CJ, Vriend G. Structure-function relationship for the highly toxic crotoxin from Crotalus durissus terrificus. Eur Biophys J 1992; 21:199-205. 97. Araújo DAM, Beirão PSL. Effects of crotoxin on action potential kinetics of frog skeletal muscle. Braz J Med Biol Res 1993; 26:1111-21. 98. Howard BD, Gundersen JR CB. Effects and mechanisms of polypeptide neurotoxins that act presynaptically. Ann Ver Pharmacol Toxicol 1980; 20:307-36. 99. Hawgood B, Bon C. Snake venom presynaptic toxins. In: Handbook of natural toxins: reptile venoms and toxins. TU, A.T. (ed). New York: Marcel Dekker Inc; 1990. p. 532. 100. Muniz ZM, Diniz CR. Crotoxina afeta a resposta contrátil do músculo liso induzida por estímulo elétrico de campo. Arq Biol Tech 1983; 26: 279-86. 101. Muniz ZM, Diniz CR. The effect of crotoxin on the longitudinal muscle myenteric plexus preparation of the Guinea pig ileum. Neuropharmacology 1989; 28: 741-7. 102. Breithaupt H. Neurotoxic and myotoxic effects of crotalus phospholipase A and its complex with crotapotin. Naunyn-Schmideberg’s Arch Pharmacol 1976; 292: 271-8. 103. Hawgood BJ, Smith JW. The mode of action at the mouse neuromuscular junction of the phospholipase A2-crotapotin complex isolated from venom of the South American rattlesnake. Br J Pharm 1977; 61:607-14. 104. Tzeng MC, Chon HOY, Hseu MJ, Dupureue CM, Tsai MD. Conversion of bovine pancreatic phospholipase A2 at a single site into a competitor of neurotoxic phospholipase a2 by site-directed mutagenesis. The J of Biol Chem 1995; 270:2120-3. 105. Kattah LS, Santoro MM, Diniz CR, de Lima ME. Crotoxin, the major toxin from the rattlesnake Crotalus durissus terrificus, inhibits 3H-choline uptake in Guinea pig ileum. Braz J Med Res 2000; 33:1093-7. 106. Kattah LS, Ferraz V, Santoro MM, Camargos ERS, Diniz CR, de Lima ME. Analysis of fatty acids released by crotoxin in rat brain synaptosomes. Toxicon 2002; 40:43-9. 127 107. Gopalakrishnakone P, Dempster DW, Hawgood BJ, Elder HY. Cellular and mitochondrial changes induced in the structure of murine skeletal muscle by crotoxin, a neurotoxic phospholipase A2 complex. Toxicon 1984; 22:85-98. 108. Amorin MF, Mello RF. Intermediate nephrosis from snake poisoning in man. Am J Pathol 1954; 30:479-99. 109. Rosenfeld G. Symptomatology, pathology and treatment of snake bites in South America. In: Venomous animals and their venoms. New York: Academic Press; 1971. p. 312-345. 110. Vital Brazil O. Pharmacology of crystalline crotoxin II. Neuromuscular blocking action. Mem Inst Butantan 1966; 33:981-92. 111. Gopalakrishnakone P, Hawgood BJ. Morphological changes in murine nerve, neuromuscular junction and skeletal muscle induced by the crotoxin complex. J Physiol London 1979; 291:5-6. 112. Perales J, Villela C, Domont GB, Choumet V, Saliou B, Moussatche H. Molecular structure and mechanism of action of the crotoxin inhibitor from Crotalus durissus terrificus serum. Eur J Biochem 1995; 227: 19-26. 113. Faure G, Villela C, Perales J, Bom C. Interaction of the neurotoxic and nontoxic secretory phospholipases A2 with the crotoxin inhibitor from Crotalus serum. Eur J Biochem 2000; 267: 4799-808. 114. Cura JE, Blanzaco DP, Brisson C, Cura MA, Cabrol R, Larrateguy L et al.; Phase I and pharmacokinectics study of crotoxin (cytotoxic PLA2, NSC-624244) in pacients with advanced cancer. Clinical Cancer Research 2002; 8:1033-41. 115. Yan C-H, Liang Z-Q, Gu Z-L, Yang Y-P, Reid P, Qin Z-H. Contributions of autophagic and apoptotic mechanisms to CrTX-induced death of K562 cells. Toxicon 2006; 47:521-30. 116. Christiansen SP, Becker BA, Iaizzo PA, McLoon LK. Extraocular muscle force generation after ricin-mAb35 injection: implications for strabismus treatment. Journal of AAPOS 2003; 7:1-6. 117. Porter JD, Strebeck S, Capra NF. Botulinum-induced changes in monkey eyelid muscle. Comparison with changes seen in extraocular muscle. Arch Ophthalmol. 1991; 109:396-404. 118. Shi X, Garry DJ. Muscle stem cells in development, regeneration, and disease. Genes & Dev. 2006; 20:1692-708. 119. Scott AB, Alexander DE, Miller JM. Bupivacaine injection of eye muscles to treat strabismus. Br J Ophthalmol. 2007; 91: 146-8. 128 ANEXO A 129 ANEXO B TABELA1: Núcleos corados e total de núcleos em cada grupo (botox e controle) Coelho grupo botox: (olho direito) Núcleos positivos para MyoD Número total de núcleos visualizados na lâmina com MyoD Núcleos positivos para PCNA Número total de núcleos visualizados na lâmina com PCNA Coelho grupo ccntrole: (olho esquerdo) Núcleos positivos para MyoD Número total de núcleos visualizados na lâmina com MyoD Núcleos positivos para PCNA Número total de núcleos visualizados na lâmina com PCNA 1 98 326 89 321 1 81 355 43 353 2 300 542 302 494 2 155 433 194 435 3 353 546 236 347 3 67 255 65 206 4 138 324 152 302 4 98 255 114 271 5 126 214 100 153 - - - - - 6 139 447 84 355 6 79 450 111 603 7 118 353 109 297 7 129 441 120 359 8 155 385 131 313 8 55 279 76 315 9 164 291 263 365 9 189 365 197 363 10 222 332 234 387 10 117 282 92 286 11 143 387 153 445 11 76 441 92 385 12 123 345 176 397 12 41 173 38 154 13 115 195 199 296 13 95 224 87 203 14 178 319 170 241 14 98 203 119 261 TABELA 2: Núcleos corados e total de núcleos em cada grupo (crotoxina e controle) Coelho grupo crotoxina (olho direito) Núcleos positivos para MyoD Número total de núcleos visualizados na lâmina com MyoD Núcleos positivos para PCNA Número total de núcleos visualizados na lâmina com PCNA Coelho grupo ccntrole: (olho esquerdo) Núcleos positivos para MyoD Número total de núcleos visualizados na lâmina com MyoD Núcleos positivos para PCNA Número total de núcleos visualizados na lâmina com PCNA 15 151 402 183 481 15 72 378 96 226 16 295 583 212 406 16 74 342 128 265 17 114 227 109 193 17 70 303 81 286 18 182 294 182 277 18 61 135 67 127 19 159 230 161 228 19 92 215 104 222 20 118 505 192 448 20 61 424 71 294 21 210 424 215 390 21 100 330 129 355 22 120 264 157 292 22 93 301 108 280 23 177 282 212 329 23 66 172 104 228 24 125 176 97 157 24 71 160 96 211 25 122 422 148 414 25 60 141 39 110 26 94 180 134 228 26 131 288 116 306 27 133 247 152 279 27 128 305 127 317 28 183 297 193 263 28 67 155 139 285 29 202 311 170 242 29 105 248 118 272 130 ANEXO C: FIGURA 15- Corte histológico de área do músculo reto superior normal de coelho (aumento de 100 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). FIGURA 16 - Corte histológico de área do músculo reto superior normal de coelho (corte transversal, aumento de 100 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). 131 ANEXO D: FIGURA 17-Corte histológico do músculo reto superior do olho esquerdo do coelho 1. Presença de necrose, núcleos picnóticos, enfileirados e centralizados (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). FIGURA 18 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho esquerdo do coelho 2. Presença de necrose e fagocitose focal (local da aplicação da toxina botulínica). Nota-se desarranjo da arquitetura das fibras (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina) 132 . FIGURA 19 - Corte histológico de músculo reto superior do olho direito do coelho 6. Presença de reatividade dos núcleos e fibras fragmentadas (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). FIGURA 20 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 6. Notam-se algumas fibras em necrose. A seta indica uma delas (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). 133 FIGURA 21- Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 7. Presença de necrose, infiltrado inflamatório e congestão vascular (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). FIGURA 22 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 7. Presença de necrose e infiltrado inflamatório (aumento de 100 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). 134 FIGURA 23 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 7. Presença de necrose e infiltrado inflamatório (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). FIGURA 24 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 7. Presença de necrose e infiltrado inflamatório (aumento de 100 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). 135 FIGURA 25 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 7. Presença de infiltrado inflamatório (aumento de 100 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). FIGURA 26 - Corte histológico de músculo do reto superior do olho direito do coelho 9. Notam-se fibras degeneradas (mais eosinofílicas) (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). 136 FIGURA 27 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 9. Notam-se fibras degeneradas (mais eosinofílicas) e outras necrosadas (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). FIGURA 28 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 15. A seta indica local onde existe fagocitose (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). 137 FIGURA 29 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 15. A seta indica núcleos enfileirados, com nucléolos evidentes (núcleos em regeneração) (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). FIGURA 30 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 15. Presença de núcleos centralizados e nucléolos evidentes (núcleos reagentes). Fibras em necrose e miofagocitose. (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). 138 FIGURA 31 - Corte histológico de músculo reto superior do olho direito coelho 16. Presença de desarranjo da arquitetura das fibras e congestão vascular. Pouca necrose (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). FIGURA 32 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 19. Presença de núcleos reativos, fibras em necrose e núcleos picnóticos (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). 139 FIGURA 33 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 20. Núcleos picnóticos e necrose. A seta indica desarranjo na arquitetura da fibra (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). FIGURA 34 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 20. Fibras onduladas com desarranjo da arquitetura. Fibras necróticas e miofagocitose (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). 140 FIGURA 35 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 21. Presença de núcleos picnóticos, centralizados, enfileirados em fibras com desarranjo da arquitetura (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). FIGURA 36 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 23. Desarranjo da arquitetura da fibras e núcleos centralizados (aumento de 400 vezes, corado com hematoxilina-eosina). 141 FIGURA 37 - Corte histológico do músculo reto superior do olho direito do coelho 23. Presença de necrose e fagocitose. Hemorragia (local de aplicação) (aumento de 100 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). FIGURA 38 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 25. A seta indica infiltrado inflamatório, com presença de neutrófilos (aumento de 400 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). 142 FIGURA 39 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 25. Nota-se auumento da vascularização endomisial. Infiltrado perivascular neutrofílico. (aumento de 100 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). FIGURA 40 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 25. Nota-se infiltrado perivascular perimisial, vasodilatação e congestão (aumento de 100 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). 143 FIGURA 41 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 25. Presença de processo inflamatório neutrofílico, perivascular e endomisial (aumento de 100 vezes, corado pela hematoxilina-eosina). FIGURA 42 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 25. Congestão vascular perimisial (aumento de 100 vezes, corado pela hemtoxilina-eosina). 144 FIGURA 43 - Corte histológico de área do músculo reto superior do olho direito do coelho 25. Necrose com fagocitose. Infiltrado neutrofílico endomisial (aumento de 400 vezes, corado pela hemtoxilina-eosina). FIGURA 44 - Corte histológico do músculo reto superior do olho esquerdo do coelho 25. Presença de reação inflamatória neutrofílica no local da aplicação de solução salina (aumento de 100 vezes, corado pela hematoxilina-eosina).