os clássicos da sociologia

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OS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA
A SOCIOLOGIA BURGUESA CONSERVADORA
1ª) é coercitivo por natureza, pois exerce pressão
sobre os indivíduos, levando-os a conformar-se às
regras da sociedade em que vivem;
2ª) é exterior aos indivíduos - existe e atua sobre os
indivíduos independentemente de sua vontade;
Émile Durkheim (1858-1917)
Nasceu a 15 de abril de 1858 em Épinal, na Alsácia,
descendente de uma família de rabinos. Ainda
adolescente dois fatos históricos foram decisivos na
formação de sua personalidade e de seu intelecto: 1°)
a humilhante derrota francesa para a Prússia, que
consolidou a Unificação Alemã - o II Reich foi
proclamado em pleno Palácio de Versalhes em 18 de
janeiro de 1871, o imperador francês, Luís Bonaparte,
foi tornado prisioneiro de guerra e a França acabou
perdendo Alsácia (terra de Durkheim) e Lorena; 2°)
dois meses depois, acontece a conquista de Paris pelo
proletariado, com a instalação da Comuna de Paris.
Estes dois episódios nos fazem entender a essência de
sua sociologia: anti-iluminista, anticomunista,
nacionalista (embalada pelo revanchismo francês
posterior à guerra, logo de fundo imperialista) e
positivista, cujo lema é "o amor por princípio, a ordem
como meio e o progresso como fim", como diria
Augusto Comte. OBS: Reich = império (na língua
alemã).
Quanto à sua vida acadêmica, iniciou seus estudos
filosóficos na Escola Normal Superior de Paris, indo
depois para a Alemanha. Lecionou sociologia em
Bordéus, primeira cátedra dessa ciência criada na
França. Transferiu-se em 1902 para Sorbonne, para
onde levou inúmeros cientistas, entre eles seu
sobrinho Marcel Mauss, reunindo-os num grupo que
ficou conhecido como escola sociológica francesa.
Durkheim morre no período da I Guerra Mundial e da
Revolução Russa. Suas principais obras foram: "Da
divisão do trabalho social", "As regras do método
sociológico", "O suicídio", "Formas elementares da
vida religiosa", "Educação e sociologia", "Sociologia e
filosofia" e "Lições de sociologia" (obra póstuma).
Principais idéias e preocupações:
- Esforça-se em emancipar a sociologia das demais
teorias sobre a sociedade e em constituí-la como
disciplina rigorosamente científica. Em livros e cursos,
sua preocupação foi definir com precisão o objeto, o
método e as aplicações dessa nova ciência.
- Em “As regras do método sociológico”, buscou
definir, com clareza, o objeto da sociologia: são os
fatos sociais, afirmava.
- Segundo o mesmo, um fato social possui 3
características fundamentais:
3ª) é social todo fato que é geral - que se repete em
todos os indivíduos ou na maioria deles.
- para Durkheim, o fato social deve ser tratado como
“coisa”, como algo passível de ser conhecido
objetivamente. Há de se tomar algumas medidas, no
entanto, para que seja exitosa esta empreitada.
Manter a maior distância possível do fato e buscar a
neutralidade (não se envolver emocionalmente com o
fato, não utilizar dos valores, não pré-julgar) - a busca
da “neutralidade científica" ou "neutralidade
axiológica”. (OBS: Axiológica = “relativo ao estudo ou
teoria dos valores”)
- Durkheim considera a sociedade um organismo em
adaptação, que apresenta estados normais
(saudáveis) e patológicos (doentios). É normal (sã) a
sociedade que possui regras gerais claras (aceites por
todos ou pela grande maioria). À ausência de regras,
chamou de estado anômico (anomia = ausência
generalizada de respeito a normas sociais, devido a
contradições ou divergências entre estas).
Considerava que a sociedade francesa de seu tempo
sofria de “anomia”.
- cria o conceito de consciência coletiva - “conjunto
das crenças e dos sentimentos comuns à média dos
membros de uma mesma sociedade”.
- influenciado pelas ciências biológicas (a classificação
dos seres vivos - o sistema taxonômico de Lineu,
1707-78), institui o campo da morfologia social, onde
procura classificar as espécies sociais segundo as suas
formas de organização (a partir das hordas, passando
pelos clãs, tribos etc.). Estabeleceu, assim, que o
motor de transformação de toda e qualquer
sociedade é a passagem da solidariedade mecânica
para a solidariedade orgânica. Vê-se aqui a influência
do evolucionismo de Darwin, aplicado ao estudo e
classificação da sociedade (organismos inferiores ou
superiores, simples ou complexos).
- Solidariedade mecânica, para Durkheim, era aquela
que predominava nas sociedades pré-capitalistas,
onde os indivíduos se identificavam por meio da
família, da religião, da tradição e dos costumes,
permanecendo em geral independentes e autônomos
em relação à divisão do trabalho social. A consciência
coletiva exerce aqui todo seu poder de coerção sobre
os indivíduos.
SOCIOLOGIA - 1º ANO - Apostila nº 2 - Página 1
- Solidariedade orgânica é aquela típica das
sociedades capitalistas, onde, pela acelerada divisão
do trabalho social, os indivíduos se tornam
interdependentes. Essa interdependência garante a
união social, em lugar dos costumes, das tradições ou
das relações sociais estreitas. Nas sociedades
capitalistas, a consciência coletiva se afrouxa. Assim,
ao mesmo tempo que os indivíduos são mutuamente
dependentes, cada qual se especializa numa atividade
e tende a desenvolver maior autonomia pessoal. Na
verdade, está implícito aqui a necessidade de um
Estado forte (instituições fortes) como forma de
superar a crise de consciência ou crise “moral” da
sociedade capitalista.
Seu caso deve ser lá anotado, pro seu mal ser vigiado,
ele requer muita atenção
Seu nome deve ser lá anotado, pro seu mal ser
vigiado, ele requer muita atenção
Pois traz perigo à nossa vida
Não dou amparo, nem guarida
Dou guaraná com formicida
Ou até mesmo pesticida
Para acalmar minha dormida
Não tô afim de pôr em risco a minha condição
- as idéias de Durkheim darão base a escolas
sociológicas posteriores, como a escola funcionalista
(que trabalha com a concepção durkheimiana de
organismo social) e o darwinismo social (que aplica a
lei da seleção natural à sociedade - é a falsa idéia de
que “sobrevive os mais fortes e melhores” - princípio
ideológico que cai como uma luva na Era imperialista,
onde a guerra é uma "necessidade").
Onde hoje é tarja preta
Lia-se frase otimista
E nela se acreditava
Do cético ao humanista
A ela todos se davam
Amor de primeira vista
Onde ontem era frase
Hoje é uma tarja na vista
MÚSICAS RELACIONADAS AO TEMA:
Tá Certo, Doutor
Gonzaguinha
É um atentado à moral e aos bons costumes vigentes,
um certo inconveniente
Deixar este homem doente perambular pelas ruas a
cometer tais falcatruas
Incompatível com os estatutos dessa nossa gafieira,
Dançar dessa maneira, desrespeitando o salão,
ferindo as regras do padrão
Fere as normas do edital de formação da nossa firma
atual
Esse homem está enfermo, nem precisa exame sério,
seu mal está constatado
Depressa, depressa, põe no hospital!
Deve ficar bem isolado, em um quarto bem fechado
Sem portas ou janelas, pois pode ser contagiante
Dieta mais que rigorosa, medicação bem adequada e
muita muita observação
Pra que não haja agravante
Em tempo hábil deve ter até um centro de controle
para testar a sua boa condição,
Se está fechada a ferida
Tarja Cravada
Sérgio Ricardo
Vivia como que solta
No firmamento estrelado
Em cada ponta de estrela
Letra por letra apagada
Hoje se vê cruz e vela
De tanta morte cravada
Vinte e um cruzeiros de velas
De tanta morte cravada
Sob um carimbo redondo
A luz de um losango dourado
Esmaeceu com o tempo
Na sorte do mau olhado
Em limbo se desfazendo
Já não se dá por achado
Sobre o losango um carimbo
De tanta morte cravada
A noite cobriu a mata
Apagando a natureza
Que por viver de harmonia
Sem verde e sem mais beleza
Perdeu a fisionomia
Nas rugas dessa tristeza
Nas rugas dessa tristeza
De tanta tarja cravada
SOCIOLOGIA - 1º ANO - Apostila nº 2 - Página 2
A SOCIOLOGIA PROLETÁRIA E REVOLUCIONÁRIA
Karl Marx (1818-1883)
Karl Marx nasceu na cidade de Treves, na Alemanha.
Em 1836, matriculou-se na Universidade de Berlim,
doutorando-se em filosofia em Iena. Foi redator de
uma gazeta liberal em Colônia. Mudou-se em 1842
para Paris, onde conheceu Friedrich Engels, seu
companheiro de ideias e publicações por toda a vida.
Expulso da França em 1845, ele foi para Bruxelas,
onde participou da recém-fundada Liga dos
Comunistas. Em 1848 escreveu com Engels O
manifesto do Partido Comunista, obra fundadora do
“marxismo” enquanto movimento político e social a
favor do proletariado. Com o malogro das revoluções
sociais de 1848, Marx mudou-se para Londres, onde
se dedicou a um grandioso estudo crítico da economia
política. Marx foi um dos fundadores da Associação
Internacional dos Operários ou Primeira Internacional.
Morreu em 1883, após intensa vida política e
intelectual. Suas principais obras foram: A ideologia
alemã, A Miséria da filosofia, Para a crítica da
economia política, A luta de classes em França, O 18
Brumário de Luís Bonaparte e O capital.
Principais ideias e preocupações:
- cria o materialismo dialético - base de sua filosofia que aponta para o fato de que a matéria é eterna
(sempre existiu), é o dado primeiro e que, portanto, a
ideia é produto do desenvolvimento material, aparece
posteriormente (para Marx, a ideia é uma forma de
manifestação da matéria, produto de reações
bioquímicas efetuadas no cérebro humano,
condicionada por relações sociais, históricas e
culturais que partem do mais simples para o mais
complexo). Uma ideia pode ser concreta (estar em
conformidade com a realidade material) ou abstrata
(errada, que não está de acordo com os fatos, com a
realidade em si). O movimento é absoluto (e a matéria
só existe em movimento), o repouso é relativo (algo
só está parado em relação a um referencial, a alguma
outra coisa).
- não é a consciência social que determina o ser social,
mas sim o contrário: é o ser social que determina a
consciência social (princípio do materialismo aplicado
à sociologia).
- desenvolve o conceito de classes sociais. Segundo
Marx, as desigualdades sociais são provocadas pelas
relações sociais de produção próprias de um modo de
produção n ou m (ex: a Ordem Escravista, Feudal ou
Capitalista), que dividem os homens entre
exploradores e explorados, em proprietários e nãoproprietários dos meios de produção. Exemplo: no
capitalismo é a burguesia que detém os meios de
produção de toda a riqueza social, enquanto o
proletariado, por não deter estes meios, vê-se forçado
a vender sua força de trabalho ao capitalista.
- as relações sociais se caracterizam por relações de
oposição, antagonismo, exploração e luta entre as
classes sociais. Trata-se da luta de classes, que, para
Marx, é o motor da história.
- Marx desenvolve o conceito de alienação,
mostrando que a industrialização, a propriedade
privada, o capital e o assalariamento separam o
trabalhador dos meios de produção (ferramentas,
máquinas, terras e matérias-primas), que são
propriedade privada do capitalista.
- Outro efeito da alienação é separar o trabalhador do
fruto de seu trabalho, que é apropriado pelo
capitalista. Essa alienação, que possui base
econômica, tende a se refletir em todos os setores da
vida do trabalhador (nos setores: social, político e
ideológico, onde a religião se apresenta).
- Outra ideia importante e que está em conformidade
com o fundamento materialista, é o de que a
infraestrutura econômica (base material da
sociedade) determina, em última instância, a
superestrutura política e ideológica, que elaboram as
ideias reinantes na sociedade através das instituições
sociais e políticas existentes, quais sejam: o Estado
(que elabora as leis burguesas e julga segundo o
ponto de vista das classes mais ricas e executa
políticas que garantem a manutenção do status quo
vigente), a Escola (que ensina o proletariado a aceitar
sua atual condição de escravo), a Igreja (que ao
prometer uma vida pós-morte, elimina a necessidade
de uma ação material firme contra o sistema
econômico que cria as desigualdades sociais), a
Família Burguesa (cada dia mais virtual), os Meios de
Comunicação (que não se cansam de repetir mil vezes
inúmeras mentiras até que acreditemos, tais como a
de que “o capitalismo é o fim da história”).
SOCIOLOGIA - 1º ANO - Apostila nº 2 - Página 3
- Note que para Marx, a superestrutura políticoideológica é peça-chave para a manutenção do
principal: a infraestrutura econômica (a base de
qualquer formação social) de onde brota toda a
desigualdade social: a propriedade privada dos meios
de produção, garantida por lei. A partir desta garantia
dá-se a exploração capitalista, através da extração da
mais-valia do operário, seja ele moderno ou pósmoderno, sempre viabilizada pela manutenção de um
vigoroso Exército Industrial de Reserva: os
desempregados.
justa e igualitária, a sociedade socialista, baseada no
princípio que diz: “quem não trabalha não come”.
- em sua principal obra, O Capital, Marx desvenda a
lógica de produção e circulação do capital, partindo
do elemento mais simples e presente na sociedade
moderna (a mercadoria) até a compreensão das
relações econômicas e sociais mais complexas, como
as relações internacionais de troca. >> Combinação
dialética do Método Indutivo com o Método
Dedutivo.
OBS: Marx não foi apenas um sociólogo, foi filósofo,
jornalista, economista, historiador e militante político.
- como todo e qualquer modo de produção, o
socialismo também terá um fim. É quando será
substituído pelo Modo de Produção Comunista, que
terá por princípio: “de cada um segundo suas
possibilidades, para cada um segundo as suas
necessidades”. Quando isso acontecer, Marx
considera que a humanidade haveria superado seu
longo estágio pré-histórico.
Max Weber
E. Durkheim
- “Os homens fazem sua própria história, mas não a
fazem como querem, a fazem sob determinadas
condições históricas e sociais” e pressionado pelo
passado, pois “o cérebro dos mortos oprime, como
um pesadelo, o cérebro dos vivos”. (Karl Marx).
- estabelece, juntamente com Engels, as bases do
socialismo científico, em oposição ao socialismo
utópico (representado por várias personalidades,
entre as quais Pierre Proudhon, Fourrier, Saint-Simon,
Thomas Morus, Robert Owen e Campanella). OBS:
utópico - vem de utopia, que significa irrealizável.
- “O proletariado é o coveiro do capitalismo”, por ser
a classe social produtiva (portanto fértil, a que cria a
riqueza), por ser a classe social numericamente
superior e por viver condições de exploração (e
pobreza) inéditas na História da humanidade, capazes
de unificar os pensamentos em torno da necessidade
de construção de uma sociedade sem classes sociais.
(proletário = trabalhador assalariado)
- para Marx, o mundo caminha para o comunismo, e o
socialismo é uma etapa intermediária e necessária
para alcançá-lo. No socialismo ainda não seria possível
abrir mão do Estado (o Estado proletário), que teria
papel decisivo na repressão à classe burguesa e na
criação das bases de uma sociedade mais fraterna,
SOCIOLOGIA - 1º ANO - Apostila nº 2 - Página 4
Karl Marx
LITERATURA E MÚSICA RELACIONADA COM O TEMA:
Do texto "Os Dias da Comuna", de Bertold Brecht, tradução
de Fernando Peixoto.
COMUNA DE PARIS
"Resolução:
Considerando nossa fraqueza os senhores forjaram
Suas leis, para nos escravizarem.
As leis não mais serão respeitadas
Considerando que não queremos mais ser escravos.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.
Considerando que ficaremos famintos
Se suportarmos que continuem nos roubando
Queremos deixar bem claro que são apenas vidraças
Que nos separam deste bom pão que nos falta.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.
Considerando que existem grandes mansões
Enquanto os senhores nos deixam sem teto
Nós decidimos: agora nelas nos instalaremos
Porque em nossos buracos não temos mais condições de
ficar.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.
Considerando que está sobrando carvão
Enquanto nós gelamos de frio por falta de carvão
Nós decidimos que vamos tomá-lo
Considerando que ele nos aquecerá
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.
Considerando que para os senhores não é possível
Nos pagarem um salário justo
Tomaremos nós mesmos as fábricas
Considerando que sem os senhores, tudo será melhor para
nós.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.
Considerando que o que o governo nos promete sempre
Está muito longe de nos inspirar confiança
Nós decidimos tomar o poder
Para podermos levar uma vida melhor.
Considerando: vocês escutam os canhões
Outra linguagem não conseguem compreender Deveremos então, sim, isso valerá a pena
Apontar os canhões contra os senhores!
A INTERNACIONAL
Música: Pierre Degeyter. Letra: Eugene Pottier
De pé, ó vitimas da fome!
De pé, famélicos da terra!
Da idéia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra.
Cortai o mal bem pelo fundo!
De pé, de pé, não mais senhores!
Se nada somos em tal mundo,
Sejamos tudo, oh produtores!
Bem unido façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
(REFRÃO)
Senhores, patrões, chefes supremos,
Nada esperamos de nenhum!
Sejamos nós que conquistemos
A terra mãe livre e comum!
Para não ter protestos vãos,
Para sair desse antro estreito,
Façamos nós com nossas mãos
Tudo o que a nós nos diz respeito!
(REFRÃO)
O crime do rico a lei o cobre,
O Estado esmaga o oprimido.
Não há direitos para o pobre,
Ao rico tudo é permitido.
À opressão não mais sujeitos!
Somos iguais todos os seres.
Não mais deveres sem direitos,
Não mais direitos sem deveres!
(REFRÃO)
Abomináveis na grandeza,
Os reis da mina e da fornalha
Edificaram a riqueza
Sobre o suor de quem trabalha!
Todo o produto de quem sua
A corja rica o recolheu.
Querendo que ela o restitua,
O povo quer só o que é seu!
(REFRÃO)
Nós fomos de fumo embriagados,
Paz entre nós, guerra aos senhores!
Façamos greve de soldados!
Somos irmãos, trabalhadores!
Se a raça vil, cheia de galas,
Nos quer à força canibais,
Logo verá que as nossas balas
São para os vossos generais!
(REFRÃO)
Pois somos do povo os ativos
Trabalhador forte e fecundo.
Pertence a Terra aos produtivos;
Ó parasitas deixa o mundo
Ó parasitas que te nutres
Do nosso sangue a gotejar,
Se nos faltarem os abutres
Não deixa o sol de fulgurar!
(REFRÃO)
SOCIOLOGIA - 1º ANO - Apostila nº 2 - Página 5
ATÉ QUANDO?
Gabriel o Pensador, Itaal Shur e Tiago Mocotó
Não adianta olhar pro céu, com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer e muita
greve, você pode, você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão, virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus
sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer
Até quando você vai ficar usando rédea?
Rindo da própria tragédia?
Até quando você vai ficar usando rédea? (Pobre, rico, ou
classe média).
Até quando você vai levar cascudo mudo?
Muda, muda essa postura
Até quando você vai ficando mudo?
Muda que o medo é um modo de fazer censura.
Até quando você vai levando?
(Porrada! Porrada!)
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai levando?
(Porrada! Porrada!)
Até quando vai ser saco de pancada?
Você tenta ser feliz, não vê que é deprimente, seu filho sem
escola, seu velho tá sem dente
Cê tenta ser contente e não vê que é revoltante, você tá
sem emprego e a sua filha tá gestante
Você se faz de surdo, não vê que é absurdo, você que é
inocente foi preso em flagrante!
É tudo flagrante! É tudo flagrante!
Refrão
A polícia matou o estudante, falou que era bandido,
chamou de traficante.
A justiça prendeu o pé-rapado, soltou o deputado... e
absolveu os PMs de vigário!
Refrão
A polícia só existe pra manter você na lei, lei do silêncio, lei
do mais fraco: ou aceita ser um saco de pancada
ou vai pro saco.
A programação existe pra manter você na frente, na frente
da TV, que é pra te entreter, que é pra você não ver que o
programado é você.
Acordo, não tenho trabalho, procuro trabalho, quero
trabalhar.
O cara me pede o diploma, não tenho diploma, não pude
estudar.
E querem que eu seja educado, que eu ande arrumado, que
eu saiba falar
Aquilo que o mundo me pede não é o que o mundo me dá.
Consigo um emprego, começa o emprego, me mato de
tanto ralar.
Acordo bem cedo, não tenho sossego nem tempo pra
raciocinar.
Não peço arrego, mas onde que eu chego se eu fico no
mesmo lugar?
Brinquedo que o filho me pede,
não tenho dinheiro pra dar.
Escola, esmola!
Favela, cadeia!
Sem terra, enterra!
Sem renda, se renda!
Não! Não!!
Refrão
Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a
gente.
A gente muda o mundo na mudança da mente.
E quando a mente muda a gente anda pra frente.
E quando a gente manda ninguém manda na gente.
Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem
doença sem cura.
Na mudança de postura a gente fica mais seguro, na
mudança do presente a gente molda o futuro!
Até quando você vai ficar levando porrada, até quando vai
ficar sem fazer nada?
Até quando você vai ficar de saco de pancada?
Até quando você vai levando?
COMPORTAMENTO GERAL
Gonzaguinha
Você deve notar que não tem mais tutu
e dizer que não está preocupado
Você deve lutar pela xepa da feira
e dizer que está recompensado
Você deve estampar sempre um ar de alegria
e dizer: tudo tem melhorado
Você deve rezar pelo bem do patrão
e esquecer que está desempregado
Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?
Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?
Você deve aprender a baixar a cabeça
E dizer sempre: "Muito obrigado"
São palavras que ainda te deixam dizer
Por ser homem bem disciplinado
Deve pois só fazer pelo bem da Nação
Tudo aquilo que for ordenado
Pra ganhar um Fuscão no juízo final
E diploma de bem comportado
Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?
SOCIOLOGIA - 1º ANO - Apostila nº 2 - Página 6
BIS
A SOCIOLOGIA BURGUESA LIBERAL
Max Weber (1864-1920)
Max Weber nasceu na cidade de Erfurt (Alemanha),
numa família de burgueses liberais. Seu pai era jurista
e político influente. Sua mãe era protestante e
exerceu sobre Weber importante influência.
Desenvolveu estudos de direito, filosofia, história e
sociologia, constantemente interrompidos por uma
doença que o acompanhou por toda a vida. Iniciou a
carreira de professor em Berlim e, em 1895, foi
catedrático na Universidade de Heidelberg. Manteve
contato permanente com intelectuais de sua época,
como Simmel Sombart, Tönnies e Georg Lukács. Na
política, defendeu ardorosamente seus pontos de
vista liberais e parlamentaristas e participou da
comissão redatora da Constituição da República de
Weimar. Sua maior influência nos ramos
especializados da sociologia foi no estudo das
religiões, estabelecendo relações entre formações
políticas e crenças religiosas. Suas principais obras
foram: Artigos reunidos de teoria da ciência;
Economia e sociedade (obra póstuma) e A ética
protestante e o espírito do capitalismo.
Principais ideias e preocupações:
- Cada formação social adquiriu, para Weber,
especificidade e importância próprias. Mas o ponto de
partida da sociologia de Weber não estava nas
entidades coletivas, grupos ou instituições. Seu objeto
de investigação é a ação social, a conduta humana
dotada de sentido, isto é, de uma justificativa
subjetivamente elaborada. Assim, o homem passou a
ter, enquanto indivíduo, na teoria weberiana,
significado e especificidade. É ele que dá sentido à sua
ação social: estabelece a conexão entre o motivo da
ação, a ação propriamente dita e seus efeitos.
(princípio liberal burguês)
- Para a sociologia positivista, a ordem social submete
os indivíduos como força exterior a eles. Para Weber,
ao contrário, não existe oposição entre indivíduo e
sociedade: as normas sociais só se tornam concretas
quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma
de motivação. Cada sujeito age levado por um motivo
que é dado pela tradição, por interesses racionais ou
pela emotividade. O motivo que transparece na ação
social permite desvendar o seu sentido, que é social
na medida em que cada indivíduo age levando em
conta a resposta ou a reação de outros indivíduos.
- para Weber, ação social é diferente de relação social.
Para que se estabeleça uma relação social, é preciso
que o sentido seja compartilhado. Exemplo: um
sujeito que pede uma informação a outro estabelece
uma ação social (ele tem um motivo e age em relação
a outro indivíduo, mas tal motivo não é
compartilhado). Já numa sala de aula, onde o objetivo
da ação dos vários sujeitos é compartilhado, existe
uma relação social.
- para Weber, o cientista, como todo indivíduo em
ação, também age guiado por seus motivos, sua
cultura, sua tradição, sendo impossível descartar-se,
como propunha Durkheim, de suas pré-noções (para
Weber a ciência é limitada).
- segundo Weber, os fatos sociais não são coisas, mas
acontecimentos que o cientista percebe e cujas causas
procura desvendar. A neutralidade durkheimiana se
torna impossível nessa visão.
- a sociologia weberiana considera que os
acontecimentos que integram o social têm origem nos
indivíduos...
- qualquer que seja a perspectiva adotada pelo
cientista, ela sempre resultará numa explicação
parcial da realidade (crença de que não é possível
conhecer toda a realidade).
- para atingir a explicação dos fatos sociais, Weber
propôs um instrumento de análise que chamou de
tipo ideal.
- Definição de tipo ideal - “O tipo ideal não é um
modelo perfeito, a ser buscado pelas formações
históricas, nem mesmo qualquer realidade
observável. É um instrumento de análise científica,
numa construção do pensamento que permite
conceituar fenômenos e formações sociais e
identificar
na
realidade
observada
suas
manifestações. Permite ainda comparar tais
manifestações” (Costa, Cristina. In: “Sociologia:
Introdução à ciência da sociedade”. p. 75)
- pode-se dizer que em “A ética protestante e o
espírito do capitalismo”, Weber discute com o
materialismo histórico de Marx. Procura mostrar que
o protestantismo teve um papel decisivo na formação
do comportamento típico do capitalismo ocidental
moderno. Pretende, com isso, refutar a tese marxista
que afirma que o econômico é determinante.
Análise histórica e método compreensivo
Weber teve uma contribuição importantíssima para o
desenvolvimento da sociologia. Em meio a uma
SOCIOLOGIA - 1º ANO - Apostila nº 2 - Página 7
tradição filosófica peculiar, a alemã, e vivendo os
problemas de seu país, diversos dos da França e da
Inglaterra na mesma época, pôde trazer uma nova
visão, não influenciada pelos ideais políticos nem pelo
racionalismo positivista de origem anglo-francesa.
Sua contribuição para a sociologia tornou-se
referência obrigatória. Mostrou, em seus estudos, a
fecundidade da análise histórica e da compreensão
qualitativa dos processos históricos e sociais.
Embora polêmicos, seus trabalhos abriram as portas
para as particularidades históricas das sociedades e
para a descoberta do papel da subjetividade na ação e
na pesquisa social. Weber desenvolveu suas análises
de forma mais independente das ciências exatas e
naturais. Foi capaz de compreender a especificidade
das ciências humanas como aquelas que estudam o
homem como um ser diferente dos demais e,
portanto, sujeito a leis de ação e comportamento
próprios.
Outros sociólogos alemães puseram em prática o
método compreensivo de Weber, como Sombart,
também um estudioso do capitalismo ocidental.
Weber desenvolveu também trabalhos na área de
história econômica buscando as leis de
desenvolvimento das sociedades. Estudou ainda, com
base em fontes históricas, as relações entre o meio
urbano e o agrário e o acúmulo de capital auferido
pelas cidades por meio dessas relações. (ibdem)
MÚSICA RELACIONADA:
MUNDO CÃO
Sérgio Britto (Titãs)
Você pode se iludir
Mas ilusão custa caro
Pode até se divertir
Como um animal adestrado
Você tem direito a ter um advogado
Você pode falar
Mas é melhor ficar calado
A verdade é cruel
Mas é melhor que seja dita
Eu vou cuspir pro céu
Que ao menos me refresca a vista
Você pode pensar o que bem entender
Mas é melhor tomar cuidado
Que alguém pode se ofender
Mundo cão, mundo cão
Não estou vendo nada novo
Mundo cão, todos estão
Com uma coleira no pescoço
Mundo cão, mundo cão
Não estou vendo nada novo
Mundo cão, todos estão
Com uma coleira
Ninguém mandou ficar de quatro
Ninguém mandou
(2x)
Você pode ir em frente
Mas não pode olhar pros lados
Pode até comprar
O que não queria ter comprado
Pode ter razão
mas não pode estar certo
Você pode se mexer
Mas é melhor ficar quieto
A verdade liberta
A verdade é essa
Você pode querer mais
mas tudo tem a dose certa
Pode reclamar
Ninguém tem nada a ver com isso
Pode ler o que quiser
Mas vão queimar todos os livros
Mundo cão, mundo cão
Não estou vendo nada novo
Mundo cão, todos estão
Com uma coleira no pescoço
Mundo cão, mundo cão
Não estou vendo nada novo
Mundo cão, todos estão
Com uma coleira
Ninguém mandou ficar de quatro
Ninguém mandou
(2x)
Você pode gritar
Você pode latir
Pode aguardar na fila, não adianta insistir
Pague os impostos, vá brincar no quintal
Finja de morto, obedeça o sinal
Faça o favor de não falar, faça o favor de se humilhar
Pode esperar a sua vez, não adianta reclamar
Pegue o jornal, compareça à audiência
Leve uma vida normal, ainda role no chão
Mundo cão, mundo cão
Não estou vendo nada novo
Mundo cão, todos estão
Com uma coleira no pescoço
Mundo cão, mundo cão
Não estou vendo nada novo
Mundo cão, todos estão
Com uma coleira
Ninguém mandou ficar de quatro
Ninguém mandou
(4x)
SOCIOLOGIA - 1º ANO - Apostila nº 2 - Página 8
NA TELINHA DA SUA CASA VOCÊ É CIDADÃO? - MÍDIA E CULTURA NO CAPITALISMO GLOBALIZADO
A partir da II Revolução Industrial no século XIX e da
predominância das regras do mercado capitalista, as
artes, a cultura e a mídia foram submetidas à ideologia
da indústria cultural.
Ou seja, os produtos de criação da cultura dos homens
foram submetidos à idéia de consumo, como produtos
fabricados em série. As obras de arte se transformam em
meras mercadorias, produtos de consumo, onde a
maioria dos bens artísticos não são criados para a
contemplação, para a busca do belo, e, sim, para a
obtenção do lucro.
A indústria cultural massifica a cultura e as artes para o
consumo rápido no mercado da moda e na mídia.
Massificar é banalizar as artes e a produção das idéias e,
também, vulgarizar os conhecimentos.
Marilena Chauí (1995) nos dá um exemplo disso
afirmando:
"A indústria cultural vende cultura. Para vendê-la, deve
seduzir e agradar o consumidor. Para seduzi-lo, não
pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar. Fazê-lo ter
informações novas que perturbem, mas deve devolverlhe, com nova aparência, o que ele já sabe, já viu, já fez".
Daí surgem as revistas de fofocas, o teclado, o MSN, os
programas de TV sobre futilidades, os comerciais que
tentam vender produtos sem qualidades, mas com
ótima produção de marketing.
O poder da mídia - Expressão máxima da indústria
cultural são os meios de comunicação de massa, ou
mídia escrita ou eletrônica. Aqui vale destacar o poder
da mídia enquanto manipulação, formação de opinião,
infantilização e condicionamento de mentes e
produção cultural do grotesco visando a despolitização.
Essas características da mídia se expressam
particularmente através da TV, rádio, jornais e revistas,
que são de fácil acesso à grande maioria das pessoas.
Muitos estudiosos, jornalistas e políticos costumam dizer
que a mídia - ou meios de comunicação de massa representa um quarto poder (além dos poderes
governamentais do judiciário, do legislativo e do
executivo). Isto porque influencia comportamentos,
opiniões e atitudes de forma constante e permanente.
minutos de programa e a desconcentrá-la durante as
pausas para a publicidade."
"Pouco a pouco isso se torna um hábito. Artistas de
teatro afirmam que, durante um espetáculo, sentem o
público ficar desatento a cada sete minutos. Professores
observam que seus alunos perdem a atenção a cada dez
minutos e só voltam a se concentrar após uma pausa
que dão a si mesmos, como se dividissem a aula em
'programa' e 'comercial'."
"Ora, um dos resultados dessa mudança mental
transparece quando criança e jovem tentam ler um livro:
não conseguem ler mais do que sete a dez minutos de
cada vez, não conseguem suportar a ausência de
imagens e ilustrações no texto, não suportam a idéia de
precisar ler 'um livro inteiro'. A atenção e a
concentração, a capacidade de abstração intelectual e
de exercício do pensamento foram destruídas. Como
esperar que possam desejar e interessar-se pelas obras
de artes e de pensamento?"
"Por ser um ramo da indústria cultural e, portanto, por
ser fundamentalmente uma vendedora de cultura que
precisa agradar o consumidor, a mídia infantiliza. Como
isso acontece? Uma pessoa (criança ou não) é infantil
quando não consegue suportar a distância temporal
entre seu desejo e a satisfação dele. A criança é infantil
justamente porque para ela o intervalo entre o desejo e
a satisfação é intolerável (por isso a criança pequena
chora tanto)."
"Ora, o que faz a mídia? Promete e oferece gratificação
instantânea. Como o consegue? Criando em nós os
desejos e oferecendo produtos (publicidade e
programação) para satisfazê-los. O ouvinte que gira o
dial do aparelho de rádio continuamente e o
telespectador que muda continuamente de canal o
fazem porque sabem que, em algum lugar, seu desejo
será imediatamente satisfeito."
"Vale a pena, também, mencionar dois outros efeitos
que a mídia produz em nossas mentes: a dispersão da
atenção e a infantilização."
Além disso, como a programação se dirige ao que já
sabemos e já gostamos, e como toma a cultura sob a
forma de lazer e entretenimento, a mídia satisfaz,
imediatamente nossos desejos porque não exige de nós
atenção, pensamento, reflexão, crítica, perturbação de
nossa sensibilidade e de nossa fantasia. Em suma, não
nos pede o que as obras de arte e de pensamento nos
pedem: trabalho sensorial e mental para compreendêlas, amá-las, criticá-las, superá-las. A cultura nos satisfaz
se tivermos paciência para compreendê-la e decifrá-la.
Exige maturidade. A mídia nos satisfaz porque nada nos
pede, senão que permaneçamos para sempre infantis."
"Para atender aos interesses econômicos dos
patrocinadores, a mídia divide a programação em blocos
que duram de sete a dez minutos, cada bloco sendo
interrompido pelos comerciais. Essa divisão do tempo
nos leva a concentrar a atenção durante os sete ou dez
(Trecho extraído do livro: "Sociologia para jovens do
século XXI", de OLIVEIRA, Luiz F. de & COSTA, Ricardo
Cesar R. da)
Vejamos essa passagem do livro Convite à Filosofia, de
Marilena Chauí (1995):
SOCIOLOGIA - 1º ANO - Apostila nº 2 - Página 9
A ideologia Alemã
Karl Marx e Friedrich Engels
(Trechos extraídos da edição da Boitempo)
MATERIALISMO E HISTÓRIA
Na medida em que Feuerbach é materialista, nele não se
encontra a história, e na medida em que toma em
consideração a história ele não é materialista. Nele,
materialismo e história divergem completamente... Em
relação aos alemães, que se consideram isentos de
pressupostos, devemos começar por constatar o
primeiro pressuposto de toda a existência humana e
também, portanto, de toda a história, a saber, o
pressuposto de que os homens têm de estar em
condições de viver para poder 'fazer história'. Mas, para
viver, precisa-se, antes de tudo, de comida, bebida,
moradia, vestimenta e algumas coisas mais. O primeiro
ato histórico é, pois, a produção dos meios para a
satisfação dessas necessidades, a produção da própria
vida material, e este é, sem dúvida, um ato histórico,
uma condição fundamental de toda a história, que ainda
hoje, assim como há milênios, tem de ser cumprida
diariamente, a cada hora, simplesmente para manter os
homens vivos. Mesmo que o mundo sensível, como em
São Bruno, seja reduzido a um cajado, a um mínimo, ele
pressupõe a atividade de produção desse cajado. A
primeira coisa a fazer em qualquer concepção histórica
é, portanto, observar esse fato fundamental em toda a
sua significação e em todo o seu alcance e a ele fazer
justiça. Isto, como é sabido, jamais foi feito pelos
alemães, razão pela qual eles nunca tiveram uma base
terrena para a história e, por conseguinte, nunca tiveram
um historiador...
O segundo ponto é que a satisfação dessa primeira
necessidade, a ação de satisfazê-la e o instrumento de
satisfação já adquirido conduzem a novas necessidades e essa produção de novas necessidades constitui o
primeiro ato histórico. Por aqui se mostra, desde já, de
quem descende espiritualmente a grande sabedoria
histórica dos alemães, que, quando lhes falta o material
positivo e quando não se trata de discutir disparates
políticos, teológicos ou literários, nada nos oferecem
sobre a história, mas sim sobre os 'tempos préhistóricos', contudo sem nos explicar como se passa
desse absurdo da 'pré-história' à história propriamente
dita - ainda que, por outra parte, sua especulação
histórica se detenha em especial sobre essa 'préhistória', porque nesse terreno ela se crê a salvo da
interferência dos 'fatos crus' e, ao mesmo tempo,
porque ali ela pode dar rédeas soltas aos seus impulsos
especulativos e produzir e destruir milhares de
hipóteses.
A terceira condição que já de início intervém no
desenvolvimento histórico é que os homens, que
renovam diariamente sua própria vida, começam a criar
outros homens, a procriar - a relação entre homem e
mulher, entre pais e filhos, a família. Essa família, que no
início constitui a única relação social, torna-se mais
tarde, quando as necessidades aumentadas criam novas
relações sociais e o crescimento da população gera
novas necessidades, uma relação secundária (salvo na
Alemanha) e deve, portanto, ser tratada e desenvolvida
segundo os dados empíricos existentes e não segundo o
'conceito de família', como se costuma fazer na
Alemanha. Ademais, esses três aspectos da atividade
social não devem ser considerados como três estágios
distintos, mas sim apenas como três aspectos ou, a fim
de escrever de modo claro aos alemães, como três
'momentos' que coexistiram desde os primórdios da
história e desde os primeiros homens, e que ainda hoje
se fazem valer na história.
A produção da vida, tanto da própria, no trabalho,
quanto da alheia, na procriação, aparece desde já como
uma relação dupla -, social no sentido de que por ela se
entende a cooperação de vários indivíduos, sejam quais
forem as condições, o modo e a finalidade. Segue-se daí
que um determinado modo de produção ou uma
determinada fase industrial estão sempre ligados a um
determinado modo de cooperação ou a uma
determinada fase social - modo de cooperação que é, ele
próprio, uma 'força produtiva'. - que a soma das forças
produtivas acessíveis ao homem condiciona o estado
social e que, portanto, a 'história da humanidade' deve
ser estudada e elaborada sempre em conexão com a
história da indústria e das trocas... Mostra-se, portanto,
desde o princípio, uma conexão materialista dos homens
entre si, conexão que depende das necessidades e do
modo de produção e que é tão antiga quanto os próprios
homens - uma conexão que assume sempre novas
formas e que apresenta, assim, uma 'história', sem que
precise existir qualquer absurdo político ou religioso que
também mantenha os homens unidos.
Somente agora, depois de já termos examinado quatro
momentos, quatro aspectos das relações históricas
originárias, descobrimos que o homem tem também
'consciência'. Mas essa também não é, desde o início,
consciência 'pura'. O 'espírito' sofre, desde o início, a
maldição de estar 'contaminado' pela matéria, que, aqui,
se manifesta sob a forma de camadas de ar em
movimento, de sons, em suma, sob a forma de
linguagem. A linguagem é tão antiga quanto a
consciência - a linguagem é consciência real, prática, que
existe para os outros homens e que, portanto, também
existe para mim mesmo; e a linguagem nasce, tal como a
consciência, do carecimento, da necessidade de
intercâmbio com outros homens. Desde o início,
portanto, a consciência já é um produto social e
continuará sendo enquanto existirem homens. A
consciência é, naturalmente, antes de tudo a mera
consciência do meio sensível mais imediato e
consciência do vínculo limitado com outras pessoas e
coisas exteriores ao indivíduo que se torna consciente;
SOCIOLOGIA - 1º ANO - Apostila nº 2 - Página 10
ela é, ao mesmo tempo, consciência da natureza que,
inicialmente, se apresenta aos homens como um poder
totalmente estranho, onipotente e inabalável, com o
qual os homens se relacionam de um modo puramente
animal e diante do qual se deixam impressionar como o
gado; é, desse modo, uma consciência puramente
animal da natureza (religião natural) - e, por outro lado,
a consciência da necessidade de firmar relações com os
indivíduos que o cercam constitui o começo da
consciência de que o homem definitivamente vive numa
sociedade. Esse começo é algo tão animal quanto a
própria vida social nessa fase; é uma mera consciência
gregária, e o homem se diferencia do carneiro, aqui,
somente pelo fato de que, no homem, sua consciência
toma lugar do instinto ou de que seu instinto é um
instinto consciente. Essa consciência de carneiro ou
consciência tribal obtém seu desenvolvimento e seu
aperfeiçoamento ulteriores por meio da produtividade
aumentada, do incremento das necessidades e do
aumento da população, que é a base dos dois primeiros.
Com isso, desenvolve-se a divisão do trabalho, que
originalmente nada mais era do que a divisão do
trabalho no ato sexual e, em seguida, divisão do trabalho
que, em consequência de disposições naturais (por
exemplo, a força corporal), necessidades, casualidades
etc. etc., desenvolve-se por si própria ou 'naturalmente'.
DIVISÃO DO TRABALHO E PROPRIEDADE PRIVADA
A divisão do trabalho só se torna realmente divisão a
partir do momento em que surge uma divisão entre
trabalho material e [trabalho] espiritual. A partir desse
momento, a consciência pode realmente imaginar ser
outra coisa diferente da consciência da práxis existente,
representar algo realmente sem representar algo real - a
partir de então, a consciência está em condições de
emancipar-se do mundo e lançar-se à construção da
teoria, da teologia, da filosofia, da moral etc. 'puras'.
(...) Além do mais, é completamente indiferente o que a
consciência sozinha empreenda, pois de toda essa
imundície obtemos apenas um único resultado: que
esses três momentos, a saber, a força de produção, o
estado social e a consciência, podem e devem entrar em
contradição entre si, porque com a divisão do trabalho
está dada a possibilidade, e até a realidade, de que as
atividades espiritual e material - de que a fruição e o
trabalho, a produção e o consumo - caibam a indivíduos
diferentes, e a possibilidade de que esses momentos não
entrem em contradição reside somente em que a divisão
do trabalho seja novamente suprassumida (=superada,
atinja o supra-sumo, o cume)...
Com a divisão do trabalho, na qual todas essas
contradições estão dadas e que, por sua vez, se baseia
na divisão natural do trabalho na família e na separação
da sociedade em diversas famílias opostas umas às
outras, estão dadas ao mesmo tempo a distribuição e,
mais precisamente, a distribuição desigual, tanto
quantitativa quanto qualitativamente, do trabalho e de
seus produtos; portanto, está dada a propriedade, que já
tem seu embrião, sua primeira forma, na família, onde a
mulher e os filhos são escravos do homem. A escravidão
na família, ainda latente e rústica, é a primeira
propriedade, que aqui, diga-se de passagem,
corresponde já à definição dos economistas modernos,
segundo a qual a propriedade é o poder de dispor da
força de trabalho alheia. Além do mais, divisão do
trabalho e propriedade privada são expressões idênticas
- numa é dito com relação à própria atividade aquilo
que, noutra, é dito com relação ao produto da atividade.
DIVISÃO DO TRABALHO E COMUNISMO
Além disso, com a divisão do trabalho, dá-se ao mesmo
tempo a contradição entre o interesse dos indivíduos ou
das famílias singulares e o interesse coletivo de todos os
indivíduos que se relacionam mutuamente; e, sem
dúvida, esse interesse coletivo não existe meramente na
representação, como 'interesse geral', mas, antes, na
realidade, como dependência recíproca dos indivíduos
entre os quais o trabalho está dividido. (...) Logo que o
trabalho começa a ser distribuído, cada um passa a ter
um campo de atividade exclusivo e determinado, que lhe
é imposto e ao qual não pode escapar; o indivíduo é
caçador, pescador, pastor ou crítico crítico, e assim deve
permanecer se não quiser perder seu meio de vida - ao
passo que, na sociedade comunista, onde cada um não
tem um campo de atividade exclusivo, mas pode
aperfeiçoar-se em todos os ramos que lhe agradam, a
sociedade regula a produção geral e me confere, assim,
a possibilidade de hoje fazer isso, amanhã aquilo, de
caçar pela manhã, pescar à tarde, à noite dedicar-me à
criação de gado, criticar após o jantar, exatamente de
acordo com a minha vontade, sem que eu jamais me
torne caçador, pescador, pastor ou crítico. Esse fixar-se
da atividade social, essa consolidação de nosso próprio
produto num poder objetivo situado acima de nós, que
foge ao nosso controle, que contraria nossas
expectativas e aniquila nossas conjecturas, é um dos
principais momentos no desenvolvimento histórico até
aqui realizado.
DIVISÃO DO TRABALHO E ALIENAÇÂO
O poder social, isto é, a força de produção multiplicada
que nasce da cooperação dos diversos indivíduos
condicionada pela divisão do trabalho, aparece a esses
indivíduos, porque a própria cooperação não é
voluntária mas natural, não como seu próprio poder
unificado, mas sim como uma potência estranha, situada
fora deles, sobre a qual não sabem de onde veio nem
para onde vai, uma potência, portanto, que não podem
mais controlar e que, pelo contrário, percorre agora uma
sequência particular de fases e etapas de
desenvolvimento, independente do querer e do agir dos
homens e que até mesmo dirige esse quere e esse agir.
[Essa 'alienação', para usarmos um termo compreensível
aos filósofos, só pode ser superada, evidentemente, sob
SOCIOLOGIA - 1º ANO - Apostila nº 2 - Página 11
dois pressupostos práticos. Para que ela se torne um
poder 'insuportável', quer dizer, um poder contra o qual
se faz uma revolução, é preciso que ela tenha produzido
a massa da humanidade como absolutamente 'sem
propriedades' e ao mesmo tempo, em contradição com
um mundo de riqueza e de cultura existente, condições
que pressupõem um grande aumento da força
produtiva, um alto grau de seu desenvolvimento - e por
outro lado, esse desenvolvimento das forças produtivas
(no qual já está contida ao mesmo tempo, a existência
empírica humana, dada não no plano local, mas no plano
histórico mundial) é um pressuposto prático,
absolutamente necessário, pois sem ele apenas se
generaliza a escassez e, portanto, com a carestia, as lutas
pelos gêneros necessários recomeçariam e toda a velha
imundície acabaria por se restabelecer; além disso,
apenas com esse desenvolvimento universal das forças
produtivas é posto um intercâmbio universal dos
homens e, com isso, é produzido simultaneamente em
todos os povos o fenômeno da massa 'sem propriedade'
(concorrência universal), tornando cada um deles
dependente das revoluções do outro; e, finalmente
indivíduos
empiricamente
universais,
históricos
mundiais, são postos no lugar dos indivíduos locais... O
comunismo, empiricamente, é apenas possível como
ação 'repentina' e simultânea dos povos dominantes, o
que pressupõe o desenvolvimento universal da força
produtiva e o intercâmbio mundial associado a esse
desenvolvimento.]
(...) No desenvolvimento das forças produtivas advém
uma fase em que surgem forças produtivas e meios de
intercâmbio que, no marco das relações existentes,
causam somente malefícios e não são mais forças de
produção, mas forças de destruição (maquinaria e
dinheiro) - e ligada a isso, surge uma classe que tem de
suportar todos os fardos da sociedade sem desfrutar de
suas vantagens e que, expulsa da sociedade, é forçada à
mais decidida oposição a todas as outras classes; uma
classe que configura a maioria dos membros da
sociedade e da qual emana a consciência da necessidade
de uma revolução radical, a consciência comunista, que
também pode se formar, naturalmente, entre as outras
classes, graças à percepção da situação dessa classe...
AS IDEIAS DOMINANTES
As ideias da classe dominante são, em cada época, as
ideias dominantes, isto é, a classe que é a força material
dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força
espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição
os meios da produção material dispõe também dos
meios da produção espiritual, de modo que a ela estão
submetidos aproximadamente ao mesmo tempo os
pensamentos daqueles aos quais faltam os meios da
produção espiritual. As ideias dominantes não são nada
mais do que a expressão ideal das relações materiais
dominantes, são as relações materiais dominantes
apreendidas como ideias; portanto, são a expressão das
relações que fazem de uma classe a classe dominante,
são as ideias de sua dominação. Os indivíduos que
compõem a classe dominante possuem, entre outras
coisas, também consciência e, por isso, pensam; na
medida em que dominam como classe e determinam
todo o âmbito de uma época histórica, é evidente que
eles o fazem em toda a sua extensão, portanto, entre
outras coisas, que eles dominam também como
pensadores, como produtores de ideias, que regulam a
produção e a distribuição das ideias de seu tempo; e por
conseguinte, que suas ideias são as ideias dominantes da
época.
SOCIEDADE CIVIL
A palavra sociedade civil surgiu no século XVIII, quando
as relações de propriedade já haviam se libertado da
comunidade antiga e medieval. A sociedade civil como
tal, desenvolve-se somente com a burguesia; com este
mesmo nome, no entanto, foi continuamente designada
a organização social que se desenvolve diretamente a
partir da produção e do intercâmbio e que constitui em
todos os tempos a base do Estado e da restante
superestrutura idealista.
IDEOLOGIA
A consciência não pode jamais ser outra coisa do que o
ser consciente e o ser dos homens é o seu processo de
vida real. Se, em toda a ideologia, os homens e suas
relações aparecem de cabeça para baixo como numa
câmara escura, este fenômeno resulta do seu processo
histórico de vida, da mesma forma como a inversão dos
objetos na retina resulta do seu processo de vida
imediatamente físico.
Totalmente ao contrário da filosofia alemã, que desce do
céu à terra, aqui se eleva da terra ao céu. Quer dizer,
não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam ou
representam, tampouco dos homens pensados,
imaginados e representados para, a partir daí, chegar
aos homens de carne e osso; parte-se dos homens
realmente ativos e, a partir de seu processo de vida real,
expõe-se também o desenvolvimento dos reflexos
ideológicos e dos ecos desse processo de vida. Também
as formações nebulosas na cabeça dos homens são
sublimações necessárias de seu processo de vida
material, processo empiricamente constatável e ligado a
pressupostos materiais. A moral, a religião, a metafísica
e qualquer outra ideologia, bem como as formas de
consciência a elas correspondentes são privadas, aqui,
da aparência de autonomia que até então possuíam.
Não têm história nem desenvolvimento; mas os homens,
ao desenvolverem sua produção e seu intercâmbio
materiais, transformam também, com esta sua
realidade, seu pensar e os produtos de seu pensar. Não é
a consciência que determina a vida, mas a vida que
determina a consciência...
SOCIOLOGIA - 1º ANO - Apostila nº 2 - Página 12
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