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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
INCIDÊNCIA DE LEPTOSPIROSE EM CÃES ERRANTES
ACOLHIDOS NO CENTRO DE CONTROLE E ZOONOSES DE
CURITIBA
CHECKING LEPTOSPIROSIS OCCURRENCE IN NOMADIC DOGS
LODGED IN THE CONTROL OF ZOONOSIS AND VECTORS CENTER,
IN CURITIBA
Dayane Domingues Negrão1
Dicezar Gonçalves2
RESUMO
A leptospirose canina é uma grave doença, pela sua patogenia e epidemiologia, e pelo alto potencial de
risco ao ser humano, sendo transmitida através da urina de roedores e caninos. Nesta pesquisa objetivou
verificar a ocorrência da infecção por Leptospira spp em cães errantes no município de Curitiba, Paraná,
Brasil, acolhidos no seu Centro de Controle e Zoonoses e Vetores. Para determinação sorológica da
doença, foram colhidas 40 amostras de sangue, representativas da totalidade de cães alojados naquele
Centro, no período de agosto a outubro de 2012, as quais foram testadas por meio de soro aglutinação
microscópica (SAM), para 9 sorovares de Leptospira spp, comuns na região. Os resultados revelaram
que 5,0% (2/40) foram suspeitos da doença (p<0,05), para os sorovares Copenhageni e
Icterohaemorrhagiae. A incidência encontrada mostrou que pesquisas mais ampla devem ser realizadas
a fim de verificar o real papel de caninos na cadeia epidemiológica da doença.
Palavras-Chave: Leptospirose, cães errantes, incidência
ABSTRACT
Canine leptospirosis is a serious disease, for its pathogenesis and epidemiology and also for the high risk
to the human being, because is transmitted through for the urine of rodents and dogs. This research
aimed to verify in nomadic dogs, received in the Control Center of Zoonosis and Vectors in the Curitiba
city, Paraná, Brazil, to verify the occurrence of Leptospira spp. serovar infections. To serological
determinations (SAM), we collected 40 representative blood samples in the population lodged in this
Center, in the period between august and october of 2012 and the samples were tested to 9 common
Leptospira serovar in this state region. The results showed 5.0% (2/40), suspected dogs (p<0.05), to
Copenhageni and Icterohaemorrhagiae serovar. The detect incidence of disease showed that ample
researches must be carried through in order to verify the real paper of dogs in the epidemiologic chain of
the illness.
Key words: Leptospirosis, nomadic dogs, incidence
1
Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade
Evangélica do Paraná
2
Professor Dr. da Disciplina de Saneamento e Zoonoses do Curso
de Medicina Veterinária da FEPAR.
Aprovado em: 05/12/2012
Autor para correspondência: Dicezar Gonçalves
Contato: [email protected]
Revista Eletrônica da Faculdade Evangélica do Paraná, Curitiba, v.2, n.4, p.63-68, out./dez. 2012. 63
ASPECTOS BIOTECNOLÓGICOS DE UM POLISSACARÍDEO DE SACCHAROMYCES
CEREVISIAE (MANANA) NA MEDICINA VETERINÁRIA
INTRODUÇÃO
A leptospirose é uma zoonose com distribuição mundial, tendo sido descrita em todos os tipos de
vertebrados de sangue quente, especialmente cães(1). Pela proximidade entre seres humanos e cães e
pela capacidade destes em eliminar leptospiras vivas através da urina, mesmo sem apresentar nenhum
sinal clínico, faz com que leptospirose seja uma das principais zoonoses(2).
Segundo autores(3) a maior relevância deve ser dada aos portadores convalescentes ou sadios, a
quem se atribui a persistência de focos da doença, por excretarem leptospiras vivas, por períodos de
longa duração. É uma doença de curso agudo e crônico, de ocorrência endêmica e caráter sistêmico que
afeta diversas espécies de animais domésticos e silvestres, e aos seres humanos. É amplamente
disseminada, assumindo o papel de problema econômico e de saúde pública (3).
A ocorrência da leptospirose é variável nas diferentes regiões do mundo, podendo apresentar
esporadicamente ou de forma endêmica(1). Porém a dependência de sorovares de leptospira spp varia de
acordo com a região geográfica. A prevalência desta enfermidade em cães é influenciada por vários
fatores, ressaltando-se os índices pluviométricos e a presença de roedores(4), fazendo com que os surtos
se reproduzam pela exposição à água contaminada com a urina ou tecidos de animais infectados(3).
Os inquéritos sorológicos exercem um papel de relevância indiscutível no controle da infecção,
pois permitem o conhecimento das diferentes sorovariedades existentes em determinada região(3).
Pesquisadores relataram que os sinais clínicos dependem da idade e da imunidade do hospedeiro, dos
fatores ambientais que afetam os microrganismos e da virulência do sorotipo infectante(5).
O tratamento da leptospirose em cães, é realizado por meio de antibióticos como a penicilina, e a
prevenção é feita com a aplicação de vacinas anualmente e por ações profiláticas às fontes de infecções.
Estima-se que a população canina da cidade de Curitiba com donos, esteja em torno de 120 mil
cães, porém não se tem referências sobre o número de cães errantes, sabendo-se apenas ser um número
significativo. Esses animais nas ruas, praças e parques em contato direto com humanos e outros animais,
como os roedores e até mesmo outros cães, associados ao grande volume de chuvas da cidade, torna
Curitiba um fator predisponente para os surtos de leptospirose.
OBJETIVO
Avaliar por meio de determinações sorológicas de anticorpos, a ocorrência de possíveis
sorovares de Leptospira spp, e a incidência de leptospirose em cães errantes acolhidos junto ao Centro
de Controle de Zoonoses e Vetores da cidade de Curitiba.
MATERIAL E MÉTODO
A pesquisa foi realizada na cidade de Curitiba, PR, localizada na região sul do Brasil, cuja área
territorial é de 435 km², ficando situado a 934 m de altitude, sendo parte do primeiro planalto
paranaense, próxima a serra do mar, e a 110 quilômetros do Oceano Atlântico. Por estas e outras razões,
a cidade possui clima pluvial quente- temperado, com temperaturas máximas médias de 29 °C, podendo
chegar a 34° C, e no inverno, a temperatura média é de 13° C, com uma precipitação pluviométrica
anual de aproximadamente 1.500 mm.
Para realização da pesquisa, foram utilizadas 40 amostras séricas de cães errantes acolhidos no
Centro de Controle e Zoonoses e Vetores de Curitiba, os quais foram capturados nas ruas de diversos
bairros da cidade pela Guarda Municipal, durante o período de agosto a outubro de 2012. As amostras
foram obtidas aleatoriamente, pela disponibilidade de cães nos dias de coleta. Do total de 40 animais, 19
eram fêmeas, e 21 machos. Fatores como idade, porte, e sexo não foram levados em consideração. A
colheita de sangue foi efetuada por punção da veia cefálica ou jugular utilizando seringas de 10 mL.
Para o diagnostico sorológico da infecção por leptospira spp, foi utilizada a técnica de
soroaglutinação microscópica (SAM), lançando mão de uma coleção de antígenos vivos incluindo 9
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CEREVISIAE (MANANA) NA MEDICINA VETERINÁRIA
sorovares: Icterohaemorrhagiae, Canicola, Pomona, Hardjo, Tassarovi, Bratislava, Grippotyphosa,
Hhebdomadis e Wolffi.
A triagem realizada no laboratório Veterinária Preventiva, em Curitiba foi efetuada na diluição
de 1:100 e, quando houve aglutinação, os soros foram titulados em uma série geométrica de diluições de
razão dois. O título foi dado como recíproca da maior diluição em que houve 50,0% de aglutinação. O
tamanho da amostra foi estimado de acordo com cálculos para amostragem infinita, e a significância dos
resultados, dada teste do qui-quadrado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apesar de que a incidência e a prevalência de leptospirose sejam variáveis de acordo com a
região geográfica, com a época do ano, levando em consideração as estações das águas e das secas, a
hipótese inicial do presente trabalho, era de que a incidência seria alta, haja vista o papel de roedores na
transmissão da doença em grande centros populacionais. Os resultados obtidos podem ser vistos na
tabela 1.
Tabela 1. Amostras sorológicas de cães alojados no CCZV de Curitiba, testadas para
9 sorotipos de Leptospira spp, mostrando os resultados obtidos e significância do
achado (n=40)
Caninos testados
Negativos
Positivos
Porcentagem
Machos
21
0
0
Fêmeas
17
2
0,1
Total
38
02(*)
5,0
(*)
Titulo de 1:50
A soropositividade para leptospirose em cães errantes acolhidos pelo Centro de Controle e
Zoonoses de Curitiba foi de 5,0 %, quando considerada reações para quaisquer dos sorovares utilizados
como antígenos. Dos 40 soros examinados, 38 (95%) foram negativas e 2 (5%) foram reagentes, com
título de 1:50, e portanto suspeitos para a doença Nas amostras suspeitas de serem positivas, os
sorovares mais frequentes foram: Copenhageni e Icterohaemorrhagiae.
A prevelencia da leptospirose em cães varia conforme as localidades e entre os países, sendo
mais elevada em regiões tropicais (6). Devemos levar em consideração que o presente estudo foi
realizado em uma região onde o clima era considerado “cfa1”, sendo classificado como “cfa2”. Nos
meses de agosto a outubro, onde a temperatura média mínima foi de 14° C, e a máxima mediana foi de
26° C, dados do Simepar ( Sistema Meteorológico do Paraná), o mês de outubro chegou ao fim com um
volume de chuva de 162 milímetros, levemente superior á média climatológica da região, de 133
milímetros. Concluindo que o período de realização dos estudos, apresentou-se como ideal, pois foi de
temperaturas altas e de acentuada umidade, contudo os resultados de soropositividade foram baixos.
Por outro lado, os sorovares mais comumente associados e conhecidos da leptospirose canina
clássica são icterohaemorrahagiae e canicola. Porém, relatos como (6), citam que as variantes
sorológicas Copenhageni; Icterohaemorrhagiae foram encontradas em alta freqüência em amostras
séricas de cães, e, no presente estudo a análise dos resultados revelou ocorrência de coaglutinação destes
sorovares, coincidindo com esta pesquisa(6).
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CEREVISIAE (MANANA) NA MEDICINA VETERINÁRIA
Os fatores de riscos associados á leptospirose em cães no município de Londrina- PR (4) relatou
que os sorovares mais freqüentes foram Pyrogenes em 45% dos casos, sendo que este sorovar é
considerado acidental para cães, e como era de se esperar, o sorovar Icterohaemorrhagiae foi
encontrado em 40% dos casos. Outros sorovares mais prevalentes foram Canicola e Copenhageni(6).
Outro estudo na região de Curitiba (7) encontrou como sorovar mais freqüente, o Copenhageni,
num total de 86,84 %. Os soros reagentes para o sorovar Canicola e Icterohaemorrhagiae, foram 9,65 e
2,63%, respectivamente. De acordo com autores (3) a ausência de reações para a sorovariedade Canicola
é um fator surpresa, pois a mesma é reconhecidamente a mais encontrada em cães.
A alta presença do sorovar Copenhageni nas pesquisas consultadas(7) , requer maior atenção, visto
que não existe uma imunidade cruzada entre os diferentes sorovares(7), e as vacinas veterinárias
disponíveis são compostas, basicamente, pelos sorovares Canicola e Icterohaemorrhagiae. Novas
pesquisas que corroborem os resultados encontrados(7), reforçaria a importância em se desenvolver
novas vacinas, visando uma maior efetividade e imunidade mais duradoura (7).
Outro fator de grande atenção é que a Leptospira interrogans, sorovar Copenhageni é o principal
agente etiológico da doença em humanos nas regiões sudeste e nordeste do Brasil (8). A prevalência do
sorovar Copenhageni aponta a importância da população de roedores na transmissão da doença e reforça
a necessidade de programas de controle desses animais(9).
Ambos os cães nos quais se determinou sorologia reagente, foram para o titulo de 1:50, podendo
ser compatíveis com início de infecção ou vacinação(7; 10), e nestes casos é recomendado colher nova
amostra após 03 dias, e repetir a soroaglutinação.
Outros exames sorológicos são igualmente de grande auxilio neste diagnóstico, como por
exemplo, o imunoenzimatico, (cELISA-IgM). É um teste bastante sensível, específico, rápido e de fácil
execução, o qual é utilizado para detectar anticorpos de classe IgM. Apesar de ser bastante empregado,
em amostras obtidas na primeira semana após início dos sintomas e em amostras de indivíduos
provenientes de áreas endêmicas, o cELISA, que apresenta alta sensibilidade, segundo autores (11; 12),
tem especificidade menor quando comparado com a soroaglutinação, principalmente quando se quer
estudar especificamente o sorovar de leptospira.
Com isso, o teste de soroaglutinação é o mais utilizado na rotina clínica, sendo teste de
referência preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)(11). Como utiliza vários sorovares,
como feito nesta pesquisa, esta técnica fornece informações a respeito da ocorrência de sorogrupos nas
diferentes regiões, e revelam dados epidemiológicos importantes. Contudo, a maior dificuldade
encontra-se na interpretação dos resultados, visto que os soros dos indivíduos com títulos positivos
geralmente apresentam reações cruzadas à uma variedade de sorovares, dificultando a identificação do
infectante.
Métodos moleculares realizados com o DNA bacteriano como a PCR podem ser utilizados,
embora muito onerosos ainda. Exames bacteriológicos podem ser importantes quando se necessita do
isolamento bacteriano.
Outros fatores devem ser levados em conta, e podem justificar o baixo índice de prevalência de
leptospirose nesta pesquisa. Dentre eles pode-se citar: histórico desconhecido de vacinação antileptospirose desses animais; as suas origens, mostrando de quais regiões da Capital, eram provenientes;
se possuiam cohabitação ou eram animais de rua; se tinham acesso a água parada, ou se receberam
alguma medicação no CCZV.
CONCLUSÕES
Os resultados encontrados nos permitem concluir que a incidência de leptospirose nos cães
alojados no Centro foi mais baixa do que citam muitos relatos.
O aparecimento do sorovar Copenhageni
corrobora as citações de outros trabalhos
mencionados, merecendo melhores estudos nas áreas imunológicas e de profilaxia.
A utilização dos métodos SAM, MAT ou cELISA, permitiriam a realização de diagnósticos e
estudos epidemiolócios mais específicos.
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Os resultados nos mostram que na Capital paranaense o papel dos cães na cadeia epidemiológica
pode não ser de grande relevância, devendo futuros estudos serem centrados em roedores, tidos como
transmissores do sorovar Copenhageni.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Centro de Controle de Zoonoses e Vetores de Curitiba (CCZV),
vinculado a Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, pelo grande espírito científico demonstrado, ao
permitir e auxiliar na realização da presente pesquisa.
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