APLICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE AÇÃO EDUCATIVA SOBRE PREVENÇÃO DE QUEIMADURAS COM ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL GIMENIZ-PASCHOAL, Sandra Regina – UNESP Marília [email protected] PASQUALINI, Elaine – UNESP Marília e FATEC Ourinhos [email protected] KEPPLER, Maria Aparecida Brandão Bonadio - UNESP Marília e UNIVEM Marília [email protected] SILVA, Adilson Gonçalves – UNESP Marília [email protected] MONTEIRO, Victor Bath Pereira Nunes- UNESP Marília [email protected] VILAS BÔAS, Bruna – UNESP Marília [email protected] Eixo Temático: Educação e Saúde Agência Financiadora: Pró- Reitoria de Extensão da UNESP (PROEX) e Fundo de Pesquisa da Faculdade de Filosofia e Ciências – Campus de Marília Resumo A literatura tem mostrado um número elevado de acidentes infantis no Brasil, incluindo as queimaduras, que ocasionam mortes ou seqüelas, como cicatrizes e desfigurações, mas também a possibilidade de prevenção por meio de ações educativas preventivas realizadas em escolas, as quais ainda são escassas. O objetivo desse trabalho foi aplicar e avaliar uma ação educativa sobre prevenção de queimaduras. Participaram 890 alunos do terceiro ano de 10 escolas da rede municipal de ensino fundamental de uma cidade do interior do Estado de São Paulo. Foi utilizado termo de consentimento para o professor e um folheto avaliativo para alunos, que continha desenhos de situações que envolviam a presença de adultos e crianças próximas de panelas, tomadas e fogos de artifícios, para os alunos ligarem a desenhos indicando “certo”, “errado” e “não sei”. Foi realizada uma ação educativa com um teatro de fantoche para explicar situações mais protetoras e mais perigosas para queimaduras, ligadas às atividades com panelas, tomadas e fogos de artifícios. O folheto avaliativo foi aplicado antes e depois do teatro. Verificou-se que houve alteração nas porcentagens das respostas dos alunos que consideraram errado as situações de: “panela com o cabo para fora”, que foi de 63,4% no 6012 pré e de 83,6% no pós, em “tomada + criança” que foi de 61,1% no pré e de 87,8% no pós, e em “fogos + criança” que, de 81,5% no pré, passou para 90,35 % no pós. Observou-se que a opção “não sei”, quando comparada aos resultados das atividades pré e pós, sofreu redução. Concluiu-se que a ação educativa aplicada aos alunos obteve resultados positivos em relação a alguns conhecimentos prévios que eles tinham sobre acidentes com queimaduras, contribuindo para a identificação de situações de risco e de proteção. Palavras-chave: Ação educativa. Queimaduras. Ensino fundamental. Introdução Os acidentes ocorrem em todas as faixas etárias, incluindo as crianças. Segundo Liberal et al (2005), o censo de 2000 realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que os acidentes representam o primeiro lugar em morbimortalidade de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos de idade. Martins (2006) salientou, em seu trabalho, que nos países ricos das Américas, os acidentes são responsáveis por 53% do total das dez principais doenças entre 5 e 14 anos de idade e que 98% das mortes de crianças e jovens ocorrem nos países em desenvolvimento, apontando como fatores de risco a pobreza, mãe solteira e jovem, baixo nível de educação materna, famílias numerosas e uso de álcool e drogas pelos pais. Para Acker e Cartana (2009), tem-se no mundo altos índices de acidentes infantis porque eles ainda são interpretados, por alguns, como obra do acaso ou algo comum na faixa etária das crianças, devido à curiosidade, inexperiência, incapacidade para prever e evitar situações de perigo, tendência a imitar certos comportamentos adultos, falta de coordenação motora, entre outros. Portanto, é importante discutir o conceito de acidente, pois a postura frente a essa problemática pode variar. Hoffmann e Gonzáles (p. 380, 2003) afirmaram que “tanto o otimismo irrealista como a aceitação fatalista contribuem para que não adotemos os meios para evitar a probabilidade de nos envolver num acidente”. De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2005, p. 8), acidente é definido como um “evento não intencional e evitável, causador de lesões físicas e/ou emocionais no âmbito doméstico ou nos outros ambientes sociais, como do trabalho, do trânsito, da escola, de esportes e de lazer”. Oliveira et al (2010) desenvolveram um estudo com base em dados disponíveis no site do DATASUS, entre os anos de 1998 a 2007, com o objetivo de identificar os dados oficiais das causas de hospitalização em crianças de zero a quatro anos. Os resultados da pesquisa de 6013 caráter quantitativo, descritivo, exploratório e inferencial apontaram que as causas externas foram responsáveis por 2,5% das internações. Todavia, tecem considerações a respeito da limitação metodológica do estudo, uma vez que há o problema da subnotificação dos registros de acidentes. Outra conclusão importante desse estudo (OLIVEIRA et al, 2010), refere-se às possíveis variáveis que podem ter contribuído para a redução de hospitalizações por causas evitáveis, que seriam o investimento em atenção básica na saúde e melhores condições sócioeconômicas da população. Bernard-Bonnin et al (2003) relataram em seu trabalho fatores de risco entre crianças de 0 a 7 anos em 5 hospitais do Canadá. Os resultados apontaram como principais tipos de acidentes as quedas (56%), queimaduras (20,4%) e envenenamentos (13,8%). Segundo Peck (2008), a queimadura e a inalação de fumaça, em 2002, foram responsáveis por mais de 322.000 mortes em todo o mundo, porém, esse número é provavelmente uma estimativa baixa. Em 1998, foi divulgada uma estatística da Sociedade Brasileira de Pediatria destacando que 80% dos acidentes que ocorrem em casa derivam de panela com água quente sobre o fogão, ferro de passar roupa ligado, medicamento, material de limpeza e fósforo. As mortes por incêndio e queimaduras representam quase 10% das mortes traumáticas, sendo que, destas, mais de 20% ocorreram em menores de 5 anos. A queimadura que ocorre em casa, sendo a cozinha o local mais comum (70%), está quase sempre relacionada com líquido fervente (água, café, leite, óleo). Destes acidentes por queimadura, 5% das crianças vão a óbito (MACIEL, 1998). Harada (2000) concluiu uma pesquisa realizada em um hospital municipal de São Paulo, com crianças de 0 a 14 anos, em que observou a predominância de acidentes no sexo masculino (59,6%) e na faixa etária de 7 a 12 anos. O estudo aponta as quedas (44,9%) como principal fator, acidente de trânsito (24,0%), aspiração de corpo estranho (8,7%), queimadura (6,8%) e intoxicações (5,0%). Rossi et al (2003) investigaram informações sobre queimaduras com pacientes vítimas desse tipo de acidente e seus familiares. Foram realizadas entrevistas com 62 pessoas e constatou-se que a maioria dos acidentes acontece no ambiente doméstico, principalmente em função da presença de líquidos inflamáveis. Além disso, muitos reconheceram que seus acidentes poderiam ter sido evitados. 6014 A queimadura é apontada em vários estudos entre as causas mais frequentes dos acidentes com crianças e adolescentes. Em 2006, foram internadas 16.573 crianças e adolescentes menores de 15 anos por queimadura no Brasil, representando 14% de todas as internações por acidentes. Gimeniz-Paschoal, Pereira e Nascimento (2009) constataram que grande parte das queimaduras em crianças ocorre nas cozinhas, durante a preparação de alimentos. Outro estudo encontrado foi na cidade de Londrina, cujo objetivo foi analisar a incidência hospitalar e a mortalidade por queimadura em menores de 15 anos, atendidos em um pronto-socorro. Os resultados mostraram que 82,4% foi queimadura por substância quente, 14,3% por exposição à fumaça, fogo ou chama e 3,3% por exposição à corrente elétrica. Também predominou o sexo masculino como vítima de queimadura (56,6%), (MARTINS; ANDRADE, 2007). Dissanaike et al (2009) analisaram, nos anos de 2001 a 2006, 541 crianças em um centro de queimaduras, das quais 123 tiveram ferimentos ocorridos na cozinha e cuja média de idade era de 2,7 anos. As substâncias mais comuns envolvidas foram sopa (27%), gordura (26%), café (18%) e feijão (9%). Segundo Martins (2006), dos acidentes decorrem consequências indesejáveis, como custos econômicos para as famílias, gastos hospitalares, problemas emocionais para os parentes e pacientes, além de mortes ou várias sequelas como, cicatrizes e desfigurações ocasionadas pelas queimaduras. A maioria dos acidentes, inclusive por queimaduras, poderia ser prevenida e evitada. No Brasil, entretanto, os programas de prevenção são escassos, como salientam Rossi et al (2003) e Gimeniz-Paschoal, Pereira e Nascimento (2009). Algumas instituições não-governamentais vêm realizando trabalhos e projetos para prevenção de acidentes infantis. Merece destaque a organização “Criança Segura”, entidade civil criada em 2001, que se dedica à prevenção de acidentes entre crianças e adolescentes de até 14 anos. Essa organização criou o programa “Criança Segura nas Escolas”, com objetivo de expor as crianças ao tema prevenção de acidentes por meio de atividades desenvolvidas em sala de aula (LIBERAL et al, 2005). Acompanhando os avanços, ainda que modestos, das pesquisas e dos programas sobre prevenção de acidentes, a legislação brasileira tem mostrado preocupação com a questão. O Ministério da Educação e do Desporto criou em 1998 o Referencial Curricular Nacional para 6015 a Educação Infantil (RCNEI), que constituiu um conjunto de orientações pedagógicas cujo objetivo foi contribuir com a implantação e desenvolvimento de práticas educativas inseridas nos currículos e que destaca a importância dos professores atuarem em prol da identificação de situações de risco para a ocorrência de acidentes com seus educandos. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) afirma-se que a escola deve proporcionar ao aluno capacidade para “conhecer e evitar os principais riscos de acidentes no ambiente doméstico, na escola e em outros lugares públicos” (BRASIL, 1998, p. 81). Na Política Nacional de Promoção da Saúde, aprovada em 2006 com a Portaria n° 687, cujos objetivos possuem caráter preventivo e de promoção da saúde, encontra-se descrita a necessidade de “discussões intersetoriais que incorporem ações educativas à grade curricular de todos os níveis de formação” (BRASIL, 2006, p. 35). Em 2007 foi instituído pelo Decreto nº 6.286 o Programa Interministerial “Saúde na Escola” (PSE), que inclui, entre outras ações, a redução da morbimortalidade por acidentes e violências, a serem desenvolvidas junto à rede de educação pública básica (BRASIL, 2007). É importante lembrar que “a criança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência” (BRASIL, 2007, p. 10). Monteiro (2011) afirma que apesar dos avanços obtidos no campo legislativo no que se refere à prevenção de acidentes, as pesquisas precisam ser intensificadas, a fim de fazer valer os direitos supracitados. Souza e Vilas Boas (2004) compararam, entre escolares do ensino fundamental, o uso de duas técnicas pedagógicas no ensino de conceitos relacionados à vitamina A e sua carência. Os pesquisadores selecionaram duas turmas homogêneas da 3ª série e compararam os efeitos da intervenção com teatro de fantoches e com texto de base literária. Os resultados demonstraram não haver diferenças significativas entre as técnicas, isto é, ambas foram eficazes. Com isso, concluem que estratégias lúdicas são recomendáveis para educação em saúde. Dessa forma, considerando as orientações dos ministérios do país, bem como a demanda de disseminação do conhecimento científico sobre a temática da prevenção de acidentes, o objetivo desse trabalho foi aplicar e avaliar uma ação educativa sobre prevenção de queimaduras com alunos do ensino fundamental. 6016 Método Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e é parte do projeto Ações Educativas para Prevenção de Acidentes Infantis (AEPAI), iniciado a partir do Edital 024/2004 do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), em parceria com o Ministério da Saúde. Participantes A população do estudo foi composta por 890 alunos do terceiro ano do ensino fundamental de 10 escolas da rede pública municipal de uma cidade do interior do Estado de São Paulo, com aproximadamente 250.000 habitantes. As idades dos participantes variaram de 7 a 9 anos, sendo predominantes as crianças com 8 (68,0%) e 7 (24,0%) anos. Dentre elas, 51,88% eram do sexo masculino. Essa amostra enquadra-se no conceito de amostra não-probabilística, de acordo com Cozby (2003). Os professores dessas escolas concordaram com a participação dos alunos e assinaram o termo de consentimento. Materiais e instrumentos Teatro de fantoches e folheto avaliativo do aluno sobre prevenção de queimaduras, elaborado por GIMENIZ-PASCHOAL et al (2010) e termo de consentimento para o professor. Foram utilizados materiais recicláveis para confecção dos fantoches e dos objetos que compunham o cenário, tais como fogão, panela, tigela com pipoca, aparelho de televisão, plugue de tomada, fogos de artifício, etc. Procedimentos O projeto foi apresentado e aprovado pela Diretoria de Ensino Municipal. Foi mantido contato com as escolas municipais de ensino fundamental e foi elaborado um cronograma com datas e horários para a ação em cada escola, em consonância com a coordenação e os professores responsáveis pelas salas de 3º ano. 6017 A escolha do tema queimaduras deve-se a dois principais motivos: à época do estudo, ocorria a copa do mundo e as tradicionais festas juninas, nas quais é comum o uso de fogos de artifício, bombas, bem como a presença de fogueiras. Por essa razão, a Secretaria de Educação do município sugeriu aos pesquisadores que fossem trabalhados conteúdos referentes a esses riscos. Para criação do enredo e do roteiro da apresentação do teatro com fantoches, os membros do projeto de pesquisa AEPAI realizaram uma pesquisa bibliográfica não exaustiva, a fim de identificar na literatura os principais fatores de risco e de prevenção relacionados ao acidente envolvendo queimaduras. A história foi elaborada com base em conteúdos que mostrassem os perigos de queimaduras com panelas, tomadas e fogos de artifícios, tendo como personagens centrais uma mãe e uma criança, a qual se queima. O processo de elaboração do roteiro do teatro encontra-se descrito detalhadamente no trabalho de Gimeniz-Paschoal et al (2010). Para a verificação com os alunos dos efeitos da ação educativa realizada, foi elaborado um folheto avaliativo, do tamanho de meia folha de papel A4. Na parte superior constavam campos para preenchimento de dados pessoais, como idade e sexo. Nas margens do folheto foram incluídos desenhos de situações que envolviam a presença de adultos e crianças próximas de panelas, tomadas elétricas e fogos de artifícios, distribuídos em oito situações: “panela com cabo para fora”, “panela com cabo para dentro”, “criança perto de panela com cabo para dentro”, “adulto perto de panela com cabo para dentro”, “criança próxima da tomada”, “adulto perto da tomada”, “adulto soltando fogos de artifício” e “criança soltando fogos de artifício”. Na parte central do folheto foram incluídos desenhos indicativos de “certo” (mão com o polegar apontado para cima), “errado” (mão com o polegar apontado para baixo) e “não sei” (ponto de interrogação), para os alunos ligarem aos desenhos das oito situações dispostos nas margens. Optou-se pelo uso de ilustrações como recurso de avaliação pelo fato de se ter conhecimento, por meio de informações de professores da rede de ensino do município, que nem todos os alunos dominam o processo de leitura e escrita. Assim, pelas figuras, pode-se conseguir que os alunos compreendam melhor as situações propostas. Esse instrumento foi submetido a juízes experientes em pesquisa e na temática de prevenção de acidentes, para verificação da clareza e adequação de sua formulação. 6018 Foi planejada a atuação de três membros do Grupo de Pesquisa Educação e Acidentes - EDACI em cada ação. Dessa forma, uma pessoa fazia uma breve explanação dos objetivos do trabalho, dizendo a qual instituição pertencia e o que seria feito. Em seguida eram distribuídos os folhetos avaliativos (pré) a cada aluno enquanto as outras duas pessoas faziam a montagem do cenário. Os pesquisadores explicavam também como os alunos deveriam preencher o folheto. Após a apresentação do teatro, enquanto os manipuladores dos fantoches recolhiam os materiais, o outro membro do grupo distribuía novamente o folheto para realização de nova avaliação (pós). Depois que os alunos terminavam, os três integrantes do grupo conversavam com as crianças, procurando saber se haviam gostado do teatro e se já haviam passado por situações semelhantes àquelas mostradas na atividade. Para análise dos resultados foi utilizado o software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences). O coeficiente de confiabilidade alpha Conbrach foi calculado para as respostas e o resultado foi de 0,79, sendo considerado satisfatório. Resultados e discussão Foram comparadas as respostas que os alunos forneceram, para as oito situações dispostas no folheto avaliativo, antes da realização do teatro de fantoche (pré) e após a realização do teatro (pós). Os resultados podem ser vistos na Tabela 1. Por meio da Tabela 1, observa-se que houve, de modo geral, um aumento da frequência de respostas “certo” para as situações mais protetoras para a ocorrência de acidentes infantis por queimadura e também um aumento de respostas “errado” para as situações mais perigosas. Esses resultados mostram que a ação com o teatro de fantoches alcançou os objetivos propostos. Observa-se ainda na Tabela 1 que, quando se comparam os resultados pré e pós, a opção de resposta “não sei”, para todas as situações, teve sua freqüência reduzida. Resultado similar verificou-se com a opção “Não respondeu” que sofreu diminuição. Verifica-se, dessa forma, que para aqueles que tinham dúvidas sobre o que é correto ou não, nas situações de perigo apresentadas na atividade, as informações a respeito de queimaduras ajudaram a optar pela resposta correta após teatro. 6019 Tabela 1 – Frequência e porcentagem das respostas dos alunos antes da realização do teatro de fantoche (pré) e após o teatro (pós), de acordo com as situações representadas no folheto avaliativo (N=890). Situações Panela com cabo para fora Respostas Certo Errado Não sei Não respondeu Panela com cabo para dentro Certo Errado Não sei Não respondeu Criança perto de panela com cabo Certo para dentro Errado Não sei Não respondeu Adulto perto de panela com cabo Certo para dentro Errado Não sei Não respondeu Criança próxima de tomada Certo Errado Não sei Não respondeu Adulto perto de tomada Certo Errado Não sei Não respondeu Adulto soltando fogos de artifício Certo Errado Não sei Não respondeu Criança soltando fogos de artifício Certo Errado Não sei Não respondeu Fonte: Dados organizados pelos autores. Pré f 225 564 83 18 269 548 33 40 320 338 172 60 611 126 126 27 181 544 121 44 639 137 81 33 441 308 117 24 73 725 44 48 % 25,3 63,4 9,3 2,0 30,2 61,6 3,7 4,5 36,0 38,0 19,3 6,7 68,7 14,2 14,2 3,0 20,3 61,1 13,6 4,9 71,8 15,4 9,1 3,7 49,6 34,6 13,1 2,7 8,2 81,5 4,9 5,4 Pós f 110 744 30 6 210 636 15 29 614 183 68 25 788 62 32 8 44 781 31 34 796 69 13 12 657 183 38 12 54 804 10 22 % 12,4 83,6 3,4 7,0 23,6 71,5 1,7 3,3 69,0 20,6 7,6 2,8 88,5 7,0 3,6 0,9 4,9 87,8 3,5 3,8 89,4 7,8 1,5 1,3 73,8 20,6 4,3 1,3 6,1 90,3 1,1 2,5 Na Figura 1 consta uma aglutinação das respostas que os alunos forneceram apenas para as situações de risco para queimaduras, que estavam desenhadas no folheto avaliativo, emitidas antes da realização do teatro de fantoche (pré) e após a realização do teatro. Verifica-se, na Figura 1, que houve aumento do percentual de respostas corretas dos alunos para as situações de risco: “panela com o cabo para fora”, que foi de 63,4% no pré e de 83,6% no pós, em “tomada + criança” que foi de 61,1% no pré e de 87,8% no pós, e em “fogos + criança” que, de 81,5% no pré, passou para 90,35 % no pós. 6020 Figura 1 – porcentagem das respostas dos alunos para as situações de risco para queimaduras dispostas no folheto avaliativo, antes da realização do teatro de fantoche (pré) e após o teatro (N=890). Consta na Figura 2 uma aglutinação das respostas que os alunos forneceram apenas para as situações mais protetoras para a ocorrência de queimaduras, que estavam desenhadas no folheto avaliativo, emitidas antes da realização do teatro de fantoche (pré) e após a realização do teatro. Figura 2 – porcentagem das respostas dos alunos para as situações de proteção para queimaduras dispostas no folheto avaliativo, antes da realização do teatro de fantoche (pré) e após o teatro (N=890). 6021 Nas situações consideradas certas, como: “panela com cabo para dentro”, “panela com cabo para dentro + criança”, “panela com cabo para dentro + adulto”, “tomada + adulto”, “fogos + adulto”, as porcentagens subiram do pré para o pós, exceto para a primeira variável, como mostra a Figura 2. Ressalta-se que, além destes resultados obtidos, em cada ação, os alunos demonstraram atenção e interesse, durante e após a apresentação do teatro, quando os membros do grupo conversavam com as crianças, querendo saber se haviam gostado da apresentação e se já haviam vivenciado situações semelhantes às mostradas na atividade. Em todas as salas os alunos se manifestaram positivamente quanto ao teatro, dizendo que gostaram e também relatando vivências relacionadas ao assunto tratado. Varela et al (2009) afirmam que a prevenção de acidentes por queimaduras realizadas por meio de orientações é a principal estratégia na diminuição dos índices de morbimortalidade. Entretanto, ressaltam que no Brasil há poucas campanhas voltadas para a prevenção desse tipo de acidente e, muitas vezes, a família desconhece ou negligencia medidas importantes que contribuiriam para diminuir a ocorrência das queimaduras. A literatura e os resultados obtidos neste trabalho fortalecem a relevância de ações educativas voltadas para a prevenção de acidentes no próprio contexto escolar, de modo a propiciar aos alunos os conhecimentos referentes aos fatores de risco e de proteção presentes no ambiente doméstico e contribuir para um desenvolvimento integral e sadio, diminuindo os riscos de agravos à saúde das crianças. Conclusão A literatura destaca a importância dos estudos sobre acidentes infantis, havendo necessidade de ações preventivas junto às crianças, a fim de promover comportamentos seguros em relação ao ambiente doméstico e outros locais, como a escola, sendo um caminho que pode reduzir os altos índices de acidentes na infância. Para tanto, é preciso que se desenvolvam programas educativos baseados em pesquisas com acompanhamento dos resultados. A ação educativa sobre prevenção de queimaduras aplicada aos alunos em sala de aula obteve resultados positivos em relação a alguns conhecimentos que as crianças tinham sobre acidentes com queimaduras, contribuindo para a identificação de situações de risco e de proteção. 6022 O trabalho teve como população crianças de escolas públicas, podendo ser replicado em outras escolas. Sugere-se que os professores elaborem e/ou participem de ações educativas desta natureza, as quais podem ser realizadas em suas salas de aula, associando-as com outras disciplinas do currículo escolar. Além disso, os resultados encontrados podem contribuir para uma sensibilização dos profissionais da educação sobre quais providências simples podem ser tomadas para se evitar acidentes infantis por queimaduras e a morbidade e a mortalidade deles decorrentes. REFERÊNCIAS ACKER, J. I. B. V.; CARTANA, M. H. F. Construção da participação comunitária para a prevenção de acidentes domésticos infantis. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 62, n. 1, p. 64-70, Jan/Fev, 2009. BERNARD-BONNIN, A. et al. Home injury patterns in children: A comparison by hospital sites. Paediatr Child Health. v. 8, n. 7, p. 433-437, September, 2003. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEE, 1997. ______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. Política nacional de redução de morbimortalidade por acidentes e violência. Portaria MS/GM nº 737 de 16/05/01, publicada no DOU nº 96 seção 1E de 18/05/01/ Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise de Situação de Saúde. 2. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2005, 64p. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política nacional de promoção da saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. ______. Decreto nº 6.286, de 05 de dezembro de 2007. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 2007. COSCRATO, G.; PINA, J. C.; MELLO, D.F. Utilização de atividades lúdicas na educação em saúde: uma revisão integrativa da literatura. Acta Paul Enferm., v.23, n.2, p. 257-263. Mar./Apr., 2010. COZBY, P. C. Métodos de pesquisas em ciências do comportamento. São Paulo: Atlas, 2003. 6023 DISSANAIKE, S. et al. Cooking-related pediatric burns: risk factors and the role of differential cooling rates among commonly implicated substances. Journal of Burn Care & Research, v. 30, n. 4, p. 593-598. July/August, 2009. GIMENIZ-PASCHOAL, S. R.; PEREIRA, D. M.; NASCIMENTO, E. N. Effect of an educative action on relatives' knowledge about childhood burns at home. Revista LatinoAmericana de Enfermagem. v. 17, n. 3, p. 341-346, May/June, 2009. GIMENIZ-PASCHOAL, S. R.; MONTEIRO, V. B. P. N.; KEPPLER, M. A. B. B.; GONSALES, T. P.; BOAS, B. V.; COSTA, P. F. Estratégia educativa sobre prevenção de acidentes infantis para o ensino fundamental. Revista LEVS, v.6 p.216 - 226, 2010. HARADA, M. J. S. Epidemiologia em crianças hospitalizadas por acidentes. Folha Méd. v. 119, n. 4, p. 43-47, 2000. LIBERAL, E. F. et al. Escola segura. J. Pediatr., v. 81, n. 5, p. 155-163, Nov, 2005. MACIEL, W. Campanha nacional de prevenção de acidentes na infância e adolescência. Boletim da Sociedade Brasileira de Pediatria, v. 73, p. 4-5, 1998. MARTINS, C. B. G. Acidentes na infância e adolescência: uma revisão bibliográfica. Rev. Bras. Enferm., v. 59, n. 3, p. 344-348, May/June, 2006. MARTINS, C. B. G.; ANDRADE, S. M.. Queimaduras em crianças e adolescentes: análise da morbidade hospitalar e mortalidade. Acta paul. enferm., v. 20, n. 4, p. 464-469, Oct/Dec, 2007. MONTEIRO, V. B. P. N.; GIMENIZ-PASCHOAL, S. R. Educação e prevenção de acidentes de trânsito. In: III Congresso Brasileiro de Educação, Bauru, 2011. Anais. Bauru, 2011. p. 83. OLIVEIRA, B. R. G.; VIERA, C. S.; COLLET, N.; LIMA, R. A. G. Causas de hospitalização no SUS de crianças de zero a quatro anos no Brasil. Rev. Bras. Epidemiol., v. 13, n. 2, p. 268-277, 2010. PECK, M. D. Burns and fires from non-electric domestic appliances in low and middle income countries Part I. The scope of the problem. Burns. v. 34, n. 3, p. 303-311, May, 2008. ROSSI, L. A. et al. Prevenção de queimaduras: percepção de pacientes e de seus familiares. Rev. Latino-Am., v. 11, n. 1, p. 36-42, Jan/Feb, 2003. VARELA, M.C.G. et al. Processo de cuidar da criança queimada: vivência de familiares. Rev. Bras. Enfermagem, v. 62, n.5, p. 723-728, Set/Out, 2009. VIEIRA, L. J. E. S. et al. Ações e possibilidades de prevenção de acidentes com crianças em creches de Fortaleza, Ceará. Ciên. Saúde Coletiva, v. 14, n. 5, p. 1687-1697, Nov/Dez, 2009.