aplicação e avaliação de ação educativa sobre prevenção de

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APLICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE AÇÃO EDUCATIVA SOBRE
PREVENÇÃO DE QUEIMADURAS COM ALUNOS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
GIMENIZ-PASCHOAL, Sandra Regina – UNESP Marília
[email protected]
PASQUALINI, Elaine – UNESP Marília e FATEC Ourinhos
[email protected]
KEPPLER, Maria Aparecida Brandão Bonadio - UNESP Marília e UNIVEM Marília
[email protected]
SILVA, Adilson Gonçalves – UNESP Marília
[email protected]
MONTEIRO, Victor Bath Pereira Nunes- UNESP Marília
[email protected]
VILAS BÔAS, Bruna – UNESP Marília
[email protected]
Eixo Temático: Educação e Saúde
Agência Financiadora: Pró- Reitoria de Extensão da UNESP (PROEX) e Fundo de Pesquisa
da Faculdade de Filosofia e Ciências – Campus de Marília
Resumo
A literatura tem mostrado um número elevado de acidentes infantis no Brasil, incluindo as
queimaduras, que ocasionam mortes ou seqüelas, como cicatrizes e desfigurações, mas
também a possibilidade de prevenção por meio de ações educativas preventivas realizadas em
escolas, as quais ainda são escassas. O objetivo desse trabalho foi aplicar e avaliar uma ação
educativa sobre prevenção de queimaduras. Participaram 890 alunos do terceiro ano de 10
escolas da rede municipal de ensino fundamental de uma cidade do interior do Estado de São
Paulo. Foi utilizado termo de consentimento para o professor e um folheto avaliativo para
alunos, que continha desenhos de situações que envolviam a presença de adultos e crianças
próximas de panelas, tomadas e fogos de artifícios, para os alunos ligarem a desenhos
indicando “certo”, “errado” e “não sei”. Foi realizada uma ação educativa com um teatro de
fantoche para explicar situações mais protetoras e mais perigosas para queimaduras, ligadas às
atividades com panelas, tomadas e fogos de artifícios. O folheto avaliativo foi aplicado antes e
depois do teatro. Verificou-se que houve alteração nas porcentagens das respostas dos alunos
que consideraram errado as situações de: “panela com o cabo para fora”, que foi de 63,4% no
6012
pré e de 83,6% no pós, em “tomada + criança” que foi de 61,1% no pré e de 87,8% no pós, e
em “fogos + criança” que, de 81,5% no pré, passou para 90,35 % no pós. Observou-se que a
opção “não sei”, quando comparada aos resultados das atividades pré e pós, sofreu redução.
Concluiu-se que a ação educativa aplicada aos alunos obteve resultados positivos em relação a
alguns conhecimentos prévios que eles tinham sobre acidentes com queimaduras,
contribuindo para a identificação de situações de risco e de proteção.
Palavras-chave: Ação educativa. Queimaduras. Ensino fundamental.
Introdução
Os acidentes ocorrem em todas as faixas etárias, incluindo as crianças. Segundo
Liberal et al (2005), o censo de 2000 realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) mostrou que os acidentes representam o primeiro lugar em morbimortalidade de
crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos de idade.
Martins (2006) salientou, em seu trabalho, que nos países ricos das Américas, os
acidentes são responsáveis por 53% do total das dez principais doenças entre 5 e 14 anos de
idade e que 98% das mortes de crianças e jovens ocorrem nos países em desenvolvimento,
apontando como fatores de risco a pobreza, mãe solteira e jovem, baixo nível de educação
materna, famílias numerosas e uso de álcool e drogas pelos pais.
Para Acker e Cartana (2009), tem-se no mundo altos índices de acidentes infantis
porque eles ainda são interpretados, por alguns, como obra do acaso ou algo comum na faixa
etária das crianças, devido à curiosidade, inexperiência, incapacidade para prever e evitar
situações de perigo, tendência a imitar certos comportamentos adultos, falta de coordenação
motora, entre outros. Portanto, é importante discutir o conceito de acidente, pois a postura
frente a essa problemática pode variar. Hoffmann e Gonzáles (p. 380, 2003) afirmaram que
“tanto o otimismo irrealista como a aceitação fatalista contribuem para que não adotemos os
meios para evitar a probabilidade de nos envolver num acidente”.
De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2005, p. 8), acidente é definido como
um “evento não intencional e evitável, causador de lesões físicas e/ou emocionais no âmbito
doméstico ou nos outros ambientes sociais, como do trabalho, do trânsito, da escola, de
esportes e de lazer”.
Oliveira et al (2010) desenvolveram um estudo com base em dados disponíveis no site
do DATASUS, entre os anos de 1998 a 2007, com o objetivo de identificar os dados oficiais
das causas de hospitalização em crianças de zero a quatro anos. Os resultados da pesquisa de
6013
caráter quantitativo, descritivo, exploratório e inferencial apontaram que as causas externas
foram responsáveis por 2,5% das internações. Todavia, tecem considerações a respeito da
limitação metodológica do estudo, uma vez que há o problema da subnotificação dos registros
de acidentes.
Outra conclusão importante desse estudo (OLIVEIRA et al, 2010), refere-se às
possíveis variáveis que podem ter contribuído para a redução de hospitalizações por causas
evitáveis, que seriam o investimento em atenção básica na saúde e melhores condições sócioeconômicas da população.
Bernard-Bonnin et al (2003) relataram em seu trabalho fatores de risco entre crianças
de 0 a 7 anos em 5 hospitais do Canadá. Os resultados apontaram como principais tipos de
acidentes as quedas (56%), queimaduras (20,4%) e envenenamentos (13,8%).
Segundo Peck (2008), a queimadura e a inalação de fumaça, em 2002, foram
responsáveis por mais de 322.000 mortes em todo o mundo, porém, esse número é
provavelmente uma estimativa baixa.
Em 1998, foi divulgada uma estatística da Sociedade Brasileira de Pediatria
destacando que 80% dos acidentes que ocorrem em casa derivam de panela com água quente
sobre o fogão, ferro de passar roupa ligado, medicamento, material de limpeza e fósforo. As
mortes por incêndio e queimaduras representam quase 10% das mortes traumáticas, sendo
que, destas, mais de 20% ocorreram em menores de 5 anos. A queimadura que ocorre em
casa, sendo a cozinha o local mais comum (70%), está quase sempre relacionada com líquido
fervente (água, café, leite, óleo). Destes acidentes por queimadura, 5% das crianças vão a
óbito (MACIEL, 1998).
Harada (2000) concluiu uma pesquisa realizada em um hospital municipal de São
Paulo, com crianças de 0 a 14 anos, em que observou a predominância de acidentes no sexo
masculino (59,6%) e na faixa etária de 7 a 12 anos. O estudo aponta as quedas (44,9%) como
principal fator, acidente de trânsito (24,0%), aspiração de corpo estranho (8,7%), queimadura
(6,8%) e intoxicações (5,0%).
Rossi et al (2003) investigaram informações sobre queimaduras com pacientes vítimas
desse tipo de acidente e seus familiares. Foram realizadas entrevistas com 62 pessoas e
constatou-se que a maioria dos acidentes acontece no ambiente doméstico, principalmente em
função da presença de líquidos inflamáveis. Além disso, muitos reconheceram que seus
acidentes poderiam ter sido evitados.
6014
A queimadura é apontada em vários estudos entre as causas mais frequentes dos
acidentes com crianças e adolescentes. Em 2006, foram internadas 16.573 crianças e
adolescentes menores de 15 anos por queimadura no Brasil, representando 14% de todas as
internações por acidentes. Gimeniz-Paschoal, Pereira e Nascimento (2009) constataram que
grande parte das queimaduras em crianças ocorre nas cozinhas, durante a preparação de
alimentos.
Outro estudo encontrado foi na cidade de Londrina, cujo objetivo foi analisar a
incidência hospitalar e a mortalidade por queimadura em menores de 15 anos, atendidos em
um pronto-socorro. Os resultados mostraram que 82,4% foi queimadura por substância
quente, 14,3% por exposição à fumaça, fogo ou chama e 3,3% por exposição à corrente
elétrica. Também predominou o sexo masculino como vítima de queimadura (56,6%),
(MARTINS; ANDRADE, 2007).
Dissanaike et al (2009) analisaram, nos anos de 2001 a 2006, 541 crianças em um
centro de queimaduras, das quais 123 tiveram ferimentos ocorridos na cozinha e cuja média
de idade era de 2,7 anos. As substâncias mais comuns envolvidas foram sopa (27%), gordura
(26%), café (18%) e feijão (9%).
Segundo Martins (2006), dos acidentes decorrem consequências indesejáveis, como
custos econômicos para as famílias, gastos hospitalares, problemas emocionais para os
parentes e pacientes, além de mortes ou várias sequelas como, cicatrizes e desfigurações
ocasionadas pelas queimaduras.
A maioria dos acidentes, inclusive por queimaduras, poderia ser prevenida e evitada.
No Brasil, entretanto, os programas de prevenção são escassos, como salientam Rossi et al
(2003) e Gimeniz-Paschoal, Pereira e Nascimento (2009).
Algumas instituições não-governamentais vêm realizando trabalhos e projetos para
prevenção de acidentes infantis. Merece destaque a organização “Criança Segura”, entidade
civil criada em 2001, que se dedica à prevenção de acidentes entre crianças e adolescentes de
até 14 anos. Essa organização criou o programa “Criança Segura nas Escolas”, com objetivo
de expor as crianças ao tema prevenção de acidentes por meio de atividades desenvolvidas em
sala de aula (LIBERAL et al, 2005).
Acompanhando os avanços, ainda que modestos, das pesquisas e dos programas sobre
prevenção de acidentes, a legislação brasileira tem mostrado preocupação com a questão. O
Ministério da Educação e do Desporto criou em 1998 o Referencial Curricular Nacional para
6015
a Educação Infantil (RCNEI), que constituiu um conjunto de orientações pedagógicas cujo
objetivo foi contribuir com a implantação e desenvolvimento de práticas educativas inseridas
nos currículos e que destaca a importância dos professores atuarem em prol da identificação
de situações de risco para a ocorrência de acidentes com seus educandos.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) afirma-se que a escola deve
proporcionar ao aluno capacidade para “conhecer e evitar os principais riscos de acidentes no
ambiente doméstico, na escola e em outros lugares públicos” (BRASIL, 1998, p. 81).
Na Política Nacional de Promoção da Saúde, aprovada em 2006 com a Portaria n° 687,
cujos objetivos possuem caráter preventivo e de promoção da saúde, encontra-se descrita a
necessidade de “discussões intersetoriais que incorporem ações educativas à grade curricular
de todos os níveis de formação” (BRASIL, 2006, p. 35).
Em 2007 foi instituído pelo Decreto nº 6.286 o Programa Interministerial “Saúde na
Escola” (PSE), que inclui, entre outras ações, a redução da morbimortalidade por acidentes e
violências, a serem desenvolvidas junto à rede de educação pública básica (BRASIL, 2007).
É importante lembrar que “a criança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e à
saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência” (BRASIL, 2007, p.
10).
Monteiro (2011) afirma que apesar dos avanços obtidos no campo legislativo no que
se refere à prevenção de acidentes, as pesquisas precisam ser intensificadas, a fim de fazer
valer os direitos supracitados.
Souza e Vilas Boas (2004) compararam, entre escolares do ensino fundamental, o uso
de duas técnicas pedagógicas no ensino de conceitos relacionados à vitamina A e sua
carência. Os pesquisadores selecionaram duas turmas homogêneas da 3ª série e compararam
os efeitos da intervenção com teatro de fantoches e com texto de base literária. Os resultados
demonstraram não haver diferenças significativas entre as técnicas, isto é, ambas foram
eficazes. Com isso, concluem que estratégias lúdicas são recomendáveis para educação em
saúde.
Dessa forma, considerando as orientações dos ministérios do país, bem como a
demanda de disseminação do conhecimento científico sobre a temática da prevenção de
acidentes, o objetivo desse trabalho foi aplicar e avaliar uma ação educativa sobre prevenção
de queimaduras com alunos do ensino fundamental.
6016
Método
Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho e é parte do projeto Ações Educativas para Prevenção de Acidentes
Infantis (AEPAI), iniciado a partir do Edital 024/2004 do CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico), em parceria com o Ministério da Saúde.
Participantes
A população do estudo foi composta por 890 alunos do terceiro ano do ensino
fundamental de 10 escolas da rede pública municipal de uma cidade do interior do Estado de
São Paulo, com aproximadamente 250.000 habitantes.
As idades dos participantes variaram de 7 a 9 anos, sendo predominantes as crianças
com 8 (68,0%) e 7 (24,0%) anos. Dentre elas, 51,88% eram do sexo masculino. Essa amostra
enquadra-se no conceito de amostra não-probabilística, de acordo com Cozby (2003).
Os professores dessas escolas concordaram com a participação dos alunos e assinaram
o termo de consentimento.
Materiais e instrumentos
Teatro de fantoches e folheto avaliativo do aluno sobre prevenção de queimaduras,
elaborado por GIMENIZ-PASCHOAL et al (2010) e termo de consentimento para o
professor.
Foram utilizados materiais recicláveis para confecção dos fantoches e dos objetos que
compunham o cenário, tais como fogão, panela, tigela com pipoca, aparelho de televisão,
plugue de tomada, fogos de artifício, etc.
Procedimentos
O projeto foi apresentado e aprovado pela Diretoria de Ensino Municipal. Foi mantido
contato com as escolas municipais de ensino fundamental e foi elaborado um cronograma
com datas e horários para a ação em cada escola, em consonância com a coordenação e os
professores responsáveis pelas salas de 3º ano.
6017
A escolha do tema queimaduras deve-se a dois principais motivos: à época do estudo,
ocorria a copa do mundo e as tradicionais festas juninas, nas quais é comum o uso de fogos de
artifício, bombas, bem como a presença de fogueiras. Por essa razão, a Secretaria de
Educação do município sugeriu aos pesquisadores que fossem trabalhados conteúdos
referentes a esses riscos.
Para criação do enredo e do roteiro da apresentação do teatro com fantoches, os
membros do projeto de pesquisa AEPAI realizaram uma pesquisa bibliográfica não exaustiva,
a fim de identificar na literatura os principais fatores de risco e de prevenção relacionados ao
acidente envolvendo queimaduras. A história foi elaborada com base em conteúdos que
mostrassem os perigos de queimaduras com panelas, tomadas e fogos de artifícios, tendo
como personagens centrais uma mãe e uma criança, a qual se queima.
O processo de elaboração do roteiro do teatro encontra-se descrito detalhadamente no
trabalho de Gimeniz-Paschoal et al (2010).
Para a verificação com os alunos dos efeitos da ação educativa realizada, foi elaborado
um folheto avaliativo, do tamanho de meia folha de papel A4. Na parte superior constavam
campos para preenchimento de dados pessoais, como idade e sexo. Nas margens do folheto
foram incluídos desenhos de situações que envolviam a presença de adultos e crianças
próximas de panelas, tomadas elétricas e fogos de artifícios, distribuídos em oito situações:
“panela com cabo para fora”, “panela com cabo para dentro”, “criança perto de panela com
cabo para dentro”, “adulto perto de panela com cabo para dentro”, “criança próxima da
tomada”, “adulto perto da tomada”, “adulto soltando fogos de artifício” e “criança soltando
fogos de artifício”. Na parte central do folheto foram incluídos desenhos indicativos de
“certo” (mão com o polegar apontado para cima), “errado” (mão com o polegar apontado para
baixo) e “não sei” (ponto de interrogação), para os alunos ligarem aos desenhos das oito
situações dispostos nas margens.
Optou-se pelo uso de ilustrações como recurso de avaliação pelo fato de se ter
conhecimento, por meio de informações de professores da rede de ensino do município, que
nem todos os alunos dominam o processo de leitura e escrita. Assim, pelas figuras, pode-se
conseguir que os alunos compreendam melhor as situações propostas.
Esse instrumento foi submetido a juízes experientes em pesquisa e na temática de
prevenção de acidentes, para verificação da clareza e adequação de sua formulação.
6018
Foi planejada a atuação de três membros do Grupo de Pesquisa Educação e Acidentes
- EDACI em cada ação. Dessa forma, uma pessoa fazia uma breve explanação dos objetivos
do trabalho, dizendo a qual instituição pertencia e o que seria feito. Em seguida eram
distribuídos os folhetos avaliativos (pré) a cada aluno enquanto as outras duas pessoas faziam
a montagem do cenário. Os pesquisadores explicavam também como os alunos deveriam
preencher o folheto.
Após a apresentação do teatro, enquanto os manipuladores dos fantoches recolhiam os
materiais, o outro membro do grupo distribuía novamente o folheto para realização de nova
avaliação (pós). Depois que os alunos terminavam, os três integrantes do grupo conversavam
com as crianças, procurando saber se haviam gostado do teatro e se já haviam passado por
situações semelhantes àquelas mostradas na atividade.
Para análise dos resultados foi utilizado o software SPSS (Statistical Package for the
Social Sciences). O coeficiente de confiabilidade alpha Conbrach foi calculado para as
respostas e o resultado foi de 0,79, sendo considerado satisfatório.
Resultados e discussão
Foram comparadas as respostas que os alunos forneceram, para as oito situações
dispostas no folheto avaliativo, antes da realização do teatro de fantoche (pré) e após a
realização do teatro (pós). Os resultados podem ser vistos na Tabela 1.
Por meio da Tabela 1, observa-se que houve, de modo geral, um aumento da
frequência de respostas “certo” para as situações mais protetoras para a ocorrência de
acidentes infantis por queimadura e também um aumento de respostas “errado” para as
situações mais perigosas.
Esses resultados mostram que a ação com o teatro de fantoches alcançou os objetivos
propostos.
Observa-se ainda na Tabela 1 que, quando se comparam os resultados pré e pós, a
opção de resposta “não sei”, para todas as situações, teve sua freqüência reduzida.
Resultado similar verificou-se com a opção “Não respondeu” que sofreu diminuição.
Verifica-se, dessa forma, que para aqueles que tinham dúvidas sobre o que é correto
ou não, nas situações de perigo apresentadas na atividade, as informações a respeito de
queimaduras ajudaram a optar pela resposta correta após teatro.
6019
Tabela 1 – Frequência e porcentagem das respostas dos alunos antes da realização do teatro de fantoche (pré) e
após o teatro (pós), de acordo com as situações representadas no folheto avaliativo (N=890).
Situações
Panela com cabo para fora
Respostas
Certo
Errado
Não sei
Não respondeu
Panela com cabo para dentro
Certo
Errado
Não sei
Não respondeu
Criança perto de panela com cabo
Certo
para dentro
Errado
Não sei
Não respondeu
Adulto perto de panela com cabo
Certo
para dentro
Errado
Não sei
Não respondeu
Criança próxima de tomada
Certo
Errado
Não sei
Não respondeu
Adulto perto de tomada
Certo
Errado
Não sei
Não respondeu
Adulto soltando fogos de artifício
Certo
Errado
Não sei
Não respondeu
Criança soltando fogos de artifício
Certo
Errado
Não sei
Não respondeu
Fonte: Dados organizados pelos autores.
Pré
f
225
564
83
18
269
548
33
40
320
338
172
60
611
126
126
27
181
544
121
44
639
137
81
33
441
308
117
24
73
725
44
48
%
25,3
63,4
9,3
2,0
30,2
61,6
3,7
4,5
36,0
38,0
19,3
6,7
68,7
14,2
14,2
3,0
20,3
61,1
13,6
4,9
71,8
15,4
9,1
3,7
49,6
34,6
13,1
2,7
8,2
81,5
4,9
5,4
Pós
f
110
744
30
6
210
636
15
29
614
183
68
25
788
62
32
8
44
781
31
34
796
69
13
12
657
183
38
12
54
804
10
22
%
12,4
83,6
3,4
7,0
23,6
71,5
1,7
3,3
69,0
20,6
7,6
2,8
88,5
7,0
3,6
0,9
4,9
87,8
3,5
3,8
89,4
7,8
1,5
1,3
73,8
20,6
4,3
1,3
6,1
90,3
1,1
2,5
Na Figura 1 consta uma aglutinação das respostas que os alunos forneceram apenas
para as situações de risco para queimaduras, que estavam desenhadas no folheto avaliativo,
emitidas antes da realização do teatro de fantoche (pré) e após a realização do teatro.
Verifica-se, na Figura 1, que houve aumento do percentual de respostas corretas dos
alunos para as situações de risco: “panela com o cabo para fora”, que foi de 63,4% no pré e de
83,6% no pós, em “tomada + criança” que foi de 61,1% no pré e de 87,8% no pós, e em
“fogos + criança” que, de 81,5% no pré, passou para 90,35 % no pós.
6020
Figura 1 – porcentagem das respostas dos alunos para as situações de risco para queimaduras dispostas no
folheto avaliativo, antes da realização do teatro de fantoche (pré) e após o teatro (N=890).
Consta na Figura 2 uma aglutinação das respostas que os alunos forneceram apenas
para as situações mais protetoras para a ocorrência de queimaduras, que estavam desenhadas
no folheto avaliativo, emitidas antes da realização do teatro de fantoche (pré) e após a
realização do teatro.
Figura 2 – porcentagem das respostas dos alunos para as situações de proteção para queimaduras dispostas no
folheto avaliativo, antes da realização do teatro de fantoche (pré) e após o teatro (N=890).
6021
Nas situações consideradas certas, como: “panela com cabo para dentro”, “panela com
cabo para dentro + criança”, “panela com cabo para dentro + adulto”, “tomada + adulto”,
“fogos + adulto”, as porcentagens subiram do pré para o pós, exceto para a primeira variável,
como mostra a Figura 2.
Ressalta-se que, além destes resultados obtidos, em cada ação, os alunos
demonstraram atenção e interesse, durante e após a apresentação do teatro, quando os
membros do grupo conversavam com as crianças, querendo saber se haviam gostado da
apresentação e se já haviam vivenciado situações semelhantes às mostradas na atividade.
Em todas as salas os alunos se manifestaram positivamente quanto ao teatro, dizendo
que gostaram e também relatando vivências relacionadas ao assunto tratado.
Varela et al (2009) afirmam que a prevenção de acidentes por queimaduras realizadas
por meio de orientações é a principal estratégia na diminuição dos índices de
morbimortalidade. Entretanto, ressaltam que no Brasil há poucas campanhas voltadas para a
prevenção desse tipo de acidente e, muitas vezes, a família desconhece ou negligencia
medidas importantes que contribuiriam para diminuir a ocorrência das queimaduras.
A literatura e os resultados obtidos neste trabalho fortalecem a relevância de ações
educativas voltadas para a prevenção de acidentes no próprio contexto escolar, de modo a
propiciar aos alunos os conhecimentos referentes aos fatores de risco e de proteção presentes
no ambiente doméstico e contribuir para um desenvolvimento integral e sadio, diminuindo os
riscos de agravos à saúde das crianças.
Conclusão
A literatura destaca a importância dos estudos sobre acidentes infantis, havendo
necessidade de ações preventivas junto às crianças, a fim de promover comportamentos
seguros em relação ao ambiente doméstico e outros locais, como a escola, sendo um caminho
que pode reduzir os altos índices de acidentes na infância. Para tanto, é preciso que se
desenvolvam programas educativos baseados em pesquisas com acompanhamento dos
resultados.
A ação educativa sobre prevenção de queimaduras aplicada aos alunos em sala de aula
obteve resultados positivos em relação a alguns conhecimentos que as crianças tinham sobre
acidentes com queimaduras, contribuindo para a identificação de situações de risco e de
proteção.
6022
O trabalho teve como população crianças de escolas públicas, podendo ser replicado
em outras escolas.
Sugere-se que os professores elaborem e/ou participem de ações educativas desta
natureza, as quais podem ser realizadas em suas salas de aula, associando-as com outras
disciplinas do currículo escolar.
Além disso, os resultados encontrados podem contribuir para uma sensibilização dos
profissionais da educação sobre quais providências simples podem ser tomadas para se evitar
acidentes infantis por queimaduras e a morbidade e a mortalidade deles decorrentes.
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