rock em videoclipe: mediações locais e translocais1

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ROCK EM VIDEOCLIPE: MEDIAÇÕES LOCAIS E TRANSLOCAIS1
Taciana de Lima BURGOS2
Priscilla Xavier de MACEDO3
Victória Hanna Braga MATIAS4
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil
RESUMO
Neste artigo, buscamos identificar as mediações locais e translocais presentes na composição de
videoclips, do gênero rock, de bandas na cidade de Natal/RN, para assim percebermos identidades
do local como marcas de construção de subjetividades. Como aporte teórico, empregamos as
dimensões de fluxos culturais globais de Appadurai e de paisagens transculturais de Lopes às
perspectivas de territorialidade tratadas por Milton Santos. A pesquisa teve caráter descritivo,
abordagem qualitativa e a análise da imagem em movimento como técnica de observação. Este artigo
faz parte da pesquisa “Comunicação e Mediações em Contextos Regionais: Usos Midiáticos,
Culturais e Linguagens” (USP/UFRN/UFMS, Edital 071/2013-Procad).
PALAVRAS-CHAVE: mediação local; translocalidade; rock and roll; videclipe; PROCAD.
INTRODUÇÃO
A prática musical é uma atividade cultural que se manifesta em todas as sociedades, sendo o
videoclipe o gênero audiovisual no qual predomina a veiculação de narrativas musicais. Nascido
para vender música e artista, como para influenciar e ditar modas, o videoclipe explora diferentes
ícones, produtos e meios originais da cultura pop, como referencia apropriações do cotidiano
(CORREIA, 2007).
A estética do videoclipe tem por natureza a experimentação e a mescla de linguagens, que
podem ser originárias do cinema, tv ou publicidade. Esta característica inclui o videoclipe no
processo de venda e consumo de bens simbólicos, já que é suporte de divulgação publicitária.
___________________
1 Trabalho apresentado no VII Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda. De 18 a
20/05/2016. PUC-RIO. GT1- Propaganda e linguagens.
2 Membro docente efetivo do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do NorteUFRN/Natal-RN/Brasil, do Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia-PPGEM/UFRN e do Programa de Pósgraduação em Design-PPGDSG/UFRN. Integra a pesquisa “Comunicação e Mediações em Contextos Regionais: Usos
Midiáticos, Culturais e Linguagens” (USP/UFRN/UFMS, Edital 071/2013-Procad). email:
[email protected].
3 Aluna do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte- UFRN/Natal-RN/Brasil.
Bolsista da pesquisa “Comunicação e Mediações em Contextos Regionais: Usos Midiáticos, Culturais e Linguagens”
(USP/UFRN/UFMS, Edital 071/2013-Procad).
4 Aluna do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte- UFRN/Natal-RN/Brasil.
Bolsista da pesquisa “Comunicação e Mediações em Contextos Regionais: Usos Midiáticos, Culturais e Linguagens”
(USP/UFRN/UFMS, Edital 071/2013-Procad).
“Os videoclipes tornaram-se um novo referencial para a apreciação estética da
música associada a uma forma de oferecer um produto ao consumo.
Inegavelmente, pela indústria fonográfica, vídeos musicais são formas de
exposição de um produto que está à venda, um apelo ao consumo. Sua estética une
técnicas apuradas do cinema e da publicidade, a liberdade de criação de film
makers e um universo simbólico que visa à expressão do sentido da canção e da
personalidade do artista” (BRANDINI, 2006, p. 04).
Apesar de sua vocação publicitária os conteúdos produzidos como videoclipe também fazem
menção em suas narrativas às tensões cotidianas e sociais. A partir do final dos anos 1990, a
expansão da WEB participativa oportunizou outras formas de produção, veiculação e interação de
videoclipes, já que os sujeitos passaram a ter acesso à ferramentas para a edição, divulgação e
diálogo em vídeos digitais. Tal possibilidade retirou da TV a exclusividade de criação e exibição
desses curta metragens.
O espaço virtual tem sido uma ótima ferramenta de distribuição e experimentação
[…] E onde podemos encontrar os vídeos virais, planejados para gerar o
envolvimento do público, que se torna ferramenta ativa na divulgação do artista
por meio dos constantes comentários e compartilhamentos em redes sociais. E
também o espaço que possibilita maior junção de ficção e realidade, pois torna o
espectador, e qualquer tipo de identificação pessoal, cada vez mais próximo das
diversas produções audiovisuais. E essa aproximação ocorre a partir do momento
em que essas produções se tornam elementos da rotina das pessoas, seja enquanto
produto consumido ou como produtos derivados de acontecimentos gerais e
presentes na sociedade contemporanea – elemento de referenciação crucial para
fechar esse ciclo de identificação e representação (SOUZA et al, 2014, p. 5-6) .
Segundo Martín-Barbero (2006), a revolução tecnológica introduziu no campo social um
novo modo de relação entre processos simbólicos e as modalidades de distribuição de bens e
serviços; ressignificando as fronteiras de tempo e espaço, estendendo-se diretamente sobre as
culturas e alterando os conceitos tradicionais de local, regional e global.
O que a revolução tecnológica introduz em nossas sociedades não é tanto uma
quantidade inusitada de novas máquinas, mas, sim, um novo modo de relação entre
os processos simbólicos – que constituem o cultural – e as formas de produção e
distribuição dos bens e serviços: um novo modo de produzir, confusamente
associado a um novo modo de comunicar, transforma o conhecimento numa força
produtiva direta (p. 54).
Esta ressignificação simbólica também modificou os tradicionais paradigmas sobre a
globalização no tocante às mediações da cultura e do consumo. A mídia tem alcançado sociedades
através dos fluxos de informações, oportunizando a aproximação entre o global e o local, compondo
as paisagens transculturais (APPADURAI, 1994), (LOPES, 2012). Estudos nos campos da
sociologia, antropologia e comunicação têm revelado que apesar de estarmos imersos em uma
cultura globalizada, distintos grupos urbanos têm encontrado espaço em suportes e mídias para
expressar suas regionalidades. Verificar e/ou mapear a materialização de paisagens midiáticas em
videoclipes é buscar identificar as manifestações de traços culturais do local.
A música é uma habilidade humana inata que se desenvolve em todos os grupos sociais de
formas distintas, de acordo com seus rituais simbólicos e seu conjunto de saberes e crenças
(BLACKING, 1995, p. 232). A representação de regionalidade em um gênero musical pode ser
percebida nos videoclipes através de elementos estéticos, sonoros, discursivos e narrativos; uma vez
que, como salientou Trotta (2005), ouvir/assistir músicas através de videoclipes é um ato simbólico
de identificação com as representações de estilos de vida, visões de mundo e valores sociais
presente nessas composições.
Participar de uma experiência musical significa entrar em contato com esses
códigos culturais, valores sociais e sentimentos compartilhados que fornecem
elementos para a construção de identidades sociais e laços afetivos. Isso significa
que a música é uma forma de comunicação e que sua circulação determina as
condições sobre as quais essa comunicação irá ocorrer, influenciando diretamente a
construção de sentidos das práticas musicais. (TROTTA, 2005, p.183).
Neste artigo, buscamos identificar as mediações locais presentes na composição de
videoclips, do gênero rock, de bandas na cidade de Natal/RN. Em específico, visamos perceber
nesses videoclipes estéticas do local como marcas de construção de subjetividades. Para tal,
utilizamos como aporte teórico as dimensões de fluxos culturais globais de Appadurai e de
paisagens transculturais de Lopes – que nos conduziram diante das percepções e tensões que
retratam o sujeito na globalidade e na localidade, suas subjetividades e processos de circulação e
apropriação midiática – às perspectivas de globalização tratadas por Milton Santos – que considera
que "cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo
dialeticamente" (SANTOS, 1996, p.273).
Nessa concepção, entendemos que os sujeitos produzem o local ou o cotidiano, e a
localidade é produzida pelos sujeitos. Existe um círculo que, hoje em dia, não pode ser entendido a
não ser no contexto desta circularidade de elementos (FERREIRA, 2009, p. 3).
Tal proposta se insere na temática da comunicação e das mediações culturais, como campo
de abordagem teórica, com vistas à análise de fenômenos das mídias em contextos regionais, sendo
integrante do projeto de pesquisa intitulado “Comunicação e Mediações em Contextos Regionais:
Usos Midiáticos, Culturais e Linguagens” (USP/UFRN/UFMS, Edital 071/2013-Procad).
Para delimitar o nosso corpus de análise, empregamos como método o levantamento de
campo para a catalogação das bandas de rock da cidade do Natal/RN. Em seguida, selecionamos
seus respectivos videoclipes descritos como oficiais. Tal inventário foi efetuado durante os meses
de março e abril de 2016, no site de compartilhamento de vídeo YouTube.
Após esse recorte, analisamos cada um dos videoclipes oficiais das bandas natalenses, com o
objetivo de identificarmos imagens que remetessem diretamente a Natal/RN (bairro, ruas,
monumento ou personalidade), ou referenciasse simbolicamente à capital potiguar, bem como
traços de translocalidade. Neste momento, empregamos a “análise de imagens em movimento” de
Rose (2002) para identificarmos tais referenciais mediadores.
LOCAL, TRANSLOCAL E GLOBAL NOS ESTUDOS CULTURAIS
As culturas urbanas atuais são reorganizadas pelo impacto de fluxos transculturais, os quais
modificam o cerne de suas tradições. Um cenário que circunscreve a globalização, o qual tem a
música, materializada no videoclipe, como um dos catalisadores para a rearticulação das identidades
culturais que transcrevem o local e o nosso relacionamento simbólico com o espaço urbano.
Nas últimas duas décadas, o que se pensava sobre a globalização – fenômeno
homogeneizador de culturas, no qual uma dominante aterrava outra, dita dominada – foi dando
lugar à tensão entre homogeneização e heterogeneização cultural. O fato de culturas locais serem
dizimadas por outras consideradas modernas reflete a ideia de progresso disseminada pelo
movimento iluminista (séculos XVII e XVIII), o qual acreditava no modelo linear de
desenvolvimento social e cultural, classificado em maior ou menor grau de avanço, a partir do
modelo europeu de modernidade. Tal escala levaria à homogeneização das culturas locais no
sentido do seu aniquilamento de uma por outra superior.
Concordamos com Bhabha (1998) sobre a grande influência cultural e econômica que a
Europa e a América do Norte exercem sobre as Américas Central e Latina, mas não consentimos
que elas levem apenas à homogeneização. A interação entre culturas gera um hibridismo
(heterogeneização) que supera a miscigenação de identidades, abrindo um “terceiro espaço”, um
lócus para “a negociação das diferenças incomensuráveis, […] onde a diferença não é nem um nem
outro, mas algo além, entre eles” (BHABHA 1998, p.218-219, grifos no original).
Prova disso, é que tem se tornado mais claro que o consumo de comunicação de massa
origina ao redor do mundo elos de resistência, ironia, seletividade e impulso para ação, como
afirmou Appadurai (1994).
As T-shirts, os cartazes publicitários, os grafitos, bem como a música rap, a dança
de rua e os bairros de lata, tudo isso demonstra que as imagens dos meios de
comunicação entram rapidamente para os repertórios locais de ironia, ira, humor e
resistência (p. 19).
Tal característica também é aplicada ao gênero musical rock and roll no que concerne a
dinamica entre sua expressão global (homogeneizada) e local (heterogeneizada); uma vez que
alternativo, independente e underground são os gêneros do rock que se opõem ao mainstream
(tendência ou moda principal e dominante) do mercado fonográfico ou de outra origem geográfica.
As bandas do mainstream plastificam comercialmente o gênero rock impondo suas estéticas,
enquanto as bandas alternativas, independentes e undergrounds produzem suas composições fora
desse eixo regulador, sendo espaço para a expressão do local. Tal característica também se
manifesta na estética dos videoclipes.
Os fluxos dessa heterogeneização não partem somente das metrópoles para as periferias, já
que a cultura global não se espalha de um único centro, mas sim, move-se em um ciclo rizomático
caótico e imprevisível, sendo os países dominantes apenas nós desse fluxo cultural. Neste curso, a
nova economia cultural global (que inclui também a música e videoclipe) atua de forma disjuntiva,
superposta e complexa sendo reinterpretada fora do modelo de centro e periferia (APPADURAI,
1994).
Para a verificação dessas disjunções, o antropólogo traçou cinco cenários/panoramas para a
compreensão das interações transnacionais, relacionando diferentes dimensões do fluxo da cultura
global, denominando-os de: etnopaisagens (panorama que envolve os sujeitos desterritorializados
ou em deslocamento - imigrantes, turistas, exilados e refugiados – que formam novos cenários
urbanos; tecnopaisagens (fluxos de tecnologias, veículos e dispositivos apropriadas pelos sujeitos
que amplificam a noção de deslocamento e convívio urbano); financiopaisagens (deslocamento do
curso de distribuição e centralização do capital global); ideopaisagens (reflete as ideologias dos
estados ditos dominantes em debate às contra-ideologias locais) e mediapaisagens (distribuição e
disponibilização de suportes e mídias para produção e veiculação de informações de caráter público
ou privado e as referências de mundo criadas através delas).
Estas paisagens são portanto o material de construção do que (por extensão de
Benedict Anderson) chamarei de mundos imaginados, isto é os múltiplos universos
que são construídos por imaginações historicamente situadas de pessoas e grupos
espalhados pelo globo. Um fato importante no mundo em que hoje vivemos é que
em todo o globo muitas pessoas vivem nesses mundos imaginados (e não apenas
em comunidades imaginadas), sendo portanto capazes de contestar e por vezes até
subverter os mundos imaginados na mente oficial e na mentalidade empresarial
que as rodeia. (APPADURAI, 1994, p.51).
Milton Santos (1996) considera que é no lugar que a cultura vai ganhar sua dimensão
simbólica e material, combinando matrizes globais, nacionais, regionais e locais. Ele enfatiza que
há a necessidade de tornar a globalização mais humanizada; já que a mecanização e a técnica,
marcas do atual cenário mundial, são desumanas e centralizadoras do capital em detrimento da vida
pessoal e social. Tal realidade o fez observar a globalização sob três pontos de vista: a globalização
como fábula, a globalização perversa e a nova globalização.
Para Santos (2007) a territorialidade não deriva do fato de viver em um lugar, mas da
relação que mantemos com ele. “O território em que vivemos é mais que um simples conjunto de
objetos, mediante os quais trabalhamos, moramos, mas também um dado simbólico, sem o qual não
se pode falar de territorialidade” (p. 83-84). Nessa percepção a territorialidade representa o conjunto
de ações exercidas e as relações sociais vivenciadas pelos sujeitos em um território, sendo efetivada
quando os indivíduos são e estão em contato com outras pessoas ou comunidades. Assim, resulta do
processo de produção de cada território, contribuindo para a formação de identidades e estruturação
da vida cotidiana.
Nesse sentido, o território não é fixo, sendo compreendido como uma dinamica que se
constrói, desfaz e reconstrói, a partir de diferentes sentidos relacionais e temporais.
Lopes (2012), inspirado no conceito de entre-lugar de Santiago (1982), aplica o termo
paisagens transculturais, as quais consideram as transversalidades culturais oriundas de outros
países e culturas sem que ocorra o apagamento da cultura local.
Ao pensarmos, portanto, em paisagens transculturais, não estamos mais nos
colocando no espaço engajado do terceiromundismo mas procuramos
transversalidades que atravessem diferentes países e culturas, sem ignorar as
desigualdades nas relações de poder, mas buscando responder ao contexto
desenvolvido a partir dos anos 70 do século passado, e com mais força a partir dos
anos 90, em que cidades globais são construídas e que podemos ver o Primeiro
Mundo no Terceiro, bem como o Terceiro Mundo no Primeiro, compondo um
quadro não em continuação ao imperialismo europeu do século 19, mas sobretudo
nos moldes do Império como descrito por Toni Negri e Michael Hardt (LOPES,
2012, p. 87).
Ele destaca que
é importante resgatar que mesmo a interculturalidade se produz mais através dos
meios de comunicação de massa do que por movimentos migratórios, para
retomarmos uma provocação feita por Canclini (2000, p. 79) mas a que não se deu
a atenção devida, sem esquecer que as diásporas e as interculturalidades midiáticas
são complementares (APPADURAI, 1996, p. 4). No entanto, são as migrações
midiáticas que explicitam mais a perda de uma origem, na delimitação das
paisagens transculturais, multiplicando as mediações e leituras, numa história, às
vezes, difícil de perceber, e criando frutos, por vezes, inesperados (p. 88).
Neste cerne, podemos observar mudanças na dinamica cultural e de como se processa o seu
hibridismo, no tocante às atividades sociais e sua relação diante dos meios de comunicação, no
ambito da indústria cultural e as práticas de consumo.
Na redefinição da cultura, é fundamental a compreensão de sua natureza
comunicativa. Isto é, seu caráter de processo produtor de significações e não de
mera circulação de informações, no qual o receptor, portanto, não é um simples
decodificador daquilo que o emissor depositou na mensagem, mas também um
produtor. O desafio apresentado pela indústria cultural aparece com toda a sua
densidade no cruzamento dessas duas linhas de renovação que inscrevem a questão
cultural no interior do político e a comunicação, na cultura (MARTIN-BARBERO,
1997, p. 287).
Um direcionamento que considera os espaços sociais locais de interação como mediadores
na produção de sentido. Martín-Barbero (1997) propõe o olhar para as mediações, uma vez que
considera “dos lugares dos quais provêm as construções que delimitam e configuram a
materialidade social e a expressividade cultural” (p.292).
As mediações permitem compreender o sujeito na dinamica dos processos
comunicacionais com suas apropriações frente às realidades que atuam. A
midiatização percebe nessas apropriações do sujeito, uma estrutura que depende de
contextos, temporalidades e uma lógica institucional/ ideológica que via interações,
por meio de dispositivos comunicacionais, modelizam padrões culturais, práticas
de sociabilidade, institucionalizam lógicas políticas, crenças e percepções
(TRINDADE, 2014. p. 7).
Ressaltamos aqui, que o ponto concordante entre estes autores consiste em que o local
medeia e é mediado pelos meios de comunicação, não havendo o apagamento de culturas, como as
tecnologias da comunicação colaboram para manutenção das paisagens culturais nacionais,
regionais e locais.
O LOCAL E O TRANSCULTURAL NA FORMAÇÃO DA CULTURA NATALENSE
Natal é a capital do Estado do Rio Grande do Norte. Sua área é de 167,264 km² e sua
população é de aproximadamente 869.954 habitantes, segundo dados do IBGE de 2014. A capital
potiguar foi fundada em 1599 às margens do Rio Potengi, contando, então, 417 anos. E conhecida
como “cidade do sol” e “noiva do sol” devido à grande incidência solar durante quase todo o ano.
Em sua extensão, conta com 400km de litoral e está dividida em quatro regiões administrativas.
Quanto a elas, vemos que a Zona Norte possui maior extensão territorial e população. Ela se
separa do resto da cidade pelo Rio Potengi e, portanto, se liga às outras regiões por meio de duas
pontes: a Ponte Newton Navarro e a Ponte de Igapó. Seus bairros são Igapó, Salinas, Potengi, Nossa
Senhora da Apresentação, Lagoa Azul, Pajuçara e Redinha.
A Zona Sul é morada das classes média alta e alta. Possui boa infraestrutura e concentra os
principais shoppings e hotéis da cidade. Também possui sete bairros, assim como a Zona Norte,
sendo eles: Lagoa Nova, Nova Descoberta, Candelária, Capim Macio, Pitimbu, Neópolis e Ponta
Negra. A Zona Oeste conta com dez bairros: Cidade da Esperança, Quintas, Nordeste, Dix-Sept
Rosado, Bom Pastor, Nossa Senhora de Nazaré, Felipe Camarão, Cidade Nova, Guarapes e
Planalto. E uma das regiões mais pobres da cidade e com baixa infraestrutura.
A Zona Leste é uma região de contrastes, pois concentra tanto as classes mais altas como no
Bairro de Petrópolis como as mais baixas como Rocas e Mãe Luiza. Além disso, ela se divide em
aspectos arquitetônicos, já que alguns bairros (como a Ribeira) datam da fundação da cidade e
guardam sua estética original. E a Zona Leste que abrange o polo comercial e o centro da cidade.
Seus doze bairros são: Cidade Alta, Alecrim, Tirol, Petrópolis, Barro Vermelho, Lagoa Seca, Rocas,
Mãe Luíza, Praia do Meio, Santos Reis, Areia Preta e Ribeira.
Nos primeiros séculos de existência, Natal não tinha crescimento notório perante outras
regiões do Brasil, e seu potencial econômico se concentrava entre relações oligárquicas e índices
baixos de desenvolvimento. Em meados de 1922, a cidade teve grande importancia no período da II
Guerra Mundial (1939-1945) por ser considerada um ponto estratégico: situava-se no ponto mais
próximo à Europa. Logo, um novo desenvolvimento da cidade ganha ritmo, sendo acelerado com o
crescimento de atividades urbanas e comerciais na região.
A construção da identidade potiguar estava em contínua modificação desde sua fundação
colonizadora, mas é nessa época que sua dimensão emerge. Os aviões americanos faziam o
abastecimento de combustível no local onde em seguida funcionou por muito tempo o aeroporto
Augusto Severo, que serviu para os planejamentos da base aérea americana. Foram criadas duas
bases militares: a Base Naval e a Parnamirim Field, recebendo aproximadamente 10.000 soldados
para lutarem no conflito mundial. Assim, a dinamica de localidade e identidade de Natal já
começou a ser fortemente impactada, mesclando a multiplicidade territorial e cultural dos que se
faziam presentes enquanto contribuía para a vitória dos aliados. Os costumes americanos foram
rapidamente introduzidos no cotidiano da população potiguar, principalmente diante do mercado
consumidor, e logo Natal foi ganhando forma de metrópole internacional, transformando-se em
destino de muitas pessoas.
Entre inúmeros contextos, o destaque está na transculturação dos habitantes. Hábitos dos
soldados norte-americanos são difundidos, e toda a lógica de identidade sociocultural oriunda dos
E.U.A em poucos anos passa a ser incorporada ao cotidiano da população. Essa percepção foi
trabalhada no filme “For All – O Trampolim da Vitória”, em 1997, por Buza Ferraz e Luiz Carlos
Lacerda, na qual os diretores receberam com a produção cinematográfica melhor direção de arte no
Festival de Miami e no Festival de Gramado, retratando a entrada da cultura americana no solo
nordestino. Em cores, as cenas mostram que milhares de soldados transitavam pela base e
modificavam a estabilidade das famílias locais. Pontos influenciados por esse encontro são a
linguagem (estrangeirismos e neologismos – recebendo palavras como yes, ok, my friend, taxi,
ônibus, senorita), gostos, vestimentas, estilos musicais, aspectos que percorrem até os dias atuais.
Natal conhece o dólar, os eletrodomésticos, o glamour de uma cultura hollywoodiana, música de
grandes bandas internacionais, além da performance de atrizes e cantoras famosas.
No pós-guerra, tal ritmo continua, mas em menor intensidade até a década de 1980 com a
construção da Via Costeira e ações políticas que ocorreram na época. Nos últimos anos, a “cidade
do sol” possui uma forte demanda turística, e assim vem conquistando estrangeiros que continuam
fomentando uma parcela significativa da economia local.
O relacionamento com estrangeiros durante a colonização e especialmente durante a II
Guerra, o pós-guerra e em seguida com o desenvolvimento turístico deram a Natal uma
característica multicultural, que é percebida em todos os aspectos da vida local. Desde suas
características arquitetônicas e culturais que deram as bases da cidade até sua ressignificação
cultural e linguística. Algo que é perceptível nos processos de identificação social no qual o rap
norte-americano se torna também aqui a linguagem dos excluídos, o boy vira sinônimo para garoto
e garota ou quando se empregam palavras de outros idiomas para nomear lojas e pessoas. Natal é
uma cidade que apresentou desenvolvimento de sua cultura popular tradicional (percebemos isso
quando vemos manifestações das danças populares como bumba-meu-boi e coco de zambê, por
exemplo), mas sofreu e sofre muito a influência das relações que fez e faz com outras nações, já que
agrega (e valoriza) tanto de outras culturas ao seu dia a dia.
NATAL: AUMENTA QUE ISSO AÍ É ROCK AND ROLL
O gênero rock começa a ganhar destaque em Natal/RN na década de 1980, quando bandas
começam a se formar na cidade. Os gêneros de maior influência são o heavy metal e o punk rock.
No período, a cidade contava com cerca de 20 bandas. Um ponto de encontro dos “metaleiros” da
cidade era a Whiplash Discos, a primeira loja de vinis do gênero na cidade, localizada na Avenida
Senador Salgado Filho, tendo sido fundada por Luziano Rock Stanley e Reginaldo Hendrix. Em
1990, a loja promoveu o "Whiplash Attack Vol.1", uma coletanea de músicas das bandas de heavy
metal natalenses. Dentre elas Hammeron, Croskill, Deadly Fate e Auschwitz. As lojas de discos
foram, nos anos 1980 e 1990, um local de concentração dos fãs de rock na cidade. Além da
Whiplash havia também a loja Records no Centro da cidade.
Nos anos 1990, as influências do heavy metal continuam fortes, mas novos gêneros
começam a fazer parte do gosto do natalense. Influência de mídias como tv, revistas especializadas
em música (que traziam as letras das músicas de grandes bandas internacionais e informações de
novas bandas) e, mais adiante, a popularização da internet, abriram o leque do rock na cidade.
Ao entrevistar fãs de rock e ex-integrantes de bandas de Natal, fundadas na década de 1990,
percebe-se que um outro fator que demonstrou ter sido responsável pela influência musical dos
jovens da época foi a chegada do sinal da MTV Brasil à cidade, que trouxe o contato com músicas
de diversos gêneros, em especial o grunge, que definiu muito da cultura dos anos 1990. Com tanta
demanda, os pontos de encontro, nessa década, vão além das lojas de discos e ganham espaços
próprios: os bares e casas de eventos nos quais as bandas locais poderiam mostrar o que produziam
ou tocar covers de bandas conhecidas nacionais e internacionais. Situando localmente, o ponto forte
estava na Ribeira (Zona Leste da cidade), mas os pequenos bares e locais de festas se espalhavam
por toda Natal, por vezes com estruturas precárias e por outras aproveitando espaços do bairro para
acontecer.
Era comum ocorrem eventos de rock em espaços como conselhos comunitários e ginásios
esportivos da cidade como ficaram conhecidos os eventos no Ginásio do DED, no bairro da
Candelária, na Zona Sul e os do Gemac (conselho comunitário do Soledade I) na Zona Norte.
A partir dos anos 1990, mas se fortalecendo nos anos 2000, estão os festivais de música rock
da cidade. Dentre eles, o “Culto ao macabro”, que existe há 8 anos e ocorre normalmente no mês de
outubro, sempre na Ribeira (Zona Leste). Participam bandas de rock no estilo black metal e death
metal, que possuem letras satanicas, o que justifica o nome do evento. Conta com bandas de Natal e
outros estados.
O “Animal Fest” é um evento realizado sempre no mês de setembro na Zona Norte de
Natal/RN com bandas de heavy metal da cidade e de outros Estados. Não se sabe ao certo quantas
edições já foram realizadas, pois tudo começou com uma festa de quintal em que amigos se reuniam
para ouvir metal e comemorar o aniversário de um rapaz apelidado de Animal. Com o tempo, a
festa foi crescendo até se tornar o evento conhecido hoje como um dos mais tradicionais para o
público de metal de Natal.
O “Bozo Fest” acontece há mais de 10 anos e ocorre sempre no dia 12 de outubro, feriado na
cidade de Natal/RN. A intenção da festa é comemorar o dia das crianças ao som de bandas de rock
de toda a cidade. O local varia e já aconteceu tanto na Zona Norte quando na Ribeira (Zona Leste).
Já o “Atrasados para Woodstock” é um evento novo na cidade, existe há apenas dois anos.
Surgiu como uma alternativa para o público que gosta de rock, já que acontece sempre no período
do carnaval. Ocorre na praia de Pirangi, litoral Sul. Diferentemente de outros eventos, este segue o
formato de bloco carnavalesco e conta com abadá e trio elétrico tocando músicas de rock clássico
dos anos 1960 e 1970.
O “Festival Mada” é realizado desde 1998 em Natal/RN. O objetivo do festival é lançar
novos trabalhos musicais do país inteiro e do Estado do RN. E comum ver, por exemplo, bandas
que são sucesso na internet se apresentarem no festival. O local do evento mudou muito com o
passar dos anos, já esteve na Ribeira, em hotéis do litoral Sul e no estádio Arena das Dunas (Zona
Sul).
O “Festival Dosol” acontece há mais de 10 anos sempre na Ribeira (Zona Leste).
Atualmente, o festival abrange outras cidades do Rio Grande do Norte e também do Brasil como
Recife. O nome é uma referência direta à casa onde ocorre o evento: Dosol rock bar, que por sua
vez, se refere aos apelidos da cidade do Natal (cidade do sol, noiva do sol). Bandas de rock
alternativo do Estado do RN e do Brasil tocam músicas autorais no evento.
Figura 01: Mapa de localização dos festivais/eventos de rock em Natal/RN
Fonte: diagramado pelas autoras.
A MEDIAÇÃO LOCAL NOS VIDEOCLIPES DE BANDAS DE ROCK NATALENSES
A seguir, vamos descrever a catalogação das bandas de rock da cidade do Natal/RN e a
dimensão visual da análise da imagem em movimento presente nos videoclipes. Como
sistematização, distribuímos os resultados na tabela abaixo:
Tabela 01: catalogação das bandas de rock da cidade do Natal/RN.
Bandas
1) Albor
2) Atrito urbano
3) Black Century
4) Cabrones
Descrição
Idioma da música: inglês. Gênero: heavy metal. Título: Albor animal
https://www.youtube.com/watchv=UtCI1S8mNcU
Idioma da música: português. Gênero: tharsh metal. Título: Thrash attack
https://www.youtube.com/watch?v=oKMG2sv-lSE
Idioma da música: inglês. Gênero: heavy metal melódico. Título: Achilles
The Warrior
https://www.youtube.com/watch?v=kSVGImFjJAY
Idioma da música: português. Gênero: punk rock. Título: Boca de Lixo
https://www.youtube.com/watch?v=SQhQ9sDFc00
5)Camarones Orquestra Gênero: rock instrumental. Título: Bronx
Guitarrística
https://www.youtube.com/watch?v=Zi91XdgyiYo
6) Comando Etílico
7) Deadly Fate
8) Deluge Master
9) Dessituados
10) Eternal Prison
11) Expose your hate
12) Fukai
13) Far from alaska
14) Jubarte ataca
15) Kataphero
16) Koogu
17) Kung Fu Johnny
18) Mahmed
19) Monster Coyote
20) N.T.E
Idioma da música: português. Gênero: heavy metal.Título: Comando
Etílico
https://www.youtube.com/watch?v=3MUlnRxye1A
Idioma da música: inglês. Gênero: heavy metal. Título: Rich in spirit
https://www.youtube.com/watch?v=6C46hO8Z82w
Idioma da música: inglês. Gênero: heavy metal. Título: Down of Death
https://www.youtube.com/watch?v=LYoVxCsrykg
Idioma da música: português. Gênero: punk rock. Título: Desapego
https://www.youtube.com/watchv=ta6UEGHgr_o
Idioma da música: inglês. Gênero: thrash metal.Título: Metal sound
https://www.youtube.com/watchv=SCM_tBSACS8
Idioma da música: inglês. Gênero: hardcore/punk rock. Título: Ready to
explode
https://www.youtube.com/watch?v=XbvcqISB93I
Idioma da música: português, inglês e espanhol.Gênero: rock psicodélico.
Título: Fukai
https://www.youtube.com/watch?v=xZ_ulrhUBgs
Idioma da música: inglês. Gênero: stoner rock. Título: Dino vs. Dino
https://www.youtube.com/watch?v=J1x890Fmqkc
Gênero: Instrumental surf music. Título: Barulho no beco
https://www.youtube.com/watchv=0NoOKvfjxyw
Idioma da música: inglês. Gênero: death metal. Título: Kataphero
https://www.youtube.com/watch?v=RG9xMc4-EQ4
Gênero: rock psicodélico instrumental. Título: À espera da chuva
https://www.youtube.com/watch?v=Y8ubS-KYSgY
Idioma da música: inglês. Gênero: rock alternativo com influências do
grunge e indie. Título: Nobody likes me
https://www.youtube.com/watch?v=SgJN6j3c3jo
Gênero: rock instrumental. Título: AaaaAAAaAaAaAa
https://www.youtube.com/watch?v=BHP1Fu2Gt9s
Idioma da música: inglês. Gênero: rock punk/hardcore. Título: Gravity Oeleven
https://www.youtube.com/watchv=9yWF4CxjXFo
Idioma da música: português. Gênero: rock punk/hardcore. Título: N.T.E
https://www.youtube.com/watchv=gdkbDxOk3Nc
21) Óperalóki
Idioma da música: português. Gênero: rock pop.Título: Óperalóki
https://www.youtube.com/watch?v=EV-2y1YtbfQ
22) Plutão já foi
Idioma da música: português. Gênero: rock com influência indie e pop.
planeta
Título: Suma daqui
https://www.youtube.com/watch?v=Zc5vFZicxWQdos
Idioma da música: inglês. Gênero: rock experimental. Título: The Curse of
23) Primoirdium
ihmotep
https://www.youtube.com/watch?v=rP-ddFJsYIo
24) Rejects
Idioma da música: inglês. Gênero: heavy metal. Título: Scum
https://www.youtube.com/watchv=dq9ukgUlZyE#t=41
25) Ruído de máquina Gênero: rock experimental. Título: Corrente avessa
https://www.youtube.com/watch?v=lL2ib3pIb8s
26) Sanctifier
Idioma da música: inglês. Gênero: death metal. Título: Daemoncraft
https://www.youtube.com/watchv=FBEqAjbADDU
27) Son of a witch
Idioma da música: inglês. Gênero: stoner rock. Título: New Monster
https://www.youtube.com/watch?v=Ah4X1CO3z-w
28) Terrorzone
Idioma da música: português. Gênero: heavy metal. Título: Terrazone
https://www.youtube.com/watchv=LQPCErnnaXA
29) The bop hounds
Idioma da música: inglês. Gênero: rockabilly. Título: The bop hounds
https://www.youtube.com/watchv=xuDZhM3QJgE
30) Thunder Stee
Idioma da música: inglês.Gênero: thrash/black metal. Título: Thunder teel
https://www.youtube.com/watch?v=yXqptjsSrL4
31) Torment the skies Idioma da música: inglês. Gênero: death metal. Título: Carnal
https://www.youtube.com/watch?v=TjPLmjrrWaE
32) Zurdo
Gênero: rock experimental instrumental. Título: Zurdo
https://www.youtube.com/watch?v=gbtZ0L_INwA
Dos 34 videoclipes analisados as bandas Atrito Urbano, Deadly Fate, Eternal Prison,
Monster Coyote e N.T.E veicularam videoclipes nos quais aparecem executando suas músicas em
estúdio. Não houve referência ao local. Black Century, Camarones Orquestra Guitarrística,
Comando Etílico, Dessituados, Expose Your Hate, Far From Alaska, Jubarte Ataca, Koogu, Kung
Fu Johnny, Mahmed, Óperalóki, Plutão já foi planeta, Ruído de Máquina, Sanctifier, Terrorzone,
The Bop Hounds e Torment The Skies apresentaram em sus videoclipes, estéticas e temáticas
translocais. Cabrones e Deluge Master veicularam videoclips com imagem estáticas das capas dos
respectivos cd's e com referências também translocais. Albor, Fukai, Kataphero, Primoirdium,
Rejects, Son of a witch, Thunder Steel e Zurdo veicularam videoclipes com imagens de suas
performances em palcos dos festivais de música de Natal/RN. Neles o local é identificado pelas
logomarcas dos festivais, as quais aparecem como cenário.
Apenas as bandas The Skins e Talma e Gadelha apresentaram em seus videoclipes imagens
que referenciaram a cidade do Natal, como podemos ver nos tabelas a seguir:
Tabela 02: Análise da dimensão visual do videoclipe “Minha Voz”.
Nome da banda e
videoclipe
Dimensão visual
Imagens
O clip inicia com imagens em close e
plano conjunto de duas pessoas vestidas
de coelho e andando de skate pelas
avenidas de Natal/RN.
Cort a p ara pl ano c onj un to d os
integrantes da banda entrando no mar da
praia de Ponta Negra, em Natal /RN, para
surfar. O Morro do Careca aparece
nitidamente ao fundo.
34)The Sinks
Corta para imagem em plano americano
de um homem com cabeça de coelho
andando de skate na praça do DED,
Idioma da música:
localizada no bairro da Candelária em
português
Natal/RN.
Gênero: rock pop e
Corta para plano geral de imagem da
melódico
banda tocando na Praça do Disco Voador,
Título: Minha Voz
no bairro de Ponta Negra. O homem com
https://www.youtube.co cabeça de coelho andando de skate e
m/watch?
fazendo manobras continua na cena.
v=oyXH7AgDpjg
Corta para plano próximo de um dos
integrantes da banda surfando e como
plano de fundo aparece a orla e prédios da
praia de Ponta Negra, em Natal/RN.
Corta para plano geral de um dos
integrantes da banda dentro do mar ao
lado de sua prancha de surf. O Morro do
Careca aparece nitidamente ao fundo.
Corta para plano geral de um dos
integrantes da banda surfando e como
plano de fundo aparecem a orla e prédios
da praia de Ponta Negra, em Natal/RN.
Corta para plano geral do homem com
cabeça de coelho, andando de skate e
fazendo manobras na praça do DED,
localizada no bairro da Candelária em
Natal/RN.
Corta para plano geral da praia de Ponta
Negra e do Morro do Careca, em
Natal/RN.
O clip finaliza com imagens da banda
tocando na praça do disco voador, no
bairro de Ponta Negra.
No videoclipe “Minha Voz” apareceram várias referências explícitas à cidade do Natal/RN e
seus pontos emblemáticos. Avenida Engenheiro Roberto Freire, na Zona Sul, praça do DED, no
bairro de Candelária, Praça do Disco Voador, no bairro Ponta Negra, A orla da praia de Ponta
Negra e o Morro do Careca. Neste videoclipe, apesar do rock ser o gênero musical interpretado pela
banda, podemos identificar a mediação local nas imagens que ilustram a música em execução.
Tabela 03: Análise da dimensão visual do videoclipe “Matando o Amor”.
Nome da banda e
videoclipe
33)Talma e Gadelha
Dimensão visual
Imagens
O videoclipe inicia com uma fusão de
imagens e caracteres com o nome da banda.
Idioma da música:
Em seguida, surgem cenas de uma moça
português
relembrando cenas nostálgicas de um
Gênero: rock pop
relacionamento amoroso.
Título: Matando o
Ela pinta uma reprodução de Modglhani,
amor
lê livros de arte surrealista, caminha no
https://www.youtube.c interior de uma loja de departamentos,
om/watch?
bebe em um bar decadente.
v=AIAKC1orEt4
Corta para plano geral de imagem da
moça caminhando pelo calçadão da praia
de Ponta Negra, em Natal/RN. Ela vê um
casal conversando. Como palno de fundo
temos o mar.
Corta para plano geral da mesma moça
se aproximando do casal. Eles têm como
plano de fundo a praia de Ponta Negra e o
Morro do Careca, em Natal/RN.
O clipe encerra com a protagonista do
clipe relembrando momentos amorosos
que estão dispostos em fotos.
Identificamos referências da cidade do
Natal apenas nestas duas imagens.
Já no videoclipe Matando o Amor identificamos que as referências à cidade do Natal
aparecem apenas nas duas cenas ilustradas na tabela. Nelas visualizamos o calçadão da praia de
Ponta Negra, a praia de Ponta Negra e Morro do Careca. Todas as demais relataram cenas urbanas
que poderiam paer parte da paisagem de qualquer cidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Investigar as mediações locais nos remete para um cerne que revela a quebra de antigos
paradigmas sobre a globalização e suas convergências culturais. Nos videoclipes analisados,
verificamos fortes influências transculturais, concebidas pelas mediações locais e fluxos
migratórios, os quais modificam as nossas relações simbólicas com o nosso entorno, configurando
hibridismos culturais.
Visamos perceber além da dimensão transcultural, transcritas nos videoclipes em questão, já
que o nosso olhar buscou traços da localidade, mesmo sendo o rock um gênero global em todos os
seus aspectos estéticos. Identificamos que em Natal/RN o rock é expressivo, efervescente e agrega
um grande número de adeptos. Os festivais também abriram espaço tanto para a afirmação desse
gênero musical na cidade como para a formalização de um calendário de eventos permanentes. Tal
fato, tem contribuído para que o rock potiguar aglutine o local, saia da obscuridade e expresse
talentos. Temos a ciência de que historicamente as formas artísticas e culturais populares sempre
foram marginalizadas, já que a tradicional concepção de globalização conservava em nós a ideia de
que tudo o que era originário do além-mar era mais importante e deveria ser perpetuado em nossa
cultura. Verificamos também que a materialização do rock nos videoclipes das bandas analisadas
representaram a transformação no modo de consumir música, ouvida e vista ao mesmo tempo, pois
os clipes ilustraram e narraram as composições de forma direta – mostrando a banda no palco – ou
subjetiva - roteirizadas como uma curta história.
REFERÊNCIAS
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globalização e modernidade/Mike Featherstone (org.). Petrópolis: Vozes, 1994.
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CANCLINI, N. G. A globalização imaginada. São Paulo, Iluminuras, 2003.
FERREIRA, T. Entrevista a Arjun Appadurai. In: Comunicação & Cultura. Faculdade de Ciências
Humanas – Universidade Católica Português/Editora Quimera, n.º 7, 2009.
LOPES, D. Paisagens transculturais. In MACHADO JR; SOARES, R.; ARAÚJO L. (orgs). VII Estudos de
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