A Mala das Viagens. A mala é feita de papel dobrado, muito

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A Mala das Viagens.
A mala é feita de papel dobrado, muito pequenina. Cabe na mão dum menino. Para
transportá-la, é muito fácil: basta cobrí-la com muita afeição, e nunca se desformará.
Cruzamos um olhar, os nossos olhos pousam sobre uma pessoa, e aproximamo-nos.
Dedobramos o papel, cresce a mala, e aparecem os objectos.
Com essas pessoas, partilhamos as viagens que já fizemos, e as que estão para fazer. As
viagens da História, e as viagens dos Sonhos. Para contar, para impulsionar o
movimento.
A mala é branca, como os objectos que estão dentro. Inicialmente.
E cada pessoa com quem nós cruzamos, cada pessoa com quem partilhamos um pouco
das viagens, dá uma cor. Pinta um pedaço da mala, ou dum objecto.
Talvez um pouco de tudo (há pessoas que vemos como uma viagem em si).
Na minha mala, tenho uma foto da família. O pai, a mãe, o irmão.
São as férias da infância. Algo fixado, que já pertence ao passado. Que olhamos com
saudades, mas também com aceitação. Agora fica a curiosidade pelo que temos pela
frente.
Tenho uma pulseira, feita de pérolas e peixes de madeira. Comprada com uma amiga na
primeira viagem sem a família. Uma pulseira de amizade, de mar, de luzes, de
encontros.
Uma pulseira maltesa para iniciar as descobertas.
Tenho um baralho de cartas. Para a alegria, o espírito de grupo, a sensação de pertença.
Para o jogo, nos seus diversos aspectos.
Uma viagem espanhola na Juventude.
Tenho um brinco-sardinha. Para traduzir uma viagem de um ano. A viagem de
iniciação. Que deu para mexer as ideias, que deu para perceber que ainda há muito para
perceber.
O objecto é precioso, e por isso, pequenino. Perto do ouvido, que ouviu muito.
A sardinha é um pais.
Tenho um álbum infantil. Les poings sur les îles1. (= Os punhos sobre as ilhas). Para as
viagens que espero fazer. Uma do outro lado do mar. Outra pelo outro lado do oceano.
Uma para reencontrar o leitor do coração. Outra para sussurrar as palavras aos pequenos
ouvidos do outro continente.
Tenho outra mala, mais pequena. Vazia. Que espera ser enchida.
1
Elise Fontenaille, Les Poings sur les Îles, illus. Violeta Lópiz, Paris, Rouergue, 2011
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