 
                                Indistinguibilidade: Vamos analisar o papel da indistinguibilidade entre as partículas usando um exemplo de um sistema de 2 níveis, 1  0 e  2   com 5 partículas no ensemble canônico. Quais são as possibilidades de energia? Energia Configuração E 0 Degenerescência ..... . E  .... .. E  2 ... ... E  3 .. W    5! 5 1! 4! 5!  5  2  10 2! 3! W  3   5!  5  2  10 3! 2! . ..... E  5 5! 1 0! 5! W  2   .... E  4 W  0  W  4   5! 5 4! 1! W  5   5! 1 5! 0! Nesse caso a função de partição será dada por: Z  W j e  j k BT  1  5x  10 x  10 x  5x  x 2 3 4 5 com xe   k BT j Mas já sabemos da expansão binomial que: 1  x  5  1  5 x  10 x 2  10 x 3  5 x 4  x 5 Logo Z  1  x  Notamos que foram as coeficientes W j  5 j     1  e k BT   5  5   Z1  n! que nos permitiram fatorar, decompor, a j !  n  j ! função de partição em termos da função de partição de uma moléculas apenas. Entretanto, nós temos W j  n! estados diferentes porque podemos, em princípio, distinguir que molécula j !  n  j ! está em que nível de energia. Mas se as partícula são indistinguíveis a única diferença entre as várias configurações de um estado de mesma energia retrata apenas uma permutação entre as partículas idênticas e só pode ser contada uma única vez. Nesse caso a função de partição se tornaria: Z  e  j k BT  1  x  x 2  x 3  x 4  x 5  1  x  5 j Vamos generalizar para N partículas e m níveis de energia com N j partículas no nível de energia E j . Vejamos o que temos para as partículas distinguíveis: N  Nj j m E   N j j j 1 W  N! N1 ! N 2 ! N m ! Assim: Z dist  W e    W e  Z dist     m   N j j j 1  N1 N2 N! e  1   e   2   N1 ! N 2 ! N m ! e   m  Nm Do teorema multinomial sabemos que:  x1  x2  n n  xk     n n  n1  0 n2  0 nk  0 n1  n2   nk  n n! x1n1 x2n2 n1 !n2 ! nk ! xknk Então: Z dist   e  1  e   2   e   m   Z1N N Novamente, foi possível fatorar a função de partição, por conta do termo W  N! . N1 ! N 2 ! N m ! Partículas indistinguíveis: No caso de partículas indistinguíveis a função de partição será:   e    e    Z ind  1 N1  2 N2 e    m Nm N1 , N 2 , , N m N j N  Que não pode ser fatorada em termos de Z1 . O que podemos fazer? O que complica a somatória é a restrição N j  N . Se a gente não tivesse essa restrição, permitindo que N   poderíamos cair em progressões geométricas infinitas do tipo Z ind    e    N j 0 j Nj  N j   j 1 . Para   1 e j liberar a restrição em N que tal sair do ensemble canônico, no qual N é dado, e mudar para o ensemble grand-canônico, no qual N é livre e pode ir até o infinito? Mudando para o ensemble grand-canônico temos a função de partição: Qind   e      N   Justificativa do fator de correção  e    N    1 de distinguibilidade novamente: N! Vale notar que se as partículas fossem distinguíveis, sem a correção de indistinguibilidade 1 ,a N! função de partição seria dada por:  Qdist  N1 , N 2 , , N m  N1  N 2  N1 ! N 2 !  N m  !   N j    j  N!  N   e   e  j j Nm ! Nm ! N1 , N 2 , , N m N1 ! N 2 ! Essa somatória ainda é complicada por conta do fator  N1  N2   N m ! no numerador. No entanto se usamos a correção de distinguibilidade esse termos  N1  N2  com a correção  Nm !  N ! cancela 1 . N! Qdist   N1 , N 2 , , N m 1  N     e  j j N1 ! N 2 ! N m ! Distribuição de Maxwell-Boltzmann: Usando o fator de correção de indistinguibilidade Nesse caso: 1 vamos supor as partículas distinguíveis. N! QMB  e     j        j Nj! N1 , N 2 , , N m Nj  e     j        j Nj! N1 , N 2 , , N m N1 QMB  e    1    e     2        N ! N ! N1 N2 1 2 N2  Nj  e     m     N ! Nm m Nm Sabendo que  xN  e x temos que:  N ! N 0 QMB  e   1   e   2    e   m  Ou seja: QMB  ee m     j j 1   Achando a população de cada nível de energia. No ensemble grand canônico o número total de partículas N i varia de zero a infinito, e para cada valor de N i teremos uma distribuição de m partículas nos m níveis de energia  k com N ik tal que N i   N ik . Para cada N i temos a k 1 energia total dada por Ei   Q  e m  Nik  k . A função de partição é dada por: k 1    Ei   Ni  Ni 0 Agora vejamos quanto vale     m  m      Nik  k    Nik  k 1  e  k 1 Ni 0    e m    Nik  k    k 1 Ni 0 1  ln Q ?   j 1  1  ln Q     j  m     k1 Nik  k     e m  N ik  k     j N i 0 1   e Ni 0  k 1 m   1  1 ln Q     j     N ij e    N ik   k     m   e  N ij e k 1 Ni 0    N ik   k    m     N ik  k    k 1 Ni 0 m   e k 1 Ni 0    N ik  k    k 1 Ni 0 m  1   ln Q   N ij   j Ni 0 e    N ik   k     k 1 m   e    N ik   k      N ij pi  N j Ni 0 k 1 Ni 0 A população de cada nível  j será dada, então, por: 1  ln Q   j Nj  No caso de Maxwell-Boltzmann obtemos: Nj   m e 1  Nj   ln e i 1   j 1  1  ln QMB     j   j     i   1    j m m  N      i 1 i 1 i m  e          e     e  i i 1  ij i 1 Ou seja: N j  Noe   j Para encontrar o potencial químico usamos o fato de que: N j  N , logo e   e   j N j  e   N   e j j Portanto: Nj  e   j  e   i i N i     j  Indistinguibilidade na Mecânica Quântica: Como vimos na mecânica quântica as partículas são indistinguíveis e as funções de onda total só podem ser do tipo simétricas, ou antissimétricas. Os férmions, com spin semi-inteiro, possuem função de onda antissimétrica, logo, no mesmo estado só cabem zero ou uma partícula [duas se considerarmos spin]. No caso dos bósons, com spin inteiro, as função de onda é simétrica e não há limite no número de partículas em uma mesmo estado. Os férmions seguem a estatística de FermiDirac e os bósons, a estatística de Bose-Einstein. Estatística de Fermi-Dirac: Nesse caso N j   0,1 e:  QFD  N1 , N 2 , , N m  e  N j    j  j 1 1   e    1     e     2    N 0 N 0 N1 1 N2 2  1  e      m Nm N m 0     1  e     m     1  e  j    j 1  m QFD  1  e    1    1  e     2    O número médio de partículas por nível será: Nj   1  Nj     j m 1 ln 1  e    i       i 1 1  ln QFD   j  1 1  e    i          i       j i 1 1  e   m Nj  1     e  j  1 e     j  m  e i 1      i   ij  1  e       i   ou ainda: Nj  1 e   j    1 Vale notar aqui que N j  1 sempre. O que acontece se T  0    ? Nesse caso só temos           duas opções:  j    0 , quando e j   e N j  0 , ou  j    0 , quando e j  0 e N j  1 . Neste caso determinamos o potencial químico   0K    Fermi   F , chamado de energia de Fermi, preenchendo os níveis desde o mais baixo até esgotar o número de partículas, como mostra a figura xxx. Estatística de Bose-Einstein: Agora o número de partículas se estende até o infinito, portanto:   QBE  e  N j    j  j N1 , N 2 , , N m  N1 1      j   N j 0 1 1 e   1     N2 2  e QBE     e    1     e     2    N 0 N 0 1 1 e    2    Nj    1 1 e      j   e      m Nm N m 0  1 1 e      m    m  j 1 1 1 e     j   O número médio de partículas por nível será: Nj   Nj   1    j m   ln 1  e  i     i 1 1  ln QBE   j  1 1  e   i          i 1 1  e   i      j    1 m 1 m  e       ij i  1  e   i 1   i    Nj      e j  1 e     j  Nj  ou ainda:  1 e   j    1 Comparando agora os três casos temos: Distribuição MaxwellBoltzmann Fermi-Dirac Bose-Einstein Função de partição m QMB   e Configuração    N j  e  j     j  Potencial Químico N j N N j N N j N j 1     j   QFD   1  e   j 1 m    QBE   1  e  j     j 1 m 1 Nj  Nj  1 e   j    1 1 e   j    1 No caso de Bose-Einstein, em que o denominador envolve uma diferença, sabendo que N j  0 sempre, é preciso que:          e  j   1  0  e  j   1  ln e  j   ln1    j     0 Então  j   j pois   0 . Assim se o estado fundamental for 1 o potencial químico deve ser sempre   1 . O que acontece se T  0 ? Nesse caso    e como  j    0 então e   j      e N j  0 em princípio, para qualquer j . Exceto no caso em que   1 . Porque então, independentemente de  e 1    1 e N1   com N j 1  0 . Nesse caso todas as partículas estarão no estado fundamental. Comportamento para T   : Limite Clássico. Tanto para BE como para FD o potencial químico é extraído da restrição:  1 e   j    N 1 Quando T   e   0 se  continuar finito então e  j   1 j levando a somatória com infinitos níveis [na mecânica quântica existe um limite inferior para os níveis de energia mas não     existe nível superior, o qual tende a infinito] a tender a infinito, i.e.,    , em lugar de um j 1 N finito. Para manter a somatória finita mesmo com   0 é preciso que o potencial químico tenda a    . Note que o potencial químico extraído dos diversos ensembles tem sido obtido   como algo do tipo   k BT ln P , tendendo a  mas mantendo    ln P finito. Nesse X X    caso e  j   1 e, tanto para BE quanto FD: Nj  1 e   j    1     e  j     Caindo de volta no caso MB onde N j  e  j  . A equação para o número de partículas N  e     j  e  j e   j significa que e   j   e j N , e que N j  N . O potencial   j   i e e   i j químico é dado por:   ln N  ln  e   j j  1   j   ln N  ln  e   j  Notamos, novamente, que esse potencial químico tem uma dependência com  na forma 1 .  Então percebemos que tanto FD quanto BE tendem à MB no limite clássico, ou seja, quando a temperatura é muito alta. Agora podemos justificar de forma rigorosa o fator de correção de indistinguibilidade 1 . MB é, essencialmente, o limite das distribuições de BE e FD, nas quais N! não existe o fator de indistinguibilidade. Mas esse limite da FD/BE foi a MB corrigida pelo fator de indistinguibilidade. Logo, esse fator deve ser considerado sempre, desde o início, como uma correção quântica dos sistemas clássicos. Limite Clássico. Vamos analisar as condições para atingir o limite clássico. Queremos determinar ordens de grandeza apenas, ou seja, não se trata de uma análise altamente precisa, usualmente errada por fatores de 2 a 5. Sejam R e p a distância média entre as partículas e o momento médio das mesmas. Estaremos no limite clássico se R p  , ou seja, muito acima das condições de h h h incerteza de Heisenberg. Por De Broglie    p  R  , assim, podemos p   afirmar que se a distância média entre as partículas for muito maior do que o comprimento de onda de De Broglie, ou seja, R   , as partículas são distinguíveis e estamos no limite clássico. Essa afirmação é intuitiva no sentido em que se não há superposição das funções de onda podemos sim distinguir um pacote de onda de outro. Entretanto, ainda necessitamos do N ! porque nos choques os pacotes de onda se superpõem e não distinguimos mais qual partícula foi qual antes do choque. Vamos analisar essa condição em termos da densidade e temperatura de um gás. Densidade: 1  V 3  R   N V  NR 3 Momento: O momento 2 p 3  kBT  2m 2 médio p  3mkBT sai do teorema da equipartição da energia h assim a condição do limite clássico é dada   3mkBT por: 1 h  V 3    3mk BT N Vamos estimar ordens de grandezas. Vamos considerar o gás ideal monoatômico Hélio na pressão atmosférica P  760 mmHg  1.015 105 Pa e na temperatura ambiente, T  300 K . Nessa temperatura: k BT  1.38 1023 J  300 K  414 1023 J  4.15 1021 J K Ás vezes queremos a energia térmica em 300 K dada em elétron-Volt. Sabemos que J 1 1eV  1.602 1019 C 1V  1.602 10 19 C   1.602 10 19 J logo 1 J  eV , ou C 1.602 1019 1 J  6.24 1018 eV . Assim k BT  4.15 1021  6.24 1018 eV  25.9  103 eV . Na temperatura ambiente então  kBT 300 K  25.9 meV . Massa do hélio: m  4g 6 1023 Constante de Planck: h 7 1024 g  7 1027 kg 7 1034 J  s N 105 2 N 1 m    2.5 1025 3 logo: 21 V 4 10 N  m m N P Assim  V k BT 1 1 3 1  3 27 3 9   R m  40  10 25   m 3.5 10 m  2.5  10   Dessa forma obtivemos que: 3.5 nm  35 Å R Agora vamos estimar o comprimento de onda de De Broglie:  34 m2 m2 s kg s 2  7 1034 24 s 2 m 87 m kg kg 2 2 s s kg 34 h 7 10 J  s 7 10   3mk BT 3  7 1027 kg  4.15 1021 J 87 10 48   0.75 1010 m ou seja,   0.75 Å . Então vemos que R   35 0.75 50 , logo: 50 R Isso significa que um gás de Hélio nas CNTP se encontra completamente dentro do limite clássico. Podemos modificar a pergunta para: em que temperatura o limite clássico para o hélio deixa de valer? Nesse caso:  k BT     P  1 3 h 3mk BT  k BT   1 3 1 1  3 2 hP 3m   kBT  5 6 1 3 hP 3m ou seja: 6 k BT 6 34 5 kBT 2 5 5  7 10  10  3  7 10  3 27 5  70   6 5 10  0.21 3 5 35 6 5 5 10 10 2 5 3 25 5 2 h5 P5 3  3m  5 6   70  5  0.21 3 5 1042 215  163 1025  41.7 1024 0.39 Assim, comparando com a temperatura ambiente temos T 41.7 1024  300 4 1021 logo T 10 103 , 10  300 103 ou seja: T 3K . A contraposição do gás de hélio é o gás de elétrons. Os elétrons livres em um metal podem ser considerados um gás de elétrons, só que a massa do elétron, me  9 1031 kg é muito menor do que a massa do Hélio. Vamos supor um elétron por átomo do metal, então a distância média entre os elétrons é da ordem da distância entre os átomos, ou seja, da ordem de R 2  3 Å . O 1 comprimento de onda de De Broglie vai com , então, m 7 1027 7 2  He  e 104  0.8 Å  80 Å , assim e 50 Å e temos o caso 31 9 10 9 3 inverso e 50 Å  R 2.5 Å , ou seja, e 20 R . Isso mostra que o gás de elétrons tem que ser e tratado quanticamente mesmo na temperatura ambiente.