UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA INFLUÊNCIA DA FORMA DE FENAÇÃO SOBRE A COMPOSIÇÃO BROMATOLÓGICA, DIGESTIBILIDADE IN VITRO E TANINOS CONDENSADOS DE FORRAGEIRAS DO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO SANDRA ELISABETH SANTIAGO BELTRÃO SANTA CRUZ AREIA – PB JUNHO DE 2005 1 SANDRA ELISABETH SANTIAGO BELTRÃO SANTA CRUZ INFLUÊNCIA DA BROMATOLÓGICA, FORMA DE FENAÇÃO DIGESTIBILIDADE IN SOBRE A VITRO COMPOSIÇÃO E TANINOS CONDENSADOS DE FORRAGEIRAS DO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO Dissertação apresentada à Universidade Federal da Paraíba, em cumprimento às exigências do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia para obtenção do título de Mestre em Zootecnia. Orientadores: Profa. Dra. Patrícia Mendes Guimarães Beelen Prof. Dr. Divan Soares da Silva Areia – PB 2005 2 3 INFLUÊNCIA DA FORMA DE FENAÇÃO SOBRE A COMPOSIÇÃO BROMATOLÓGICA, DIGESTIBILIDADE IN VITRO E TANINOS CONDENSADOS DE FORRAGEIRAS DO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO SANDRA ELISABETH SANTIAGO BELTRÃO SANTA CRUZ Dissertação defendida e aprovada pela Comissão Examinadora em 13 de Junho de 2005. __________________________________________ Dra Patrícia Mendes Guimarães Beelen (DZ/UFPB - Areia) __________________________________________ Dra. Jacilene Maria da Cunha Castro (DZ/UFPB- Areia) ____________________________________________ Dr. José Morais Pereira Filho (DV/UFCG- Patos) AREIA – PB JUNHO DE 2005 ii Dedico: a Helvio e aos meus filhos: Helvio Filho, Edvaldo Neto e Leonardo Santa Cruz, pela paciência, aos meus pais e irmãos, o presente trabalho. iii AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para a realização desse trabalho. Em especial expresso minha gratidão às seguintes pessoas: À Profª. Drª. Patrícia Mendes Guimarães Beelen pela orientação, amizade, compreensão e exemplo profissional transmitidos durante esses anos de convivência. Ao Prof. Dr. Divan Soares da Silva pela compreensão e ajuda no início e durante o curso de mestrado. Ao Prof. Dr. Ariosvaldo Numes de Medeiros pelo apoio nas horas de dificuldades. Ao Prof. Dr. Walter, e ao Engenheiro Agrônomo Élson Soares da EMEPA-PB pela ajuda com os dados estatísticos. Aos funcionários da Laboratório de Nutrição Animal do CCA/UFPB, pela colaboração no trabalho. Aos professores que participaram da banca do exame de qualificação, Patrícia Mendes Guimarães, Jacilene Maria da Cunha Castro e Divan Soares da Silva. Aos colegas Merilândia Vieira de Figueiredo, Maria Verônica Meira de Andrade, Maria Socorro Caldas Pinto, Marcos Jacome e Petrônio. A Universidade Federal da Paraíba, Campus de Areia, pela oportunidade de realização deste curso. A Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Paraíba- FAPEP e ao CNPq, pelo financiamento do projeto que gerou esta dissertação. Aos meus filhos Helvinho e Edvaldo e em especial a Helvio, pela companhia nas madrugadas durante as análise no laboratório. iv Ao meu marido Helvio e filhos pela paciência e apoio durante todo o curso de pósgraduação. Aos Tios Vital e Vinícia, pela ajuda e apoio com os meus filhos Às minhas irmãs Fabiana e Annie Elise pelo apoio no laboratório. A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. v SUMÁRIO Página Agradecimentos ....................................................................................................... iv Lista de tabelas ........................................................................................................ vi Lista de figuras ........................................................................................................ vii Referencial teórico................................................................................................... 9 Referências bibliográficas................................................................... 13 Capítulo 1 - Caracterização dos Taninos Condensados de Quatro Espécies Forrageiras do Semi-árido............................................. Resumo ............................................................................................... 16 Abstract ............................................................................................... 17 Introdução ........................................................................................... 18 Material e métodos.............................................................................. 19 Resultados e discussão ........................................................................ 22 Conclusões .......................................................................................... 27 Referências bibliográficas................................................................... 27 Capítulo 2- Influência do Método de Fenação Sobre a Composição Bromatológica, Digestibilidade in vitro e Concentração de tanino de Espécies Nativas do Semi-Árido. Resumo ................................................................................................. 30 Abstract ............................................................................................... 31 Introdução ........................................................................................... 32 Material e métodos.............................................................................. 33 Resultados e discussão ........................................................................ 36 Conclusões .......................................................................................... 42 Referências bibliográficas................................................................... 42 vi LISTA DE TABELAS Página Capítulo 1-Caracterização dos Taninos Condensados de Quatro Espécies Forrageiras do Semi-árido. Tabela 1.Concentração e adstringência de taninos condensados das espécies maniçoba, flor de seda, feijão bravo e jureminha...............................................23 Tabela 2 . Composição bromatológica e DIVMS das espécies maniçoba, flor de seda, feijão bravo e jureminha .....................................................................................24 Capítulo 2- Influência do Método de Fenação Sobre a Composição Bromatológica, Digestibilidade in vitro e Concentração de tanino de Espécies Nativas do Semi-Árido. Tabela 1.Composição químico bromatológica das espécies de maniçoba, flor de seda, feijão bravo e jureminha em três formas (in natura, feno ao sol e feno à sombra)...............................................................................................................37 Tabela 2. Composição da parede celular e digestibilidade in vitro da matéria seca das espécies de maniçoba, flor de seda, feijão bravo e jureminha em três formas (in natura, feno ao sol e feno à sombra)..................................................................39 Tabela 3. Concentração e adstringência de taninos condensados das espécies maniçoba, flor de seda, feijão bravo e jureminha em três formas (in natura, fenadas ao sol e fenadas à sombra)............................................................................................41 vii LISTA DE FIGURAS Capítulo 1 - Caracterização dos Taninos Condensados de Quatro Espécies Forrageiras do Semi-árido. Página Figura 1 Correlação entre a digestibilidade “in vitro” da matéria seca e a composição química-bromatológica de quatro espécies forrageiras do semi-árido nordestino ..................................................................... 26 Capítulo 2- Influência do Método de Fenação Sobre a Composição Bromatológica, Digestibilidade in vitro e Concentração de tanino de Espécies Nativas do Semi-Árido. Sem Figura viii Referencial Teórico A Região Nordeste, nos últimos anos, tem aumentado o rebanho de bovinos, caprinos e ovinos IBGE (2004). Por conseqüência, a busca por alimentos que atendam as necessidades desses animais, que sejam adequados ao clima e solo da região semi-árida e de baixo custo para o produtor vem aumentando. Uma alternativa são as plantas forrageiras que compõem a vegetação do semi-árido, encontradas na Caatinga. Essas são constituídas por arbustos, árvores e em menor proporção por herbáceas. A vegetação arbórea e arbustiva é caducifólia e xerófila. As forrageiras da Caatinga têm em sua composição bromatológica alto teor de proteína bruta (PB), geralmente acima de 15%. Fazem parte dessas forrageiras: maniçoba (Manihot pseudoglazovii Pax & Hoffman) Soares (1995), flor de seda (Calotropis procera) Vieira (2002), jureminha (Desmanthus virgatus (L.) Willd) Nascimento et al. (1996), feijão bravo (Capparis flexuosa, L) Araújo (2000), entre outras. A maniçoba é uma planta nativa da Caatinga encontrada nas diversas áreas que compõem o semi-árido do Nordeste. Normalmente é heliófila, vegetando em áreas abertas e se desenvolve na maioria dos solos, tanto calcários e bem drenados, como também naqueles pouco profundos e pedregosos, das elevações e das chapadas (Soares, 1995). No Brasil existe um grande número de espécies que recebem o nome vulgar de maniçoba ou mandioca Brava, sendo as principais as seguintes: maniçoba do Ceará (Manihot glaziovii Muell. Arg.), maniçoba do Piauí (M. piauhyensis Ule.) e maniçoba da Bahia (M. dichotoma Ule e pseudoglaziovii Pax & Hoffman). Além dos estados nordestinos, a maniçoba também é encontrada em áreas da Região Centro-Oeste até o Estado de Mato Grosso do Sul (Soares, 1995). Segundo Ataíde (1989), a maniçoba é conhecida popularmente como maniçobeira, maniçoba de cinco folhas, maniçoba de Jequié, maniçoba do São Francisco, maniçoba mirim, maniçoba roxa, maniçoba beira da caatinga e maniçoba de maracá. A maniçoba pode ser considerada uma forrageira com alto grau de palatabilidade, por ser bastante procurada pelos animais em pastejo, que sempre a consomem com avidez. Quando fenada apresenta, segundo Vasconcelos et al. (1999), 92,95% de MS, 11,88% de PB, 48,05% de FDN, 28,66% de FDA, 18,51% de Celulose 9,08% de Lignina, 5,83% de EE, 0,9% de Tanino; 7,90% de MM e 68,67% de DIVMS. A Calotropis procera Ait. R. Br, da família Asclepiadaceae, conhecida vulgarmente como Flor de Seda, Algodão de Seda, Leiteiro, Queimadeira e Ciúme, tem se destacado 9 por sua adaptação ao semi-árido. Segundo Schurmanm (1985), é uma planta conhecida desde os tempos remotos, possuindo ampla distribuição geográfica, especialmente em regiões tropicais e subtropicais de todo o mundo, particularmente na Ásia e África. Desenvolve-se em solos pobres e em locais com baixos níveis de pluviosidade (Sharma 1934, citado por Melo et al., 2001). De acordo com Corrêa (1939), a Calotropis procera foi introduzida no Brasil em época desconhecida, provavelmente como planta ornamental. Posteriormente, esta planta passou a se comportar como invasora de áreas de pastagens, devido a grande disseminação de suas sementes pelo vento, sendo hoje encontrada nos estados da Região Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, especialmente nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal (Melo et al., 2001). Andrade (2005), estudando aspectos fenológicos, produtivos e qualitativos da flor de seda, em plantio sem camalhão com densidade de 1 x 1,5 metros, encontrou a seguinte composição: 11,70% de MS, 86,75% de MO, 15,76% de PB, 3,7% de EE, 41,39% de FDN, 31,03% de FDA e 9,25% de Lignina. O feijão-bravo (Capparis flexuosa, L) é uma planta originária da Região Semi-árida do Nordeste do Brasil. Pertencente à família Capparaceae, cresce nos bosques secos do semi-árido, sendo comum nas áreas de solo franco-argiloso do agreste e já foi cultivado experimentalmente, com êxito, em regiões com precipitações pluviométricas abaixo de 600 mm (Silva et al., 2002). É uma forrageira de porte arbustivo-arbóreo, com folhas perenes típicas da Região Nordeste do Brasil. A espécie é bastante apreciada pelos animais, principalmente na época da seca, quando não existem outras fontes disponíveis de forragens verdes (Silva et al., 2002). Uma das vantagens que o feijão bravo apresenta em relação a outras espécies de ocorrência na Caatinga é que permanece verde durante todo o ano, produzindo folhas novas, principalmente na época seca, onde é consumida por bovinos, caprinos e ovinos. A composição químico-bromatológica de folhas e ramos finos apresenta valores médios de: 46,22% de MS, 16,77% de PB, 21,30 a 34,31% de FB, 2,63 a 4,92% de EE, 9,83 a 10,20% de MM, 0,11% de P, 2,05% de Ca e 61,73% de Digestibilidade “in vitro” (Silva et al., 2002), podendo, segundo o mesmo autor, ser utilizada como banco de proteína no período de escassez de alimento na região semi-árida. A jureminha (Desmanthus virgatus (L.) Willd) é um pequeno arbusto adaptado em ambientes tropicais e subtropicais. Em pastejo é muito palatável, agressivo, persistente e 10 tolerante a pastejo pesado, pois tem rápida rebrota (Nast, 1979). Esta planta é utilizada em alguns país da Asia e Africa na alimentação suplementar de bovinos de corte Brahman Americana e de bezerros (Nakamanee et al., 1997). No Brasil, é considerada uma leguminosa arbustiva, perene, de larga ocorrência na Região Nordeste. Segundo Figueiredo et al. (2000), apresenta 28,72% de PB, 13,54% de FB, 0,33% de P, 0,36% de Ca, 3,69 de EE e 8,17% de MM. As características nutritivas dessas espécies tem permitido sugerir seus empregos no arraçoamento do rebanho durante o período de estiagem, onde os produtores de caprinos e ovinos da Região Semi-árida as estão utilizando na alimentação dos animais, como forma de diminuir as perdas com a seca. Essas plantas geramente são oferecidas na forma de feno. A fenação é uma técnica de conservação de forragem que foi descrita já no velho testamento e utilizada pelos egípcios a 2.500 aC. Ela consiste em desidratar a planta deixando-a apenas com 12 a 15% de umidade. Retirando-se água da forragem ela pode ser armazenada por muito tempo, sem comprometimento do seu valor nutricional. O clima tropical é favorável a confecção de feno devido a grande quantidade de raios solares, ventilação, umidade relativa do ar e intervalos sem chuva, mesmo durante o inverno, tornando barato o preparo do feno. O feno de boas forrageiras nativas da Região Semi-árida do Brasil está sendo indicado para a suplementação animal no período seco (Silva et al., 1999). No entanto, a técnica de fenação necessita de ajustes quando se trata do processamento dessas forrageiras. A qualidade do feno depende da maneira da confecção (sol, sombra e secagem rápida) e da fase fenológica da forragem. Forrageiras tropicais após a floração apresentam baixo valor nutritivo (Seiffert,1980). Além desses, outros fatores interferem na composição do produto final, como as condições do ambiente e da manipulação da forragem em todo o processo de fenação (Garcia et al.,1991). A composição química dos fenos das forrageiras nativas tem sido enfoque de pesquisas, em busca de plantas com maior valor nutritivo, principalmente para os pequenos ruminantes (Vasconcelos, 1999; Figueiredo et al., 2000; Gonzaga Neto et al., 2001; Vieira, 2002). As forrageiras apresentam, em sua composição, não apenas substâncias nutritivas, mas também elementos do metabolismo secundário. O metabolismo secundário acumula uma variedade de compostos, incluindo alcalóides e fenóis. O metabolismo fenólico das 11 plantas é complexo e produz muitos componentes, variando desde o pigmento da florescência (antocianidinas) até o complexo fenol de parede celular do vegetal, a lignina (Hagerman, 2002). Os taninos fazem parte dos fenóis. Eles participam de várias atividades biológicas e de proteção dos vegetais contra herbívoros e doenças (Hagerman, 2002). Taninos condensados, também nomeado poliflavanoides ou proantocianidina, constituem aproximadamente metade do peso seco da maior parte da casca das árvores e dos nós e são importantes constituinte da folhas das plantas (Hemingway, 1998). O tipo de tanino condensado presente em leguminosas forrageiras pode ter um grande efeito sobre a nutrição dos ruminantes, uma vez que o grau de polimerização dos taninos influência a formação de complexos tanino-proteínas (Lascano, 1992), afetando também a digestibilidade e palatabilidade da forrageira. Thadei et al. (2001), estudando oito forrageiras, observou que a concentração de tanino limitou o consumo e diminuiu a degradação da matéria seca e das proteínas ingeridas por caprinos. Os taninos têm chamado a atenção dos pesquisadores pelo fato de diminuir a degradação das proteínas no rúmen (Beelen, 2002; Makkar, 2003), quando em baixa concentração, e apresentarem importante ação antinutricional quando em concentração acima de 3 a 5% da MS na dieta. Porém, para que esses efeitos possam ocorrer, a molécula de tanino deve ser solúvel e conter grupamentos fenólicos suficientes para criar pontes entre as moléculas de proteínas (Makkar 2003; Beelen, 2002; Topps, 1998;). Os métodos tradicionais de análise de alimentos não incluem medidas quantitativas dos taninos e, em função disso, pouco se sabe a respeito da natureza desses compostos nas espécies tropicais, em especial nas nativas do nordeste brasileiro (Beelen, 2002). A escolha de forrageiras usando como critério o valor da proteína bruta pode ser enganosa, devido as ligações tanino-proteínas, se a concentração de tanino for alta (Lascano, 1992). A reversibilidade do complexo tanino-proteína no intestino depende da ligação do tanino com a proteína e outras moléculas (Makkar, 2003). Beelen (2002), estudando três forrageiras leguminosas nativas do semi-árido do Brasil, observou que a alta concentração de tanino condensado influenciou negativamente na degradação ruminal da matéria seca, proteína bruta, e fibra em detergente neutro, como também, diminuiu o consumo, a adesão microbiana às folhas das forrageiras e reduziu a atividade enzimática no conteúdo ruminal. Considerando a necessidade de se estudar a concentração e adstringência de taninos nas forrageiras do semi-árido, assim como a influencia da forma de fenação sobre a 12 qualidade nutricional da planta, esse trabalho teve como objetivo caracterizar os taninos condensados, a composição bromatológica e a digestibilidade in vitro das espécies maniçoba (Manihot pseudoglazovii Pax & Hoffman), feijão bravo (Capparis flexuosa, L), jureminha (Desmanthus virgatus (L.) Willd) e flor de seda (Calotropis procera), nas formas in natura, fenadas ao sol e fenadas à sombra. Referencias Bibliográficas ANDRADE, M.V.M. Aspecto Fenológico, Produtivo e Qualitativo da Flor de Seda (Calotropis Procera) em Função do Sistema de Manejo do Solo e da Densidade de Planta. 82 F. Dissertação (Mestrado Em Zootecnia) – Universidade Federal da Paraíba – Areia, 2005. ARAUJO, E.C., VIEIRA, M.E.Q., CARDOSO, G.A. Valor Nutritivo e Consumo Voluntário de Forrageiras Nativas da Região Semi-Árida do Estado de Pernambuco. 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As concentrações em tanino solúvel, tanino ligado ao resíduo e tanino total (TT) das espécies foram determinadas pelo método butanol-HCL, e adstringência pelo método de difusão radial. para a DIVMS foi utilizado método de dois estágios. Foram observadas diferenças entres as espécies (P<0,01) quanto a concentração e adstringência dos taninos. As maiores concentrações foram encontradas na jureminha (2,4% TT e 13,7-3 de adstringência). Não foi detectado tanino na flor de seda. O teor em PB foi superior a 17 % em todas as espécies estudadas e o FDA e lignina inferiores a 39 e 15 %, respectivamente, indicando um moderado valor nutritivo para a alimentação de ruminantes. A DIVMS foi baixa na jureminha (43%) e alta na flor de seda (80%). Contudo, a correlação entre a DIVMS e a concentração em taninos condensados foi baixa (r2 =0,097). As concentrações e adstringência dos taninos condensados presentes nessas espécies provavelmente não acarretam em problemas de ordem nutricional. Palavras-chave: adstringência, fator anti-nutricional, forrageiras nativas, pro- antrocianidinas, ruminantes, semi-árido. 16 Condensed Tannin characterization of four Semi-arid forages species ABSTRACT – The objective of the present work was to characterize the condensed tannins (CT), and to determine the chemical composition and the dry matter in vitro digestibility (DMIVD) of forages species of the Northeastern semi-arid. The concentration of soluble tannin (ST), bound tannin (BT) and total tannin (TT) of the species was determined using the butanol-HCL method; astringency was determined using the radial diffusion method, and the DMIVD was determined using the two stages method. Concentration and astringency of condensed tannins varied between species (P<0,01). Jureminha was the species that presented the highest value (2,4% TT and 13,7-3 astringency). No tannins were detected in flor de seda. Crude protein was higher than 17% in all studied species, and the ADF and lignin values were lower than 39 and 15%, respectively, showing that those species are of moderate nutritive value for ruminant feeding. The DMIVD was low in jureminha (43%) and high in flor de seda (80%). Nevertheless, the correlation between DMIVD and TT was low (r2 =0,097). The concentration and astringency of condensed tannins present in the studied species probably do not cause any nutritional problem. Keywords: astringency, proantocyanidin, anti-nutritional factor, native forages, ruminant, semi-arid 17 Introdução No período de escassez de alimentos na Região Semi-árida, os pequenos e grandes ruminantes consomem as folhas de árvores e arbustos que caem, devido à características próprias das plantas da Caatinga. Essas folhas apresentam, contudo, baixo valor nutritivo, o que tem como conseqüência a baixa produtividade dos animais, que não possuem suas necessidades nutricionais atendidas. De acordo com Silva e Medeiros (2003), a adoção de cultivos de espécies forrageiras nativas da caatinga, o uso eficaz de conservação de forragem, silagem ou feno, e a manipulação da caatinga, são práticas que deverão ser aplicadas nos sistemas de produção pecuária da região semi-árida do Nordeste, para se ter eficiência na produção de pequenos ruminantes. Tanto as forrageiras nativas da região semi-árida como as adaptadas à esta região são alvo de pesquisas em buscas de alimentos com alto valor nutritivo para os animais criados no semi-árido. A jurema preta (Mimosa hostilis), sabiá (Mimosa caesalpiniifolia), mororó (bauhinia cheilantha), catingueira (Caesalpinea bracteosa), mata pasto (Senna sp), Juazeiro (Zyzyphus joazeiro Mart.), favela (Cnidoscolus phyllacanthus (Muell. arg.) Pax et K. Hoffman), angico (Anadenanthera macrocarpa benth), jureminha (Desmanthus virgatus (L.) Willd), feijão bravo (Capparis flexuosa, L), maniçoba (Manihot pseudoglaziovii Pax & Hoffman) e flor de seda (Calotropis procera) são exemplo de plantas estudadas. Os métodos tradicionais de análise de alimentos não incluem medidas quantitativas dos taninos e, em função disso, pouco se sabe a respeito da natureza desses compostos nas espécies tropicais, em especial nas nativas do nordeste brasileiro (Beelen, 2002). Para Pereira Filho et al., (2005) o conhecimento da concentração de tanino das forrageiras e seus efeitos na eficiência de utilização dos componentes nutritivos, podem contribuir nos estudos que visam potencializar a utilização de forrageiras tropicais na alimentação de ruminantes. Lima (1996), estudando a parte a aérea da maniçoba, detectou a presença de 2,3% de tanino condensado. Nozella (2001), estudando plantas do Nordeste com potencial forrageiro, encontrou 9% de tanino condensado no angico (Anadenanthera macrocarpa benth), 1,4% no feijão bravo (Capparis flexuosa, L), 10% na leucena (Leucaena leucocephala) e 0,3% na gliricídia (Gliricidia sepium). 18 Longo (2002), estudando níveis crescentes de feno de leucena (Leucaena leucocephala) (20%, 40% e 60% de feno em substituição ao concentrado) na dieta de ovinos Santa Inês, concluiu que a presença de tanino condensado reduziu a excreção de N nas fezes dos animais, mas diminuiu a digestibilidade da dieta. Beelen (2002), estudando as espécies jurema preta, mororó e sabiá, encontrou altas concentrações de tanino condensado nestas forrageiras, sendo de 20,67% da MS para a jurema preta, 12,73% da MS para o mororó e 20,11% da MS para o sabiá. O mesmo autor observou que a alta concentração de tanino condensado influenciou negativamente a degradação ruminal da matéria seca, proteína bruta e fibra em detergente neutro, como também, diminuiu o consumo, a adesão microbiana às folhas das forrageiras e reduziu a atividade enzimática no conteúdo ruminal. São considerados efeitos benéficos dos taninos na nutrição de ruminantes a prevenção do timpanismo; o aumento do fornecimento de proteína “by-pass” (proteína não degradada no rúmen e digestível no intestino delgado), e a melhor da utilização de aminoácidos essenciais da dieta. Esses efeitos são observados quando o teor de tanino é até 5% da dieta (Brandes e Feitas, 1992). Efeitos negativos dos taninos sobre a nutrição incluem: redução do consumo e da digestibilidade; inibição de enzimas digestíveis e perdas de proteínas endógenas (Getacgew et al., 2000). A diminuição da aceitabilidade das forrageiras também pode ser provocada pelo tanino, em função de sua adstringência. A adstringência é a sensação causada pela formação de complexos entre os taninos e as glicoproteínas salivares, o que pode aumentar a salivação e diminuir a aceitabilidade do alimento (Reed, 1995). Quanto menor a aceitabilidade, menor a ingestão de alimento e, por conseqüência, a produtividade animal. Considerando que poucos estudos tem se preocupado em avaliar a concentração e adstringência de taninos condensados em forrageiras nativas do semi-árido e correlacionar esses resultados com a eficiência de utilização dos componentes nutritivos, este trabalho foi conduzido com o objetivo de caracterizar os taninos condensados presentes nas espécies maniçoba (Manihot pseudoglazovii Pax & Hoffman), flor de seda (Calotropis procera), feijão bravo (Capparis flexuosa, L) e jureminha (Desmanthus virgatus (L.) Willd). Também foram estudadas a composição bromatológica e digestibilidade in vitro da MS (DIVMS)e feitas correlações entre a DIVMS e a composição química das forrageiras. 19 Material e métodos Para a caracterização dos tanino condensados, determinação da composição bromatológia e digestibilidade “in vitro” da matéria seca (DIVMS) das espécies feijão bravo (Capparis flexuosa, L), jureminha (Desmanthus virgatus (L.) Willd) e flor de seda (Calotropis procera) foram selecionadas sete plantas de ocorrência natural na caatinga, de forma aleatória no município de Ingá – PB. A flor de seda e jureminha foram colhidas no mês de julho e o feijão bravo no mês de outubro de 2003. A colheita da maniçoba foi realizada em outubro de 2003, em plantas cultivadas no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba. Areia – PB, quando as mesmas apresentavam-se com 90 dias de rebrota, no início da floração. Foram colhidas sete amostras de cada espécie, sendo cada uma constituída de 100 g de folhas e ramos (com calibre de uma caneta) em início de floração. Uma vez colhida, as amostras foram picadas em forrageira (com exceção da jureminha) e colocadas em estufa a 40 ºC para pré-secagem até o peso constante. Posteriormente todas as amostras foram moídas a 1 mm e congeladas até serem submetidas às análises químicas e de DIVMS. As análises foram realizadas nos Laboratórios de Nutrição Animal e de Fisiologia do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias da UFPB em Areia – PB. Para a determinação da concentração de tanino solúvel (TS), tanino ligado ao resíduo sólido (TL) e tanino total (TT) foi utilizado o método butanol-HCl, descrito por Terrill et al. (1992), onde uma alíquota de 10 mg das amostras, em duplicata, tiveram seus taninos condensados solúveis extraídos por uma mistura de 2,5 mL de acetona aquosa a 70% com ácido ascórbico a 0,1% e 2,5 mL de dietil éter. Após remoção dos solventes por evaporação, o extrato foi ajustado para 5 mL com água destilada, centrifugado e separado do resíduo sólido. Em seguida foi adicionado 1,8 mL de butanol-HCL a 5% em alíquotas de 0,3 mL do extrato e levado a banho-maria a 95o C por 70 minutos. Os taninos condensados ligados ao resíduo sólido foram determinados por adição de 0,7 mL de água destilada e 4,2 mL de butanol-HCL a 5% e levado a banho-maria a 95oC por 70 minutos. Em ambos os casos, as amostras tiveram suas absorbâncias lidas a 550 nm em espectrofotômetro (FENTO – 600PLUS) e o resultado convertido em % relativo ao 20 tanino de jurema preta, com base na equação de regressão da curva-padrão feita a partir do tanino condensado purificado de jurema preta (Beelen, 2002). Para a obtenção da curva padrão requerida pelo método Butanol-HCL, utilizou-se o tanino purificado da Jurema Preta (Mimosa hostilis) (Beelen, 2002), por ser uma planta nativa do semi-árido do Nordeste, como as forrageiras em estudo. Foram usadas alíquotas de 0,5 mg de concentrações conhecidas do tanino condensado purificado de Jurema Preta. Essas reagiram em triplicata com butanol-HCL a 5% e foram lidos em espectrofotômetro (FENTO – 600PLUS) a 550 nm para a obtenção da curva-padrão. A equação de regressão da curva gerada pelo ensaio de butanol-HCl foi Y = 1,18 + 0,022, R2 = 0,94. A concentração total em taninos condensados foi obtida pela soma das frações solúvel e ligada ao resíduo (Mupangwa et al., 2000). A adstringência dos taninos foi medida pelo método de difusão radial (Hagerman, 1987). Os taninos difundiram através de um gel de agarose contendo proteína sérica bovina (BSA) e formaram um precipitado em forma de anel, cujo diâmetro foi considerado proporcional a sua capacidade de precipitar proteínas (adstringência). Alíquotas de 8 μL de extrato das plantas foram colocadas em placas de petri contendo 9,5 mL de gel de uma mistura de agarose a 1% e BSA a 0,1% em solução tampão de ácido acético a 0,3% com 0,001 g de ácido ascórbico, ajustado a um pH de 5 com hidróxido de sódio. A quantidade de taninos ativos presentes na solução que reagiu com o BSA foi determinada pela medida do anel formado após 72 horas de incubação em estufa a 35oC e a quantidade, em mg, de proteína precipitada foi calculada pela fórmula: volume (mL) x concentração de proteína (mg/mL) / peso da amostra, onde o volume é determinado pela altura do agar e comprimento dos raios antes e após incubação. Para as análises bromatológicas foram utilizadas as metodologias descritas por Silva e Queiroz (2002). Foram determinadas a porcentagem de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), extrato etéreo (EE), pela metodologia de Weende; os teores em proteína bruta (PB) pelo método Kjedahl; a fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose e lignina, pelo método de Van Soest e o nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA), com o resíduo do FDA e sem adição do sulfito de sódio. As determinações de FDN, FDA e lignina foram feitas de forma seqüencial, acrescentando-se às amostras 0,5 g de sulfito de sódio anidro. O sulfito de sódio misturado à solução de detergente neutro remove os taninos e os resíduos de proteína, evitando problema de superestimação do conteúdo em parede celular de plantas com altas concentrações em taninos (Terril et al. 1994). Todas as análises envolvendo a determinação de fibras foram 21 feitas utilizando o analisador de fibras ANKOM (ANKOM Technology Co., Fairport, Ny, USA). O coeficiente de digestibilidade “in vitro” da matéria seca (DIVMS) foi determinado utilizando o equipamento (DAISY; ANKOM technology Corp., Fairport, Ny), baseado na metodologia em dois estágios de Tilley e Terry (1963). Para a obtenção do inóculo foram utilizados quatro caprinos (fêmeas SRD) fistulados no rúmen, que foram adaptados, por um período de sete dias antes da coleta do fluído ruminal, com os fenos das espécies estudadas. Para a análise estatística foi utilizado um delineamento inteiramente casualizado, sendo quatro espécies com sete repetições. Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância, a comparação de médias pelo teste de Tukey e a correlação pelos procedimentos Corr e Reg a 5%, utilizando o PROC GLM do SAS (SAS, 2001). Resultados e Discussão Os valores médios referentes as concentrações e adstringência dos taninos condensados das espécies maniçoba, flor de seda, feijão bravo e jureminha são apresentados na Tab.1. A jureminha apresentou os maiores valores (2,4% TT e 13,7-3 de adstringência) entre as espécies estudadas. Não foi detectada a presença de tanino condensado nas amostras de flor de seda, fato observado também por Melo et al. (2001). O principal enfoque dado a presença de taninos condensados nas forrageiras tropicais é sua importante ação antinutricional quando em alta concentração (acima de 5% da MS). Os valores obtidos nesse trabalho podem ser considerados de moderados a baixos, se referenciada a literatura e, provavelmente, não acarretam em problemas de ordem nutricional. 22 Tabela: 1. Concentração e adstringência de taninos condensados das espécies maniçoba, flor de seda, feijão bravo e jureminha. Taninos Espécies Maniçoba Flor de Feijão seda bravo Jureminha Significância CV 2 R Esp. média Solúvel 0,53BC 0,0C 0,30B 1,44A 121,3 0,43 * 0,66 Ligado 1,11A 0,0C 0,30B 0,96A 65,7 0,62 * 0,45 Total 1,64B 0,0C 0,60BC 2,4A 101,8 0,47 * 1,02 Adstringência 12,3-3A 0,0B 7,9-3AB 13,7-3A 61 0,25 * 8,5-3 Médias com letras diferentes em uma mesma linha diferem significativamente (P<0,05) pelo teste de Tukey. * altamente significativo (p<0,05) As espécies se comportaram de forma distinta quanto a forma de apresentação do tanino em sua folhas. Os taninos solúveis constituem 32,3%, 50,0% e 60,0% do total de tanino condensado da maniçoba, feijão bravo e jureminha, respectivamente. Os taninos condensados solúveis representam a fração do tanino que se encontra livre na planta, normalmente localizada nos vacúolos. Uma vez o tecido vegetal rompido, pelo corte mecânico de forrageiras ou pela mastigação, por exemplo, esses taninos podem se complexar com constituintes da ração e com enzimas digestíveis. Essa complexação depende de muitos fatores e pode acontecer até mesmo antes da ingestão da planta pelo animal. Segundo Longo (2002), a temperatura é um dos fatores que pode transformar tanino solúvel em tanino ligado. Por outro lado, Vitti et al., (2005) observaram que a temperatura da estufa com e sem ventilação forçada não interferiu na concentração de tanino condensado de forrageiras do Nordeste Brasileiro. Neste estudo, a pré-secagem do material foi feita a uma temperatura de 40ºC. Mesmo assim, foram observados valores de tanino ligado superiores aos de TS na maniçoba. Uma análise das plantas pré-secas por liofilização poderia confirmar esse percentual de tanino ligado consideravelmente alto, se comparado aos dados encontrados na literatura para plantas tropicais. Segundo Makkar (2003), a complexação dos taninos condensados solúveis com as proteínas alimentares em pH neutro (rúmen) pode ser benéfica para a nutrição animal, uma vez que essas serão liberadas em pH ácido (abomaso) e contribuirão com o aporte de proteína alimentar digerida no intestino delgado. A baixa concentração de tanino presente na espécie feijão bravo (0,60% de TT) pode não ser suficiente para 23 promover efeitos benéficos significativos na utilização do nitrogênio, como sugerido por Makkar (2003). Nas forrageiras estudadas a adstringência foi baixa, devido a pequena concentração de tanino condensado das mesmas. A avaliação da adstringência determina a capacidade do tanino se ligar às proteínas e explica a maioria de suas propriedades biológicas e antinutricional (Jean-Bain, 1998). Os valores médios referentes as análises bromatológicas e a digestibilidade “in vitro” da matéria seca, com os respectivos índices de variação e níveis de significância, são apresentados na Tab. 2. Tabela: 2. Composição bromatológica e DIVMS das espécies maniçoba, flor de seda, feijão bravo e jureminha. Espécie Componentes (% da MS) MS FDN FDA HEM PB EE LDA MM NIDA DIVMS Maniçoba 93,1ª 40,71c 26,6c 14,1b 17,9a 6,3a 7,7b 6,8c 0,5a 64,9b Flor de seda 88,5b 40,6c 27,4c 13,2b 20,7a 5,3a 7,5b 16,1a 0,3b 80,1a Feijão bravo 91,2ª 48,7b 32,8b 16,0a 16,7b 3,9a 15,4a 8,9b 0,2c 55,6c Jureminha 90,8ª 52,9ª 38,9a 14,0a 18,8a 1,59b 12,6a 5,6c 0,5a 42,9d Significância ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** CV 2,4 10,0 11,4 15,7 12,1 28,05 12,1 8,2 16,9 6,8 Médias com letras diferentes em uma mesma coluna diferem significativamente (P<0,01) pelo teste de Tukey ** altamente significativo (P<0,01) Todas as espécies estudadas apresentaram teores em proteína superiores a 17% da MS e baixas concentração em FDN e NIDA, o que indica o potencial destas forrageiras para atender as exigências dos pequenos ruminantes. De acordo com Van Soest et al. (1994), níveis de proteína inferiores a 7% na dieta podem prejudicar a fermentação ruminal, bem como provocar balanço negativo de nitrogênio. Os valores em lignina variaram de 7 e 8% MS, na maniçoba e flor de seda, a 13 e 15% da MS, no feijão bravo e jureminha, respectivamente. O teor de lignina pode ser usado como indicativo da digestibilidade. Contudo, Forbes (1995) afirmou que nem sempre a lignina é responsável pela diminuição da digestibilidade. Existem outros fatores 24 que diminuem a digestibilidade das forrageiras, como os taninos condensados por exemplo. O coeficiente de digestibilidade também foi variável. A jureminha apresentou o coeficiente de digestibilidade in vitro da MS (DIVMS) de 43%, o menor valor dentre as forrageiras estudadas, contrastando com os 80% de DIVMS da flor de seda. Esse valor indica que a jureminha possui constituintes de difícil digestão ou fatores que dificultam sua digestão. Alguns trabalhos sugerem a associação da concentração de tanino condensado com a diminuição da digestibilidade dos nutrientes (Ramírez et al., 2000; Beelen et al., 2005 Vitti et al., 2005). Nesse trabalho, a jureminha apresentou a maior concentração de tanino condensado total (2,4%) e a menor digestibilidade (43%). Por outro lado, a flor de seda, espécie que não possui tanino condensado, apresentou a maior digestibilidade da matéria seca (80%). Foram feitas correlações, na tentativa de identificar a influência dos componentes químicos presente nessas plantas sobre a qualidade nutricional das mesmas. A correlação entre a DIVMS e os componentes químicos das forrageiras foi positiva e baixa, porém significativa (P<0,01) para o teor de PB e negativa ((P<0,01) para os componentes da parede celular (FDN, FDA e lignina) e taninos condensados (Fig. 1). 25 Correlação entre a DIVMS e a teor de PB Correlação entre a DIVMS e a FDN 80 DIVMS % da MS DIVMS % da MS 100 60 40 y = 1,6868x + 29,639 R2 = 0,1026 20 0 0 5 10 15 20 25 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 y = -1,8001x + 143,2 R2 = 0,6608 0 20 Teor de PB % da MS y = -1,9286x + 121,51 R2 = 0,6401 0 10 20 30 40 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 50 0 5 1 DIVMS % DIVMS % da MS 1,5 15 20 Correlação entre a DIVMS e a concentração de Tanino condensado Total y = -6,3992x + 59,351 R2 = 0,2605 0,5 10 Lignina % da MS Correlação entre a DIVMS e a concentração de tanino solúvel 0 80 y = -2,5506x + 88,391 R2 = 0,4441 Teor de FDA % 80 70 60 50 40 30 20 10 0 60 Correlação entre a DIVMS e a Lignina DIVMS % DIVMS % Correlação entre a DIVMS e a FDA 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 40 teor de FDN % da MS 2 2,5 3 80 70 60 50 40 30 20 10 0 y = -2,9013x + 58,72 R2 = 0,0976 0 0,5 TCS % 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 Concentração de TCT % da MS Figura 1. Correlação entre a digestibilidade “in vitro” da matéria seca e a composição químicabromatológica de quatro espécies forrageiras do semi-árido nordestino Os resultados obtidos nas correlações envolvendo FDN, FDA e Lignina eram esperados, uma vez que vários trabalhos na literatura apontam correlações negativas entre a DIVMS e os componentes da parede celular. Altas concentrações em FDN, FDA e Lignina estão também associadas a uma diminuição da ingestão e baixo nível de energia da dieta (Van Soest, 1994). As correlações entre a DIVMS e as concentrações em tanino condensado solúvel e tanino total foram negativas, porém muito baixas (r2 = 0,26 e r2 = 0,09). Dois trabalhos estudando a influência dos taninos sobre a degradabilidade da jurema preta (Pereira Filho et al., 2005) e da jurema preta (26,67% TT), sabiá (20,11% TT) e mororó (12,73% TT) 26 (Beelen et al., 2005), observaram que o aumento da concentração em tanino influenciou negativamente a degradabilidade da matéria seca, proteína bruta e FDN. Por outro lado, Vieira et al. (2001), não verificaram correlação entre o teor de tanino condensado (0,49 a 0,94% TT) e a solubilidade da proteína da alfafa (Medicago sativa L). O método de DIVMS em dois estágios contempla o abaixamento do pH para a atividade da enzima pepsina, e assim simularia o que, teoricamente, acontece com as ligações tanino-proteína no abomaso. De acordo com Schofield et al., (2001) e Makkar (2003), os taninos condensados, quando em baixa concentração, se ligam a moléculas de proteínas e carboidratos, protegendo-as do ataque microbiano. Essas ligações podem ser desfeitas na mudança do pH do rúmen para o abomaso, disponibilizando esses nutrientes para a digestão intestinal. Essa justificativa explicaria as baixas correlações encontradas no presente trabalho, que são, provavelmente, devido a baixa a concentração de taninos condensados das forrageiras estudas. A concentração em taninos presentes nessas plantas não é alta e, por isso, não seria responsável pela baixa digestibilidade das mesmas. Conclusão A maniçoba, feijão bravo e jureminha apresentaram baixas concentrações em tanino condensado. Não foi detectada a presença de tanino condensado na espécie flor de seda. A jureminha apresentou a maior concentração de tanino condensado total e a menor digestibilidade. Por outro lado, a flor de seda, espécie que não possui tanino condensado, apresentou a maior digestibilidade da matéria seca. Contudo, a correlação entre a DIVMS e a concentração em taninos condensados foi baixa, quando observadas todas as espécies juntas. As concentrações e adstringência dos taninos condensados presentes nessas espécies provavelmente não acarretam em problemas de ordem nutricional. Referencias Bibliográficas BANDES, D., FEITAS, E.A.G. Taninos condensados de leguminosas nativas do semiárido nordestino. 2002. 71 p. (Tese de Doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2002. BEELEN, P.M.G. Taninos Condensados de Leguminosas Nativas do Semi-Árido Nordestino. 2002. 71 F. (Tese Doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2002. 27 BEELEN, P.M.G; BERCHIELLI, T.T; BEELEN, R.N; et al. Influence of condensed tannins from brazilian semi-árid legumes on ruminal degradability, microbial colonization and ruminal enzymatic activity in Saanen goats. Small Ruminant Research. Article in press. Disponível em: www.elsevier.com/locate/smallrumres. em :19/09/2005. FORBES, J.M. Voluntary food intake and diet selection in form animals. Wallingford: CAB international, 1995. 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Foram avaliados os teores de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), lignina, nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA), extrato etéreo (EE), taninos condensados, solúvel (TS), ligado ao resíduo(TL) e totais (TT) e digestibilidade “in vitro” da matéria seca (DIVMS) das espécies maniçoba (Manihot pseudoglazovii Pax & Hoffman), flor de seda (Calotropis procera), feijão bravo (Capparis flexuosa, L) e jureminha (Desmanthus virgatus (L) Wild) nas formas in natura, fenada ao sol e fenada à sombra. A forma de fenação alterou a composição bromatológica quanto aos teores de MM, PB, Lignina, EE, Tanino ligado ao resíduo, adstringência e Digestibilidade da MS. Já as variáveis FDN, FDA, NIDA, TS e TT não foram alteradas. O feno ao sol mostrou-se adequado a conservação das forrageiras nativas estudadas, uma vez que não alterou de forma importante a composição da planta "in natura", nem diminuiu sua digestibilidade. No caso da jureminha a fenação proporcionou o aumento da digestibilidade. Palavras chave: conservação de forragens, forrageiras nativas, proteína, matéria seca 30 Influence of the haying method on the chemical composition and in vitro digestibility and tannins concentration of native forage species of the semiarid. ABSTRACT: The present work aimed at evaluating the influence of the haying method on the chemical composition, digestibility and tannin concentration of native species of the semi-arid. The levels of ash, crude protein, neutral detergent fiber, acid detergent fiber, lignin acid detergent insoluble nitrogen and fat of the species maniçoba (Manihot glazovii Pax & Hoffman), flor de seda (Calotropis procera), feijão bravo (Capparis flexuosa, L.) e jureminha (Desmanthus virgatus (L) Wild) were evaluated. The DMIVD was determined using the two stages method. The concentration of soluble tannin (ST), bound tannin (BT) and total tannin (TT) of the species was determined using the butanol-HCL method; astringency was determined using the radial diffusion method, and. Forages were evaluated in natura, and when hayed with direct exposure sunlight and at shade. The haying method has altered the levels of ash, crude protein, lignin and fat, as well as the dry matter digestibility, but it did not influence the NDF, ADF and NIDA of the studied plants. Haying under sunlight did not affect the natural plant composition neither decreased its digestibility. In the case of jureminha, the digestibility has even increased. Key words: Forage conservation, native forage, crude protein, dry matter 31 Introdução A conservação de forragem, embora seja uma técnica antiga, vem sendo cada vez mais estudada e divulgada pelos órgãos de pesquisa e extensão do Nordeste, com o objetivo de aumentar a oferta de alimento para os rebanhos nos períodos de seca. O clima tropical é favorável à confecção de feno mesmo durante o inverno, época que, no Nordeste, coincide com a maior disponibilidade de forragem. Segundo Silva et al. (2004), o uso de técnicas de produção e conservação de forrageiras pode aumentar o suporte forrageiro e conseqüentemente a oferta do produto final (carne, leite e filhotes) dos rebanhos (caprinos, ovinos e bovinos). A fenação também pode vir a ser uma importante ferramenta para melhorar o valor nutritivo de forrageiras ricas em taninos. Segundo Longo (2002), a temperatura é um dos fatores que pode promover a complexação dos taninos solúveis, reduzindo assim sua ação anti-nutricional. A utilização de forrageiras nativas do semi-árido para a produção de feno é pouco difundida. Isso se deve, em grande parte, a dificuldade de padronização da técnica de confecção do feno, em função da diversidade de espécies e do número limitado de trabalhos abordando a manipulação dessas plantas durante o processo de fenação. As espécies maniçoba, flor de seda, feijão bravo e jureminha fazem parte da flora da caatinga e são utilizadas, tanto in natura como conservadas, seja na forma de feno ou de silagem. A qualidade do feno depende da forma de confecção (sol, sombra e secagem rápida ou lenta) e do estado fenólogico da forrageira, uma vez que o seu valor nutritivo tende a diminuir após a floração (Seiffert, 1980). As condições ambientais e de manipulação também interferem na composição do feno (Garcia et al., 1991; Reis et al., 2004). De acordo com Reis et al. (2004), existem perdas em todo o processo de confecção do feno. Após o corte da planta processos bioquímicos não podem ser evitados, por isso, quanto mais rápida a secagem menores serão as perdas. Secadores solares são usados por pequenos produtores para desidratar forrageiras nativas como jurema preta (Mimosa tenuiflora Benth), maniçoba (Manihot glazovii Pax & Hoffman), flor de seda (Calotropis procera) e outras forrageiras na região do Seridó no Rio Grande do Norte (Lima et al. 2002). Porém, Nascimento et al.(2000), relataram que o melhor método para a conservação de alfafa (Medicago sativa, L. cv Florida 77) seria desidratação ao sol até 50% de umidade e depois chegar ao ponto de feno em galpão à 32 sombra, visando reduzir as perdas de material fenado, uma vez que as folhas de alfafa começam a se soltar do caule na segunda fase da desidratação. Existe uma grande diversidade forrageira na Caatinga, que é formada por espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas, das mais diversas famílias. Diante disso, são necessários estudos que identifiquem fatores que interferem na composição dos fenos, se possível melhorando seu valor nutritivo, e colaborem para a padronização da prática de fenação dessas forrageiras. O presente trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar a composição bromatológica, digestibilidade in vitro da matéria seca e concentração e adstringência dos taninos condensados das espécies maniçoba (Manihot pseudoglaziovii Pax & Hoffman), flor de seda (Calotropis procera), feijão bravo (Capparis flexuosa, L) e jureminha (Desmanthus virgatus (L) Wild) nas formas in natura, fenada ao sol e fenada à sombra. Material e métodos Para a caracterização dos tanino condensados, determinação da composição bromatológia e digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) das espécies feijão bravo (Capparis flexuosa, L), jureminha (Desmanthus virgatus (L.) Willd) e flor de seda (Calotropis procera) foram selecionadas sete plantas de ocorrência natural na caatinga, de forma aleatória no município de Ingá – PB. A flor de seda e jureminha foram colhidas no mês de julho e o feijão bravo no mês de outubro de 2003. A colheita da maniçoba foi realizada em outubro de 2003, em plantas cultivadas no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba. Areia – PB, quando as mesmas apresentavam-se com 90 dias de rebrota, no início da floração. Foram colhidas sete amostras de cada espécie, sendo cada uma constituída de 100 g de folhas e ramos (com calibre de uma caneta) em início de floração. Uma vez colhidas, as amostras foram picadas em forrageira (com exceção da jureminha) e divididas em três partes: a primeira foi colocada imediatamente para a secagem em estufa a 40ºC, por no mínimo 72 hs, para as análises; a segunda foi fenada ao sol e a terceira foi fenada à sombra. No processo de fenação ao sol, as plantas foram espalhadas em finas camadas dentro de bandejas plásticas (aproximadamente 3 cm), revolvidas a cada três horas e permaneceram a céu aberto no período de 7:00 à 17:00 h. No período da noite o material foi coberto com lona, até que fosse observado o ponto de feno. Esses mesmos 33 critérios foram observados no processo de fenação à sombra, contudo as bandejas permaneceram em galpões com boa aeração durante todo o processo. Posteriormente, todas as amostras foram moídas à 1 mm e submetidas as análises químicas e ensaio de digastibilidade in vitro. As análises foram realizadas nos Laboratórios de Nutrição Animal e de Fisiologia do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias da UFPB em Areia – PB. Para a determinação da concentração de tanino solúvel (TS), tanino ligado ao resíduo sólido (TL) e tanino total (TT) foi utilizado o método butanol-HCl, descrito por Terrill et al. (1992), onde uma alíquota de 10 mg das amostras, em duplicata, tiveram seus taninos condensados solúveis extraídos por uma mistura de 2,5 mL de acetona aquosa a 70% com ácido ascórbico a 0,1% e 2,5 mL de dietil éter. Após remoção dos solventes por evaporação, o extrato foi ajustado para 5 mL com água destilada, centrifugado e separado do resíduo sólido. Em seguida foi adicionado 1,8 mL de butanol-HCL a 5% em alíquotas de 0,3 mL do extrato e levado a banho-maria a 95o C por 70 minutos. Os taninos condensados ligados ao resíduo sólido foram determinados por adição de 0,7 mL de água destilada e 4,2 mL de butanol-HCL a 5% e levado a banho-maria a 95oC por 70 minutos. Em ambos os casos, as amostras tiveram suas absorbâncias lidas a 550 nm em espectrofotômetro (FENTO – 600PLUS) e o resultado convertido em % relativo ao tanino de jurema preta, com base na equação de regressão da curva-padrão feita a partir do tanino condensado purificado de jurema preta (Beelen, 2002). Para a obtenção da curva padrão requerida pelo método Butanol-HCL, utilizou-se o tanino purificado da Jurema Preta (Mimosa hostilis) (Beelen, 2002), por ser uma planta nativa do semi-árido do Nordeste, como as forrageiras em estudo. Foram usadas alíquotas de 0,5 mg de concentrações conhecidas do tanino condensado purificado de Jurema Preta. Essas reagiram em triplicata com butanol-HCL a 5% e foram lidos em espectrofotômetro (FENTO – 600PLUS) a 550 nm para a obtenção da curva-padrão. A equação de regressão da curva gerada pelo ensaio de butanol-HCl foi Y = 1,18 + 0,022, R2 = 0,94. A concentração total em taninos condensados foi obtida pela soma das frações solúvel e ligada ao resíduo (Mupangwa et al., 2000). A adstringência dos taninos foi medida pelo método de difusão radial (Hagerman, 1987). Os taninos difundiram através de um gel de agarose contendo proteína sérica bovina 34 (BSA) e formaram um precipitado em forma de anel, cujo diâmetro foi considerado proporcional a sua capacidade de precipitar proteínas (adstringência). Alíquotas de 8 μL de extrato das plantas foram colocadas em placas de petri contendo 9,5 mL de gel de uma mistura de agarose a 1% e BSA a 0,1% em solução tampão de ácido acético a 0,3% com 0,001 g de ácido ascórbico, ajustado a um pH de 5 com hidróxido de sódio. A quantidade de taninos ativos presentes na solução que reagiu com o BSA foi determinada pela medida do anel formado após 72 horas de incubação em estufa a 35oC e a quantidade, em mg, de proteína precipitada foi calculada pela fórmula: volume (mL) x concentração de proteína (mg/mL) / peso da amostra, onde o volume é determinado pela altura do agar e comprimento dos raios antes e após incubação. Para as análises bromatológicas foram utilizadas as metodologias descritas por Silva e Queiroz (2002). Foram determinadas a porcentagem de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), extrato etéreo (EE), pela metodologia de Weende; os teores em proteína bruta (PB) pelo método Kjedahl; a fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose e lignina, pelo método de Van Soest e o nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA), com o resíduo do FDA e sem adição do sulfito de sódio. As determinações de FDN, FDA e lignina foram feitas de forma seqüencial, acrescentando-se às amostras 0,5 g de sulfito de sódio anidro. O sulfito de sódio misturado à solução de detergente neutro remove os taninos e os resíduos de proteína, evitando problema de superestimação do conteúdo em parede celular de plantas com altas concentrações em taninos (Terril et al. 1994). Todas as análises envolvendo a determinação de fibras foram feitas utilizando o analisador de fibras ANKOM (ANKOM Technology Co., Fairport, Ny, USA). O coeficiente de digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) foi determinado utilizando o equipamento (DAISY; ANKOM technology Corp., Fairport, Ny), baseado na metodologia em dois estágios de Tilley e Terry (1963). Para a obtenção do inóculo foram utilizados quatro caprinos (fêmeas SRD) fistulados no rúmen, que foram adaptados, por um período de sete dias antes da coleta do fluído ruminal, com os fenos das espécies estudadas. Para a análise estatística foi utilizado um delineamento inteiramente casualizado, sendo quatro espécies com sete repetições. Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância, a comparação de médias pelo teste de Tukey, utilizando o PROC GLM do SAS (SAS, 2001). 35 Resultados e Discussão Os resultados de composição química bromatológica e digestibilidade das quatro espécies in natura e dos fenos estão apresentadas nas tabelas 1, 2 e 3. A forma de fenação influenciou as variáveis MS, MM, PB, Lignina, tanino ligado ao resíduo, adstringência do tanino solúvel e DIVMS, porém de maneira distinta conforme a espécie, o que ficou demonstrado nas interação apresentadas. Diferente das outras espécies estudadas, a forma de fenação influenciou a percentagem de MS da maniçoba. O teor de MS do feno de maniçoba confeccionado a sombra foi de 80,7%, contra 93,1% para a planta in natura. O teor de matéria seca é de fundamental importância para se determinar a qualidade do feno. Valores inferiores a 80% indicam um feno de má qualidade, devido ao alto teor de umidade. Por outro lado, o maior teor de MS observado entre as espécies foi de 93,4%, no feno de jureminha confeccionado à sombra. Este fato demonstra que a melhor forma de fenação pode não ser a mesma para todas as espécies de forrageiras nativas. A maniçoba parece necessitar de incidência solar para chegar a ponto de feno ideal (entre 12 a 15% umidade), enquanto a jureminha, mesmo fenada à sombra, apresentou MS superior a 90%. 36 Tabela 1. Composição químico bromatológica das espécies de maniçoba, flor de seda, feijão bravo e jureminha em três formas (in natura, feno ao sol e feno à sombra). Espécies Formas Nat Sol Significância Som Média CV Esp. For Espxfor * * ** Matéria Seca Maniçoba 93,1Aa 87,2Ba 80,7Cb 2,48 Flor de seda 88,5Ab 91,1Aa 87,3Aa * NS ** Feijão bravo 91,2Aa 88,6Aa 91,1Aa * NS ** jureminha 90,8Aa 89,9Aa 93,4Aa * NS ** * * ** Matéria Mineral Maniçoba 6,8Bc 6,9ABc 8,2Ab 8,16 Flor de seda 16,1Aa 14,9Aa 16,1Aa * NS ** Feijão bravo 8,9Ab 8,5Ab 9,3Ab * NS ** jureminha 5,6Ac 5,1Ac 5,1Ac * NS ** * NS * Proteína Bruta Maniçoba 17,9Aa 16,9Aa 18,6Aa 12,31 Flor de seda 20,7Aa 20,6Aa 19,7Aa * NS * Feijão bravo 16,7Bb 16,4Bb 22,7Aa * * * jureminha 18,8Aa 16,5Ab 15,1Ab * NS * * NS NS Nitrogênio Insolúvel em Detergente Ácido Maniçoba 0,5Aa 0,5Aa 0,4Aa 6,8 Flor de seda 0,3Ab 0,3Ab 0,4Aa * NS NS Feijão bravo 0,2Ac 0,2Ac 0,2Ab * NS NS jureminha 0,5Aa 0,5Aa 0,5Aa * NS NS * NS ** Extrato Etério Maniçoba 6,3Aa 5,7Aa 4,6Aa 28,1 Flor de seda 5,3Aab 4,3Aab 4,1Aab * NS ** Feijão bravo 3,9Ab 3,4Ab 4,6Aa * NS ** jureminha 1,59Ac 1,6Ac 2,4Ab * NS ** Médias com letras minúsculas diferentes em uma mesma coluna diferem significativamente (P<0,05) pelo teste de Tukey. Médias com letras maiúsculas diferentes em uma mesma linha diferem significativamente (P<0,05) pelo teste de Tukey. * significativo (P<0,05); ** altamente significativo (P<0,01) Nat: planta in natura; Sol: Fenado ao sol; Som: Fenado à sombra; Esp: espécie; For: forma de fenação 37 A forma de fenação aumentou o teor em MM da maniçoba. O feno à sombra apresentou 8,2% de MM contra 6,8% na planta in natura. As outras plantas não apresentaram alteração no teor de MM. O teor de PB do feijão bravo foi alterado pela forma de fenação, apresentando maior valor o feno à sombra 22,7%, contra 16,7% no feno ao sol. Os teores em proteína bruta foram superiores a 15% em todas as espécies estudadas, indicando que estas plantas podem suprir as necessidades dos ruminantes em pastejo. De acordo com Van Soest et al. (1994), níveis de proteína bruta inferiores a 7% na dieta podem prejudicar a fermentação ruminal, bem como provocar balanço negativo de nitrogênio. O aumento significativo da concentração em PB do feijão bravo, quando fenado à sombra, necessita ser melhor investigado. Segundo Paciullo et al. (2002) e Queiroz et al. (2000), a composição bromatológica pode ser alterada por muitos fatores como a estrutura celular, organização dos tecidos celulares do vegetal e ainda pela relação caule/folhas. Nascimento et al. (2000), estudando feno de alfafa (Medicago sativa, L. cv Florida 77) ao sol e à sombra relataram que a diminuição na concentração de PB ocorrida pela fenação ao sol foi conseqüência das perdas de matéria seca de folhas no campo. No presente trabalho, não foram observadas perdas de folhas, uma vez que o material fenado se encontrava em bandejas. Por outro lado, não houve diferença (P>0,05) entre os teores em PB do feijão bravo in natura e fenado ao sol. Longo (2002), estudando feno de leucena (Leucaena leucocephala), relata que a utilização de PB do alimento pode ser prejudicada por dois fatores: a indisponibilidade do N fixado à lignina, o qual é referido como nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA), e a presença de inibidores de proteína como os fatores anti-nutricionais (taninos). A produção de NIDA ocorre pela combinação entre calor, umidade e tempo e é conhecido como a reação de Maillard (Maynard et al., 1984) Neste trabalho, foram observados baixos valores no teor de NIDA, diferindo uma das outras, contudo, a forma de fenação não interferiu na composição química deste componente. O NIDA foi maior na maniçoba e jureminha, que apresentaram valores iguais a 0,5% e o menor valor foi apresentado pelo feijão bravo de 0,2%. A fenação não alterou significativamente o teor de extrato etéreo, que foi maior na maniçoba 6,3 % na planta in natura e menor valor apresentado foi na jureminha 1,59% na planta in natura. Contudo, existiu interação entre as espécies estudadas, uma vez que a fenação diminuiu a concentração em EE da maniçoba e aumentou a da jureminha. 38 Tabela 2. Composição da parede celular e digestibilidade in vitro da matéria seca das espécies de maniçoba, flor de seda, feijão bravo e jureminha em três formas (in natura, feno ao sol e feno à sombra). Espécies Formas Nat Sol Significância Som Média CV Esp. For Espxfor * NS NS Fibra em Detergente Neutro Maniçoba 40,7 36,9 40,4 39,3C Flor de seda 40,6 40,1 42,7 41,1C * NS NS Feijão bravo 48,7 48,9 48,3 48,7B * NS NS jureminha 50,9 56 53,2A * NS NS * NS NS 52,9 10,01 Fibra em Detergente Acido Maniçoba 26,6 25,3 27 26,3D Flor de seda 27,4 29,8 31,7 29,6C * NS NS Feijão bravo 32,8 33,2 32,9 32,9B * NS NS jureminha 36,1 39,6 38,1A * NS NS * NS NS 38,9 11,36 Hemicelulose Maniçoba 14,1 11,6 13,4 13,0B 15,70 Flor de seda 13,2 10,4 11,0 11,5B * NS NS Feijão bravo 16,0 15,8 15,4 15,7A * NS NS Jureminha 14,0 14,9 16,3 15,0A * NS NS Maniçoba 7,7Ac 8,5Ab 8,8Ab * ** ** Flor de seda 7,5Ac 8,2Ab 9,4Ab * ** ** Feijão bravo 15,4ABa 15,0Ba 17,4Aa * ** ** jureminha 11,0ABb * ** ** * NS * Lignina 12,6Ab 9,5Bb 12,10 Digestibilidade In Vitro da MS Maniçoba 65,0Ab 60,0ABb 55,6Bb Flor de seda 80,2Aa 74,1ABa 70,4Ba * NS * Feijão bravo 55,6Ac 50,3Ac 51,2Ab * NS * jureminha 53,3Ab 51,6Ab * NS * 43,0Bd 6,83 Médias com letras maiúsculas diferentes em uma mesma linha diferem significativamente (P<0,05) pelo teste de Tukey. Médias com letras minúsculas diferentes em uma mesma coluna diferem significativamente (P<0,05) NS: não significativo; *: significativo (P< 0,05); **: altamente significativo (P<0,01) Nat: planta in natura; Sol: Fenado ao sol; Som: Fenado à sombra. Esp: espécie; For: forma de fenação 39 Não houve efeito da forma de fenação sobre os teores de FDN, FDA e hemicelulose. A jureminha apresentou os maiores valores em FDN e FDA e a flor de seda os menores. A fenação influenciou a concentração de lignina do feijão Bravo e Jureminha. No caso do feijão bravo, não existiu diferença entre a planta in natura e fenada, contudo a fenação a sombra parece aumentar a concentração em lignina. Forbes (1995) afirma que forrageiras da família das leguminosas apresentam caules mais estruturais do que outras famílias, devido a maior presença de lignina, o que resulta geralmente em menor digestibilidade. Neste trabalho também foi observado que as Leguminosas e as Capparaceas apresentaram maior teor em lignina. O coeficiente de digestibilidade foi influenciado pela forma de fenação e, assim como a composição bromatológica, teve respostas diferentes a forma de fenação de acordo com a espécie. Nas espécies maniçoba e flor de seda o coeficiente de digestibilidade diminuiu com a fenação. A DIVMS do feijão bravo não sofreu influência dos tratamentos e a jureminha comportou-se contrária as outras espécies, tendo seu coeficiente aumentado com a fenação, independente da forma. Vilela (2004) explica que com a digestibilidade da MS pode diminui com alta umidade durante a fenação, devido a perdas de compostos facilmente digestíveis através da respiração. Essa teoria também poderia explicar os valores superiores de lignina em algumas espécies, uma vez que esse valor é dado com base na quantidade de matéria seca. Uma diminuição na quantidade de matéria orgânica digestível, em função de fermentações indesejáveis durante o processo de fenação, implicaria em uma quantidade relativamente maior de lignina. O fato da jureminha ter umidade e folhas menores que as outras espécies, possibilitaram-na chegar mais rápido a 50% de umidade, o que segundo Reis et al. (2004), é um ponto fundamental para a qualidade do feno. Vários fatores exercem influência sobre a digestibilidade dos nutrientes. Segundo Maynard et al. (1984), a espécie, a raça e a genética animal podem influenciar este coeficiente, além da composição química da dieta e a presença ou não de fatores antinutricionais. 40 Tabela 3. Concentração e adstringência de taninos condensados das espécies maniçoba, flor de seda, feijão bravo e jureminha em três formas (in natura, fenada ao sol e fenada à sombra) Formas Espécies Nat Sol Som MÉDIA Tanino solúvel (%) Maniçoba 0,53 0,53 0,0 0,35cb Flor de Seda 0,0 0,0 0,0 0,0c Feijão Bravo 0,30 0,63 1,14 0,69b Jureminha 1,44 1,89 1,51 1,61a significância Esp For ForxEsp ** NS NS Tanino ligado ao resíduo (%) Maniçoba 1,11Aa 0,5Bb 0,3Cac ** ** ** Flor de Seda 0,0Ab 0,0Ac 0,0Ac ** NS ** Feijão Bravo 0,30Ab 0,53Ab 0,39Ac * NS ** Jureminha 0,96Aa 0,54Ab 0,8Aa * NS ** ** NS NS Tanino condensado total (%) Maniçoba 1,54 0,81 0,0 0,79cb Flor de Seda 0,0 0,0 0,0 0,0c Feijão Bravo 0,59 0,90 1,53 1,0b Jureminha 2,23 2,40 2,26 2,3a Adstringência (% proteína ligada/ mL de tanino) Maniçoba 12,3-3 Aa 0,0-3 Ba 8,4-3 Aba ** * ** Flor de Seda 0,0-3 Ab 0,0-3 Aa 0,0-3 Aa * NS ** Feijão Bravo 7,9-3 Aab 5,2-3 Aa 5,0-3 Aa * NS ** -3 * ** ** Jureminha -3 13,7 Aa -3 6,0 ABa 0,0 Ba Médias com letras maiúsculas diferentes em uma mesma linha diferem significativamente (P<0,05) pelo teste de Tukey. Médias com letras minúsculas diferentes em uma mesma coluna diferem significativamente (P<0,05) NS: não significativo; *: significativo (P< 0,05); **: altamente significativo (P<0,01) Nat: planta in natura; Sol: Fenado ao sol; Som: Fenado à sombra. Esp: espécie; For: forma de fenação Houve efeito da forma de fenação sobre a fração de tanino ligado ao resíduo (TL) de maniçoba e sobre a adstringência dos taninos condensados da maniçoba e jureminha. A maniçoba apresentou concentração que variou de TL de 1,11% na forma in natura a 0,3% no feno ao sol. A fenação ao sol reduziu a zero a adstringência do tanino solúvel, no caso 41 da jureminha. Por outro lado, a forma de apresentação não influenciou as concentrações e adstringência dos taninos de feijão bravo e não foi detectada a presença de tanino condensado na espécie flor de seda. As concentrações em tanino condensado das espécies jureminha, feijão bravo e maniçoba foram, respectivamente, 2,3%, 1% e 0,8% da matéria seca, relativas ao tanino de jurema preta. Estes valores podem ser considerados de moderados a baixos, de acordo com a literatura (Barry et al., 1986). Como as espécies estudadas apresentaram baixas concentrações em taninos, o estudo do efeito da fenação sobre as características dos mesmos ficou comprometido. Contudo, foi evidente o efeito da fenação sobre a diminuição da adstringência dos taninos solúveis da jureminha (tab 3), e isso pode ter influenciado positivamente a digestibilidade da mesma, que melhorou significativamente ao ser fenada. Para que haja confirmação da influência da fenação sobre a adstringência dos taninos solúveis, trabalhos futuros, testando forrageiras ricas em tanino condensado (acima de 10%) como a jurema preta, mororó e sabiá devem ser conduzidos. Conclusão O feno ao sol mostrou-se adequado a conservação das forrageiras nativas estudadas, uma vez que não alterou de forma importante a composição da planta "in natura", nem diminuiu sua digestibilidade. No caso da jureminha a fenação proporcionou o aumento da digestibilidade. Referencias bibliográficas BARRY, T.N., MANKEY, T.R., DUCAN, S.J. The role of condensed tannins in the nutritional value of lótus pendunculatus for sheep. 4 Sites of carbohydrate and protein digestion as influenced by dietary reactive tannin concentration. Brith. J. Nutr., v.55, n.1, p 123-137, 1986. BEELEN, P.M.G. Taninos condensados de leguminosas nativas do semi-árido nordestino. 2002. 71 f. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2002. FORBES, J.M. Voluntary food intake and diet selection in form animals. Wallingford: CAB international, 1995. Cap. 10, p. 204 – 225: Diet digestibility and concentration for available energy. 42 GARCIA, R. 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