PUBLICAÇÃO DAS FACULDADES OSWALDO CRUZ VOLTADA PARA O APOIO A DECISÕES ESTRATÉGICAS EMPRESARIAIS Ano I Número 2 Setembro / 2001 e d i t o r i a l Prezados Leitores O momento por que passa a economia mundial é de desaceleração, com aspectos recessivos emanados das economias americana e japonesa, assim como de alguns países membros da comunidade européia. Este cenário afeta todas as demais economias, em especial as emergentes. No caso brasileiro, aquecem-se as discussões sobre a sucessão presidencial, assim como a respeito dos fatores econômicos abordados no artigo “Dependência e seus efeitos colaterais”. Importante também é a análise do risco, representado pela turbulência da economia argentina, abordado de forma didática em nosso artigo “Direto da sala de aula”. Todos estes aspectos influenciaram o desempenho da economia, modificando totalmente o cenário projetado para o ano. Algumas reflexões devem ser consideradas, tais como: a) somente a desvalorização da moeda não é o suficiente para se obter um melhor resultado na balança comercial; b) participar de uma economia global passa necessariamente por um ajuste nas políticas fiscal, monetária e cambial, através da aplicação de seus instrumentos de forma atual e combinada com o grau de dificuldades enfrentado pelos diferentes setores produtivos em relação ao avanço tecnológico; c) apoio de organismos oficiais para que as empresas possam ter acesso às novas tecnologias; d) menor quantidade de impostos e melhor qualidade na tributação, através de uma carga condizente com a concorrência internacional. Em resumo, este é mais um momento de discussão de temas a serem introduzidos nos programas de governo que fatalmente serão apresentados à nação, através de plataforma de partidos e candidatos. Neste número procuramos discutir alguns desses aspectos, aguardando de nossos leitores opiniões que possam contribuir com o debate, assim como aconteceu por ocasião do primeiro número desta “Carta Conjuntura”. Prof. Oduvaldo Cardoso Diretor da FAEC n e s t a e d i ç ã o DIRETO DA SALA DE AULA O SIGNIFICADO DA PALAVRA DEFAULT O Prof. Clovis Freitas Costa, das Faculdades Oswaldo Cruz e do Departamento Econômico do Banco Central do Brasil, explica o significado da palavra default. AULA PRÁTICA DOIS HAMBÚRGUERES, ALFACE E A TAXA DE CÂMBIO A Revista The Economist popularizou um índice para avaliar o estado de apreciação ou depreciação de uma moeda, o Índice Big Mac. CALENDÁRIO CALENDÁRIO DE NEGÓCIOS E EVENTOS DE SETEMBRO Veja o calendário de eventos que impactam os negócios em setembro. As feiras setoriais deste mês podem trazer interessantes oportunidades de negócios. CONJUNTURA ECONÔMICA DEPENDÊNCIA E SEUS EFEITOS COLATERAIS O Prof. Orlando Assunção Fernandes, do Departamento de Economia das Faculdades Oswaldo Cruz, analisa a conjuntura econômica brasileira, partindo de seu aspecto mais estrutural: a dependência do financiamento externo. CONSULTOR FAEC COMO ESCOLHER FUNDOS DE INVESTIMENTO O Consultor FAEC desta edição é a Profa. Lucy Sousa, doutora em Economia e com longa experiência no mercado financeiro. Ela destaca aspectos fundamentais na escolha de fundos de investimento e dá dicas sobre os fundos de ações da Petrobrás. e x p e d i e n t e Publicação das FACULDADES OSWALDO CRUZ Diretor Geral: Carlos Eduardo Quirino Simões de Amorim Assistente da Diretoria Geral: Prof. Wladimir Catanzaro Diretor da Faculdade Ciências Administrativas Econômicas e Contábeis (FAEC): Prof. Oduvaldo Cardoso Coordenador do Curso de Ciências Econômicas: Prof. Orlando Assunção Fernandes Coordenador do Projeto Oswaldo Cruz Conjuntura: Prof. Frederico Araujo Turolla Jornalista Responsável Rosane Santos Neves – MTb: 024967 Diagramação e Editoração Eletrônica Celso Vivan Ponte Revisão: Prof. Isa Iára Campos Salles Correspondências para a redação desta publicação: Rua Brigadeiro Galvão, 540 – Barra Funda 01151-000 – São Paulo-SP e-mail: [email protected] Visite o Website das Faculdades Oswaldo Cruz em www.oswaldocruz.br d i r e t o da sala de aula DEFAULT Prof. Clóvis Freitas Costa* Default significa a declaração de insolvência de um devedor, decretada pelos credores quando as dívidas não são saldadas nos prazos estabelecidos, podendo ser traduzida para o português como moratória ou não pagamento. Esta possibilidade, a declaração de default, consta normalmente de contratos de empréstimos assinados entre países devedores e instituições financeiras internacionais, em especial quando envolve bancos privados. O conceito abrange também as operações de empréstimos conduzidas por empresas no exterior e aplica-se, em ambos os casos, tanto pelo não pagamento de parcelas do principal, quanto pelo não pagamento de juros devidos. A esta altura vale perguntar como surge o default. Esta situação é o capítulo final de um processo de deterioração, que pode ser mais rápido ou lento, dependendo do caso, da estrutura de financiamento do balanço de pagamentos de um país. De maneira geral, o déficit externo de uma economia pode ser coberto por empréstimos em dinheiro de curto ou longo prazo e por investimentos diretos. A persistência deste déficit (também conhecido como déficit em transações correntes) e sua ampliação ao longo do tempo tende a aumentar a necessidade de recursos para financiar as contas externas, o que produz a chamada vulnerabilidade externa, que passa então a refletir o grau de deterioração do balanço de pagamentos. Chega-se ao default quando o país em questão, em virtude de uma elevada vulnerabilidade, não consegue renovar créditos já concedidos e, principalmente, receber novos empréstimos, o que inviabiliza a curto prazo o pagamento de suas obrigações com o exterior. Na atualidade, a possibilidade real de um default pode ser vislumbrada na situação vivida pela Argentina, cujo plano de conversibilidade ao fixar por lei a paridade entre dólar e peso na proporção um por um, acompanhada de liquidez equivalente entre ambas as moedas, rompeu a possibilidade da taxa cambial refletir de maneira mais adequada a relação entre preços internos e externos. Este fato produziu uma crescente perda de competitividade por parte da economia argentina, com conseqüências negativas para as exportações e investimentos diretos, o que gerou uma recessão que já ultrapassa três anos. *Professor Titular do Departamento de Economia das Faculdades Oswaldo Cruz, Economista do Departamento Econômico do Banco Central do Brasil, com créditos de Mestrado em Economia pelo IPE/USP. OSWALDO CRUZ CONJUNTURA ANO I Nº 2 - SETEMBRO 2001 a u l a p r á t i c a α. ARGENTINA, LONGA DECADÊNCIA. O professor Bresser Pereira resume bem a situação estrutural da economia da Argentina: Nós estamos há vinte anos semiestagnados; a Argentina, há quase um século. De fato, o Brasil andou devagar desde a década de 80, e somente no ano 2000 a economia voltou a crescer, ainda que de forma moderada. Nossos vizinhos viveram, no início do século passado, uma opulência de impressionar até as nações européias, mas foram se tornando cada vez mais parecidos com um país subdesenvolvido. Mesmo assim, Buenos Aires preserva a arquitetura e talvez a arrogância dos velhos e bons tempos. β. INVESTIMENTO EM CENTRO TECNOLÓGICO. Em linha com o esforço de dotar o país de capacidade competitiva a partir de formação profissional adequada e bom uso da tecnologia, as Faculdades Oswaldo Cruz acabam de fazer um investimento em um moderno Centro Tecnológico. Os cursos visam a formar o tecnólogo, um profissional habilitado que preenche a importante lacuna entre o bacharel e o técnico secundarista. Os cursos têm duração entre 2 ou 3 anos, contra 4 ou 5 do bacharelado. Não há disciplinas: o curso organiza-se em módulos que fornecem um conjunto de competências, o que corresponde à mais moderna técnica educacional. O Centro Tecnológico expõe os alunos ao uso intensivo de ferramentas tecnológicas e Internet, dando destaque em seus cursos para o módulo de Pesquisa & Desenvolvimento. χ. DÍVIDA MUNICIPAL. Odilon Guedes, Administrador Regional do Jabaquara e ex- vereador pelo PT, é também professor de Economia Brasileira nas Faculdades Oswaldo Cruz. Em um recente texto interno das Faculdades, intitulado Debate FAEC, Odilon reclama a renegociação da dívida do município com o Governo Federal. Segundo ele, o custo anual da dívida, de R$ 940 milhões, equivale a 1.000 creches ou 65.000 moradias. δ. BIG MAC. É sempre muito difícil avaliar se a moeda de um país está forte ou fraca em relação ao dólar. Para ajudar nessa tarefa, a revista The Economist criou em 1986 o Índice Big Mac, que tem os mesmos ingredientes em qualquer lugar do mundo: dois hambúrgueres, alface, etc. Basta avaliar o preço local em dólares do famoso sanduíche e compará-lo com o preço nos Estados Unidos. Nos EUA, um Big Mac custa US$ 2,54; na Argentina, praticamente o mesmo preço e, no Brasil, pela taxa de câmbio atual, cerca de US$ 1,50. Será um sinal de que a desvalorização do Real passou do ponto? c a l e n d á r i o D IA E V E N TO 07 D IA D A IN D EPEN D ÊN C IA .Proclam ada em São Paulo porD .Pedro Iem 07/09/1822 10 a 13 EQ U IPO TEL (A nhem bi)- Feira IntlEquip para H otéis,M otéis,BarRest Info:5574 5166 10 a 14 X IV C ongresso Brasileiro de Econom istas,Recife-PE.Info:(81)3421 6079 11 IN FLA Ç Ã O :IG P-D Ide A gosto da Fundação G etúlio Vargas 11 a 15 5o Salão-Sem inário Q ualidade /Salão de M etrologia (C enterN orte Info:253 2133) 11 a 15 10o Salão de N ovos N egócios (C enterN orte)Info:253 2133 12 IN FLA Ç Ã O :IN PC e IPC A agosto,IBG E 13 IN FLA Ç Ã O :IPC da cidade de São Paulo,FIPE,1a quadrissem ana de setem bro 14 IBG E:D ivulgação da Pesquisa M ensaldo C om ércio de Julho 18 e 19 C O PO M - C om itê de Política M onetária do Banco C entral,define a m eta da taxa Selic 18 a 21 FIIEE (Belo H orizonte)Feira InternacionalInd Eletroeletrônica – Info:6221 9908 18 a 22 M & T EX PO (Im igrantes)Feira Equiptos C onstrução /M ineração – Info:3826 9111 19 a 23 IN FO TEC H (Londrina)9a Feira Tecnologia Inform atica Telecom 20 IN FLA Ç Ã O :IPC da cidade de São Paulo,FIPE,2a quadrissem ana de setem bro 21 a 24 C O SM ÉTIC A (A nhem bi)- Feira Internacionalda Beleza – Info:3826 9111 24 a 26 TELELIN K (IntTrade M art)- M erc.Intpara a C onvergência D igital– Info:3759 7171 25 D A D O S - D ivulgação do Balanço de Pagam entos e agregados m onetários de agosto 25 -27 FEILIM P (C enterN orte)- Feira IntLim peza Pública Res Sólidos – Info:3151 6444 26 D A D O S - D ivulgação da Taxa de D esem prego A berto do IBG E em agosto 27 D A D O S - D ivulgação do déficite dívida pública em agosto 27 IN FLA Ç Ã O :IPC da cidade de São Paulo,FIPE,3a quadrissem ana de setem bro 27 D A D O S - IBG E:Levantam ento Sistem ático da Produção A grícola /agosto 28 D A D O S - IBG E:C ontas N acionais,volum e e valores correntes do 2o trim estre 29 IN FLA Ç Ã O :IG P-M de setem bro da Fundação G etúlio Vargas 2 CONJUNTURA ECONÔMICA e s e u s D e p e n d ê n c i a e f e i t o s c o l a t e r a i s Os brasileiros se acostumaram a conviver com crises recorrentes e desta vez a influência negativa vem da Argentina. Este artigo explica que as turbulências realçam a fragilidade do modelo brasileiro, que se origina na dependência da poupança externa. São também avaliadas as conseqüências desta fragilidade para o dia-a-dia da economia e as perspectivas para os próximos meses. Nos últimos meses temos presenciado uma série de turbulências macroeconômicas que tiveram como efeito mais evidente a desvalorização do Real frente ao Dólar. Estas turbulências realçaram, novamente, a fragilidade do alicerce que sustenta o modelo econômico adotado no Brasil nestes últimos anos, ainda muito dependente de poupança externa. Esta dependência, agora, vem à tona explicitada pelo agravamento da situação econômica da Argentina, pela desaceleração da atividade econômica norte-americana - e também de alguns países europeus - e pela crise brasileira de energia. Esta dependência se revela de forma mais contundente quando verificamos a necessidade de financiamento para o nosso significativo déficit em transações correntes, num momento em que o envio de recursos externos está reduzido devido às incertezas quanto ao retorno dos investimentos direcionados ao país. Uma importante forma de atenuar esta dependência externa passa pela redução do déficit em conta corrente, através da consecução de superávits comerciais. Neste ponto, percebe-se que a simples desvalorização da taxa cambial não está sendo suficiente para torná-los factíveis. É necessário, neste caso, dar continuidade ao processo de desoneração fiscal e aumento de recursos destinados ao financiamento das exportações, medidas estas que, se bem sucedidas, só terão reflexos a médio prazo. Neste contexto, torna-se imperioso o uso, por parte das autoridades econômicas brasileiras, de instrumentos que possam atenuar, a curto prazo, os efeitos destas crises à sociedade civil como um todo. Diante deste quadro, começam as especulações sobre quais seriam as ações necessárias para contornar o problema. Uma destas ações seria a intervenção no câmbio. Estas intervenções diárias, realizadas pelo BC, vêm ocorrendo, porém o mercado parece achar que o volume de recursos, anunciado para levar a cabo estas intervenções, não seja suficiente. Outra ação de cunho imediatista é a elevação da taxa de juros. A lógica por trás desta elevação está em tentar atrair o capital estrangeiro e, claro, manter o capital já existente (numa espécie de topa tudo por dinheiro), além de amortecer o impacto da desvalorização do câmbio nos índices de preço. Por outro lado, a elevação dos juros arrefece o nível de atividade, já parcialmente comprometido pelos efeitos da crise energética, e tem um impacto negativo no déficit público nominal, além de trazer efeitos sociais perversos, como desemprego, aumento da violência etc. 3 Agora, para mostrar estar preparado para um provável contágio em nossa economia, vindo de um agravamento da situação argentina, o governo brasileiro, através de uma ação mais contundente e não tão paliativa - como elevar a taxa de juros em doses homeopáticas –, foi buscar uma nova blindagem financeira, costurando um novo acordo junto ao FMI e anunciando mais uma dose de esforço fiscal elevando a meta de superávit primário de 3,0% para 3,5% em 2002. Com isso, o governo espera sinalizar à comunidade internacional, que o país está preparado para um eventual agravamento da crise em seu vizinho. Deste modo, diminui-se a necessidade de um eventual choque de juros e seus efeitos perniciosos à economia brasileira e, por conseguinte, ao nível de popularidade do governo, num ano de importantes definições políticas visando à corrida presidencial. Porém, ao invés de turbulências, poderíamos estar viajando em céu de brigadeiro, se apresentássemos melhores fundamentos e menor dependência externa. As reformas estruturais, tão necessárias ao nosso país e que, infelizmente, têm ficado, em sua maioria, apenas em promessa, poderiam ter dado o raio de manobra necessário em momentos como este. Mas, como sabemos, estas reformas não foram e, ao que tudo indica, não serão implementadas pelo atual governo. OS REFLEXOS DAS CRISES Mesmo levando-se em consideração o fato de que não se possa, até o presente momento, enxergar com toda clareza o alcance das crises energética e da Argentina, é evidente que ambas estão gerando efeitos perversos sobre a manutenção da expansão do nível de atividade econômica brasileira e, também, no cumprimento da meta de inflação. As previsões otimistas que muitos vinham fazendo no início do ano sobre o comportamento do nível de atividade e dos índices de preços para 2001 não irão se confirmar. Supondo que os efeitos destas crises viessem a ser mais brandos, mesmo assim o crescimento em 2001 ficará longe da casa dos 4,5% ao ano como o próprio governo chegou a prever (as expectativas atuais são de um crescimento na casa de 1,8%). Do mesmo modo, analisando-se o comportamento do IPCA até este momento, vê-se que a meta de 6% de inflação estabelecida para este ano (já incluso os dois pontos percentuais a mais de tolerância) está cada vez mais longe de ser alcançada, sobretudo num contexto ao qual se soma o agravamento do quadro político. O quadro político tem se deteriorado ainda mais nos últimos meses, haja vista o número de denúncias e suspeitas de corrupção que tem atingido o governo em suas várias esferas e poderes e que fomentam, ainda mais, expectativas desfavoráveis no que concerne ao comportamento da economia brasileira a curto prazo. Adiciona-se, a este cenário, a proximidade das eleições presidenciais, com todas as interrogações que o resultado destas naturalmente trazem aos possíveis rumos que o país seguirá no próximo governo. Enfim, tudo isto, conjugado à crise energética e à crise argentina, além, é claro, à evolução das contas externas, serão importantes elementos condicionantes ao desempenho da economia brasileira em futuro próximo. Prof. Orlando Assunção Fernandes Economista, mestre, professor dos Departamentos de Economia, Administração e Contabilidade e Coordenador do Curso de Economia das Faculdades Oswaldo Cruz. OSWALDO CRUZ CONJUNTURA ANO I Nº 2 - SETEMBRO 2001 CONSULTOR FAEC PROFª LUCY SOUSA E A ESCOLHA DE FUNDOS DE INVESTIMENTO A Professora Lucy Sousa é graduada em Economia e Ciências Sociais pela USP e tem Doutorado em Economia pela UNICAMP. Leciona há mais de 10 anos as disciplinas Mercado de Capitais e Economia Brasileira, entre outras, em cursos de Graduação e Pós-Graduação das Faculdades Oswaldo Cruz. É responsável pela coordenação das atividades de elaboração da monografia de conclusão do curso de Economia, além de orientar vários desses trabalhos. Durante uma intensa carreira junto ao mercado financeiro, Lucy atuou como analista de investimentos no Citibank e no Unibanco. Atualmente, é Consultora pela Interlink Consultoria de Mercado de Capitais. O Mercado de Capitais Brasileiro foi o tema da tese de doutoramento que a Professora Lucy defendeu junto à UNICAMP em 1998. A atividade acadêmica da professora foi um complemento fundamental da sua experiência no mercado financeiro, formando um interessante conjunto de experiências e conhecimentos que a professora transmite a seus alunos nas Faculdades Oswaldo Cruz. Esta edição do Consultor FAEC sintetiza algumas das lições da professora, com foco na escolha de fundos de investimento. Os fundos crescem no Brasil Os fundos são hoje a principal forma de investimento no Brasil, ultrapassando em muito o saldo da tradicional caderneta de poupança. Os fundos geram hoje a fantástica soma de 323 bilhões de reais, contra 112 bilhões da caderneta de poupança. A indústria de fundos tomou um forte impulso nos anos 90. Seu crescimento relaciona-se com a política governamental que privilegiou os fundos como instrumento para captar a poupança financeira doméstica. Mas sua popularização só foi possível graças à facilidade de investir através da extensa rede de agências bancárias, complementada por novas conveniências como os serviços bancários via telefone e Internet. Muito risco ou pouco risco? Os fundos são classificados pela legislação brasileira em duas categorias, a Renda Fixa e a Renda Variável, que têm várias subdivisões. Os fundos de renda fixa representam 90% dos recursos totais em fundos. De maneira geral, esses fundos apresentam risco menor, porque suas carteiras contêm uma proporção maior de títulos do Governo Federal. Estes têm uma chance de inadimplência mais baixa em comparação com títulos de empresas e de governos locais. Os fundos de renda variável só detêm 10% do patrimônio total, apesar de uma vantagem tributária: o investidor paga 10% de Imposto de Renda contra 20% dos fundos de renda fixa. Esta vantagem está prevista para acabar em 2002. Prudência, canja de galinha... O ditado popular adverte que precaução e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Mas em fundos de investimento, todo cuidado é pouco! O primeiro cuidado importante ao investir, recomenda a Professora Lucy, é o de se informar sobre a política de investimentos do fundo, e o seu enquadramento na legislação. “Isso o investidor obtém a partir de folhetos publicitários ou através do próprio regulamento do fundo”. Os Bancos criam famílias de fundos, usando nomes-fantasia e, daí, a necessidade de o investidor descobrir em que categoria da legislação um fundo se enquadra. Assim, o investidor identifica os limites que a Lei impõe àquele fundo e evita tomar mais risco do que está disposto a assumir. ...e olho vivo na taxa de administração O investidor deve comparar as taxas de administração ao investir em fundos. OSWALDO CRUZ CONJUNTURA ANO I NO 1 - SETEMBRO 2001 A Professora Lucy lembra que, por comodidade, muitas pessoas acabam investindo nos fundos do Banco em que são correntistas, não atentando para as diferenças entre as taxas de administração, que abocanham entre 2 e 4% da valorização das cotas. Para descobrir a taxa de administração, o investidor deve recorrer ao material publicitário ou ao regulamento do fundo. Porém, ressalta a professora, baixa taxa de administração nem sempre é sinônimo de maior rentabilidade. Como pequenos investidores dificilmente conhecem uma equipe gestora a ponto de nela confiar, a dica é observar o desempenho passado nos fundos. Os jornais Gazeta Mercantil, Estado de São Paulo e Valor Econômico, publicam diariamente o desempenho de uma imensa gama de fundos. O que fazer com o Fundo Petrobrás? Lucy lembra que os cotistas dos fundos da Petrobrás já têm a opção de decidir entre o retorno dos recursos ao FGTS, a renovação das cotas ou a aplicação em fundos de ações mais diversificados. Quem investiu obteve remuneração média de 74% em doze meses, muito superior ao rendimento do FGTS, que é de apenas a Taxa Referencial mais 3% ao ano. Esse excelente desempenho pode não se repetir, mas existe um certo consenso de que mesmo assim as ações da Petrobrás devem continuar sendo um bom negócio. Por ora, diz a professora, há tempo para decidir e não vale a pena ter pressa. Porém, é interessante comparar as alternativas, de olho na oportunidade de maximizar a poupança pessoal. 4