AU TO RA L TO EI DI R DE UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES LE I PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PR OT EG ID O PE LA INSTITUTO A VEZ DO MESTRE DO CU M EN TO BENEFÍCIOS DA ARTETERAPIA ÀS PESSOAS COM TRANSTORNO AFETIVO DO HUMOR E SUA FAMÍLIA Por: Edelcilene Cerqueira Barreto Orientador: Profª. Fabiane Muniz Co-orientadora: Profª. Narcisa Castilho Melo Brasília 2010 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE BENEFÍCIOS DA ARTETERAPIA ÀS PESSOAS COM TRANSTORNO AFETIVO DO HUMOR E SUA FAMÍLIA Monografia apresentada ao Instituto A Vez do Mestre - Universidade Candido Mendes como parte dos requisitos para a obtenção do Grau de Especialista em Arteterapia em Educação. Por: Edelcilene Cerqueira Barreto 3 AGRADECIMENTOS A Deus, oportunidade que de me concedeu pesquisar a minha própria realidade no ambiente familiar e que me proporcionou através deste trabalho a melhora no trato com minha família. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a minha mãe e irmã pelo incentivo e interesse ao tema, pois em algumas situações, nos sentimos personagens protagonistas e demais parentes como coadjuvantes da própria pesquisa. 5 RESUMO O presente trabalho de pesquisa aborda, como a terapia alternativa, neste caso, a arteterapia, pode auxiliar no trabalho de psicólogos e psiquiatras no tocante ao tratamento do Transtorno Afetivo do Humor em pessoas e, a ajuda que sua família necessita ao lidar com esses pacientes. Assume como objeto de estudo, livros e sites especializados no assunto. O trabalho abrange as diversas linguagens artísticas inseridas como componentes norteadores da terapia, podendo ser individual ou em grupo. A arteterapia, vem através de suas várias técnicas expressivas, possibilitar e facilitar o relacionamento social e abolir os conflitos afetivos, que causam danos psicológicos, entre o paciente bipolar e sua família. Concluímos que é de extrema necessidade estimular a aplicação de técnicas arteterapêuticas para que as pessoas com transtorno afetivo do humor sejam melhor compreendidas pela família e sociedade e, ao mesmo tempo, se reconheçam descobrindo novos valores dentro de si. 6 METODOLOGIA Os instrumentos utilizados para realização da pesquisa foi através da leitura de livros, tendo como principais autores, James O. Whittaker, F. K. de Goodwin, Abraham S. Luchins, Jonas Melman e Teng Chei Tung; consulta a sites da internet especializados no escopo da pesquisa e; a monografias dos cursos de pós-graduação lato sensu Arteterapia em Educação e Saúde e Terapia de Família. A partir dos estudos referentes ao assunto, o processo de elaboração também se deu através da investigação de questões embutidas nas seguintes hipóteses: - Uma família que possua, pelo menos um membro com transtorno bipolar, é afetada em seu estado emocional por desconhecer que a reação diversificada no humor por parte de quem sofre o transtorno é sintoma de uma doença psíquica que pode ser tratada. Esse fato gera conflitos afetivos por parte dos membros familiares. Como ajudar a esta família? - O doente de transtorno bipolar, quando não tratado com práticas arteterapêuticas, por exemplo, não compreende as mudanças na reação afetiva por parte de sua família e como conseqüência, se sente desprezado. Como a arteterapia poderá ajudá-lo? 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 09 CAPÍTULO I - TRANSTORNO AFETIVO DO HUMOR. O QUE É? 12 Tipos ou fases 13 1 - Fase Depressiva 13 2 - Fase Maníaca ou Tipo I: mania (euforia) + depressão 15 3 - Tipo II: hipomania 17 4 - Fase Mista: depressão + mania (alternância) 17 5 - Ciclotimia 18 CAPÍTULO II - O CUIDADO COM OS FAMILIARES DA PESSOA COM TRANSTORNO AFETIVO DO HUMOR 23 Repensando o cuidado em relação aos familiares 23 Primeiro momento: os familiares pedem ajuda 23 Como a família deverá cuidar do paciente bipolar? 25 A carga enfrentada pela família 25 Transtorno bipolar na família: a rejeição 27 Transtorno bipolar no provedor da família 27 Transtorno bipolar no casal 28 Depressão nos outros familiares próximos 29 CAPÍTULO III – A ARTE COMO TERAPIA PARA O TRANSTORNO AFETIVO DO HUMOR 30 Podem os maníaco-depressivos superar sua doença? 30 O Uso Terapêutico de Filmes Cinematográficos 30 A Arte Como Terapêutica 32 A Música Como Terapêutica 33 Dramatização 34 Psicodrama 35 8 1 - Arteterapia para a fase maníaca (eufórica) 37 2 - Arteterapia para a fase depressiva 37 3 - Arteterapia para as fases mistas 38 3.1--Mania medrosa-depressiva 38 3.2--Mania pobre em pensamentos 38 3.3–Mania improdutiva 39 3.4–Depressão agitada 39 3.5–Mania inibida 40 3.6–Depressão com fuga de idéias 40 A moderna Dramaterapia 41 Dramaterapia no tratamento do Transtorno A. do Humor 42 Métodos e técnicas em Dramaterapia 42 CONCLUSÃO 46 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 47 BIBLIOGRAFIA CITADA 48 ANEXO – INTERNET 49 9 INTRODUÇÃO A presente monografia estuda um tema gerado a partir do reconhecimento de um novo tratamento auxiliar da medicina no século XX, sendo de extrema importância para a valorização da arte no tocante a saúde. Trata-se da arteterapia e o transtorno afetivo do humor. Durante o tratamento, ocorre a produção de escultura, pintura e outras formas de expressão contribuindo para o autoconhecimento do paciente, o controle de sintomas e o tratamento dos problemas causados também na família. A questão centralizadora neste trabalho é como abolir os conflitos afetivos, que causam danos psicológicos, entre o portador de transtorno afetivo do humor e sua família. O tema apresentado tem sua relevância baseada em que, não é fácil identificar entre as pessoas de nosso convívio, àquelas que sofrem de transtorno bipolar (nomenclatura anterior) ou transtorno afetivo do humor, que constantemente variam de humor (estados de alegria e tristeza) em sua comunicação, causando grande impacto em sua própria vida, de sua família e sociedade, com prejuízos irreparáveis nas finanças, saúde, reputação e sofrimento psicológico. Pessoas próximas que convivem com o doente afetivo bipolar, não compreendem os sintomas causados por esse distúrbio. Pessoas bipolares são cidadãos comuns, merecedores de respeito, pois devido à falta de diagnóstico e compreensão de tais reações, muitas vezes, são chamados de “loucos”, quando na verdade não o são. Por esse motivo, se sentem desprezadas. Entretanto, esta situação tende a se modificar, apesar de ser uma doença incurável, é importante seguir um tratamento com um psiquiatra que prescreve as medicações necessárias, e mesmo que a pessoa esteja bem, deverá ser acompanhada com terapias 10 alternativas, como por exemplo, a arteterapia já citada, para ajudar a manter a doença sob controle e reduzir as chances de ter episódios recorrentes mais graves. Desta forma, far-se-á um estudo em forma de pesquisa dos benefícios da arteterapia em prol dos pacientes bipolares e sua família. Enquanto em outras formas de tratamento, como a medicina, o paciente relata ao profissional o que o incomoda ou aflige, na arteterapia ele se expressa por meio de uma ou mais atividades artísticas de sua preferência. O processo de criação e a relação estabelecida também com o arteterapeuta é que vão lhe permitir se conhecer melhor e evoluir. A cada desenho ou modelagem, o conteúdo da pessoa toma forma e ela sente que pode transformar em arte suas aflições e suas angústias usando cor e movimento. Assim, suaviza e aprende a relacionar padrões que antes aprisionavam, descobrindo que pode criar novas maneiras para lidar com os problemas. O tempo de tratamento varia de acordo com a necessidade de cada um. A pesquisa tem como objetivo geral conhecer os benefícios que a arteterapia proporciona ao paciente bipolar e as dificuldades da família ao lidar com essa doença. E especificamente, analisar práticas arteterapêuticas em pacientes bipolares e discriminar as dificuldades que a família de um paciente bipolar enfrenta em relação a essa doença. O estudo tem como hipótese, uma família que possua, pelo menos um membro com transtorno afetivo do humor e seja afetada em seu estado emocional por desconhecer que a reação diversificada no humor por parte de quem sofre o transtorno é sintoma de uma doença psíquica que pode ser tratada. Esse fato gera conflitos afetivos por parte dos membros familiares. 11 É pesquisado também, que o doente de transtorno afetivo do humor, quando não tratado com práticas arteterapêuticas, por exemplo, não compreende as mudanças na reação afetiva por parte de sua família e como consequência, se sente desprezado. No primeiro capítulo será tratado o conceito de transtorno afetivo do humor. O segundo capítulo abordará o cuidado com os familiares da pessoa com esse tipo de transtorno. E por fim, no terceiro capítulo, será abordada a questão da arte como terapia para as pessoas envolvidas em tal transtorno. 12 CAPÍTULO I TRANSTORNO AFETIVO DO HUMOR O QUE É? Segundo site http://www.copacabanarunners.net/bipolar.html, a palavra transtorno é sinônimo de “doença” ou “distúrbio”, assim como o transtorno afetivo do humor, pode ser chamado de “transtorno bipolar do humor”. Anteriormente, o nome da doença era psicose maníaco-depressiva caracterizada pela variação extrema do humor (estados de alegria e tristeza) causando grande impacto na vida do paciente, de sua família e sociedade com prejuízos irreparáveis nas finanças, saúde, reputação e sofrimento psicológico. É uma doença incurável, sendo importante seguir o tratamento, até nos momentos em que a pessoa está bem, pois pode ajudar a manter a doença sob controle e reduzir as chances de ter episódios recorrentes mais graves. Segundo site http://www.classiclife.com.br/medicina/med_0036_4ed.html, o transtorno do humor pode ocorrer, ao longo da vida, dentro de um curso bipolar ou unipolar. O curso unipolar refere-se a episódios somente de depressão e, no bipolar, depressão e mania (euforia). O Transtorno Bipolar do Humor atinge de igual maneira homens e mulheres em torno de 1% a 2% e, geralmente, entre os 15 e 30 anos de idade. O transtorno bipolar também pode atingir as crianças, manifestando-se com sintomas predominantes de humor ansioso e irritável. As pessoas que sofrem de transtorno bipolar levam, em média, oito anos antes de serem diagnosticadas ou receberem tratamento adequado, o que pode causar grande sofrimento e perdas. 13 Tipos ou fases. 1 - Fase Depressiva De acordo com o site http://www.classiclife.com.br/medicina/med_0036_4ed.html, acompanhamos os seguintes achados clínicos de identificação: - humor para baixo, tristeza, angústia ou sensação de vazio; - irritabilidade, desespero; - pouca ou nenhuma capacidade de sentir prazer e alegria na vida; - cansaço mais fácil, desânimo, preguiça, falta de energia física e mental; - falta de concentração, lentidão do raciocínio, memória ruim; - falta de vontade, falta de iniciativa e interesse, apatia; - pensamentos negativos repetidos amplificados, pessimismo, ideias de culpa, fracasso, inutilidade, falta de sentido na vida, doença, morte (suicídio); - sentimentos de insegurança, baixa autoestima, medo; - interpretação distorcida e negativa do presente, de fatos ocorridos no passado e no futuro; - redução da libido e vontade de ter sexo; - perda ou aumento de apetite e/ou peso; - insônia ou dormir demais, sem se sentir repousado; - dores ou sintomas físicos difusos, sofridos, que não se explicam por outras doenças: dor de cabeça, nas costas, no pescoço e nos ombros, sintomas gastrointestinais, alterações mentruais, queda de cabelo, dentre outros; - em depressões graves, alucinações e/ou delírios. De acordo com o site http://www.copacabanarunners.net/bipolar.html, algumas vezes episódios graves de mania ou depressão podem incluir sintomas psicóticos. Os sintomas psicóticos mais comuns são alucinações (escutar, ver ou sentir presença de coisas que não estão ali), delusões (crença forte e falsa que não é explicada, influenciada pela lógica, nem explicada pelos 14 conceitos culturais usuais da pessoa). Os sintomas psicóticos na psicose maníaco-depressiva tendem a refletir o estado extremo de humor do momento. Por exemplo, delusões de grandiosidade podem ocorrer durante a mania, enquanto que delusões de culpa podem aparecer durante a depressão. Pessoas com transtorno bipolar que têm esses sintomas, algumas vezes são incorretamente diagnosticadas como tendo esquizofrenia. – Entrevista de uma paciente de meia-idade que manifesta vários aspectos de Depressão Psicótica. (Page, 1947) SRA. T. – DEPRESSÃO PSICÓTICA P. Já esteve em um hospital psiquiátrico anteriormente?* R. Sim.* P. Quantas vezes? R. Duas. P. Como se sente agora? R. Bem, uma espécie de tristeza e de “fossa”. P. Pode comparar o que você sente agora com o que sentia quando estava bem? R. Quando eu estava bem, acordava pela manhã ansiosa para me levantar e trabalhar. Agora, acho muito difícil fazer qualquer coisa. P. Como se sente pela manhã? R. Bem, quero permanecer deitada e tenho que me forçar e me vestir. P. Como se sente depois de se levantar e se vestir? R. Ora desejo permanecer onde estou, e não fazer nada. De Page, J.: Abnormal Psychology. Nova Iorque, McGraw – Hill, 1975. (P. 515) *P = Pergunta *R = Resposta 15 2 – Fase Maníaca ou Tipo I: mania (euforia) + depressão De acordo com o site http://www.classiclife.com.br/medicina/med_0036_4ed.html, acompanhamos os seguintes achados clínicos de identificação: - humor para cima, exaltação, alegria exagerada e duradoura; irritabilidade (impaciência, “pavio curto”); - agitação, inquietação física e mental; - aumento da energia, da produtividade ou começar muitas coisas e não conseguir terminar; - pensamentos acelerados, tagarelice; - achar que possui dons ou poderes especiais de influência, grandeza e poder; - otimismo e autoconfiança exagerados; - aumento dos gastos, endividamentos; - distração fácil: tudo desvia a atenção; - maior contato social e desinibição, comportamento inadequado e provocativo, agressividade física e/ou verbal; - erotização, aumento da atividade e necessidade sexuais; - insônia, redução da necessidade de sono; - quando grave, ocorrem delírios e/ou alucinações, estressores que precedem, mais frequentemente, os primeiros episódios de Transtorno do Humor e poderiam provocar alterações nos estados funcionais de vários sistemas neurotransmissores e sinalizadores intra-neurais. Dificuldades financeiras, doença na família, perda de uma pessoa importante, uso de drogas entre outros, podem contribuir para o desencadeamento da doença. A contribuição de Eliane da Silva Nalin de Souza em sua monografia Transtorno Bipolar e Família (2004), vem complementar que períodos de mania (euforia) com humor elevado e expansivo é grave o suficiente para causar prejuízo nas relações sociais, podendo necessitar de hospitalização, contrapostos por períodos de humor deprimido, sentimentos de desvalia, desprazer, desmotivação, alterações do sono, apetite, entre outros. 16 Geralmente, o estado maníaco dura dias ou pelo menos uma semana, e períodos de depressão de semanas a meses. Entrevista de uma paciente exibindo muitos destes sintomas característicos da Fase Maníaca – excitação, rápida passagem de uma ideia a outra e uma vivacidade geral no contato verbal. SRA. M. – PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA (FASE MANÍACA). Como está hoje? Oh, estou super satisfeita. O estado está gastando apenas o seu dinheiro mantendo-me aqui. Que tal um bife no jantar hoje à noite com sorvete de hortelã? O serviço aqui é muito lento. Porque não há uma boa enfermeira aqui. Eu poderia fazer círculos ao redor delas. Você é enfermeira? Bem, ainda não tenho meu diploma, mas tenho todos os requisitos. Veja, sou inteligente demais para você. Diga quem é este belo médico que vocês têm aqui? Eu poderia ficar com ele. Acho que me casarei com um médico, um rico psiquiatra e então abrirei quatro ou cinco hospitais particulares para que possa aposentar aos 30 anos. Eu trabalho rápido. Poderia ser uma simples enfermeira em uma sala cirúrgica e a superintendente da sociedade. Quero ser um mandachuva. Minha irmã é uma menina brilhante. Sua avaliação é cerca de 95 por cento. Está em uma universidade. Ela admira os médicos, qualquer homem inteligente. O pai de minha mãe era médico, um médico de cavalos, de forma que você vê, tudo segue o passado. (...) (Page, 1975) De Page, J.: Abnormal Psychology. Nova Iorque, McGraw – Hill, 1975. (P. 513) 17 3 - Tipo II: hipomania Segundo o site http://www.classiclife.com.br/medicina/med_0036_4ed.html, o tipo II compreende períodos em que também ocorre estado de humor elevado e agressivo, mas de forma mais suave. Um episódio de tipo hipomania, ao contrário da mania, não chega a ser suficientemente grave para causar prejuízo em atividades de trabalho ou vida social. De acordo com o site http://www.copacabanarunners.net/bipolar.html, um episódio moderado de mania é chamado de hipomania, na qual a pessoa sente-se bem, e pode estar associada à produtividade aumentada. Embora, até quando os familiares e amigos aprendem a reconhecer as alterações de humor como uma possível precoce maníaco-depressiva, a pessoa pode negar que algo esteja errado. Porém, sem o tratamento apropriado, hipomania pode se transformar em mania severa em algumas pessoas, ou mudar para depressão. Para maiores esclarecimentos, segundo a monografia Transtorno Bipolar e Família de Eliane da Silva Nalin de Souza (2004), períodos de hipomania, também ocorre estado de humor elevado e agressivo, porém de forma mais suave. Um episódio de tipo hipomania, ao contrário da mania, não chega a ser suficientemente grave para causar prejuízo em atividades de trabalho ou vida social. 4 - Fase Mista: depressão + mania (alternância) De acordo com o site http://www.classiclife.com.br/medicina/med_0036_4ed.html, a fase mista compreende que no mesmo dia haveria alternâncias entre depressão e mania. Em poucas horas a pessoa pode chorar, ficar triste, com sentimentos de desvalia e desprazer e, no momento seguinte, estar eufórica, sentindo-se capaz de tudo, falante e agressiva. 18 De acordo com o site http://www.copacabanarunners.net/bipolar.html, em algumas pessoas os sintomas da mania e depressão podem ocorrer em conjunto, o que é chamado de estado bipolar misto. Os sintomas do estado misto podem incluir agitação, problema para dormir, alteração significativa de apetite, psicose e pensamentos suicidas. A pessoa pode ter um estado de humor muito triste e sem esperança, ao mesmo tempo em que se sente extremamente energizada (eufórica, sentindo-se capaz de tudo, falante e agressiva). 5 - Ciclotimia Segundo a monografia Transtorno Bipolar e Família de Eliane da Silva Nalin de Souza (2004): “ciclotimia ou transtornos ciclotímicos são períodos em que haveria uma alternância crônica e flutuante do humor marcada por numerosos períodos com sintomas maníacos e numerosos sintomas depressivos que se alterariam. Contudo, não seriam suficientemente graves nem ocorreriam em quantidade suficiente para se ter certeza de se tratar de depressão e mania. Isto é, pode ser facilmente confundida com o jeito de ser da pessoa, “instável”, cheio de altos e baixos e frequentemente antecede sintomas depressivos e eufóricos. Pode-se por exemplo, acordar com o humor diferente daquele com o qual a pessoa dormiu. Se a depressão, a mania ou o estado misto estiverem acompanhados de alucinações (sentir, ver ou ouvir algo que não existe) ou delírios (pensar algo irreal, como achar-se culpado de coisas que não fez, que está sendo perseguido, que possui poderes especiais, etc.), trata-se do subtipo psicótico”. 19 Enfoque de James O. Whittaker As psicoses afetivas compreendem as Reações Maníaco-Depressivas e as Reações Depressivas Psicóticas que consistem primeiramente em alterações graves do afeto. – Qual a incidência da psicose maníaco-depressiva? Ocorre em cerca de um indivíduo em 200. Os sintomas podem constituir-se em hiperexcitabilidade, depressão grave, ou alternância entre ambos. A chamada fase “maníaca” ou de exaltação consiste em uma excitação generalizada, exaltação do humor ou euforia, hiperatividade, como andar de um lado para o outro, cantar, e assim por diante, e a “fuga de ideias”, durante a qual a conversa do paciente muda de um tópico a outro com pouca conexão aparente. Na fase depressiva, os sintomas são quase o oposto – um afrouxamento geral, depressão grave e contato verbal reduzido. – Sintomas típicos de depressão e mania. 1- Depressão • Expressões de desesperança e desamparo. • Expressões de preocupação e culpa. • Preocupação com morte ou suicídio. • Atividade psicomotora: 1.1- Retardo - indica lentidão da fala e do movimento, voz monótona e baixa, desinteresse no ambiente ao redor. 1.2- Agitação - hiperatividade, tremor nas mãos e caminhar constante. • Aspecto deprimido, inclusive expressão de tristeza, choro, indiferença no vestir ou maquilar-se. 20 • Para algumas pessoas: queixas físicas, perda do apetite, alterações do sono. A contribuição do site http://www.copacabanarunners.net/bipolar.html, vem complementar que os sinais e sintomas dos episódios de depressão incluem: • Humor ruim, tristeza e ansiedade. • Sentimento de desesperança e pessimismo. • Sentimento de culpa, inutilidade e desamparo. • Perda de interesse ou prazer em atividades que costumava gostar, incluindo sexo. • Queda de energia e sensação de fadiga. • Dificuldade de concentração, de lembrar e tomar decisões. • Irritabilidade e agitação. • Dormir demais ou falta de sono. • Alterações no apetite e ganho ou perda de peso não intencional. • Dor crônica ou outros sintomas corporais que não são causados por doença ou lesão. • Pensamentos suicidas e de morte, ou tentativa de suicídio. Um episódio de depressão é diagnosticado quando cinco ou mais desses sintomas duram a maior parte do dia, quase todos os dias por um período de duas semanas ou mais. 21 2 - Mania • Humor – classicamente “exaltado, mas instável”. No entanto, algumas pessoas podem mostrar a predominância de impaciência, irritabilidade e raiva. • Predominância da fala – aumento do volume ou velocidade, algumas vezes indo a fugas de idéias com pensamentos rápidos para as conexões a serem feitas. • Aumento da atividade motora – inclusive caminhar, escrever e falar. • Grandiosidade ou superconfiança. • Trajes inadequados, assim como linguagem e ações. • Comportamento intrusivo, provocativo ou manipulador, frequentemente chamando atenção para si. A contribuição do site http://www.copacabanarunners.net/bipolar.html, vem complementar que os sinais e sintomas da fase de mania incluem: • Aumento de energia, atividade e agitação. • Euforia excessiva. • Irritabilidade extrema. • Pensamentos voando e fala muito rápida, pulando de uma idéia para outra. • Falta de concentração. • Pouca necessidade de sono. • Crença irrealista em suas habilidades. • Julgamentos pobres. • Período duradouro de comportamento diferente do usual. • Desejo sexual aumentado. • Abuso de drogas, particularmente álcool, cocaína e remédios para dormir. 22 • Comportamento provocativo, intrusivo ou agressivo. • Negação de que alguma coisa está errada. Um episódio de mania é diagnosticado se o humor elevado ocorre com três ou mais outros sintomas pela maior parte do dia, quase todos os dias, por uma semana ou mais. Se o humor está irritável, quatro sintomas adicionais devem estar presentes. 23 CAPÍTULO II O CUIDADO COM OS FAMILIARES DA PESSOA COM TRANSTORNO AFETIVO DO HUMOR. Repensando o cuidado em relação aos familiares. Segundo Jonas Melman (2001, capítulo 4, p. 89, 91 a 93), é essencial levarmos em consideração que o vínculo dos pacientes com a família é geralmente difícil, permeado de problemas e obstáculos. Conviver cotidianamente com pessoas que apresentam transtornos mentais graves, e ainda ter de cuidar delas, impõe uma série de encargos físicos, emocionais e sociais. Como ajudar os familiares na interação e na gestão da vida cotidiana dos parentes adoecidos? Primeiro momento: os familiares pedem ajuda. Quando um familiar procura um profissional de saúde mental para tratar de seu parente enfermo, surge a oportunidade de que este profissional possa acolher o sofrimento não somente da pessoa adoecida, mas também do familiar que o acompanha. Abrem-se as portas para um pedido de ajuda e suporte para enfrentar as dificuldades no relacionamento com a loucura. Esse é um momento delicado e fundamental. Os familiares precisam de muita compreensão, pois ainda são frequentes os preconceitos em relação a eles. São muitas as dúvidas e os questionamentos sobre as doenças e seus tratamentos. Muitos médicos não dão informações detalhadas acerca da ação dos fármacos e de seus possíveis efeitos colaterais. Não explicam os motivos 24 dos procedimentos terapêuticos. Além disso, os familiares se sentem sozinhos e impotentes para compreender suas vivências. Não existe um modelo universal de família. Cada pessoa tem um estilo singular de viver e de lidar com as situações da vida. Cada um tem sua maneira particular de olhar e reagir em relação às doenças mentais. Na maioria das situações, verificamos que os primeiros contatos entre os terapeutas e os familiares se dão em entrevistas individuais. Em geral, nesses encontros individualizados, as pessoas se sentem mais desinibidas e menos constrangidas para abordar os problemas. Para os que convivem cotidianamente com as questões ligadas aos transtornos mentais, existem inúmeras evidências que sugerem a convivência entre as famílias. Os familiares precisam conhecer outros familiares, pois esse pode ser um caminho enriquecedor para todos os envolvidos. De acordo com o site http://www.drauziovarella.com.br/entrevistas/valentim_bipolar.asp, a família, diante de um caso de parente com transtorno bipolar do humor deve antes de tudo, combater o medo, porque é ele que aparece primeiro. Depois, é tentar não agir agressivamente contra a pessoa na fase de euforia. No começo, ela é até engraçada, de pensamento ágil, criativa. Se os familiares não estiverem inseguros e temerosos, poderão convencê-la a procurar atendimento para um diagnóstico diferencial, a fim de eliminar possíveis causas imediatas da doença. Se a intervenção ocorrer em 48 ou 72 horas, praticamente não haverá prejuízo. O primeiro remédio que se receita hoje é uma visita a sites da internet especializados em informar as pessoas sobre a regulação do humor porque isso é fundamental na manutenção do tratamento. 25 Como a família deverá cuidar do paciente bipolar? Segundo a monografia Transtorno Bipolar e Família de Eliane da Silva Nalin de Souza (2004), além do tratamento medicamentoso prescrito pelo psiquiatra ao paciente e acompanhamento psicológico de ambos, a família deverá ser encorajada a: • Proporcionar uma atmosfera amistosa, com estímulos adequados e com estrutura e limites claros; • Ajudar o paciente a manter o medicamento na dose prescrita pelo psiquiatra; • Estimulá-lo a comunicar ao médico quando as medicações estiverem causando efeitos colaterais; • Auxiliá-lo a identificar sinais de recaída; • Comunicar imediatamente ao médico ideias de suicídio ou de desesperança; • Buscar entender a diferença entre jeito de ser (característicos de cada pessoa) e sintomas; • Evitar tomar atitudes que reforcem a discriminação e o preconceito; • Estimular o retorno do paciente às atividades da família (lazer, rotinas domésticas, festas) evitando demasiadas exigências ou superproteção; • Reforçar o paciente a retomar sua vida ocupacional, social e afetiva; • Evitar que a doença do paciente domine o ambiente familiar. Evitar, portanto, que todas as decisões e planos familiares ocorram baseados apenas no que o paciente precise, deseje ou tolere. A carga enfrentada pela família. A presença de uma pessoa com transtorno afetivo do humor produz um impacto nos outros membros da família. Os familiares estão sobrecarregados 26 por demandas que envolvem a função de acompanhar seus membros comprometidos e cuidar deles. O conceito de sobrecarga familiar foi desenvolvido para definir a que os familiares estão submetidos e o quanto a convivência com um paciente representa um peso material, subjetivo, organizativo e social. Em geral, os pacientes apresentam grandes obstáculos para produzir economicamente, o que implica uma situação de dependência familiar. São altos os custos, principalmente com medicação e tratamento. O transtorno afetivo do humor gera muita tensão, estimula sentimentos de impotência e vitimização; e alimenta amarguras. Nos casos em que a gravidade do quadro é maior, a duração dos sintomas se prolonga por muito tempo, os respectivos fracassos sociais dos pacientes, as dificuldades de comunicação e interação, os frequentes insucessos nos tratamentos produzem mais frustrações e desespero; e são um convite para um progressivo isolamento de vida comunitária. Do ponto de vista emocional, o estresse, as vivências de instabilidade e insegurança, os conflitos frequentes nas relações fazem parte do cotidiano dessas pessoas. O conhecimento desse quadro de sobrecarga por parte dos profissionais de saúde sugere que as intervenções terapêuticas levem em consideração essa realidade. 27 Transtorno bipolar na família: a rejeição. Para Teng Chei Tung, o carinho e a compreensão da mãe, a segurança do pai, o companheirismo dos irmãos, todos esses sentimentos são o que as pessoas esperam ao voltar para casa ao se sentirem fragilizadas. No transtorno bipolar, esse tipo de solução é muito comum. Portanto, a reação da família quando uma pessoa fica depressiva depende do papel que cada pessoa assume nela. Alguns exemplos serão vistos a seguir. Transtorno bipolar no provedor da família. Existe o caso de o transtorno bipolar ocorrer no provedor da família, aquela que sustenta financeiramente. Nesse caso, uma depressão ou uma mania acaba quando uma situação altamente estressante para todos, em virtude de a segurança da família ficar abalada, e a insegurança acaba tomando conta dos membros envolvidos. Pessoas que não tinham esse papel passam a ter a obrigação de sustentar e tomar decisões, quase sempre sem estarem preparadas psicologicamente para essa função na família. Os filhos menores sofrem um pior desempenho escolar, pior relacionamento na escola e com as outras crianças, e numa regressão para comportamentos mais infantis, como as “manhas” que já tinham sido superadas. O próprio provedor que está deprimido acaba sentindo essa pressão extra, como se tivesse obrigação de reagir. Entretanto, o lado biológico é mais forte que a vontade psicológica de resistir à depressão. Ele vai se cobrar e se frustrar, pois não conseguirá reagir sem ajuda. 28 Ninguém da família aceitará de fato essa situação, sempre achando que o provedor ficou fraco, incompetente ou louco, sem poder confiar mais nele, a não ser que aquela postura seja encarada como consequência de uma doença. Já o provedor da fase maníaca cria situação de alto risco para finanças, patrimônio e as fontes de renda (emprego ou empresa), também cria situações que possam prejudicar as relações familiares, como promiscuidade sexual, brigas e agressões, e comportamentos inadequados em público que gerem vergonha para a família. Ainda mais grave: o provedor não reconhece que está alterado, criando mágoas que podem ser revertidas. Transtorno bipolar no casal. O transtorno bipolar em um dos cônjuges é uma garantia de dificuldades e sofrimentos prolongados na relação. Em geral, quando a esposa fica deprimida, o marido tem pouca paciência com as queixas, criticando a falta de vontade, o descuido geral, ou a falta de desejo sexual. Já quando o marido fica depressivo, a reação da esposa pode variar mais, como reconhecer que o marido está “diferente” ou “doente”. A esposa pode reagir de maneira menos compreensiva, cobrando do marido uma reação ativa, criticando a falta de motivação ou de iniciativa. Quase sempre a relação conjugal é prejudicada pelo transtorno bipolar. O casal desiste de ter relações sexuais, ou diminui a freqüência, fato que lhes dá a sensação de não se gostarem mais. Sentem-se irritados um com o outro e a paciência vai se esgotando aos poucos. 29 Depressão nos outros familiares próximos. Quando uma depressão ou mania atinge um dos avós, tios, primos, mas com o qual não se vive cotidianamente, os parentes percebem que algo está errado e não sabem quando devem se intrometer. Se a depressão piora, a família o trata como doente mental, “fraco de cabeça”. Se alguém se dispusesse a de fato ajudar, a paciência e o esforço seriam menores se comparados com o caso de um parente com outro tipo de doença, como um infarto do coração ou câncer. Mesmo depois que o parente deprimido melhora, os familiares ficam desconfiados dele, achando que não é mais tão confiável como antigamente. Dado o exposto, uma pessoa bipolar sempre vai precisar de apoio, e a fonte mais segura e eficaz quase sempre vem da família. Para isso, dois pontos são fundamentais: informação e paciência. A postura da família deve ser sempre encarar a pessoa bipolar como uma pessoa doente. Se os familiares tiverem a informação de que é um problema de saúde que tem tratamento, a reação poderá ser diferente. Precisam estimular o paciente a se tratar, a procurar um médico; convencê-lo de que a depressão não é fraqueza de caráter, ou doença mental incurável, que não é loucura. E, se o paciente bipolar recusar ao tratamento, a família precisa tomar uma atitude mais firme, como levá-lo ao médico mesmo contra sua vontade. 30 CAPÍTULO III A ARTE COMO TERAPIA PARA O TRANSTORNO AFETIVO DO HUMOR. Podem os maníaco-depressivos superar sua doença? K. F. Goodwin (1974) em seus estudos, trata de demonstrar como o prognóstico dos pacientes maníaco-depressivos é favorável. Cerca de 70% dos hospitalizados que recebem tratamento especializado se recuperam no prazo de um ano ou menos. Com os modernos métodos de tratamento, em cerca de 1 ano, a cada 5 pacientes, permanecem completamente livres de episódios posteriores durante o restante de suas vidas. As reações depressivas psicóticas são semelhantes à fase depressiva da psicose maníaco-depressiva. O Uso Terapêutico de Filmes Cinematográficos Para Abraham Luchins (1964, p. 73 a 75), os filmes de cinema são frequentemente empregados a título de recreação em hospitais, e há quem diga que sua escolha se baseia, às vezes, em princípios terapêuticos (cf. Katz, 1948). Que os filmes podem mudar as atitudes das pessoas, já o demonstraram alguns estudos de psicologia social; entretanto, pouco se sabe sobre os efeitos de determinado filme sobre as atitudes dos pacientes. Por conseguinte, depois que se exibe um filme, talvez seja útil estabelecer breve discussão com os pacientes a fim de observar-lhes as reações. Isso pode ser feito pelos auxiliares da enfermaria. Tais discussões não só ajudarão a liberar alguns sentimentos que o filme possa ter gerado, mas também a coligir dados 31 sobre os efeitos, nos pacientes, daquele filme em particular e dos filmes em geral. A seleção dos filmes e a discussão dos seus efeitos sobre os pacientes podem ser usadas como atividades terapêuticas de tomada de decisão e pesquisa de ação. Por exemplo, os pacientes podem ter voz ativa na escolha do filme dentre os que figuram numa lista de filmes disponíveis. Durante a seleção, os pacientes revelarão suas expectativas e razões para preferir um filme a outro. Depois de terem chegado a uma decisão e assistido ao filme, discutirão o que viram. A discussão pode versar a relação entre o que os pacientes esperavam e o que ocorreu, sua reação ao conseguirem ou não o que desejavam, as razões para interpretações diferentes das mesmas cenas, e assim por diante. As diferenças de percepção e rememoração se resolvem pela reexibição de parte do filme. Em alguns casos, as sessões de terapêutica de grupo centralizam-se em torno de filmes (Prados, 1951). Por exemplo, depois de exibido um filme, segue-se uma discussão em que se estimulam os pacientes a expressar seus sentimentos e ideias a respeito das cenas e dos atores e também a relacionar os atores a si mesmos e às pessoas que conhecem. Ou, então, apresenta-se parte do filme e pede-se aos pacientes que predigam o que acontecerá em seguida e exponham as razões das suas predições. Depois que se exibe a parte seguinte do filme, coejam-se as predições e os resultados e discute-se por que alguns adivinham corretamente e outros não. A seguir, predizem a cena seguinte da mesma maneira. Os filmes também podem ser usados para psicodrama e dramatização, enunciando-se o problema de determinada ação no filme e solicitando-se a diversos pacientes que o representem com ou sem modificações (Luchins, 1948 e 1950). Os filmes têm sido utilizados como tipos de instrução e orientação de terapêutica de grupo, e também para expressão e debate de sentimentos. De fato, alguns filmes são feitos sob medida para ilustrar a dinâmica de certos 32 tipos de problemas, como a hostilidade e a solidão. Outros apresentam pouco ou nenhum conteúdo, mas dependem da cor, da imagem e da música para oferecer aos pacientes oportunidades de libertarem emoções e sentimentos (Rome, 1945; Rubin e Katz, 1946). Em suma, os filmes cinematográficos podem ser adaptados às necessidades específicas de um grupo específico ou servir para controlar os efeitos particulares desejados pelo terapeuta. A produção, a representação e outros aspectos da feitura de filmes podem ser usados como projetos de terapêutica de grupo da mesma maneira que as atividades da terapêutica ocupacional. De mais a mais, os filmes também se integram em outras atividades dramáticas. Por exemplo, uma peça escrita e produzida por pacientes de um hospital pode ser filmada e exibida aos atores a fim de evocar-lhes as reações ao se verem no filme. A Arte Como Terapêutica A obra de arte (escultura e pintura) também foi empregada (Hartley e Gondor, 1956) na psicoterapia individual e de grupo, em que os pacientes pintam ou esculpem em presença um do outro. Acreditam alguns terapeutas que a presença de outros facilita a expressão dos sentimentos (cf. o conceito de F.H. Allport [1924] da facilitação social). Além de empregarem a arte, alguns terapeutas lidam também com as relações interpessoais e outros problemas que ocorrem durante as sessões de arte. Outros usam a arte dos pacientes como estímulos para a discussão, fazendo, por exemplo, que os pacientes emitam impressões ou juízos sobre a própria obra e sobre a obra de outros. O grupo discute suas reações em conceitos analíticos e/ou em termos de percepção social e expressão de emoções e sentimentos (empatia). [P. 73 a 75] 33 A Música Como Terapêutica A música que tem sido usada com finalidades de recreação, inspiração e catarse, tem sido justificada pela terapêutica como possuidora de um efeito suavizante, capaz, portanto, de ajudar a aliviar a tensão e animar os pacientes a expressarem emoções de outro modo inexprimíveis (Altshuler, 1945). Como acontece com outras atividades recreativas, existem muitas maneiras pelas quais se podem integrar a música na psicoterapia, terapia de grupo. Por exemplo, as reuniões de grupo poderão converter-se em experiência de psicoconsistir em audição de música, execução de música ou utilização de uma única seleção musical como ponto de partida para a discussão dos pensamentos e estados de espírito que ela evoca no grupo. Os pacientes que vão ouvir os discos, seja numa reunião de grupo, seja na enfermaria, decidirão sobre a escolha. Talvez surjam conflitos em torno da conveniência de se tocar música erudita ou música popular, da natureza das seleções e da altura do som em que devem ser tocados os discos escolhidos. É possível que ocorram também discussões sobre preferências e aversões em relação à música e sobre as expectativas e consecuções tocantes à experiência musical. E em cada um desses casos talvez interesse ao terapeuta observar o comportamento social e as reações dos pacientes à música, comparando os que manifestam sentimentos vigorosos favoráveis ou desfavoráveis ao gênero de música tocada. O coro, a banda, a orquestra ou os conjuntos podem ser utilizados no hospital como veículo de terapêutica de grupo não verbal e/ou utilizados como terapêutica de grupo verbal quando se focalizam os problemas dos membros do grupo. As atividades musicais também se coordenam com outras atividades como, por exemplo, as produções dramáticas. As execuções serão franqueadas tanto à comunidade do hospital quanto à comunidade alheia ao hospital. [P. 76 a 77] 34 Dramatização A dramatização se origina do trabalho de Lewin e Moreno (Lippitt, 1943). Depois que os membros do grupo são apresentados um ao outro e postos à vontade, o líder os ajuda a inventariar seus problemas. Em seguida, o grupo dispõe os problemas na ordem em que deseja vê-los examinados. Escolhido o primeiro, o líder solicita exemplos específicos, e o grupo se decide pelo exemplo que deve ser representado. Feito isso, estabelecem-se os papéis e escolhe-se uma pessoa para cada papel. Durante a dramatização, utilizam-se várias técnicas para elucidar nuanças do problema. 1. O líder chamará a atenção do grupo para que observe deixas específicas na representação, tais como movimentos expressivos. 2. Qualquer intérprete ou membro do grupo interromperá a cena erguendo a mão, ponto em que o líder suspende a representação e dá a palavra à pessoa. Isto se faz para permitir aos atores que expressem seus sentimentos sobre o que estão dizendo ou fazendo e conseguir que os demais participem. 3. Após a representação, cada um dos atores conta como se sentiu e quais foram seus pensamentos enquanto desempenhava o papel. Os membros do público também podem narrar suas reações. [P. 54 a 55] 35 Psicodrama Criada pelo Dr. Jacob Levy Moreno, a técnica psicodramática emprega principalmente cinco instrumentos: o palco, o sujeito ou ator, o diretor, o quadro de auxiliares terapêuticos ou egos auxiliares e o público. Para Claudemiro G. Blini, Moreno foi o estruturador e principal defensor da eficiência dessa técnica no tratamento de distúrbios psico-emocionais. Trata-se de uma técnica de conhecer a linguagem de distúrbios neuróticos, através de representações teatrais. Aliás, Fenichel, focalizando as doenças psicossomáticas, refere-se às mesmas designando-as de “linguagem dos órgãos”, que seria o adoecimento de órgãos em decorrência de fatores psicoemocionais. A humanidade, sobretudo nos grandes centros populacionais, está dividida em três grupos: os pequenos desajustados, os médios desajustados e os grandes desajustados, incluindo-se, entre estes, os esquizóides, paranoides e psicopatas. Por isso, as técnicas de tratamento proliferam, com suas respectivas colorações. Assim é, por exemplo, o Psicodrama, em que os desajustados, adiantados ou não, na ânsia de se livrarem dos males que os afligem, se expõem à narração ao vivo, em forma de representações teatrais. Se com isto conseguem se desvencilhar de seus problemas, ou pelo menos suavizar os sistemas dos mesmos, nada temos a opor a essa técnica de tratamento, visto que os fins justificam os meios; todavia, repetindo o já dito, representamos muito na vida, particularmente aqueles que não se aceitam. Psicodrama e Sociodrama são, segundo os seus proeminentes defensores, altamente benéficos para reparar desordens mentais. 36 No Psicodrama se obtém os mesmos resultados que se espera da psicoterapia de grupo. Seus adeptos entendem ser a melhor técnica de tratamento, por ser a melhor forma de reproduzir a vida real. Exemplifica-se agora, como aplicar esse tratamento, uma vez por semana, num grupo de 12 pessoas, com a maior variedade possível de desordens mentais. As sessões têm duração de duas horas e são dirigidas pelo diretor de Psicodrama, que por sua vez é auxiliado pelo Ego-Auxiliar (especialista que representa as cenas mais emotivas como coadjutor do paciente). Apesar do estudo e prática dessa técnica, pessoas que vêm fazendo esse tratamento, não dão resultados que correspondam aos benefícios anunciados pelos apologistas do Psicodrama. [P.157 a 159] O palco, de forma idealmente circular, utiliza-se para proporcionar um espaço de vida multidimensional, que permita a mobilidade e a flexibilidade das ações e onde a realidade e a fantasia não estejam em conflito. Ao sujeito, do qual se solicita que seja ele mesmo e não um ator, permite-se espontaneidade e liberdade de expressão. Existem diversas formas de representação: simular estar num papel; representar uma cena passada ou nova representação; viver um problema presente; experimentar-se com vistas ao futuro. Como dramatis personae terá o sujeito as pessoas reais do seu mundo (esposa, mãe, filho etc.) ou os auxiliares terapêuticos ou atores que as representam (egos auxiliares). O diretor funciona como produtor, conselheiro e analista e pode completar sua interpretação com respostas vindas de membros do público informados sobre o sujeito (esposa ou esposo, pais, filhos, amigos e vizinhos). O quadro de egos auxiliares tem a dupla significação de ser uma extensão do diretor – orientando o sujeito e ajudando-o a examinar suas reações – e também uma extensão do sujeito – representando as pessoas reais ou imaginárias do drama de sua vida. O ego auxiliar funcionará como ator, conselheiro ou investigador social. O público, cujas respostas são 37 espontâneas, tem o duplo propósito de ajudar o sujeito e ser ajudado por ele. [P.57 a 58] O trabalho monográfico Arteterapia X Transtornos Bipolares de Ana Aparecida Aldão Broullon (2002), mostra que a arteterapia pode auxiliar no tratamento das diversas fases, como: 1 - Arteterapia para a fase maníaca (eufórica). Em alguns casos trabalha-se na frente do espelho, aprimorando sua imagem corporal, pois ele pensa que é grande. Se estiver vivenciando o narcisismo, o espelho não é recomendado. Devem-se evitar estimulações excessivas, mas simultaneamente, orientar atividades que descarreguem seu excesso de energia. Pode-se trabalhar com papel, pedindo para que ele rasgue ou pique e depois crie através de colagens. As massas para socar e modelar também lhe são muito favoráveis. Atividades expressivas, incluindo a expressão corporal devem ser praticadas de forma gradual, onde, aos poucos iremos marcar limites, sendo a autoexpressão aprimorada. 2 - Arteterapia para a fase depressiva. Se o cliente for hipossônico, utiliza-se terapia de relaxamento, utilizando fundos sonoros que o agradem, associados à expressão e terapia corporal, consciência de si mesmo e do outro; trabalho respiratório e concentração, tomando máximo cuidado com o tipo de música, que pode tornálo ainda mais depressivo. Caso seja hipersônico trabalha-se com atividades mais agitadas, danças, músicas com ritmo rápido, estímulo de catarse. Os objetivos imediatos devem ser: exclusão da pessoa das situações que aflorem sentimentos de preocupações mórbidas excessivas, melhorando sua capacidade física para retornar o indivíduo ao convívio social. Deve-se mantê-lo de pé por mais tempo, em contato direto com a natureza. Deve-se 38 estar sempre ao seu lado, pois é arriscado deixá-lo sozinho. Ele pode tentar o suicídio, principalmente quando melhora da crise, pois tem medo de voltar a sofrer de novo. Deve-se também trabalhar com ele em grupos, à medida que for se recuperando, utilizando, ainda, atividades livres – expressivas, como o desenho e a pintura, para liberar seus conteúdos internos. Os materiais aguados e a própria água lhe trazem grandes benefícios. 3 - Arteterapia para as fases mistas. 3.1 - Mania medrosa-depressiva Trabalha-se com pequenos grupos, utilizando materiais naturais, amenizando suas ansiedades. Os principais objetivos são fazer com que esse cliente sinta-se à vontade e adquira total confiança no relacionamento para, posteriormente, integrá-lo ao grupo, ampliando sua autonomia. Vivências frustrantes devem ser evitadas, pois aumentam o negativismo e os sentimentos de culpa. Tem-se que mostrar sempre o lado positivo das coisas e referir-se às suas qualidades e valores como ser humano. 3.2 - Mania pobre em pensamentos Trabalha-se com poemas, descrições, cantos que aprimoram o vocabulário, além da expressão corporal e socialização. As cópias de textos com palavras diversificadas também auxiliam na sua qualidade de se expressar verbalmente. As danças promovem melhor agilidade nos movimentos e, cognitivamente, lhe auxiliam na tomada de consciência do que faz e também de si mesmo. 39 3.3 – Mania improdutiva Deve-se proporcionar ao cliente um ambiente de trabalho o mais tranquilo possível, de preferência com um fundo sonoro, evitando ao máximo as atividades que causem ansiedades, como competir, dançar, lançar objetos, ou seja, aquelas que lhe aflorem sentimentos competitivos e que lhe causem bloqueios. A pessoa deve canalizar sua energia na construção e confecção de objetos, em atividades artísticas, buscando resgatar e aprimorar sua criatividade. Aprender a tocar um instrumento de seu interesse, tentando, com auxílio, compor uma canção ou escrever um verso. Deve-se trabalhar com as palavras, fazendo associações entre elas, tanto no vocabulário verbal, quanto na escrita. O fundamental é atenuar a intensidade do seu tônus emotivo. Exercícios relaxantes, trabalhando a respiração e mantendo contato com materiais naturais (principalmente a água) exercem grande influência no seu tratamento. Também devemos evitar frustrações e fantasias. 3.4 – Depressão agitada Tem-se que incentivar o alívio emocional, fazer exercícios de expressão corporal (de maneira rítmica), mantendo o cliente em ambientes alegres, com músicas festivas e folclóricas (resgatando a consciência e a capacidade para associações). O fundamental é tirar o cliente da fixação em lembranças mórbidas de seu passado. Deve-se estimulá-lo a lidar com frustrações de maneira positiva, aprimorando sua capacidade para aceitar as transformações no seu cotidiano. Trabalhos com a terra e a construção de obras plásticas, utilizando papel, cola, massa de modelar e argila, lhe são bastante benéficos, pois através destes materiais, o cliente descarrega seu excesso de energia, extravasando conteúdos internos. 40 O propósito é reestruturar o cliente para readaptá-lo ao ambiente externo, promovendo essa socialização através da arte. As atividades artísticas e as de livre expressão são fundamentais. 3.5 – Mania inibida O objetivo é aprimorar o seu curso de pensamento e vinculá-lo à ação, sem causar qualquer tipo de tensão ou ansiedade, promovendo a liberação do pensamento, quando não estiver criando, através de abordagens sobre determinado assunto, sobre si mesmo (sendo de seu interesse). Atividades artísticas realizadas ao ar livre, para atenuar certos bloqueios, estimulando-o também através de exercícios que envolvam sua expressão corporal, além das atividades expressivas, como desenho, pintura e colagem. 3.6 – Depressão com fuga de idéias O essencial é trabalhar-se as suas emoções de maneira positiva, através dos desenhos, da pintura, escultura, atividades de canto, dança, expressão corporal, além de promover o alívio emocional e a concentração no que se faz. Em clientes pouco motivados a produzir, o atelier de pintura pode oferecer-lhes uma tela pintada, cuja estampa seja o retrato de um quadro favorito. Dessa maneira, a criação na sua forma espontânea acabará aparecendo, a partir do momento em que o bloqueio emocional começar abrindo as portas. O trabalho monográfico A Arteterapia no Tratamento do Distúrbio Bipolar – Enfoque na Dramaterapia de Letícia Bragança dos Santos Ribeiro Amorim (2004), apresenta: 41 A moderna Dramaterapia Começou a ser desenvolvida de fato, nas primeiras décadas do século XX. Constantin Stanislavsky desenvolveu uma técnica denominada “memória emocional”, onde o ator deveria desempenhar emoções que já tenha vivenciado na sua vida real. Esta atenção teatral para o conteúdo psicológico dos papéis, para um naturalismo emocional, para uma autoanálise dos sentimentos e para um reviver indireto dos afetos, contribui de modo especial para a consideração destes elementos na Dramaterapia. Em oposição ao naturalismo psicológico de Stanislavsky, Berthold Brecht se preocupou com as técnicas teatrais em si, influenciou a Dramaterapia em relação aos aspectos do processo de identificação com os papéis desempenhados, ao uso de uma situação de palco e espectadores, que é usada em alguns modelos de Dramaterapia, assim como o uso de acessórios de cena (móveis, bonecos, fantoches, etc.) e guarda-roupa contendo diferentes fantasias. Antonin Artaud, baseado nas teorias psicodinâmicas do inconsciente, chamou a atenção, entre outros fatores psicológicos, para a importância da somatognosia (percepção mental do corpo, das suas posições e movimentos), da expressão das emoções através do gesto e da comunicação não-verbal destas expressões, também pontos fundamentais considerados em Dramaterapia. Alguns grupos teatrais são formados com o propósito de aliviar o sofrimento dos pacientes hospitalizados. Da “Terapia pelo Teatro”, evoluiu-se para a verdadeira Dramaterapia, onde os pacientes deixavam de assistir as 42 dramatizações, para serem os próprios atores, desenvolvendo uma autoterapia através de suas próprias criações dramáticas. A Dramaterapia distingue-se do Teatro e da Expressão Dramática, no momento em que seus objetivos são terapêuticos, pretendendo curar, ajudar na cura ou, pelo menos, aliviar o sofrimento. Já o Teatro, tem como objetivo a realização de espetáculos teatrais e; a Expressão Dramática, pretende realizar uma ação educativa. Dramaterapia no tratamento do Transtorno Afetivo do Humor Na Dramaterapia faz-se necessário que o paciente expresse como se sente no momento presente, não só através de palavras, mas também por gestos e por movimentos. O paciente deve atuar não só no papel das suas situações imediatas, mas também em papéis que contrastam com as suas aspirações reais. Assim, no momento em que o paciente atravessa uma fase de depressão profunda, por exemplo, teria que assumir um papel contrário, demonstrar alegria. Sabe-se que a depressão, a tristeza, pensamentos destrutivos e pessimistas, tomam a mente do indivíduo. Portanto, haveria a tentativa de passar o sentimento depressivo. Métodos e técnicas em Dramaterapia No caso de uma Dramaterapia em grupo, caberia ao arteterapeuta a escolha do tema a ser representado, a fim de levar em consideração os interesses do grupo e a finalidade da terapia. Após ser dramatizado um tema, o grupo discute a atuação sucedida, propondo modificações, ajustes e alterações de papéis, antes de se repetir a atuação. 43 A Dramaterapia pode ser trabalhada individualmente, com crianças, adolescentes, adultos, casais, idosos e famílias. Como o principal alvo do Transtorno Afetivo do Humor são os adultos, estaremos focalizando esse grupo. As técnicas dramaterapêuticas são praticadas em três planos: 1- Plano do Passado – Presente – Futuro, em que a situação dramatizada pode estar temporariamente situada no passado, no presente ou imaginando-se no futuro. 2- Plano do Imaginário - Simbólico – Real, em que alguns modelos dramaterapêuticos preferem que as cenas representem aspectos da vida real do paciente, deixando para a dramaterapia infantil as representações imaginárias (fadas, príncipes, animais...). Também para as improvisações espontâneas de papéis fictícios destinadas à descoberta de papéis que o paciente gostaria de ter desempenhado na vida, mas não o fez. 3- Plano do Modo de Ação: Direto/Indireto, em que no Direto, o paciente aborda diretamente os seus próprios problemas, enquanto que no Indireto, os problemas não são imediatamente abordados de forma direta. Previamente, realiza-se um “aquecimento”, que levem a uma mobilização corporal para a ação e a uma disposição e concentração psicológica. Esse “aquecimento” é desenvolvido através de pequenos exercícios de Expressão Corporal, de Psicodança, Jogos de Imitação, Mímicas e/ou pequenas improvisações. Após o “aquecimento”, faz-se a autoapresentação. O paciente se apresenta diante dos demais, conta fatos marcantes de sua vida. Depois, cada 44 um representa pessoas com as quais convive intimamente: pai, mãe, marido, esposa, filhos... A Improvisação segue a Auto-apresentação, onde são realizadas ações espontâneas, sem texto prévio ou ensaio, seguindo apenas a uma pequena orientação do arteterapêuta. O paciente representa fatos imaginários. Os Jogos de Comunicação também são usados com o objetivo de levar os pacientes a praticar a comunicação entre si, podendo ser uma comunicação verbal ou não-verbal. Expressar, por exemplo, um sentimento, um pensamento, um desejo, uma esperança, uma frustração, usando a mímica ou a improvisação. O Jogo de Papéis (Role-Playing), proporciona ao paciente a exploração de problemas de relações humanas, pela ação dramatizada de situações problemáticas em que o indivíduo tem de atuar e buscar soluções para as mesmas. Como o paciente repete a dramatização do problema, mudando os papéis desempenhados, conseguem-se diversas soluções para um mesmo problema. A troca de papéis permite ao indivíduo analisar o problema do ponto de vista do outro, sendo a sua atitude, complementar à atitude do outro e viceversa. Dentro da Dramaterapia existe também o Psicodrama, encarado como técnica específica, criada por Jacob Levy Moreno (1892-1974), sendo derivado do teatro, mas com conotação de Terapia de Grupo e, posteriormente, ligado à Psicanálise freudiana. Moreno cria o “Teatro da Espontaneidade”, onde atores seguem um roteiro flexível, não tendo que decorar e improvisando todas as ações. Moreno também cria, em 1936, o “Teatro Terapêutico”. 45 Para Moreno, que contestou aspectos básicos da psicanálise (inconsciente, passado histórico do paciente, interpretação de sonhos e processos de transferência), o conceito de inconsciente é utilizado no sentido de “estados inconscientes”. Ao invés de fazer reviver cenas eventualmente traumatizantes do passado, Moreno centra a sua ação nas situações do presente do paciente que lhe causam sofrimento. 46 CONCLUSÃO Em virtude dos fatos mencionados nesta pesquisa, visamos identificar e explicar as mais importantes teorias e abordagens disponíveis em livros e sites da internet a respeito do Transtorno Afetivo do Humor, que nos propiciam uma visão geral dos aspectos dessa doença, bem como a importância do tratamento alternativo arteterapêutico para o paciente e sua família. A descrição da doença com suas diversas fases ou tipos foi uma maneira de mostrar a melhor forma de conhecer e coordenar o paciente, buscando integração entre sua família, psiquiatras, psicólogos, arteterapêutas e sociedade. O relacionamento existente entre paciente bipolar e sua família tende a cuidados delicados nos aspectos emocionais, físicos e sociais para ambos os lados. A família também deve ser assistida, tendo como base o conhecimento da doença e, como apoio, exercer técnicas arteterapêuticas como suporte para enfrentar as dificuldades no relacionamento com um parente bipolar. É importante ressaltar que a terapia através da arte em pacientes com transtorno afetivo do humor e sua família, é fundamental em todas as fases. Suas linguagens e respectivas modalidades artísticas exercem grande influência no estado geral do “sujeito”, reestruturando sua psique e capacitando-o na luta pela sobrevivência e seus relacionamentos interpessoais. 47 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA AMORIM, Letícia Bragança dos Santos Ribeiro. A ARTETERAPIA NO TRATAMENTO DO DISTÚRBIO BIPOLAR – ENFOQUE NA DRAMATERAPIA. Rio de Janeiro, AVM, monografia, curso Arteterapia em Educação e Saúde, 2004. <http://www.avezdomestre.com.br> Acessado em 25/02/10. BLINI, Claudemiro G. Enciclopédia Contemporânea de psicologia e Relações Humanas. Ed. 1995 – Vol. 1. Editora Blini Ltda. BROULLON, Ana Aparecida Aldão. ARTETERAPIA X TRANSTORNOS BIPOLARES. Rio de Janeiro, AVM, monografia, curso Arteterapia em Educação e Saúde, 2002. <http://www.avezdomestre.com.br> Acessado em 25/02/10. CORRIDA E SAÚDE, Copacabana Runners. Transtorno Bipolar ou Psicose Maníaco Depressiva. <http://www.copacabanarunners.net/bipolar.html> Acessado em 04/01/10. DE GOODWIN, F. K. Recent advances in the drug treatment of affective illness. Draft copy, 1974. DE SOUZA, Eliane da Silva Nalin. TRANSTORNO BIPOLAR E FAMÍLIA. Rio de Janeiro, AVM, monografia, curso Terapia de Família, 2004. <http://www.avezdomestre.com.br> Acessado em 25/02/10. FILHO, Valentim Gentil. Transtorno bipolar. <http://www.drauziovarella.com.br/entrevistas/valentim_bipolar.asp> Acessado em 25/02/10. HAUBERT, Dr. Adriano Rosendo. Transtorno Bipolar do Humor. <http://www.classiclife.com.br/medicina/med 0036 4ed.html> Acessado em 04/01/10. LUCHINS, Abraham S. Psicoterapia de Grupo. Um Guia. São Paulo: Cultrix, 1964. MELMAN, Jonas. Família e Doença Mental: repensando a relação entre profissionais de saúde e familiares. São Paulo: Escrituras Editora, 2001. 2ª ed., Coleção ensaios transversais 9. TUNG, Teng Chei. Enigma Bipolar: consequências, diagnósticos e tratamento do transtorno bipolar. São Paulo: Grupo Editorial Summus, 2007. MG Editores. 48 WHITTAKER, James O. Psicologia. 3ª ed. The Pennsylvania State University, 1976. BIBLIOGRAFIA CITADA DE PAGE, J. Abnormal Psychology. Nova Iorque, McGraw – Hill, 1975. (P. 513, 515) 49 ANEXO INTERNET Drauzio Varella.com.br Transtorno bipolar Valentim Gentil Filho é médico e professor de Psiquiatria na Universidade de São Paulo. No passado, o transtorno bipolar era conhecido pelo nome de psicose maníacodepressiva, uma doença psiquiátrica caracterizada por alternância de fases de depressão e de hiperexcitabilidade. Nesta fase, a pessoa apresenta modificações na forma de pensar, agir e sentir e vive num ritmo acelerado, assumindo comportamentos extravagantes como sair comprando compulsivamente tudo o que vê pela frente. Sabe-se que os transtornos bipolares estão associados a algumas alterações funcionais do cérebro que possui áreas fundamentais para o processamento de emoções, motivação e recompensas. É o caso do lobo pré-frontal e da amígdala, uma estrutura central que possibilita o reconhecimento das expressões fisionômicas e das tonalidades da voz. Junto dela, está o hipocampo que é de vital importância para a memória. A proximidade dessas duas áreas explica por que não se perdem as lembranças de grande conteúdo emocional. Por isso, jamais nos esquecemos de acontecimentos que marcaram nossas vidas, como o dia do casamento, do nascimento dos filhos ou do lugar onde estávamos quando o Brasil ganhou o campeonato mundial de futebol. Outro componente envolvido com os transtornos bipolares é a produção de serotonina no tronco-cerebral (o cérebro arcaico), uma substância imprescindível para o funcionamento harmonioso do cérebro. • Discutindo a nomenclatura Drauzio – Por que, nos anos 1980, a antiga psicose maníaco-depressiva passou a chamar-se transtorno bipolar? Valentim Gentil Filho – Analisando separadamente os elementos que compõem esse nome, pode-se dizer que a palavra psicose carrega a conotação de estigma, isto é, de marca infamante, vergonhosa. Maníaco, por sua vez, é um termo técnico derivado do grego e significa loucura. De fato, na fase de hiperexcitabilidade, o indivíduo é o estereótipo do louco já que suas atitudes destoam, e muito, do padrão normal de seu comportamento. Depressivo era o termo mais brando dos três e que menos impacto causava. Por isso, considerouse que a expressão psicose maníaco-depressiva era pesada demais para designar uma doença que, de certa forma, não era tão terrível quanto o nome fazia supor. Na verdade, trata-se de um transtorno de humor que oscila entre o pólo da euforia, da mania ou da hipomania, do qual faz parte esse comportamento 50 excitado e desorganizado, e o pólo da depressão, retomando a pessoa depois o equilíbrio sem grandes prejuízos comportamentais nem na integração das emoções e dos pensamentos. De qualquer modo, a palavra psicose não era de todo descabida porque, durante a crise, algumas pessoas ficam realmente psicóticas, ou seja, apresentam uma afecção muito grave da psique com alucinações e delírios, o grau extremo desse transtorno de humor. A partir do momento, porém, em que essa afecção grave recebe tratamento eficaz e adequado, o quadro torna-se benigno a tal ponto que é possível conviver com pessoas portadoras de transtorno bipolar de humor sem identificar o problema. Essa mudança de nomenclatura ocorreu, então, para diminuir o estigma e para estabelecer distinção entre esse tipo de transtorno e as depressões unipolares que nunca evoluem para a fase de euforia, de mania ou hipomania. Além disso, essa distinção foi importante para verificar se biologicamente as patologias eram diferentes e, portanto, exigiam condutas especiais de tratamento. • Euforia patológica Drauzio – Todos atravessamos na vida fases de grande euforia e de grandes tristezas. Como diferenciar o quadro normal do patológico? Valentim Gentil Filho – Em psiquiatria, os termos ainda não atingiram a especificidade necessária. Por exemplo, etimologicamente, a palavra euforia quer dizer humor normal, bom humor. Se o indivíduo está eufórico no carnaval, no dia do aniversário ou porque ganhou um prêmio ou um campeonato, isso nada tem de anormal nem de patológico. O que chama a atenção é a desproporção entre as circunstâncias e as reações, ou seja, o comportamento é desproporcional aos fatos ou inadequado ao ambiente. A pessoa está alegre e eufórica quando nada ao redor justifica tais sentimentos. Como sua autocrítica está comprometida, age como se estivesse (e não está) sob o efeito do álcool ou de drogas. Seu pensamento fica acelerado e desorganiza-se de tal modo que os assuntos surgem em tumulto e é difícil acompanhar sua linha de raciocínio. Drauzio – Dê um exemplo para ficar mais claro. Valentim Gentil Filho – Existe um filme em que uma das personagens, Mr. Jones, assume o comportamento típico desses pacientes. Nas crises de euforia, os portadores de transtorno bipolar apresentam menor necessidade de sono. Mr. Jones levantava-se às 4h da manhã e, sem se incomodar com o descanso alheio, ligava o rádio bem alto como se as atividades por ele programadas para aquele dia interessassem a todos. Noutros momentos, julgando-se dono de um poder extraordinário, subia no telhado certo de que poderia alçar vôo. Nessas crises de agitação, mexia com as pessoas e falava tão depressa que ninguém conseguia acompanhar seu pensamento. Às vezes, apesar da genialidade aparente, expunha-se a riscos desnecessários e descabidos. Em geral, as famílias logo percebem que alguma coisa mudou e a pessoa também pode notar a diferença. Isso é de extrema importância como sinal de alerta. Na medida em que o próprio indivíduo e os familiares se dão conta dessa liberação exagerada de energia e humor, algumas providências podem ser tomadas para reverter o quadro. Se, porém, o problema passa despercebido ou é 51 negado, as conseqüências podem ser desastrosas. O frenesi e desorganização mental, depois de algumas semanas, podem provocar um estado de exaustão perigoso e as pessoas mais idosas correm o risco de descompensação metabólica ou de crises de hipertensão. É importante repetir, então, que apesar de bem no início a sensação de euforia, de prazer, de energia, de percepção aguçada, inteligência viva e criatividade ser muito agradável, ela pode representar perigo, chegando a constituir, no passado, uma das causas importantes de mortalidade. • Fatores genéticos e ambientais Drauzio – Filhos de pessoas com transtorno bipolar apresentam possibilidade maior de desenvolver essa patologia? Valentim Gentil Filho – Sabe-se, desde a Antiguidade, que a existência de um caso de transtorno bipolar numa família aumenta a possibilidade de que a enfermidade se manifeste em outros membros da mesma família. O desenvolvimento da genética permitiu analisar grande número de gêmeos nos quais a patologia torna-se mais evidente. Gêmeos idênticos ou monozigóticos possuem genoma absolutamente igual, mas apenas em 80% dos casos os dois irmãos apresentam quadros de euforia e depressão. Embora a porcentagem seja elevada, 20% não manifestam o problema. Cabe perguntar, então, se fatores extragenéticos interferem nesse resultado. Sim e não. Uma vez que ninguém expressa seu genoma completamente, pode-se deduzir que, apesar da carga genética idêntica, só num dos gêmeos ela encontrou as condições necessárias para o desenvolvimento da patologia que certamente depende da interação de tais fatores com o ambiente. Não se pode deixar de considerar também que, além da predisposição e vulnerabilidade geneticamente determinadas, certas situações contribuem para a eclosão ou precipitação do problema. Drauzio - Quais os fatores ambientais mais importantes? Valentim Gentil Filho – As evidências indicam que, nos últimos anos, cresceu a incidência desses quadros. Será que aprendemos a diagnosticá-los melhor? Pouco provável, pois algumas descrições do transtorno bipolar datam de 2500 anos atrás, época em que os termos mania e melancolia já eram empregados. Por outro lado, descrições de médicos, no início da era cristã, são idênticas às que encontramos hoje nos melhores livros de psiquiatria. Por que, então, a prevalência de uma doença tão robusta e evidente, tão antiga e bem descrita, está aumentando? Uma das possibilidades é que alguns acontecimentos e atitudes podem precipitar a ocorrência de distúrbios do humor. Hoje, estamos submetidos a uma carga maior de estresse, dormimos menos e consumimos mais substâncias lícitas e ilícitas que interferem no humor. Quer um exemplo? O uso de remédios para emagrecer ou de cafeína é mais freqüente e maior agora do que era no passado. Outro exemplo? O puerpério é uma fase em que é maior o risco de surgirem quadros de depressão e euforia. Para as mulheres, as explicações são muitas: oscilação dos hormônios, parto, nascimento do bebê. Como explicar, porém, a manifestação da doença nos maridos? Certamente, a emoção, a privação do 52 sono, a expectativa, a atmosfera festiva do nascimento desencadeiam a crise, confirmando que a interação de fatores ambientais, constitucionais e genéticos é de extrema importância. Ninguém deve viver numa redoma, mas, se as pessoas levassem em conta que o sistema nervoso é bastante delicado e precisa ser tratado com respeito, talvez a incidência de casos de transtorno afetivo fosse menor do que é atualmente. Drauzio – Existe relação clara entre o uso de cafeína e o transtorno bipolar? Valentim Gentil Filho – O uso excessivo de cafeína pode produzir convulsão e algumas pessoas ingerem, todos os dias, quantidades absurdas dessa substância. Cheguei a conhecer uma que tomava 14 litros de coca-cola num único dia e era difícil distinguir seu comportamento do de um indivíduo com transtorno bipolar. E para que as pessoas usam cafeína? Para ficarem acordadas, com mais energia e ânimo, mais alerta. Trata-se, então, de um agente externo, consumido como se fosse alimento, que estimula o humor. No que se refere às drogas ilícitas (cocaína, crack, anfetaminas), seu uso aumenta o risco de desenvolver a primeira crise, assim como aumenta a freqüência das recorrências, que tendem a tornar-se autônomas, fenômeno já apontado na Antiguidade. • Importância do diagnóstico precoce Drauzio – O diagnóstico de transtorno bipolar em crianças e adolescentes, pouco freqüente no passado, cresceu bastante nos últimos tempos. O que justifica essa mudança? Valentim Gentil Filho – Trabalho com transtorno do humor desde que me formei, há 32 anos, e só me dei conta de que ele pode manifestar-se na infância há cerca de 10 anos. Por circunstâncias diversas, os psiquiatras de adultos receberam menor treinamento em psiquiatria infantil, uma área na qual ainda predominam conceitos talvez já superados. Por isso, os casos de transtorno bipolar ficavam mais evidentes na adolescência quando, em geral, era feito o diagnóstico. No entanto, se enfocarmos a história desses adolescentes e ouvirmos seus pais, encontraremos evidências muito precoces de alteração de humor, irritabilidade, distúrbio do sono e hiperatividade. Hoje, está em voga atribuir tais sintomas apenas aos distúrbios de atenção e à hiperatividade e existem programas inteiros dedicados ao reconhecimento e tratamento dessas manifestações. Em muitas crianças, porém, eles podem estar relacionados com o transtorno bipolar, particularmente se a freqüência dessa patologia é alta na família. Essa visão tornou-se tão importante que existe um site [www.bpkids.org] por meio do qual os parentes chamam a atenção de médicos, psicólogos e professores para o comportamento conturbado dessas crianças que mudam de humor várias vezes num mesmo dia. Drauzio - Nesse ponto, elas são diferentes dos adultos que apresentam ciclos de depressão e hiperatividade mais longos. Valentim Gentil Filho – É verdade, nos adultos os ciclos são mais longos e chama-se ciclagem rápida quando se repetem quatro vezes num ano, sinal de 53 maior gravidade e complexidade do quadro. Imagine, agora, uma criança que apresente 1500 ciclos por ano, porque mais de quatro ela pode ter facilmente num dia. Essa criança de comportamento imprevisível, inquieta física e mentalmente, não tem distúrbio de atenção, tem transtorno bipolar. Por isso, se não distinguirmos a criança apenas rebelde e desafiadora da que tem um temperamento desfavorável, hostil e irritado porque é portadora de transtorno de humor bipolar e quisermos educá-la com severidade exagerada, ela reagirá negativamente. Esse transtorno requer tratamento adequado. Provavelmente, na história da humanidade, muita gente com predisposição para a doença e que manifestou um distúrbio de personalidade muito grave, se tivesse sido atendida de modo conveniente, teria desenvolvido uma forma mais branda da enfermidade. Esse assunto é tão importante que a revista Time destacou o transtorno bipolar na infância como matéria de capa na edição do dia 19 de setembro de 2002. • Transtorno bipolar e criatividade Drauzio – Edgar Allan Poe, Van Gogh, Schuman, Churchill, grandes homens da história e das artes, tinham transtorno bipolar. Qual a relação entre a criatividade e essa doença? Valentim Gentil Filho - Interessante que essa relação entre transtorno bipolar de humor –euforia e melancolia – e criatividade já era abordada por Aristóteles que indagava (pelo menos, a pergunta é atribuída a ele) por que tantos homens ilustres da filosofia, da matemática e das artes apresentavam essa característica. De acordo com alguns depoimentos, estados depressivos favorecem a percepção de um universo que em estado normal seria impossível apreender e a euforia estimula a criatividade. No entanto, pesquisas realizadas nos últimos 20 anos, sugerem que essa hipótese não é verdadeira. Elas apontam que, na maioria dos casos, a criatividade é uma característica genética encontrada também nos parentes próximos que não são doentes . Quem estudou esse tema de forma bastante original foi Kay Jamison, uma psicóloga portadora de transtorno bipolar e uma das personalidades mais conhecidas na área. Em seu livro autobiográfico “Uma mente inquieta”, publicado há alguns anos e traduzido para o português, a autora relata que só se acertou na vida quando se deu conta do que tinha e pôde tomar medidas preventivas e de precaução, como tomar lítio, que evitassem as crises. Em outro livro, “Touched with Fire”, ainda não traduzido para o português, ela analisa a biografia de grandes líderes políticos, religiosos, militares, intelectuais e artistas e registra o que falavam e sentiam nos momentos de depressão e de euforia. Um escritor inglês, por exemplo, julgava a depressão não uma inspiração dos deuses, mas uma poeira que recobria o cérebro. Van Gogh, que se matou aos 37 anos com um tiro no peito, atravessava um período de extrema melancolia quando pintou seu último quadro – corvos num campo de trigo. No verão daquele mesmo ano, atravessando uma fase de grande euforia, o tema de um quadro psicodélico é uma fantástica noite estrelada. Diante das possibilidades de tratamento que existem hoje, teria sido oferecido a 54 Van Gogh, no mínimo, o direito de optar se desejava continuar pintando obrasprimas nos estados de euforia e depressão ou se preferia tomar lítio, acalmar as crises e não correr o risco de morrer precocemente. Drauzio – Que opções você me ofereceria se, na situação de Van Gogh, eu preferisse continuar pintando quadros magníficos apesar dos inconvenientes das crises a ser tratado e perder a inspiração? Valentim Gentil Filho – Eu lhe ofereceria minha amizade e compaixão. Foi o que fez o dr. Gachet, grande pintor e médico de Van Gogh, que só contava com Digitallis para cuidar do amigo. Dizem até que Van Gogh usou tanto o amarelo em suas obras porque tomou esse remédio em demasia. Vale considerar que o dr. Gachet não tinha outra opção de tratamento naquela época e o resultado foi a perda de um grande gênio. Hoje, no entanto, ele poderia propor várias alternativas de tratamento. Será que Van Gogh escolheria continuar pintando no estado psicótico que o levou a cortar uma orelha e a dar um tiro no peito, ou preferiria pintar em estado normal, controlando formas e pincel do jeito maravilhoso que sabia fazer? Para tanto, bastava que concordasse em tomar lítio. Talvez nas primeiras semanas, até acertar a dosagem adequada para seu organismo, seu desempenho em alguma área caísse um pouco, mas o risco de suicídio ficaria sete vezes menor com o tratamento. • Transtorno bipolar na infância Drauzio – Observando o comportamento dos filhos, como os pais podem identificar sinais de transtorno bipolar? Valentim Gentil Filho - Se, desde que nasceu, a criança apresenta um temperamento mais eufórico, é cheia de energia e criatividade, mas não perturba ninguém nem a si mesma, isso faz parte de sua personalidade, é normal e não deve ser coibido. Agora, se ela é instável demais e repentinamente oscila entre a euforia e a depressão, a apatia e a hiperatividade, se nada justifica seu estado de excitação e euforia, a falta de sono, a empolgação e há casos de transtorno bipolar ou mesmo de depressões decorrentes na família, os pais devem procurar ajuda. O problema, porém, é o risco de encontrar apenas quem dê explicações lógicas para o comportamento da criança. A lógica pode explicar muita coisa, mas nem tudo o que é lógico é normal. As professoras e orientadoras explicam o que acontece na escola e a própria dinâmica familiar serve de explicação para o comportamento infantil. Por isso, é sempre recomendado consultar um pediatra, embora infelizmente muitos ainda não estejam preparados para reconhecer os sintomas do transtorno. Na verdade, entre a manifestação dos primeiros sinais e o diagnóstico, às vezes, transcorrem mais de 10 anos. • Transtorno bipolar na adolescência Drauzio – Você disse que as crianças têm múltiplos episódios de depressão e excitação num único dia e que, nos adultos, a doença manifesta-se em ciclos bem mais longos. E na adolescência, o que acontece? 55 Valentim Gentil Filho - Na adolescência, o quadro clínico costuma surgir a partir dos 15 anos e tem características muito diferentes das que se observam na infância. O pico de incidência, porém, ocorre entre 18 e 25 anos. É nesse período que, em geral, eles estão sob maior estresse, mais inseguros e indefinidos, violentamente bombardeados pelos hormônios. É também nesse período da vida que se expõem mais a comportamentos de risco, a sexualidade explode e as drogas o seduzem. É nesse período, portanto, que fatores ambientais, constitucionais e genéticos interagem favorecendo a eclosão do transtorno bipolar. Nessa fase, o diagnóstico é mais fácil, porque se trata de um quadro descrito há 2500 anos. É na infância que a dificuldade se acentua. A tendência é reprimir a criança, tentar educá-la à força ou atribuir a responsabilidade por seu comportamento inadequado aos pais, aos irmãos, à escola ou aos amigos. O caso se complica ainda mais porque não se tem certeza de que tais quadros de transtorno sejam biologicamente equivalentes, isto é, se o aparecimento na infância é simplesmente a manifestação precoce de uma patologia que iria acontecer mais tarde no adolescente ou no adulto, ou se é algo mais intrincado do ponto de vista neurofisiológico. É importante observar que o transtorno de humor bipolar pode aparecer pela primeira vez em qualquer idade: na criança, no adolescente, no adulto ou no idoso. Nada impede que um indivíduo de 60 anos, muito criativo, energético, envolvido em grandes projetos e intensa atividade, de repente desencadeie o processo por um motivo qualquer. Isso aconteceu com personalidades famosas de nossa história que tiveram o quadro deflagrado quando eram mais velhas e só então descobriram que sua energia e dinamismo tinham pontos em comum com a predisposição para a doença. Em vista disso, independentemente da idade, quanto mais rápido ela for diagnosticada, menos irá interferir na estruturação da personalidade das crianças, no caráter do adolescente, nas relações profissionais e familiares do adulto e na imagem do indivíduo com mais idade. • Comportamento familiar Drauzio – O que deve fazer a família diante de um caso como esses? Valentim Gentil Filho – Antes de tudo é preciso combater o medo, porque é ele que aparece primeiro. Depois, é tentar não agir agressivamente contra a pessoa na fase de euforia. No começo, ela é até engraçada, de pensamento ágil, criativa. Se os familiares não estiverem inseguros e temerosos, poderão convencê-la a procurar atendimento para um diagnóstico diferencial, a fim de eliminar possíveis causas imediatas da doença. Se a intervenção ocorrer em 48 ou 72 horas, praticamente não haverá prejuízo. O primeiro remédio que se receita hoje é uma visita a sites da internet especializados em informar as pessoas sobre a regulação do humor porque isso é fundamental na manutenção do tratamento. Drauzio – Existe, no Brasil, alguma associação de apoio a esses pacientes? Valentim Gentil Filho – Existe a ABRATA, Associação Brasileira de Transtornos Afetivos, que tem site na internet <http://www.abrata.org.br>. Essa associação congrega familiares, amigos e portadores de transtorno do humor, 56 tanto o da depressão quanto o bipolar, e é importante na medida em que procura trocar informações e fornecer elementos inclusive para os profissionais de saúde mental sobre a natureza e tratamento adequado da doença. Nos Estados Unidos, o órgão equivalente à ABRATA conta com 500 sedes espalhadas pelo país que prestam serviço semelhante ao da associação brasileira. • Seu filho é bipolar? Seu filho é bipolar? Não existem testes padronizados para transtorno bipolar, mas esta lista, adaptada do livro The Bipolar Child, pode ajudá-lo a reconhecer alguns sinais de alerta. Assinale os comportamentos que seu filho atualmente apresenta ou apresentou no passado. Se você assinalar mais de 20 itens, ele deveria ser examinado por um profissional da área. Seu filho: 1- Fica aflito demais quando separado da família; 2- Demonstra ansiedade ou preocupação excessiva; 3- Tem dificuldade para levantar-se pela manhã; 4- Fica hiperativo e excitável à tarde; 5- Tem sono agitado ou dificuldade para conciliar o sono; 6- Tem terror noturno ou acorda muitas vezes no meio da noite; 7- Não consegue concentrar-se na escola; 8- Tem caligrafia pobre; 9- Tem dificuldade em organizar tarefas; 10- Tem dificuldade em fazer transições; 11- Reclama de sentir-se aborrecido; 12- Tem muitas idéias ao mesmo tempo; 13- É muito intuitivo ou muito criativo; 14- Distrai-se facilmente com estímulos externos; 15- Tem períodos em que fala excessiva e muito rapidamente; 16- É voluntarioso e recusa-se a ser subordinado; 17- Manifesta períodos de extrema hiperatividade; 18- Tem mudanças de humor bruscas e rápidas; 19- Tem estados de humor irritável; 20- Tem estados de humor vertiginosamente alegres ou tolos; 21- Tem idéias exageradas sobre si mesmo ou suas habilidades; 22- Exibe um comportamento sexual inapropriado; 23- Sente-se facilmente criticado ou rejeitado; 24- Tem pouca iniciativa; 25- Tem períodos de pouca energia, ou alheamento, ou se isola; 26- Tem períodos de dúvida sobre si mesmo ou de baixa estima; 27- Não tolera demoras ou atrasos; 28- Persegue obstinadamente suas próprias necessidades; 29- Discute com adultos ou é mandão; 57 30- Desafia ou se recusa a cumprir regras; 31- Culpa os outros por seus erros; 32- Enerva-se facilmente quando as pessoas impõem limites; 33- Mente para evitar as conseqüências de seus atos; 34- Tem acessos de raiva ou fúria explosivos e prolongados; 35- Tem destruído bens intencionalmente; 36- Insulta cruelmente com raiva; 37- Calmamente faz ameaças contra outros ou contra si mesmo; 38- Já fez claras ameaças de suicídio; 39- É fascinado por sangue ou coágulos; 40- Já viu ou ouviu alucinações. • Possibilidades de tratamento Tratar crianças com transtorno bipolar não é fácil, mas, atualmente, pelo menos é possível. O primeiro passo, em geral, é prescrever medicamentos. Depois vem a psicoterapia individual, a terapia familiar e as mudanças no estilo de vida. Recursos terapêuticos Lítio - O tradicional esteio, atenua os sintomas através da regulação dos neurotransmissores, mas não funciona para todas as pessoas. Medicamentos anticonvulsivantes – Inicialmente usados no tratamento da epilepsia, esses medicamentos ajudam a controlar as crises de mania. Antipsicóticos atípicos - Medicamentos utilizados para ajudar os esquizofrênicos a vencerem os delírios podem fazer o mesmo pelos bipolares. Antidepressivos - Apresentam o risco de aumentar os ciclos do transtorno bipolar, mas seu uso pode ser necessário como parte da associação de medicamentos. Estilo de vida - Rotinas como, por exemplo, a fixação dos horários de dormir e acordar, são fundamentais. O uso de cafeína deve ser restringido. Os adolescentes devem evitar o uso de drogas e álcool. Psicoterapia individual - Crianças precisam de aconselhamento para ajudá-las a equilibrar o sono, a alimentação, o trabalho e a diversão. Elas também precisam falar sobre problemas em casa e resolver conflitos que possam desencadear as crises. Terapia familiar - Os pais devem aprender quando ceder – isto é crucial no início do tratamento - e quando devem ser firmes. Contendas ou disputas familiares devem ser reduzidas ao mínimo. Os irmãos podem servir como olhos e ouvidos confiáveis para uma criança cujas percepções estão confusas. 58 Transtorno Bipolar ou Psicose Maníaco Depressiva Transtorno bipolar, também conhecido como psicose maníaco depressiva, é uma desordem cerebral que causa alterações incomuns no humor, energia e capacidade de desempenhar funções. Diferente das variações normais de humor que todas as pessoas têm, os sintomas do transtorno bipolar são severos e podem resultar em danos aos relacionamentos, performance ruim no trabalho e estudo, e até suicídio. Porém há boas notícias, porque pessoas passando por psicose maníaco depressiva podem ser tratadas e levar uma vida produtiva. A psicose maníaco depressiva causa mudanças dramáticas no humor - de super exultante até triste e sem esperança - e essas variações se repetem geralmente com períodos de humor normal entre elas. Mudanças dramáticas na energia e comportamento acompanham essas alterações de humor. Os períodos de "alto" e "baixo" humor são chamados de mania e depressão. Indivíduo com transtorno bipolar costuma ser chamado de "maníaco-depressivo" por leigos. Sinais e sintomas do transtorno bipolar ou psicose maníaco depressiva Os sinais e sintomas da fase de mania incluem: * Aumento de energia, atividade e agitação. * Euforia excessiva. * Irritabilidade extrema. * Pensamentos voando e fala muito rápida, pulando de uma idéia para outra. * Falta de concentração. * Pouca necessidade de sono. * Crença irrealista em suas habilidades. * Julgamentos pobres. * Período duradouro de comportamento diferente do usual. * Desejo sexual aumentado. * Abuso de drogas, particularmente álcool, cocaína e remédios para dormir. * Comportamento provocativo, intrusivo ou agressivo. * Negação de que alguma coisa está errada. Um episódio de mania é diagnosticado se o humor 59 elevado ocorre com 3 ou mais outros sintomas pela maior parte do dia, quase todos os dias, por uma semana ou mais. Se o humor está irritável, quatro sintomas adicionais devem estar presentes. Os sinais e sintomas dos episódios de depressão incluem: * Humor ruim, tristeza e ansiedade. * Sentimento de desesperança e pessimismo. * Sentimento de culpa, inutilidade e desamparo. * Perda de interesse ou prazer em atividades que costumava gostar, incluindo sexo. * Queda de energia e sensação de fadiga. * Dificuldade de concentração, de lembrar e tomar decisões. * Irritabilidade e agitação. * Dormir demais ou falta de sono. * Alterações no apetite e ganho ou perda de peso não intencional. * Dor crônica ou outros sintomas corporais que não são causados por doença ou lesão. * Pensamentos suicidas e de morte, ou tentativa de suicídio. Um episódio de depressão é diagnosticado quando 5 ou mais desses sintomas duram a maior parte do dia, quase todos os dias por um período de 2 semanas ou mais. Um episódio moderado de mania é chamado de hipomania, na qual a pessoa sente-se bem, e pode estar associada à produtividade aumentada. Embora até quando os familiares e amigos aprendem a reconhecer as alterações de humor como uma possível precoce maníaco-depressiva, a pessoa pode negar que algo esteja errado. Porém, sem o tratamento apropriado, hipomania pode se transformar em mania severa em algumas pessoas, ou mudar para depressão. Algumas vezes episódios graves de mania ou depressão podem incluir sintomas psicóticos. Os sintomas psicóticos mais comuns são alucinações (escutar, ver ou sentir presença de coisas que não estão ali), delusões (crença forte e falsa que não é explicada influenciada pela lógica nem explicada pelos conceitos culturais usuais da pessoa). Os sintomas psicóticos na psicose maníaco depressiva tendem a refletir o estado extremo de humor do momento. Por exemplo, delusões de grandiosidade podem ocorrer durante a mania, enquanto que delusões de culpa podem aparecer durante a depressão. Pessoas com transtorno bipolar que têm esses sintomas algumas vezes são incorretamente diagnosticados como tendo esquizofrenia. 60 Em algumas pessoas os sintomas da mania e depressão podem ocorrer em conjunto, o que é chamado de estado bipolar misto. Os sintomas do estado misto podem incluir agitação, problema para dormir, alteração significativa de apetite, psicose e pensamentos suicidas. A pessoa pode ter um estado de humor muito triste e sem esperança ao mesmo tem que sente-se extremamente energizada. Causas do transtorno bipolar ou psicose maníaco depressiva Cientistas estão aprendendo sobre as possíveis causas do transtorno bipolar através de vários tipos de estudos. A maioria dos cientistas concorda que não há somente uma causa para a desordem bipolar, mas muitos fatores que agem em conjunto para produzir a doença. Uma vez que a desordem bipolar tende a ocorrer em famílias, pesquisadores estão procurando por um gene específico que poderia aumentar a probabilidade de desenvolver a doença. Porém, o transtorno bipolar não é exclusivamente genético. Estudos de gêmeos idênticos, que dividem os mesmos genes, indicam que outros fatores desempenham papel no transtorno bipolar. Adicionalmente, descobertas de pesquisas genéticas sugerem que o transtorno bipolar não ocorre devido a uma único gene. Parece que muitos genes agem em conjunto e em combinação com outros fatores do ambiente da pessoa para causar o transtorno bipolar. Tratamento do transtorno bipolar ou psicose maníaco depressiva A maioria das pessoas com transtorno bipolar, até em suas formas mais graves, pode conseguir estabilização substancial das variações de humor, e sintomas relacionados, com o tratamento apropriado. Uma vez que o transtorno bipolar é uma doença recorrente, o tratamento preventivo de longo prazo é fortemente recomendado e quase sempre indicado. A estratégia de tratamento que combina medicação e tratamento psicosocial é a de melhor indicação para controlar a doença. Na maioria dos casos o transtorno bipolar é bem melhor controlado se o tratamento for contínuo. Porém, até quando não há paradas no tratamento, alterações de humor podem acontecer e devem ser reportadas imediatamente ao médico. O 61 acompanhamento médico de perto, e comunicação aberta sobre as preocupações sobre o tratamento, podem fazer diferença na sua eficiência. Adicionalmente, registrar os tratamentos, sintomas diários, padrões de sono e até eventos na vida pode ajudar pessoas com transtorno bipolar e seus familiares a entenderem melhor a doença. Esse registro também pode ajudar ao médico acompanhar e tratar o transtorno bipolar com mais eficiência. Embora os episódios de mania e depressão naturalmente venham e vão, é importante entender que o transtorno bipolar é uma doença que atualmente não tem cura. Seguir o tratamento, até nos momentos em que a pessoa está bem, pode ajudar a manter a doença sobre controle e reduzir as chances de ter episódios recorrentes mais graves. 62 Transtorno Bipolar do Humor O que é a doença Bipolar do Humor? É uma enfermidade na qual ocorrem alterações do humor, caracterizando-se por períodos de um quadro depressivo, que se alteram com períodos de quadros opostos, isto é, a pessoa se sente eufórica (mania). Tanto o período de depressão quanto da mania podem durar semanas, meses ou anos. O termo mania não significa “repetição de hábitos”, mas sintomas de euforia. O Transtorno do Humor pode ocorrer, ao longo da vida, dentro de um curso bipolar ou unipolar. O curso unipolar refere-se a episódios somente de depressão e, no bipolar, depressão e mania (euforia). O Transtorno Bipolar do Humor atinge de igual maneira homens e mulheres em torno de 1% a 2% e, geralmente, entre os 15 e 30 anos de idade. O transtorno bipolar também pode atingir as crianças, manifestando-se com sintomas predominantes de humor ansioso e irritável. O humor da pessoa oscila de muito eufórico (agitado), para muito triste (com desesperança, desmotivação e desvalia). Como em outras doenças, o Transtorno Bipolar do Humor afeta não só quem o tem, como também, o cônjuge, familiares, amigos e empregadores. Se depressão, mania forem acompanhadas de alucinações (ouvir, ver, sentir o que não existe) e delírios (pensamentos irreais à realidade) trata-se do subtipo psicótico. As pessoas que sofrem de Transtorno Bipolar levam, em média, 8 anos antes de serem diagnosticadas ou receberem tratamento adequado, o que pode causar grande sofrimento e perdas. Tipos de Transtorno Bipolar do Humor Existem quatro formas de Transtorno Bipolar do Humor: - Transtorno Bipolar Tipo I – Períodos de mania (euforia) com humor elevado e expansivo, grave o suficiente para causar prejuízo no trabalho, relações sociais podendo necessitar de hospitalização contrapostos por períodos de humor deprimido, sentimentos de desvalia, desprazer, desmotivação, alterações do sono, apetite, entre outros. Geralmente, o estado maníaco dura dias ou pelo menos uma semana, e períodos de depressão de semanas à meses. - Transtorno Bipolar Tipo II – Períodos de hipomania, em que também ocorre estado de humor elevado e agressivo mas de forma mais suave. Um episódio de tipo hipomania, ao contrário da mania, não chega a ser suficientemente grave para causar prejuízo em atividades de trabalho ou vida social. - Transtorno Bipolar Misto – Períodos mistos, em que em mesmo dia haveria alternâncias entre depressão e mania. Em poucas horas a pessoa pode chorar, ficar triste, com sentimentos de desvalia e desprazer e, no momento seguinte, estar eufórica, sentindo-se capaz de tudo, falante e agressiva. - Transtornos Ciclotímicos – Períodos em que haveria uma alteração crônica e flutuante do humor marcada por numerosos períodos com sintomas maníacos e numerosos sintomas depressivos que se alterariam. Contudo, não seriam suficientemente graves nem ocorreriam em quantidade suficiente para se ter certeza de se tratar de depressão e mania. Isto é, pode ser facilmente confundida com o jeito de ser da pessoa, “de lua”. Principais teorias etiológicas Apesar de se desconhecer a base causal, existe uma interação complexa entre fatores biológicos, genéticos e psicossociais para tentar explicar o Transtorno: 63 - Fatores Biológicos – As teorias dos neurotransmissores, no sistemas noradrenérgico, seratonérgico e dopaminérgico, que tem características semelhantes, pois todos se originam em núcleos localizados no tronco cerebral e se projetam para amplas áreas do pró-encéfalo, têm sido admitidas na etiologia dos Transtornos Bipolares. Além destes, outros neurotransmissores, incluindo o glutemato, neuropeptídeos, como a colecistocinina e o hormônio liberado de corticotrofina, têm sido implicados assim como anormalidades no eixo hipotalâmico - pituitário - tireóide são comuns no Transtorno Bipolar. - Fatores Genéticos – Quando um dos pais apresenta Transtorno Bipolar, existe de 25 a 50% de chance de o filho adquirir Transtorno Bipolar. Quando maior a distância de parentesco, menor a possibilidade de ter um Transtorno Bipolar. Os estudos de gêmeos tem mostrado que a taxa de concordância em gêmeos monozigóticos é de 33 a 90% e gêmeos dizigóticos cerca de 5 a 25%. As associações entre o Transtorno Bipolar I e marcadores genéticos têm sido relatadas para os cromossomas 5,11 e x. - Fatores Psicossociais – Os acontecimentos vitaisestressores precedem, mais freqüentemente, os primeiros episódios de Transtorno do Humor e poderiam provocar alterações nos estados funcionais de vários sistemas neurotransmissores e sinalizadores intraneurais. Dificuldades financeiras, doença na família, perda de uma pessoa importante, uso de drogas, entre outros, podem contribuir para o desencadeamento da doença. Achados clínicos – como identificar: Mania: - humor para cima, exaltação, alegria exagerada e duradoura; irritabilidade (impaciência, “pavio curto”); - agitação, inquietação física e mental; - aumento da energia, da produtividade ou começar muitas coisas e não conseguir terminar; - pensamentos acelerados, tagarelice; - achar que possui dons ou poderes especiais de influência, grandeza e poder; - otimismo e autoconfiança exagerados; - aumento dos gastos, endividamentos; - distração fácil: tudo desvia a atenção; - maior contato social e desinibição, comportamento inadequado e provocativo, agressividade física e/ou verbal; - erotização, aumento da atividade e necessidade sexuais; - insônia, redução da necessidade de sono; - quando grave, ocorrem delírios e/ou alucinações. estressores precedem, mais freqüentemente, os primeiros episódios de Transtorno do Humor e poderiam provocar alterações nos estados funcionais de vários sistemas neurotransmissores e sinalizadores intraneurais. Dificuldades financeiras, doença na família, perda de uma pessoa importante, uso de drogas entre outros, podem contribuir para o desencadeamento da doença. Depressão: - humor para baixo, tristeza, angústia ou sensação de vazio; - irritabilidade, desespero; - pouca ou nenhuma capacidade de sentir prazer e alegria na vida; - cansaço mais fácil, desânimo, preguiça, falta de energia física e mental; - falta de concentração, lentidão do raciocínio, memória ruim; - falta de vontade, falta de iniciativa e interesse, apatia; - pensamentos negativos repetidos amplificados, pessimismo, idéias de culpa fracasso, inutilidade, falta de sentido na vida, doença, morte (suicídio); - sentimentos de insegurança, baixa auto-estima, medo; - interpretação distorcida e negativa do presente, de fatos ocorridos no passado e no futuro; - redução da libido e vontade de ter sexo; - perda ou aumento de apetite e/ou peso; - insônia ou dormir demais, sem se sentir repousado; - dores ou sintomas físicos difusos, sofridos, que não se explicam por outras doenças: dor de cabeça, nas costas, no pescoço e nos ombros, sintomas gastrointestinais, alterações mentruais, queda de cabelo, dentre outros; - em depressões graves, alucinações e/ou delírios. Para fazer o diagnóstico, bastam sintomas dos três primeiros itens e, pelo menos, 64 dois dos demais. Diagnóstico Diferencial: A – Doenças Médicas: - distúrbios metabólicos (exemplo: tireóide); - doenças neurológicas (exemplo: esclerose múltipla); - doenças infecciosas (exemplo: HIV, neurossífilis); - neoplasias (exemplo: tumores, metástases). B – Doenças Psiquiátricas: - dependência química (exemplo: cocaína). OBS: embora 41% dos pacientes com Transtorno Bipolar abusam e são dependentes de drogas e 46% abusam e são dependentes de álcool e 61% abusam e são dependentes de outras substâncias; - esquizofrenia; - THDA, delírio, demência, entre outros; - transtornos de personalidade. Tratamento do Transtorno Bipolar O tratamento envolve manejo nas fases agudas e na terapia de manutenção. Os quadros agudos demandam contenção imediata dos sintomas através da farmacologia: estabilizadores do humor, antidepressivos (se necessário), antipsicóticos (se necessário) e, muitas vezes internação hospitalar para proteção do paciente. Os episódios de depressão aguda são tratados, preferencialmente, com antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina, pois são maiores indutores de “virada” maníaca (eufórica) ou hipomaníaca, mais comuns com as ADT (tricíclicos). As fases maníacas podem ser controladas com Carbonato de Lítio, Ácido Valpróico, Carbamazepina, lomotrigina, gebapentina e topiramato. Se sintomas psicóticos estiverem presentes, é necessário o uso de antipsicóticos ou benzodiazepínicos. Muitas vezes, é necessária a combinação de drogas, isto é, mais de um estabilizador do humor associado, antidepressivos, mesmo na fase de manutenção. Existem substâncias que propiciam a desestabilização do quadro do humor e que devem ser identificados (tricíclicos, esteróides, álcool e os estimulantes). ETC O ETC provou ser útil àqueles pacientes que não respondam à medicação, que apresentam alto risco de suicídio, em gestantes e idosos (pois é mais seguro). O seu uso ficou mais limitado com o incremento de novos psicofarmacos, mas sabe-se que 80% dos pacientes mostram melhora substancial. Psicoterapia Sabe-se que a terapia cognitiva pode contribuir na adesão do tratamento e na prevenção das recaídas, tornando-se um valioso acessório para o tratamento farmacológico. Como relatado anteriormente, o Transtorno Bipolar não se limita meramente a um problema bioquímico mas, também, psicológico e social (envolve dificuldades pessoais, familiares e sociais). Existem outros tipos de psicoterapias como individual, grupal, de família, conjugal, entre outros, mas, o que importa é se está surtindo resultado na melhora do paciente e na sua qualidade de vida. Curso e prognóstico do Transtorno Bipolar O curso é variável, habitualmente se experimentando o primeiro episódio maníaco aos 20 anos, mas pode começar na adolescência ou após os 40 anos de idade. O uso de álcool ou substâncias pioram o prognóstico clínico. A aderência ao tratamento é fundamental e, bastam alguns dias de interrupção da medicação ou diminuição para que o paciente apresente exacerbação de sintomas e mais períodos de novas de crises. A boa relação médico-paciente, esclarecendo dúvidas, pedindo socorro em crises, discutindo fatores estressores, ajudam no melhor prognóstico. Dr. Adriano Rosendo Haubert Psiquiatra - CREMERS 20225 Especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria Fone: (51) 3592.7678 65