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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
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BENEFÍCIOS DA ARTETERAPIA ÀS PESSOAS COM
TRANSTORNO AFETIVO DO HUMOR E SUA FAMÍLIA
Por: Edelcilene Cerqueira Barreto
Orientador: Profª. Fabiane Muniz
Co-orientadora: Profª. Narcisa Castilho Melo
Brasília
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
BENEFÍCIOS DA ARTETERAPIA ÀS PESSOAS COM
TRANSTORNO AFETIVO DO HUMOR E SUA FAMÍLIA
Monografia apresentada ao Instituto A Vez do
Mestre - Universidade Candido Mendes como parte
dos requisitos para a obtenção do Grau de
Especialista em Arteterapia em Educação.
Por: Edelcilene Cerqueira Barreto
3
AGRADECIMENTOS
A
Deus,
oportunidade
que
de
me
concedeu
pesquisar
a
minha
própria realidade no ambiente familiar e
que me proporcionou através deste
trabalho a melhora no trato com minha
família.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha mãe e irmã
pelo incentivo e interesse ao tema, pois
em algumas situações, nos sentimos
personagens
protagonistas
e
demais
parentes como coadjuvantes da própria
pesquisa.
5
RESUMO
O presente trabalho de pesquisa aborda, como a terapia alternativa,
neste caso, a arteterapia, pode auxiliar no trabalho de psicólogos e psiquiatras
no tocante ao tratamento do Transtorno Afetivo do Humor em pessoas e, a
ajuda que sua família necessita ao lidar com esses pacientes. Assume como
objeto de estudo, livros e sites especializados no assunto. O trabalho abrange
as diversas linguagens artísticas inseridas como componentes norteadores da
terapia, podendo ser individual ou em grupo.
A arteterapia, vem através de suas várias técnicas expressivas,
possibilitar e facilitar o relacionamento social e abolir os conflitos afetivos, que
causam danos psicológicos, entre o paciente bipolar e sua família.
Concluímos que é de extrema necessidade estimular a aplicação de
técnicas arteterapêuticas para que as pessoas com transtorno afetivo do humor
sejam melhor compreendidas pela família e sociedade e, ao mesmo tempo, se
reconheçam descobrindo novos valores dentro de si.
6
METODOLOGIA
Os instrumentos utilizados para realização da pesquisa foi através da
leitura de livros, tendo como principais autores, James O. Whittaker, F. K. de
Goodwin, Abraham S. Luchins, Jonas Melman e Teng Chei Tung; consulta a
sites da internet especializados no escopo da pesquisa e; a monografias dos
cursos de pós-graduação lato sensu Arteterapia em Educação e Saúde e
Terapia de Família.
A partir dos estudos referentes ao assunto, o processo de elaboração
também se deu através da investigação de questões embutidas nas seguintes
hipóteses:
- Uma família que possua, pelo menos um membro com transtorno bipolar, é
afetada em seu estado emocional por desconhecer que a reação diversificada
no humor por parte de quem sofre o transtorno é sintoma de uma doença
psíquica que pode ser tratada. Esse fato gera conflitos afetivos por parte dos
membros familiares. Como ajudar a esta família?
- O doente de transtorno bipolar, quando não tratado com práticas
arteterapêuticas, por exemplo, não compreende as mudanças na reação
afetiva por parte de sua família e como conseqüência, se sente desprezado.
Como a arteterapia poderá ajudá-lo?
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
09
CAPÍTULO I - TRANSTORNO AFETIVO DO HUMOR. O QUE É?
12
Tipos ou fases
13
1
- Fase Depressiva
13
2
- Fase Maníaca ou Tipo I: mania (euforia) + depressão
15
3
- Tipo II: hipomania
17
4
- Fase Mista: depressão + mania (alternância)
17
5
- Ciclotimia
18
CAPÍTULO II - O CUIDADO COM OS FAMILIARES DA PESSOA COM
TRANSTORNO AFETIVO DO HUMOR
23
Repensando o cuidado em relação aos familiares
23
Primeiro momento: os familiares pedem ajuda
23
Como a família deverá cuidar do paciente bipolar?
25
A carga enfrentada pela família
25
Transtorno bipolar na família: a rejeição
27
Transtorno bipolar no provedor da família
27
Transtorno bipolar no casal
28
Depressão nos outros familiares próximos
29
CAPÍTULO III – A ARTE COMO TERAPIA PARA O TRANSTORNO
AFETIVO DO HUMOR
30
Podem os maníaco-depressivos superar sua doença?
30
O Uso Terapêutico de Filmes Cinematográficos
30
A Arte Como Terapêutica
32
A Música Como Terapêutica
33
Dramatização
34
Psicodrama
35
8
1 - Arteterapia para a fase maníaca (eufórica)
37
2 - Arteterapia para a fase depressiva
37
3 - Arteterapia para as fases mistas
38
3.1--Mania medrosa-depressiva
38
3.2--Mania pobre em pensamentos
38
3.3–Mania improdutiva
39
3.4–Depressão agitada
39
3.5–Mania inibida
40
3.6–Depressão com fuga de idéias
40
A moderna Dramaterapia
41
Dramaterapia no tratamento do Transtorno A. do Humor
42
Métodos e técnicas em Dramaterapia
42
CONCLUSÃO
46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
47
BIBLIOGRAFIA CITADA
48
ANEXO – INTERNET
49
9
INTRODUÇÃO
A
presente
monografia
estuda
um
tema
gerado
a
partir
do
reconhecimento de um novo tratamento auxiliar da medicina no século XX,
sendo de extrema importância para a valorização da arte no tocante a saúde.
Trata-se da arteterapia e o transtorno afetivo do humor.
Durante o tratamento, ocorre a produção de escultura, pintura e outras
formas de expressão contribuindo para o autoconhecimento do paciente, o
controle de sintomas e o tratamento dos problemas causados também na
família.
A questão centralizadora neste trabalho é como abolir os conflitos
afetivos, que causam danos psicológicos, entre o portador de transtorno afetivo
do humor e sua família.
O tema apresentado tem sua relevância baseada em que, não é fácil
identificar entre as pessoas de nosso convívio, àquelas que sofrem de
transtorno bipolar (nomenclatura anterior) ou transtorno afetivo do humor, que
constantemente variam de humor (estados de alegria e tristeza) em sua
comunicação, causando grande impacto em sua própria vida, de sua família e
sociedade, com prejuízos irreparáveis nas finanças, saúde, reputação e
sofrimento psicológico. Pessoas próximas que convivem com o doente afetivo
bipolar, não compreendem os sintomas causados por esse distúrbio. Pessoas
bipolares são cidadãos comuns, merecedores de respeito, pois devido à falta
de diagnóstico e compreensão de tais reações, muitas vezes, são chamados
de “loucos”, quando na verdade não o são.
Por esse motivo, se sentem desprezadas. Entretanto, esta situação
tende a se modificar, apesar de ser uma doença incurável, é importante seguir
um tratamento com um psiquiatra que prescreve as medicações necessárias, e
mesmo que a pessoa esteja bem, deverá ser acompanhada com terapias
10
alternativas, como por exemplo, a arteterapia já citada, para ajudar a manter a
doença sob controle e reduzir as chances de ter episódios recorrentes mais
graves.
Desta forma, far-se-á um estudo em forma de pesquisa dos benefícios
da arteterapia em prol dos pacientes bipolares e sua família.
Enquanto em outras formas de tratamento, como a medicina, o paciente
relata ao profissional o que o incomoda ou aflige, na arteterapia ele se
expressa por meio de uma ou mais atividades artísticas de sua preferência. O
processo de criação e a relação estabelecida também com o arteterapeuta é
que vão lhe permitir se conhecer melhor e evoluir. A cada desenho ou
modelagem, o conteúdo da pessoa toma forma e ela sente que pode
transformar em arte suas aflições e suas angústias usando cor e movimento.
Assim, suaviza e aprende a relacionar padrões que antes aprisionavam,
descobrindo que pode criar novas maneiras para lidar com os problemas.
O tempo de tratamento varia de acordo com a necessidade de cada um.
A pesquisa tem como objetivo geral conhecer os benefícios que a
arteterapia proporciona ao paciente bipolar e as dificuldades da família ao lidar
com essa doença. E especificamente, analisar práticas arteterapêuticas em
pacientes bipolares e discriminar as dificuldades que a família de um paciente
bipolar enfrenta em relação a essa doença.
O estudo tem como hipótese, uma família que possua, pelo menos um
membro com transtorno afetivo do humor e seja afetada em seu estado
emocional por desconhecer que a reação diversificada no humor por parte de
quem sofre o transtorno é sintoma de uma doença psíquica que pode ser
tratada. Esse fato gera conflitos afetivos por parte dos membros familiares.
11
É pesquisado também, que o doente de transtorno afetivo do humor,
quando não tratado com práticas arteterapêuticas, por exemplo, não
compreende as mudanças na reação afetiva por parte de sua família e como
consequência, se sente desprezado.
No primeiro capítulo será tratado o conceito de transtorno afetivo do
humor. O segundo capítulo abordará o cuidado com os familiares da pessoa
com esse tipo de transtorno. E por fim, no terceiro capítulo, será abordada a
questão da arte como terapia para as pessoas envolvidas em tal transtorno.
12
CAPÍTULO I
TRANSTORNO AFETIVO DO HUMOR
O QUE É?
Segundo site http://www.copacabanarunners.net/bipolar.html, a palavra
transtorno é sinônimo de “doença” ou “distúrbio”, assim como o transtorno
afetivo do humor, pode ser chamado de “transtorno bipolar do humor”.
Anteriormente, o nome da doença era psicose maníaco-depressiva
caracterizada pela variação extrema do humor (estados de alegria e tristeza)
causando grande impacto na vida do paciente, de sua família e sociedade com
prejuízos irreparáveis nas finanças, saúde, reputação e sofrimento psicológico.
É uma doença incurável, sendo importante seguir o tratamento, até nos
momentos em que a pessoa está bem, pois pode ajudar a manter a doença
sob controle e reduzir as chances de ter episódios recorrentes mais graves.
Segundo site http://www.classiclife.com.br/medicina/med_0036_4ed.html, o
transtorno do humor pode ocorrer, ao longo da vida, dentro de um curso bipolar
ou unipolar. O curso unipolar refere-se a episódios somente de depressão e, no
bipolar, depressão e mania (euforia). O Transtorno Bipolar do Humor atinge de
igual maneira homens e mulheres em torno de 1% a 2% e, geralmente, entre
os 15 e 30 anos de idade. O transtorno bipolar também pode atingir as
crianças, manifestando-se com sintomas predominantes de humor ansioso e
irritável.
As pessoas que sofrem de transtorno bipolar levam, em média, oito
anos antes de serem diagnosticadas ou receberem tratamento adequado, o
que pode causar grande sofrimento e perdas.
13
Tipos ou fases.
1 - Fase Depressiva
De acordo com o site http://www.classiclife.com.br/medicina/med_0036_4ed.html,
acompanhamos os seguintes achados clínicos de identificação:
- humor para baixo, tristeza, angústia ou sensação de vazio;
- irritabilidade, desespero;
- pouca ou nenhuma capacidade de sentir prazer e alegria na vida;
- cansaço mais fácil, desânimo, preguiça, falta de energia física e mental;
- falta de concentração, lentidão do raciocínio, memória ruim;
- falta de vontade, falta de iniciativa e interesse, apatia;
- pensamentos negativos repetidos amplificados, pessimismo, ideias de culpa,
fracasso, inutilidade, falta de sentido na vida, doença, morte (suicídio);
- sentimentos de insegurança, baixa autoestima, medo;
- interpretação distorcida e negativa do presente, de fatos ocorridos no passado
e no futuro;
- redução da libido e vontade de ter sexo;
- perda ou aumento de apetite e/ou peso;
- insônia ou dormir demais, sem se sentir repousado;
- dores ou sintomas físicos difusos, sofridos, que não se explicam por outras
doenças: dor de cabeça, nas costas, no pescoço e nos ombros, sintomas
gastrointestinais, alterações mentruais, queda de cabelo, dentre outros;
- em depressões graves, alucinações e/ou delírios.
De acordo com o site http://www.copacabanarunners.net/bipolar.html,
algumas vezes episódios graves de mania ou depressão podem incluir
sintomas psicóticos. Os sintomas psicóticos mais comuns são alucinações
(escutar, ver ou sentir presença de coisas que não estão ali), delusões (crença
forte e falsa que não é explicada, influenciada pela lógica, nem explicada pelos
14
conceitos culturais usuais da pessoa). Os sintomas psicóticos na psicose
maníaco-depressiva tendem a refletir o estado extremo de humor do momento.
Por exemplo, delusões de grandiosidade podem ocorrer durante a mania,
enquanto que delusões de culpa podem aparecer durante a depressão.
Pessoas com transtorno bipolar que têm esses sintomas, algumas vezes são
incorretamente diagnosticadas como tendo esquizofrenia.
– Entrevista de uma paciente de meia-idade que manifesta vários
aspectos de Depressão Psicótica. (Page, 1947)
SRA. T. – DEPRESSÃO PSICÓTICA
P. Já esteve em um hospital psiquiátrico anteriormente?*
R. Sim.*
P. Quantas vezes?
R. Duas.
P. Como se sente agora?
R. Bem, uma espécie de tristeza e de “fossa”.
P. Pode comparar o que você sente agora com o que sentia quando estava
bem?
R. Quando eu estava bem, acordava pela manhã ansiosa para me levantar e
trabalhar. Agora, acho muito difícil fazer qualquer coisa.
P. Como se sente pela manhã?
R. Bem, quero permanecer deitada e tenho que me forçar e me vestir.
P. Como se sente depois de se levantar e se vestir?
R. Ora desejo permanecer onde estou, e não fazer nada.
De Page, J.: Abnormal Psychology. Nova Iorque, McGraw – Hill, 1975. (P. 515)
*P = Pergunta
*R = Resposta
15
2 – Fase Maníaca ou Tipo I: mania (euforia) + depressão
De acordo com o site http://www.classiclife.com.br/medicina/med_0036_4ed.html,
acompanhamos os seguintes achados clínicos de identificação:
- humor para cima, exaltação, alegria exagerada e duradoura; irritabilidade
(impaciência, “pavio curto”);
- agitação, inquietação física e mental;
- aumento da energia, da produtividade ou começar muitas coisas e não
conseguir terminar;
- pensamentos acelerados, tagarelice;
- achar que possui dons ou poderes especiais de influência, grandeza e poder;
- otimismo e autoconfiança exagerados;
- aumento dos gastos, endividamentos;
- distração fácil: tudo desvia a atenção;
- maior contato social e desinibição, comportamento inadequado e provocativo,
agressividade física e/ou verbal;
- erotização, aumento da atividade e necessidade sexuais;
- insônia, redução da necessidade de sono;
- quando grave, ocorrem delírios e/ou alucinações, estressores que precedem,
mais frequentemente, os primeiros episódios de Transtorno do Humor e
poderiam provocar alterações nos estados funcionais de vários sistemas
neurotransmissores e sinalizadores intra-neurais. Dificuldades financeiras,
doença na família, perda de uma pessoa importante, uso de drogas entre
outros, podem contribuir para o desencadeamento da doença.
A contribuição de Eliane da Silva Nalin de Souza em sua monografia
Transtorno Bipolar e Família (2004), vem complementar que períodos de mania
(euforia) com humor elevado e expansivo é grave o suficiente para causar
prejuízo
nas
relações
sociais, podendo
necessitar de hospitalização,
contrapostos por períodos de humor deprimido, sentimentos de desvalia,
desprazer,
desmotivação,
alterações
do
sono,
apetite,
entre
outros.
16
Geralmente, o estado maníaco dura dias ou pelo menos uma semana, e
períodos de depressão de semanas a meses.
Entrevista de uma paciente exibindo muitos destes sintomas
característicos da Fase Maníaca – excitação, rápida passagem de uma
ideia a outra e uma vivacidade geral no contato verbal.
SRA. M. – PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA (FASE MANÍACA).
Como está hoje?
Oh, estou super satisfeita. O estado está gastando apenas o seu dinheiro
mantendo-me aqui. Que tal um bife no jantar hoje à noite com sorvete de
hortelã? O serviço aqui é muito lento. Porque não há uma boa enfermeira aqui.
Eu poderia fazer círculos ao redor delas.
Você é enfermeira?
Bem, ainda não tenho meu diploma, mas tenho todos os requisitos. Veja, sou
inteligente demais para você. Diga quem é este belo médico que vocês têm
aqui? Eu poderia ficar com ele. Acho que me casarei com um médico, um rico
psiquiatra e então abrirei quatro ou cinco hospitais particulares para que possa
aposentar aos 30 anos. Eu trabalho rápido. Poderia ser uma simples
enfermeira em uma sala cirúrgica e a superintendente da sociedade. Quero ser
um mandachuva. Minha irmã é uma menina brilhante. Sua avaliação é cerca de
95 por cento. Está em uma universidade. Ela admira os médicos, qualquer
homem inteligente. O pai de minha mãe era médico, um médico de cavalos, de
forma que você vê, tudo segue o passado. (...) (Page, 1975)
De Page, J.: Abnormal Psychology. Nova Iorque, McGraw – Hill, 1975. (P. 513)
17
3 - Tipo II: hipomania
Segundo o site http://www.classiclife.com.br/medicina/med_0036_4ed.html, o tipo
II compreende períodos em que também ocorre estado de humor elevado e
agressivo, mas de forma mais suave. Um episódio de tipo hipomania, ao
contrário da mania, não chega a ser suficientemente grave para causar
prejuízo em atividades de trabalho ou vida social.
De acordo com o site http://www.copacabanarunners.net/bipolar.html,
um episódio moderado de mania é chamado de hipomania, na qual a pessoa
sente-se bem, e pode estar associada à produtividade aumentada. Embora, até
quando os familiares e amigos aprendem a reconhecer as alterações de humor
como uma possível precoce maníaco-depressiva, a pessoa pode negar que
algo esteja errado. Porém, sem o tratamento apropriado, hipomania pode se
transformar em mania severa em algumas pessoas, ou mudar para depressão.
Para maiores esclarecimentos, segundo a monografia Transtorno Bipolar
e Família de Eliane da Silva Nalin de Souza (2004), períodos de hipomania,
também ocorre estado de humor elevado e agressivo, porém de forma mais
suave. Um episódio de tipo hipomania, ao contrário da mania, não chega a ser
suficientemente grave para causar prejuízo em atividades de trabalho ou vida
social.
4 - Fase Mista: depressão + mania (alternância)
De acordo com o site http://www.classiclife.com.br/medicina/med_0036_4ed.html,
a fase mista compreende que no mesmo dia haveria alternâncias entre
depressão e mania. Em poucas horas a pessoa pode chorar, ficar triste, com
sentimentos de desvalia e desprazer e, no momento seguinte, estar eufórica,
sentindo-se capaz de tudo, falante e agressiva.
18
De acordo com o site http://www.copacabanarunners.net/bipolar.html,
em algumas pessoas os sintomas da mania e depressão podem ocorrer em
conjunto, o que é chamado de estado bipolar misto. Os sintomas do estado
misto podem incluir agitação, problema para dormir, alteração significativa de
apetite, psicose e pensamentos suicidas. A pessoa pode ter um estado de
humor muito triste e sem esperança, ao mesmo tempo em que se sente
extremamente energizada (eufórica, sentindo-se capaz de tudo, falante e
agressiva).
5 - Ciclotimia
Segundo a monografia Transtorno Bipolar e Família de Eliane da Silva
Nalin de Souza (2004):
“ciclotimia ou transtornos ciclotímicos são períodos em que
haveria uma alternância crônica e flutuante do humor marcada
por numerosos períodos com sintomas maníacos e numerosos
sintomas depressivos que se alterariam. Contudo, não seriam
suficientemente graves nem ocorreriam em quantidade
suficiente para se ter certeza de se tratar de depressão e mania.
Isto é, pode ser facilmente confundida com o jeito de ser da
pessoa, “instável”, cheio de altos e baixos e frequentemente
antecede sintomas depressivos e eufóricos. Pode-se por
exemplo, acordar com o humor diferente daquele com o qual a
pessoa dormiu.
Se a depressão, a mania ou o estado misto estiverem
acompanhados de alucinações (sentir, ver ou ouvir algo que não
existe) ou delírios (pensar algo irreal, como achar-se culpado de
coisas que não fez, que está sendo perseguido, que possui
poderes especiais, etc.), trata-se do subtipo psicótico”.
19
Enfoque de James O. Whittaker
As psicoses afetivas compreendem as Reações Maníaco-Depressivas
e as Reações Depressivas Psicóticas que consistem primeiramente em
alterações graves do afeto.
– Qual a incidência da psicose maníaco-depressiva?
Ocorre em cerca de um indivíduo em 200. Os sintomas podem
constituir-se em hiperexcitabilidade, depressão grave, ou alternância entre
ambos. A chamada fase “maníaca” ou de exaltação consiste em uma excitação
generalizada, exaltação do humor ou euforia, hiperatividade, como andar de
um lado para o outro, cantar, e assim por diante, e a “fuga de ideias”, durante a
qual a conversa do paciente muda de um tópico a outro com pouca conexão
aparente. Na fase depressiva, os sintomas são quase o oposto – um
afrouxamento geral, depressão grave e contato verbal reduzido.
– Sintomas típicos de depressão e mania.
1- Depressão
•
Expressões de desesperança e desamparo.
•
Expressões de preocupação e culpa.
•
Preocupação com morte ou suicídio.
•
Atividade psicomotora:
1.1-
Retardo - indica lentidão da fala e do movimento, voz
monótona e baixa, desinteresse no ambiente ao redor.
1.2-
Agitação - hiperatividade, tremor nas mãos e caminhar
constante.
•
Aspecto deprimido, inclusive expressão de tristeza, choro,
indiferença no vestir ou maquilar-se.
20
•
Para algumas pessoas: queixas físicas, perda do apetite,
alterações do sono.
A contribuição do site http://www.copacabanarunners.net/bipolar.html, vem
complementar que os sinais e sintomas dos episódios de depressão incluem:
•
Humor ruim, tristeza e ansiedade.
•
Sentimento de desesperança e pessimismo.
•
Sentimento de culpa, inutilidade e desamparo.
•
Perda de interesse ou prazer em atividades que costumava
gostar, incluindo sexo.
•
Queda de energia e sensação de fadiga.
•
Dificuldade de concentração, de lembrar e tomar decisões.
•
Irritabilidade e agitação.
•
Dormir demais ou falta de sono.
•
Alterações no apetite e ganho ou perda de peso não intencional.
•
Dor crônica ou outros sintomas corporais que não são causados
por doença ou lesão.
•
Pensamentos suicidas e de morte, ou tentativa de suicídio.
Um episódio de depressão é diagnosticado quando cinco ou mais
desses sintomas duram a maior parte do dia, quase todos os dias por um
período de duas semanas ou mais.
21
2 - Mania
•
Humor – classicamente “exaltado, mas instável”. No entanto,
algumas
pessoas
podem
mostrar
a
predominância
de
impaciência, irritabilidade e raiva.
•
Predominância da fala – aumento do volume ou velocidade,
algumas vezes indo a fugas de idéias com pensamentos rápidos
para as conexões a serem feitas.
•
Aumento da atividade motora – inclusive caminhar, escrever e
falar.
•
Grandiosidade ou superconfiança.
•
Trajes inadequados, assim como linguagem e ações.
•
Comportamento
intrusivo,
provocativo
ou
manipulador,
frequentemente chamando atenção para si.
A contribuição do site http://www.copacabanarunners.net/bipolar.html,
vem complementar que os sinais e sintomas da fase de mania incluem:
• Aumento de energia, atividade e agitação.
• Euforia excessiva.
• Irritabilidade extrema.
• Pensamentos voando e fala muito rápida, pulando de uma idéia
para outra.
• Falta de concentração.
• Pouca necessidade de sono.
• Crença irrealista em suas habilidades.
• Julgamentos pobres.
• Período duradouro de comportamento diferente do usual.
• Desejo sexual aumentado.
• Abuso de drogas, particularmente álcool, cocaína e remédios
para dormir.
22
• Comportamento provocativo, intrusivo ou agressivo.
• Negação de que alguma coisa está errada.
Um episódio de mania é diagnosticado se o humor elevado ocorre com
três ou mais outros sintomas pela maior parte do dia, quase todos os dias, por
uma semana ou mais. Se o humor está irritável, quatro sintomas adicionais
devem estar presentes.
23
CAPÍTULO II
O CUIDADO COM OS FAMILIARES DA PESSOA COM
TRANSTORNO AFETIVO DO HUMOR.
Repensando o cuidado em relação aos familiares.
Segundo Jonas Melman (2001, capítulo 4, p. 89, 91 a 93), é essencial
levarmos em consideração que o vínculo dos pacientes com a família é
geralmente
difícil,
permeado
de
problemas
e
obstáculos.
Conviver
cotidianamente com pessoas que apresentam transtornos mentais graves, e
ainda ter de cuidar delas, impõe uma série de encargos físicos, emocionais e
sociais.
Como ajudar os familiares na interação e na gestão da vida cotidiana
dos parentes adoecidos?
Primeiro momento: os familiares pedem ajuda.
Quando um familiar procura um profissional de saúde mental para tratar
de seu parente enfermo, surge a oportunidade de que este profissional possa
acolher o sofrimento não somente da pessoa adoecida, mas também do
familiar que o acompanha. Abrem-se as portas para um pedido de ajuda e
suporte para enfrentar as dificuldades no relacionamento com a loucura.
Esse é um momento delicado e fundamental. Os familiares precisam de
muita compreensão, pois ainda são frequentes os preconceitos em relação a
eles. São muitas as dúvidas e os questionamentos sobre as doenças e seus
tratamentos. Muitos médicos não dão informações detalhadas acerca da ação
dos fármacos e de seus possíveis efeitos colaterais. Não explicam os motivos
24
dos procedimentos terapêuticos. Além disso, os familiares se sentem sozinhos
e impotentes para compreender suas vivências.
Não existe um modelo universal de família. Cada pessoa tem um estilo
singular de viver e de lidar com as situações da vida.
Cada um tem sua maneira particular de olhar e reagir em relação às
doenças mentais.
Na maioria das situações, verificamos que os primeiros contatos entre os
terapeutas e os familiares se dão em entrevistas individuais. Em geral, nesses
encontros individualizados, as pessoas se sentem mais desinibidas e menos
constrangidas para abordar os problemas.
Para os que convivem cotidianamente com as questões ligadas aos
transtornos mentais, existem inúmeras evidências que sugerem a convivência
entre as famílias. Os familiares precisam conhecer outros familiares, pois esse
pode ser um caminho enriquecedor para todos os envolvidos.
De acordo com o site http://www.drauziovarella.com.br/entrevistas/valentim_bipolar.asp, a
família, diante de um caso de parente com transtorno bipolar do humor deve
antes de tudo, combater o medo, porque é ele que aparece primeiro. Depois, é
tentar não agir agressivamente contra a pessoa na fase de euforia. No começo,
ela é até engraçada, de pensamento ágil, criativa. Se os familiares não
estiverem inseguros e temerosos, poderão convencê-la a procurar atendimento
para um diagnóstico diferencial, a fim de eliminar possíveis causas imediatas
da doença. Se a intervenção ocorrer em 48 ou 72 horas, praticamente não
haverá prejuízo. O primeiro remédio que se receita hoje é uma visita a sites da
internet especializados em informar as pessoas sobre a regulação do humor
porque isso é fundamental na manutenção do tratamento.
25
Como a família deverá cuidar do paciente bipolar?
Segundo a monografia Transtorno Bipolar e Família de Eliane da Silva
Nalin de Souza (2004), além do tratamento medicamentoso prescrito pelo
psiquiatra ao paciente e acompanhamento psicológico de ambos, a família
deverá ser encorajada a:
• Proporcionar uma atmosfera amistosa, com estímulos adequados e com
estrutura e limites claros;
• Ajudar o paciente a manter o medicamento na dose prescrita pelo
psiquiatra;
• Estimulá-lo a comunicar ao médico quando as medicações estiverem
causando efeitos colaterais;
• Auxiliá-lo a identificar sinais de recaída;
• Comunicar imediatamente ao médico ideias de suicídio ou de
desesperança;
• Buscar entender a diferença entre jeito de ser (característicos de cada
pessoa) e sintomas;
• Evitar tomar atitudes que reforcem a discriminação e o preconceito;
• Estimular o retorno do paciente às atividades da família (lazer, rotinas
domésticas, festas) evitando demasiadas exigências ou superproteção;
• Reforçar o paciente a retomar sua vida ocupacional, social e afetiva;
• Evitar que a doença do paciente domine o ambiente familiar. Evitar,
portanto, que todas as decisões e planos familiares ocorram baseados
apenas no que o paciente precise, deseje ou tolere.
A carga enfrentada pela família.
A presença de uma pessoa com transtorno afetivo do humor produz um
impacto nos outros membros da família. Os familiares estão sobrecarregados
26
por demandas que envolvem a função de acompanhar seus membros
comprometidos e cuidar deles.
O conceito de sobrecarga familiar foi desenvolvido para definir a que os
familiares estão submetidos e o quanto a convivência com um paciente
representa um peso material, subjetivo, organizativo e social. Em geral, os
pacientes apresentam grandes obstáculos para produzir economicamente, o
que implica uma situação de dependência familiar. São altos os custos,
principalmente com medicação e tratamento.
O transtorno afetivo do humor gera muita tensão, estimula sentimentos
de impotência e vitimização; e alimenta amarguras. Nos casos em que a
gravidade do quadro é maior, a duração dos sintomas se prolonga por muito
tempo, os respectivos fracassos sociais dos pacientes, as dificuldades de
comunicação e interação, os frequentes insucessos nos tratamentos produzem
mais frustrações e desespero; e são um convite para um progressivo
isolamento de vida comunitária.
Do ponto de vista emocional, o estresse, as vivências de instabilidade e
insegurança, os conflitos frequentes nas relações fazem parte do cotidiano
dessas pessoas.
O conhecimento desse quadro de sobrecarga por parte dos profissionais
de saúde sugere que as intervenções terapêuticas levem em consideração
essa realidade.
27
Transtorno bipolar na família: a rejeição.
Para Teng Chei Tung, o carinho e a compreensão da mãe, a segurança
do pai, o companheirismo dos irmãos, todos esses sentimentos são o que as
pessoas esperam ao voltar para casa ao se sentirem fragilizadas.
No transtorno bipolar, esse tipo de solução é muito comum. Portanto, a reação
da família quando uma pessoa fica depressiva depende do papel que cada
pessoa assume nela. Alguns exemplos serão vistos a seguir.
Transtorno bipolar no provedor da família.
Existe o caso de o transtorno bipolar ocorrer no provedor da família,
aquela que sustenta financeiramente. Nesse caso, uma depressão ou uma
mania acaba quando uma situação altamente estressante para todos, em
virtude de a segurança da família ficar abalada, e a insegurança acaba
tomando conta dos membros envolvidos.
Pessoas que não tinham esse papel passam a ter a obrigação de
sustentar e tomar decisões, quase sempre sem estarem preparadas
psicologicamente para essa função na família. Os filhos menores sofrem um
pior desempenho escolar, pior relacionamento na escola e com as outras
crianças, e numa regressão para comportamentos mais infantis, como as
“manhas” que já tinham sido superadas.
O próprio provedor que está deprimido acaba sentindo essa pressão
extra, como se tivesse obrigação de reagir. Entretanto, o lado biológico é mais
forte que a vontade psicológica de resistir à depressão. Ele vai se cobrar e se
frustrar, pois não conseguirá reagir sem ajuda.
28
Ninguém da família aceitará de fato essa situação, sempre achando que
o provedor ficou fraco, incompetente ou louco, sem poder confiar mais nele, a
não ser que aquela postura seja encarada como consequência de uma doença.
Já o provedor da fase maníaca cria situação de alto risco para finanças,
patrimônio e as fontes de renda (emprego ou empresa), também cria situações
que possam prejudicar as relações familiares, como promiscuidade sexual,
brigas e agressões, e comportamentos inadequados em público que gerem
vergonha para a família. Ainda mais grave: o provedor não reconhece que está
alterado, criando mágoas que podem ser revertidas.
Transtorno bipolar no casal.
O transtorno bipolar em um dos cônjuges é uma garantia de dificuldades
e sofrimentos prolongados na relação.
Em geral, quando a esposa fica deprimida, o marido tem pouca
paciência com as queixas, criticando a falta de vontade, o descuido geral, ou a
falta de desejo sexual.
Já quando o marido fica depressivo, a reação da esposa pode variar
mais, como reconhecer que o marido está “diferente” ou “doente”. A esposa
pode reagir de maneira menos compreensiva, cobrando do marido uma reação
ativa, criticando a falta de motivação ou de iniciativa.
Quase sempre a relação conjugal é prejudicada pelo transtorno bipolar.
O casal desiste de ter relações sexuais, ou diminui a freqüência, fato que lhes
dá a sensação de não se gostarem mais.
Sentem-se irritados um com o outro e a paciência vai se esgotando aos
poucos.
29
Depressão nos outros familiares próximos.
Quando uma depressão ou mania atinge um dos avós, tios, primos, mas
com o qual não se vive cotidianamente, os parentes percebem que algo está
errado e não sabem quando devem se intrometer.
Se a depressão piora, a família o trata como doente mental, “fraco de
cabeça”. Se alguém se dispusesse a de fato ajudar, a paciência e o esforço
seriam menores se comparados com o caso de um parente com outro tipo de
doença, como um infarto do coração ou câncer. Mesmo depois que o parente
deprimido melhora, os familiares ficam desconfiados dele, achando que não é
mais tão confiável como antigamente.
Dado o exposto, uma pessoa bipolar sempre vai precisar de apoio, e a
fonte mais segura e eficaz quase sempre vem da família. Para isso, dois
pontos são fundamentais: informação e paciência.
A postura da família deve ser sempre encarar a pessoa bipolar como
uma pessoa doente.
Se os familiares tiverem a informação de que é um problema de saúde
que tem tratamento, a reação poderá ser diferente. Precisam estimular o
paciente a se tratar, a procurar um médico; convencê-lo de que a depressão
não é fraqueza de caráter, ou doença mental incurável, que não é loucura. E,
se o paciente bipolar recusar ao tratamento, a família precisa tomar uma
atitude mais firme, como levá-lo ao médico mesmo contra sua vontade.
30
CAPÍTULO III
A ARTE COMO TERAPIA PARA O TRANSTORNO
AFETIVO DO HUMOR.
Podem os maníaco-depressivos superar sua doença?
K. F. Goodwin (1974) em seus estudos, trata de demonstrar como o
prognóstico dos pacientes maníaco-depressivos é favorável. Cerca de 70% dos
hospitalizados que recebem tratamento especializado se recuperam no prazo
de um ano ou menos. Com os modernos métodos de tratamento, em cerca de
1 ano, a cada 5 pacientes, permanecem completamente livres de episódios
posteriores durante o restante de suas vidas.
As reações depressivas psicóticas são semelhantes à fase depressiva
da psicose maníaco-depressiva.
O Uso Terapêutico de Filmes Cinematográficos
Para Abraham Luchins (1964, p. 73 a 75), os filmes de cinema são
frequentemente empregados a título de recreação em hospitais, e há quem
diga que sua escolha se baseia, às vezes, em princípios terapêuticos (cf. Katz,
1948). Que os filmes podem mudar as atitudes das pessoas, já o
demonstraram alguns estudos de psicologia social; entretanto, pouco se sabe
sobre os efeitos de determinado filme sobre as atitudes dos pacientes. Por
conseguinte, depois que se exibe um filme, talvez seja útil estabelecer breve
discussão com os pacientes a fim de observar-lhes as reações. Isso pode ser
feito pelos auxiliares da enfermaria. Tais discussões não só ajudarão a liberar
alguns sentimentos que o filme possa ter gerado, mas também a coligir dados
31
sobre os efeitos, nos pacientes, daquele filme em particular e dos filmes em
geral.
A seleção dos filmes e a discussão dos seus efeitos sobre os pacientes
podem ser usadas como atividades terapêuticas de tomada de decisão e
pesquisa de ação. Por exemplo, os pacientes podem ter voz ativa na escolha
do filme dentre os que figuram numa lista de filmes disponíveis. Durante a
seleção, os pacientes revelarão suas expectativas e razões para preferir um
filme a outro. Depois de terem chegado a uma decisão e assistido ao filme,
discutirão o que viram. A discussão pode versar a relação entre o que os
pacientes esperavam e o que ocorreu, sua reação ao conseguirem ou não o
que desejavam, as razões para interpretações diferentes das mesmas cenas, e
assim por diante. As diferenças de percepção e rememoração se resolvem pela
reexibição de parte do filme.
Em alguns casos, as sessões de terapêutica de grupo centralizam-se em
torno de filmes (Prados, 1951). Por exemplo, depois de exibido um filme,
segue-se uma discussão em que se estimulam os pacientes a expressar seus
sentimentos e ideias a respeito das cenas e dos atores e também a relacionar
os atores a si mesmos e às pessoas que conhecem. Ou, então, apresenta-se
parte do filme e pede-se aos pacientes que predigam o que acontecerá em
seguida e exponham as razões das suas predições. Depois que se exibe a
parte seguinte do filme, coejam-se as predições e os resultados e discute-se
por que alguns adivinham corretamente e outros não. A seguir, predizem a
cena seguinte da mesma maneira. Os filmes também podem ser usados para
psicodrama e dramatização, enunciando-se o problema de determinada ação
no filme e solicitando-se a diversos pacientes que o representem com ou sem
modificações (Luchins, 1948 e 1950).
Os filmes têm sido utilizados como tipos de instrução e orientação de
terapêutica de grupo, e também para expressão e debate de sentimentos. De
fato, alguns filmes são feitos sob medida para ilustrar a dinâmica de certos
32
tipos de problemas, como a hostilidade e a solidão. Outros apresentam pouco
ou nenhum conteúdo, mas dependem da cor, da imagem e da música para
oferecer aos pacientes oportunidades de libertarem emoções e sentimentos
(Rome, 1945; Rubin e Katz, 1946). Em suma, os filmes cinematográficos
podem ser adaptados às necessidades específicas de um grupo específico ou
servir para controlar os efeitos particulares desejados pelo terapeuta.
A produção, a representação e outros aspectos da feitura de filmes
podem ser usados como projetos de terapêutica de grupo da mesma maneira
que as atividades da terapêutica ocupacional. De mais a mais, os filmes
também se integram em outras atividades dramáticas. Por exemplo, uma peça
escrita e produzida por pacientes de um hospital pode ser filmada e exibida aos
atores a fim de evocar-lhes as reações ao se verem no filme.
A Arte Como Terapêutica
A obra de arte (escultura e pintura) também foi empregada (Hartley e
Gondor, 1956) na psicoterapia individual e de grupo, em que os pacientes
pintam ou esculpem em presença um do outro. Acreditam alguns terapeutas
que a presença de outros facilita a expressão dos sentimentos (cf. o conceito
de F.H. Allport [1924] da facilitação social). Além de empregarem a arte, alguns
terapeutas lidam também com as relações interpessoais e outros problemas
que ocorrem durante as sessões de arte. Outros usam a arte dos pacientes
como estímulos para a discussão, fazendo, por exemplo, que os pacientes
emitam impressões ou juízos sobre a própria obra e sobre a obra de outros. O
grupo discute suas reações em conceitos analíticos e/ou em termos de
percepção social e expressão de emoções e sentimentos (empatia). [P. 73 a
75]
33
A Música Como Terapêutica
A música que tem sido usada com finalidades de recreação, inspiração e
catarse, tem sido justificada pela terapêutica como possuidora de um efeito
suavizante, capaz, portanto, de ajudar a aliviar a tensão e animar os pacientes
a expressarem emoções de outro modo inexprimíveis (Altshuler, 1945). Como
acontece com outras atividades recreativas, existem muitas maneiras pelas
quais se podem integrar a música na psicoterapia, terapia de grupo. Por
exemplo, as reuniões de grupo poderão converter-se em experiência de
psicoconsistir em audição de música, execução de música ou utilização de uma
única seleção musical como ponto de partida para a discussão dos
pensamentos e estados de espírito que ela evoca no grupo. Os pacientes que
vão ouvir os discos, seja numa reunião de grupo, seja na enfermaria, decidirão
sobre a escolha. Talvez surjam conflitos em torno da conveniência de se tocar
música erudita ou música popular, da natureza das seleções e da altura do
som em que devem ser tocados os discos escolhidos. É possível que ocorram
também discussões sobre preferências e aversões em relação à música e
sobre as expectativas e consecuções tocantes à experiência musical. E em
cada
um
desses
casos
talvez
interesse
ao
terapeuta
observar
o
comportamento social e as reações dos pacientes à música, comparando os
que manifestam sentimentos vigorosos favoráveis ou desfavoráveis ao gênero
de música tocada. O coro, a banda, a orquestra ou os conjuntos podem ser
utilizados no hospital como veículo de terapêutica de grupo não verbal e/ou
utilizados como terapêutica de grupo verbal quando se focalizam os problemas
dos membros do grupo. As atividades musicais também se coordenam com
outras atividades como, por exemplo, as produções dramáticas. As execuções
serão franqueadas tanto à comunidade do hospital quanto à comunidade alheia
ao hospital. [P. 76 a 77]
34
Dramatização
A dramatização se origina do trabalho de Lewin e Moreno (Lippitt, 1943).
Depois que os membros do grupo são apresentados um ao outro e postos à
vontade, o líder os ajuda a inventariar seus problemas. Em seguida, o grupo
dispõe os problemas na ordem em que deseja vê-los examinados. Escolhido o
primeiro, o líder solicita exemplos específicos, e o grupo se decide pelo
exemplo que deve ser representado. Feito isso, estabelecem-se os papéis e
escolhe-se uma pessoa para cada papel.
Durante a dramatização, utilizam-se várias técnicas para elucidar
nuanças do problema.
1. O líder chamará a atenção do grupo para que observe deixas
específicas na representação, tais como movimentos expressivos.
2. Qualquer intérprete ou membro do grupo interromperá a cena
erguendo a mão, ponto em que o líder suspende a representação e
dá a palavra à pessoa. Isto se faz para permitir aos atores que
expressem seus sentimentos sobre o que estão dizendo ou fazendo
e conseguir que os demais participem.
3. Após a representação, cada um dos atores conta como se sentiu e
quais foram seus pensamentos enquanto desempenhava o papel. Os
membros do público também podem narrar suas reações. [P. 54 a
55]
35
Psicodrama
Criada pelo Dr. Jacob Levy Moreno, a técnica psicodramática emprega
principalmente cinco instrumentos: o palco, o sujeito ou ator, o diretor, o quadro
de auxiliares terapêuticos ou egos auxiliares e o público.
Para Claudemiro G. Blini, Moreno foi o estruturador e principal defensor
da eficiência dessa técnica no tratamento de distúrbios psico-emocionais.
Trata-se de uma técnica de conhecer a linguagem de distúrbios neuróticos,
através de representações teatrais. Aliás, Fenichel, focalizando as doenças
psicossomáticas, refere-se às mesmas designando-as de “linguagem dos
órgãos”, que seria o adoecimento de órgãos em decorrência de fatores psicoemocionais.
A humanidade, sobretudo nos grandes centros populacionais, está
dividida em três grupos: os pequenos desajustados, os médios desajustados e
os grandes desajustados, incluindo-se, entre estes, os esquizóides, paranoides
e psicopatas. Por isso, as técnicas de tratamento proliferam, com suas
respectivas colorações. Assim é, por exemplo, o Psicodrama, em que os
desajustados, adiantados ou não, na ânsia de se livrarem dos males que os
afligem, se expõem à narração ao vivo, em forma de representações teatrais.
Se com isto conseguem se desvencilhar de seus problemas, ou pelo menos
suavizar os sistemas dos mesmos, nada temos a opor a essa técnica de
tratamento, visto que os fins justificam os meios; todavia, repetindo o já dito,
representamos muito na vida, particularmente aqueles que não se aceitam.
Psicodrama e Sociodrama são, segundo os seus proeminentes
defensores, altamente benéficos para reparar desordens mentais.
36
No Psicodrama se obtém os mesmos resultados que se espera da
psicoterapia de grupo. Seus adeptos entendem ser a melhor técnica de
tratamento, por ser a melhor forma de reproduzir a vida real.
Exemplifica-se agora, como aplicar esse tratamento, uma vez por
semana, num grupo de 12 pessoas, com a maior variedade possível de
desordens mentais. As sessões têm duração de duas horas e são dirigidas
pelo diretor de Psicodrama, que por sua vez é auxiliado pelo Ego-Auxiliar
(especialista que representa as cenas mais emotivas como coadjutor do
paciente).
Apesar do estudo e prática dessa técnica, pessoas que vêm fazendo
esse tratamento, não dão resultados que correspondam aos benefícios
anunciados pelos apologistas do Psicodrama. [P.157 a 159]
O palco, de forma idealmente circular, utiliza-se para proporcionar um
espaço de vida multidimensional, que permita a mobilidade e a flexibilidade das
ações e onde a realidade e a fantasia não estejam em conflito. Ao sujeito, do
qual se solicita que seja ele mesmo e não um ator, permite-se espontaneidade
e liberdade de expressão. Existem diversas formas de representação: simular
estar num papel; representar uma cena passada ou nova representação; viver
um problema presente; experimentar-se com vistas ao futuro. Como dramatis
personae terá o sujeito as pessoas reais do seu mundo (esposa, mãe, filho
etc.) ou os auxiliares terapêuticos ou atores que as representam (egos
auxiliares). O diretor funciona como produtor, conselheiro e analista e pode
completar sua interpretação com respostas vindas de membros do público
informados sobre o sujeito (esposa ou esposo, pais, filhos, amigos e vizinhos).
O quadro de egos auxiliares tem a dupla significação de ser uma extensão do
diretor – orientando o sujeito e ajudando-o a examinar suas reações – e
também uma extensão do sujeito – representando as pessoas reais ou
imaginárias do drama de sua vida. O ego auxiliar funcionará como ator,
conselheiro
ou
investigador
social.
O
público,
cujas
respostas
são
37
espontâneas, tem o duplo propósito de ajudar o sujeito e ser ajudado por ele.
[P.57 a 58]
O trabalho monográfico Arteterapia X Transtornos Bipolares de Ana
Aparecida Aldão Broullon (2002), mostra que a arteterapia pode auxiliar no
tratamento das diversas fases, como:
1 - Arteterapia para a fase maníaca (eufórica).
Em alguns casos trabalha-se na frente do espelho, aprimorando sua
imagem corporal, pois ele pensa que é grande. Se estiver vivenciando o
narcisismo, o espelho não é recomendado. Devem-se evitar estimulações
excessivas, mas simultaneamente, orientar atividades que descarreguem seu
excesso de energia. Pode-se trabalhar com papel, pedindo para que ele rasgue
ou pique e depois crie através de colagens. As massas para socar e modelar
também lhe são muito favoráveis. Atividades expressivas, incluindo a
expressão corporal devem ser praticadas de forma gradual, onde, aos poucos
iremos marcar limites, sendo a autoexpressão aprimorada.
2 - Arteterapia para a fase depressiva.
Se o cliente for hipossônico, utiliza-se terapia de relaxamento,
utilizando fundos sonoros que o agradem, associados à expressão e terapia
corporal, consciência de si mesmo e do outro; trabalho respiratório e
concentração, tomando máximo cuidado com o tipo de música, que pode tornálo ainda mais depressivo. Caso seja hipersônico trabalha-se com atividades
mais agitadas, danças, músicas com ritmo rápido, estímulo de catarse.
Os objetivos imediatos devem ser: exclusão da pessoa das situações
que aflorem sentimentos de preocupações mórbidas excessivas, melhorando
sua capacidade física para retornar o indivíduo ao convívio social. Deve-se
mantê-lo de pé por mais tempo, em contato direto com a natureza. Deve-se
38
estar sempre ao seu lado, pois é arriscado deixá-lo sozinho. Ele pode tentar o
suicídio, principalmente quando melhora da crise, pois tem medo de voltar a
sofrer de novo.
Deve-se também trabalhar com ele em grupos, à medida que for se
recuperando, utilizando, ainda, atividades livres – expressivas, como o desenho
e a pintura, para liberar seus conteúdos internos. Os materiais aguados e a
própria água lhe trazem grandes benefícios.
3 - Arteterapia para as fases mistas.
3.1 - Mania medrosa-depressiva
Trabalha-se com pequenos grupos, utilizando materiais naturais,
amenizando suas ansiedades. Os principais objetivos são fazer com que esse
cliente sinta-se à vontade e adquira total confiança no relacionamento para,
posteriormente, integrá-lo ao grupo, ampliando sua autonomia. Vivências
frustrantes devem ser evitadas, pois aumentam o negativismo e os sentimentos
de culpa. Tem-se que mostrar sempre o lado positivo das coisas e referir-se às
suas qualidades e valores como ser humano.
3.2 - Mania pobre em pensamentos
Trabalha-se com poemas, descrições, cantos que aprimoram o
vocabulário, além da expressão corporal e socialização. As cópias de textos
com palavras diversificadas também auxiliam na sua qualidade de se expressar
verbalmente. As danças promovem melhor agilidade nos movimentos e,
cognitivamente, lhe auxiliam na tomada de consciência do que faz e também
de si mesmo.
39
3.3 – Mania improdutiva
Deve-se proporcionar ao cliente um ambiente de trabalho o mais
tranquilo possível, de preferência com um fundo sonoro, evitando ao máximo
as atividades que causem ansiedades, como competir, dançar, lançar objetos,
ou seja, aquelas que lhe aflorem sentimentos competitivos e que lhe causem
bloqueios. A pessoa deve canalizar sua energia na construção e confecção de
objetos, em atividades artísticas, buscando resgatar e aprimorar sua
criatividade. Aprender a tocar um instrumento de seu interesse, tentando, com
auxílio, compor uma canção ou escrever um verso. Deve-se trabalhar com as
palavras, fazendo associações entre elas, tanto no vocabulário verbal, quanto
na escrita. O fundamental é atenuar a intensidade do seu tônus emotivo.
Exercícios relaxantes, trabalhando a respiração e mantendo contato com
materiais naturais (principalmente a água) exercem grande influência no seu
tratamento. Também devemos evitar frustrações e fantasias.
3.4 – Depressão agitada
Tem-se que incentivar o alívio emocional, fazer exercícios de expressão
corporal (de maneira rítmica), mantendo o cliente em ambientes alegres, com
músicas festivas e folclóricas (resgatando a consciência e a capacidade para
associações). O fundamental é tirar o cliente da fixação em lembranças
mórbidas de seu passado. Deve-se estimulá-lo a lidar com frustrações de
maneira positiva, aprimorando sua capacidade para aceitar as transformações
no seu cotidiano. Trabalhos com a terra e a construção de obras plásticas,
utilizando papel, cola, massa de modelar e argila, lhe são bastante benéficos,
pois através destes materiais, o cliente descarrega seu excesso de energia,
extravasando conteúdos internos.
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O propósito é reestruturar o cliente para readaptá-lo ao ambiente externo,
promovendo essa socialização através da arte. As atividades artísticas e as de
livre expressão são fundamentais.
3.5 – Mania inibida
O objetivo é aprimorar o seu curso de pensamento e vinculá-lo à ação,
sem causar qualquer tipo de tensão ou ansiedade, promovendo a liberação do
pensamento, quando não estiver criando, através de abordagens sobre
determinado assunto, sobre si mesmo (sendo de seu interesse). Atividades
artísticas realizadas ao ar livre, para atenuar certos bloqueios, estimulando-o
também através de exercícios que envolvam sua expressão corporal, além das
atividades expressivas, como desenho, pintura e colagem.
3.6 – Depressão com fuga de idéias
O essencial é trabalhar-se as suas emoções de maneira positiva,
através dos desenhos, da pintura, escultura, atividades de canto, dança,
expressão corporal, além de promover o alívio emocional e a concentração no
que se faz.
Em clientes pouco motivados a produzir, o atelier de pintura pode
oferecer-lhes uma tela pintada, cuja estampa seja o retrato de um quadro
favorito. Dessa maneira, a criação na sua forma espontânea acabará
aparecendo, a partir do momento em que o bloqueio emocional começar
abrindo as portas.
O trabalho monográfico A Arteterapia no Tratamento do Distúrbio Bipolar
– Enfoque na Dramaterapia de Letícia Bragança dos Santos Ribeiro Amorim
(2004), apresenta:
41
A moderna Dramaterapia
Começou a ser desenvolvida de fato, nas primeiras décadas do século
XX. Constantin Stanislavsky desenvolveu uma técnica denominada “memória
emocional”, onde o ator deveria desempenhar emoções que já tenha
vivenciado na sua vida real.
Esta atenção teatral para o conteúdo psicológico dos papéis, para um
naturalismo emocional, para uma autoanálise dos sentimentos e para um
reviver indireto dos afetos, contribui de modo especial para a consideração
destes elementos na Dramaterapia.
Em oposição ao naturalismo psicológico de Stanislavsky, Berthold
Brecht se preocupou com as técnicas teatrais em si, influenciou a Dramaterapia
em relação aos aspectos do processo de identificação com os papéis
desempenhados, ao uso de uma situação de palco e espectadores, que é
usada em alguns modelos de Dramaterapia, assim como o uso de acessórios
de cena (móveis, bonecos, fantoches, etc.) e guarda-roupa contendo diferentes
fantasias.
Antonin Artaud, baseado nas teorias psicodinâmicas do inconsciente,
chamou a atenção, entre outros fatores psicológicos, para a importância da
somatognosia (percepção mental do corpo, das suas posições e movimentos),
da expressão das emoções através do gesto e da comunicação não-verbal
destas
expressões,
também
pontos
fundamentais
considerados
em
Dramaterapia.
Alguns grupos teatrais são formados com o propósito de aliviar o
sofrimento dos pacientes hospitalizados. Da “Terapia pelo Teatro”, evoluiu-se
para a verdadeira Dramaterapia, onde os pacientes deixavam de assistir as
42
dramatizações, para serem os próprios atores, desenvolvendo uma autoterapia através de suas próprias criações dramáticas.
A Dramaterapia distingue-se do Teatro e da Expressão Dramática, no
momento em que seus objetivos são terapêuticos, pretendendo curar, ajudar
na cura ou, pelo menos, aliviar o sofrimento. Já o Teatro, tem como objetivo a
realização de espetáculos teatrais e; a Expressão Dramática, pretende realizar
uma ação educativa.
Dramaterapia no tratamento do Transtorno Afetivo do Humor
Na Dramaterapia faz-se necessário que o paciente expresse como se
sente no momento presente, não só através de palavras, mas também por
gestos e por movimentos. O paciente deve atuar não só no papel das suas
situações imediatas, mas também em papéis que contrastam com as suas
aspirações reais.
Assim, no momento em que o paciente atravessa uma fase de
depressão profunda, por exemplo, teria que assumir um papel contrário,
demonstrar alegria. Sabe-se que a depressão, a tristeza, pensamentos
destrutivos e pessimistas, tomam a mente do indivíduo. Portanto, haveria a
tentativa de passar o sentimento depressivo.
Métodos e técnicas em Dramaterapia
No caso de uma Dramaterapia em grupo, caberia ao arteterapeuta a
escolha do tema a ser representado, a fim de levar em consideração os
interesses do grupo e a finalidade da terapia. Após ser dramatizado um tema, o
grupo discute a atuação sucedida, propondo modificações, ajustes e alterações
de papéis, antes de se repetir a atuação.
43
A Dramaterapia pode ser trabalhada individualmente, com crianças,
adolescentes, adultos, casais, idosos e famílias.
Como o principal alvo do Transtorno Afetivo do Humor são os adultos,
estaremos focalizando esse grupo.
As técnicas dramaterapêuticas são praticadas em três planos:
1- Plano do Passado – Presente – Futuro, em que a situação
dramatizada pode estar temporariamente situada no passado, no presente ou
imaginando-se no futuro.
2- Plano do Imaginário - Simbólico – Real, em que alguns modelos
dramaterapêuticos preferem que as cenas representem aspectos da vida real
do paciente, deixando para a dramaterapia infantil as representações
imaginárias (fadas, príncipes, animais...). Também para as improvisações
espontâneas de papéis fictícios destinadas à descoberta de papéis que o
paciente gostaria de ter desempenhado na vida, mas não o fez.
3- Plano do Modo de Ação: Direto/Indireto, em que no Direto, o
paciente aborda diretamente os seus próprios problemas, enquanto que no
Indireto, os problemas não são imediatamente abordados de forma direta.
Previamente,
realiza-se
um
“aquecimento”,
que
levem
a
uma
mobilização corporal para a ação e a uma disposição e concentração
psicológica. Esse “aquecimento” é desenvolvido através de pequenos
exercícios de Expressão Corporal, de Psicodança, Jogos de Imitação, Mímicas
e/ou pequenas improvisações.
Após o “aquecimento”, faz-se a autoapresentação. O paciente se
apresenta diante dos demais, conta fatos marcantes de sua vida. Depois, cada
44
um representa pessoas com as quais convive intimamente: pai, mãe, marido,
esposa, filhos...
A Improvisação segue a Auto-apresentação, onde são realizadas ações
espontâneas, sem texto prévio ou ensaio, seguindo apenas a uma pequena
orientação do arteterapêuta. O paciente representa fatos imaginários.
Os Jogos de Comunicação também são usados com o objetivo de levar
os pacientes a praticar a comunicação entre si, podendo ser uma comunicação
verbal ou não-verbal.
Expressar, por exemplo, um sentimento, um pensamento, um desejo,
uma esperança, uma frustração, usando a mímica ou a improvisação.
O Jogo de Papéis (Role-Playing), proporciona ao paciente a exploração
de problemas de relações humanas, pela ação dramatizada de situações
problemáticas em que o indivíduo tem de atuar e buscar soluções para as
mesmas. Como o paciente repete a dramatização do problema, mudando os
papéis desempenhados, conseguem-se diversas soluções para um mesmo
problema.
A troca de papéis permite ao indivíduo analisar o problema do ponto de
vista do outro, sendo a sua atitude, complementar à atitude do outro e viceversa.
Dentro da Dramaterapia existe também o Psicodrama, encarado como
técnica específica, criada por Jacob Levy Moreno (1892-1974), sendo derivado
do teatro, mas com conotação de Terapia de Grupo e, posteriormente, ligado à
Psicanálise freudiana. Moreno cria o “Teatro da Espontaneidade”, onde atores
seguem um roteiro flexível, não tendo que decorar e improvisando todas as
ações. Moreno também cria, em 1936, o “Teatro Terapêutico”.
45
Para
Moreno,
que
contestou
aspectos
básicos
da
psicanálise
(inconsciente, passado histórico do paciente, interpretação de sonhos e
processos de transferência), o conceito de inconsciente é utilizado no sentido
de “estados inconscientes”. Ao invés de fazer reviver cenas eventualmente
traumatizantes do passado, Moreno centra a sua ação nas situações do
presente do paciente que lhe causam sofrimento.
46
CONCLUSÃO
Em virtude dos fatos mencionados nesta pesquisa, visamos identificar
e explicar as mais importantes teorias e abordagens disponíveis em livros e
sites da internet a respeito do Transtorno Afetivo do Humor, que nos propiciam
uma visão geral dos aspectos dessa doença, bem como a importância do
tratamento alternativo arteterapêutico para o paciente e sua família.
A descrição da doença com suas diversas fases ou tipos foi uma
maneira de mostrar a melhor forma de conhecer e coordenar o paciente,
buscando integração entre sua família, psiquiatras, psicólogos, arteterapêutas
e sociedade.
O relacionamento existente entre paciente bipolar e sua família tende
a cuidados delicados nos aspectos emocionais, físicos e sociais para ambos os
lados. A família também deve ser assistida, tendo como base o conhecimento
da doença e, como apoio, exercer técnicas arteterapêuticas como suporte para
enfrentar as dificuldades no relacionamento com um parente bipolar.
É importante ressaltar que a terapia através da arte em pacientes com
transtorno afetivo do humor e sua família, é fundamental em todas as fases.
Suas linguagens e respectivas modalidades artísticas exercem grande
influência no estado geral do “sujeito”, reestruturando sua psique e
capacitando-o na luta pela sobrevivência e seus relacionamentos interpessoais.
47
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AMORIM, Letícia Bragança dos Santos Ribeiro. A ARTETERAPIA NO
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BLINI, Claudemiro G. Enciclopédia Contemporânea de psicologia e Relações
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Educação e Saúde, 2002. <http://www.avezdomestre.com.br> Acessado em
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DE SOUZA, Eliane da Silva Nalin. TRANSTORNO BIPOLAR E FAMÍLIA. Rio de
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48
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1976.
BIBLIOGRAFIA CITADA
DE PAGE, J. Abnormal Psychology. Nova Iorque, McGraw – Hill, 1975. (P. 513,
515)
49
ANEXO
INTERNET
Drauzio Varella.com.br
Transtorno bipolar
Valentim Gentil Filho é médico e professor de Psiquiatria na Universidade de São
Paulo.
No passado, o transtorno bipolar era conhecido pelo nome de psicose maníacodepressiva, uma doença psiquiátrica caracterizada por alternância de fases de depressão
e de hiperexcitabilidade. Nesta fase, a pessoa apresenta modificações na forma de
pensar, agir e sentir e vive num ritmo acelerado, assumindo comportamentos
extravagantes como sair comprando compulsivamente tudo o que vê pela frente.
Sabe-se que os transtornos bipolares estão associados a algumas alterações funcionais
do cérebro que possui áreas fundamentais para o processamento de emoções, motivação
e recompensas. É o caso do lobo pré-frontal e da amígdala, uma estrutura central que
possibilita o reconhecimento das expressões fisionômicas e das tonalidades da voz.
Junto dela, está o hipocampo que é de vital importância para a memória. A proximidade
dessas duas áreas explica por que não se perdem as lembranças de grande conteúdo
emocional. Por isso, jamais nos esquecemos de acontecimentos que marcaram nossas
vidas, como o dia do casamento, do nascimento dos filhos ou do lugar onde estávamos
quando o Brasil ganhou o campeonato mundial de futebol.
Outro componente envolvido com os transtornos bipolares é a produção de serotonina
no tronco-cerebral (o cérebro arcaico), uma substância imprescindível para o
funcionamento harmonioso do cérebro.
•
Discutindo a nomenclatura
Drauzio – Por que, nos anos 1980, a antiga psicose maníaco-depressiva
passou a chamar-se transtorno bipolar?
Valentim Gentil Filho – Analisando separadamente os elementos que compõem
esse nome, pode-se dizer que a palavra psicose carrega a conotação de estigma,
isto é, de marca infamante, vergonhosa. Maníaco, por sua vez, é um termo
técnico derivado do grego e significa loucura. De fato, na fase de
hiperexcitabilidade, o indivíduo é o estereótipo do louco já que suas atitudes
destoam, e muito, do padrão normal de seu comportamento. Depressivo era o
termo mais brando dos três e que menos impacto causava. Por isso, considerouse que a expressão psicose maníaco-depressiva era pesada demais para designar
uma doença que, de certa forma, não era tão terrível quanto o nome fazia supor.
Na verdade, trata-se de um transtorno de humor que oscila entre o pólo da
euforia, da mania ou da hipomania, do qual faz parte esse comportamento
50
excitado e desorganizado, e o pólo da depressão, retomando a pessoa depois o
equilíbrio sem grandes prejuízos comportamentais nem na integração das
emoções e dos pensamentos. De qualquer modo, a palavra psicose não era de
todo descabida porque, durante a crise, algumas pessoas ficam realmente
psicóticas, ou seja, apresentam uma afecção muito grave da psique com
alucinações e delírios, o grau extremo desse transtorno de humor. A partir do
momento, porém, em que essa afecção grave recebe tratamento eficaz e
adequado, o quadro torna-se benigno a tal ponto que é possível conviver com
pessoas portadoras de transtorno bipolar de humor sem identificar o problema.
Essa mudança de nomenclatura ocorreu, então, para diminuir o estigma e para
estabelecer distinção entre esse tipo de transtorno e as depressões unipolares que
nunca evoluem para a fase de euforia, de mania ou hipomania. Além disso, essa
distinção foi importante para verificar se biologicamente as patologias eram
diferentes e, portanto, exigiam condutas especiais de tratamento.
•
Euforia patológica
Drauzio – Todos atravessamos na vida fases de grande euforia e de grandes
tristezas. Como diferenciar o quadro normal do patológico?
Valentim Gentil Filho – Em psiquiatria, os termos ainda não atingiram a
especificidade necessária. Por exemplo, etimologicamente, a palavra euforia
quer dizer humor normal, bom humor. Se o indivíduo está eufórico no carnaval,
no dia do aniversário ou porque ganhou um prêmio ou um campeonato, isso
nada tem de anormal nem de patológico. O que chama a atenção é a
desproporção entre as circunstâncias e as reações, ou seja, o comportamento é
desproporcional aos fatos ou inadequado ao ambiente. A pessoa está alegre e
eufórica quando nada ao redor justifica tais sentimentos. Como sua autocrítica
está comprometida, age como se estivesse (e não está) sob o efeito do álcool ou
de drogas. Seu pensamento fica acelerado e desorganiza-se de tal modo que os
assuntos surgem em tumulto e é difícil acompanhar sua linha de raciocínio.
Drauzio – Dê um exemplo para ficar mais claro.
Valentim Gentil Filho – Existe um filme em que uma das personagens, Mr.
Jones, assume o comportamento típico desses pacientes. Nas crises de euforia,
os portadores de transtorno bipolar apresentam menor necessidade de sono. Mr.
Jones levantava-se às 4h da manhã e, sem se incomodar com o descanso alheio,
ligava o rádio bem alto como se as atividades por ele programadas para aquele
dia interessassem a todos. Noutros momentos, julgando-se dono de um poder
extraordinário, subia no telhado certo de que poderia alçar vôo. Nessas crises de
agitação, mexia com as pessoas e falava tão depressa que ninguém conseguia
acompanhar seu pensamento. Às vezes, apesar da genialidade aparente,
expunha-se a riscos desnecessários e descabidos.
Em geral, as famílias logo percebem que alguma coisa mudou e a pessoa
também pode notar a diferença. Isso é de extrema importância como sinal de
alerta. Na medida em que o próprio indivíduo e os familiares se dão conta dessa
liberação exagerada de energia e humor, algumas providências podem ser
tomadas para reverter o quadro. Se, porém, o problema passa despercebido ou é
51
negado, as conseqüências podem ser desastrosas. O frenesi e desorganização
mental, depois de algumas semanas, podem provocar um estado de exaustão
perigoso e as pessoas mais idosas correm o risco de descompensação metabólica
ou de crises de hipertensão.
É importante repetir, então, que apesar de bem no início a sensação de euforia,
de prazer, de energia, de percepção aguçada, inteligência viva e criatividade ser
muito agradável, ela pode representar perigo, chegando a constituir, no passado,
uma das causas importantes de mortalidade.
•
Fatores genéticos e ambientais
Drauzio – Filhos de pessoas com transtorno bipolar apresentam possibilidade
maior de desenvolver essa patologia?
Valentim Gentil Filho – Sabe-se, desde a Antiguidade, que a existência de um
caso de transtorno bipolar numa família aumenta a possibilidade de que a
enfermidade se manifeste em outros membros da mesma família. O
desenvolvimento da genética permitiu analisar grande número de gêmeos nos
quais a patologia torna-se mais evidente. Gêmeos idênticos ou monozigóticos
possuem genoma absolutamente igual, mas apenas em 80% dos casos os dois
irmãos apresentam quadros de euforia e depressão. Embora a porcentagem seja
elevada, 20% não manifestam o problema. Cabe perguntar, então, se fatores
extragenéticos interferem nesse resultado. Sim e não. Uma vez que ninguém
expressa seu genoma completamente, pode-se deduzir que, apesar da carga
genética idêntica, só num dos gêmeos ela encontrou as condições necessárias
para o desenvolvimento da patologia que certamente depende da interação de
tais fatores com o ambiente. Não se pode deixar de considerar também que, além
da predisposição e vulnerabilidade geneticamente determinadas, certas situações
contribuem para a eclosão ou precipitação do problema.
Drauzio - Quais os fatores ambientais mais importantes?
Valentim Gentil Filho – As evidências indicam que, nos últimos anos, cresceu
a incidência desses quadros. Será que aprendemos a diagnosticá-los melhor?
Pouco provável, pois algumas descrições do transtorno bipolar datam de 2500
anos atrás, época em que os termos mania e melancolia já eram empregados. Por
outro lado, descrições de médicos, no início da era cristã, são idênticas às que
encontramos hoje nos melhores livros de psiquiatria.
Por que, então, a prevalência de uma doença tão robusta e evidente, tão antiga e
bem descrita, está aumentando? Uma das possibilidades é que alguns
acontecimentos e atitudes podem precipitar a ocorrência de distúrbios do humor.
Hoje, estamos submetidos a uma carga maior de estresse, dormimos menos e
consumimos mais substâncias lícitas e ilícitas que interferem no humor. Quer
um exemplo? O uso de remédios para emagrecer ou de cafeína é mais freqüente
e maior agora do que era no passado.
Outro exemplo? O puerpério é uma fase em que é maior o risco de surgirem
quadros de depressão e euforia. Para as mulheres, as explicações são muitas:
oscilação dos hormônios, parto, nascimento do bebê. Como explicar, porém, a
manifestação da doença nos maridos? Certamente, a emoção, a privação do
52
sono, a expectativa, a atmosfera festiva do nascimento desencadeiam a crise,
confirmando que a interação de fatores ambientais, constitucionais e genéticos é
de extrema importância.
Ninguém deve viver numa redoma, mas, se as pessoas levassem em conta que o
sistema nervoso é bastante delicado e precisa ser tratado com respeito, talvez a
incidência de casos de transtorno afetivo fosse menor do que é atualmente.
Drauzio – Existe relação clara entre o uso de cafeína e o transtorno bipolar?
Valentim Gentil Filho – O uso excessivo de cafeína pode produzir convulsão e
algumas pessoas ingerem, todos os dias, quantidades absurdas dessa substância.
Cheguei a conhecer uma que tomava 14 litros de coca-cola num único dia e era
difícil distinguir seu comportamento do de um indivíduo com transtorno bipolar.
E para que as pessoas usam cafeína? Para ficarem acordadas, com mais energia e
ânimo, mais alerta. Trata-se, então, de um agente externo, consumido como se
fosse alimento, que estimula o humor. No que se refere às drogas ilícitas
(cocaína, crack, anfetaminas), seu uso aumenta o risco de desenvolver a primeira
crise, assim como aumenta a freqüência das recorrências, que tendem a tornar-se
autônomas, fenômeno já apontado na Antiguidade.
•
Importância do diagnóstico precoce
Drauzio – O diagnóstico de transtorno bipolar em crianças e adolescentes,
pouco freqüente no passado, cresceu bastante nos últimos tempos. O que
justifica essa mudança?
Valentim Gentil Filho – Trabalho com transtorno do humor desde que me
formei, há 32 anos, e só me dei conta de que ele pode manifestar-se na infância
há cerca de 10 anos. Por circunstâncias diversas, os psiquiatras de adultos
receberam menor treinamento em psiquiatria infantil, uma área na qual ainda
predominam conceitos talvez já superados. Por isso, os casos de transtorno
bipolar ficavam mais evidentes na adolescência quando, em geral, era feito o
diagnóstico. No entanto, se enfocarmos a história desses adolescentes e
ouvirmos seus pais, encontraremos evidências muito precoces de alteração de
humor, irritabilidade, distúrbio do sono e hiperatividade. Hoje, está em voga
atribuir tais sintomas apenas aos distúrbios de atenção e à hiperatividade e
existem programas inteiros dedicados ao reconhecimento e tratamento dessas
manifestações. Em muitas crianças, porém, eles podem estar relacionados com o
transtorno bipolar, particularmente se a freqüência dessa patologia é alta na
família.
Essa visão tornou-se tão importante que existe um site [www.bpkids.org]
por meio do qual os parentes chamam a atenção de médicos, psicólogos e
professores para o comportamento conturbado dessas crianças que mudam de
humor várias vezes num mesmo dia.
Drauzio - Nesse ponto, elas são diferentes dos adultos que apresentam ciclos de
depressão e hiperatividade mais longos.
Valentim Gentil Filho – É verdade, nos adultos os ciclos são mais longos e
chama-se ciclagem rápida quando se repetem quatro vezes num ano, sinal de
53
maior gravidade e complexidade do quadro. Imagine, agora, uma criança que
apresente 1500 ciclos por ano, porque mais de quatro ela pode ter facilmente
num dia. Essa criança de comportamento imprevisível, inquieta física e
mentalmente,
não tem distúrbio de atenção, tem transtorno bipolar. Por isso, se não
distinguirmos a criança apenas rebelde e desafiadora da que tem um
temperamento desfavorável, hostil e irritado porque é portadora de transtorno de
humor bipolar e quisermos educá-la com severidade exagerada, ela reagirá
negativamente. Esse transtorno requer tratamento adequado. Provavelmente, na
história da humanidade, muita gente com predisposição para a doença e que
manifestou um distúrbio de personalidade muito grave, se tivesse sido atendida
de modo conveniente, teria desenvolvido uma forma mais branda da
enfermidade.
Esse assunto é tão importante que a revista Time destacou o transtorno bipolar
na infância como matéria de capa na edição do dia 19 de setembro de 2002.
•
Transtorno bipolar e criatividade
Drauzio – Edgar Allan Poe, Van Gogh, Schuman, Churchill, grandes homens
da história e das artes, tinham transtorno bipolar. Qual a relação entre a
criatividade e essa doença?
Valentim Gentil Filho - Interessante que essa relação entre transtorno bipolar
de humor –euforia e melancolia – e criatividade já era abordada por Aristóteles
que indagava (pelo menos, a pergunta é atribuída a ele) por que tantos homens
ilustres da filosofia, da matemática e das artes apresentavam essa característica.
De acordo com alguns depoimentos, estados depressivos favorecem a percepção
de um universo que em estado normal seria impossível apreender e a euforia
estimula a criatividade. No entanto, pesquisas realizadas nos últimos 20 anos,
sugerem que essa hipótese não é verdadeira. Elas apontam que, na maioria dos
casos, a criatividade é uma característica genética encontrada também nos
parentes próximos que não são doentes .
Quem estudou esse tema de forma bastante original foi Kay Jamison, uma
psicóloga portadora de transtorno bipolar e uma das personalidades mais
conhecidas na área. Em seu livro autobiográfico “Uma mente inquieta”,
publicado há alguns anos e traduzido para o português, a autora relata que só se
acertou na vida quando se deu conta do que tinha e pôde tomar medidas
preventivas e de precaução, como tomar lítio, que evitassem as crises.
Em outro livro, “Touched with Fire”, ainda não traduzido para o português, ela
analisa a biografia de grandes líderes políticos, religiosos, militares, intelectuais
e artistas e registra o que falavam e sentiam nos momentos de depressão e de
euforia. Um escritor inglês, por exemplo, julgava a depressão não uma
inspiração dos deuses, mas uma poeira que recobria o cérebro. Van Gogh, que se
matou aos 37 anos com um tiro no peito, atravessava um período de extrema
melancolia quando pintou seu último quadro – corvos num campo de trigo. No
verão daquele mesmo ano, atravessando uma fase de grande euforia, o tema de
um quadro psicodélico é uma fantástica noite estrelada.
Diante das possibilidades de tratamento que existem hoje, teria sido oferecido a
54
Van Gogh, no mínimo, o direito de optar se desejava continuar pintando obrasprimas nos estados de euforia e depressão ou se preferia tomar lítio, acalmar as
crises e não correr o risco de morrer precocemente.
Drauzio – Que opções você me ofereceria se, na situação de Van Gogh, eu
preferisse continuar pintando quadros magníficos apesar dos inconvenientes
das crises a ser tratado e perder a inspiração?
Valentim Gentil Filho – Eu lhe ofereceria minha amizade e compaixão. Foi o
que fez o dr. Gachet, grande pintor e médico de Van Gogh, que só contava com
Digitallis para cuidar do amigo. Dizem até que Van Gogh usou tanto o amarelo
em suas obras porque tomou esse remédio em demasia.
Vale considerar que o dr. Gachet não tinha outra opção de tratamento naquela
época e o resultado foi a perda de um grande gênio. Hoje, no entanto, ele poderia
propor várias alternativas de tratamento. Será que Van Gogh escolheria
continuar pintando no estado psicótico que o levou a cortar uma orelha e a dar
um tiro no peito, ou preferiria pintar em estado normal, controlando formas e
pincel do jeito maravilhoso que sabia fazer? Para tanto, bastava que concordasse
em tomar lítio. Talvez nas primeiras semanas, até acertar a dosagem adequada
para seu organismo, seu desempenho em alguma área caísse um pouco, mas o
risco de suicídio ficaria sete vezes menor com o tratamento.
•
Transtorno bipolar na infância
Drauzio – Observando o comportamento dos filhos, como os pais podem
identificar sinais de transtorno bipolar?
Valentim Gentil Filho - Se, desde que nasceu, a criança apresenta um
temperamento mais eufórico, é cheia de energia e criatividade, mas não perturba
ninguém nem a si mesma, isso faz parte de sua personalidade, é normal e não
deve ser coibido.
Agora, se ela é instável demais e repentinamente oscila entre a euforia e a
depressão, a apatia e a hiperatividade, se nada justifica seu estado de excitação e
euforia, a falta de sono, a empolgação e há casos de transtorno bipolar ou mesmo
de depressões decorrentes na família, os pais devem procurar ajuda. O problema,
porém, é o risco de encontrar apenas quem dê explicações lógicas para o
comportamento da criança. A lógica pode explicar muita coisa, mas nem tudo o
que é lógico é normal. As professoras e orientadoras explicam o que acontece na
escola e a própria dinâmica familiar serve de explicação para o comportamento
infantil. Por isso, é sempre recomendado consultar um pediatra, embora
infelizmente muitos ainda não estejam preparados para reconhecer os sintomas
do transtorno. Na verdade, entre a manifestação dos primeiros sinais e o
diagnóstico, às vezes, transcorrem mais de 10 anos.
•
Transtorno bipolar na adolescência
Drauzio – Você disse que as crianças têm múltiplos episódios de depressão e
excitação num único dia e que, nos adultos, a doença manifesta-se em ciclos
bem mais longos. E na adolescência, o que acontece?
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Valentim Gentil Filho - Na adolescência, o quadro clínico costuma surgir a
partir dos 15 anos e tem características muito diferentes das que se observam na
infância. O pico de incidência, porém, ocorre entre 18 e 25 anos.
É nesse período que, em geral, eles estão sob maior estresse, mais inseguros e
indefinidos, violentamente bombardeados pelos hormônios. É também nesse
período da vida que se expõem mais a comportamentos de risco, a sexualidade
explode e as drogas o seduzem. É nesse período, portanto, que fatores
ambientais, constitucionais e genéticos interagem favorecendo a eclosão do
transtorno bipolar.
Nessa fase, o diagnóstico é mais fácil, porque se trata de um quadro descrito há
2500 anos. É na infância que a dificuldade se acentua. A tendência é reprimir a
criança, tentar educá-la à força ou atribuir a responsabilidade por seu
comportamento inadequado aos pais, aos irmãos, à escola ou aos amigos. O caso
se complica ainda mais porque não se tem certeza de que tais quadros de
transtorno sejam biologicamente equivalentes, isto é, se o aparecimento na
infância é simplesmente a manifestação precoce de uma patologia que iria
acontecer mais tarde no adolescente ou no adulto, ou se é algo mais intrincado
do ponto de vista neurofisiológico.
É importante observar que o transtorno de humor bipolar pode aparecer pela
primeira vez em qualquer idade: na criança, no adolescente, no adulto ou no
idoso. Nada impede que um indivíduo de 60 anos, muito criativo, energético,
envolvido em grandes projetos e intensa atividade, de repente desencadeie o
processo por um motivo qualquer. Isso aconteceu com personalidades famosas
de nossa história que tiveram o quadro deflagrado quando eram mais velhas e só
então descobriram que sua energia e dinamismo tinham pontos em comum com
a predisposição para a doença. Em vista disso, independentemente da idade,
quanto mais rápido ela for diagnosticada, menos irá interferir na estruturação da
personalidade das crianças, no caráter do adolescente, nas relações profissionais
e familiares do adulto e na imagem do indivíduo com mais idade.
•
Comportamento familiar
Drauzio – O que deve fazer a família diante de um caso como esses?
Valentim Gentil Filho – Antes de tudo é preciso combater o medo, porque é ele
que aparece primeiro. Depois, é tentar não agir agressivamente contra a pessoa
na fase de euforia. No começo, ela é até engraçada, de pensamento ágil, criativa.
Se os familiares não estiverem inseguros e temerosos, poderão convencê-la a
procurar atendimento para um diagnóstico diferencial, a fim de eliminar
possíveis causas imediatas da doença. Se a intervenção ocorrer em 48 ou 72
horas, praticamente não haverá prejuízo. O primeiro remédio que se receita hoje
é uma visita a sites da internet especializados em informar as pessoas sobre a
regulação do humor porque isso é fundamental na manutenção do tratamento.
Drauzio – Existe, no Brasil, alguma associação de apoio a esses pacientes?
Valentim Gentil Filho – Existe a ABRATA, Associação Brasileira de
Transtornos Afetivos, que tem site na internet <http://www.abrata.org.br>. Essa
associação congrega familiares, amigos e portadores de transtorno do humor,
56
tanto o da depressão quanto o bipolar, e é importante na medida em que procura
trocar informações e fornecer elementos inclusive para os profissionais de saúde
mental sobre a natureza e tratamento adequado da doença. Nos Estados Unidos,
o órgão equivalente à ABRATA conta com 500 sedes espalhadas pelo país que
prestam serviço semelhante ao da associação brasileira.
•
Seu filho é bipolar?
Seu filho é bipolar?
Não existem testes padronizados para transtorno bipolar, mas esta lista, adaptada
do livro The Bipolar Child, pode ajudá-lo a reconhecer alguns sinais de alerta.
Assinale os comportamentos que seu filho atualmente apresenta ou apresentou
no passado. Se você assinalar mais de 20 itens, ele deveria ser examinado por
um profissional da área.
Seu filho:
1- Fica aflito demais quando separado da família;
2- Demonstra ansiedade ou preocupação excessiva;
3- Tem dificuldade para levantar-se pela manhã;
4- Fica hiperativo e excitável à tarde;
5- Tem sono agitado ou dificuldade para conciliar o sono;
6- Tem terror noturno ou acorda muitas vezes no meio da noite;
7- Não consegue concentrar-se na escola;
8- Tem caligrafia pobre;
9- Tem dificuldade em organizar tarefas;
10- Tem dificuldade em fazer transições;
11- Reclama de sentir-se aborrecido;
12- Tem muitas idéias ao mesmo tempo;
13- É muito intuitivo ou muito criativo;
14- Distrai-se facilmente com estímulos externos;
15- Tem períodos em que fala excessiva e muito rapidamente;
16- É voluntarioso e recusa-se a ser subordinado;
17- Manifesta períodos de extrema hiperatividade;
18- Tem mudanças de humor bruscas e rápidas;
19- Tem estados de humor irritável;
20- Tem estados de humor vertiginosamente alegres ou tolos;
21- Tem idéias exageradas sobre si mesmo ou suas habilidades;
22- Exibe um comportamento sexual inapropriado;
23- Sente-se facilmente criticado ou rejeitado;
24- Tem pouca iniciativa;
25- Tem períodos de pouca energia, ou alheamento, ou se isola;
26- Tem períodos de dúvida sobre si mesmo ou de baixa estima;
27- Não tolera demoras ou atrasos;
28- Persegue obstinadamente suas próprias necessidades;
29- Discute com adultos ou é mandão;
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30- Desafia ou se recusa a cumprir regras;
31- Culpa os outros por seus erros;
32- Enerva-se facilmente quando as pessoas impõem limites;
33- Mente para evitar as conseqüências de seus atos;
34- Tem acessos de raiva ou fúria explosivos e prolongados;
35- Tem destruído bens intencionalmente;
36- Insulta cruelmente com raiva;
37- Calmamente faz ameaças contra outros ou contra si mesmo;
38- Já fez claras ameaças de suicídio;
39- É fascinado por sangue ou coágulos;
40- Já viu ou ouviu alucinações.
•
Possibilidades de tratamento
Tratar crianças com transtorno bipolar não é fácil, mas, atualmente, pelo menos
é possível. O primeiro passo, em geral, é prescrever medicamentos. Depois vem
a psicoterapia individual, a terapia familiar e as mudanças no estilo de vida.
Recursos terapêuticos
Lítio - O tradicional esteio, atenua os sintomas através da regulação dos
neurotransmissores, mas não funciona para todas as pessoas.
Medicamentos anticonvulsivantes – Inicialmente usados no tratamento da
epilepsia, esses medicamentos ajudam a controlar as crises de mania.
Antipsicóticos atípicos - Medicamentos utilizados para ajudar os
esquizofrênicos a vencerem os delírios podem fazer o mesmo pelos bipolares.
Antidepressivos - Apresentam o risco de aumentar os ciclos do transtorno
bipolar, mas seu uso pode ser necessário como parte da associação de
medicamentos.
Estilo de vida - Rotinas como, por exemplo, a fixação dos horários de dormir e
acordar, são fundamentais. O uso de cafeína deve ser restringido. Os
adolescentes devem evitar o uso de drogas e álcool.
Psicoterapia individual - Crianças precisam de aconselhamento para ajudá-las
a equilibrar o sono, a alimentação, o trabalho e a diversão. Elas também
precisam falar sobre problemas em casa e resolver conflitos que possam
desencadear as crises.
Terapia familiar - Os pais devem aprender quando ceder – isto é crucial no
início do tratamento - e quando devem ser firmes. Contendas ou disputas
familiares devem ser reduzidas ao mínimo. Os irmãos podem servir como olhos
e ouvidos confiáveis para uma criança cujas percepções estão confusas.
58
Transtorno Bipolar ou Psicose Maníaco Depressiva
Transtorno bipolar, também conhecido como
psicose maníaco depressiva, é uma desordem
cerebral que causa alterações incomuns no humor,
energia e capacidade de desempenhar funções.
Diferente das variações normais de humor que
todas as pessoas têm, os sintomas do transtorno
bipolar são severos e podem resultar em danos aos
relacionamentos, performance ruim no trabalho e
estudo, e até suicídio. Porém há boas notícias,
porque pessoas passando por psicose maníaco
depressiva podem ser tratadas e levar uma vida
produtiva.
A psicose maníaco depressiva causa mudanças
dramáticas no humor - de super exultante até triste e
sem esperança - e essas variações se repetem
geralmente com períodos de humor normal entre
elas. Mudanças dramáticas na energia e
comportamento acompanham essas alterações de
humor. Os períodos de "alto" e "baixo" humor são
chamados de mania e depressão. Indivíduo com
transtorno bipolar costuma ser chamado de
"maníaco-depressivo" por leigos.
Sinais e sintomas do transtorno bipolar ou
psicose maníaco depressiva
Os sinais e sintomas da fase de mania incluem:
* Aumento de energia, atividade e agitação.
* Euforia excessiva.
* Irritabilidade extrema.
* Pensamentos voando e fala muito rápida, pulando
de uma idéia para outra.
* Falta de concentração.
* Pouca necessidade de sono.
* Crença irrealista em suas habilidades.
* Julgamentos pobres.
* Período duradouro de comportamento diferente do
usual.
* Desejo sexual aumentado.
* Abuso de drogas, particularmente álcool, cocaína e
remédios para dormir.
* Comportamento provocativo, intrusivo ou
agressivo.
* Negação de que alguma coisa está errada.
Um episódio de mania é diagnosticado se o humor
59
elevado ocorre com 3 ou mais outros sintomas pela
maior parte do dia, quase todos os dias, por uma
semana ou mais. Se o humor está irritável, quatro
sintomas adicionais devem estar presentes.
Os sinais e sintomas dos episódios de depressão
incluem:
* Humor ruim, tristeza e ansiedade.
* Sentimento de desesperança e pessimismo.
* Sentimento de culpa, inutilidade e desamparo.
* Perda de interesse ou prazer em atividades que
costumava gostar, incluindo sexo.
* Queda de energia e sensação de fadiga.
* Dificuldade de concentração, de lembrar e tomar
decisões.
* Irritabilidade e agitação.
* Dormir demais ou falta de sono.
* Alterações no apetite e ganho ou perda de peso
não intencional.
* Dor crônica ou outros sintomas corporais que não
são causados por doença ou lesão.
* Pensamentos suicidas e de morte, ou tentativa de
suicídio.
Um episódio de depressão é diagnosticado quando 5
ou mais desses sintomas duram a maior parte do
dia, quase todos os dias por um período de 2
semanas ou mais.
Um episódio moderado de mania é chamado de
hipomania, na qual a pessoa sente-se bem, e pode
estar associada à produtividade aumentada. Embora
até quando os familiares e amigos aprendem a
reconhecer as alterações de humor como uma
possível precoce maníaco-depressiva, a pessoa
pode negar que algo esteja errado. Porém, sem o
tratamento apropriado, hipomania pode se
transformar em mania severa em algumas pessoas,
ou mudar para depressão.
Algumas vezes episódios graves de mania ou
depressão podem incluir sintomas psicóticos. Os
sintomas psicóticos mais comuns são alucinações
(escutar, ver ou sentir presença de coisas que não
estão ali), delusões (crença forte e falsa que não é
explicada influenciada pela lógica nem explicada
pelos conceitos culturais usuais da pessoa). Os
sintomas psicóticos na psicose maníaco depressiva
tendem a refletir o estado extremo de humor do
momento. Por exemplo, delusões de grandiosidade
podem ocorrer durante a mania, enquanto que
delusões de culpa podem aparecer durante a
depressão. Pessoas com transtorno bipolar que têm
esses sintomas algumas vezes são incorretamente
diagnosticados como tendo esquizofrenia.
60
Em algumas pessoas os sintomas da mania e
depressão podem ocorrer em conjunto, o que é
chamado de estado bipolar misto. Os sintomas do
estado misto podem incluir agitação, problema para
dormir, alteração significativa de apetite, psicose e
pensamentos suicidas. A pessoa pode ter um estado
de humor muito triste e sem esperança ao mesmo
tem que sente-se extremamente energizada.
Causas do transtorno bipolar ou psicose
maníaco depressiva
Cientistas estão aprendendo sobre as possíveis
causas do transtorno bipolar através de vários tipos
de estudos. A maioria dos cientistas concorda que
não há somente uma causa para a desordem
bipolar, mas muitos fatores que agem em conjunto
para produzir a doença.
Uma vez que a desordem bipolar tende a ocorrer em
famílias, pesquisadores estão procurando por um
gene específico que poderia aumentar a
probabilidade de desenvolver a doença. Porém, o
transtorno bipolar não é exclusivamente genético.
Estudos de gêmeos idênticos, que dividem os
mesmos genes, indicam que outros fatores
desempenham papel no transtorno bipolar.
Adicionalmente, descobertas de pesquisas genéticas
sugerem que o transtorno bipolar não ocorre devido
a uma único gene. Parece que muitos genes agem
em conjunto e em combinação com outros fatores do
ambiente da pessoa para causar o transtorno
bipolar.
Tratamento do transtorno bipolar ou psicose
maníaco depressiva
A maioria das pessoas com transtorno bipolar, até
em suas formas mais graves, pode conseguir
estabilização substancial das variações de humor, e
sintomas relacionados, com o tratamento apropriado.
Uma vez que o transtorno bipolar é uma doença
recorrente, o tratamento preventivo de longo prazo é
fortemente recomendado e quase sempre indicado.
A estratégia de tratamento que combina medicação
e tratamento psicosocial é a de melhor indicação
para controlar a doença.
Na maioria dos casos o transtorno bipolar é bem
melhor controlado se o tratamento for contínuo.
Porém, até quando não há paradas no tratamento,
alterações de humor podem acontecer e devem ser
reportadas imediatamente ao médico. O
61
acompanhamento médico de perto, e comunicação
aberta sobre as preocupações sobre o tratamento,
podem fazer diferença na sua eficiência.
Adicionalmente, registrar os tratamentos, sintomas
diários, padrões de sono e até eventos na vida pode
ajudar pessoas com transtorno bipolar e seus
familiares a entenderem melhor a doença. Esse
registro também pode ajudar ao médico acompanhar
e tratar o transtorno bipolar com mais eficiência.
Embora os episódios de mania e depressão
naturalmente venham e vão, é importante entender
que o transtorno bipolar é uma doença que
atualmente não tem cura. Seguir o tratamento, até
nos momentos em que a pessoa está bem, pode
ajudar a manter a doença sobre controle e reduzir as
chances de ter episódios recorrentes mais graves.
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Transtorno Bipolar do Humor
O que é a doença Bipolar do Humor?
É uma enfermidade na qual ocorrem alterações do humor, caracterizando-se
por períodos de um quadro depressivo, que se alteram com períodos de quadros
opostos, isto é, a pessoa se sente eufórica (mania). Tanto o período de depressão
quanto da mania podem durar semanas, meses ou anos. O termo mania não significa
“repetição de hábitos”, mas sintomas de euforia. O Transtorno do Humor pode
ocorrer, ao longo da vida, dentro de um curso bipolar ou unipolar. O curso unipolar
refere-se a episódios somente de depressão e, no bipolar, depressão e mania
(euforia). O Transtorno Bipolar do Humor atinge de igual maneira homens e mulheres
em torno de 1% a 2% e, geralmente, entre os 15 e 30 anos de idade. O transtorno
bipolar também pode atingir as crianças, manifestando-se com sintomas
predominantes de humor ansioso e irritável.
O humor da pessoa oscila de muito eufórico (agitado), para muito triste (com
desesperança, desmotivação e desvalia). Como em outras doenças, o Transtorno
Bipolar do Humor afeta não só quem o tem, como também, o cônjuge, familiares,
amigos e empregadores.
Se depressão, mania forem acompanhadas de alucinações (ouvir, ver, sentir o que
não existe) e delírios (pensamentos irreais à realidade) trata-se do subtipo psicótico.
As pessoas que sofrem de Transtorno Bipolar levam, em média, 8 anos antes de
serem diagnosticadas ou receberem tratamento adequado, o que pode causar grande
sofrimento e perdas.
Tipos de Transtorno Bipolar do Humor
Existem quatro formas de Transtorno Bipolar do Humor:
- Transtorno Bipolar Tipo I – Períodos de mania (euforia) com humor elevado e
expansivo, grave o suficiente para causar prejuízo no trabalho, relações sociais
podendo necessitar de hospitalização contrapostos por períodos de humor deprimido,
sentimentos de desvalia, desprazer, desmotivação, alterações do sono, apetite, entre
outros. Geralmente, o estado maníaco dura dias ou pelo menos uma semana, e
períodos de depressão de semanas à meses.
- Transtorno Bipolar Tipo II – Períodos de hipomania, em que também ocorre
estado de humor elevado e agressivo mas de forma mais suave. Um episódio de tipo
hipomania, ao contrário da mania, não chega a ser suficientemente grave para
causar prejuízo em atividades de trabalho ou vida social.
- Transtorno Bipolar Misto – Períodos mistos, em que em mesmo dia haveria
alternâncias entre depressão e mania. Em poucas horas a pessoa pode chorar, ficar
triste, com sentimentos de desvalia e desprazer e, no momento seguinte, estar
eufórica, sentindo-se capaz de tudo, falante e agressiva.
- Transtornos Ciclotímicos – Períodos em que haveria uma alteração crônica e
flutuante do humor marcada por numerosos períodos com sintomas maníacos e
numerosos sintomas depressivos que se alterariam. Contudo, não seriam
suficientemente graves nem ocorreriam em quantidade suficiente para se ter certeza
de se tratar de depressão e mania. Isto é, pode ser facilmente confundida com o jeito
de ser da pessoa, “de lua”.
Principais teorias etiológicas
Apesar de se desconhecer a base causal, existe uma interação complexa
entre fatores biológicos, genéticos e psicossociais para tentar explicar o
Transtorno:
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- Fatores Biológicos – As teorias dos neurotransmissores, no sistemas
noradrenérgico, seratonérgico e dopaminérgico, que tem características semelhantes,
pois todos se originam em núcleos localizados no tronco cerebral e se projetam para
amplas áreas do pró-encéfalo, têm sido admitidas na etiologia dos Transtornos
Bipolares. Além destes, outros neurotransmissores, incluindo o glutemato,
neuropeptídeos, como a colecistocinina e o hormônio liberado de corticotrofina, têm
sido implicados assim como anormalidades no eixo hipotalâmico - pituitário - tireóide
são comuns no Transtorno Bipolar.
- Fatores Genéticos – Quando um dos pais apresenta Transtorno Bipolar, existe de
25 a 50% de chance de o filho adquirir Transtorno Bipolar. Quando maior a distância
de parentesco, menor a possibilidade de ter um Transtorno Bipolar. Os estudos de
gêmeos tem mostrado que a taxa de concordância em gêmeos monozigóticos é de 33
a 90% e gêmeos dizigóticos cerca de 5 a 25%. As associações entre o Transtorno
Bipolar I e marcadores genéticos têm sido relatadas para os cromossomas 5,11 e x.
- Fatores Psicossociais – Os acontecimentos vitaisestressores precedem, mais
freqüentemente, os primeiros episódios de Transtorno do Humor e poderiam provocar
alterações nos estados funcionais de vários sistemas neurotransmissores e
sinalizadores intraneurais. Dificuldades financeiras, doença na família, perda de uma
pessoa importante, uso de drogas, entre outros, podem contribuir para o
desencadeamento da doença.
Achados clínicos – como identificar:
Mania:
- humor para cima, exaltação, alegria exagerada e duradoura; irritabilidade
(impaciência, “pavio curto”);
- agitação, inquietação física e mental;
- aumento da energia, da produtividade ou começar muitas coisas e não conseguir
terminar;
- pensamentos acelerados, tagarelice;
- achar que possui dons ou poderes especiais de influência, grandeza e poder;
- otimismo e autoconfiança exagerados;
- aumento dos gastos, endividamentos;
- distração fácil: tudo desvia a atenção;
- maior contato social e desinibição, comportamento inadequado e provocativo,
agressividade física e/ou verbal;
- erotização, aumento da atividade e necessidade sexuais;
- insônia, redução da necessidade de sono;
- quando grave, ocorrem delírios e/ou alucinações. estressores precedem, mais
freqüentemente, os primeiros episódios de Transtorno do Humor e poderiam provocar
alterações nos estados funcionais de vários sistemas neurotransmissores e
sinalizadores intraneurais. Dificuldades financeiras, doença na família, perda de uma
pessoa importante, uso de drogas entre outros, podem contribuir para o
desencadeamento da doença.
Depressão:
- humor para baixo, tristeza, angústia ou sensação de vazio;
- irritabilidade, desespero;
- pouca ou nenhuma capacidade de sentir prazer e alegria na vida;
- cansaço mais fácil, desânimo, preguiça, falta de energia física e mental;
- falta de concentração, lentidão do raciocínio, memória ruim;
- falta de vontade, falta de iniciativa e interesse, apatia;
- pensamentos negativos repetidos amplificados, pessimismo, idéias de culpa
fracasso, inutilidade, falta de sentido na vida, doença, morte (suicídio);
- sentimentos de insegurança, baixa auto-estima, medo;
- interpretação distorcida e negativa do presente, de fatos ocorridos no passado e no
futuro;
- redução da libido e vontade de ter sexo;
- perda ou aumento de apetite e/ou peso;
- insônia ou dormir demais, sem se sentir repousado;
- dores ou sintomas físicos difusos, sofridos, que não se explicam por outras doenças:
dor de cabeça, nas costas, no pescoço e nos ombros, sintomas gastrointestinais,
alterações mentruais, queda de cabelo, dentre outros;
- em depressões graves, alucinações e/ou delírios.
Para fazer o diagnóstico, bastam sintomas dos três primeiros itens e, pelo menos,
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dois dos demais.
Diagnóstico Diferencial:
A – Doenças Médicas:
- distúrbios metabólicos (exemplo: tireóide);
- doenças neurológicas (exemplo: esclerose múltipla);
- doenças infecciosas (exemplo: HIV, neurossífilis);
- neoplasias (exemplo: tumores, metástases).
B – Doenças Psiquiátricas:
- dependência química (exemplo: cocaína). OBS: embora 41% dos pacientes com
Transtorno Bipolar abusam e são dependentes de drogas e 46% abusam e são
dependentes de álcool e 61% abusam e são dependentes de outras substâncias;
- esquizofrenia;
- THDA, delírio, demência, entre outros;
- transtornos de personalidade.
Tratamento do Transtorno Bipolar
O tratamento envolve manejo nas fases agudas e na terapia de manutenção. Os
quadros agudos demandam contenção imediata dos sintomas através da
farmacologia: estabilizadores do humor, antidepressivos (se necessário),
antipsicóticos (se necessário) e, muitas vezes internação hospitalar para proteção do
paciente. Os episódios de depressão aguda são tratados, preferencialmente, com
antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina, pois são maiores indutores de
“virada” maníaca (eufórica) ou hipomaníaca, mais comuns com as ADT (tricíclicos).
As fases maníacas podem ser controladas com Carbonato de Lítio, Ácido Valpróico,
Carbamazepina, lomotrigina, gebapentina e topiramato.
Se sintomas psicóticos estiverem presentes, é necessário o uso de antipsicóticos ou
benzodiazepínicos. Muitas vezes, é necessária a combinação de drogas, isto é, mais
de um estabilizador do humor associado, antidepressivos, mesmo na fase de
manutenção.
Existem substâncias que propiciam a desestabilização do quadro do humor e que
devem ser identificados (tricíclicos, esteróides, álcool e os estimulantes).
ETC
O ETC provou ser útil àqueles pacientes que não respondam à medicação, que
apresentam alto risco de suicídio, em gestantes e idosos (pois é mais seguro). O seu
uso ficou mais limitado com o incremento de novos psicofarmacos, mas sabe-se que
80% dos pacientes mostram melhora substancial.
Psicoterapia
Sabe-se que a terapia cognitiva pode contribuir na adesão do tratamento e na
prevenção das recaídas, tornando-se um valioso acessório para o tratamento
farmacológico. Como relatado anteriormente, o Transtorno Bipolar não se limita
meramente a um problema bioquímico mas, também, psicológico e social (envolve
dificuldades pessoais, familiares e sociais). Existem outros tipos de psicoterapias
como individual, grupal, de família, conjugal, entre outros, mas, o que importa é se
está surtindo resultado na melhora do paciente e na sua qualidade de vida.
Curso e prognóstico do Transtorno Bipolar
O curso é variável, habitualmente se experimentando o primeiro episódio maníaco
aos 20 anos, mas pode começar na adolescência ou após os 40 anos de idade. O uso
de álcool ou substâncias pioram o prognóstico clínico. A aderência ao tratamento é
fundamental e, bastam alguns dias de interrupção da medicação ou diminuição para
que o paciente apresente exacerbação de sintomas e mais períodos de novas de
crises. A boa relação médico-paciente, esclarecendo dúvidas, pedindo socorro em
crises, discutindo fatores estressores, ajudam no melhor prognóstico.
Dr. Adriano Rosendo Haubert
Psiquiatra - CREMERS 20225
Especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria
Fone: (51) 3592.7678
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