RESISTÊNCIA A RAMULOSE NAS FOLHAS E RESISTÊNCIA A SUPERBROTAMENTO DA PLANTA, É GOVERNADA POR GENES DIFERENTES EM ALGODOEIRO* Mehta, Y.R.1, Novaes, G. T.1;2, Zandoná, C1;2; Schuster, I.3 1IAPAR, C.P. 481, Londrina, PR. E-mail: [email protected]; 2Bolsista FIALGO; 3Coodetec, C.P. 301, Cascavel, PR; *Apoio FIALGO RESUMO A ramulose provoca manchas foliares e superbrotamento. Nas inoculações artificiaís, algumas plantas de cultivares resistentes a ramulose nas folhas mostraram superbrotamento, e algumas plantas de outras cultivares suscetíveis a ramulos e não mostraram superbrotamento. Além disso, considerando a reação de 33 cultivares, o coeficiente de correlação entre ramulose nas folhas e superbrotamento foi baixo (r=0.13). Estes fatos incentivaram estudos sobre o mecanismo de resistência a ramulose e ao superbrotamento nas populações do cruzamento dialelo entre BRS ANTARES x STO 474. O coeficiente de correlação entre ramulose nas folhas e superbrotamento nas plantas F2 foi baixo (r=0,39). Resultados demonstraram que resistência ao superbrotamento é governada por dois genes dominantes com efeito epistático, enquanto que resistência a ramulose é governada por um gene dominante. A análise conjunta para resistência a ramulose e ao superbrotamento demonstra que os genes que controlam as duas características são diferentes, porém não independentes. O gene dominante que controla a reistência a ramulose está ligado a uma freqüência de recombinação de 27,4% a um dos genes que controlam resistência ao superbrotamento. Esta descoberta esclarece porque resistência ao superbrotamento e a ramulose não são independentes, mas mesmo assim aparecem recombinates para as duas características. Este novo conhecimento aumentará a precisão na seleção para resistência ao superbrotamento e a ramulose nos programas de melhoramento. INTRODUÇÃO A ramulose do algodoeiro causada por Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides (CGC) ataca todas as partes aérea da planta e provoca quatro tipos de sintomas tais como queima do ápice; manchas nas folhas, pecíolo, e colmo; nanismo; e o superbrotamento (Freire et al, 1999; Fuzatto et al, 1999; Mehta, et al 2001). Estes sintomas podem ser classificados basicamente em duas categorias, "Ramulose nas folhas" e "Superbrotamento da planta", sendo que, o superbrotamento é o principal responsável por perdas em rendimento do algodão. Nas inoculações em casa de vegetação, plantas de algumas cultivares identificadas como resistentes á ramulose nas folhas, mostravam superbrotamento na fase posterior de desenvolvimento da planta, e por outro lado, plantas de algumas cultivares suscetíveis á ramulose nas folhas não mostravam sinais de superbrotamento. Além disso, considerando a reação de 33 cultivares comerciais do algodoeiro sob inoculação artificial em casa de vegetação, Zandoná et al (2003a), reportaram que o coeficiente de correlação entre a severidade de ramulose nas folhas e o superbrotamento da planta foi muito baixo (r=0.13). Estes fatos incentivaram estudos sobre o mecanismo de resistência a ramulose e ao superbrotamento nas populações do cruzamento dialélico entre BRS ANTARES x STO 474. MATERIAL E MÉTODOS A cultivar de algodoeiro BRS ANTARES anteriormente identificada com resistente e a cv. STO 474 como suscetível (Mehta et al, 2001; Zandoná et al, 2003a), foram cruzadas entre si (inclusive cruzamentos recíprocos) para obtenção de sementes F1. Vinte sementes de F1 foram semeadas para obter sementes da geração F2. Sementes de todas as populações foram multiplicadas paralelamente em todas as fases do trabalho para evitar o efeito da idade de sementes na expressão dos sintomas da doença. Aos 30 dias de idade, as populações segregantes e dos progenitores foram inoculadas com um isolado agressivo de CGC (No. 7, da coleção do IAPAR), e foram incubadas em câmara de crescimento ajustado à 21o C e à HR do ar de 95% por 24 horas. Após este período as plantas inoculadas foram transferidas e casualizadas em casa de vegetação. Para este fim, o inoculo foi ajustado aproximadamente a 1.0 x 106 conídios/ml. A severidade de superbrotamento foi avaliada 40 dias após a inoculação utilizando-se uma escala visual de severidade entre a ausência de superbrotamento (0) e severidade de superbrotamento (1-3). A ausência de superbrotamento foi considerada resistente, e a severidade entre 1 e 3 como suscetível. A severidade de ramulose nas folhas foi avaliada sete dias após a inoculação considerando porcentagem da área foliar infectada (AFI). A AFI entre traço e <1% foi considerada resistente e AFI >1% foi considerada suscetível. Os dados foram analisados utilizando-se o método de qui-quadrado. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os sintomas de superbrotamento foram visíveis 30-40 dias após a inoculação (Fig. 1). O coeficiente de correlação entre ramulose nas folhas e superbrotamento nas 514 plantas da geração F2 foi baixo (r=0,39). Resultados demonstraram pela primeira vez que resistência ao superbrotamento segrega na razão de 9:7 indicando ser governada por dois genes dominantes com efeito epistático (Tabela 1). Como existem plantas resistentes a ramulose e suscetíveis ao superbrotamento, e plantas suscetíveis a ramulose e resistentes ao superbrotamento, a hipótese de que o gene de resistência a ramulose seja um dos genes que confere resistência ao superbrotamento não pode ser testada. Por outro lado, a hipótese de três genes para a segregação das suas características em conjunto também não foi aceita pelo teste de qui-quadrado (Tabela 2). Realizando a análise conjunta para resistência a ramulose e ao superbrotamento, assumindo ligação genética entre o gene de resistência a ramulose e um dos genes de resistência ao superbrotamento, a freqüência de recombinação entre os genes foi estimada pelo método da máxima verossimilhança, em 27,4%. Estes resultados demonstram que os genes que controlam as duas características são diferentes, porém não independentes (Tabela 2). Esta descoberta esclarece porque resistência ao superbrotamento e a ramulose não são independentes, mas mesmo assim aparecem recombinantes para as duas características. Este novo conhecimento aumentará a precisão na seleção para resistência ao superbrotamento e a ramulose nos programas de melhoramento. Tabela 1. Análise de segregação da ramulose nas folhas e superbrotamento da planta causado por Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides nas populações do cruzamento BRS Antares X STO 474. Número de indivíduos em cada categoria de infecção* Ramulose** Superbrotamento** Ho: 3:1 Ho: 9:7 Observado Esperado Observado Esperado População χ2 Prob R S R S X2 Prob R S R S % % BRS Antares 10 0 10 0 8 2 STO 474 0 10 0 10 0 10 F1 19 0 19 0 18 4 F2 96 35 98,25 32,75 0,206 64,98 85 48 74,8125 58,1875 3,17 7,5 F2*** 93 33 94,5 31,5 0,095 75,76 72 52 69,75 54,25 0,16 68,4 *Inoculação realizada em casa de vegetação, nas plântulas de 30 dias de idade; **R = Resistente; S = Suscetível; ***F2 recíproco (STO 474 X BRS Antares). Tabela 2. Análise da segregação conjunta para resistência e suscetibilidade a ramulose nas folhas e superbrotamento da planta causado por Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides, nas populações do cruzamento BRS Antares X STO 474. Número de indivíduos em cada categoria de infecção Ramulose Superbrotamento Observado Esperado* χ2 P Esperado** X2 Prob Resistente Resistente 126 108,4218 121,78 Resistente Suscetivel 64 36,1406 70,96 Suscetivel Resistente 18 84,3281 32,38 0% 22,78 2,94 40,11% Suscetivel Suscetivel 49 28,1093 41,47 *Hipótese de 3 genes independentes (segregação 9:7 x 3:1) **Hipótese considerando ligação entre um dos genes de resistência a superbrotamento e o gene de resistência a ramulose, a uma freqüência de recombinação de 27,4%. Figuar 1. A-Planta sem sintomas de superbrotamento (reaçãoresistente); B-planta com Sintomas de superbrotamento (reação suscetível): 40 dias após a inoculação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS FREIRE, E.C., FARIAS, F.J.C., AGUIAR, P., ARAUJO, A. E. Comportamento de novas cultivares e linhagens com relação a doenças no Centro-Oeste-safra 1998/99. Anais do II Congresso Brasileiro de Algodão 5-10 de setembro de 1999, Embrapa-algodão, Ribeirão Preto, p. 454-457, 1999. FUZATTO, M.G., CIA, E., CHIAVEGATO, E.J., PIZZINATTO, M.A., ERISMANN, N.M., ZIMBACK, L. Variabilidade genética e potencial de seleção para resistência à ramulose em cultivares e linhagens avançadas de algodoeiro. Anais do II Congresso Brasileiro de Algodão 5-10 de setembro de 1999, Embrapa-algodão, Ribeirão Preto, p. 473-475, 1999. MEHTA, Y.R., PAES, W. A.; FREIRE, E.C. Reação de algumas cultivares do algodoeiro a Colletotrichum gossypii var. Cephalosporioides. Anais do III Congresso Brasileiro de Algodão 27-31 de agosto de 2001, Embrapa-algodão, Campo Grande, p.584 -586, 2001. ZANDONÁ, C., MEHTA, Y.R., TEIXEIRA, ELIRIA. A., CUNHA, H.C.; ERIVALDO, J. Resposta diferencial de cultivares comerciais do algodoeiro a Colletotrichum gossypii var. Cephalosporioides. Trabalho apresentado neste Congresso. 2003a. ZANDONÁ, C., NOVAES,T. G., MEHTA, Y.R., TEIXEIRA, ELIRIA. A.; CUNHA, H.C. Herança de resistência a Colletotrichum gossypii var. Cephalosporioides em algodoeiro. Trabalho apresentado neste Congresso. 2003b.