16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas Dinâmicas Epistemológicas em Artes Visuais – 24 a 28 de setembro de 2007 – Florianópolis Possibilidades do filme infantil na educação escolar Alice Fátima Martins – FAV / UFG Adriane Camilo Costa – FAV / UFG Resumo Ainda há muito para as instituições educacionais aprenderem a respeito das relações entre os processos de aprendizagem e as possibilidades propiciadas pelas mídias atuais. Considerando as dificuldades dos educadores frente à utilização dos recursos audiovisuais, decidimos discutir o cinema como campo midiático na sociedade contemporânea, com o objetivo de analisar as relações entre as narrativas produzidas pela indústria cinematográfica de filmes infantis e o contexto educacional, entendendo a filmografia como forma de estimular, nas crianças, a observação, capacidade de julgamento, sensibilidade, experiência estética, bem como articular espaços de discussão e interpretação de filmes com professores e com crianças. palavras-chave: narrativa, cinema, ensino-aprendizagem, interpretação. Abstract The educational institutions have still many things to understand about the processes of learning and the current medias possibilities. Thinking about teachers difficulties on making use of audiovisuals resources, we decided to consider the cinema as an important field of media in the society contemporary, in order to analyze the relations between the narratives produced by the cinematographic industry, particularly children movies, and the educational context. We consider that the work with movies may stimulate children to practice observation, capacity of judgment, sensitivity, aesthetic experience. And creating spaces of discussion and interpretation of movies with teachers and children. key words: narrative, movies, teaching-learning, Interpretation. Como saber se um filme “é bom” antes de assistí-lo? Que representações as crianças constróem a partir dos filmes que assistem? Como fazemos nossas escolhas? É possível educar por meio de filmes? Como os meios educacionais abordam questões relacionadas à influência da mídia? Essas são algumas inquietações que incentivaram o desenvolvimento de uma pesquisa sobre a oferta e o uso do material fílmico para crianças na faixa etária entre oito e dez anos, idade em que vários conceitos estéticos, éticos, cognitivos, normativos, dentre outros, estão em pleno processo de formação e consolidação. Para tanto, foi proposto um trabalho com um grupo de alunos, em que eram motivados a assistir e discutir filmes com diversas temáticas, construções formais, modos de narrativa. Dentre as etapas da pesquisa, destacam-se os momentos dedicados à seleção dos filmes, as sessões propriamente ditas, envolvendo as crianças e os educadores, e o trabalho com a percepção dos filmes, a partir dos conteúdos veiculados e dos aspectos formais. Esse foi o percurso proposto, com vistas a 638 16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas Dinâmicas Epistemológicas em Artes Visuais – 24 a 28 de setembro de 2007 – Florianópolis analisar as relações entre as narrativas produzidas pela indústria cinematográfica de filmes infantis e o processo de reconhecimento, interpretação e compreensão do público infantil. A articulação entre filme, contexto sócio-histórico e linguagem cinematográfica, como elementos relevantes no processo de interpretação das narrativas, aponta para diversas questões que orientam, dentre outras ações, a escolha dos filmes. Tais orientações levam em conta, por exemplo, o olhar estético, temas sociais, relacionamentos, valores éticos e morais, contexto histórico, linguagem cinematográfica, música e símbolos, as possibilidades de comunicação entre as imagens do filme e as imagens do cotidiano. O desenvolvimento das etapas do projeto contou com atividades preparatórias, quando os alunos eram motivados para relacionar-se com os filmes, bem como estabelecer diálogos entre si sobre os filmes em questão, sem inibições decorrentes da auto-crítica típica dessa faixa etária. Nesse momento, também ficou evidenciada a necessidade de que as crianças começassem a ter contato com termos relativos ao mundo do cinema, e a conhecer os mecanismos do mercado por meio dos quais os filmes são realizados, e depois veiculados para chegar até o público. A valoração da experiência estética e o trabalho em grupo foram enfatizados durante todo o processo com as crianças e os professores, como condição para atingir os objetivos do trabalho. Esta proposta de trabalho foi orientada pela concepção construtivista, segundo a qual a aprendizagem é concebida como um processo contínuo e dinâmico de acomodação e assimilação, em que crianças e adultos modificam suas estruturas cognitivas internas através de suas experiências pessoais, nas relações com o mundo. Os conhecimentos prévios, interesses, expectativas, motivações, necessidades, experiências e ritmos de aprendizagem são levados em conta nesse processo. As reflexões apresentadas neste trabalho resultam dos achados do projeto de pesquisa em questão, e formam a base para seu desdobramento na proposta de organização de um cineclubinho, cuja programação deverá ter em vista crianças do ensino fundamental, além de abrir espaços para que professores também possam participar, e construir percursos próprios no exercício da experiência estética por meio das narrativas cinematográficas. 639 16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas Dinâmicas Epistemológicas em Artes Visuais – 24 a 28 de setembro de 2007 – Florianópolis Assim, este artigo está dividido em três partes. Na primeira, são levantados alguns aspectos que têm caracaterizado a inserção do cinema na educação de um modo geral, com foco na prática educacional. A segunda parte aborda os modos como o filme será usado como análise comparativa entre as crianças e professores envolvidos, como será feita a escolha do filme e o provável percurso do desenvolvimento do projeto. A terceira está dedicada à interpretação e narrativa do filme, como elas são construídas e assimiladas. O cinema e a educação O cinema se consagrou como a arte do século XX. Grande parte dos filmes produzidos nos primeiros anos da história do cinema, todos de brevíssima duração, era de caráter documental, considerados como antecessores do cinema educativo. Referindo-se aos 15 primeiros anos da história do cinema, Elliott (1948) diz que o público que pagava para entrar nas salas de exibição de filmes “divertia-se e, ao mesmo tempo, era educado” graças a películas do tipo documental. (PFROMM, 1998, p.77) Sobre a abordagem dos primórdios do cinema educativo, cabe aqui ressaltar que os denominados “filmes educativos” abrangem os instrutivos do tipo “como fazer”, os filmes para estudo na sala de aula, os documentários sociais, os científicos, os para debates, assim como muitos filmes produzidos para fins de relações públicas, treinamentos e até publicidade, abrangendo assim a quase totalidade do tipo conhecido como “não-ficção”, para uso fora da rede de cinemas comerciais. O cinema no contexto educacional direciona o olhar para novos caminhos que antes eram desconhecidos principalmente quando se considera que mais da metade da população brasileira nunca foi a uma sala de cinema, tendo acesso aos filmes por meio das redes de televisão, além disso, a maior parte do público consome as imagens de modo passivo. E ver cinema com olhar mais atento e ativo é percorrer por novos caminhos, nos quais o espectador passa de passivo para crítico, evitando ser consumido pelas imagens. É nessa hora que entra o professor como mediador e instigador do sujeito, levando as crianças a construírem sua autonomia, ou seja, indo além do que é passível de se ver. 640 16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas Dinâmicas Epistemológicas em Artes Visuais – 24 a 28 de setembro de 2007 – Florianópolis A assertiva de Napolitano de que “não é exagero afirmar que, em alguns casos, o filme é particularmente responsável por um processo de formação de personalidade e valores morais e ideológicos” (NAPOLITANO, 2005, P.27), reforça a importância de não ficar apenas no filme como “ilustração”, mas usar criticamente as representações e a narrativa fílmica como elementos propulsores de debates temáticos, um exercício de aprimoramento do olhar e o “desenvolvimento do seu senso crítico em relação ao consumo de bens culturais” (idem). Deve-se observar que as discussões relativas ao cinema no contexto educacional, seja no ambiente do ensino das artes visuais, ou de outras áreas do conhecimento, em sua maioria, são marcadas por “orientações” quanto ao “uso” das narrativas cinematográficas como estratégias para o desenvolvimento de conteúdos escolares, como ilustração de assuntos diversos, ou ainda ecoam as referências de análise de filmes, nas quais prevalecem os pontos de vista dos autores, como na primeira tendência assinalada. Tendo em vista tais considerações, e notando que as transformações no confronto entre gerações, tais como os conflitos que acontecem porque gerações diferentes têm visões de mundo distintas, são cada vez mais evidentes e que a participação da mídia nessas transformações é notória, reafirmamos nossa escolha em trabalhar com o cinema como eixo da prática de ensino e também de pesquisa. Escolhendo, assistindo, discutindo filmes... Várias são as questões que acompanham esse trabalho, cujas respostas vão sendo reformuladas ao longo do percurso, ao mesmo tempo em que abrem flancos para novas questões, dentre as quais: trabalhar com filmes de curta ou longa metragem? Com qual, ou quais, gêneros cinematográficos? Como realizar a projeção: fragmentada, para que seja possível conversar, tirar dúvidas ao longo da projeção, ou num bloco apenas, podendo retomar trechos dos filmes posteriormente? Quais os critérios a serem privilegiados na seleção dos filmes? Em que referenciais teóricos referendar a condução do trabalho? Essas, e outras tantas perguntas balizaram o planejamento das etapas do trabalho, bem como a busca dos referenciais conceituais para sua sustentação, no cruzamento entre as questões próprias do ensino de artes visuais, da linguagem cinematográfica 641 16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas Dinâmicas Epistemológicas em Artes Visuais – 24 a 28 de setembro de 2007 – Florianópolis (que aporta o som, além da imagem, configurando meio audiovisual), os processos de cognição e percepção das narrativas. Além de compreendermos que deveríamos estar disponíveis às surpresas do caminho, lembrando que nesse trabalho, como de resto, nos percursos do ato de pesquisar, nem todos os objetivos previamente definidos são contemplados, bem como outros acabam sendo incorporados ao longo do trabalho. De modo que não temos controle de todos os parâmetros articulados na complexidade dos processos de aprender e de pesquisar. A seleção dos filmes seguiu alguns critérios que favoreceram o planejamento das atividades. Alguns critérios podem ser considerados básicos, tais como a indicação prévia dos filmes de acordo com a faixa etária de nove a dez anos1 . Outro aspecto considerado foi a duração dos filmes, de curta ou longa metragem, mas que fossem viáveis dentro do tempo disponível, e também tendo-se em vista a característica das crianças no tocante ao tempo de atenção e concentração de que eram capazes. Além disso, o número de crianças envolvidas, o espaço e a infraestrutura disponíveis foram levados em conta no momento dessas escolhas. Os estudos narrativos, suas normas e princípios, destacados por Bordwell (1979), são relevantes na seleção dos filmes. Bordwell considera três aspectos na narrativa fílmica: a representação, como significação do conjunto de idéias; a estrutura, como combinação dos elementos; e o ato, como processo dinâmico de apresentação de uma história a um receptor. A mais, Turner esclarece que os filmes são vistos dentro de um contexto cultural que vai além do prazer da história, sempre oportunizando aprendizados: A complexidade da produção cinematográfica torna essencial a interpretação, a leitura ativa de um filme. Inevitavelmente precisamos examinar minuciosamente o quadro, formar hipóteses sobre a evolução da narrativa, especular sobre seus possíveis significados, tentar obter algum domínio sobre o filme à medida que ele se desenvolve. O processo ativo da interpretação é essencial para a análise do cinema e para o prazer que ele proporciona (TURNER, 1997, p-69). Para trabalhar a criticidade da criança, um aspecto importante a ser explorado é a relação do conteúdo do filme com a realidade de cada indivíduo. Pode parecer contraditório falar sobre a realidade do sujeito, referindo-se a uma 642 16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas Dinâmicas Epistemológicas em Artes Visuais – 24 a 28 de setembro de 2007 – Florianópolis narrativa ficcional. Mas o ficcional do filme fornece parâmetros que cooperam com a percepção do que é real de maneira menos sisuda e mais divertida para a criança. Vygotsky faz uma relação entre o brinquedo e as tendências do desenvolvimento sob a forma condensada. É notável que a criança comece com uma situação imaginária que, inicialmente, é tão próxima da situação real. O que ocorre é uma reprodução da situação real. (...) Isso significa que, na situação original, as regras operam sob uma forma condensada e comprimida. Há muito pouco de imaginário. É uma situação imaginária, mas é compreensível somente à luz de uma situação real que, de fato, tenha acontecido (...). É mais a memória em ação do que uma situação imaginária nova (VYGOTSKY, 2003, p. 135). Quanto aos termos cinematográficos, são necessários para a compreensão da estrutura de um filme. Dentre eles destacam-se: qual o papel do diretor? O que faz o diretor de fotografia? Qual a função do zoom? E a ficha técnica, para que serve? São questões importantes de serem trabalhadas para que um olhar mais crítico seja possível, sem perder de vista o prazer em assistir o filme. Através do estudo sobre as formas contemporâneas de sociabilidade observamos que “os sete saberes necessários à educação do futuro”, de Edgar Morin, integram as orientações de proposta como esta. Se não todos, mas alguns são saberes necessários a uma sociabilidade mais ampla e pertinente. A Identidade e a Compreensão Humana são trabalhadas durante o processo de conhecimento e reconhecimento do outro. O Conhecimento Pertinente pode ser percebido através das relações que as crianças fazem com seu cotidiano e a narrativa fílmica, que trabalha com a Condição Plenária, sugerida por Morin. A Antropo-ética, um saber que esse projeto evidencia, pois o propósito de aguçar a criticidade das crianças tem como um de seus caminhos a valorização da ética e da moral. A Incerteza é uma constante na elaboração, no desenvolvimento e na análise do projeto, esta incerteza faz com que o conhecimento seja uma busca constante. As possibilidades para interpretação de um filme com crianças nesta faixa de idade são inúmeras. Podem ser citadas: a discussão sobre o tema do filme; a comparação dos lugares que aparecem no filme com os lugares onde vivem; a construção das personagens; as possibilidades de identificação; o desenrolar da 643 16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas Dinâmicas Epistemológicas em Artes Visuais – 24 a 28 de setembro de 2007 – Florianópolis narrativa; o desenvolvimento de noções sobre luz e som. Também devem ser considerados os olhares, as falas e os gestos das crianças que podem nos dizer muito sobre a construção de significados construídos a partir dos filmes. No processo de interpretação e discussão dos filmes, a percepção também envolve um fazer, uma reelaboração sintética do aprendido e interpretado. A atividade prática tem como objetivo evidenciar o poder de comunicação, sedução e informação que têm sobre nossas decisões e escolhas. Tem também o objetivo de criar uma situação para que os participantes elaborem sínteses de sentidos e significados dos filmes. A percepção envolve um tipo de conhecer, que é um apreender o mundo externo junto com o mundo interno, e ainda envolve, concomitantemente, um interpretar aquilo que está sendo apreendido. Tudo se passa ao mesmo tempo. Assim, no que se percebe, se interpreta; no que se apreende, se compreende. Essa compreensão não precisa necessariamente ocorrer de modo intelectual, mas deixa sempre um lastro dentro de nossa experiência (OSTROWER, 1993, p-57). As narrativas fílmicas e suas visualidades no ambiente escolar As visualidades ocupam um lugar de destaque na cultura contemporânea, e a inserção da linguagem cinematográfica na educação, além de trazer para o ensino as questões da imagem e das estruturas narrativas tão familiares às crianças e adolescentes, amplia as possibilidades de discussões no âmbito dos processos de criação e da experiência estética propriamente dita, bem como vem a somar-se aos processos de aprendizagem, estimulando os mecanismos cognitivos de reflexão e análise, ajudando na formação para o exercício consciente e crítico da cidadania, e formando para a experiência estética mais ampla e diversificada, de modo que seja possível estabelecer uma relação mais autônoma e crítica com os próprios meios hegemônicos de comunicação. A escola deve aproveitar seu papel de instituição responsável na formação da sociabilidade, ampliando o conceito de leitura e aprendizagem, aproveitando de seus potenciais. Assim, é um desafio para as instituições educacionais contemporâneas explorarem de forma adequada esses recursos. Em geral, os meios audiovisuais são incorporados às práticas pedagógicas de modo reducionista, estritamente instrumental, quando não inadequado. Moran (Apud NAPOLITANO,1995, p.27) aponta, de modo crítico e contundente, alguns modos como vídeos são usados em sala de aula, dentre os quais os mais 644 16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas Dinâmicas Epistemológicas em Artes Visuais – 24 a 28 de setembro de 2007 – Florianópolis comuns são: o vídeo tapa-buraco, que coloca vídeo quando aparece um problema inesperado, como a ausência do professor; o vídeo enrolação, pois exibe um vídeo sem muita ligação com a matéria; o vídeo deslumbramento, caracteriza-se pela descoberta do uso do vídeo pelo professor, passando vídeos em todas as aulas; vídeo perfeição, críticas destrutivas, por parte do professor, ao vídeo encontrando neste só defeitos de informações e estéticos; e só vídeo, caracteriza-se pela exibição do vídeo sem uma discussão e integração com outros conceitos. A obra cinematográfica é uma poderosa ferramenta na construção do saber, no exercício crítico e reflexivo sobre questões as mais diversas, e, sobretudo, na ampliação da experiência estética. É oportuno ressaltar que cada pessoa, ao se relacionar com a obra cinematográfica, ao construir interpretações de sua narrativa, tece uma espécie de "pano de fundo" sempre mutante, marcado por suas percepções da obra em si, e também do mundo, e do próprio indivíduo em relação à obra e ao mundo. Com isso, é importante afirmar que não há interpretações corretas, verdadeiras, absolutas, todas decorrem de múltiplas significações, interpretações e formas de olhar uma mesma imagem. E uma das fontes dessas formas de olhar uma imagem está na própria história de vida do espectador, Parsons (1992, p.39-42) em seu texto, Compreender a Arte, enfatiza a importância do conhecimento do desenvolvimento estético, classificando-o em cinco estágios. Cada estágio é mais complexo que o anterior, mas que se vale deste para avançar, e é uma estrutura organizada onde certo número de idéias é modelado por uma perspectiva dominante da arte e que esta perspectiva é diferente para cada um dos estágios. Apesar do estudo proposto por Parsons ser voltado para a percepção de imagens fixas tradicionais, pinturas modernistas, as características da seqüência de estágios podem ser adaptadas à interpretação de imagens em movimento, pois, ao assistir um filme, o espectador pode encontrar-se em um determinado estágio, ora desconhecendo, ora fazendo-se conhecedor, tanto da narrativa como da linguagem cinematográfica. A organização do cineclubinho terá em vista, dentre outros aspectos, a compreensão dos processos cognitivos pelos quais as crianças, e ecucadores, buscam interpretações dos filmes, atribuindo significações, articulando informações, buscando compreender os elementos constituidores da linguagem. 645 16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas Dinâmicas Epistemológicas em Artes Visuais – 24 a 28 de setembro de 2007 – Florianópolis Nesse sentido, será priorizada a construção de um olhar crítico-apreciador para contribuir na seleção de seus filmes, propagandas e programas televisivos, inserindo-se nesta cultura imagética com mais conhecimento e crítica. Neste mundo saturado de linguagens diversas, a cujos fluxos todos estamos expostos, cabe à instituição escolar propiciar a estudantes e educadores o exercício dessas linguagens e dos demais meios de manifstação humanos, com o objetivo de preparar melhor seus estudantes para interagir de forma crítica com os veículos de informação diversos. Aí inseridas as narrativas fílmicas, nas quais seus realizadores articulam teias se significados, com vistas a questionar, indagar, denunciar, romper, criticar, discutir, afirmar valores vigentes da sociedade em que vive e também de outras sociedades. Assim, como o texto literário narra uma história, um acontecimento, também o cinema se constitui numa “arte narrativa” (CHIAPPINI, 2000 p.96). Sobre a narrativa cinematográfica, nota-se que as imagens, o movimento e a sonoplastia são privilegiados, pois é através desses recursos que se toma conhecimento do que é narrado. Na construção da narrativa, alguns elementos formais devem ser articulados intencionalmente pelos seus criadores, tais como a posição da câmera, os cortes, as luzes. A complexidade da produção cinematográfica torna essencial a interpretação, a leitura ativa de um filme. Inevitavelmente precisamos examinar minuciosamente o quadro, formar hipóteses sobre a evolução da narrativa, especular sobre seus possíveis significados, tentar obter algum domínio sobre o filme à medida que ele se desenvolve. O processo ativo da interpretação é essencial para a análise do cinema e para o prazer que ele proporciona. (TURNER,1997,p.69) À guisa de conclusão A inserção do filme e de outros meios audiovisuais na educação escolar não significa estabelecer concorrência com as produções textuais, tampouco excluir os outros modos de produção de imagens, ou subtrair o contato dos estudantes com as técnicas tradicionais de criação artística. Ao contrário, deve significar a ampliação das possibilidades de articulação de informação e de interação de estudantes e professores com o mundo da cultura em suas múltiplas formas de expressão, e fluxos de informação. É preciso que, os ambientes educativos estejam abertos aos trânsitos possíveis entre os modos variados de construção do saber, incorporando novas maneiras de produção de 646 16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas Dinâmicas Epistemológicas em Artes Visuais – 24 a 28 de setembro de 2007 – Florianópolis conhecimento. Contar com filmes no processo educacional é uma maneira de aprender a ver o mundo com outros olhares, a ampliar possibilidades de experiência estética, numa clara contribuição para a formação de sujeitos capazes de interagir com imagens em suas diversas naturezas, de modo mais crítico e criativo. Bibliografia: ARAÚJO, Inácio. Cinema: o mundo em movimento. São Paulo: Scipione,1995 BARBOSA, Ana Mae (org). 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Criatividade e processo de criação. 9ª ed. – Petrópolis: Vozes, 1993. PARSONS, M. J. Compreender a arte. Lisboa: Presença, 1992. PFROMM NETTO, Samuel. Telas que ensinam: mídia e aprendizagem do cinema ao computador. Campinas – SP: Editora Alínea, 1998 TURNER, Graemer. O cinema como prática social. São Paulo: Summus, 1997. VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 1 Filmes que têm recomendação de “idade apropriada” na própria capa. 647 16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas Dinâmicas Epistemológicas em Artes Visuais – 24 a 28 de setembro de 2007 – Florianópolis Currículos Alice Fátima Martins Doutora em Sociologia (UnB), Mestre em Educação (UnB), Arte Educadora, Professor Adjunto II na Universidade Federal de Goiás, Coordenadora do Programa de PósGraduação em Cultura Visual (FAV/UFG), Coordenadora da Rede Goiana de Pesquisa em Cinema e Cultura Visual - FAPEG/GO. Adriane Camilo Costa Mestranda em Cultura Visual (UFG), Arte Educadora (UFG), Professora da Universidade Estadual de Goiás, membro da Rede Goiana de Pesquisa em Cinema e Cultura Visual - FAPEG/GO. 648