Ano I - N.° 4 - 21 Jun./22 Set. 2002 – Revista trimestral E 2.50 IVA incluído Aguda: Parque de Dunas Maio: Recorde de 36 mil visitantes!… Educação: uma noite no parque 14 Uma Noite no Parque Revista “Parque Biológico” Este é o título de um dos programas de educação ambiental desenvolvido pelo Parque Biológico de Gaia. Nas actividades destaca-se um passeio nocturno pelo percurso de descoberta. Em Junho, os vaga-lumes surpreendem os visitantes... Director Nuno Gomes Oliveira Editor Jorge Gomes Fotografias Arquivo Fotográfico do Parque Biológico de Gaia, E. M. 20 Parque de Dunas da Aguda Saiba por que razão as dunas devem ser protegidas. Nesse habitat estendem-se as plantas que estabilizam a areia e se conjugam com diversa fauna que ali encontra o apoio essencial para a sua sobrevivência e/ou reprodução. Além disso, protegem o Litoral. Mais um equipamento de educação ambiental vem enriquecer o concelho de Vila Nova de Gaia. Em Miramar, aguarda as suas visitas. Propriedade Parque Biológico de Gaia, E. M. Pessoa colectiva 504888773 ISSN 1645-2607 N.º Registo no I.C.S. 123937 Dep. Legal 170787/01 Execução Gráfica ORGALimpressores Rua do Godim, 272 4300-236 Porto Secções Visite o site da revista “Parque Biológico”: http://www.revistaparquebiologico.com E-mail: [email protected] Maquetagem ORGALimpressores Tiragem 5000 exemplares 26 Centro de Ribeiras de Gaia Ver e Falar: O Leitor escreve Breves Colectivismo: Associação dos Amigos do Parque Biológico Registo: Novo recorde de visitantes Quinteiro: Vai uma banhoca? Habitat: Montado Flora: Sobreiro Fauna: Veado Educação: Dunas que florescem Educação: Ribeiras de Gaia Litoral: Áreas protegidas marinhas Conservação: O cavalo Tahki Internacional Geologia: Do garrafão ao bloco de notas Espigueiro: Aconteceu no Parque Jardim: Vai um cheirinho? Bloco de notas: Títulos para as férias Infância: Se alguém ama uma flor Foto da estação Revisão Fernando Pereira 4 7 8 9 10 17 18 19 20 26 28 32 34 35 37 44 46 48 Administração e Redacção Parque Biológico de Gaia, E. M. Estrada Nacional 222 4430-757 AVINTES – Portugal Telefone: 22 7878120 E-mail: [email protected] Página na internet: http://www.parquebiologico.pt Conselho de Administração Jorge Queiroz Firmino Pereira Nuno Gomes Oliveira FOTO DA CAPA Parte final do percurso de descoberta do Parque Biológico de Gaia. Foto Jorge Gomes/Arquivo PBG. editorial Em Maio o Parque Biológico teve um número surpreendente de visitantes: 36.083 pessoas, mais 11.775 que no anterior mês mais visitado de sempre (Junho de 2000). O Parque atinge, assim, ao entrar no seu 20.º ano de actividade, 1 milhão e 400 mil visitantes, dos quais cerca de 50% são alunos de escolas em visita de estudo. Ou seja 700.000 estudantes já visitaram o Parque! Não podemos dissociar este aumento do número de visitantes, que se vinha registando desde Novembro do ano passado, da edição da revista "PARQUE BIOLÓGICO", que tem sido enviada a cerca de 5.000 pessoas, e está a constituir um assinalável sucesso. A opção de concentrar a divulgação do Parque numa publicação de qualidade vai de encontro aos interesses dos visitantes mais atentos e assíduos e contribui para criar uma "cultura" de instituição fundamental para um interesse cada vez maior da população pela temática ambiental. Reflexo disso, para além do referido aumento de visitantes, foi a presença de quase 500 pessoas na "NOITE DOS PIRILAMPOS", uma iniciativa tão simples como convidar para um passeio nocturno no Parque, para simples observação dessa forma de vida tão espectacular e ameaçada como são os Vaga-lumes ou Pirilampos que, no Parque Biológico, temos conseguido preservar graças a uma cuidada gestão da flora espontânea e à não aplicação de herbicidas e pesticidas. Num concelho como Gaia, onde o investimento municipal nas acções de qualificação ambiental, e o sucesso dessas acções, vem aumentando (12 bandeiras azuis nas praias, este ano!), o Parque Biológico não pode deixar de chamar a si um bocadinho de mérito: não foi em vão o nosso contributo ao longo de 20 anos de Educação Ambiental. Hoje, felizmente, ao nosso trabalho junta-se a Estação Litoral da Aguda e, recém-inaugurado, o Centro de Educação Ambiental das Ribeiras de Gaia, da responsabilidade da Empresa Águas de Gaia, o que nos faz antever um futuro ambiental melhor para este concelho e para os outros, já que estas acções não se fecham nos limites territoriais de Gaia e têm efeitos demonstrativos e reprodutivos. Veja-se o caso do modelo "parque biológico", concebido e desenvolvido em Gaia e hoje reproduzido em Madrid (Parque Biológico de Madrid), Silves (Parque Biológico de Silves) e Lamego (Parque Biológico da Serra das Meadas). Entretanto, no «nosso» Parque Biológico, deixámos de ter como Presidente do Conselho de Administração o Prof. Dr. Fernando de Sousa que, por motivos pessoais, teve de abandonar a função, sendo substituído pelo Dr. Jorge Queiroz, vereador da área administrativa e financeira da Câmara Municipal de Gaia e experiente gestor, que preside a outra empresa municipal, a Gaia Social, desde a sua fundação. Também o vereador Nuno Sousa deixou o nosso Conselho de Administração, sendo substituído pelo vereador Firmino Pereira. Nuno Gomes Oliveira Director da Revista «Parque Biológico» Administrador do Parque Biológico Verão 2002 Parque Biológico 3 ver e falar Vida campestre O leitor Henrique Bastos envia-nos uma reflexão sobre a mudança de costumes rurais, em 2002.01.15, e defende uma agricultura sustentável O PATRIMÓNIO RURAL ESTÁ EM PERIGO nos. As sementeiras efectuavam-se manualmente a lanço. No decorrer dos últimos 20 anos e após um contacto assíduo com o mundo rural da região de Entre Douro e Tâmega, tive oportunidade de colaborar em diversos programas agrícolas e socioculturais, onde contactei com o património humano, animal e vegetal. No Verão realizava-se algumas colheitas. Uma das mais tradicionais era as malhas do centeio, sempre muito animadas pela população. A biodiversidade está a ser adulterada com prejuízos incalculáveis para a humanidade. Introduzem-se sementes híbridas, material vegetativo para propagação e duplicação de espécies arbustivas (frutícolas e vitícolas), e prejudicam as raças autóctones* através de cruzamentos com raças exóticas de maior potencial produtivo em carne, leite e lã. Aparecem, porém, doenças difíceis de controlar. Ignoram-se práticas de maneio de formas ajustadas à ética e ao bem-estar dos animais. Há a modificação da paisagem. Manchas florestais desaparecem devido a incêndios. Esquecem-se que há uma história de vivência rural? Outrora, na periferia das parcelas e ao longo dos caminhos situavam-se sebes arbustivas que tinham uma importância imensa para o equilíbrio do ecossistema de produção agrícola. O milho, de variedades regionais, cultivava-se associado ao feijão de trepar ou a parcelas de centeio em camalhões com milho-grão e feijão semeados nos intervalos. Quando estas culturas saíam do terreno davam lugar a sementeiras de culturas forrageiras para alimentação dos animais e dos homens. O colmo proporcionava coberturas de casas e palheiros. A batata cultivava-se associada à couve-galega, assim como a fava e a ervilha. As fruteiras eram plantadas nas bordaduras das referidas parcelas e geralmente próximas das habitações. Junto destas colocava-se sempre uma figueira. As vinhas plantavam-se nas bordaduras das referidas parcelas dando lugar a bardos ou enforcados altos e ramadas. Os bovinos de raças autóctones – barrosã, arouquesa, galega e maronesa – viviam em comunidade com as ovelhas, dormiam e pastoreavam juntos. Nos rebanhos de ovelhas havia uma ou duas ovelhas pretas. No Outono ocorriam as desfolhadas do milho grão acompanhadas do cantarolar de canções populares. Os rapazes que encontrassem uma espiga vermelha tinham de dar um beijo às raparigas solteiras. Nas vindimas, ao esmagar as uvas no lagar, os homens organizavam autênticos festivais de música popular acompanhados de concertina e cantavam ao desafio. No Inverno era a matança dos porcos, o que resultava numa grande fartura, ou seja, havia uma mesa com grande variedade de comida, não faltando o sarrabulho. Chamava-se sempre os vizinhos e os bons amigos, havendo uma grande animação em toda a região. Transformava-se os cereais (milho e centeio) em farinha nos moinhos-de-água individuais e comunitários. A farinha era comercializada pelos moleiros que a transportavam em burros através de diversas aldeias. Quando as pessoas não tinham dinheiro para pagar a moagem, davam uma maquia (uma parte do cereal moído). Cada habitação possuía o seu forno para cozer a broa, a bola de carne de porco ou de sardinhas. Assavam o borrego e o cabrito em épocas festivas. Também andavam pelas portas os intermediários que compravam aos agricultores os cereais, o vinho, a batata, fruta, feno e animais, escoando os produtos. O amolador de tesouras aparecia com um apito característico para alertar a população da sua passagem. Consertava tesouras, facas para afiar, louças de barro e guarda-chuvas. Nas várias aldeias havia postos de cobrição de bovinos e suínos, onde os habitantes levavam as fêmeas para serem cobertas, onde pagavam os trabalhos de reprodução com cereais. Os produtores pagavam as rendas das explorações agrícolas aos senhorios com produtos produzidos na exploração. As rendas eram estipuladas oralmente no início do contrato. A mão-de-obra era comunitária, praticavam a entreajuda. Os suínos, de raça bísara, explorados e fechados em cortes, eram muito resguardados da vizinhança para os livrar do mau-olhado. As águas de rega provinham de levadas (linhas de água) — onde se faziam as regas das culturas pelo sistema de gravidade e alagamento —, eram atribuídas de acordo com as áreas e com a distância a que as parcelas ficavam com as culturas que habitualmente se praticava. Na Primavera tirava-se o estrume das cortes e transportava-se em carros de madeira puxados por bovinos autóctones para os campos, onde era colocado em montes alinhados ao longo das parcelas. Mais tarde o estrume era estendido manualmente e realizavam-se as lavouras. Estas eram efectuadas por arados puxados pela tracção dos melhores bovi- 4 Parque Biológico Verão 2002 * Que se desenvolveram cá e são próprias do nosso país. Aulas de Língua Portuguesa Uma manhã inesquecível No dia 2 de Maio fomos fazer uma visita de estudo ao Parque Biológico de Gaia. tante, porque ficamos a saber mais sobre a fauna e a flora do Parque. Infelizmente, o S. Pedro não esteve do nosso lado, pois estava uma manhã fria, triste, cinzenta e chuvosa. Finalmente e com a barriga já a «dar horas», fomos almoçar num encantador parque de merendas, onde, para nossa surpresa, não faltavam escorregas, balancés e outros divertimentos. Mas lá chegamos, tiramos uma fotografia de conjunto, à entrada do Parque, para mais tarde recordar. De seguida, alguns simpáticos funcionários levaram-nos a visitar uma linda exposição sobre a Evolução do Homem na Terra. Depois, em fila indiana e acompanhados sempre pelos nossos professores, lá partimos à descoberta da Natureza. Durante o percurso, por bosques e campos verdejantes, vimos coisas maravilhosas: um jardim tropical repleto de coloridas aves, plantas aromáticas e medicinais, a famosa Árvore dos Sonhos, uma raposa amedrontada, jovens gamos curiosos, aves de rapina, uma quinta com um espigueiro, cabrinhas brincando, carneiros pastando, burricos zurrando, porcos dorminhocos, a casa do moinho, o lago dos cisnes, a família do bode e do javali, elegantes cavalos pastando, poderosos bisontes, o rio Febros rasgando a floresta e muito mais, coisas só vistas e sentidas. Mas, não foi só passear! Pelo caminho, íamos lendo as vitrinas informativas, que nos ajudavam a preencher a ficha: «À Descoberta do Parque Biológico». Esta actividade foi impor- “Cabrinhas brincando, carneiros pastando, burricos zurrando” Verão 2002 Parque Biológico 5 ver e falar Antes de regressar à escola, ainda deu tempo para comprar algumas recordações na Loja do Campo, onde havia livros, postais, vídeos, porta-chaves, lápis, flores... Visitar o Parque Biológico é, sem dúvida alguma, uma aven- tura fantástica, que iremos repetir, mas agora com a nossa família. Os alunos do 5.º F e 5.º G da Escola E.B 2/3 Fernando Pessoa de Santa Maria da Feira Exposição sobre a Evolução do Homem na Terra Ficamos a saber mais sobre a fauna e a flora do Parque O ataque das gralhas! No número anterior aconteceu: as gralhas atacaram! Não as de penas, mas as de tinta. Duas em legendas: uma, na página 9, dizia «Ninhos artificiais para peneireiros-cinzentos (Alentejo), enriquecidos pelas cegonhas e pelas aves mais pequenas que aproveitam os gravetos do ninho maior». Mas por que é que não ficou só «peneireiros»? Assim, passava! É que há várias espécies de peneireiros e a espécie a que se destinam aqueles ninhos tubulares são os peneireiros-de-dorso-liso! Na outra legenda em causa, na pág. 19, foi a palavra milhões que se pensou escre- Os peneireiros-cinzentos nidificam em árvores. Reproduz-se uma das primeiras fotos dessa ave a nidificar (Foto de M. D. England - Elanus coeruleus - Figueira de Castelo Rodrigo, Junho de 1963) 6 Parque Biológico Verão 2002 ver mas ficou só no campo das intenções: referia «Água dos oceanos (1320 Km3): 97,2%» e devia ter sido escrito «1320 milhões de Km3». Se com revisão acontece isto, imagine como não seria sem ela! Na pág. 34, na peça «Próximo destino: Slimbridge», aponta-se um custo de viagem a Inglaterra, alojamento incluído, de 7500 e; ora, isso seria uma fortuna! Coisas da conversão do euro em fecho de edição – custo correcto: 750 e (150.362$00). Com este esclarecimento, com certeza já pode começar a planear a sua ida! W breves ENCONTRO INTERNACIONAL DE ANÁLISE DA VEGETAÇÃO De 11 a 15 de Setembro os botânicos reúnem-se no seu IV Encontro da Associação Lusitana de Fitossociologia (ALFA) com o fito de «promover a partilha de experiências entre cientistas, técnicos e outros profissionais envolvidos na análise da vegetação. O programa de três dias incluirá comunicações por especialistas convidados em análise de vegetação, sessões abertas para apresentações orais e em poster, uma excursão ao noroeste de Portugal e uma sessão final dedicada à vegetação litoral de Portugal». DIAS VERDES Sob o mote «Para descobrir e conhecer a rede Natura 2000», o Instituto de Conservação da Natureza, entre 13 e 21 de Abril promoveu passeios, percursos interpretativos, palestras e exposições. Estes «nove dias verdes» pretenderam aproximar os cidadãos da rede Natura 2000. É que, a partir de Bruxelas, a Comissão Europeia mobilizou os países da União para uma campanha de informação sobre a rede ecológica europeia em construção. Mas o que é a rede Natura? «Em Maio de 1992, os governos dos países da União Europeia adoptaram legislação para proteger os habitat e espécies da Europa mais seriamente ameaçados. Esta legislação é a Directiva Habitats (92/43/CEE) e complementa a Directiva Aves (79/409/CEE), adoptada em 1979. Uma das finalidades destas duas directivas comunitárias é a criação de uma rede ecológica europeia chamada Natura 2000. «A Directiva Aves propõe a criação de Zonas de Protecção Especial (ZPE) para as aves. Do mesmo modo, a Directiva Habitats propõe a criação de Zonas Especiais de Conservação (ZEC) para outras espécies, de flora e de fauna, e para habitats. Juntas, as ZPE e as ZEC constituem a rede Natura 2000». Estão protegidos como Zonas Especiais Conservação 198 tipos de habitat naturais. de A rede Natura 2000 vai desde os Açores a Creta e da Madeira à Finlândia e assenta numa parceria europeia. «Em Portugal, a lista nacional de Sítios aprovada abrange cerca de 25% do território nacional». O calendário internacional dos Dias Verdes pode ser visto em http://www.eurosite-nature.org III SEMANA DA CARQUEJA Entre os dias 4 e 12 de Maio decorreu a III Semana da Carqueja, na Fraguinha. Os fogos florestais e a energia eólica foram os temas fortes do colóquio que se desdobrou no dia 11. Actividades de ar livre, passeios pedestres e acções de formação foram alguns dos outros pontos do programa. Verão 2002 Parque Biológico 7 colectivismo O Parque tem Uma Assembleia Geral da Associação dos Amigos do Parque Biológico de Gaia decorreu no passado dia 11 de Maio, pelas 17h30, em Avintes, conforme anúncio publicado no jornal «Público» de 26 de Abril. Da agenda de trabalho constaram os seguintes pontos: 1) aprovação do Relatório e Contas referente ao ano de 2001; 2) eleição, para o biénio 2002/2003, dos Corpos Gerentes, que são os seguintes: Assembleia Geral – Presidente, Fernando Lopes Vieira; Vogal, António Peres Almada; Secretário, João Loureiro; Conselho Fiscal – Presidente, Manuel Meneses Figueiredo; Relator, Henrique Alves; Vogal, Arcanjo Pereira Araújo. Direcção – Presidente, Nuno Gomes Oliveira; Secretária, Sandra Brito; Tesoureiro, Joaquim Moreira Peixoto; Vogal, Telma Cruz; Vogal, Fernando Pereira Gomes. Amigos O Relatório e Contas está disponível para consulta nos arquivos da Associação. Ficou ainda agendado um jantar periódico de confraternização, sendo o primeiro já no próximo dia 20 de Julho. Por razões logísticas, terá de ser marcada a presença dos sócios que desejem participar no mesmo até dia 17 de Julho. A AAPBG conta até ao fecho desta edição 1959 sócios! Não admira, pois há vantagens. Ser amigo do Parque Biológico é muito mais do que ter entrada gratuita no Parque, nos termos do protocolo celebrado entre a Associação e o Parque Biológico de Gaia, E. M. Os Amigos do Parque são uma voz em defesa da sua ampliação e melhoramento, e podem colaborar nos trabalhos do Parque. Reunião dos Amigos do Parque Sábado, 20 de Julho Apresentação do Clube dos Amigos das Aves 18h00 - Visita ao Parque 19h30 - Jantar Jantar (10 euros) com inscrições pelo telefone 227878123 PROPOSTA DE SÓCIO Associação dos Amigos do Parque Biológico de Gaia PROPOSTA DE SÓCIO Nome: Morada: Telefone: Bilhete de Identidade: Arquivo: Data: / / N.º contribuinte: Junto envio 15 euros para pagamento da quota do ano em curso e fico a aguardar recibo, cartão de sócio e outra documentação. Enviar para: Amigos do Parque Biológico – 4430-757 Avintes – Vila Nova de Gaia (Inclui entrada gratuita no Parque Biológico) ASSINATURA 8 Parque Biológico Verão 2002 registo Maio bateu recorde Que grande número: 36 mil visitas só no mês de Maio! O número que atingia antes essa fasquia máxima era 24 mil. Bem visto este ponto, a procura constante do Parque Biológico em melhor servir a população dá resultado, o que se sabe e se tornou até tradição nesta empresa: assim, trata-se de uma tendência a que não se regateia esforço. Associado a isto, verifica-se que está quase a fazer um ano que um projecto conseguido se consolidou e tem, com certeza, a sua quota de influência decisiva neste «boom» de visitantes: a revista PARQUE BIOLÓGICO. Através desta publicação, o visitante isolado passou a compreender que o Parque Biológico de Gaia não é só — e já não seria pouco — um passeio em plena natureza mas também um equipamento singular, e também valioso, para que os professores das escolas da região — e de além dela — o aproveitem para intensificar o seu esforço educativo. Sem ficar por aí, esta revista aponta dados e ideias sobre um amplo leque de inúmeras actividades, tanto de educação ambiental como de conservação da natureza no seu sentido mais estrito. Porque se é facto que o Parque Biológico já conta quase 20 anos de profícuo trabalho, por vezes, diante do que há para fazer, até parece que ainda estamos a começar!...W VISITA DO PRESIDENTE No passado dia 8 de Maio, quarta-feira, o presidente da Câmara Municipal de Gaia, Luís Filipe Menezes, almoçou no Parque Biológico, acompanhado do secretário de Estado do Ambiente do actual Governo, Dr. José Eduardo Martins. Anuncie na revista «PARQUE BIOLÓGICO»! TABELA DE PUBLICIDADE PARA 2002 Verso da Capa (1 página). . . . . . . . . . Verso da Contracapa (1 página) . . . . 1 página. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1000 euros 1000 euros 800 euros 1/2 página . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1/4 página . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 rodapé. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 400 euros 200 euros 200 euros Somar 17% de IVA aos preços da tabela. Inclui publicação de anúncios a todas as cores. Mais informações através do telefone 227878123 (Sandra Brito) ou através de uma visita pessoal ao Parque Biológico de Gaia. Verão 2002 Parque Biológico 9 quinteiro Uma banhoca? Nem só de grão vivem as aves. No Estio, quando o calor empurra para a sombra do casario ou do arvoredo, água para beber e para um banho são a atracção da passarada Vi pela janela o passarito esverdeado, uma felosa mínima, abordar o lago. Pequenito, saltitante, era um pompom a que um mágico tinha soprado vida. Quando pensei «vai fugir», aterra, seguro, na folha de nenúfar, a boiar à superfície. Pousado, acreditei: «vai afundar»! Engano-me outra vez. A folha redonda imerge apenas o suficiente para o pequenote se espolinhar, como via os pardais fazerem na terra, repetidamente. Pelo à-vontade dele, não era a primeira vez. Refrescar Afinal, no topo do Verão não somos só nós quem gosta da banhoca! E tanto é assim que hoje as lojas vendem o que chamam, e muito bem, banheiras e bebedouros para pássaros. Estas peças não se destinam às aves típicas dos ambientes lacustres e estuarinos, como as garças e os patos, os galeirões e outros tais. São objectos feitos a pensar nas aves que, se por algum engano, aterram na água, não têm como sobreviver. Falamos dos piscos e das felosas, dos tenti10 Parque Biológico Verão 2002 Ou dispõe de um lago no seu jardim... ou vive lado a lado com um ribeiro, se quer oferecer água aos seus amigos de penas lhões e das escrevedeiras, e até dos tordos e afins. no, médio ou grande... Estes recipientes que franqueiam água às aves revestem formatos múltiplos. Mas há dois que dominam: as banheiras assentes num pedestal e os minitanques ao nível do solo. Em comum, duas características: deverão ter pouca profundidade e água sempre fresca, sem depósito de folhas ou outros resíduos. Há vários caminhos para favorecer a segurança da passarada nos espelhos-de-água. Um consiste em prevenir a emboscada dos gatos que, com um salto, muitas vezes são letais. Outra passa por dispor um monte de pedras em forma de pequena ilha na área inundada, pois isso cria abrigos para os insectos aquáticos e serve de poleiro seguro às pequenas aves que queiram abeirar-se da água. Outra, ainda, reside em instalar pequenos pontos de baixa profundidade, cujo acesso seja fácil e seguro, por exemplo, criando uma pequena queda de água artificial alinhavada em calhaus. Acesso Fora isso, no que toca a água, viver perto de um ribeiro ou dispor de um lago no jardim são as outras formas de chamar a passarada ao seu quinteiro. A água serve para as aves, primeiro, beberem, e, também, tomarem banho. Tratando-se de beber, percebe-se que, ao falar de lagos, é forçoso pensar em vários pormenores. Por exemplo, bordas abruptas, plantas de pequeno porte, sem ramos, que formam maciços vegetais densos, dificultam a tarefa de beber. Mais: até podem ser armadilhas, e os descuidados afogam-se. Assim, um acesso fácil à água é obrigatório, trate-se de um lago peque- As soluções não se esgotam: pequenos poleiros de madeira à flor da água podem ser instalados na fímbria do lago, de tal forma que as pequenas aves ali pousem e sorvam da superfície umas gotas, ao alcance do bico. Por isso, com banheira, poça, lago ou ribeiro, é sempre possível dar mais um jeitito à feição do gosto da passarada. Porque, afinal, em pleno Verão, quem não gosta duma banhoca?!W Quem mais os usa? Quais as aves que mais usam o lago de jardim? Felosas, piscos, pardais, chapins Quais as aves que mais usam o rio com que vive lado a lado? Patos, galeirões, mergulhões, garças, guarda-rios Quais as aves que mais usam o bebedouro-banheira? Felosas, piscos, pardais, chapins Um pato-real será visita possível num rio ou em lagos maiores, quem sabe, na ponta do seu jardim Bebedouro-banheira para aves Verão 2002 Parque Biológico 11 quinteiro É só montar! — Mas não há despesas de expediente a suportar? Sim, mas não são expressivas, sobretudo quando se verifica que muitos dos interessados já são sócios da Associação dos Amigos do Parque Biológico de Gaia, que, salientamos, recebem gratuitamente esta revista por correio. De resto, o que se quer é que as pessoas interessadas no Clube façam as suas próprias experiências em casa, nos seus jardins, e as relatem a esta revista, sendo certo que mais dia menos dia encontrarão aqui, nestas páginas, um espaço de comunicação e partilha. Daqui, propomo-nos apoiar o esforço de quem se nos dirija nesse sentido. — E o que se faz para integrar o Clube? Este é o cantinho habitual do Clube dos Amigos das Aves, uma ideia que suscita curiosidade e interesse. Temos sido contactados por várias pessoas, por escrito e presencialmente, que nos pedem mais esclarecimentos. As perguntas mais habituais são as seguintes: — Para me juntar ao Clube dos Amigos das Aves, tenho de pagar uma quota? A resposta é clara: não, ninguém precisa de aumentar as suas despesas ao aderir a este projecto. CLUBE DOS AMIGOS DAS AVES Os bons projectos estão no meio: antes e depois ficam as boas ideias. Uma delas consiste em criar o Clube dos Amigos das Aves de jardim. O que é isso? É simples: quem tem — ou pretende vir a ter — este passatempo (apoiar as aves no seu próprio jardim) contacta a revista "Parque Biológico", secção Quinteiro, que passa a unir os Amigos das Aves. E isso ao ponto de fornecer dados a respeito deste saudável passatempo. É facultativo, para cada membro inscrito, associar-se à Associação dos Amigos do Parque Biológico. Que tal? Gostou? Ficamos à espera das suas novidades, venham elas por carta (Parque Biológico de Gaia - Revista "Parque Biológico" - 4430-757 AVINTES) ou por correio electrónico: [email protected] 12 Parque Biológico Verão 2002 Envia-se uma carta a esta secção da revista, manifestando essa vontade e, sendo o caso, pedindo os esclarecimentos necessários. Aqui ficamos com o nome e morada, e daremos nota das novidades sempre que isso seja útil. Por falar em novidade, aqui fica uma! O Parque Biológico de Gaia está a preparar um kit Ninho-comedouro, a baixo preço, que contém as tábuas já cortadas à medida para ser só montar um ninho de madeira artificial. Assim, depressa arranja um ninho de madeira, bem como um comedouro de rede, tão do agrado dos chapins. W Loja do Campo A Loja do Campo quis ficar mais perto dos seus clientes: agora está mesmo ao lado da recepção do Parque Biológico e, no Verão, funciona todos os dias das 10h00 às 20h00. O Parque possui um horto, onde os visitantes podem adquirir plantas e árvores. Telefone: 227878120 Assine a revista “Parque Biológico” FICHA DE ASSINANTE FICHA DE ASSINANTE Pode receber em sua casa a revista «Parque Biológico» através de dois processos: 1) enviando o seu pedido de admissão de sócio à Associação dos Amigos do Parque Biológico (neste caso deve preencher a ficha da pág. 8 desta revista); ou então: 2) fazendo-se assinante desta Revista pela quantia de 7.5 euros por ano, preenchendo e enviando esta ficha: Nome: Morada: Telefone: N.º contribuinte: Junto envio 7.5 euros para pagamento de uma assinatura anual da revista «Parque Biológico». Enviar para: Parque Biológico – 4430-757 Avintes ASSINATURA: educação Parque ao luar A Lua aparece sob um véu, no alto, branca. Na escadaria do Parque Biológico a turma, cheia de entusiasmo, prepara-se para a incursão: será que já se vêem os pirilampos? «Fiquem lado a lado e não façam barulho», diz a guia, na noite de 21 de Maio. O ar sentia-se lavado pelas chuvas do fim da tarde que perigaram a realização da visita. Os sentidos absorvem o ambiente. A folhagem dos carvalhos é verde, na escuridão tranquila, graças à luz de um iluminador solitário. A vintena de crianças estaca. A guia aponta e baixinho diz: «Vejam aquele morcego!». Uma silhueta alada risca o ar. Insectos atraídos pela lâmpada são o seu alimento, quando a hibernação que o protegeu do Inverno ficou para trás. 14 Parque Biológico Verão 2002 O Parque mostra outra atmosfera. As sombras da noite ocultam os contornos exactos do percurso e um ar fresco realça a sonoridade nocturna. O chão está húmido e algumas folhas colam-se-lhe. Cuidado, não vamos calcar alguma salamandra! Já estamos na parte dos relvados. O primeiro vagalume ilumina-se, no voo lento. Apaga, desaparece, acende! Que novidade! João, que estagia no Parque e acompanha a turma, conta que eles começam a ver-se nesta altura e depois desaparecem no princípio do Verão. Os que vemos a voar são os rapazolas! As fêmeas, mais pesadas, estão pousadas algures e piscam as luzes aos da sua espécie, para se reproduzirem. Passo a passo, a luz amarela da lanterna aponta ali e acolá. Revela algumas plantas aromáticas, como a alfazema e o rosmaninho, o tomilho e a lúcia-lima, o chá-de-príncipe, alguns em flor. Aqui, ouve-se por momentos o ruído da estrada. O grupo avança, e a ansiedade desarranja a fila, que se recompõe. Adiante espreita-se o gaiolão dos bufos-reais, os maiores mochos da fauna ibérica. Uma fêmea, cega de um olho, está no choco. A miudagem é só silêncio, não vá perturbar as aves nocturnas. Estas são irrecuperáveis: se fossem libertadas, não sabendo caçar ou não estando aptas fisicamente para isso, morreriam. Quando se retoma o percurso, outro vaga-lume deambula. O professor Jorge — que lecciona Inglês, acompanha os alunos e pernoita com eles no Parque Biológico —, sem alarido, aponta-o perto do engenho-de-buchas. A guia aponta a lanterna para um ninho de madeira aplicado numa árvore, igual aos que a turma tinha construído horas antes. «Se estiver ocupado, estão a dormir!». As fêmeas, mais pesadas, estão quietas e piscam as luzes aos da sua espécie Verão 2002 Parque Biológico 15 educação À medida que palmilham caminho, alguns petizes já pensam no prazer do chá e da broa que ajudaram a fazer ao fim da tarde. Ideias interrompidas pelo breu do carvalhal: os que mais receiam o escuro juntam-se, não vá o monstro-das-bolachas aparecer a qualquer altura! A guia pára junto ao recinto de uns animais patuscos, esguios, peludos. Outro sai do buraco de um tronco no chão. «O que é isto?», indagam. «São os toirões», alguém responde. Mais alguns pirilampos entretêm o caminho de volta De resto, a raposa e os gamos estão tranquilos. Barriga cheia, não precisam de calcorrear o escuro. Pouco depois, quando as nuvens desaparecem de vez e o luar desvenda a leveza da noite, o professor aponta os cinco astros alinhados, que nesta data se vêem entre as silhuetas dos pinheiros. As corujas não têm o sossego do dia. Estão muito activas. Pudera! São predadoras na escuridão. Comem ratos, e até insectos. E há muitas espécies: aqui vemos O professor aponta o alinhamento dos astros 16 Parque Biológico Verão 2002 corujas-das-torres e corujas-do-mato, irrecuperáveis, como os bufos-reais. Não se prossegue o percurso. É que os animais domésticos, os bisontes, os grifos e restante fauna estão com certeza a aproveitar a noite para dormitar. Alguns pirilampos entretêm o caminho de volta e a Lua, mais brilhante, só se vê quando a copa dos carvalhos permite. Chegou a hora das broas e dos chás. E das memórias, essas perdurarão.W habitat Montado: contra a desertificação A paisagem plana tinge-se de cores diversas segundo as épocas do ano. No Verão, o montado lembra calor e secura, mas abriga uma flora rica e uma fauna diversificada O montado, em Portugal, impera na região alentejana. Quando a romaria das férias flui para o Algarve fica a ideia de tonalidades castanhas, típicas do Estio. Aqui e acolá, montes de linhas onduladas e suaves contestam a planície. O cultivo de searas de aveia, trigo e centeio mistura-se com as pastagens de gado, para quem a sombra dos sobreiros e das azinheiras faz muito jeito. Face à intervenção antiga e moderna do ser humano, o montado é um habitat seminatural. Revela um elevado interesse ecológico. Não é por acaso que, com frequência, passando entre montes e seus caminhos de terra batida, se depara com os «ingleses» munidos dos seus binóculos e telescópios, absorvidos na contemplação da rica avifauna do montado. E isso até no Inverno: os ecossistemas associados a este habitat acolhem um sem-número de aves que se refugiam do frio que se abate no Norte europeu. A flora não fica atrás! Há mais de 140 espécies aromáticas, medicinais e melíferas, como a alfazema e o rosmaninho, a lavanda e o alecrim, ou o tomilho. Os boletos, os míscaros, as silarcas — leia-se cogumelos —, entre o solo criam simbioses com o arvoredo, oferecendo vantagens e colhendo favores. É por estas e por outras que se diz: o montado combate a desertificação! Protege o solo dos desgastes erosivos, tendendo a reter a sua fertilidade. Beneficia o solo favorecendo a infiltração da água da chuva no solo que, como não abunda, é preciosa. Na prática, da confluência de uma constelação de factores, surgem microclimas amenos. Há mais virtudes a destacar: a riqueza deste habitat passa por ser constituído sobretudo por vegetação autóctone e por uma baixa densidade demográfica, ocupando as vilas e aldeias extensas áreas de forma relativamente contínua.W As charcas são uma intensificação da acção humana sobre o montado. Escavadas para dar de beber ao gado, aproveitam-nas espécies silvestres como mergulhões, patos, galeirões, entre outros Verão 2002 Parque Biológico 17 flora Casca de peso O sobreiro é a mais-valia no montado. Pode viver meio milénio! Espécie que só se dá no clima mediterrânico, oferece ao homem sobretudo cortiça, bolota e madeira Na flora do montado pontuam o sobreiro, a azinheira e o carvalho-negral. Mas a presença de muitas outras espécies, como os loureiros, piteiras, funcho, estevas, sargaço, estende-se de permeio com gramíneas e outras ervas a cobrirem o chão. Tanta variedade veste a paisagem de um colorido tão típico quão surpreendente, de acordo com a época do ano. Árvore endémica da região mediterrânica, o sobreiro é uma espécie robusta, de folha permanente, e pode alcançar 25 metros de altura. A floração dá o ar de sua graça em Abril e Maio. O fruto — a bolota — amadurece no Outono. Com preferência por solos soltos e ricos em sílica, resiste pouco ao frio e às geadas. Invernos húmidos, suaves, e verões quentes são do seu agrado. Distribui-se até aos 1200 metros de altitude. Protegido por lei, o sobreiro suporta a extracção da cortiça, no máximo, de nove em nove anos. Portugal é um dos grandes produtores de cortiça no cenário mundial. Conhecer melhor esta quercínea é dar passos para a sua conservação. No Parque Biológico há vários espécimes desta árvore, Quercus suber, em diferentes fases de desenvolvimento. Uma casca leve com grande peso económico O Alentejo abriga as grandes manchas florestais do sobreiro em Portugal 18 Parque Biológico Verão 2002 fauna O cervo Chega a viver um quarto de século e o seu efectivo no montado português está a aumentar, possivelmente vindo de Espanha Diz quem sabe que os veados não apreciam o calor. É também por isso que se torna mais fácil vê-los activos ao pôr-do-sol e ao amanhecer. Mas é de noite que são mais mexidos. A sua ementa são folhagens diversas, ervas, caules suculentos, bagas, frutos, e até casca de árvores. Apesar de se estender por diversos habitat, certo é que os veados, por entre o matagal mediterrânico, aproveitam os recursos do montado. Podendo pesar de 100 a 350 Kg, é o maior cervídeo da Península Ibérica. Nome científico: Cervus elaphus. O macho distingue-se da fêmea pelas hastes ramificadas que o caracterizam e por ser maior. Mas essa armação só é vista na sua plenitude em Setembro. Um facto que traz vantagem, uma vez que, lá para Novembro, ocorrem as disputas territoriais: é a brama ou berreio. No cio, o ar vibra com o resfolegar e os urros sonantes dos machos. Ultrapassadas as posturas ameaçadoras, se nenhum desiste, dá-se a medição de forças: hastes contra hastes, empurram-se. Na maior parte das vezes não se ferem: assim que um se dá como vencido, renuncia e foge. Acontece sempre que os veados dominantes são contestados por rivais. O grupo de fêmeas é o prémio do vencedor. Em teoria vence quase sempre o macho mais forte fisicamente, os seus genes são transmitidos à descendência, e assim sucessivamente, robustecendo a espécie. o macho jovem, pode acompanhar a mãe. Esta pode ser vista com uma cria de poucos meses e um subadulto, também seu descendente. No final de Fevereiro/Março chamam no Alentejo ao veado adulto vergonhoso, é mais difícil vê-lo, caíram-lhe as hastes. Como convém, mudam de pelagem no Verão e no Inverno. Velozes, ágeis e fugidios, como é típico dos cervídeos, as fêmeas agregam-se em manadas, admitindo crias de várias idades. Em séculos passados, além do ser humano, o seu predador era sobretudo o lobo. Hoje, é uma peça de caça, sendo as cabeças um troféu apreciado pelos amigos-do-gatilho. Por exemplo, na região do Tejo Internacional, sentiu-se um aumento da população desde a década de 1980. Os estudiosos pensam ser este reaparecimento consequência do êxodo rural.W A fêmea fica prenhe durante cerca de 8 meses. Com muita frequência só nasce uma cria, sarapintada com manchas brancas, uma ajuda preciosa à invisibilidade que deve vestir frente aos predadores, e que funciona quando se imobiliza. O vereto, nome que identifica Verão 2002 Parque Biológico 19 educação Dunas que florescem O Parque de Dunas da Aguda é um exemplo de como a natureza recupera, se o ser humano lhe dá oportunidade. De um areal aparentemente estéril surgiu um formoso jardim espontâneo onde florescem lições de educação ambiental Quando pisei as tábuas do passadiço de madeira naquela manhã, o nevoeiro levantava e a humidade enriquecia de tonalidades o solo. A areia branca, solta e seca dos dias de sol forte agora estava acastanhada em cores pastel, alisada pelo vento, sem mácula, estendendo-se como um bordado primoroso onde dominavam as flores amarelas e cor-de-rosa, lilases e azuis, umas a rastejarem pela areia, outras semierguidas. O rasto de aves e insectos, de répteis e de artrópodes dominava as marcas na areia. Na verdade, desenhos de actividade nocturna, histórias de vida da noite dunar. Se não conhecesse a história deste Parque de Dunas, diria que algum jardineiro ali tivesse andado a pôr ordem e protecção para atingir aquele efeito. Mas não: vedara-se apenas aquela área para que as plantas emergentes não fossem trucidadas. Há cinco anos que o Parque de Dunas abriu ao público, sob a égide da Câmara Municipal de Gaia e especificamente sob cuidado do Parque Biológico. Fica demonstrado: pisar as dunas destrói as plantas e, assim, a base do habitat dunar. Quem mais perde com isso são as populações, sobretudo as da vizinhança. Este parque de dunas conta agora 30 mil visitantes, só os que foram guiados e transportados por autocarro a partir do Parque Biológico. CONSOLIDAR HÁBITOS O Parque de Dunas da Aguda foi criado na Primavera de 1997 como resultado da aprovação de um programa LIFE, a que o Parque Biológico se candidatou. A candidatura foi formulada por Nuno Gomes Oliveira. Na altura uma grande inovação, o Parque de Dunas da Aguda consiste em dois terrenos no Litoral – à volta de 3 hectares – que se situam lado a lado na Aguda. Uma das partes não é visitável, mas a outra é, está aberta ao público todos os dias, sendo a entrada grátis. Em torno deste Parque fizeram-se vídeos, distribuiu-se banda desenhada, folhetos, ofereceram-se toalhetes a bares para colocação nos tabuleiros. Muitas pessoas aperceberam-se, graças a esse trabalho, dos problemas do Litoral. Curiosamente, todas as bandas desenhadas que o Parque produziu, painéis de mais de dois metros, estiveram expostos durante uma série de anos no Litoral e nenhum deles teve um único risco, nem nenhum bigode numa ave, nada. Ficaram intocados até terem sido retirados. É uma proeza! Ainda assim, é possível encontrar quem, ao levar o filho à praia, escapando aos passadiços de madeira, se o pé da criança encontra um cardo-marítimo meio enterrado, queira que essa planta desapareça de vez... 20 Parque Biológico Verão 2002 Mas isso é apenas falta de informação: à medida que as pessoas se apercebem da importância que as plantas que vivem nas dunas têm na fixação da areia, é evidente que começam a pensar duas vezes quando as pisam. Além disso, cada vez há mais passadiços e, até por uma questão de comodidade, os banhistas usam de forma crescente essas estruturas. Se é certo que os objectivos são claros, não há como fixar uma data a partir da qual se possa dizer que estes esclarecimentos atingiram todos os destinatários. Talvez seja necessário demonstrar à população as vantagens de proteger as dunas durante mais uns 10 a 15 anos para que os (bons) hábitos se possam consolidar. Entrada do Parque 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 - Silene littorea Brt.; 2 - Luzerna-das-praias ( Medicago marina L.); 3 - Estorno (Ammophila arenaria (L.); 4 - Relva-da-praia (Polygonum maritimum (L.); 5 - Eruca-marinha ( Cakile maritima (Scop.); 6 - Helichrysum italicum (Roth. G. Don fil. ssp.; 7 - Cardo-marinho (Eryngium maritimum L.); 8 - Cordeiros-da-praia ( Otanthus maritimus (L.) Hoffmanns & Link); 9 Artemisia campestris (L.) ssp. maritima Verão 2002 Parque Biológico 21 educação Pontas-de-lança As plantas das dunas são a vanguarda da evolução vegetal? Não serão se calhar as mais especializadas, pois há plantas que vivem em habitates extremos. Mas, em termos de dificuldade, elas ficam numa fasquia muito elevada: são ao mesmo tempo, na prática, plantas de deserto e plantas sujeitas a vendavais fortes. Quer a brisa marítima quer a terrestre estão sempre a atacar. As diferenças de temperatura são drásticas: de dia um sol tórrido, de noite uma brisa fria. Nesse aspecto, esta flora evidencia adaptações fantásticas. Como se o descrito não fosse já complicado, enfrentam ainda a falta de água e de nutrientes. A areia, pelas suas características, não consegue reter esses elementos. Assim, como contrapartida, as plantas dunares recorrem a estratégias que satisfazem um aproveitamento máximo de água e favorecem a absorção de nutrientes. Por exemplo, diminuem a superfície das folhas: quase todas têm folhas pequeninas. Quanto menor a superfície de contacto com o ar, menor a evaporação. Outras espécies sobrepõem as folhas, em forma de telhado. Assim, têm menos contacto com o exterior e estabelecem uma espécie de câmaras que retêm humidade entre si. Muitas delas têm pêlos, que visam reflectir a luminosidade e impedir que a luz bata directamente na superfície. Ora aí está um tópico que os carecas percebem bem em dias de sol! Mas a criatividade destas plantas não pára: os espinhos que muitas delas possuem são uma adaptação à secura. Quanto mais rijas as suas superfícies (fala-se de uma textura coriácia, de couro) menos transpiram. Por isso é que os cardos mostram aquela superfície dura. Olhando-os, parecem mais ou menos encerados. Algumas plantas, em vez de revelarem a habitual seiva líquida, evidenciam uma seiva mais pastosa, que tam- 1997 22 Parque Biológico Verão 2002 bém dificulta a perda de água. Outras adaptações passam pelo enrolamento das folhas, como no caso do estorno. E há também respostas à falta de nutrientes. Com rizomas gigantescos, conseguem uma grande superfície de contacto e uma maior absorção. Mas a vida num habitat móvel exige mais: a qualquer momento as plantas podem ficar soterradas, se o vento sopra e a areia as cobre. Como resolvem esse problema? Em vez de crescerem num só local crescem em vários pontos – se uma ou outra for tapada com areia, os outros rebentos continuam a fazer fotossíntese e esse espécime sobrevive. Outras plantas conseguem excretar sal, no caso das espécies mais próprias de sapal. Outras são suculentas, para terem reservas de água. As plantas dunares dependem sobretudo da água da chuva e do orvalho, porque pela raiz, dada a proximidade do mar, os lençóis freáticos tendem a salinizar. Primeiro passo No arranque deste projecto, os terrenos do Parque de Dunas da Aguda eram constantemente atravessados pelas pessoas na direcção do mar. É possível ver numa fotografia aérea antiga que a maior parte da zona frontal estava sem vegetação. As plantas não se conseguiam fixar. Ao ser pisada, a duna torna-se mais móvel. Havia muito mais areia exposta do que cobertura vegetal. À medida que se colocaram passadiços, as pessoas passaram a evitar pisar a areia, por comodidade, e as plantas começaram a surgir. Nessa altura, colocaram-se paliçadas para fixação da areia das dunas. Mas não umas paliçadas quaisquer! Paliçadas ecológicas – reaproveitaram-se podas de árvores do município e foi essa madeira que se usou com vantagens acrescidas: são mais eficientes porque os ramos, redondos e colocados em molhos, simulam melhor o efeito do vento na vegetação. Criam mais turbulência e a areia tende a ficar ali retida. Mas, e os vizinhos? Sim, porque o Parque de Dunas da Aguda tem vizinhos. Há 5 anos, a vizinhança compreendeu perfeitamente o que era o Parque de Dunas. Até ajudou na vigilância. Os problemas ocorriam com uma série de grupos que frequentavam a área de noite. Deitavam a rede abaixo às vezes só para fazerem ali uma fogueira ou um piquenique. Outros roubavam parte da vedação talvez para algum galinheiro. Aconteceu também pais portarem-se pior que os filhos. Quando a bola saltava da praia para o Parque, galgavam a vedação e ofereciam pancada ao segurança. Isto no Verão era frequente. Outras pessoas usavam a vedação para servir de encosto, cabide, e deterioravam-na. Também o «melhor amigo do homem» abandonado é um problema que atinge a vedação e a fauna que visita o Parque. Chegou-se a ver lá 15 cães de uma só vez. Dá sarilhos: há aves que fazem ninho nas dunas ou que precisam delas para descansar durante as migrações. Esses cães iam aos ninhos. E, muitas vezes, bastava a presença deles para as aves – como os borrelhos e os ostraceiros – não pousarem. Parque de Dunas da Aguda No Parque de Dunas da Aguda há um ou outro ouriço-cacheiro. Se fossem dunas extensas haveria até raposas. Neste espaço limitado há uma série de répteis: lagartos e lagartixas, talvez cobras, uns poucos anfíbios, mais ligados a uma charca temporária criada a norte para servir de bebedouro às aves migradoras. Face às vantagens, o ideal seria expandir o Parque. Mas não há como fazer isso. De um lado está o mar e, dos outros, mares de habitações. O que é possível é preservar o que resta das dunas, isso sim, apesar da erosão marinha que avança. Manter estes espaços naturais ou naturalizados é tarefa complicada! 2001 2002 Verão 2002 Parque Biológico 23 educação Apesar do Parque de Dunas da Aguda não ser grande, nele conseguiu-se proteger, entre muitas outras, uma espécie que só existe no Douro Litoral, sendo a Aguda o seu ponto mais a sul (o ponto mais a norte é Angeiras): a Rhynchosinapis johnstoni (Samp.) Heywood, uma raridade. Há outra que também existe neste Parque de Dunas: a Jasione lusitanica A. DC. Possui estatuto de protecção no Anexo II da Directiva Habitats. Outras desapareceram pensa-se que há umas décadas, como é o caso da camarinha, Corema album (L.) D. Don. Havia até uma rua na Aguda com esse nome. Porquê degradar? Silene portensis L. Bem comum Ainda assim não há como esquecer: as populações beneficiam destes parques dunares. No caso aqui da Aguda, se a duna frontal desaparecer a estrada passa a ser marginal, com todas as implicações que isso tem a nível da conservação dos edifícios. As marés vivas entrarão dentro das casas, fora o grande património florístico e faunístico que se esvai. Com esta revista, o Relatório e Contas de 2001 do Parque Biológico de Gaia, E. M. em CD-ROM 24 Parque Biológico Verão 2002 O que mais destrói as plantas das dunas, a nível local, é o trânsito de jipes, de motas, de pessoas de passagem para a praia. Numa escala mais abrangente, ainda com uma dimensão média, contam-se a extracção de areia e as barragens. As últimas imobilizam os sedimentos, que vão ficando em grande parte na albufeira, e não são distribuídos pelo Litoral. A uma escala maior, considera-se o problema do aquecimento global, o descongelamento das calotes polares, o aumento do nível da água do mar, uma série de fenómenos como a acidificação da própria chuva (que mata), e, claro, os movimentos tectónicos. EXEMPLO (CON)SEGUIDO Quando o que se faz num sítio se converte em modelo é porque a qualidade marcou pontos. Foi isso mesmo que ocorreu com o Parque de Dunas da Aguda. Por exemplo, se nos deslocarmos no Litoral para norte e chegarmos a Matosinhos, à Praia da Memória, encontramos um pequeno edifício de madeira, um prefabricado que em tudo evoca o Parque de Dunas da Aguda. Perto de Angeiras, embora possa e deva ser visitado todo o ano, a melhor altura é a Primavera e início de Verão, isto se quer apreciar as lindas flores silvestres das plantas dunares. Os borrelhos nidificam abundante e frequentemente no Parque de Dunas da Aguda De uma forma diferente, mais a norte, a Área Protegida do Litoral de Esposende também acolheu um elemento do Parque de Dunas da Aguda: uma banda desenhada distribuída aos milhares, a dada altura, aos restaurantes self-service do Litoral – na prática, foi só trocar o logótipo do Parque Biológico pelo da Área Protegida. Mas voltando a sul, também Mira e Vagos estabeleceram contacto com o Parque Biológico de Gaia no sentido da criação de um Parque de Dunas como o da Aguda. Tocando no facto de Portugal dispor de um Litoral extenso e ameaçado – já que a maior parte da população é aí que se concentra – é natural e desejável: o Parque de Dunas da Aguda continuará a inspirar projectos de educação ambiental e de conservação da natureza, no sentido de um desenvolvimento sustentado. Uma raridade: Rhynchosinapis johnstoni (Samp.) Heywood As actividades de educação ambiental propostas aos visitantes do Parque de Dunas passam por se prestar informações em visitas acompanhadas por um guia, sujeitas a marcação (programa «Dunas: conhecer e conservar»). Explica-se a importância das zonas húmidas, como funcionam as dunas, as adaptações das plantas, etc. No futuro, o Parque de Dunas vai dispor de uma série de outros programas de educação ambiental. Face ao presente, é de aguardar o futuro próximo com a melhor expectativa!W Praia da Memória, Matosinhos Verão 2002 Parque Biológico 25 equipamento Ribeiras de Gaia Em Miramar surge um centro de educação ambiental vocacionado para sensibilizar sobre a necessidade de protecção dos cursos de água doce Inaugurado no passado dia 12 de Junho pelo presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, o Centro de Educação Ambiental das Ribeiras de Gaia fica junto à ribeira do Espírito Santo, por trás do campo de golfe. Este centro acolhe diversas actividades: expõe aquários com várias espécies típicas das ribeiras deste concelho — montados pela Estação Litoral da Aguda —, dispõe de biblioteca e mediateca, de um minicampo de energias alternativas e uma sala de monitorização da qualidade da água da ribeira do Espírito Santo, entre outras. Cria-se assim «um espaço físico que possibilita o desenvolvimento de acções pedagógicas e a disseminação da estratégia ambiental do município de Gaia, criando e desenvolvendo no concelho uma maior consciência ambiental», bem como «sensibilizar os visitantes para as problemáticas ambientais, particularmente para a água, energia, conservação da natureza e resíduos». Pormenor do Centro junto à ribeira do Espírito Santo O Presidente da Câmara inaugurou o Centro de Educação Ambiental das Ribeiras de Gaia Praias azuis Vila Nova de Gaia dispõe hoje de 12 praias com a cobiçada bandeira azul, nomeadamente Canide Norte e Sul, Madalena Sul, Valadares Norte e Sul, Dunas Mar, Francelos, Sãozinha, Mar e Sol, Aguda, Senhor da Pedra e Miramar. «Das 144 praias portuguesas galardoadas, 22 estão na Região Norte e, destas, 12 na Área Metropolitana do Porto, todas localizadas em Gaia», afirma um cartaz da Águas de Gaia, E. M. A Bandeira Azul é atribuída pela Fundação para a Educação Ambiental (em inglês FEE), uma organização não governamental de ambiente em que cada um dos países participantes é representado por organizações nacionais. Em Portugal, o operador nacional é a Associação Bandeira Azul da Europa - secção portuguesa da FEE. 26 Parque Biológico Verão 2002 No âmbito deste centro, está em curso «um programa de limpeza, renaturalização e reabilitação dos 400 km de ribeiras do território concelhio e suas margens. Esta reabilitação, um misto de engenharia fluvial e de arquitectura paisagística, com forte componente ecológica, está no topo das prioridades da política ambiental dos países mais desenvolvidos. Dando resposta à procura crescente de actividade de lazer por parte das populações, a empresa Águas de Gaia está a construir uma rede de caminhos pedonais junto às margens das ribeiras e que abrange todo o concelho. O objectivo é que seja possível passear a pé ou de bicicleta ao longo de percursos sem automóveis, interli- gando o interior e o litoral e que permitirá criar acessos agradáveis e seguros às praias».W Poças Martins, vereador do Ambiente, e Luís Filipe Menezes no Centro de Documentação Na sala dos aquários do Centro as crianças olham de perto peixes comuns das ribeiras da região Rio Febros: ETAR em construção As estações de tratamento de águas residuais (ETAR) em bom funcionamento são equipamentos fundamentais para que a actividade humana massiva não degrade a natureza. A Câmara Municipal de Gaia constrói estações destas na Madalena, Areinho, Crestuma/Lever e rio Febros. A primeira vai servir todo o litoral do município gaiense, abrangendo 300 mil habitantes. A ETAR do rio Febros servirá cerca de 60 mil pessoas. O site da Câmara declara também que «após a entrada em funcionamento desta infra-estrutura, o concelho de Vila Nova de Gaia passará a contar com uma eficiente rede de saneamento, na qual se inclui o tratamento final de efluentes». Nessa altura, no Parque Biológico de Gaia assistir-se-á também a uma grande valorização da fauna fluvial. Habitantes antigos, falam da pesca da truta à linha e, até, da toupeira-de-água, um endemismo ibérico que há todo o interesse em conservar. Verão 2002 Parque Biológico 27 litoral Áreas protegidas marinhas Dos 13 Parques Naturais e mais uma mão-cheia de outras zonas com estatuto de protecção, existentes em Portugal continental, apenas quatro englobam território marinho ou parcelas da zona entre-marés Eis alguns: Parque Natural da Arrábida, Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, Parque Natural da Ria Formosa e a Reserva Natural das Berlengas. Se atentarmos na localização destas áreas facilmente percebemos que todas se situam no Sul do país, encontrando-se cerca de 400 km da costa ocidental sem nenhuma área protegida ou reservada. A estratégia de desenvolvimento sustentável da Comissão Europeia apresenta a gestão integrada do litoral como um instrumento essencial para atingir objectivos imediatos como sejam uma melhor exploração dos recursos vivos marinhos. Também a Agenda XXI, derivada da Conferência do Rio de 1992, apresenta a necessidade da preservação dos ecossistemas costeiros e a criação de áreas protegidas marinhas. Por outro lado, a nível nacional, o Plano Nacional de Política de Ambiente, de 1995, apontava a necessidade de se avançar com medidas de protecção da biodiversidade marinha apoiada, entre outras coisas, na conservação dos habitates costeiros. Mais recentemente, os Planos de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) recuam em termos de objectivos e de alcance estratégico, não avançam significativamente em termos de medidas de gestão para a parte submersa e, erradamente, não propõem claramente a implantação de áreas protegidas marinhas. O POOC Caminha-Espinho, no entanto, no que respeita à conservação da natureza, prevê, na sua Unidade de Paisagem 4 (U4), a protecção das bancadas rochosas em Angeiras e na zona Aguda-Granja. Como é que isso vai ser feito, é que ninguém ainda definiu. Ocupando as praias cerca de 60% da linha de costa, e estando sujeitas a uma sobreocupação humana, parte importante dos restantes 40% - que no Norte correspondem sobretudo a curtos troços de costa rochosa intercalada entre as sucessivas praias e às desembocaduras dos rios - deverá ser preservada como espaço de descompressão humana e como refúgio de vida selva- Zona do intertidal inferior na praia da Aguda (Barroeira coberta com algas) 28 Parque Biológico Verão 2002 litoral gem, sobretudo nos troços que abriguem endemismos vegetais, ou espécies animais e biocenoses com pequena expressão no país ou em riscos de extinção. A preservação do interesse recreativo, e portanto da atractividade das praias tem de assentar no conhecimento das razões que explicam essa aptidão, e que tem muito a ver com a fuga ao stress das grandes cidades. No entanto, em Portugal, assiste-se ao envolvimento das praias por ambientes tipicamente urbanos, quase tão viciados como aqueles de que os seus utentes querem fugir, acontecendo isso não para corresponder ao bem-estar e aos desejos da sociedade em geral, mas por pressão dos especuladores urbanísticos sobre o egoísmo duma minoria de utentes que julgam poder assenhorear-se individualmente de uma parcela da atractividade daquelas praias comprando nas imediações um lote de terreno. Encarar o litoral como um recurso finito torna-se cada vez mais uma evidência e uma necessidade. Para que possamos continuar a usufruir de uma paisagem costeira equilibrada e saudável, na qual as zonas naturais tenham cabimento, é urgente a consciencialização de que o litoral de amanhã depende da forma como o planearmos e usarmos hoje. A natureza não é um reservatório inesgotável, que tudo suporta, mas caminha sim para um ponto de ruptura devido ao uso e abuso que dela fazemos. Nunca é demais falar da delapidação de recursos de que o litoral é alvo. Desde as dunas até ao sublitoral, as destruições sucedem-se e tudo parece ser um bom pretexto para se destruir mais uma duna primária, para se usar mais um método de pesca nocivo ou para se pilhar e descaracterizar a zona intertidal (zona entre-marés). Quem frequenta a beira-mar facilmente testemunha a destruição levada a cabo no intertidal, o que manifesta uma grande ignorância por parte da esmagadora maioria das pessoas que têm acesso ao litoral. ral português sem pagarem impostos), e principalmente através da educação ambiental. É necessário que se proporcione às pessoas um mínimo de conhecimentos sobre a ecologia da zona entre-marés, para que não se continue a assistir a um pisoteio indiscriminado de espécies sensíveis e a uma pilhagem de formas juvenis de espécies que têm interesse gastronómico e portanto económico, quando atingem o estado adulto. Torna-se bastante difícil hoje em dia observar na zona intertidal indivíduos com o tamanho máximo, e muitas vezes mesmo com o tamanho médio para a sua espécie, de acordo com o que vem referido nos manuais. Qualquer pessoa que trabalhe com organismos intertidais sentiu já esse problema que, por vezes, dificulta a própria identificação das espécies. Este facto é devido precisamente à apanha de espécimes, cada vez com menor tamanho, e que por isso nunca atingem a idade adulta. É pois de extrema importância conservar determinados troços da zona intertidal, criando zonas reservadas, onde as comunidades de seres vivos possam atingir o estado clímax e que funcionem ao mesmo tempo como verdadeiros museus vivos onde seja possível estudar as espécies, onde se possam realizar acções de educação ambiental e de esclarecimento dos cidadãos sobre a importância e sensibilidade destas áreas e que sirvam também como zonas de dispersão e de repovoamento para o restante litoral. A praia da Aguda é uma pequena aldeia piscatória localizada 19 km ao sul do estuário do Rio Douro no concelho de Vila Nova de Gaia. Aí, devido à elevada diversidade de organismos marinhos e habitates, a costa rochosa adjacente apresenta uma vocação espe- Muitas destas pessoas, das mais variadas classes etárias, destroem os recifes da barroeira (Sabellaria alveolata) anelídeo poliqueta, completamente alheias à sua importância ecológica (ver n.º anterior da revista «Parque Biológico»), apanham peixes de tamanho diminuto, sem o menor interesse gastronómico, bem como pequenos crustáceos e moluscos que a maior parte das vezes acabam mortos no areal, destroem ao pontapé, nas rochas, inúmeros seres vivos de vida fixa ou semifixa por curiosidade mal orientada ou pelo mórbido prazer de destruir… É urgente inverter esta situação, através da regulamentação da apanha de animais e plantas na zona intertidal (actividade de que se ocupam e usufruem economicamente milhares de pessoas ao longo do lito- Casulos da Barroeira Verão 2002 Parque Biológico 29 litoral cial para a educação ambiental e para a conservação, bem como muitas oportunidades para a investigação científica. Nos últimos anos foram efectuados vários levantamentos das espécies da fauna e flora, bem como estudos de zonação e sucessão no litoral, envolvendo a zona entre-marés e as dunas (ver bibliografia). A base destes estudos foi, na maioria dos casos, o Departamento de Educação e Investigação da Estação Litoral da Aguda (ELA), uma instituição criada pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, cujo Museu das Pescas e Aquário estão abertos ao público desde o Verão de 1999. A praia da Aguda é uma das poucas praias rochosas da costa portuguesa onde uma grande área do seu substrato rochoso, sobretudo na parte sul, ainda está colonizada por um anelídeo poliqueta (Sabellaria alveolata), designado localmente por Barroeira. Este organismo tem a particularidade de construir casulos tubiformes com partículas de areia e pequenos pedaços de conchas, para neles se alojar. Uma vez que estes organismos se agregam em colónias, os casulos ficam totalmente unidos entre si, fazendo lembrar o aspecto característico dos favos de mel, e assim contribuem para a formação de novos substratos, que podem atingir as dimensões de verdadeiros «recifes». Os «recifes» de Sabellaria alveolata apresentam uma diversidade e abundância de organismos significativamente maior do que as zonas desprovidas destas estruturas. São assim muito atractivos para várias espécies de espongiários, cnidários, anelídeos, crustáceos, moluscos, equinodermes e peixes que ali encontram refúgio, abrigo, alimento e óptimas condições para a sua actividade reprodutora. Bloco ou «recife» de Barroeira destruído pelo pisoteio 30 Parque Biológico Verão 2002 Dada a grande importância ecológica destes «recifes» e tendo em conta que nada se conhecia acerca destes "tesouros" da costa portuguesa, deu-se início a um trabalho que teve como principais objectivos a caracterização do ritmo de crescimento dos «recifes» na praia da Aguda e a caracterização do tipo de comunidades que neles vivem. Foram encontradas mais de 140 espécies marinhas diferentes, que são associadas aos «recifes» da Barroeira (ver n.º anterior da revista «Parque Biológico»). Foram propostas medidas de conservação para estas estruturas, dada a facilidade com que podem ser destruídas. Principalmente nas épocas balneares, estes «recifes» são sujeitos a grande pisoteio pelo Homem e, não raras vezes, sofrem a acção destrutiva de picaretas que são usadas pelos pescadores pouco escrupulosos na procura de isco (outros poliquetas que não a Barroeira), para a pesca. Como primeiro passo foi elaborado um folheto de informação com o título «Proteja a Barroeira» que é gratuitamente distribuído aos visitantes da Estação Litoral da Aguda (ELA). Os trabalhos efectuados poderão futuramente possibilitar a demarcação de uma zona reservada no litoral entre a praia da Aguda e a praia da Granja. Um «Parque Litoral» onde se minimizarão, dentro do possível, a maioria das potenciais ameaças a este ecossistema, e onde se poderão desenvolver importantes acções de sensibilização das pessoas, no âmbito do Programa de Educação Ambiental no Litoral da ELA. Bibliografia DIAS SANTOS, J.P., (1996) - "Estudos de Ecologia Marinha Aplicada no Litoral da Praia da Aguda". I.C.B.A.S., Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, 137 pp. DIAS SANTOS, J.P., (2001) - "Concepção, Construção, Implantação e Monitorização de um Sistema Piloto de Recifes Artificiais". Tese de Mestrado, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto: 154 pp. PEREIRA, A. S., (1998) - "Morfologia, crescimento e fauna e flora associadas dos "recifes" de Sabellaria alveolata (L.) da praia da Aguda". Dissertação de mestrado. Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto. WEBER, M., (1998) - "Aguda entre as Marés - Fauna e Flora no Litoral da Praia da Aguda". Edições Afrontamento, Porto: 237 pp. WEBER, M., CAMPOS, J., COELHO, A.M., DIAS SANTOS, J.P., BENEVIDES, S.C.R., & SANTOS, A., (1999) - "Guia de Campo do Litoral da Praia da Aguda". Estação Litoral da Aguda, Câmara Municipal de Gaia. 104 pp. WEBER, M. , PRATA, J., CUNHA, I., SANTOS, A. & A. FERREIRA 2001 - Guia da Estação Litoral da Aguda. Fundação ELA, Vila Nova de Gaia: 102 pp. WEBER, M. , JESUS, P. & A. SANTOS 2001 - Cem anos na praia da Aguda. Edições Afrontamento, Porto: 168 pp. percurso Conheça o Património Natural com o Parque 13 de Julho (sábado): visita de estudo ao PARQUE NATURAL DO ALVÃO 09H00 – Partida do Parque Biológico, em autocarro, Vale da Campeã (Marão) / Fisgas do Ermelo / Lamas de Olo / Vila Real 19H00 – Chegada prevista ao Parque Biológico A visita será guiada pelos técnicos do Parque: Eng.ª Telma Cruz (Geologia), Dr. Henrique Alves (Botânica) e Dr. Nuno Gomes Oliveira (Zoologia). As inscrições serão feitas por ordem de reserva, até ao limite de 45 pessoas, e o seu custo (a liquidar no início da visita) é de e 15. Os participantes deverão levar almoço volante, e a visita realiza-se independentemente das condições atmosféricas. Calçado adequado e binóculo ou telescópio são vivamente aconselhados. Verão 2002 Parque Biológico 31 conservação Takhi: uma espécie em extinção… Takhi, na Mongólia, significa ser espiritual ou divino, mas esta palavra é utilizada também para definir os belos e graciosos cavalos que viviam no alto das montanhas Altai na estepe mongol, em total vida selvagem desde há alguns milhares de anos… Os takhi são cavalos de aspecto robusto talvez devido aos climas rigorosos que estão habituados a suportar. São equinos que podem chegar a cerca de 300 kg de peso, atingindo apenas 1,4 m de altura ao garrote, daí a sua aparência baixa e robusta. Com uma tonalidade muito particular, vai desde a castanha-escura (risca que traça o seu corpo no sentido longitudinal, terminando na rabada) passando pela castanha mais clara no dorso e garupa, e ainda, quase branco na barriga, retornando à castanha-escura nas patas. A pelagem, curta no Verão, torna-se comprida e densa no Inverno, devido ao frio que reina nas estepes da Mongólia. Nesta época, a manada — constituída normalmente por 10 a 20 fêmeas acompanhadas de um macho com mais de 6 anos que cobre e guarda a manada e suas crias (que são desmamadas entre 6 e 8 meses de idade, mas permanecem com a manada até cerca dos 2 anos) — desce do alto das montanhas para os prados situados mais abaixo, que lhes dão abrigo no Inverno, pois para além de terem umas temperaturas mais altas, fornecem-lhes pasto durante essa estação. O tempo de gestação dos takhi é de cerca de 340 dias. Normalmente só nasce uma cria, por volta de Abril e Maio. Ao fim de 24 horas já se encontra em condições de seguir a mãe e o resto da manada nas suas rotas diárias em busca de forragens e água. Os takhi ou cavalos-de-przewalski (assim chamados pois o último exemplar em liberdade foi visto por um russo, Nikolai Przewalski) passam a maior parte do dia a pastar, pois as forragens nos desertos das estepes da Mongólia não são muito ricas nem muito vastas, e de noite aproveitam para procurar água... Estão sempre alerta para evitarem os predadores: o lobo e o homem. Este último começou por lhes invadir o território, ficando os takhi sujeitos a espaços de terra sem água (porque o ser humano ocupava espaços de terra com água). As terras altas da Mongólia atingem temperaturas muito baixas no Inverno e a caça excessiva é um factor para a extinção de qualquer espécie. A carne dos takhi já foi muito apreciada pelos povos da Mongólia. Assim, o número de exemplares baixou, Os exemplares recebidos em Portugal vieram de Inglaterra em 13 de Dezembro passado 32 Parque Biológico Verão 2002 Os takhi têm 66 cromossomas numa molécula de ADN, e os cavalos domésticos têm 64 Na coudelaria de Alter, vivem quatro exemplares, ao abrigo de um acordo feito entre o Jardim Zoológico de Lisboa, a Faculdade de Ciências de Lisboa e o Serviço Nacional Coudélico chegando a extinção em vida selvagem. Os cerca de 1500 przewalski restantes estão espalhados por zoológicos e reservas naturais do mundo inteiro, ao abrigo de protocolos e leis de conservação de espécies, para que haja uma reprodução com sucesso e controlada a fim de futuramente serem reintroduzidos nas estepes da Mongólia, o que aparenta ser possível já que, hoje, a casa ancestral dos takhi, o deserto de Gobi, é uma reserva natural. Cá, nas planícies lusitanas, mais precisamente nos riquíssimos prados da coudelaria de Alter, em cerca de 2 ou 3 hectares de montado, vivem os quatro exemplares que lhes foram destinados, ao abrigo de um acordo feito entre o Jardim Zoológico de Lisboa, a Faculdade de Ciências de Lisboa e o Serviço Nacional Coudélico. Os exemplares recebidos em Portugal no passado dia 13 de Dezembro vieram de Inglaterra (Marwell) e pertencem a um programa europeu de conservação de espécies em cativeiro, sendo coordenadora do programa em Portugal Maria do Mar Oom, da Faculdade de Ciências de Lisboa. Cabe-lhe definir os exemplares que se poderão reproduzir uns com os outros, enviar os possíveis excedentes para a reintrodução que recentemente (cerca dos anos 90) começou a ser feita na Reserva Natural de Hustain Nuruu, na Mongólia. O cavalo-de-przewalski pertence a um programa europeu de conservação de espécies em cativeiro Os exemplares chegados a Portugal vinham de óptima saúde e depressa se integraram nas características do clima rigoroso de Alter do Chão. Mo e Virgínia, de 11 anos, e Suzannah, de 8 anos, foram as primeiras a sair do camião que os transportava, alinharam-se em três e saíram em trote ligeiro a fazerem reconhecimento ao território; Cyrano só mais tarde, depois de muito lutar dentro da box, em que o transportaram, é que sai meio trôpego do camião. Mal sentiu o cheiro das suas três esposas saiu em trote rápido atrás delas... os Takhi são animais instintivamente agressivos e dominantes. A cerca-limite dos três hectares que lhes são destinados está reforçada com uma faixa electrificada com pequena voltagem, a fim de se evitarem alguns acidentes de percurso como fuga e cruzamento com os restantes cavalos da coudelaria. Há quem defenda a tese de que os przewalski seriam o antecedente do cavalo doméstico, visto terem sido descobertos fósseis no Norte dos Estados Unidos que demonstram que foram extintos na última época glaciar, mas recentemente cientistas chineses descobriram que os takhi têm 66 cromossomas numa molécula de ADN, e os cavalos domésticos têm 64. Aguarda-se, assim, ansiosamente pelos resultados positivos desta luta pela preservação da última espécie de equinos que viveu até há pouco em vida selvagem, indomáveis e sem alterações nas características de raça.W NOTA: Baixo, robusto, orelhas pequenas, com maxilares e cabeça larga, pescoço e pernas curtas, cor-de-areia, com uma linha ao comprimento do dorso que começa na crina curta e dura e termina na rabada, castanha-escura, barriga quase branca e pernas castanhas-escuras também — estas são as características dos takhi que permaneceram imutáveis durante milhares de anos. Verão 2002 Parque Biológico 33 geologia Da cesta à câmara fotográfica e do garrafão... e ao bloco de notas Já lá vai o tempo em que os nossos parques e matas florestais, especialmente aos fins-de-semana, quando o tempo começava a aquecer, eram ocupados pela "cesta e pelo garrafão" em lautos piqueniques que, no geral, terminavam com uma roncadora sesta sobre uma manta estendida à sombra acolhedora da mata Os parques exercem, pela forma prática e pedagógica do que directamente transmitem a quem os visita, um forte e decisivo contributo para o respeito e a defesa do Ambiente O contacto com a natureza vai sendo feito cada vez mais, com os olhos e a cabeça em detrimento do estômago 34 Parque Biológico Verão 2002 No fim, o "campo de batalha" ficava inundado de despojos espalhados à superfície. Hoje, os parques de merendas continuam a existir, aumentados até e melhorados com estruturas de apoio para os seus utilizadores, mas talvez as cestas e os garrafões de outrora tenham diminuído, bem como, seguramente, os despojos de lautas batalhas. Sinais dos tempos? Nos dias que correm, o contacto com a natureza vai sendo feito, cada vez mais, com os olhos e a cabeça em detrimento do estômago. O bloco de notas e a câmara fotográfica substituem-se à cesta e ao garrafão. Bebe-se e saboreia-se, ao ar livre e puro, a fruição da bele- za da paisagem, buscando já o seu entendimento através da informação científica do meio físico que dá suporte às formas, ganhando, assim, esse novo tipo de conhecimentos; procura-se entender a distribuição do coberto florestal, das culturas agrícolas e dos solos a elas associados, e, também, porventura, através do reconhecimento do habitat, completar a "simbiose" entre o meio físico, com o vegetal e o animal. É na base desta trilogia que concebemos a estruturação dos parques naturais ou nacionais portugueses que já temos, e que aos poucos vamos procurando enriquecer e preservar. Portugal possui uma razoável rede de parques naturais. Independentemente da tutela a que estão subordinados, seja ao ICN seja às autarquias, importa mais, neste caso, quais os seus objectivos e finalidades, o que oferecem e quem procuram servir. Entendemos, em primeiro lugar, que — não tendo a fruição e o culto da natureza o fim em si mesmos — os parques exercem, pela forma prática e pedagógica do que directamente transmitem a quem os visita, um forte e decisivo contributo para o respeito e a defesa do Ambiente, em geral. Em segundo lugar, podem contribuir, de forma complementar, com o ganho e mais-valia de conhecimentos nos campos da biologia, da geologia, da geomorfologia associada à paisagem, da pedologia, da climatologia, da etnografia, etc., dependendo essa aprendizagem da forma como se encontram estruturados nas suas diversas vertentes e potencialidades aplicadas a esses factores-base da natureza. informação científica. São eles o da Peneda-Gerês, o de Sintra-Cascais, o Parque Natural da Serra da Estrela, estando em curso o projecto do Parque de Montesinho e do Douro Internacional. O Parque Biológico de Gaia, que em boa hora foi criado, possui todos os condimentos para poder vir a ser mais um desses parques onde a diversidade de informação de base científica, acessível ao nível da pedagogia mais elementar, se pode e deve diversificar e refinar. Por exemplo, no que respeita à Geologia e afins, a diversidade morfológica a que se associam diversos suportes geológicos — depósitos de terraços, xistos e granitos — gerados em idades geológicas tão separadas e distantes no tempo, formam só por si um atractivo de múltiplo interesse didáctico que vale a pena explorar e ilustrar da forma pedagógica mais acessível e elementar. E se essa pedagogia passar pela "cesta e o garrafão" de outrora, que o "sacrifício" valha pelo prazer de dormir uma sesta sobre um chão que se acaba por conhecer melhor e para o qual se passará a olhar de outra forma para o resto da nossa existência.W * Pedologia é a ciência que estuda os solos. Texto: Bernardo Barbosa e Narciso Ferreira, geólogos do IGM Deve, por isso, um parque natural procurar explorar de forma exaustiva, pela multidisciplinaridade de factores e acções que a natureza lhe concede, todas as suas potencialidades, através de uma interdisciplinaridade de conhecimentos de base científica, de forma que possam ser devidamente objectivados e se tornem facilmente inteligíveis e assimiláveis pelo comum cidadão visitante. Neste sentido, verifica-se serem já alguns dos nossos parques capazes de complementar a sua vertente biológica natural e a paisagística (geomorfológica) com a geológica que a enforma. Esta, para além do indispensável suporte físico (rochoso ou terroso) que empresta ao meio pedológico* e biológico, contribui também como importante condicionante climático. O meio físico, para além da definição da paisagem, considera-se ainda responsável pela escorrência das águas pluviais, superficiais e subterrâneas e como "barreira", ou não, climática. Alguns dos nossos parques naturais possuem já alguma dessa mais-valia geológica complementar que, dia-a-dia, vai enriquecendo os seus patrimónios em Verão 2002 Parque Biológico 35 internacional A maior flor do mundo Uma das plantas mais espectaculares do mundo é o Jarro-gigante (Amorphophallus titanum), cuja flor pode atingir três metros de altura, e é a maior conhecida no mundo. A sua forma assemelha-se aos jarros (Arum italicum e A. maculatum) comuns em Portugal, quer cultivados em jardins quer no estado selvagem. O Jarro-gigante é originário das florestas húmidas de Sumatra e o primeiro europeu a encontrar esta planta foi o botânico italiano Odoardo Beccari, em 1878. Enviou sementes para Itália, uma das quais deu origem a uma planta, enviada mais tarde para o Jardim Botânico de Kew, em Londres, onde floriu pela primeira vez em 1889. Voltou a florir em 1926, com um tal impacto no público que foi necessário destacar polícia para controlar os visitantes. Um novo exemplar de Jarro-gigante, produzido em 1995 por micropropagação, a partir de um outro exemplar existente no Jardim Botânico de Bona, começou a florir em Abril deste ano, no Jardim Botânico de Londres (foto junta); a flor atingiu já os 75 kg de peso!W XIII CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Educação Ambiental — o Ambiente e a Qualidade A Câmara Municipal da Maia organiza este congresso em parceria com o Parque Biológico de Gaia, E. M. e com o Instituto do Ambiente. Decorre já nos próximos dias 24/27 de Outubro. Inscrição: 75 euros. Do programa constam workshops e percursos, com destaque para os do Gerês, Corno do Bico, Alvão e Pias. Mais informações através do telefone: 227878120 (Verónica Magalhães). 36 Parque Biológico Verão 2002 espigueiro Histórias da Árvore dos Sonhos O Parque Biológico de Gaia e a Ilha Mágica – Projecto para a Infância e Juventude editaram o livro "Histórias da Árvore dos Sonhos". Da autoria de Alice Vieira, Anabela Mimoso, António Mota, Arsénio Mota, Inácio Nuno Pignatelli, João Pedro Mésseder, José Vaz, José Viale Moutinho, Luísa Dacosta, Luísa Ducla Soares, Manuel António Pina, Maria Alberta Menéres, Renata Gil, Violeta Caçadores de autógrafos Figueiredo e com ilustrações de Fernando Saraiva, esta obra foi lançada no Parque Biológico de Gaia, ao fim da tarde do passado dia 2 de Abril, também Dia Internacional do Livro Infantil. Marta Martins, do Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho, apresentou a obra. Acorreu ao auditório do Parque Biológico um vasto público, apesar da chuva desencorajadora. Dedicatórias dos vários autores Viale Moutinho e João Pedro Mésseder, dois dos 14 autores que participam na obra, em plena sessão de autógrafos Verão 2002 Parque Biológico 37 espigueiro Campos de Verão Os Campos de Verão, um dos "filhos" mais novos do Parque Biológico, vão lançar-se de corpo e alma para a segunda volta, mas para percebermos como as ideias nascem e resultam temos de procurar a sua fundação Em Abril de 2001 a primeira luz surgiu e a partir daí as ideias, as actividades, as vontades, as curiosidades, as visitas, as buscas e os anseios e desejos brotaram em explosão. Chegados a 13 de Julho, véspera do primeiro campo, a ansiedade subiu em escala galopante, mas entre pequenos percalços, gargalhadas, e até brincadeiras tudo correu bem. Ao todo realizámos 3 Campos: o primeiro de 14 a 23 de Julho, o segundo de 1 a 10 de Agosto e o terceiro de 14 a 23 de Agosto. Tivemos um total de 86 participantes, dos quais 28 responderam a um inquérito que foi a base para apresentarmos algumas curiosidades. As actividades mais relevantes foram: contacto com os animais, que assume um valor extraordinário, a visita Caça ao tesouro Construção de ninhos Contacto com os animais 5 2 12 Visita nocturna 5 Laboratório 3 Jornal 2 Broa 3 Reciclagem 1 Visitas 1 Construção de papagaios 1 Construção de briquetes 1 nocturna e a caça ao tesouro, e as actividades de laboratório e broa. Alguns dos nossos meninos também deram sugestões para possíveis actividades futuras: circuitos de BTT 1 mais actividades ligadas ao ar livre 1 maior contacto com os animais 5 passeios a cavalo 1 maior contacto com os pais 1 manter jogos tipo caça 1 maior número de actividades 1 Uma vez que a reacção foi tão boa e a nossa experiência pareceu agradar à maioria, não podíamos deixar de realizar uma nova "aventura". Este ano os Campos de Verão terão 7 dias e ao todo serão quatro: 6 a 13 de Julho, 20 a 27 de Julho, 3 a 10 de Agosto e 17 a 24 de Agosto. As actividades serão: Noite à Descoberta, Dia de Praia e Jogos, Passeio no Gerês, Música Natural no Parque, Pintura em Painel, Pequenos Petiscos e Bebidas, À Descoberta do Porto, Caça ao Tesouro, Volta da Alimentação, Jardim dos Cheiros, Noite de Festa, Decorpapel, Malabaristas, Ilha Mágica(1) e Broa com... As inscrições poderão ser feitas até ao dia 14 de Junho e nós estaremos aqui disponíveis para qualquer dúvida. (1) Com o apoio do Projecto para a Infância e Juventude Os Campos de Verão terão sete dias e ao todo serão quatro: 6 a 13 de Julho, 20 a 27 de Julho, 3 a 10 de Agosto e 17 a 24 de Agosto Por: Rita Valente 38 Parque Biológico Verão 2002 Ali estava o Gamo Bem, até pode ficar mal dizê-lo, mas certo é que demorei uns dez minutos a descobrir a cria de gamo que nasceu no fim-de-semana do passado dia 10 de Junho. No observatório, olhava para mais longe e, afinal, bastava ter olhado à direita: ali estava aquela bolita de pêlo, de olhos doces, aninhada no sopé da árvore. Depois da fotografia, até parece fácil descobri-lo. Pura lã virgem Do Jardim de Infância «Pimpão» chegou-nos a Chanel, uma ovelha jovem e charmosa. Foi oferecida ao infantário com aproximadamente dois meses de idade e, a partir daí, tornou-se mascote da escola, brincando e jogando à bola com os meninos. Era muito bem tratada. Todos lhe levavam comida e davam-lhe banho com Soflan. No entanto, preocupada com a vida sentimental da ovelhinha, a directora do Jardim dirigiu-se ao Parque Biológico para se aconselhar. visitá-la sempre que podem. ... e foi assim que se decidiu: a Chanel veio «casar» ao Parque. Agora está como quer: tem um marido, outras amigas e os antigos companheiros de brincadeira vêm No final do mês de Abril fizemos as tosquias e eles não faltaram. Agora, aguardam ansiosos que nasçam os filhotes!... Texto: Ana Mafalda Bezerros à vista Por: Vanessa Soeiro Dia 9 de Maio a vaca frísia chamada Matilde deu à luz um bezerro. Mas, sem que tenha sido necessário fazer um clone, juntou-se-lhe um outro bezerro da mesma idade, entretanto adquirido. Manuel Costa, Eng.ª Ana Mafalda, Paulo Costa após o êxito do parto Nasceram gémeas Duas cabras-anãs nasceram em 16 de Maio passado. Poucas horitas decorridas, ei-las enxutas e prontas para o que fosse necessário. Verão 2002 Parque Biológico 39 espigueiro Dias mundiais No início de Junho, duas datas das mais importantes marcaram o seu lugar. Uma lançou o mote da meninada, outra o do ambiente Dia Mundial da Criança Em 1 de Junho, sábado, o Parque Biológico foi invadido, no melhor sentido, por centenas de meninos e meninas. Ao todo foram 1445 visitantes! Nesse dia foi assinado, da parte da manhã, um protocolo de colaboração entre o Parque Biológico de Gaia e a Associação Ilha Mágica, que animou grande parte das actividades do dia, com destaque para o teatro «O rei vai nu», representado por crianças. O dia contou ainda ateliers de construção de ninhos, pintura, origami, contadores de histórias junto à Árvore dos Sonhos no percurso de descoberta do Parque Biológico, construção de vira-ventos e de papagaios-de-papel. A música de realejo animou a entrada do Parque. Dia Mundial do Ambiente O Parque Biológico de Gaia, nas suas instalações, fez no passado dia 5 de Junho o que faz todos os dias, a favor do ambiente, com quem o visita, mas especialmente com as escolas. O seu quotidiano decorre no universo da educação ambiental. O Rei vai nu Na Exponor, o Parque Biológico foi representado pelo seu director-administrador, Nuno Oliveira, que fez ali uma palestra sobre o que é e o que faz esta empresa municipal. Nuno Oliveira palestrou na Exponor Dia Mundial contra a Desertificação No passado dia 17 de Junho comemorou-se o Dia Mundial Contra a Desertificação. Um terço de Portugal apresenta sérios problemas de desertificação, com duas componentes importantes: a utilização inadequada do solo e o abandono do interior por parte das populações. 40 Parque Biológico Verão 2002 Arboricultura Moderna No passado dia 6 de Abril a Sociedade Portuguesa de Arboricultura apresentou o seu livro «Arboricultura Moderna» no Parque Biológico de Gaia, numa cerimónia que decorreu a partir das 17h30. Noites cheias de vaga-lumes As noites já de si são mágicas. Mais ainda se o pio dos mochos e as luminescências dos pirilampos as surpreendem. Houve ameaças de chuva, mas mesmo assim, para aproveitar isso e muito mais, nos passados dias 6, 7 e 8 de Junho, cerca de 500 crianças e adultos reuniram-se no Parque Biológico de Gaia para visitarem o Parque nessa atmosfera especial. No primeiro dia, uma quinta-feira em que houve menos procura, os vaga-lumes resolveram aparecer em maior quantidade. No dia seguinte, apesar da noite ter estado mais fria, também não se intimidaram. Mas na noite de sábado, quando afluiu a maior quantidade de observadores, bem... fizeram greve, vendo-se poucos. Coisas da natureza, que não controlamos! Revista «Parque Biológico» na internet Fruto da colaboração de Arcanjo Araújo e de Alípio Cabral, a revista PARQUE BIOLÓGICO dá cartas na rede mundial de computadores. Apesar de recente — está on line apenas há cerca de um trimestre — já conta com muitos visitantes. Na prática é mais uma extensão de educação ambiental e de conservação da natureza, algo de que muito carece este planeta em que vivemos. É só ligar: http://www.revistaparquebiologico.com Verão 2002 Parque Biológico 41 espigueiro Jornadas a favor da árvore Entre 15 e 17 de Maio, decorreram no Parque Biológico de Gaia as «Jornadas de Arboricultura 2002», organizadas pela empresa Planeta das Árvores. «Todos os dias as árvores são vítimas de agressões, vandalismo, acidentes, que determinam a sua destruição parcial ou total, sem que alguém indemnize quem quer que seja», afirmaram elementos da organização. «Este é um dos motivos, entre muitos outros, que junta especialistas europeus neste certame». O prof. Pierre Raimbault, prestigiado técnico francês, fez a abertura do programa, dia 15 de Maio, e abordou a problemática do diagnóstico morfofisiológico na avaliação das árvores. Um outro ponto forte do programa de três dias foi o seminário técnico sobre determinação do valor monetário das árvores ornamentais. Os temas «Quanto vale uma árvore ornamental para efeitos de indemnização ou expropriação?», «Determinação do valor monetário de uma árvore segundo a Norma Granada», «A experiência das Câmaras Municipais de Lisboa, Barcelona, Valencia e Terrasa» reuniram «quatro dos maiores especialistas ibéricos na matéria». Entre aulas práticas, seminário e outros itens, questões de arquitectura arbórea, estádios de desenvolvimento das árvores, seus elementos de desenvolvimento e crescimento foram explicados e debatidos, convergindo em torno da importância das árvores que, sendo verdes, são um dos maiores patrimónios deste planeta azul que é a Terra. 42 Parque Biológico Verão 2002 Eco-escolas Nos passados dias 14, 15 e 16 de Junho decorreu a Eco-escolas 2001/2002, organizada pela Energaia e pelo Parque Biológico de Gaia Pelo 2.º ano consecutivo, num ambiente de confraternização, as 9 escolas candidatas ao galardão Eco-escola apresentaram os seus trabalhos, trocaram experiências e passaram um dia aprazível no Parque Biológico. O programa iniciou no auditório do Parque Biológico de Gaia pelas 9h30 de 14 de Junho, com palavras do director do Parque Biológico, Nuno Gomes Oliveira, do administrador da Energaia, Nuno Sousa, e de Paula Costa, também da Energaia. Os alunos das escolas de Alquebre, Bandeira, Cedro, Devesas, Joaquim N. Almeida, Marmoiral, Pedras, Quinta dos Castelos e Teixeira Lopes apresentaram inúmeras actividades. Ouviu-se, na voz especial dos meninos e meninas dos sete aos 12 anos de idade, conselhos práticos sobre condutas que defendem o ambiente. Simples e directas: «Plante uma árvore», «Não deite lixo no chão», «Prefira andar mais a pé do que de carro», etc. Conselhos mais ou menos conhecidos, decerto menos praticados pela maioria, mas com certeza revistos e mais profundamente entendidos através daquelas vozes. Fazendo, aprende-se melhor. Parabéns aos alunos e professores! Houve ainda um almoço no Parque de Merendas e, de tarde, todos visitaram a Exposição Eco-escolas e o percurso de descoberta do Parque Biológico de Gaia. Parte da exposição Fotos: JG / Arquivo PBG Alguns dos muitos modelos que desfilaram no auditório Verão 2002 Parque Biológico 43 jardim Aromáticas: quer um cheirinho? Tal como previsto no último número da revista do Parque, voltamos a encontrar-nos, trazendo mais informações que julgamos serem úteis e agradáveis para todos os leitores, especialmente para os que são sócios da Associação dos Amigos do Parque Biológico de Gaia As plantas aromáticas são novamente o tema deste artigo e, porque muito há a dizer sobre elas, antes de descrever as técnicas de cultura de mais três espécies, farei algumas considerações gerais: em terrenos demasiado ricos, pesados e húmidos, as plantas aromáticas perdem bastante do seu perfume; salvo algumas excepções, a colheita deve fazer-se antes da floração, que é o momento em que têm mais aroma; os rebentos mais macios, que ainda não lenhificaram (aumento de consistência), contêm maior quantidade de substâncias odoríferas; excepção feita ao manjerico, as ervas aromáticas devem secar-se à sombra, em feixes pendurados num cordel com um nó corrediço, de modo a poder-se aumentar o aperto à medida que o vegetal seca. Com as ervas aromáticas devidamente doseadas, secas e reduzidas a pó, obtém-se, depois de peneiradas, um pó perfumado bastante apreciado na preparação de diversos molhos. A mistura é feita ao gosto pessoal e, se for bem conseguida, pode dar um cunho próprio aos cozinhados. Embora à data de publicação deste número se esteja um pouco fora da época ideal das sementeiras destas espécies, a seguir daremos as indicações de como cultivar o Manjerico, a Manjerona e o Tomilho. Pode-se sempre tentar no próximo ano... Manjerico (Ocinum basilicum) - Exige terra muito rica e um sítio quente. O manjerico pode semear-se em caixotes ou em vasos de flores (a manter em casa) em Fevereiro-Março e ser colocado em local definitivo em Abril-Maio. Depois de a planta iniciar novamente o seu desenvolvimento deve-se fertilizar e regar bastante, pois o manjerico é bastante exigente em água. Outra operação muito Manjerona importante são as sachas (limpezas do canteiro). As folhas colhem-se à medida das necessidades, se forem para uso em culinária, enquanto para lhes extrair a essência deixa-se passar a floração e depois corta-se a planta pelo pé. A secagem das folhas faz-se ao sol, pois assim conservam melhor o seu perfume. Manjerona (Origanum maiorana) - Exige uma terra humosa, solta e bem provida de fósforo. Deve semear-se em Abril, em local bem quente, cobrindo e compactando um pouco as sementes. A proporção de sementes deve ser de meia grama por metro quadrado; deve-se misturar as sementes, uma vez que estas são muito finas, com um pouco de areia o que facilita bastante o trabalho. Depois da colocação em local definitivo deve-se regar bastante. A colheita, salvo a de carácter ocasional para necessidades de cozinha, deve fazer-se imediatamente antes da floração, cortando os caules 3 cm acima da terra. No Outono arrancam-se as plantas. A secagem é feita à sombra, em local seco. Tomilho (Thymus vulgaris) – O Tomilho, planta vivaz, requer terrenos leves, calcários, pedregosos e não demasiado ricos, de outro modo perde bastante o seu perfume. A sementeira deve ser feita em Março-Abril, mantendo-se a terra sempre húmida até à germinação e transplanta-se em Julho. A reprodução também pode fazer-se na Primavera, por estacas ou divisão de rebentos. Colhe-se, imediatamente antes da floração, cortando a planta pelo pé. Podem-se obter as sementes para o ano seguinte deixando a planta na terra até verificar que as cápsulas que contêm as sementes ficam acastanhadas. Bons cozinhados! Tomilho parágrafo Sugestões de leitura Ao assistirmos em nome do progresso à destruição de jardins cheios de história, quando um pouco por todo o país se procede à desmatação de muitos hectares da nossa floresta tradicional em nome do desenvolvimento, quando vemos uns quantos - em nome não se sabe bem de quê - privar da mais elementar dignidade as árvores das nossas cidades com bárbaras podas, que mais parecem um ritual de massacre, sentimos o quanto estão actuais as prosas de Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão ou mesmo Júlio Dinis. Joaquim Guilherme Gomes Coelho, de pseudónimo Júlio Dinis, foca em «A Morgadinha dos Canaviais» (1868) temas como a corrupção dos costumes políticos, através de uma eleição de deputado, ou os reflexos sociais e mentais da modernização técnica, através da construção de um troço da via-férrea, como aqui demonstramos com este pequeno texto: "E caíam, uma após outra, todas as árvores do quintal, os limoeiros, as nogueiras, os salgueiros e toda a família vegetal do velho Vicente, que sentia ir-se-lhe com ela a alma. Memórias de infância, sonhos de juventude, e reminiscências de velho, como aves invisíveis, ocultas nas copas daquelas árvores, surgiam agora espavoridas e desnorteadas, a procurar o refúgio, que não encontravam fora dali. (...) A demolição prosseguia com ardor e actividade. Em pouco tempo, só restavam da casa os muros, meio derrocados; e, no quintal a serra e o machado principiavam a exercer no tronco da última árvore a sua obra destruidora. Era o castanheiro da entrada, gigante de outro século, que desafiara os raios de muitos invernos, sucessivos". in " A Morgadinha dos Canaviais", Júlio Dinis "As Rosas de Atacama", de Luís Sepúlveda, Edições Asa "Terra de Lobos", de Nicholas Evans, Círculo de Leitores Luís Sepúlveda é um viajante e acima de tudo um contador de histórias, onde os valores ecológicos, a dignidade humana e a liberdade são pedra angular da sua narrativa. A chacina de lobos desencadeada pelos conquistadores do Oeste americano ainda permanecia viva na memória daquela pequena cidade de Montana. O impiedoso rancheiro que a dominava alimentava o ódio dos habitantes para com aqueles animais. A bióloga Helen Ross chega à cidade empenhada em defender aquela espécie agora em vias de extinção. Para isso vai ter de enfrentar uma população revoltada e assustada. Um romance acerca do inquietante confronto entre o homem e a natureza. Em "As Rosas de Atacama" ou "Histórias Marginais" (título da edição espanhola), Sepúlveda guia-nos por lugares e apresenta-nos a "homens e mulheres que, no anonimato, ajudaram, ajudam e ajudarão a construir o verdadeiro rosto da História". Verão 2002 Parque Biológico 45 infância Se alguém ama uma flor Hoje abri um livro que tinha na capa um menino com cabelos de ouro e olhos coloridos como o arco-íris. Pensei que talvez os olhos dele fossem assim por causa da bondade que lhe corria no interior e, também, porque amava o sol, a terra, a água e o ar, a floresta e os animais, as flores e os pássaros. E, como os tinha observado inúmeras vezes, as cores tinham-se fixado no seu olhar. Imaginei que este menino viajava em cima de uma estrela cadente e, por isso, conhecia tantos sítios diferentes. Ele gostava do pôr-do-sol, dos animais, das plantas e sabia, exactamente, do que cada um precisava. Admirava-se com os adultos. Não percebia as suas obsessões pelos números e pelo poder. Achava-os mesmo estranhos! No seu pequeno planeta, que ele cuidava com atenção e carinho, existia uma flor muito especial, muito vaidosa, mas muito bonita! Aos poucos ele foi conhecendo essa flor: os seus espinhos, o seu medo das correntes de ar, o seu gosto pelo pôr-do46 Parque Biológico Verão 2002 -sol. Numa das suas últimas viagens ficou muito preocupado por a deixar sozinha sem os seus cuidados, mas percebeu que tinha que inspirar bem fundo a coragem e seguir o seu caminho. Foi então que no planeta terra, no deserto, conheceu um homem. Era um homem adulto e muito preocupado com a avaria do seu avião. A certa altura o menino, preocupado, perguntou-lhe para que serviam os espinhos das flores. O homem, envolvido no arranjo do seu avião, respondeu-lhe que os espinhos eram a maldade das flores. O menino nem queria acreditar no que tinha acabado de ouvir. Não era possível que aquela flor bonita, cheia de cor, tivesse uma pontinha de maldade. Ficou furioso e disse-lhe: "— E julgas tu, que as flores... — Não! Não! Não julgo nada. Respondi à toa. Eu ocupo-me de coisas sérias!" A perplexidade envolveu o nosso pequeno de olhos de arco-íris. Era impossível que aquele homem estivesse a falar a sério!... Como poderia alguém pensar que uma flor não é um assunto sério?! Lembrou-se de um homem de rosto avermelhado que nunca tinha cheirado uma flor, nunca tinha olhado uma estrela, nunca tinha gostado de ninguém e, de certeza, nem para si tinha olhado. Foi então que, cheio de raiva, lhe disse que desde sempre as flores tinham espinhos e que, por isso mesmo, era importante perceber porque os produziam. Não seria isso mais importante do que consertar um avião? E, continuou o menino: "— Se alguém ama uma flor de que apenas existe um exemplar em milhões e milhões de planetas isso é o suficiente para poder observá-la e sentir-se feliz por cuidar dela. Mas, se ao contrário, essa flor é completamente extinta, isso não é importante?" O homem adulto coberto da sua vergonha não foi capaz de dizer nada. Aproximou-se dele, abraçou-o e embalou-o nos seus braços enquanto ele soluçava repetidamente. História inspirada e retirada do livro «O Principezinho» de Antoine de Saint-Exupéry Com a palavra RESPEITO como base encontra com a ajuda do texto as palavras que faltam 1 2 3 4 2 5 6 7 8 R E S P E I T O 1 Horizontais 1. Quando o céu tem 7 cores 2. O nosso sistema solar tem 9 ... 3. O sol é uma ... 4. O 3.º planeta a contar do sol é a ... 5. Eles podem ser carnívoros, herbívoros, omnívoros,...Podem ter asas, quatro patas, barbatanas...Na terra, na água ou no ar podes encontrá-los. São os ... 6. Um conjunto de árvores como carvalhos, pinheiros, macieiras, ... formam uma .... 7. Um dos seres mais abundantes na Terra e que o menino da história não compreendia muito bem 8. Um dos quatro elementos formado por apenas 2 letras Verticais 1. Os peixes nadam na... 2. Qual era a grande preocupação do nosso menino? Verão 2002 Parque Biológico 47 DA POESIA QUE POSSO Há uma certa maré nas coisas humanas Espero pelo verão como por outra vida no inverno é que o verão existe verdadeiramente É o dia em que segundo alguns jornais john hoare e david johnstone iniciam a travessia do atlântico num barco a remos É o dia das grandes travessias o mar a vida isso que importa? Dios qué bueno es el gozo por aquesta mañana aqui na orla da praia mudo e contente do mar Ao chegar aos cinquenta sessenta anos Quando os fizer talvez pense nisso e não agora a tanto tempo de distância Agora sou do cúmulo da tarde desta tarde no início do outono ou do início desta tarde de outono Só depois é que pergunto que fazer de tudo isto que torna o cid meu contemporâneo Dios qué bueno es el gozo por aquesta mañana de um dia em que me achei mais pachorrento Manhã ou tarde? primavera ou outono? Não sei pouco me importa Pouco me importa o quê? Não sei (o resto vem no pessoa Pessoa é o poeta vivo que me interessa mais) Basta a cada dia a sua própria alegria e é grande a alegria quando iguala o dia Poema de Ruy Belo, in «Obra Poética», Vol. 1 Poema seleccionado por Alberto Andrade