Educação: uma noite no parque

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Ano I - N.° 4 - 21 Jun./22 Set. 2002 – Revista trimestral
E 2.50 IVA incluído
Aguda: Parque de Dunas
Maio: Recorde de 36 mil visitantes!…
Educação: uma noite no parque
14 Uma Noite no Parque
Revista
“Parque Biológico”
Este é o título de um dos programas de educação
ambiental desenvolvido pelo Parque Biológico de
Gaia. Nas actividades destaca-se um passeio nocturno pelo percurso de descoberta. Em Junho, os vaga-lumes surpreendem os visitantes...
Director
Nuno Gomes Oliveira
Editor
Jorge Gomes
Fotografias
Arquivo Fotográfico do Parque Biológico
de Gaia, E. M.
20 Parque de Dunas da Aguda
Saiba por que razão as dunas devem ser protegidas.
Nesse habitat estendem-se as plantas que estabilizam a areia e se conjugam com diversa fauna que ali
encontra o apoio essencial para a sua sobrevivência e/ou reprodução.
Além disso, protegem o Litoral.
Mais um equipamento de educação
ambiental vem enriquecer o concelho de Vila Nova de Gaia. Em
Miramar, aguarda as suas visitas.
Propriedade
Parque Biológico de Gaia, E. M.
Pessoa colectiva
504888773
ISSN
1645-2607
N.º Registo no I.C.S.
123937
Dep. Legal
170787/01
Execução Gráfica
ORGALimpressores
Rua do Godim, 272
4300-236 Porto
Secções
Visite o site da revista “Parque Biológico”:
http://www.revistaparquebiologico.com
E-mail: [email protected]
Maquetagem
ORGALimpressores
Tiragem
5000 exemplares
26 Centro de Ribeiras de Gaia
Ver e Falar: O Leitor escreve
Breves
Colectivismo: Associação dos Amigos do Parque Biológico
Registo: Novo recorde de visitantes
Quinteiro: Vai uma banhoca?
Habitat: Montado
Flora: Sobreiro
Fauna: Veado
Educação: Dunas que florescem
Educação: Ribeiras de Gaia
Litoral: Áreas protegidas marinhas
Conservação: O cavalo Tahki
Internacional
Geologia: Do garrafão ao bloco de notas
Espigueiro: Aconteceu no Parque
Jardim: Vai um cheirinho?
Bloco de notas: Títulos para as férias
Infância: Se alguém ama uma flor
Foto da estação
Revisão
Fernando Pereira
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Administração e Redacção
Parque Biológico de Gaia, E. M.
Estrada Nacional 222
4430-757 AVINTES – Portugal
Telefone: 22 7878120
E-mail: [email protected]
Página na internet:
http://www.parquebiologico.pt
Conselho de Administração
Jorge Queiroz
Firmino Pereira
Nuno Gomes Oliveira
FOTO DA CAPA
Parte final do percurso de descoberta do
Parque Biológico de Gaia. Foto Jorge
Gomes/Arquivo PBG.
editorial
Em Maio o Parque Biológico teve um número surpreendente de visitantes: 36.083 pessoas, mais 11.775 que no
anterior mês mais visitado de sempre (Junho de 2000).
O Parque atinge, assim, ao entrar no seu 20.º ano de
actividade, 1 milhão e 400 mil visitantes, dos quais
cerca de 50% são alunos de escolas em visita de estudo. Ou seja 700.000 estudantes já visitaram o Parque!
Não podemos dissociar este aumento do número de
visitantes, que se vinha registando desde Novembro do
ano passado, da edição da revista "PARQUE
BIOLÓGICO", que tem sido enviada a cerca de 5.000
pessoas, e está a constituir um assinalável sucesso.
A opção de concentrar a divulgação do Parque numa
publicação de qualidade vai de encontro aos interesses
dos visitantes mais atentos e assíduos e contribui para
criar uma "cultura" de instituição fundamental para
um interesse cada vez maior da população pela temática ambiental.
Reflexo disso, para além do referido aumento de visitantes, foi a presença de quase 500 pessoas na "NOITE
DOS PIRILAMPOS", uma iniciativa tão simples como
convidar para um passeio nocturno no Parque, para
simples observação dessa forma de vida tão espectacular e ameaçada como são os Vaga-lumes ou Pirilampos
que, no Parque Biológico, temos conseguido preservar
graças a uma cuidada gestão da flora espontânea e à
não aplicação de herbicidas e pesticidas.
Num concelho como Gaia, onde o investimento municipal nas acções de qualificação ambiental, e o sucesso dessas acções, vem aumentando (12 bandeiras azuis
nas praias, este ano!), o Parque Biológico não pode
deixar de chamar a si um bocadinho de mérito: não foi
em vão o nosso contributo ao longo de 20 anos de
Educação Ambiental.
Hoje, felizmente, ao nosso trabalho junta-se a Estação
Litoral da Aguda e, recém-inaugurado, o Centro de
Educação Ambiental das Ribeiras de Gaia, da responsabilidade da Empresa Águas de Gaia, o que nos faz
antever um futuro ambiental melhor para este concelho e para os outros, já que estas acções não se fecham
nos limites territoriais de Gaia e têm efeitos demonstrativos e reprodutivos.
Veja-se o caso do modelo "parque biológico", concebido e desenvolvido em Gaia e hoje reproduzido em
Madrid (Parque Biológico de Madrid), Silves (Parque
Biológico de Silves) e Lamego (Parque Biológico da
Serra das Meadas).
Entretanto, no «nosso» Parque Biológico, deixámos de
ter como Presidente do Conselho de Administração o
Prof. Dr. Fernando de Sousa que, por motivos pessoais,
teve de abandonar a função, sendo substituído pelo Dr.
Jorge Queiroz, vereador da área administrativa e
financeira da Câmara Municipal de Gaia e experiente
gestor, que preside a outra empresa municipal, a Gaia
Social, desde a sua fundação. Também o vereador
Nuno Sousa deixou o nosso Conselho de Administração, sendo substituído pelo vereador Firmino Pereira.
Nuno Gomes Oliveira
Director da Revista «Parque Biológico»
Administrador do Parque Biológico
Verão 2002 Parque Biológico
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ver e falar
Vida
campestre
O leitor Henrique Bastos envia-nos uma reflexão sobre a mudança de costumes
rurais, em 2002.01.15, e defende uma agricultura sustentável
O PATRIMÓNIO RURAL ESTÁ EM PERIGO
nos. As sementeiras efectuavam-se manualmente a lanço.
No decorrer dos últimos 20 anos e após um contacto assíduo
com o mundo rural da região de Entre Douro e Tâmega, tive
oportunidade de colaborar em diversos programas agrícolas
e socioculturais, onde contactei com o património humano,
animal e vegetal.
No Verão realizava-se algumas colheitas. Uma das mais tradicionais era as malhas do centeio, sempre muito animadas
pela população.
A biodiversidade está a ser adulterada com prejuízos incalculáveis para a humanidade. Introduzem-se sementes híbridas, material vegetativo para propagação e duplicação de
espécies arbustivas (frutícolas e vitícolas), e prejudicam as
raças autóctones* através de cruzamentos com raças exóticas de maior potencial produtivo em carne, leite e lã.
Aparecem, porém, doenças difíceis de controlar. Ignoram-se
práticas de maneio de formas ajustadas à ética e ao bem-estar dos animais.
Há a modificação da paisagem. Manchas florestais desaparecem devido a incêndios. Esquecem-se que há uma história
de vivência rural?
Outrora, na periferia das parcelas e ao longo dos caminhos
situavam-se sebes arbustivas que tinham uma importância
imensa para o equilíbrio do ecossistema de produção agrícola. O milho, de variedades regionais, cultivava-se associado
ao feijão de trepar ou a parcelas de centeio em camalhões
com milho-grão e feijão semeados nos intervalos.
Quando estas culturas saíam do terreno davam lugar a
sementeiras de culturas forrageiras para alimentação dos
animais e dos homens. O colmo proporcionava coberturas de
casas e palheiros.
A batata cultivava-se associada à couve-galega, assim como
a fava e a ervilha. As fruteiras eram plantadas nas bordaduras das referidas parcelas e geralmente próximas das habitações. Junto destas colocava-se sempre uma figueira. As
vinhas plantavam-se nas bordaduras das referidas parcelas
dando lugar a bardos ou enforcados altos e ramadas.
Os bovinos de raças autóctones – barrosã, arouquesa, galega e maronesa – viviam em comunidade com as ovelhas,
dormiam e pastoreavam juntos. Nos rebanhos de ovelhas
havia uma ou duas ovelhas pretas.
No Outono ocorriam as desfolhadas do milho grão acompanhadas do cantarolar de canções populares. Os rapazes que
encontrassem uma espiga vermelha tinham de dar um beijo
às raparigas solteiras. Nas vindimas, ao esmagar as uvas no
lagar, os homens organizavam autênticos festivais de música popular acompanhados de concertina e cantavam ao
desafio.
No Inverno era a matança dos porcos, o que resultava numa
grande fartura, ou seja, havia uma mesa com grande variedade de comida, não faltando o sarrabulho. Chamava-se
sempre os vizinhos e os bons amigos, havendo uma grande
animação em toda a região.
Transformava-se os cereais (milho e centeio) em farinha nos
moinhos-de-água individuais e comunitários. A farinha era
comercializada pelos moleiros que a transportavam em burros através de diversas aldeias. Quando as pessoas não
tinham dinheiro para pagar a moagem, davam uma maquia
(uma parte do cereal moído).
Cada habitação possuía o seu forno para cozer a broa, a bola
de carne de porco ou de sardinhas. Assavam o borrego e o
cabrito em épocas festivas. Também andavam pelas portas os
intermediários que compravam aos agricultores os cereais, o
vinho, a batata, fruta, feno e animais, escoando os produtos.
O amolador de tesouras aparecia com um apito característico para alertar a população da sua passagem. Consertava
tesouras, facas para afiar, louças de barro e guarda-chuvas.
Nas várias aldeias havia postos de cobrição de bovinos e suínos, onde os habitantes levavam as fêmeas para serem
cobertas, onde pagavam os trabalhos de reprodução com
cereais.
Os produtores pagavam as rendas das explorações agrícolas
aos senhorios com produtos produzidos na exploração. As
rendas eram estipuladas oralmente no início do contrato. A
mão-de-obra era comunitária, praticavam a entreajuda.
Os suínos, de raça bísara, explorados e fechados em cortes,
eram muito resguardados da vizinhança para os livrar do
mau-olhado.
As águas de rega provinham de levadas (linhas de água) —
onde se faziam as regas das culturas pelo sistema de gravidade e alagamento —, eram atribuídas de acordo com as
áreas e com a distância a que as parcelas ficavam com as
culturas que habitualmente se praticava.
Na Primavera tirava-se o estrume das cortes e transportava-se em carros de madeira puxados por bovinos autóctones
para os campos, onde era colocado em montes alinhados ao
longo das parcelas. Mais tarde o estrume era estendido
manualmente e realizavam-se as lavouras. Estas eram efectuadas por arados puxados pela tracção dos melhores bovi-
4
Parque Biológico Verão 2002
* Que se desenvolveram cá e são próprias do nosso país.
Aulas de Língua Portuguesa
Uma manhã
inesquecível
No dia 2 de Maio fomos fazer uma visita de estudo ao Parque
Biológico de Gaia.
tante, porque ficamos a saber mais sobre a fauna e a flora do
Parque.
Infelizmente, o S. Pedro não esteve do nosso lado, pois estava uma manhã fria, triste, cinzenta e chuvosa.
Finalmente e com a barriga já a «dar horas», fomos almoçar
num encantador parque de merendas, onde, para nossa surpresa, não faltavam escorregas, balancés e outros divertimentos.
Mas lá chegamos, tiramos uma fotografia de conjunto, à
entrada do Parque, para mais tarde recordar.
De seguida, alguns simpáticos funcionários levaram-nos a
visitar uma linda exposição sobre a Evolução do Homem na
Terra.
Depois, em fila indiana e acompanhados sempre pelos nossos professores, lá partimos à descoberta da Natureza.
Durante o percurso, por bosques e campos verdejantes,
vimos coisas maravilhosas: um jardim tropical repleto de
coloridas aves, plantas aromáticas e medicinais, a famosa
Árvore dos Sonhos, uma raposa amedrontada, jovens gamos
curiosos, aves de rapina, uma quinta com um espigueiro,
cabrinhas brincando, carneiros pastando, burricos zurrando,
porcos dorminhocos, a casa do moinho, o lago dos cisnes, a
família do bode e do javali, elegantes cavalos pastando,
poderosos bisontes, o rio Febros rasgando a floresta e muito
mais, coisas só vistas e sentidas.
Mas, não foi só passear! Pelo caminho, íamos lendo as vitrinas informativas, que nos ajudavam a preencher a ficha: «À
Descoberta do Parque Biológico». Esta actividade foi impor-
“Cabrinhas brincando, carneiros pastando,
burricos zurrando”
Verão 2002 Parque Biológico
5
ver e falar
Antes de regressar à escola, ainda deu tempo para comprar
algumas recordações na Loja do Campo, onde havia livros,
postais, vídeos, porta-chaves, lápis, flores...
Visitar o Parque Biológico é, sem dúvida alguma, uma aven-
tura fantástica, que iremos repetir, mas agora com a nossa
família.
Os alunos do 5.º F e 5.º G da Escola E.B 2/3 Fernando Pessoa de
Santa Maria da Feira
Exposição sobre a Evolução do
Homem na Terra
Ficamos a saber mais sobre
a fauna e a flora do Parque
O ataque das gralhas!
No número anterior aconteceu: as gralhas atacaram!
Não as de penas, mas as de tinta. Duas em legendas:
uma, na página 9, dizia «Ninhos artificiais para
peneireiros-cinzentos (Alentejo), enriquecidos pelas
cegonhas e pelas aves mais pequenas que aproveitam os gravetos do ninho maior». Mas por que é que
não ficou só «peneireiros»? Assim, passava! É que há
várias espécies de peneireiros e a espécie a que se
destinam aqueles ninhos tubulares são os peneireiros-de-dorso-liso! Na outra legenda em causa, na
pág. 19, foi a palavra milhões que se pensou escre-
Os peneireiros-cinzentos nidificam em
árvores. Reproduz-se
uma das primeiras
fotos dessa ave a
nidificar (Foto de M.
D. England - Elanus
coeruleus - Figueira
de Castelo Rodrigo,
Junho de 1963)
6
Parque Biológico Verão 2002
ver mas ficou só no campo das intenções: referia
«Água dos oceanos (1320 Km3): 97,2%» e devia ter
sido escrito «1320 milhões de Km3». Se com revisão
acontece isto, imagine como não seria sem ela!
Na pág. 34, na peça «Próximo destino: Slimbridge»,
aponta-se um custo de viagem a Inglaterra, alojamento incluído, de 7500 e; ora, isso seria uma fortuna! Coisas da conversão do euro em fecho de edição – custo correcto: 750 e (150.362$00). Com
este esclarecimento, com certeza já pode começar a
planear a sua ida! W
breves
ENCONTRO INTERNACIONAL
DE ANÁLISE DA VEGETAÇÃO
De 11 a 15 de Setembro os botânicos reúnem-se no
seu IV Encontro da Associação Lusitana de
Fitossociologia (ALFA) com o fito de «promover a partilha de experiências entre cientistas, técnicos e outros
profissionais envolvidos na análise da vegetação. O
programa de três dias incluirá comunicações por especialistas convidados em análise de vegetação, sessões
abertas para apresentações orais e em poster, uma
excursão ao noroeste de Portugal e uma sessão final
dedicada à vegetação litoral de Portugal».
DIAS VERDES
Sob o mote «Para descobrir e conhecer a rede Natura
2000», o Instituto de Conservação da Natureza, entre
13 e 21 de Abril promoveu passeios, percursos interpretativos, palestras e exposições. Estes «nove dias
verdes» pretenderam aproximar os cidadãos da rede
Natura 2000.
É que, a partir de Bruxelas, a Comissão Europeia mobilizou os países da União para uma campanha de informação sobre a rede ecológica europeia em construção.
Mas o que é a rede Natura?
«Em Maio de 1992, os governos dos países da União
Europeia adoptaram legislação para proteger os habitat e espécies da Europa mais seriamente ameaçados.
Esta legislação é a Directiva Habitats (92/43/CEE) e
complementa a Directiva Aves (79/409/CEE), adoptada
em 1979. Uma das finalidades destas duas directivas
comunitárias é a criação de uma rede ecológica europeia chamada Natura 2000.
«A Directiva Aves propõe a criação de Zonas de
Protecção Especial (ZPE) para as aves. Do mesmo
modo, a Directiva Habitats propõe a criação de Zonas
Especiais de Conservação (ZEC) para outras espécies,
de flora e de fauna, e para habitats. Juntas, as ZPE e as
ZEC constituem a rede Natura 2000».
Estão protegidos como Zonas Especiais
Conservação 198 tipos de habitat naturais.
de
A rede Natura 2000 vai desde os Açores a Creta e da
Madeira à Finlândia e assenta numa parceria europeia.
«Em Portugal, a lista nacional de Sítios aprovada
abrange cerca de 25% do território nacional».
O calendário internacional dos Dias Verdes pode ser
visto em http://www.eurosite-nature.org
III SEMANA DA CARQUEJA
Entre os dias 4 e 12 de Maio decorreu a III Semana da
Carqueja, na Fraguinha. Os fogos florestais e a energia
eólica foram os temas fortes do colóquio que se desdobrou no dia 11. Actividades de ar livre, passeios
pedestres e acções de formação foram alguns dos
outros pontos do programa.
Verão 2002 Parque Biológico
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colectivismo
O Parque tem
Uma Assembleia Geral da Associação dos Amigos do
Parque Biológico de Gaia decorreu no passado dia 11
de Maio, pelas 17h30, em Avintes, conforme anúncio
publicado no jornal «Público» de 26 de Abril. Da agenda de trabalho constaram os seguintes pontos: 1)
aprovação do Relatório e Contas referente ao ano de
2001; 2) eleição, para o biénio 2002/2003, dos Corpos
Gerentes, que são os seguintes: Assembleia Geral –
Presidente, Fernando Lopes Vieira; Vogal, António
Peres Almada; Secretário, João Loureiro; Conselho
Fiscal – Presidente, Manuel Meneses Figueiredo;
Relator, Henrique Alves; Vogal, Arcanjo Pereira Araújo.
Direcção – Presidente, Nuno Gomes Oliveira;
Secretária, Sandra Brito; Tesoureiro, Joaquim Moreira
Peixoto; Vogal, Telma Cruz; Vogal, Fernando Pereira
Gomes.
Amigos
O Relatório e Contas está disponível para consulta nos
arquivos da Associação.
Ficou ainda agendado um jantar periódico de confraternização, sendo o primeiro já no próximo dia 20 de
Julho. Por razões logísticas, terá de ser marcada a presença dos sócios que desejem participar no mesmo até
dia 17 de Julho.
A AAPBG conta até ao fecho desta edição 1959 sócios!
Não admira, pois há vantagens. Ser amigo do Parque
Biológico é muito mais do que ter entrada gratuita no
Parque, nos termos do protocolo celebrado entre a
Associação e o Parque Biológico de Gaia, E. M. Os
Amigos do Parque são uma voz em defesa da sua
ampliação e melhoramento, e podem colaborar nos
trabalhos do Parque.
Reunião dos Amigos do Parque
Sábado, 20 de Julho
Apresentação do Clube dos Amigos das Aves
18h00 - Visita ao Parque
19h30 - Jantar
Jantar (10 euros) com inscrições pelo telefone 227878123
PROPOSTA DE SÓCIO
Associação dos Amigos do Parque Biológico de Gaia
PROPOSTA DE SÓCIO
Nome:
Morada:
Telefone:
Bilhete de Identidade:
Arquivo:
Data:
/
/
N.º contribuinte:
Junto envio 15 euros para pagamento da quota do ano em curso e fico a aguardar recibo, cartão de sócio e outra documentação.
Enviar para: Amigos do Parque Biológico – 4430-757 Avintes – Vila Nova de Gaia
(Inclui entrada gratuita no Parque Biológico)
ASSINATURA
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Parque Biológico Verão 2002
registo
Maio bateu recorde
Que grande número: 36 mil visitas só no mês de Maio!
O número que atingia antes essa fasquia máxima era 24 mil.
Bem visto este ponto, a procura constante do Parque
Biológico em melhor servir a população dá resultado, o
que se sabe e se tornou até tradição nesta empresa:
assim, trata-se de uma tendência a que não se regateia esforço.
Associado a isto, verifica-se que está quase a fazer um
ano que um projecto conseguido se consolidou e tem,
com certeza, a sua quota de influência decisiva neste
«boom» de visitantes: a revista PARQUE BIOLÓGICO.
Através desta publicação, o visitante isolado passou a
compreender que o Parque Biológico de Gaia não é só
— e já não seria pouco — um passeio em plena natureza mas também um equipamento singular, e também
valioso, para que os professores das escolas da região
— e de além dela — o aproveitem para intensificar o
seu esforço educativo.
Sem ficar por aí, esta revista aponta dados e ideias
sobre um amplo leque de inúmeras actividades, tanto
de educação ambiental como de conservação da natureza no seu sentido mais estrito.
Porque se é facto que o Parque Biológico já conta
quase 20 anos de profícuo trabalho, por vezes, diante
do que há para fazer, até parece que ainda estamos a
começar!...W
VISITA DO PRESIDENTE
No passado dia 8 de Maio, quarta-feira, o presidente da
Câmara Municipal de Gaia, Luís Filipe Menezes, almoçou no
Parque Biológico, acompanhado do secretário de Estado do
Ambiente do actual Governo, Dr. José Eduardo Martins.
Anuncie na revista «PARQUE BIOLÓGICO»!
TABELA DE PUBLICIDADE PARA 2002
Verso da Capa (1 página). . . . . . . . . .
Verso da Contracapa (1 página) . . . .
1 página. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1000 euros
1000 euros
800 euros
1/2 página . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1/4 página . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1 rodapé. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
400 euros
200 euros
200 euros
Somar 17% de IVA aos preços da tabela.
Inclui publicação de anúncios a todas as cores.
Mais informações através do telefone 227878123 (Sandra Brito) ou através de uma visita pessoal ao Parque Biológico de Gaia.
Verão 2002 Parque Biológico
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quinteiro
Uma banhoca?
Nem só de grão vivem as aves. No Estio, quando o calor empurra para a sombra do
casario ou do arvoredo, água para beber e para um banho são a atracção da passarada
Vi pela janela o passarito esverdeado, uma
felosa mínima, abordar
o lago. Pequenito, saltitante, era um pompom
a que um mágico tinha
soprado vida. Quando
pensei «vai fugir», aterra, seguro, na folha de
nenúfar, a boiar à
superfície.
Pousado,
acreditei: «vai afundar»!
Engano-me outra vez. A
folha redonda imerge
apenas o suficiente
para o pequenote se
espolinhar, como via os
pardais fazerem na
terra, repetidamente.
Pelo à-vontade dele,
não era a primeira vez.
Refrescar
Afinal, no topo do Verão
não somos só nós quem
gosta da banhoca!
E tanto é assim que
hoje as lojas vendem o
que chamam, e muito
bem, banheiras e bebedouros para pássaros.
Estas peças não se destinam às aves típicas
dos ambientes lacustres
e estuarinos, como as
garças e os patos, os
galeirões e outros tais.
São objectos feitos a
pensar nas aves que, se
por algum engano,
aterram na água, não
têm como sobreviver.
Falamos dos piscos e
das felosas, dos tenti10
Parque Biológico Verão 2002
Ou dispõe de um lago no seu jardim... ou vive lado a lado com um
ribeiro, se quer oferecer água aos seus amigos de penas
lhões e das escrevedeiras, e até dos tordos e afins.
no, médio ou grande...
Estes recipientes que franqueiam água às aves revestem formatos múltiplos. Mas há dois que dominam: as
banheiras assentes num pedestal e os minitanques ao
nível do solo. Em comum, duas características: deverão
ter pouca profundidade e água sempre fresca, sem
depósito de folhas ou outros resíduos.
Há vários caminhos para favorecer a segurança da
passarada nos espelhos-de-água. Um consiste em prevenir a emboscada dos gatos que, com um salto, muitas vezes são letais. Outra passa por dispor um monte
de pedras em forma de pequena ilha na área inundada, pois isso cria abrigos para os insectos aquáticos e
serve de poleiro seguro às pequenas aves que queiram
abeirar-se da água. Outra, ainda, reside em instalar
pequenos pontos de baixa profundidade, cujo acesso
seja fácil e seguro, por exemplo, criando uma pequena
queda de água artificial alinhavada em calhaus.
Acesso
Fora isso, no que toca a água, viver perto de um ribeiro ou dispor de um lago no jardim são as outras formas de chamar a passarada ao seu quinteiro.
A água serve para as aves, primeiro, beberem, e, também, tomarem banho.
Tratando-se de beber, percebe-se que, ao falar de
lagos, é forçoso pensar em vários pormenores. Por
exemplo, bordas abruptas, plantas de pequeno porte,
sem ramos, que formam maciços vegetais densos, dificultam a tarefa de beber. Mais: até podem ser armadilhas, e os descuidados afogam-se. Assim, um acesso
fácil à água é obrigatório, trate-se de um lago peque-
As soluções não se esgotam: pequenos poleiros de
madeira à flor da água podem ser instalados na fímbria do lago, de tal forma que as pequenas aves ali
pousem e sorvam da superfície umas gotas, ao alcance do bico.
Por isso, com banheira, poça, lago ou ribeiro, é sempre
possível dar mais um jeitito à feição do gosto da passarada. Porque, afinal, em pleno Verão, quem não
gosta duma banhoca?!W
Quem mais os usa?
Quais as aves que mais usam o
lago de jardim?
Felosas, piscos, pardais, chapins
Quais as aves que mais usam o
rio com que vive lado a lado?
Patos, galeirões, mergulhões,
garças, guarda-rios
Quais as aves que mais usam o
bebedouro-banheira?
Felosas, piscos, pardais, chapins
Um pato-real será visita possível num rio ou em lagos maiores,
quem sabe, na ponta do seu jardim
Bebedouro-banheira
para aves
Verão 2002 Parque Biológico
11
quinteiro
É só
montar!
— Mas não há despesas de expediente a suportar?
Sim, mas não são expressivas, sobretudo quando se verifica que muitos dos interessados já são sócios da
Associação dos Amigos do Parque Biológico de Gaia, que,
salientamos, recebem gratuitamente esta revista por
correio. De resto, o que se quer é que as pessoas interessadas no Clube façam as suas próprias experiências em
casa, nos seus jardins, e as relatem a esta revista, sendo
certo que mais dia menos dia encontrarão aqui, nestas
páginas, um espaço de comunicação e partilha.
Daqui, propomo-nos apoiar o esforço de quem se nos
dirija nesse sentido.
— E o que se faz para integrar o Clube?
Este é o cantinho habitual do Clube dos Amigos das
Aves, uma ideia que suscita curiosidade e interesse.
Temos sido contactados por várias pessoas, por escrito
e presencialmente, que nos pedem mais esclarecimentos. As perguntas mais habituais são as seguintes:
— Para me juntar ao Clube dos Amigos das Aves,
tenho de pagar uma quota?
A resposta é clara: não, ninguém precisa de aumentar
as suas despesas ao aderir a este projecto.
CLUBE DOS AMIGOS DAS AVES
Os bons projectos estão no meio: antes e depois
ficam as boas ideias. Uma delas consiste em criar o
Clube dos Amigos das Aves de jardim. O que é isso?
É simples: quem tem — ou pretende vir a ter — este
passatempo (apoiar as aves no seu próprio jardim)
contacta a revista "Parque Biológico", secção
Quinteiro, que passa a unir os Amigos das Aves. E
isso ao ponto de fornecer dados a respeito deste
saudável passatempo.
É facultativo, para cada membro inscrito, associar-se à Associação dos Amigos do Parque Biológico.
Que tal? Gostou? Ficamos à espera das suas novidades, venham elas por carta (Parque Biológico de Gaia
- Revista "Parque Biológico" - 4430-757 AVINTES)
ou por correio electrónico: [email protected]
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Parque Biológico Verão 2002
Envia-se uma carta a esta secção da revista, manifestando essa vontade e, sendo o caso, pedindo os esclarecimentos necessários. Aqui ficamos com o nome e
morada, e daremos nota das novidades sempre que
isso seja útil.
Por falar em novidade, aqui fica uma!
O Parque Biológico de Gaia está a preparar um kit
Ninho-comedouro, a baixo preço, que contém as
tábuas já cortadas à medida para ser só montar um
ninho de madeira artificial. Assim, depressa arranja um
ninho de madeira, bem como um comedouro de rede,
tão do agrado dos chapins. W
Loja do Campo
A Loja do Campo quis ficar mais perto dos seus clientes: agora está mesmo ao lado da recepção do Parque Biológico e, no Verão, funciona todos os dias das 10h00 às 20h00. O Parque
possui um horto, onde os visitantes podem adquirir plantas e árvores. Telefone: 227878120
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ASSINATURA:
educação
Parque ao luar
A Lua aparece sob um véu, no alto, branca. Na escadaria do Parque Biológico a
turma, cheia de entusiasmo, prepara-se para a incursão: será que já se vêem os
pirilampos?
«Fiquem lado a lado e não façam barulho», diz a guia,
na noite de 21 de Maio. O ar sentia-se lavado pelas
chuvas do fim da tarde que perigaram a realização da
visita. Os sentidos absorvem o ambiente. A folhagem
dos carvalhos é verde, na escuridão tranquila, graças à
luz de um iluminador solitário.
A vintena de crianças estaca. A guia aponta e baixinho
diz: «Vejam aquele morcego!». Uma silhueta alada risca
o ar. Insectos atraídos pela lâmpada são o seu alimento, quando a hibernação que o protegeu do Inverno
ficou para trás.
14
Parque Biológico Verão 2002
O Parque mostra outra atmosfera. As sombras da noite
ocultam os contornos exactos do percurso e um ar
fresco realça a sonoridade nocturna. O chão está
húmido e algumas folhas colam-se-lhe. Cuidado, não
vamos calcar alguma salamandra!
Já estamos na parte dos relvados. O primeiro vagalume ilumina-se, no voo lento. Apaga, desaparece,
acende! Que novidade! João, que estagia no Parque e
acompanha a turma, conta que eles começam a ver-se
nesta altura e depois desaparecem no princípio do
Verão. Os que vemos a voar são os rapazolas! As
fêmeas, mais pesadas, estão pousadas algures e piscam as luzes aos da sua espécie, para se reproduzirem.
Passo a passo, a luz amarela da lanterna aponta ali e
acolá. Revela algumas plantas aromáticas, como a
alfazema e o rosmaninho, o tomilho e a lúcia-lima, o
chá-de-príncipe, alguns em flor.
Aqui, ouve-se por momentos o ruído da estrada. O
grupo avança, e a ansiedade desarranja a fila, que se
recompõe.
Adiante espreita-se o gaiolão dos bufos-reais, os
maiores mochos da fauna ibérica. Uma fêmea, cega de
um olho, está no choco. A miudagem é só silêncio, não
vá perturbar as aves nocturnas. Estas são irrecuperáveis: se fossem libertadas, não sabendo caçar ou não
estando aptas fisicamente para isso, morreriam.
Quando se retoma o percurso, outro vaga-lume deambula. O professor Jorge — que lecciona Inglês, acompanha os alunos e pernoita com eles no Parque
Biológico —, sem alarido, aponta-o perto do engenho-de-buchas. A guia aponta a lanterna para um ninho
de madeira aplicado numa árvore, igual aos que a
turma tinha construído horas antes. «Se estiver ocupado, estão a dormir!».
As fêmeas, mais
pesadas, estão
quietas e piscam
as luzes aos da
sua espécie
Verão 2002 Parque Biológico
15
educação
À medida que palmilham caminho, alguns petizes já pensam no
prazer do chá e da broa que ajudaram a fazer ao fim da tarde.
Ideias interrompidas pelo breu do
carvalhal: os que mais receiam o
escuro juntam-se, não vá o monstro-das-bolachas aparecer a
qualquer altura!
A guia pára junto ao recinto de
uns animais patuscos, esguios,
peludos. Outro sai do buraco de
um tronco no chão. «O que é
isto?», indagam. «São os toirões»,
alguém responde.
Mais alguns pirilampos entretêm o caminho de volta
De resto, a raposa e os gamos
estão tranquilos. Barriga cheia, não precisam de calcorrear o escuro.
Pouco depois, quando as nuvens desaparecem de vez e
o luar desvenda a leveza da noite, o professor aponta
os cinco astros alinhados, que nesta data se vêem
entre as silhuetas dos pinheiros.
As corujas não têm o sossego do dia. Estão muito activas. Pudera! São predadoras na escuridão. Comem
ratos, e até insectos. E há muitas espécies: aqui vemos
O professor aponta o alinhamento dos astros
16
Parque Biológico Verão 2002
corujas-das-torres e corujas-do-mato, irrecuperáveis,
como os bufos-reais.
Não se prossegue o percurso. É que os animais domésticos, os bisontes, os grifos e restante fauna estão com
certeza a aproveitar a noite para dormitar. Alguns pirilampos entretêm o caminho de volta e a Lua, mais brilhante, só se vê quando a copa dos carvalhos permite.
Chegou a hora das broas e dos chás. E das memórias,
essas perdurarão.W
habitat
Montado: contra a desertificação
A paisagem plana tinge-se de cores diversas segundo as épocas do ano. No Verão, o
montado lembra calor e secura, mas abriga uma flora rica e uma fauna diversificada
O montado, em Portugal, impera na região alentejana.
Quando a romaria das férias flui para o Algarve fica a
ideia de tonalidades castanhas, típicas do Estio.
Aqui e acolá, montes de linhas onduladas e suaves contestam a planície. O cultivo de searas de aveia, trigo e
centeio mistura-se com as pastagens de gado, para
quem a sombra dos sobreiros e das azinheiras faz muito
jeito.
Face à intervenção antiga e moderna do ser humano, o
montado é um habitat seminatural.
Revela um elevado interesse ecológico. Não é por acaso
que, com frequência, passando entre montes e seus
caminhos de terra batida, se depara com os «ingleses»
munidos dos seus binóculos e telescópios, absorvidos
na contemplação da rica avifauna do montado. E isso
até no Inverno: os ecossistemas associados a este habitat acolhem um sem-número de aves que se refugiam
do frio que se abate no Norte europeu.
A flora não fica atrás! Há mais de 140 espécies aromáticas, medicinais e melíferas, como a alfazema e o rosmaninho, a lavanda e o alecrim, ou o tomilho. Os boletos, os míscaros, as silarcas — leia-se cogumelos —,
entre o solo criam simbioses com o arvoredo, oferecendo vantagens e colhendo favores.
É por estas e por outras que se diz: o montado combate a desertificação! Protege o solo dos desgastes erosivos, tendendo a reter a sua fertilidade. Beneficia o solo
favorecendo a infiltração da água da chuva no solo que,
como não abunda, é preciosa. Na prática, da confluência de uma constelação de factores, surgem microclimas amenos.
Há mais virtudes a destacar: a riqueza deste habitat
passa por ser constituído sobretudo por vegetação
autóctone e por uma baixa densidade demográfica,
ocupando as vilas e aldeias extensas áreas de forma
relativamente contínua.W
As charcas são uma intensificação da acção humana sobre o montado. Escavadas para dar de beber ao gado, aproveitam-nas espécies silvestres como mergulhões, patos, galeirões, entre outros
Verão 2002 Parque Biológico
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flora
Casca de peso
O sobreiro é a mais-valia no montado. Pode viver meio milénio! Espécie que só se
dá no clima mediterrânico, oferece ao homem sobretudo cortiça, bolota e madeira
Na flora do montado pontuam o sobreiro, a azinheira
e o carvalho-negral. Mas a presença de muitas outras
espécies, como os loureiros, piteiras, funcho, estevas,
sargaço, estende-se de permeio com gramíneas e
outras ervas a cobrirem o chão. Tanta variedade veste
a paisagem de um colorido tão típico quão surpreendente, de acordo com a época do ano.
Árvore endémica da região mediterrânica, o sobreiro é
uma espécie robusta, de folha permanente, e pode
alcançar 25 metros de altura.
A floração dá o ar de sua graça em Abril e Maio. O
fruto — a bolota — amadurece no Outono.
Com preferência por solos soltos e ricos em sílica,
resiste pouco ao frio e às geadas. Invernos húmidos,
suaves, e verões quentes são do seu agrado. Distribui-se até aos 1200 metros de altitude. Protegido por lei,
o sobreiro suporta a extracção da cortiça, no máximo,
de nove em nove anos. Portugal é um dos grandes produtores de cortiça no cenário mundial.
Conhecer melhor esta quercínea é dar passos para a
sua conservação.
No Parque Biológico há vários espécimes desta árvore,
Quercus suber, em diferentes fases de desenvolvimento.
Uma casca leve com grande peso económico
O Alentejo abriga as grandes manchas florestais do sobreiro em Portugal
18
Parque Biológico Verão 2002
fauna
O cervo
Chega a viver um quarto de século e o seu efectivo no montado português está a
aumentar, possivelmente vindo de Espanha
Diz quem sabe que os veados não apreciam o calor. É
também por isso que se torna mais fácil vê-los activos
ao pôr-do-sol e ao amanhecer. Mas é de noite que são
mais mexidos.
A sua ementa são folhagens diversas, ervas, caules
suculentos, bagas, frutos, e até casca de árvores.
Apesar de se estender por diversos habitat, certo é que
os veados, por entre o matagal mediterrânico, aproveitam os recursos do montado.
Podendo pesar de 100 a 350 Kg, é o maior cervídeo da
Península Ibérica. Nome científico: Cervus elaphus.
O macho distingue-se da fêmea pelas hastes ramificadas que o caracterizam e por ser maior. Mas essa
armação só é vista na sua plenitude em Setembro. Um
facto que traz vantagem, uma vez que, lá para
Novembro, ocorrem as disputas territoriais: é a brama
ou berreio. No cio, o ar vibra com o resfolegar e os
urros sonantes dos machos. Ultrapassadas as posturas
ameaçadoras, se nenhum desiste, dá-se a medição de
forças: hastes contra hastes,
empurram-se. Na maior parte
das vezes não se ferem: assim
que um se dá como vencido,
renuncia e foge. Acontece
sempre que os veados dominantes são contestados por
rivais. O grupo de fêmeas é o
prémio do vencedor. Em teoria
vence quase sempre o macho
mais forte fisicamente, os seus
genes são transmitidos à descendência, e assim sucessivamente, robustecendo a espécie.
o macho jovem, pode acompanhar a mãe. Esta pode
ser vista com uma cria de poucos meses e um subadulto, também seu descendente.
No final de Fevereiro/Março chamam no Alentejo ao
veado adulto vergonhoso, é mais difícil vê-lo, caíram-lhe as hastes. Como convém, mudam de pelagem no
Verão e no Inverno.
Velozes, ágeis e fugidios, como é típico dos cervídeos,
as fêmeas agregam-se em manadas, admitindo crias
de várias idades.
Em séculos passados, além do ser humano, o seu predador era sobretudo o lobo. Hoje, é uma peça de caça,
sendo as cabeças um troféu apreciado pelos amigos-do-gatilho.
Por exemplo, na região do Tejo Internacional, sentiu-se
um aumento da população desde a década de 1980. Os
estudiosos pensam ser este reaparecimento consequência do êxodo rural.W
A fêmea fica prenhe durante
cerca de 8 meses. Com muita
frequência só nasce uma cria,
sarapintada com manchas
brancas, uma ajuda preciosa à
invisibilidade que deve vestir
frente aos predadores, e que
funciona quando se imobiliza.
O vereto, nome que identifica
Verão 2002 Parque Biológico
19
educação
Dunas que florescem
O Parque de Dunas da Aguda é um exemplo de como a natureza recupera, se o ser
humano lhe dá oportunidade. De um areal aparentemente estéril surgiu um formoso jardim espontâneo onde florescem lições de educação ambiental
Quando pisei as tábuas do passadiço de madeira
naquela manhã, o nevoeiro levantava e a humidade
enriquecia de tonalidades o solo. A areia branca, solta
e seca dos dias de sol forte agora estava acastanhada
em cores pastel, alisada pelo vento, sem mácula, estendendo-se como um bordado primoroso onde dominavam as flores amarelas e cor-de-rosa, lilases e azuis,
umas a rastejarem pela areia, outras semierguidas. O
rasto de aves e insectos, de répteis e de artrópodes
dominava as marcas na areia. Na verdade, desenhos de
actividade nocturna, histórias de vida da noite dunar.
Se não conhecesse a história deste Parque de Dunas,
diria que algum jardineiro ali tivesse andado a pôr
ordem e protecção para atingir aquele efeito. Mas não:
vedara-se apenas aquela área para que as plantas
emergentes não fossem trucidadas.
Há cinco anos que o Parque de Dunas abriu ao público, sob a égide da Câmara Municipal de Gaia e especificamente sob cuidado do Parque Biológico. Fica
demonstrado: pisar as dunas destrói as plantas e,
assim, a base do habitat dunar. Quem mais perde com
isso são as populações, sobretudo as da vizinhança.
Este parque de dunas conta agora 30 mil visitantes, só
os que foram guiados e transportados por autocarro a
partir do Parque Biológico.
CONSOLIDAR HÁBITOS
O Parque de Dunas da Aguda foi criado na Primavera de
1997 como resultado da aprovação de um programa
LIFE, a que o Parque Biológico se candidatou. A candidatura foi formulada por Nuno Gomes Oliveira. Na altura
uma grande inovação, o Parque de Dunas da Aguda consiste em dois terrenos no Litoral – à volta de 3 hectares
– que se situam lado a lado na Aguda. Uma das partes
não é visitável, mas a outra é, está aberta ao público
todos os dias, sendo a entrada grátis.
Em torno deste Parque fizeram-se vídeos, distribuiu-se
banda desenhada, folhetos, ofereceram-se toalhetes a
bares para colocação nos tabuleiros. Muitas pessoas
aperceberam-se, graças a esse trabalho, dos problemas
do Litoral.
Curiosamente, todas as bandas desenhadas que o Parque
produziu, painéis de mais de dois metros, estiveram
expostos durante uma série de anos no Litoral e nenhum
deles teve um único risco, nem nenhum bigode numa
ave, nada. Ficaram intocados até terem sido retirados. É
uma proeza!
Ainda assim, é possível encontrar quem, ao levar o filho
à praia, escapando aos passadiços de madeira, se o pé da
criança encontra um cardo-marítimo meio enterrado,
queira que essa planta desapareça de vez...
20
Parque Biológico Verão 2002
Mas isso é apenas falta de informação: à medida que as
pessoas se apercebem da importância que as plantas que
vivem nas dunas têm na fixação da areia, é evidente que
começam a pensar duas vezes quando as pisam. Além
disso, cada vez há mais passadiços e, até por uma questão de comodidade, os banhistas usam de forma crescente essas estruturas. Se é certo que os objectivos são
claros, não há como fixar uma data a partir da qual se
possa dizer que estes esclarecimentos atingiram todos os
destinatários. Talvez seja necessário demonstrar à população as vantagens de proteger as dunas durante mais
uns 10 a 15 anos para que os (bons) hábitos se possam
consolidar.
Entrada do Parque
1
2
3
4
5
6
7
8
9
1 - Silene littorea Brt.; 2 - Luzerna-das-praias ( Medicago marina L.); 3 - Estorno (Ammophila arenaria (L.); 4 - Relva-da-praia (Polygonum maritimum (L.); 5 - Eruca-marinha ( Cakile maritima (Scop.); 6 - Helichrysum italicum (Roth. G. Don fil.
ssp.; 7 - Cardo-marinho (Eryngium maritimum L.); 8 - Cordeiros-da-praia ( Otanthus maritimus (L.) Hoffmanns & Link); 9 Artemisia campestris (L.) ssp. maritima
Verão 2002 Parque Biológico
21
educação
Pontas-de-lança
As plantas das dunas são a vanguarda da evolução
vegetal?
Não serão se calhar as mais especializadas, pois há
plantas que vivem em habitates extremos. Mas, em
termos de dificuldade, elas ficam numa fasquia muito
elevada: são ao mesmo tempo, na prática, plantas de
deserto e plantas sujeitas a vendavais fortes. Quer a
brisa marítima quer a terrestre estão sempre a atacar.
As diferenças de temperatura são drásticas: de dia um
sol tórrido, de noite uma brisa fria. Nesse aspecto, esta
flora evidencia adaptações fantásticas.
Como se o descrito não fosse já complicado, enfrentam
ainda a falta de água e de nutrientes. A areia, pelas
suas características, não consegue reter esses elementos.
Assim, como contrapartida, as plantas dunares recorrem a estratégias que satisfazem um aproveitamento
máximo de água e favorecem a absorção de nutrientes. Por exemplo, diminuem a superfície das folhas:
quase todas têm folhas pequeninas. Quanto menor a
superfície de contacto com o ar, menor a evaporação.
Outras espécies sobrepõem as folhas, em forma de
telhado. Assim, têm menos contacto com o exterior e
estabelecem uma espécie de câmaras que retêm humidade entre si. Muitas delas têm pêlos, que visam
reflectir a luminosidade e impedir que a luz bata directamente na superfície. Ora aí está um tópico que os
carecas percebem bem em dias de sol!
Mas a criatividade destas plantas não pára: os espinhos que muitas delas possuem são uma adaptação à
secura. Quanto mais rijas as suas superfícies (fala-se
de uma textura coriácia, de couro) menos transpiram.
Por isso é que os cardos mostram aquela superfície
dura. Olhando-os, parecem mais ou menos encerados.
Algumas plantas, em vez de revelarem a habitual seiva
líquida, evidenciam uma seiva mais pastosa, que tam-
1997
22
Parque Biológico Verão 2002
bém dificulta a perda de água. Outras adaptações passam pelo enrolamento das folhas, como no caso do
estorno.
E há também respostas à falta de nutrientes. Com rizomas gigantescos, conseguem uma grande superfície de
contacto e uma maior absorção. Mas a vida num habitat móvel exige mais: a qualquer momento as plantas
podem ficar soterradas, se o vento sopra e a areia as
cobre. Como resolvem esse problema?
Em vez de crescerem num só local crescem em vários
pontos – se uma ou outra for tapada com areia, os
outros rebentos continuam a fazer fotossíntese e esse
espécime sobrevive. Outras plantas conseguem excretar sal, no caso das espécies mais próprias de sapal.
Outras são suculentas, para terem reservas de água.
As plantas dunares dependem sobretudo da água da
chuva e do orvalho, porque pela raiz, dada a proximidade do mar, os lençóis freáticos tendem a salinizar.
Primeiro passo
No arranque deste projecto, os terrenos do Parque de
Dunas da Aguda eram constantemente atravessados
pelas pessoas na direcção do mar. É possível ver numa
fotografia aérea antiga que a maior parte da zona
frontal estava sem vegetação. As plantas não se conseguiam fixar.
Ao ser pisada, a duna torna-se mais móvel. Havia
muito mais areia exposta do que cobertura vegetal. À
medida que se colocaram passadiços, as pessoas passaram a evitar pisar a areia, por comodidade, e as
plantas começaram a surgir.
Nessa altura, colocaram-se paliçadas para fixação da
areia das dunas. Mas não umas paliçadas quaisquer!
Paliçadas ecológicas – reaproveitaram-se podas de
árvores do município e foi essa madeira que se usou
com vantagens acrescidas: são mais eficientes porque
os ramos, redondos e colocados em molhos, simulam
melhor o efeito do vento na vegetação. Criam mais
turbulência e a areia tende a ficar ali retida.
Mas, e os vizinhos? Sim, porque o Parque de Dunas da
Aguda tem vizinhos. Há 5 anos, a vizinhança compreendeu perfeitamente o que era o Parque de Dunas.
Até ajudou na vigilância. Os problemas ocorriam com
uma série de grupos que frequentavam a área de noite.
Deitavam a rede abaixo às vezes só para fazerem ali
uma fogueira ou um piquenique. Outros roubavam
parte da vedação talvez para algum galinheiro.
Aconteceu também pais portarem-se pior que os
filhos. Quando a bola saltava da praia para o Parque,
galgavam a vedação e ofereciam pancada ao segurança. Isto no Verão era frequente. Outras pessoas usavam
a vedação para servir de encosto, cabide, e deterioravam-na.
Também o «melhor amigo do homem» abandonado é
um problema que atinge a vedação e a fauna que visita o Parque. Chegou-se a ver lá 15 cães de uma só vez.
Dá sarilhos: há aves que fazem ninho nas dunas ou que
precisam delas para descansar durante as migrações.
Esses cães iam aos ninhos. E, muitas vezes, bastava a
presença deles para as aves – como os borrelhos e os
ostraceiros – não pousarem.
Parque de
Dunas da
Aguda
No Parque de Dunas da Aguda há um ou outro ouriço-cacheiro. Se fossem dunas extensas haveria até raposas. Neste espaço limitado há uma série de répteis:
lagartos e lagartixas, talvez cobras, uns poucos anfíbios, mais ligados a uma charca temporária criada a
norte para servir de bebedouro às aves migradoras.
Face às vantagens, o ideal seria expandir o Parque.
Mas não há como fazer isso. De um lado está o mar e,
dos outros, mares de habitações. O que é possível é
preservar o que resta das dunas, isso sim, apesar da
erosão marinha que avança. Manter estes espaços
naturais ou naturalizados é tarefa complicada!
2001
2002
Verão 2002 Parque Biológico
23
educação
Apesar do Parque de Dunas da Aguda não ser grande,
nele conseguiu-se proteger, entre muitas outras, uma
espécie que só existe no Douro Litoral, sendo a Aguda
o seu ponto mais a sul (o ponto mais a norte é
Angeiras): a Rhynchosinapis johnstoni (Samp.)
Heywood, uma raridade.
Há outra que também existe neste Parque de Dunas: a
Jasione lusitanica A. DC. Possui estatuto de protecção
no Anexo II da Directiva Habitats.
Outras desapareceram pensa-se que há umas décadas,
como é o caso da camarinha, Corema album (L.) D.
Don. Havia até uma rua na Aguda com esse nome.
Porquê degradar?
Silene portensis L.
Bem comum
Ainda assim não há como esquecer: as populações
beneficiam destes parques dunares. No caso aqui da
Aguda, se a duna frontal desaparecer a estrada passa
a ser marginal, com todas as implicações que isso tem
a nível da conservação dos edifícios. As marés vivas
entrarão dentro das casas, fora o grande património
florístico e faunístico que se esvai.
Com esta revista,
o Relatório e
Contas de 2001
do Parque
Biológico de
Gaia, E. M. em
CD-ROM
24
Parque Biológico Verão 2002
O que mais destrói as plantas das dunas, a nível local,
é o trânsito de jipes, de motas, de pessoas de passagem
para a praia. Numa escala mais abrangente, ainda com
uma dimensão média, contam-se a extracção de areia
e as barragens. As últimas imobilizam os sedimentos,
que vão ficando em grande parte na albufeira, e não
são distribuídos pelo Litoral.
A uma escala maior, considera-se o problema do aquecimento global, o descongelamento das calotes polares, o aumento do nível da água do mar, uma série de
fenómenos como a acidificação da própria chuva (que
mata), e, claro, os movimentos tectónicos.
EXEMPLO
(CON)SEGUIDO
Quando o que se faz num sítio se converte em
modelo é porque a qualidade marcou pontos.
Foi isso mesmo que ocorreu com o Parque de
Dunas da Aguda. Por exemplo, se nos deslocarmos
no Litoral para norte e chegarmos a Matosinhos, à
Praia da Memória, encontramos um pequeno edifício de madeira, um prefabricado que em tudo
evoca o Parque de Dunas da Aguda. Perto de
Angeiras, embora possa e deva ser visitado todo o
ano, a melhor altura é a Primavera e início de
Verão, isto se quer apreciar as lindas flores silvestres das plantas dunares.
Os borrelhos nidificam abundante e frequentemente no Parque de
Dunas da Aguda
De uma forma diferente, mais a norte, a Área
Protegida do Litoral de Esposende também acolheu um elemento do Parque de Dunas da Aguda:
uma banda desenhada distribuída aos milhares, a
dada altura, aos restaurantes self-service do
Litoral – na prática, foi só trocar o logótipo do
Parque Biológico pelo da Área Protegida.
Mas voltando a sul, também Mira e Vagos estabeleceram contacto com o Parque Biológico de Gaia
no sentido da criação de um Parque de Dunas
como o da Aguda.
Tocando no facto de Portugal dispor de um Litoral
extenso e ameaçado – já que a maior parte da
população é aí que se concentra – é natural e
desejável: o Parque de Dunas da Aguda continuará a inspirar projectos de educação ambiental e de
conservação da natureza, no sentido de um desenvolvimento sustentado.
Uma raridade: Rhynchosinapis johnstoni (Samp.) Heywood
As actividades de educação ambiental propostas aos
visitantes do Parque de Dunas passam por se prestar
informações em visitas acompanhadas por um guia,
sujeitas a marcação (programa «Dunas: conhecer e
conservar»). Explica-se a importância das zonas húmidas, como funcionam as dunas, as adaptações das
plantas, etc. No futuro, o Parque de Dunas vai dispor
de uma série de outros programas de educação
ambiental.
Face ao presente, é de aguardar o futuro próximo com
a melhor expectativa!W
Praia da Memória, Matosinhos
Verão 2002 Parque Biológico
25
equipamento
Ribeiras de
Gaia
Em Miramar surge um centro de educação ambiental vocacionado para sensibilizar
sobre a necessidade de protecção dos cursos de água doce
Inaugurado no passado dia 12 de Junho pelo presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, o Centro
de Educação Ambiental das Ribeiras de Gaia fica junto
à ribeira do Espírito Santo, por trás do campo de golfe.
Este centro acolhe diversas actividades: expõe aquários
com várias espécies típicas das ribeiras deste concelho
— montados pela Estação Litoral da Aguda —, dispõe de
biblioteca e mediateca, de um minicampo de energias
alternativas e uma sala de monitorização da qualidade
da água da ribeira do Espírito Santo, entre outras.
Cria-se assim «um espaço físico que possibilita o desenvolvimento de acções pedagógicas e a disseminação da
estratégia ambiental do município de Gaia, criando e
desenvolvendo no concelho uma maior consciência
ambiental», bem como «sensibilizar os visitantes para as
problemáticas ambientais, particularmente para a água,
energia, conservação da natureza e resíduos».
Pormenor do Centro junto à ribeira do
Espírito Santo
O Presidente da Câmara inaugurou o Centro de Educação
Ambiental das Ribeiras de Gaia
Praias azuis
Vila Nova de Gaia dispõe hoje de 12 praias com a cobiçada bandeira
azul, nomeadamente Canide Norte e Sul, Madalena Sul, Valadares Norte
e Sul, Dunas Mar, Francelos, Sãozinha, Mar e Sol, Aguda, Senhor da
Pedra e Miramar.
«Das 144 praias portuguesas galardoadas, 22 estão na Região Norte e,
destas, 12 na Área Metropolitana do Porto, todas localizadas em Gaia»,
afirma um cartaz da Águas de Gaia, E. M.
A Bandeira Azul é atribuída pela Fundação para a Educação Ambiental
(em inglês FEE), uma organização não governamental de ambiente em
que cada um dos países participantes é representado por organizações
nacionais. Em Portugal, o operador nacional é a Associação Bandeira
Azul da Europa - secção portuguesa da FEE.
26
Parque Biológico Verão 2002
No âmbito deste centro, está em curso «um programa
de limpeza, renaturalização e reabilitação dos 400 km
de ribeiras do território concelhio e suas margens. Esta
reabilitação, um misto de engenharia fluvial e de
arquitectura paisagística, com forte componente ecológica, está no topo das prioridades da política
ambiental dos países mais desenvolvidos. Dando resposta à procura crescente de actividade de lazer por
parte das populações, a empresa Águas de Gaia está a
construir uma rede de caminhos pedonais junto às
margens das ribeiras e que abrange todo o concelho. O
objectivo é que seja possível passear a pé ou de bicicleta ao longo de percursos sem automóveis, interli-
gando o interior e o litoral e que permitirá criar acessos agradáveis e seguros às praias».W
Poças Martins, vereador do
Ambiente, e Luís Filipe
Menezes no Centro de
Documentação
Na sala dos aquários do Centro
as crianças olham de perto
peixes comuns das ribeiras da
região
Rio Febros:
ETAR em construção
As estações de tratamento de águas residuais (ETAR) em
bom funcionamento são equipamentos fundamentais para
que a actividade humana massiva não degrade a natureza.
A Câmara Municipal de Gaia constrói estações destas na
Madalena, Areinho, Crestuma/Lever e rio Febros. A primeira
vai servir todo o litoral do município gaiense, abrangendo
300 mil habitantes.
A ETAR do rio Febros servirá cerca de 60 mil pessoas. O site
da Câmara declara também que «após a entrada em funcionamento desta infra-estrutura, o concelho de Vila Nova de
Gaia passará a contar com uma eficiente rede de saneamento, na qual se inclui o tratamento final de efluentes».
Nessa altura, no Parque Biológico de Gaia assistir-se-á também a uma grande valorização da fauna fluvial. Habitantes
antigos, falam da pesca da truta à linha e, até, da toupeira-de-água, um endemismo ibérico que há todo o interesse
em conservar.
Verão 2002 Parque Biológico
27
litoral
Áreas protegidas marinhas
Dos 13 Parques Naturais e mais uma mão-cheia de outras zonas com estatuto de
protecção, existentes em Portugal continental, apenas quatro englobam território
marinho ou parcelas da zona entre-marés
Eis alguns: Parque Natural da Arrábida, Parque Natural
do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, Parque
Natural da Ria Formosa e a Reserva Natural das
Berlengas. Se atentarmos na localização destas áreas
facilmente percebemos que todas se situam no Sul do
país, encontrando-se cerca de 400 km da costa ocidental sem nenhuma área protegida ou reservada.
A estratégia de desenvolvimento sustentável da
Comissão Europeia apresenta a gestão integrada do
litoral como um instrumento essencial para atingir
objectivos imediatos como sejam uma melhor exploração dos recursos vivos marinhos. Também a Agenda
XXI, derivada da Conferência do Rio de 1992, apresenta a necessidade da preservação dos ecossistemas costeiros e a criação de áreas protegidas marinhas. Por
outro lado, a nível nacional, o Plano Nacional de
Política de Ambiente, de 1995, apontava a necessidade de se avançar com medidas de protecção da biodiversidade marinha apoiada, entre outras coisas, na
conservação dos habitates costeiros.
Mais recentemente, os Planos de Ordenamento da Orla
Costeira (POOC) recuam em termos de objectivos e de
alcance estratégico, não avançam significativamente
em termos de medidas de gestão para a parte submersa e, erradamente, não propõem claramente a implantação de áreas protegidas marinhas. O POOC Caminha-Espinho, no entanto, no que respeita à conservação
da natureza, prevê, na sua Unidade de Paisagem 4
(U4), a protecção das bancadas rochosas em Angeiras
e na zona Aguda-Granja. Como é que isso vai ser feito,
é que ninguém ainda definiu.
Ocupando as praias cerca de 60% da linha de costa, e
estando sujeitas a uma sobreocupação humana, parte
importante dos restantes 40% - que no Norte correspondem sobretudo a curtos troços de costa rochosa
intercalada entre as sucessivas praias e às desembocaduras dos rios - deverá ser preservada como espaço de
descompressão humana e como refúgio de vida selva-
Zona do intertidal inferior na praia da Aguda (Barroeira coberta com algas)
28
Parque Biológico Verão 2002
litoral
gem, sobretudo nos troços que abriguem endemismos
vegetais, ou espécies animais e biocenoses com pequena expressão no país ou em riscos de extinção.
A preservação do interesse recreativo, e portanto da
atractividade das praias tem de assentar no conhecimento das razões que explicam essa aptidão, e que
tem muito a ver com a fuga ao stress das grandes
cidades. No entanto, em Portugal, assiste-se ao envolvimento das praias por ambientes tipicamente urbanos, quase tão viciados como aqueles de que os seus
utentes querem fugir, acontecendo isso não para corresponder ao bem-estar e aos desejos da sociedade em
geral, mas por pressão dos especuladores urbanísticos
sobre o egoísmo duma minoria de utentes que julgam
poder assenhorear-se individualmente de uma parcela
da atractividade daquelas praias comprando nas imediações um lote de terreno.
Encarar o litoral como um recurso finito torna-se cada
vez mais uma evidência e uma necessidade. Para que
possamos continuar a usufruir de uma paisagem costeira equilibrada e saudável, na qual as zonas naturais
tenham cabimento, é urgente a consciencialização de
que o litoral de amanhã depende da forma como o planearmos e usarmos hoje. A natureza não é um reservatório inesgotável, que tudo suporta, mas caminha
sim para um ponto de ruptura devido ao uso e abuso
que dela fazemos.
Nunca é demais falar da delapidação de recursos de
que o litoral é alvo. Desde as dunas até ao sublitoral, as
destruições sucedem-se e tudo parece ser um bom pretexto para se destruir mais uma duna primária, para se
usar mais um método de pesca nocivo ou para se pilhar
e descaracterizar a zona intertidal (zona entre-marés).
Quem frequenta a beira-mar facilmente testemunha a
destruição levada a cabo no intertidal, o que manifesta
uma grande ignorância por parte da esmagadora maioria das pessoas que têm acesso ao litoral.
ral português sem pagarem impostos), e principalmente através da educação ambiental.
É necessário que se proporcione às pessoas um mínimo de conhecimentos sobre a ecologia da zona entre-marés, para que não se continue a assistir a um pisoteio indiscriminado de espécies sensíveis e a uma
pilhagem de formas juvenis de espécies que têm interesse gastronómico e portanto económico, quando
atingem o estado adulto.
Torna-se bastante difícil hoje em dia observar na zona
intertidal indivíduos com o tamanho máximo, e muitas
vezes mesmo com o tamanho médio para a sua espécie, de acordo com o que vem referido nos manuais.
Qualquer pessoa que trabalhe com organismos intertidais sentiu já esse problema que, por vezes, dificulta a
própria identificação das espécies. Este facto é devido
precisamente à apanha de espécimes, cada vez com
menor tamanho, e que por isso nunca atingem a idade
adulta.
É pois de extrema importância conservar determinados
troços da zona intertidal, criando zonas reservadas,
onde as comunidades de seres vivos possam atingir o
estado clímax e que funcionem ao mesmo tempo como
verdadeiros museus vivos onde seja possível estudar as
espécies, onde se possam realizar acções de educação
ambiental e de esclarecimento dos cidadãos sobre a
importância e sensibilidade destas áreas e que sirvam
também como zonas de dispersão e de repovoamento
para o restante litoral.
A praia da Aguda é uma pequena aldeia piscatória
localizada 19 km ao sul do estuário do Rio Douro no
concelho de Vila Nova de Gaia. Aí, devido à elevada
diversidade de organismos marinhos e habitates, a
costa rochosa adjacente apresenta uma vocação espe-
Muitas destas pessoas, das mais variadas classes etárias, destroem os recifes da barroeira (Sabellaria alveolata) anelídeo poliqueta, completamente alheias à sua
importância ecológica (ver n.º anterior da revista
«Parque Biológico»), apanham peixes de tamanho
diminuto, sem o menor interesse gastronómico, bem
como pequenos crustáceos e moluscos que a maior
parte das vezes acabam mortos no areal, destroem ao
pontapé, nas rochas, inúmeros seres vivos de vida fixa
ou semifixa por curiosidade mal orientada ou pelo
mórbido prazer de destruir…
É urgente inverter esta situação, através da regulamentação da apanha de animais e plantas na zona
intertidal (actividade de que se ocupam e usufruem
economicamente milhares de pessoas ao longo do lito-
Casulos da Barroeira
Verão 2002 Parque Biológico
29
litoral
cial para a educação ambiental e para a conservação,
bem como muitas oportunidades para a investigação
científica.
Nos últimos anos foram efectuados vários levantamentos das espécies da fauna e flora, bem como estudos de zonação e sucessão no litoral, envolvendo a
zona entre-marés e as dunas (ver bibliografia).
A base destes estudos foi, na maioria dos casos, o
Departamento de Educação e Investigação da Estação
Litoral da Aguda (ELA), uma instituição criada pela
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, cujo Museu
das Pescas e Aquário estão abertos ao público desde o
Verão de 1999.
A praia da Aguda é uma das poucas praias rochosas da
costa portuguesa onde uma grande área do seu substrato rochoso, sobretudo na parte sul, ainda está colonizada por um anelídeo poliqueta (Sabellaria alveolata), designado localmente por Barroeira.
Este organismo tem a particularidade de construir
casulos tubiformes com partículas de areia e pequenos
pedaços de conchas, para neles se alojar. Uma vez que
estes organismos se agregam em colónias, os casulos
ficam totalmente unidos entre si, fazendo lembrar o
aspecto característico dos favos de mel, e assim contribuem para a formação de novos substratos, que
podem atingir as dimensões de verdadeiros «recifes».
Os «recifes» de Sabellaria alveolata apresentam uma
diversidade e abundância de organismos significativamente maior do que as zonas desprovidas destas
estruturas. São assim muito atractivos para várias
espécies de espongiários, cnidários, anelídeos, crustáceos, moluscos, equinodermes e peixes que ali encontram refúgio, abrigo, alimento e óptimas condições
para a sua actividade reprodutora.
Bloco ou «recife» de Barroeira destruído pelo pisoteio
30
Parque Biológico Verão 2002
Dada a grande importância ecológica destes «recifes» e
tendo em conta que nada se conhecia acerca destes
"tesouros" da costa portuguesa, deu-se início a um
trabalho que teve como principais objectivos a caracterização do ritmo de crescimento dos «recifes» na
praia da Aguda e a caracterização do tipo de comunidades que neles vivem. Foram encontradas mais de
140 espécies marinhas diferentes, que são associadas
aos «recifes» da Barroeira (ver n.º anterior da revista
«Parque Biológico»).
Foram propostas medidas de conservação para estas
estruturas, dada a facilidade com que podem ser destruídas. Principalmente nas épocas balneares, estes
«recifes» são sujeitos a grande pisoteio pelo Homem e,
não raras vezes, sofrem a acção destrutiva de picaretas que são usadas pelos pescadores pouco escrupulosos na procura de isco (outros poliquetas que não a
Barroeira), para a pesca.
Como primeiro passo foi elaborado um folheto de
informação com o título «Proteja a Barroeira» que é
gratuitamente distribuído aos visitantes da Estação
Litoral da Aguda (ELA).
Os trabalhos efectuados poderão futuramente possibilitar a demarcação de uma zona reservada no litoral
entre a praia da Aguda e a praia da Granja. Um «Parque
Litoral» onde se minimizarão, dentro do possível, a
maioria das potenciais ameaças a este ecossistema, e
onde se poderão desenvolver importantes acções de
sensibilização das pessoas, no âmbito do Programa de
Educação Ambiental no Litoral da ELA.
Bibliografia
DIAS SANTOS, J.P., (1996) - "Estudos de Ecologia Marinha
Aplicada no Litoral da Praia da Aguda". I.C.B.A.S., Instituto de
Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, 137
pp.
DIAS SANTOS, J.P., (2001) - "Concepção, Construção,
Implantação e Monitorização de um Sistema Piloto de
Recifes Artificiais". Tese de Mestrado, Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto: 154 pp.
PEREIRA, A. S., (1998) - "Morfologia, crescimento e fauna e
flora associadas dos "recifes" de Sabellaria alveolata (L.) da
praia da Aguda". Dissertação de mestrado. Instituto de
Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto.
WEBER, M., (1998) - "Aguda entre as Marés - Fauna e Flora
no Litoral da Praia da Aguda". Edições Afrontamento, Porto:
237 pp.
WEBER, M., CAMPOS, J., COELHO, A.M., DIAS SANTOS, J.P.,
BENEVIDES, S.C.R., & SANTOS, A., (1999) - "Guia de Campo
do Litoral da Praia da Aguda". Estação Litoral da Aguda,
Câmara Municipal de Gaia. 104 pp.
WEBER, M. , PRATA, J., CUNHA, I., SANTOS, A. & A. FERREIRA
2001 - Guia da Estação Litoral da Aguda. Fundação ELA, Vila
Nova de Gaia: 102 pp.
WEBER, M. , JESUS, P. & A. SANTOS 2001 - Cem anos na
praia da Aguda. Edições Afrontamento, Porto: 168 pp.
percurso
Conheça o Património
Natural com o Parque
13 de Julho (sábado): visita de estudo
ao PARQUE NATURAL DO ALVÃO
09H00 – Partida do Parque Biológico, em
autocarro,
Vale da Campeã (Marão) / Fisgas do Ermelo /
Lamas de Olo / Vila Real
19H00 – Chegada prevista ao Parque
Biológico
A visita será guiada pelos técnicos do Parque:
Eng.ª Telma Cruz (Geologia), Dr. Henrique
Alves (Botânica) e Dr. Nuno Gomes Oliveira
(Zoologia).
As inscrições serão feitas por ordem de reserva, até ao limite de 45 pessoas, e o seu custo
(a liquidar no início da visita) é de e 15.
Os participantes deverão levar almoço volante, e a visita realiza-se independentemente
das condições atmosféricas. Calçado adequado e binóculo ou telescópio são vivamente
aconselhados.
Verão 2002 Parque Biológico
31
conservação
Takhi: uma espécie em extinção…
Takhi, na Mongólia, significa ser espiritual ou divino, mas esta palavra é utilizada
também para definir os belos e graciosos cavalos que viviam no alto das montanhas Altai na estepe mongol, em total vida selvagem desde há alguns milhares de
anos…
Os takhi são cavalos de aspecto robusto talvez devido
aos climas rigorosos que estão habituados a suportar.
São equinos que podem chegar a cerca de 300 kg de
peso, atingindo apenas 1,4 m de altura ao garrote, daí
a sua aparência baixa e robusta. Com uma tonalidade
muito particular, vai desde a castanha-escura (risca
que traça o seu corpo no sentido longitudinal, terminando na rabada) passando pela castanha mais clara
no dorso e garupa, e ainda, quase branco na barriga,
retornando à castanha-escura nas patas. A pelagem,
curta no Verão, torna-se comprida e densa no Inverno,
devido ao frio que reina nas estepes da Mongólia.
Nesta época, a manada — constituída normalmente
por 10 a 20 fêmeas acompanhadas de um macho com
mais de 6 anos que cobre e guarda a manada e suas
crias (que são desmamadas entre 6 e 8 meses de idade,
mas permanecem com a manada até cerca dos 2 anos)
— desce do alto das montanhas para os prados situados mais abaixo, que lhes dão abrigo no Inverno, pois
para além de terem umas temperaturas mais altas, fornecem-lhes pasto durante essa estação.
O tempo de gestação dos takhi é de cerca de 340 dias.
Normalmente só nasce uma cria, por volta de Abril e
Maio. Ao fim de 24 horas já se encontra em condições
de seguir a mãe e o resto da manada nas suas rotas
diárias em busca de forragens e água.
Os takhi ou cavalos-de-przewalski (assim chamados
pois o último exemplar em liberdade foi visto por um
russo, Nikolai Przewalski) passam a maior parte do dia
a pastar, pois as forragens nos desertos das estepes da
Mongólia não são muito ricas nem muito vastas, e de
noite aproveitam para procurar água...
Estão sempre alerta para evitarem os predadores: o
lobo e o homem. Este último começou por lhes invadir
o território, ficando os takhi sujeitos a espaços de terra
sem água (porque o ser humano ocupava espaços de
terra com água). As terras altas da Mongólia atingem
temperaturas muito baixas no Inverno e a caça excessiva é um factor para a extinção de qualquer espécie.
A carne dos takhi já foi muito apreciada pelos povos da
Mongólia. Assim, o número de exemplares baixou,
Os exemplares recebidos em Portugal vieram de Inglaterra em 13 de Dezembro passado
32
Parque Biológico Verão 2002
Os takhi têm
66 cromossomas
numa molécula
de ADN, e os
cavalos
domésticos
têm 64
Na coudelaria de Alter, vivem quatro exemplares, ao
abrigo de um acordo feito entre o Jardim Zoológico
de Lisboa, a Faculdade de Ciências de Lisboa e o
Serviço Nacional Coudélico
chegando a extinção em vida selvagem. Os cerca de
1500 przewalski restantes estão espalhados por zoológicos e reservas naturais do mundo inteiro, ao abrigo
de protocolos e leis de conservação de espécies, para
que haja uma reprodução com sucesso e controlada a
fim de futuramente serem reintroduzidos nas estepes
da Mongólia, o que aparenta ser possível já que, hoje,
a casa ancestral dos takhi, o deserto de Gobi, é uma
reserva natural.
Cá, nas planícies lusitanas, mais precisamente nos
riquíssimos prados da coudelaria de Alter, em cerca de
2 ou 3 hectares de montado, vivem os quatro exemplares que lhes foram destinados, ao abrigo de um acordo
feito entre o Jardim Zoológico de Lisboa, a Faculdade
de Ciências de Lisboa e o Serviço Nacional Coudélico.
Os exemplares recebidos em Portugal no passado dia 13
de Dezembro vieram de Inglaterra (Marwell) e pertencem a um programa europeu de conservação de espécies em cativeiro, sendo coordenadora do programa em
Portugal Maria do Mar Oom, da Faculdade de Ciências
de Lisboa. Cabe-lhe definir os exemplares que se poderão reproduzir uns com os outros, enviar os possíveis
excedentes para a reintrodução que recentemente
(cerca dos anos 90) começou a ser feita na Reserva
Natural de Hustain Nuruu, na Mongólia.
O cavalo-de-przewalski
pertence a um programa
europeu de conservação
de espécies em cativeiro
Os exemplares chegados a Portugal vinham de óptima
saúde e depressa se integraram nas características do
clima rigoroso de Alter do Chão. Mo e Virgínia, de 11
anos, e Suzannah, de 8 anos, foram as primeiras a sair
do camião que os transportava, alinharam-se em três
e saíram em trote ligeiro a fazerem reconhecimento ao
território; Cyrano só mais tarde, depois de muito lutar
dentro da box, em que o transportaram, é que sai meio
trôpego do camião. Mal sentiu o cheiro das suas três
esposas saiu em trote rápido atrás delas... os Takhi são
animais instintivamente agressivos e dominantes. A
cerca-limite dos três hectares que lhes são destinados
está reforçada com uma faixa electrificada com
pequena voltagem, a fim de se evitarem alguns acidentes de percurso como fuga e cruzamento com os
restantes cavalos da coudelaria.
Há quem defenda a tese de que os przewalski seriam o
antecedente do cavalo doméstico, visto terem sido
descobertos fósseis no Norte dos Estados Unidos que
demonstram que foram extintos na última época glaciar, mas recentemente cientistas chineses descobriram que os takhi têm 66 cromossomas numa molécula de ADN, e os cavalos domésticos têm 64.
Aguarda-se, assim, ansiosamente pelos resultados positivos desta luta pela preservação da última espécie de
equinos que viveu até há pouco em vida selvagem,
indomáveis e sem alterações nas características de
raça.W
NOTA: Baixo, robusto, orelhas pequenas, com maxilares e
cabeça larga, pescoço e pernas curtas, cor-de-areia, com
uma linha ao comprimento do dorso que começa na crina
curta e dura e termina na rabada, castanha-escura, barriga
quase branca e pernas castanhas-escuras também — estas
são as características dos takhi que permaneceram imutáveis
durante milhares de anos.
Verão 2002 Parque Biológico
33
geologia
Da cesta
à câmara fotográfica
e do garrafão...
e ao bloco de notas
Já lá vai o tempo em que os nossos parques e matas florestais, especialmente aos
fins-de-semana, quando o tempo começava a aquecer, eram ocupados pela "cesta
e pelo garrafão" em lautos piqueniques que, no geral, terminavam com uma roncadora sesta sobre uma manta estendida à sombra acolhedora da mata
Os parques exercem, pela forma prática e pedagógica do que directamente transmitem a quem os visita, um forte e decisivo contributo
para o respeito e a defesa do Ambiente
O contacto com a
natureza vai sendo feito
cada vez mais, com os
olhos e a cabeça em
detrimento do estômago
34
Parque Biológico Verão 2002
No fim, o "campo de batalha" ficava inundado de despojos espalhados à superfície. Hoje, os parques de
merendas continuam a existir, aumentados até e
melhorados com estruturas de apoio para os seus utilizadores, mas talvez as cestas e os garrafões de outrora tenham diminuído, bem como, seguramente, os despojos de lautas batalhas. Sinais dos tempos?
Nos dias que correm, o contacto com a natureza vai
sendo feito, cada vez mais, com os olhos e a cabeça em
detrimento do estômago. O bloco de notas e a câmara
fotográfica substituem-se à cesta e ao garrafão. Bebe-se e saboreia-se, ao ar livre e puro, a fruição da bele-
za da paisagem, buscando já o seu entendimento através da informação científica do meio físico que dá
suporte às formas, ganhando, assim, esse novo tipo de
conhecimentos; procura-se entender a distribuição do
coberto florestal, das culturas agrícolas e dos solos a
elas associados, e, também, porventura, através do
reconhecimento do habitat, completar a "simbiose"
entre o meio físico, com o vegetal e o animal. É na
base desta trilogia que concebemos a estruturação dos
parques naturais ou nacionais portugueses que já
temos, e que aos poucos vamos procurando enriquecer
e preservar.
Portugal possui uma razoável rede de parques naturais.
Independentemente da tutela a que estão subordinados, seja ao ICN seja às autarquias, importa mais, neste
caso, quais os seus objectivos e finalidades, o que oferecem e quem procuram servir. Entendemos, em primeiro lugar, que — não tendo a fruição e o culto da
natureza o fim em si mesmos — os parques exercem,
pela forma prática e pedagógica do que directamente
transmitem a quem os visita, um forte e decisivo contributo para o respeito e a defesa do Ambiente, em
geral. Em segundo lugar, podem contribuir, de forma
complementar, com o ganho e mais-valia de conhecimentos nos campos da biologia, da geologia, da geomorfologia associada à paisagem, da pedologia, da climatologia, da etnografia, etc., dependendo essa aprendizagem da forma como se encontram estruturados
nas suas diversas vertentes e potencialidades aplicadas
a esses factores-base da natureza.
informação científica. São eles o da Peneda-Gerês, o
de Sintra-Cascais, o Parque Natural da Serra da
Estrela, estando em curso o projecto do Parque de
Montesinho e do Douro Internacional.
O Parque Biológico de Gaia, que em boa hora foi criado, possui todos os condimentos para poder vir a ser
mais um desses parques onde a diversidade de informação de base científica, acessível ao nível da pedagogia mais elementar, se pode e deve diversificar e
refinar.
Por exemplo, no que respeita à Geologia e afins, a
diversidade morfológica a que se associam diversos
suportes geológicos — depósitos de terraços, xistos e
granitos — gerados em idades geológicas tão separadas e distantes no tempo, formam só por si um atractivo de múltiplo interesse didáctico que vale a pena
explorar e ilustrar da forma pedagógica mais acessível
e elementar.
E se essa pedagogia passar pela "cesta e o garrafão" de
outrora, que o "sacrifício" valha pelo prazer de dormir
uma sesta sobre um chão que se acaba por conhecer
melhor e para o qual se passará a olhar de outra forma
para o resto da nossa existência.W
* Pedologia é a ciência que estuda os solos.
Texto: Bernardo Barbosa e Narciso Ferreira, geólogos do
IGM
Deve, por isso, um parque natural procurar explorar de
forma exaustiva, pela multidisciplinaridade de factores
e acções que a natureza lhe concede, todas as suas
potencialidades, através de uma interdisciplinaridade
de conhecimentos de base científica, de forma que
possam ser devidamente objectivados e se tornem
facilmente inteligíveis e assimiláveis pelo comum
cidadão visitante.
Neste sentido, verifica-se serem já alguns dos nossos
parques capazes de complementar a sua vertente biológica natural e a paisagística (geomorfológica) com a
geológica que a enforma. Esta, para além do indispensável suporte físico (rochoso ou terroso) que empresta
ao meio pedológico* e biológico, contribui também
como importante condicionante climático. O meio físico, para além da definição da paisagem, considera-se
ainda responsável pela escorrência das águas pluviais,
superficiais e subterrâneas e como "barreira", ou não,
climática.
Alguns dos nossos parques naturais possuem já alguma dessa mais-valia geológica complementar que,
dia-a-dia, vai enriquecendo os seus patrimónios em
Verão 2002 Parque Biológico
35
internacional
A maior flor do mundo
Uma das plantas mais espectaculares do mundo é o Jarro-gigante
(Amorphophallus titanum), cuja
flor pode atingir três metros de
altura, e é a maior conhecida no
mundo. A sua forma assemelha-se
aos jarros (Arum italicum e A.
maculatum) comuns em Portugal,
quer cultivados em jardins quer no
estado selvagem.
O Jarro-gigante é originário das
florestas húmidas de Sumatra e o
primeiro europeu a encontrar esta
planta foi o botânico italiano
Odoardo Beccari, em 1878. Enviou
sementes para Itália, uma das
quais deu origem a uma planta,
enviada mais tarde para o Jardim
Botânico de Kew, em Londres, onde
floriu pela primeira vez em 1889.
Voltou a florir em 1926, com um
tal impacto no público que foi
necessário destacar polícia para
controlar os visitantes.
Um novo exemplar de Jarro-gigante, produzido em 1995 por micropropagação, a partir de um outro
exemplar existente no Jardim
Botânico de Bona, começou a florir em Abril deste ano, no Jardim
Botânico de Londres (foto junta); a
flor atingiu já os 75 kg de peso!W
XIII CONGRESSO NACIONAL
DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Educação Ambiental — o Ambiente e a Qualidade
A Câmara Municipal da Maia organiza este congresso em parceria com o Parque Biológico de Gaia, E. M.
e com o Instituto do Ambiente. Decorre já nos próximos dias 24/27 de Outubro. Inscrição: 75 euros. Do
programa constam workshops e percursos, com destaque para os do Gerês, Corno do Bico, Alvão e Pias.
Mais informações através do telefone: 227878120 (Verónica Magalhães).
36
Parque Biológico Verão 2002
espigueiro
Histórias da
Árvore dos Sonhos
O Parque Biológico de Gaia e a Ilha Mágica – Projecto
para a Infância e Juventude editaram o livro "Histórias da
Árvore dos Sonhos".
Da autoria de Alice Vieira,
Anabela Mimoso, António Mota,
Arsénio Mota, Inácio Nuno
Pignatelli, João Pedro Mésseder,
José Vaz, José Viale Moutinho,
Luísa Dacosta, Luísa Ducla Soares,
Manuel António Pina, Maria
Alberta Menéres, Renata Gil, Violeta
Caçadores de autógrafos
Figueiredo e com ilustrações de
Fernando Saraiva, esta obra foi lançada
no Parque Biológico de Gaia, ao fim da
tarde do passado dia 2 de Abril, também Dia Internacional do Livro
Infantil.
Marta Martins, do Instituto de
Estudos da Criança da Universidade
do Minho, apresentou a obra.
Acorreu ao auditório do Parque
Biológico um vasto público, apesar
da chuva desencorajadora.
Dedicatórias dos vários autores
Viale Moutinho e João Pedro Mésseder, dois dos
14 autores que participam na obra, em plena
sessão de autógrafos
Verão 2002 Parque Biológico
37
espigueiro
Campos de Verão
Os Campos de Verão, um dos "filhos" mais novos do Parque Biológico, vão lançar-se
de corpo e alma para a segunda volta, mas para percebermos como as ideias nascem e resultam temos de procurar a sua fundação
Em Abril de 2001 a primeira luz surgiu e a partir daí as
ideias, as actividades, as vontades, as curiosidades, as
visitas, as buscas e os anseios e desejos brotaram em
explosão.
Chegados a 13 de Julho, véspera do primeiro campo, a
ansiedade subiu em escala galopante, mas entre
pequenos percalços, gargalhadas, e até brincadeiras
tudo correu bem.
Ao todo realizámos 3 Campos: o primeiro de 14 a 23
de Julho, o segundo de 1 a 10 de Agosto e o terceiro
de 14 a 23 de Agosto. Tivemos um total de 86 participantes, dos quais 28 responderam a um inquérito que
foi a base para apresentarmos algumas curiosidades.
As actividades mais relevantes foram: contacto com os
animais, que assume um valor extraordinário, a visita
Caça ao tesouro
Construção de ninhos
Contacto com os animais
5
2
12
Visita nocturna
5
Laboratório
3
Jornal
2
Broa
3
Reciclagem
1
Visitas
1
Construção de papagaios
1
Construção de briquetes
1
nocturna e a caça ao tesouro, e as actividades de laboratório e broa.
Alguns dos nossos meninos também deram sugestões
para possíveis actividades futuras:
circuitos de BTT
1
mais actividades ligadas ao ar livre
1
maior contacto com os animais
5
passeios a cavalo
1
maior contacto com os pais
1
manter jogos tipo caça
1
maior número de actividades
1
Uma vez que a reacção foi tão boa e a nossa experiência pareceu agradar à maioria, não podíamos deixar de
realizar uma nova "aventura".
Este ano os Campos de Verão terão 7 dias e ao todo
serão quatro: 6 a 13 de Julho, 20 a 27 de Julho, 3 a 10
de Agosto e 17 a 24 de Agosto. As actividades serão:
Noite à Descoberta, Dia de Praia e Jogos, Passeio no
Gerês, Música Natural no Parque, Pintura em Painel,
Pequenos Petiscos e Bebidas, À Descoberta do Porto,
Caça ao Tesouro, Volta da Alimentação, Jardim dos
Cheiros, Noite de Festa, Decorpapel, Malabaristas, Ilha
Mágica(1) e Broa com...
As inscrições poderão ser feitas até ao dia 14 de Junho
e nós estaremos aqui disponíveis para qualquer dúvida.
(1) Com o apoio do Projecto para a Infância e Juventude
Os Campos de Verão
terão sete dias e ao
todo serão quatro:
6 a 13 de Julho,
20 a 27 de Julho,
3 a 10 de Agosto e
17 a 24 de Agosto
Por: Rita Valente
38
Parque Biológico Verão 2002
Ali estava o Gamo
Bem, até pode ficar mal dizê-lo, mas certo é que
demorei uns dez minutos a descobrir a cria de gamo
que nasceu no fim-de-semana do passado dia 10 de
Junho. No observatório, olhava para mais longe e, afinal, bastava ter olhado à direita: ali estava aquela bolita de pêlo, de olhos doces, aninhada no sopé da árvore. Depois da fotografia, até parece fácil descobri-lo.
Pura lã virgem
Do Jardim de Infância «Pimpão» chegou-nos a Chanel,
uma ovelha jovem e charmosa. Foi oferecida ao infantário com aproximadamente dois meses de idade e, a
partir daí, tornou-se mascote da escola, brincando e
jogando à bola com os meninos.
Era muito bem tratada. Todos lhe levavam comida e
davam-lhe banho com Soflan.
No entanto, preocupada com a vida sentimental da
ovelhinha, a directora do Jardim dirigiu-se ao Parque
Biológico para se aconselhar.
visitá-la sempre que podem.
... e foi assim que se decidiu: a Chanel veio «casar» ao
Parque. Agora está como quer: tem um marido, outras
amigas e os antigos companheiros de brincadeira vêm
No final do mês de Abril fizemos as tosquias e eles não
faltaram. Agora, aguardam ansiosos que nasçam os
filhotes!...
Texto: Ana Mafalda
Bezerros à vista
Por: Vanessa Soeiro
Dia 9 de Maio a vaca frísia chamada Matilde deu à luz
um bezerro. Mas, sem que tenha sido necessário fazer
um clone, juntou-se-lhe um outro bezerro da mesma
idade, entretanto adquirido.
Manuel Costa, Eng.ª Ana Mafalda, Paulo Costa
após o êxito do parto
Nasceram gémeas
Duas cabras-anãs nasceram em 16 de Maio passado. Poucas
horitas decorridas, ei-las enxutas e prontas para o que fosse
necessário.
Verão 2002 Parque Biológico
39
espigueiro
Dias mundiais
No início de Junho, duas datas das mais importantes marcaram o seu lugar. Uma
lançou o mote da meninada, outra o do ambiente
Dia Mundial da
Criança
Em 1 de Junho, sábado, o Parque Biológico foi invadido, no
melhor sentido, por centenas de meninos e meninas. Ao
todo foram 1445 visitantes!
Nesse dia foi assinado, da parte da manhã, um protocolo
de colaboração entre o Parque Biológico de Gaia e a
Associação Ilha Mágica, que animou grande parte das
actividades do dia, com destaque para o teatro «O rei vai
nu», representado por crianças.
O dia contou ainda ateliers de construção de ninhos, pintura, origami, contadores de histórias junto à Árvore dos
Sonhos no percurso de descoberta do Parque Biológico,
construção de vira-ventos e de papagaios-de-papel. A
música de realejo animou a entrada do Parque.
Dia Mundial do
Ambiente
O Parque Biológico de Gaia, nas suas instalações, fez no
passado dia 5 de Junho o que faz todos os dias, a favor do
ambiente, com quem o visita, mas especialmente com as
escolas. O seu quotidiano decorre no universo da educação ambiental.
O Rei vai nu
Na Exponor, o Parque Biológico foi representado pelo seu
director-administrador, Nuno Oliveira, que fez ali uma
palestra sobre o que é e o que faz esta empresa municipal.
Nuno Oliveira palestrou na Exponor
Dia Mundial contra
a Desertificação
No passado dia 17 de Junho comemorou-se o Dia Mundial
Contra a Desertificação. Um terço de Portugal apresenta
sérios problemas de desertificação, com duas componentes importantes: a utilização inadequada do solo e o abandono do interior por parte das populações.
40
Parque Biológico Verão 2002
Arboricultura Moderna
No passado dia 6 de Abril a Sociedade Portuguesa de
Arboricultura apresentou o seu livro «Arboricultura
Moderna» no Parque Biológico de Gaia, numa cerimónia que decorreu a partir das 17h30.
Noites cheias
de vaga-lumes
As noites já de si são mágicas. Mais ainda se o pio dos
mochos e as luminescências dos pirilampos as surpreendem.
Houve ameaças de chuva, mas mesmo assim, para
aproveitar isso e muito mais, nos passados dias 6, 7 e
8 de Junho, cerca de 500 crianças e adultos reuniram-se no Parque Biológico de Gaia para visitarem o
Parque nessa atmosfera especial.
No primeiro dia, uma quinta-feira em que houve
menos procura, os vaga-lumes resolveram aparecer em
maior quantidade. No dia seguinte, apesar da noite ter
estado mais fria, também não se intimidaram. Mas na
noite de sábado, quando afluiu a maior quantidade de
observadores, bem... fizeram greve, vendo-se poucos.
Coisas da natureza, que não controlamos!
Revista «Parque Biológico»
na internet
Fruto da colaboração de Arcanjo Araújo e de Alípio
Cabral, a revista PARQUE BIOLÓGICO dá cartas na rede
mundial de computadores. Apesar de recente — está
on line apenas há cerca de um trimestre — já conta
com muitos visitantes.
Na prática é mais uma extensão de educação ambiental e de conservação da natureza, algo de que muito
carece este planeta em que vivemos.
É só ligar: http://www.revistaparquebiologico.com
Verão 2002 Parque Biológico
41
espigueiro
Jornadas
a favor
da árvore
Entre 15 e 17 de Maio, decorreram no Parque Biológico
de Gaia as «Jornadas de Arboricultura 2002», organizadas pela empresa Planeta das Árvores.
«Todos os dias as árvores são vítimas
de agressões, vandalismo, acidentes,
que determinam a sua destruição parcial ou total, sem que alguém indemnize quem quer que seja», afirmaram
elementos da organização. «Este é um
dos motivos, entre muitos outros, que
junta especialistas europeus neste certame».
O prof. Pierre Raimbault, prestigiado
técnico francês, fez a abertura do programa, dia 15 de Maio, e abordou a
problemática do diagnóstico morfofisiológico na avaliação das árvores.
Um outro ponto forte do programa de
três dias foi o seminário técnico sobre
determinação do valor monetário das
árvores ornamentais.
Os temas «Quanto vale uma árvore
ornamental para efeitos de indemnização ou expropriação?», «Determinação
do valor monetário de uma árvore
segundo a Norma Granada», «A experiência das Câmaras Municipais de
Lisboa, Barcelona, Valencia e Terrasa»
reuniram «quatro dos maiores especialistas ibéricos na matéria».
Entre aulas práticas, seminário e
outros itens, questões de arquitectura
arbórea, estádios de desenvolvimento
das árvores, seus elementos de desenvolvimento e crescimento foram explicados e debatidos, convergindo em
torno da importância das árvores que,
sendo verdes, são um dos maiores
patrimónios deste planeta azul que é a
Terra.
42
Parque Biológico Verão 2002
Eco-escolas
Nos passados dias 14, 15 e 16 de Junho decorreu a Eco-escolas 2001/2002, organizada pela Energaia e pelo Parque Biológico de Gaia
Pelo 2.º ano consecutivo, num ambiente de confraternização, as 9 escolas candidatas ao galardão Eco-escola apresentaram os seus trabalhos, trocaram
experiências e passaram um dia aprazível no Parque
Biológico.
O programa iniciou no auditório do Parque Biológico
de Gaia pelas 9h30 de 14 de Junho, com palavras do
director do Parque Biológico, Nuno Gomes Oliveira, do
administrador da Energaia, Nuno Sousa, e de Paula
Costa, também da Energaia.
Os alunos das escolas de Alquebre, Bandeira, Cedro,
Devesas, Joaquim N. Almeida, Marmoiral, Pedras,
Quinta dos Castelos e Teixeira Lopes apresentaram
inúmeras actividades. Ouviu-se, na voz especial dos
meninos e meninas dos sete aos 12 anos de idade,
conselhos práticos sobre condutas que defendem o
ambiente. Simples e directas: «Plante uma árvore»,
«Não deite lixo no chão», «Prefira andar mais a pé do
que de carro», etc.
Conselhos mais ou menos conhecidos, decerto menos
praticados pela maioria, mas com certeza revistos e
mais profundamente entendidos através daquelas
vozes.
Fazendo, aprende-se melhor. Parabéns aos alunos e
professores!
Houve ainda um almoço no Parque de Merendas e, de
tarde, todos visitaram a Exposição Eco-escolas e o percurso de descoberta do Parque Biológico de Gaia.
Parte da exposição
Fotos: JG / Arquivo PBG
Alguns dos muitos modelos que desfilaram no auditório
Verão 2002 Parque Biológico
43
jardim
Aromáticas: quer um cheirinho?
Tal como previsto no último número da revista do Parque, voltamos a encontrar-nos, trazendo mais informações que julgamos serem úteis e agradáveis para todos
os leitores, especialmente para os que são sócios da Associação dos Amigos do
Parque Biológico de Gaia
As plantas aromáticas são novamente o tema deste
artigo e, porque muito há a dizer sobre elas, antes de
descrever as técnicas de cultura de mais três espécies,
farei algumas considerações gerais: em terrenos
demasiado ricos, pesados e húmidos, as plantas aromáticas perdem bastante do seu perfume; salvo algumas excepções, a colheita deve fazer-se antes da floração, que é o momento em que têm mais aroma; os
rebentos mais macios, que ainda não lenhificaram
(aumento de consistência), contêm maior quantidade
de substâncias odoríferas; excepção feita ao manjerico, as ervas aromáticas devem secar-se à sombra, em
feixes pendurados num cordel com um nó corrediço,
de modo a poder-se aumentar o aperto à medida que
o vegetal seca.
Com as ervas aromáticas devidamente doseadas, secas
e reduzidas a pó, obtém-se, depois de peneiradas, um
pó perfumado bastante apreciado na preparação de
diversos molhos. A mistura é feita ao gosto pessoal e,
se for bem conseguida, pode dar um cunho próprio aos
cozinhados.
Embora à data de publicação deste número se esteja
um pouco fora da época ideal das sementeiras destas
espécies, a seguir daremos as indicações de como cultivar o Manjerico, a Manjerona e o Tomilho. Pode-se
sempre tentar no próximo ano...
Manjerico (Ocinum basilicum) - Exige terra muito rica
e um sítio quente.
O manjerico pode semear-se em caixotes ou em vasos
de flores (a manter em casa) em Fevereiro-Março e ser
colocado em local definitivo em Abril-Maio. Depois de
a planta iniciar novamente o seu desenvolvimento
deve-se fertilizar e regar bastante, pois o manjerico é
bastante exigente em água. Outra operação muito
Manjerona
importante são as sachas (limpezas do canteiro). As
folhas colhem-se à medida das necessidades, se forem
para uso em culinária, enquanto para lhes extrair a
essência deixa-se passar a floração e depois corta-se a
planta pelo pé. A secagem das folhas faz-se ao sol,
pois assim conservam melhor o seu perfume.
Manjerona (Origanum maiorana) - Exige uma terra
humosa, solta e bem provida de fósforo.
Deve semear-se em Abril, em local bem quente,
cobrindo e compactando um pouco as sementes.
A proporção de sementes deve ser de meia grama por
metro quadrado; deve-se misturar as sementes, uma
vez que estas são muito finas, com um pouco de areia
o que facilita bastante o trabalho. Depois da colocação
em local definitivo deve-se regar bastante.
A colheita, salvo a de carácter ocasional para necessidades de cozinha, deve fazer-se imediatamente antes
da floração, cortando os caules 3 cm acima da terra.
No Outono arrancam-se as plantas. A secagem é feita
à sombra, em local seco.
Tomilho (Thymus vulgaris) – O Tomilho, planta vivaz,
requer terrenos leves, calcários, pedregosos e não
demasiado ricos, de outro modo perde bastante o seu
perfume. A sementeira deve ser feita em Março-Abril,
mantendo-se a terra sempre húmida até à germinação
e transplanta-se em Julho. A reprodução também pode
fazer-se na Primavera, por estacas ou divisão de
rebentos. Colhe-se, imediatamente antes da floração,
cortando a planta pelo pé. Podem-se obter as sementes para o ano seguinte deixando a planta na terra até
verificar que as cápsulas que contêm as sementes
ficam acastanhadas.
Bons cozinhados!
Tomilho
parágrafo
Sugestões de leitura
Ao assistirmos em nome do progresso à destruição de jardins cheios de história, quando um pouco por todo o país
se procede à desmatação de muitos hectares da nossa floresta tradicional em nome do desenvolvimento, quando
vemos uns quantos - em nome não se sabe bem de quê - privar da mais elementar dignidade as árvores das nossas
cidades com bárbaras podas, que mais parecem um ritual de massacre, sentimos o quanto estão actuais as prosas de
Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão ou mesmo Júlio Dinis.
Joaquim Guilherme Gomes Coelho, de pseudónimo Júlio Dinis, foca em «A Morgadinha dos Canaviais» (1868) temas
como a corrupção dos costumes políticos, através de uma eleição de deputado, ou os reflexos sociais e mentais da
modernização técnica, através da construção de um troço da via-férrea, como aqui demonstramos com este pequeno texto:
"E caíam, uma após outra, todas as árvores do quintal, os limoeiros, as nogueiras, os salgueiros e toda a família vegetal do velho Vicente, que sentia ir-se-lhe com ela a alma. Memórias de infância, sonhos de juventude, e reminiscências de velho, como aves invisíveis, ocultas nas copas daquelas árvores, surgiam agora espavoridas e desnorteadas, a
procurar o refúgio, que não encontravam fora dali. (...)
A demolição prosseguia com ardor e actividade. Em pouco tempo, só restavam da casa os muros, meio derrocados;
e, no quintal a serra e o machado principiavam a exercer no tronco da última árvore a sua obra destruidora. Era o
castanheiro da entrada, gigante de outro século, que desafiara os raios de muitos invernos, sucessivos".
in " A Morgadinha dos Canaviais", Júlio Dinis
"As Rosas de Atacama", de Luís Sepúlveda, Edições Asa
"Terra de Lobos", de Nicholas Evans, Círculo de Leitores
Luís Sepúlveda é um viajante e acima de tudo um contador de histórias, onde os valores ecológicos, a dignidade humana e a liberdade são pedra angular da sua
narrativa.
A chacina de lobos desencadeada pelos conquistadores do Oeste americano ainda permanecia viva na
memória daquela pequena cidade de Montana. O
impiedoso rancheiro que a dominava alimentava o
ódio dos habitantes para com aqueles animais. A bióloga Helen Ross chega à cidade empenhada em defender aquela espécie agora em vias de extinção. Para isso
vai ter de enfrentar uma população revoltada e assustada. Um romance acerca do inquietante confronto
entre o homem e a natureza.
Em "As Rosas de Atacama" ou "Histórias Marginais"
(título da edição espanhola), Sepúlveda guia-nos por
lugares e apresenta-nos a "homens e mulheres que, no
anonimato, ajudaram, ajudam e ajudarão a construir o
verdadeiro rosto da História".
Verão 2002 Parque Biológico
45
infância
Se alguém ama uma flor
Hoje abri um livro que tinha na
capa um menino com cabelos de
ouro e olhos coloridos como o
arco-íris.
Pensei que talvez os olhos dele
fossem assim por causa da
bondade que lhe corria no interior
e, também, porque amava o sol, a
terra, a água e o ar, a floresta e os
animais, as flores e os pássaros. E,
como os tinha observado
inúmeras vezes, as cores tinham-se fixado no seu olhar.
Imaginei que este menino viajava
em cima de uma estrela cadente
e, por isso, conhecia tantos sítios
diferentes.
Ele gostava do pôr-do-sol, dos
animais, das plantas e sabia,
exactamente, do que cada um
precisava.
Admirava-se com os adultos. Não
percebia as suas obsessões pelos
números e pelo poder. Achava-os
mesmo estranhos!
No seu pequeno planeta, que ele
cuidava com atenção e carinho,
existia uma flor muito
especial, muito vaidosa,
mas muito bonita! Aos
poucos ele foi
conhecendo essa flor:
os seus espinhos, o seu
medo das correntes de
ar, o seu gosto pelo pôr-do46
Parque Biológico Verão 2002
-sol.
Numa das suas
últimas viagens ficou
muito preocupado por a
deixar sozinha sem os seus
cuidados, mas percebeu que
tinha que inspirar bem fundo a
coragem e seguir o seu
caminho.
Foi então que no planeta terra,
no deserto, conheceu um
homem. Era um homem adulto e
muito preocupado com a avaria
do seu avião.
A certa altura o menino,
preocupado, perguntou-lhe para
que serviam os espinhos das
flores.
O homem, envolvido no arranjo
do seu avião, respondeu-lhe que
os espinhos eram a maldade das
flores.
O menino nem queria acreditar no
que tinha acabado de ouvir. Não
era possível que aquela flor
bonita, cheia de cor, tivesse uma
pontinha de maldade.
Ficou furioso e disse-lhe:
"— E julgas tu, que as flores...
— Não! Não! Não julgo
nada. Respondi à toa. Eu
ocupo-me de coisas
sérias!"
A perplexidade envolveu o nosso
pequeno de olhos de arco-íris. Era
impossível que aquele homem
estivesse a falar a sério!...
Como poderia alguém pensar que
uma flor não é um assunto sério?!
Lembrou-se de um homem de
rosto avermelhado que nunca
tinha cheirado uma flor, nunca
tinha olhado uma estrela, nunca
tinha gostado de ninguém e, de
certeza, nem para si tinha olhado.
Foi então que, cheio de raiva, lhe
disse que desde sempre as flores
tinham espinhos e que, por isso
mesmo, era importante perceber
porque os produziam.
Não seria isso mais importante do
que consertar um avião?
E, continuou o menino:
"— Se alguém ama uma flor de que
apenas existe
um exemplar em
milhões e
milhões de
planetas isso é
o suficiente
para poder
observá-la e
sentir-se feliz
por cuidar
dela. Mas,
se ao
contrário, essa flor é
completamente extinta, isso não
é importante?"
O homem adulto coberto da sua
vergonha não foi capaz de dizer
nada. Aproximou-se dele,
abraçou-o e embalou-o nos seus
braços enquanto ele soluçava
repetidamente.
História inspirada e retirada do livro «O Principezinho» de Antoine de Saint-Exupéry
Com a palavra RESPEITO como base
encontra com a ajuda do texto as palavras
que faltam
1
2
3
4
2
5
6
7
8
R
E
S
P
E
I
T
O
1
Horizontais
1. Quando o céu tem 7 cores
2. O nosso sistema solar tem 9 ...
3. O sol é uma ...
4. O 3.º planeta a contar do sol é a ...
5. Eles podem ser carnívoros, herbívoros, omnívoros,...Podem ter asas, quatro patas, barbatanas...Na terra, na água ou no ar podes encontrá-los. São os ...
6. Um conjunto de árvores como carvalhos,
pinheiros, macieiras, ... formam uma ....
7. Um dos seres mais abundantes na Terra e que
o menino da história não compreendia muito
bem
8. Um dos quatro elementos formado por apenas 2 letras
Verticais
1. Os peixes nadam na...
2. Qual era a grande preocupação do nosso
menino?
Verão 2002 Parque Biológico
47
DA POESIA QUE POSSO
Há uma certa maré nas coisas humanas
Espero pelo verão como por outra vida
no inverno é que o verão existe verdadeiramente
É o dia em que segundo alguns jornais
john hoare e david johnstone iniciam
a travessia do atlântico num barco a remos
É o dia das grandes travessias
o mar a vida isso que importa?
Dios qué bueno es el gozo por aquesta mañana
aqui na orla da praia mudo e contente do mar
Ao chegar aos cinquenta sessenta anos
Quando os fizer talvez pense nisso
e não agora a tanto tempo de distância
Agora sou do cúmulo da tarde
desta tarde no início do outono
ou do início desta tarde de outono
Só depois é que pergunto que fazer de tudo isto
que torna o cid meu contemporâneo
Dios qué bueno es el gozo por aquesta mañana
de um dia em que me achei mais pachorrento
Manhã ou tarde? primavera ou outono?
Não sei pouco me importa
Pouco me importa o quê? Não sei
(o resto vem no pessoa
Pessoa é o poeta vivo que me interessa mais)
Basta a cada dia a sua própria alegria
e é grande a alegria quando iguala o dia
Poema de Ruy Belo, in «Obra Poética», Vol. 1
Poema seleccionado por
Alberto Andrade
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