Êxodo rural. Aqui e agora

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Prática Pedagógica
Êxodo rural. Aqui e agora
Aprenda a unir as vertentes física e humana da Geografia
usando a fuga do campo como eixo temático
Ricardo Prado
Colônia Miranda é um núcleo rural no planalto
gaúcho, próximo à cidade de Coxilha, a 327
quilômetros de Porto Alegre. Em torno da
igreja e do centro comunitário agrupam-se
pequenos produtores de soja. Dali, onde
também está localizada a Escola Municipal de
Ensino Fundamental Colônia Miranda, é
possível avistar grandes silos metálicos que
refletem o Sol e estão cercados por muitos
hectares de plantação. Todos pertencem a um
único proprietário, que vem comprando terras
dos pequenos agricultores. Com capacidade
Semeando curiosidade:
de armazenar a produção por mais tempo, o
estudantes vão conhecer a
soja, que se estabeleceu no
fazendeiro só desova seu estoque no fim do
planalto gaúcho como a
ano, quando o preço do cereal dobra. Os que
cultura dominante voltada à
não têm essa possibilidade são obrigados a
exportação
vender no início da safra, por metade do valor.
Foto: Edson Vara
Por isso, a Colônia Miranda vem minguando.
Em três anos, o número de alunos da escola
caiu de 92 para 45. "Nesse ritmo, corremos o risco de fechar", diz o diretor
André Ghelen, preocupado.
Geografia
Tema: Fluxos migratórios
Objetivo: Entender como a concentração de terras no país provoca êxodo
rural e, em conseqüência, problemas sociais urbanos
Como chegar lá: Crie dois questionários: um para conhecer os custos do
pequeno produtor e outro para avaliar as expectativas da comunidade.
Promova debates e análise de músicas e encomende a confecção de cartazes
e textos avulsos para completar o diagnóstico
Dica: Além dos objetivos de conteúdo (a questão agrária atuando nos fluxos
migratórios), avalie também conteúdos procedimentais (participar de debates
e produzir textos a partir de entrevistas) e atitudinais (interessar-se pela
realidade da comunidade e reconhecer o êxodo rural como um problema
estrutural, eximindo os pais de culpa pela situação)
Concentração de terras
Sandra Mara Barichello, que leciona Geografia, viu naquele êxodo rural uma
oportunidade de ensinar fluxos migratórios, conteúdo da 6ª série. E durante o
trabalho, que você vai conhecer agora, encontrou uma ótima forma de unir
as vertentes física e humana dessa disciplina.
O projeto começou com uma busca do termo "êxodo rural" no dicionário. A
definição fez o aluno Eider Costa lembrar que seus vizinhos tinham acabado
de se mudar para a cidade. Destampou-se a "caixa de Pandora": todos
conheciam alguém que vendera as terras para pagar o financiamento no
banco, tomando depois o rumo de Passo Fundo, a principal cidade da região.
Para embasar a discussão, Sandra mostrou a atual divisão de terras no Brasil:
75% da área plantada pertence a grandes fazendeiros, enquanto mais da
metade dos demais proprietários possui menos de 10 hectares. Esse
problema, somado à falta de recursos para o financiamento dos pequenos
agricultores, foi debatido em classe.
A mecanização das lavouras, que gera desemprego, fica evidente toda vez
que passam diante da escola as imensas colheitadeiras computadorizadas,
com vidro fumê e ar-condicionado, pertencentes às fazendas e operadas,
agora, pelos próprios donos. Foram debatidas, também, as conseqüências da
migração em Passo Fundo como o aumento da violência e do desemprego e a
formação de favelas.
Prejuízo na colheita
Restava entender o problema econômico vivido pelos pais para, no mínimo,
perceber que eles não são culpados pela difícil situação. Para isso, foram
elaborados dois questionários. No primeiro, a turma levantou quanto custa
plantar um hectare, incluindo defensivos agrícolas, aluguel de tratores,
sementes e transporte dos grãos após a colheita. O segundo, aplicado a
vizinhos ou parentes, perguntava sobre as condições de vida no campo e na
cidade, os problemas e as expectativas dos entrevistados. O cruzamento das
respostas comprovou a migração todos conheceram famílias inteiras que
haviam ido para as cidades e explicou a razão para isso: o ganho com a roça,
quando há, é mínimo.
O pai da aluna Rosiana Fogolari Vieira, por exemplo, contou que decidiu
investir no gado leiteiro como forma de escapar da crueldade dos números.
Confira a conclusão do pai no texto da filha: "O plantio da soja é caro, às
vezes dá temporal, estiagem e perde-se quase tudo. Sem ajuda do governo o
pequeno agricultor não consegue pagar as contas e, com a influência das
propagandas de TV e rádio, acha que é melhor viver na cidade."
Cartazes sobre as áreas rural e urbana, debates sobre a reforma agrária e a
análise da música Herdeiros da Pampa Pobre, composta por um autor local,
completaram o trabalho. Todos compreenderam o que era êxodo rural e
perceberam que tem muito a ver com eles. "Partir de um tema gerador
próximo aos alunos é a melhor forma de ensinar Geografia", referenda Sueli
Ângelo Furlan, autora dos Parâmetros Curriculares Nacionais e professora da
Universidade de São Paulo. "Ao pegar um eixo temático como este, que alia
migração e produção agrícola, e transformá-lo num projeto didático,
qualquer professor consegue trabalhar as vertentes física e humana da
Geografia de maneira interligada."
Quer saber mais?
Escola Municipal de Ensino Fundamental Colônia Miranda, Colônia Miranda, CEP 99500-000, Coxilha, RS, tel.
(54) 504-3767
BIBLIOGRAFIA
Êxodo Rural e Urbanização, Fernando Portela e José Vesentini, 48 págs., Ed. Ática, tel. (11) 3346-3346, 13,90 reais
Endereço da página:
https://novaescola.org.br/conteudo/2319/exodo-rural-aqui-e-agora
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Publicado em NOVA ESCOLA Edição 153, 01 de Junho de 2002
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