FENOMENOLOGIA QUEER: Sexo, gênero e sexualidade nas visualidades de Matthew Barney Programa De Pós-Graduação Em Arte Universidade de Brasília - UnB Carla Conceição Barreto Orientador: Professor Dr. Belidson Dias Minha pesquisa apresenta estudos sobre representações de sexo, gênero e sexualidades contemporâneas na cultura visual ao analisar a obra cinematográfica Ciclo Cremaster de Matthew Barney (1994-2002) . Discuto o problema da representação que se refere ao corpo associado ao sexo, por meio da representação visual de sexualidade e gênero tendo como principal refeSEMINÁRIO INTERNACIONAL A PERSPECTIVA CONSTRUCIONISTA NA INVESTIGAÇÃO EM ARTE E EDUCAÇÃO 25 A 27 DE ABRIL DE 2011 | PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTE E CULTURA VISUAL | FACULDADE DE ARTES VISUAIS / UFG rencial teórico a teoria queer1 e os estudos críticos da sexualidade para analisar a cultura visual. Após a análise de seus filmes, aponto que o trabalho de Matthew Barney desafia premissas dicotômicas ao representar seres humanos com características híbridas de sexo e gênero e evidencia relações sociais de corpos e relações sexuais entre sujeitos por meio de representações não-heteronormativas2, por meio de uma configuração do corpo, que inaugura uma nova onda de manifestações artísticas. Dentro de uma perspectiva crítica da teoria queer e os estudos críticos da sexualidade apresento uma discussão para analisar a cultura visual em relação aos padrões de representação de gênero e sexualidade. Barney traz para a ação cinematográfica suas narrativas pessoais e questões acerca dos papeis sociais dos sujeitos, que caracteriza uma produção que desenvolve debates sobre os conflitos relacionados com as expressões sexuais humanas, E isso me levou a eleger este problema de estudo. A escolha do Ciclo Cremaster se deu por se tratar de filmes que apresentam características recorrentes sobre as representações dos sexos, gêneros e sexualidades em suas narrativas e em seus personagens e que me fez percorrer as seguintes questões: • Como as representações de Matthew Barney suscita outras formas de representação visual? A teoria queer surgiu nos EUA e Inglaterra, como um discurso acadêmico, ao final dos anos 1980. Em princípio, se constituiu como uma dissidência da teoria feminista e influenciada pelo pensamento pós-estruturalista, pósmoderno e pós-feminista. O pós-feminismo, aonde podemos localizar a teoria queer, encontra-se próximo do discurso do pós-modernismo, na medida em que ambos tem por objetivo desconstruir/desestabilizar o indivíduo como categoria fixa. 1 A heteronormatividade aqui é entendida como uma construção discursiva com viés político que gera a normatização da heterossexualidade como modo “correto” de estruturar os desejos; e, ao fazê-lo, marginaliza todas as outras formas de desejo. 2 Fenomenologia queer | 2 • Como sua obra transvia o caminho percorrido pelas artes visuais? • De que modo o autor cria para seu trabalho uma fenomenologia queer para criar seus personagens e suas relações com o corpo? A pesquisa está delimitada a três eixos de reflexões na temática dos gêneros e sexualidade em cultura visual. O primeiro eixo coloca em perspectiva os estudos da teoria queer e os atuais debates no campo acadêmico dos estudos de gênero e sexualidade no âmbito da cultura visual e das teorias feministas. O segundo eixo explana e relaciona questões teórico-conceituais dos trabalhos cinematográficos de Barney que envolve as questões das identidades múltiplas, representação do corpo, gêneros e sexualidades e abjeção. O terceiro eixo explora as implicações destas questões na fenomenologia queer e cultura visual, de modo a repercutir nos estudos das visualidades com caráter direcionado para o multiculturalismo e os estudos epistemológicos em SEMINÁRIO INTERNACIONAL A PERSPECTIVA CONSTRUCIONISTA NA INVESTIGAÇÃO EM ARTE E EDUCAÇÃO 25 A 27 DE ABRIL DE 2011 | PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTE E CULTURA VISUAL | FACULDADE DE ARTES VISUAIS / UFG arte visuais. A partir desses três eixos de reflexões pretende-se demonstrar as problemáticas existentes no discurso sobre os gêneros e sexualidades heterocentrados das artes visuais em relação as representações de gênero e sexualidade e ainda evidenciar uma linha de pesquisa existente no campo acadêmico e sua aparição neste campo de conhecimento da cultura visual. Portanto, apresento discussões sobre a obra de Barney e os direcionamentos de uma fenomenologia queer nas artes visuais que se utilizam de novas linguagens artísticas e tecnológicas para desnormatizar as representações de gênero e sexualidade. A fenomenologia queer discutida aqui se refere, a um meio de construir narrativas que não respondem aos modelos de representações dominantes e normativos que hoje temos no campo das artes visuais imutáveis e normativos em relação as questões de gênero, sexo e sexualidade, reflexo de uma homogeneização cultural e social. A fenomenologia queer implica numa orientação para o estranho, esquisito e abjeto, numa maneira de habitar e viver o mundo direcionado para os desvios e com isso, pode proporcionar fronteiras mais maleáveis e com mais possibilidades de atravessá-las ou simplesmente de manter-se nelas. Mas não apenas isso. A fenomenologia queer pode ser um movimento com direção para interpelações do estado de conforto para propor novas sensações e percepções sobre o corpo, como os ciborgues que exploram um caráter de fronteira numa construção híbrida entre ser-humano e animais, ou ser-humano e máquina, em realidades sociais e de ficção. A investigação encontra-se no processo de análise de dados e conclusão do conceito aplicado de fenomenologia queer. Nesse ponto as dificuldades enfrentadas são de colocar no centro do debate as práticas da teoria queer e da cultura visual, para que, o trabalho de Barney demonstre os problemas apontados por determinadas construções sociais e do reconhecimento do caráter Fenomenologia queer | 3 transitório dos conceitos relacionados à figura humana em seu contexto social. E ainda partir de conceitos relacionados ao corpo, sexo, gênero e sexualidade, que permanecem negligenciados nos estudos das visualidades. A pretensão de contribuir com os estudos da teoria queer e cultura visual, para assim ampliar os conceitos relacionados as questões sexo, gênero e sexualidade visa expandir para a cena da educação em cultura visual e estudos das visualidades conceitos ainda velados na universidade. Pois é possível identificar que o campo de pesquisa em artes visuais, mesmo tendo como centro de seus debates a construção de imagens, ainda assim, não percebe plenamente as práticas do visual ligadas as realidades sociais. Ao considerar que as imagens estão arraigadas de discursos e construções da própria visualidade, discutir no âmbito da cultura visual é compreender que a produção em artes visuais é plural, contraditória, instável, simbólica e requer deslocamentos SEMINÁRIO INTERNACIONAL A PERSPECTIVA CONSTRUCIONISTA NA INVESTIGAÇÃO EM ARTE E EDUCAÇÃO 25 A 27 DE ABRIL DE 2011 | PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTE E CULTURA VISUAL | FACULDADE DE ARTES VISUAIS / UFG perceptivos, conceituais e questionamento de espaço nos discursos hegemônicos.