FENOMENOLOGIA QUEER: Sexo, gênero e sexualidade nas

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FENOMENOLOGIA QUEER:
Sexo, gênero e sexualidade nas visualidades de Matthew Barney
Programa De Pós-Graduação Em Arte
Universidade de Brasília - UnB
Carla Conceição Barreto
Orientador: Professor Dr. Belidson Dias
Minha pesquisa apresenta estudos sobre representações de sexo,
gênero e sexualidades contemporâneas na cultura visual ao analisar a obra
cinematográfica Ciclo Cremaster de Matthew Barney (1994-2002) . Discuto o
problema da representação que se refere ao corpo associado ao sexo, por
meio da representação visual de sexualidade e gênero tendo como principal
referencial teórico a teoria queer1 e os estudos críticos da sexualidade para
analisar a cultura visual. Após a análise de seus filmes, aponto que o trabalho
de Matthew Barney desafia premissas dicotômicas ao representar seres
humanos com características híbridas de sexo e gênero e evidencia relações
sociais de corpos e relações sexuais entre sujeitos por meio de
representações não-heteronormativas2, por meio de uma configuração do
corpo, que inaugura uma nova onda de manifestações artísticas.
Dentro de uma perspectiva crítica da teoria queer e os estudos críticos
da sexualidade apresento uma discussão para analisar a cultura visual em
relação aos padrões de representação de gênero e sexualidade. Barney traz
para a ação cinematográfica suas narrativas pessoais e questões acerca dos
papeis sociais dos sujeitos, que caracteriza uma produção que desenvolve
debates sobre os conflitos relacionados com as expressões sexuais
humanas, E isso me levou a eleger este problema de estudo. A escolha do
Ciclo Cremaster se deu por se tratar de filmes que apresentam
características recorrentes sobre as representações dos sexos, gêneros e
sexualidades em suas narrativas e em seus personagens e que me fez
percorrer as seguintes questões:
1
A teoria queer surgiu nos EUA e Inglaterra, como um discurso acadêmico, ao final dos anos 1980. Em
princípio, se constituiu como uma dissidência da teoria feminista e influenciada pelo pensamento pósestruturalista, pós-moderno e pós-feminista. O pós-feminismo, aonde podemos localizar a teoria queer,
encontra-se próximo do discurso do pós-modernismo, na medida em que ambos tem por objetivo
desconstruir/desestabilizar o indivíduo como categoria fixa.
2 A heteronormatividade aqui é entendida como uma construção discursiva com viés político que gera a
normatização da heterossexualidade como modo “correto” de estruturar os desejos; e, ao fazê-lo,
marginaliza todas as outras formas de desejo.

Como as representações de Matthew Barney suscita outras
formas de representação visual?

Como sua obra transvia o caminho percorrido pelas artes
visuais?

De que modo o autor cria para seu trabalho uma fenomenologia
queer para criar seus personagens e suas relações com o
corpo?
A pesquisa está delimitada a três eixos de reflexões na temática dos
gêneros e sexualidade em cultura visual. O primeiro eixo coloca em
perspectiva os estudos da teoria queer e os atuais debates no campo
acadêmico dos estudos de gênero e sexualidade no âmbito da cultura visual
e das teorias feministas. O segundo eixo explana e relaciona questões
teórico-conceituais dos trabalhos cinematográficos de Barney que envolve as
questões das identidades múltiplas, representação do corpo, gêneros e
sexualidades e abjeção. O terceiro eixo explora as implicações destas
questões na fenomenologia queer e cultura visual, de modo a repercutir nos
estudos das visualidades com caráter direcionado para o multiculturalismo e
os estudos epistemológicos em arte visuais. A partir desses três eixos de
reflexões pretende-se demonstrar as problemáticas existentes no discurso
sobre os gêneros e sexualidades heterocentrados das artes visuais em
relação as representações de gênero e sexualidade e ainda evidenciar uma
linha de pesquisa existente no campo acadêmico e sua aparição neste
campo de conhecimento da cultura visual.
Portanto, apresento discussões sobre a obra de Barney e os
direcionamentos de uma fenomenologia queer nas artes visuais que se
utilizam de novas linguagens artísticas e tecnológicas para desnormatizar as
representações de gênero e sexualidade. A fenomenologia queer discutida
aqui se refere, a um meio de construir narrativas que não respondem aos
modelos de representações dominantes e normativos que hoje temos no
campo das artes visuais imutáveis e normativos em relação as questões de
gênero, sexo e sexualidade, reflexo de uma homogeneização cultural e
social. A fenomenologia queer implica numa orientação para o estranho,
esquisito e abjeto, numa maneira de habitar e viver o mundo direcionado para
os desvios e com isso, pode proporcionar fronteiras mais maleáveis e com
mais possibilidades de atravessá-las ou simplesmente de manter-se nelas.
Mas não apenas isso. A fenomenologia queer pode ser um movimento com
direção para interpelações do estado de conforto para propor novas
sensações e percepções sobre o corpo, como os ciborgues que exploram um
caráter de fronteira numa construção híbrida entre ser-humano e animais, ou
ser-humano e máquina, em realidades sociais e de ficção.
A investigação encontra-se no processo de análise de dados e
conclusão do conceito aplicado de fenomenologia queer. Nesse ponto as
dificuldades enfrentadas são de colocar no centro do debate as práticas da
teoria queer e da cultura visual, para que, o trabalho de Barney demonstre os
problemas
apontados
por
determinadas
construções
sociais
e
do
reconhecimento do caráter transitório dos conceitos relacionados à figura
humana em seu contexto social. E ainda partir de conceitos relacionados ao
corpo, sexo, gênero e sexualidade, que permanecem negligenciados nos
estudos das visualidades.
A pretensão de contribuir com os estudos da teoria queer e cultura
visual, para assim ampliar os conceitos relacionados as questões sexo,
gênero e sexualidade visa expandir para a cena da educação em cultura
visual e estudos das visualidades conceitos ainda velados na universidade.
Pois é possível identificar que o campo de pesquisa em artes visuais, mesmo
tendo como centro de seus debates a construção de imagens, ainda assim,
não percebe plenamente as práticas do visual ligadas as realidades sociais.
Ao considerar que as imagens estão arraigadas de discursos e construções
da própria visualidade, discutir no âmbito da cultura visual é compreender
que a produção em artes visuais é plural, contraditória, instável, simbólica e
requer deslocamentos perceptivos, conceituais e questionamento de espaço
nos discursos hegemônicos.
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