MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM FRANCISCA CORTEZ PRADO BRITO REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA BIOSSEGURANÇA NA HEMODIÁLISE ELABORADAS POR PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM TERESINA (PI) 2009 FRANCISCA CORTEZ PRADO BRITO REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA BIOSSEGURANÇA NA HEMODIÁLISE ELABORADAS POR PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Enfermagem. Orientadora: Profª. Drª. Maria Eliéte Batista Moura Área de Concentração: Enfermagem no Contexto Social Brasileiro Linha de Pesquisa: Processo de Cuidar em Saúde e Enfermagem TERESINA (PI) 2009 FRANCISCA CORTEZ PRADO BRITO REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA BIOSSEGURANÇA NA HEMODIÁLISE ELABORADAS POR PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Enfermagem. Aprovada em 15 / 07 / 2009 Profª. Drª. Maria Eliéte Batista Moura - Presidente Universidade Federal do Piauí-UFPI Prof ª. Drª. Antônia Oliveira Silva – 1ª Examinadora Universidade Federal da Paraíba – UFPB Profª. Drª. Maria do Livramento Fortes Figueiredo – 2ª Examinadora Universidade Federal do Piauí - UFPI Suplente: _________________________________ Profª. Drª. Inez Sampaio Nery Universidade Federal do Piauí – UFPI A Deus, por tudo. Em especial aos sujeitos deste estudo que permitiram a sua realização. AGRADECIMENTOS Seria impossível não externar meus agradecimentos a todos que, de alguma forma, contribuíram para esse momento de grande satisfação. Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, por manter viva a fé, o equilíbrio, a emoção e sabedoria para conservar firme o propósito e sustentar a caminhada. À Universidade Federal do Piauí, pela oportunidade ímpar na oferta do programa de mestrado, estimulando o crescimento científico. Ao Magnífico reitor Profº Dr. Luis Santos Junior, pela dedicação e entusiasmo em favor do desenvolvimento da Universidade Federal do Piauí. Em especial, à Profª. Drª. Maria Eliéte Batista Moura, minha orientadora, pela sabedoria em conduzir, motivar e incentivar, com seu poder de percepção e maneira de agir com muita seriedade, mantendo um clima de tranquilidade e naturalidade. À Profª. Drª. Antonia Oliveira Silva, pela aceitação e colaboração de grande valor, na condição de primeira examinadora da banca de defesa desse estudo. À Profª. Drª. Maria do Livramento Figueiredo, segunda examinadora, pela disponibilidade e cooperação de grande importância nesse momento. À Profª. Drª. Inez Sampaio Nery, suplente, pela energia positiva e satisfação em colaborar para o desenvolvimento científico. À primeira coordenadora do Programa Mestrado em Enfermagem da UFPI, Profª. Drª. Claudete Monteiro de Sousa, pela grande pessoa que conduziu tão bem o programa na sua gestão. À coordenadora atual do Programa Mestrado em Enfermagem da UFPI, Profª. Drª. Telma Maria Evangelista de Araújo, pela determinação, organização e firmeza com que conduz o Programa de Mestrado em Enfermagem desta Universidade. A todos os docentes do Mestrado, pelo esmero, força, contribuição, críticas, sugestões e pelo incentivo à pesquisa e busca do crescimento profissional. Às colegas do Mestrado, pelas mãos amigas e consolo durante os momentos mais difíceis e pelos momentos de felicidades que tivemos durante esta caminhada. Em especial, às colegas que estiveram mais próximas por conveniências relativas ao estudo das Representações Sociais, Sônia Maria de Araújo Campêlo, Olivia Dias de Araújo e Odinéa Amorim Batista. Um agradecimento muito especial, ao Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Piauí (UFPI), em nome da Profª. Drª. Inez Sampaio Nery quero agradecer a todas as professoras aposentadas e não aposentadas deste Departamento, pelo acolhimento e estima que tenho recebido desde que cheguei aqui na cidade de Teresina (PI), há exatos trinta e dois anos. Minha trajetória de vida tem a marca dessa relação com a enfermagem da UFPI. Muito obrigada. Ao Hospital Getúlio Vargas (HGV), pela possibilidade de crescimento profissional e por permitir o desenvolvimento deste estudo. Em especial, à supervisora de enfermagem da Clinica de Hemodiálise, enfermeira Sandra Maria Santiago Santos e à coordenadora da clínica de hemodiálise, médica Celina Teresa Castelo Branco Sousa. Aos sujeitos do estudo, pela importante contribuição e satisfação com que todos participaram da pesquisa; sem os mesmos, não seria possível o prosseguimento e a concretização de um sonho. Muito obrigada. À colega MS. Maria Enoia Dantas da Costa e Silva, pela pessoa amiga, colaboradora especial na construção desse estudo, pelo seu jeito de compreender o processo de trabalho com a Teoria das Representações Sociais. Aos meus familiares, em especial, meus pais, Edson de Araujo Prado e Rosa Cortez Prado (in memorian), energia positiva; ao esposo Raimundo Alves de Brito e filhos Alexandre Cortez Prado, Nádia Cortez Brito, Krisalvi Escórcio de Brito Frazão, Christianno Escórcio de Brito, João Francisco de Brito Neto, sobrinha Rita de Kássia, pela colaboração e pela resignação às ausências, que jamais serão compensadas. À enfermeira Maria de Jesus Mousinho, Diretora de Enfermagem do Hospital de Urgência de Teresina, pela compreensão e colaboração. Aos colegas de trabalho, pela preocupação e torcida em prol do êxito final. Às colegas enfermeiras Profª. MS. Ana Maria Ribeiro dos Santos, Maria do Socorro Oliveira Guimarães e Maria Oneide Holanda Luz, que foram fundamentais no incentivo nessa caminhada. Ao Fernando Guedes, pela valiosa colaboração nos aspectos metodológicos e de formatação. A todos os amigos e amigas que de alguma forma, contribuíram para o êxito final. Tudo que existe e vive precisa ser cuidado para continuar a existir e a viver: Uma planta, um animal, uma criança, um idoso, o planeta Terra. (BOFF, 2001, p. 12) BRITO, Francisca Cortez Prado. Representações Sociais da Biossegurança na Hemodiálise Elaboradas por Profissionais de Enfermagem. Teresina. 2009. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade Federal do Piauí – UFPI, 2009. RESUMO A biossegurança compreende uma área de conhecimento nova e um conjunto de ações técnicas no âmbito social e ambiental, destinados a controlar os riscos que o trabalho oferece ao ambiente e à vida. A preocupação com a biossegurança cresceu nas últimas décadas do século passado, envolvendo biossegurança de alta tecnologia dos organismos geneticamente modificados e biossegurança laboratorial e hospitalar. É um tema de grande relevância e interesse nacional e internacional. O estudo aborda representações sociais da biossegurança na hemodiálise elaboradas por profissionais de enfermagem. Teve como objetivos, apreender as representações sociais da biossegurança na hemodiálise elaboradas pelos profissionais de enfermagem e explorar as Representações Sociais salientando aspectos associados à adoção das medidas de biossegurança pelos profissionais de Enfermagem de um serviço de hemodiálise. Trata-se de um estudo exploratório, fundamentado na Teoria das Representações Sociais, desenvolvido com doze sujeitos, auxiliares/técnicos de enfermagem e enfermeiros de uma clinica de hemodiálise de um hospital público da rede estadual do Sistema Único de Saúde. Os dados foram produzidos através de entrevista semi-estruturada e processados pelo software ALCESTE versão 4.8. O programa produziu um corpus que resultou em quatro classes: Classe I - Estratégias para uso da biossegurança na hemodiálise; Classe II - Contexto para o uso da biossegurança na hemodiálise; Classe III - Riscos ergonômicos na hemodiálise; Classe IV – EPI’s utilizados nos procedimentos de hemodiálise. Essas classes revelaram o conhecimento, comportamento e atitudes dos profissionais de enfermagem sobre a biossegurança em que destacam os riscos biológico, químico e os efeitos dos riscos ergonômicos sobre sua prática profissional. Sobre os riscos ergonômicos exibem as relações estabelecidas entre os seus efeitos negativos e suas manifestações expressas pelo sintoma de dor na coluna vertebral, sendo os mais valorizados. Tais representações sociais encontram-se permeadas de crenças que orientam as práticas de cuidados desse grupo com sua saúde. O enfoque da Teoria das Representações Sociais possibilitou a apreensão e exploração dos conteúdos simbólicos capazes de orientar os profissionais de enfermagem sobre as medidas de biossegurança na hemodiálise, ao tempo que traz importantes contribuições para a compreensão dos aspectos subjetivos que permeiam a prática desses profissionais. Palavras-chave: Biossegurança. Hemodiálise. Enfermagem. BRITO, Francisca Cortez Prado. Social Representations of Biosecurity in Hemodialysis Developed by Nursing Professionals. Teresina. 2009. Master Dissertation Departamento de Enfermagem. Federal University of Piauí – UFPI, 2009. ABSTRACT Biosecurity comprehends a new field of knowledge and a set of technical actions in social and environmental ranges, in order to control the risks that the work offers to life and environment. The concern with biosecurity has increased over the last decades of the last century, involving high tech biosecurity of organisms genetically modified and laboratorial and hospital biosecurity. It is a theme of great relevance and national and international interest. The study approaches social representations of biosecurity in hemodialysis made by professionals of nursing. The objectives were to apprehend the social representations of biosecurity in hemodialysis made by professionals of nursing and explore the social representations highlighting aspects related to the adoption of biosecurity measures by nursing professionals in a hemodialysis service. It is an exploratory study, based on the Theory of Social Representations, developed with twelve subjects, nursing technicians and nurses from a clinic of hemodialysis of a public hospital from the state system of Sistema Único de Saúde (Unique System of Health). Data were produced through semistructured interview and processed by software ALCESTE 4.8 version. The program produced a corpus that showed four classes: Class I – Strategies for the use of biosecurity in hemodialysis; Class II – Context for the use of biosecurity in hemodialysis; Class III – Ergonomic risks in hemodialysis; Class IV – PPE used in the procedures of hemodialysis. These classes revealed the knowledge, behavior and attitudes of nursing professionals about biosecurity, in which the biological chemical risks and the ergonomic risks effects stand out over their profession. The relations established between the ergonomic risks’ negative effects and their manifestations expressed through pain in the spine are the most valued ones. Such social representations are permeated by beliefs that guide the practices of care of this group with their health. The focus of the Theory of Social Representations allowed the apprehension and exploration of the symbolic contents capable of orientating the nursing professionals about the biosecurity measures in hemodialysis, as well as bringing important contributions for the understanding of the subjective aspects that permeate the practice of such professionals. Keywords: Biosecurity. Hemodialysis. Nursing. BRITO, Francisca Cortez Prado. Representaciones Sociales de Bioseguridad en Hemodiálisis Elaboradas por Profesionales de Enfermería. Teresina. 2009. Disertación del Mestrado Departamento de Enfermagem. Universidad Federal de Piauí – UFPI, 2009. RESUMÉN La bioseguridad comprende un área de conocimiento nuevo y un grupo de acciones técnicas en el ámbito social y ambiental, destinados a controlar los riscos que el trabajo ofrece al ambiente y a la vida. La preocupación con la bioseguridad ha crecido en las últimas décadas del siglo pasado, envolviendo bioseguridad de alta tecnología de los organismos genéticamente modificados y bioseguridad del laboratorio y hospital. Es un tema de gran relevancia e interés nacional e internacional. El estudio aborda representaciones sociales de la bioseguridad en hemodiálisis elaboradas por profesionales de enfermería. Tuvo como objetivos captar las representaciones sociales de la bioseguridad en hemodiálisis elaboradas por profesionales de enfermería y explorar las representaciones sociales estresando aspectos relacionados a la adopción de medidas de bioseguridad por los profesionales de enfermería de un servicio de hemodiálisis. Es un estudio exploratorio, fundamentado en la Teoría de las Representaciones Sociales, desarrollado con doce sujetos, técnicos de enfermería y enfermeros de una clínica de hemodiálisis de un hospital público del sistema estatal del Sistema único de Salud. Los datos fueron producidos a través de entrevista semi-estructurada y procesados por el software ALCESTE versión 4.8. El programa produjo un corpus que reveló cuatro clases: Clase I – Estrategias para el uso de bioseguridad en hemodiálisis; Clase II – Contexto para el uso de bioseguridad en hemodiálisis; Clase III – Riscos ergonómicos en hemodiálisis; Clase IV – EPI utilizados en el procedimientos de hemodiálisis. Esas clases revelaron el conocimiento, comportamiento y actitudes de los profesionales de enfermería sobre la bioseguridad donde podemos destacar los riscos biológicos y químicos y los efectos de los riscos ergonómicos sobre su práctica profesional. Sobre los riscos ergonómicos exhiben las relaciones establecidas entre sus efectos negativos y sus manifestaciones expresas por el dolor en la columna, siendo los más valorizados. Tales representaciones sociales están permeadas de creencias que orientan las prácticas de cuidado de ese grupo con su salud. El enfoque de la Teoría de las Representaciones Sociales posibilitó la captación y exploración de los contenidos simbólicos capaces de orientar los profesionales de enfermería sobre las medidas de bioseguridad en hemodiálisis, al tiempo que tras importantes contribuciones para la comprensión de los aspectos subjetivos que permean la práctica de eses profesionales. Palabras clave: Bioseguridad. Hemodiálisis. Enfermería. LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ALCESTE ANVISA CCIH CECIH CEP CHA CHD CNS IH MS OMS OPA PCIH RS TRS UCI UCE Analyse Lexicale par Context dun Ensemble de Segments de Texte Agência Nacional de Vigilância Sanitária Comissão de Controle de Infecção Hospitalar Comissão Estadual de Controle de Infecção Hospitalar Comitê de Ética em Pesquisa Classificação Hierárquica Ascendente Classificação Hierárquica Descendente Conselho Nacional de Saúde Infecção Hospitalar Ministério da Saúde Organização Mundial de Saúde Organização Panamericana de Saúde Programa de Controle de Infecção Hospitalar Representações Sociais Teoria das Representações Sociais Unidades de Contexto Iniciais Unidade de Contexto Elementar SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 12 1 1.1 1.2 1.3 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Contextualização do problema e construção do objeto de estudo Questões norteadoras e objetivos Aspectos sócio-históricos e políticas da biossegurança 13 13 21 22 2 2.1 2.2 2.3 2.3.1 2.4 2.5 METODOLOGIA Tipo de estudo Cenário do estudo Sujeitos do estudo e critérios de inclusão Procedimentos Técnicos da Equipe de Enfermagem na Hemodiálise Os instrumentos e Produção de dados Tratamento e análise dos dados 27 27 27 29 29 30 31 3 BIOSSEGURANÇA NA HEMODIÁLISE E AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM 35 CONSIDERAÇÕES FINAIS 53 REFERÊNCIAS APÊNDICES 55 60 ANEXOS 62 FICHA CATALOGRÁFICA Serviço de Processamento Técnico da Universidade Federal do Piauí Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco B862r Brito, Francisca Cortez Prado. Representações sociais da biossegurança na hemodiálise elaboradas por profissionais de enfermagem [manuscrito] / Francisca Cortez Prado Brito. – 2009. 70 f. Cópia de computador (printout). Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, 2009. “Orientadora: Profª. Drª. Maria Eliéte Batista Moura. 1. Biossegurança. 2. Hemodiálise. 3.Enfermagem. I. Título. CDD: 301.1 12 APRESENTAÇÃO O estudo na área da saúde com enfoque hospitalar e sustentação na Teoria das Representações Sociais (TRS) de Moscovici, tem como objeto representações sociais da biossegurança na hemodiálise elaboradas por profissionais de enfermagem. Realizado em uma clínica de hemodiálise de um hospital público de grande porte, constitui-se de quatro partes. Na primeira parte estão as considerações iniciais que contextualizam o problema evoluindo com a construção do objeto do estudo, questões norteadoras e faz menção aos objetivos a serem alcançados. Estão incluídos também os aspectos sócio-históricos da biossegurança e políticas de biossegurança no Brasil. A segunda parte aborda a metodologia, onde estão caracterizados tipo de estudo, cenário, sujeitos do estudo, critérios de inclusão e instrumento de produção dos dados. Esse item faz referência ao programa que deu suporte para processamento dos dados, software ALCESTE 4.8 e inclui um plano de análise e tratamento dos dados, que após acionado produziu quatro classes. A partir do produto oriundo do processamento dos dados a terceira parte do estudo compreende a descrição, interpretação e discussão das classes originárias das representações sociais elaboradas pelos sujeitos do estudo: Classe I Estratégias para uso da biossegurança na hemodiálise; Classe II - Contexto para o uso da biossegurança na hemodiálise; Classe III - Riscos ergonômicos na hemodiálise; Classe IV – EPI’s utilizados nos procedimentos de hemodiálise. Por fim, a quarta parte desse estudo constitui as considerações finais, estão focalizadas ponderações a respeito da interpretação dos conteúdos analisados e reposta aos objetivos propostos. O presente trabalho, ao mesmo tempo em que revela os pressupostos construídos, contextualiza a temática biossegurança no ambiente hospitalar, orientará implementação de melhorias no cotidiano de trabalho e, certamente, terá espaço no acervo de referencial nesta temática. 13 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1.1 Contextualização do problema e construção do objeto de estudo A biossegurança compreende uma área nova do conhecimento que envolve o conjunto de ações desenvolvidas no âmbito social e ambiental destinado a controlar riscos aos seres vivos e ao ambiente. Para Sousa et al. (2008) é um tema que teve grande evidência nas últimas décadas, com ênfase nas áreas de atuação dos profissionais da saúde. Tornou-se de domínio público, pois envolve problemas da prática e da ética profissional que devem ser cuidadosamente revisados, debatidos e aprimorados com a finalidade de zelar por benefícios sociais ou de cunho político social. Para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a temática biossegurança é uma preocupação mundial que envolve desde sérias ameaças ao homem e meio ambiente até o simples hábito de lavar as mãos, pois em se tratando de biossegurança, o foco principal é o risco a que está sujeita a vida (ANVISA, 2005). O presente trabalho aborda o tema biossegurança na estrutura hospitalar. Segundo Londono et al. (2003), trabalhadores de instituição hospitalar frequentemente entram na rotina de tal maneira que estabelecem sua autoconfiança e facilmente deixam de realizar procedimentos simples como usar luvas e lavar as mãos; ainda sob desculpa de sua própria atividade, adentram setores de risco, onde existem soluções tóxicas e radiações, sem o devido uso de equipamento de proteção individual. No ambiente hospitalar, o risco que mais repercute é o risco biológico, não por ser mais importante do que as demais situações de perigo, mas por estar diretamente relacionado ao cruzamento de infecção entre pessoas e índice de infecção hospitalar e, geralmente, por ter efeito instantâneo. O risco biológico constitui-se de bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, que podem estar contidos em aerossóis, secreções de tubos oro-traqueais, secreções de feridas, fluidos, procedentes de usuários internados, materiais perfurocortantes, 14 entre outros. O enfrentamento dessas situações de risco requer adequação do ambiente de trabalho e capacitação técnica dos profissionais (BRASIL, 2008). Caracterizado como risco biológico no ambiente hospitalar, a transmissão de agentes infectantes pode ocorrer entre pacientes colonizados ou infectados, pacientes suscetíveis e profissionais de saúde e contribui para o aumento da taxa de infecção hospitalar. Este risco diminui, consideravelmente, quando são corretamente aplicadas algumas condutas práticas de biossegurança como lavagem das mãos, medidas de precauções padrão, higiene e limpeza (COUTO; PEDROSA; NOGUEIRA, 2003). Para Andrade (2007), o advento da AIDS, em 1981, e registro de contágio acidental em profissional de saúde, três anos após, em 1984, aumentou a preocupação e a insegurança, principalmente no meio hospitalar, em relação ao risco de contaminação pelo vírus HIV, o que ocasionou a instauração das precauções universais recomendadas pela Centers for Disease Control end Prevention (CDC). Estas precauções universais, mais tarde denominadas precauções padrão, foram medidas gerais implementadas principalmente em relação à proteção contra o vírus HIV e hepatite B, no ambiente hospitalar, como instrumento no controle da infecção hospitalar. A infecção hospitalar é uma problemática que atualmente vem sendo discutida em vários países e o enfoque de maior preocupação está nos serviços de urgência e emergência onde observam-se muitos fatores de contaminação, principalmente ligados à precariedade nas condições de atendimento. Há presteza no atendimento à causa da emergência em detrimento dos cuidados com medidas de biosseguança, os pacientes são colocados em macas sujas de secreção incluindo sangue. Torna-se importante estudar o aspecto subjetivo que serve de substrato para os comportamentos e atitudes em relação aos procedimentos realizados em serviços de urgência e emergência (MOURA et al., 2008). Segundo Fernandes (2000), a Infecção Hospitalar (IH) é toda infecção adquirida durante a internação hospitalar, geralmente, provocada pela própria flora bacteriana do paciente que se desequilibra com os mecanismos de defesa antiinfecciosa em decorrência da doença, dos procedimentos invasivos (soros, cateteres 15 e cirurgias) e do contato com a flora hospitalar, sendo considerado um dos grandes problemas enfrentados pelas instituições hospitalares. Para Moura e Tyrrel (2001), a infecção hospitalar (IR) é um importante problema de saúde pública no Brasil e no mundo. A autora pôde constatar a problemática quando apresentou dados de pesquisa com índice de infecção hospitalar nos cinco maiores hospitais da capital piauiense, com altos índices de infecção, variando de 11,3% na Maternidade Dona Evangelina Rosa, a 37,7% no Hospital Areolino de Abreu (psiquiátrico), portanto, bem acima dos padrões aceitáveis pelo Ministério da Saúde. As medidas de biossegurança constituem um suporte valioso para o alcance da redução e controle dos índices de infecção hospitalar. Segundo Lima et al. (2006), estima-se que o risco de contaminação pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) é de 0,3% em acidentes percutâneos, enquanto que o risco de contaminação pelo vírus da hepatite B, após exposição desta natureza, varia entre 37 e 62% quando o paciente-fonte apresenta o antígeno HB e Ag, e entre 23 e 37%, na ausência do antígeno citado. Já o risco de infecção pelo vírus da hepatite C varia entre 0 e 7% após acidentes com materiais perfurocortantes. As situações mostram a exposição ao risco inerente ao tipo de trabalho do profissional de saúde e importância da aplicação das medidas de biossegurança. Segundo Correa e Donato (2007), a questão dos problemas de saúde que afetam os profissionais de enfermagem no ambiente hospitalar está diretamente relacionada aos riscos ocupacionais aos quais estão submetidos cotidianamente, incorrendo em acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Segundo o autor, doença ocupacional é aquela doença produzida ou desencadeada pelo exercício profissional, peculiar a determinada atividade. A Gerência de Vigilância em Saúde do Trabalhador, da Diretoria de Saúde do Trabalhador da SES/DF, verificou que em 1998 e 1999, 30% dos acidentes ocupacionais nos hospitais públicos tinham como causa materiais perfurocortantes e destes, 50% estavam localizados na lavanderia (área que não faz uso de material perfuro-cortante). Na rede privada, detectaram situações semelhantes, 28% e 47%, respectivamente (BRASIL, 2004). Todas estas situações são enfrentadas por pessoas que, apesar de estarem cientes das consequências, não observam medidas de biossegurança ao executar uma atividade em condição de risco. 16 Os profissionais de enfermagem estão expostos a todos os riscos, especialmente, aos biológicos, colocando-se em situação de exposição às infecções cruzadas a si mesmo e aos pacientes pela não observância das medidas de biossegurança, sobretudo nas áreas críticas do hospital, como a Clínica de Hemodiálise. A hemodiálise é um tipo de terapia renal substitutiva cujo procedimento é a filtração extracorpórea de sangue (FERMI, 2003). Assim, através da hemodiálise são retirados do sangue substâncias que, quando em excesso, trazem prejuízos ao corpo, como a uréia, potássio, sódio e água. A hemodiálise é feita em máquina, através de um dialisador (capilar ou filtro). O dialisador é um conjunto de tubos chamados "linhas", por onde o sangue passa por processo de filtração artificial, extracorpórea. Durante a filtração, o sangue é retirado do corpo e retorna ao mesmo por acessos de linhas, circuitos de simulam as veias e artérias. O dialisador é reutilizável e após cada sessão de hemodiálise é realizada esterilização química desse material. Dessa forma, é importante as medidas de biossegurança para minimização ou eliminação de riscos no intuito de preservar a saúde do trabalhador e do usuário (FERMI, 2003). A realização dos procedimentos invasivos essenciais para a operacionalização da hemodiálise constitui um risco constante para os profissionais de enfermagem. A punção de fístula arteriovenosa, a circulação extracorpórea, esterilização química de dialisadores e linhas com acúmulo de sangue nos circuitos e os produtos químicos utilizados no reprocessamento dos capilares, que irritam as mucosas do profissional, constituem a rotina básica do serviço de hemodiálise. Também faz parte do cenário de riscos a existência de pacientes que fazem hemodiálise e são portadores de hepatite tipo B e C, HIV positivo e, nos casos de urgência, com sorologia desconhecida. Para esses pacientes, existem salas e máquinas separadas dos outros que não possuem o vírus. Portanto, as inquietações a respeito do tema surgiram de situações vivenciadas como enfermeira do maior hospital público de referência de Teresina, em que se observa um ambiente de grande vulnerabilidade para os profissionais de saúde, pelos riscos aos quais se encontram expostos no cotidiano do seu trabalho. Frequentemente esses profissionais se expõem às situações de risco, pela não observância das medidas de biossegurança: lapso na aplicação das medidas de precauções padrão, acomodação em relação à postura física inadequada, e desconhecimento. 17 Não obstante, os funcionários participam de treinamentos em biossegurança no sentido de qualificá-los e atualizá-los quanto à adequação de medidas de prevenção ou minimização de riscos. Essas qualificações parece não terem seus objetivos alcançados na sua plenitude, considerando que rotineiramente, observamse atitudes e comportamentos desses profissionais nos quais se constata que há negligência na aplicação de medidas de biossegurança. Dessa forma, percebe-se que há dificuldade no emprego dos conhecimentos apreendidos por esses profissionais. Assim, realizar este estudo justifica-se pela importância da temática para a enfermagem, por serem os profissionais dessa área os que mais tempo permanecem com os pacientes, realizando a maioria dos procedimentos. Esses procedimentos que traduzem vulnerabilidade aos trabalhadores, quando realizados sem as medidas de biossegurança para evitar infecções cruzadas e outros riscos, podem trazer sérias complicações, resultando no paciente, aumento da permanência hospitalar, no custo com a internação e, especialmente, em muito sofrimento e insegurança para o paciente. Também, com a mesma intensidade, há a angústia dos servidores em relação à exposição aos riscos, inclusive de contrair patologias por contaminação com agentes biológicos, químicos ou doenças crônicas, principalmente, relacionadas com a coluna vertebral, pela má postura ao longo dos anos, no ambiente de trabalho. Em face do exposto, propôs-se o estudo das representações sociais que orientam condutas dos profissionais de enfermagem relacionadas à biossegurança em uma clínica de hemodiálise. Considerando-se a biossegurança como fenômeno complexo, não pode ser reduzido a aspectos da lógica racional, devendo ser considerada a influência de natureza sociocultural. Espera-se que a apreensão e análise de tais representações possam fornecer subsídios para elaboração de novas estratégias de enfrentamento dos problemas decorrentes das práticas desses profissionais que ainda não incorporaram, na íntegra, as medidas de biossegurança. Nessa perspectiva, investigar a biossegurança como fenômeno psicossocial, subsidiado pela Teoria das Representações Sociais, torna-se importante para se conhecer aspectos subjetivos que influenciam nas condutas e atitudes dos profissionais de enfermagem, especialmente os do serviço de hemodiálise. Esta teoria pode evidenciar imagens e conhecimentos associados diretamente à biossegurança, contribuindo para o entendimento de comportamentos e práticas dos profissionais de saúde e suas influências nas medidas de minimização ou 18 eliminação de riscos que refletem no controle da infecção hospitalar, na preservação da saúde do trabalhador e do usuário. Refletindo-se sobre o homem como um ser sócio-histórico em sua relação com a natureza, seu comportamento, suas ações e atitudes estão constantemente permeadas pelas relações sociais estabelecidas no contexto onde estão inseridos. Os sujeitos desse estudo, portanto, fazem parte de uma realidade onde compartilham a transformação de um campo social que os orienta e sustenta o modo de agir, suas formas de pensamento e comunicação no intercâmbio das equipes de trabalho. Este estudo apóia-se na Teoria das Representações Sociais (TRS) e fundamenta-se, principalmente, nos trabalhos de Serge Moscovici e Denise Jodelet e permite o desvelar de comportamentos construídos e que orientam práticas de biossegurança no âmbito hospitalar e na clínica de hemodiálise. A Teoria das Representações Sociais (TRS) tem como precursor Serge Moscovici que, durante o seu estudo na busca de uma redefinição dos problemas e conceitos da Psicologia Social, fez uma pesquisa a respeito da disciplina Psicanálise, junto à população parisiense, e sistematizou o resultado na obra La Psychanalyse: Son image et son public, publicada em 1961. Com isso, estabeleceu a Teoria das Representações Sociais (TRS) (DOTA 2006). Através desse estudo, Serge Moscovici construiu o seguinte conceito de Representação Social: Um sistema de valores, de noções e de práticas tendo uma dupla tendência: antes de tudo instaurar uma ordem que permite aos indivíduos a possibilidade de se orientar no meioambiente social, material e de dominá-lo. Em seguida, de assegurar a comunicação entre os membros de uma comunidade, propondo-lhes um código para suas trocas e um código para nomear e classificar de maneira unívoca as partes de seu mundo, de sua história individual ou coletiva. (MOSCOVICI, 1978, p 70). Para Moscovici, a Representação Social (RS) é definida como uma forma de conhecimento do senso comum. Ela está diretamente relacionada à maneira como as pessoas entendem e introjetam as informações de acordo com os referenciais 19 que possuem, os indivíduos vão reelaborar o saber científico segundo sua própria conveniência, ou seja, de acordo com os meios e recursos que têm (MOSCOVICI, 1978). Partindo desta visão, Serge Moscovici admite que a Teoria das Representações Sociais, vem eliminar a dicotomia entre o individual e o coletivo, ou seja, Moscovici não compreende a separação entre consciência individual e coletiva, da mesma forma que não entende o indivíduo passivo diante da representação, mas, como uma pessoa que constrói e reconstrói as representações que, por conseguinte, determinam a medida de seu espaço no contexto da comunicação social (TURA; MOREIRA, 2005). Para Jodelet (2001), a Teoria das Representações Sociais (TRS) tem como proposta um estudo cientifico do senso comum e esta modalidade de conhecimento varia conforme inserções específicas num contexto de relações sociais. Esta forma de conhecimento está ligada à realidade dos grupos e categorias sociais, dando a seus membros uma visão de mundo e contribuindo para sua identidade social (JODELET, 2001). O emprego das TRS nesse estudo, foi adotado com o propósito de estudar as manifestações de senso comum relacionadas à temática biossegurança e explorar a construção de comportamentos e atitudes, em relação à essa temática, apreendidos e praticados pelos sujeitos no contexto do trabalho com hemodiálise. Portanto, a abordagem das representações sociais, na área da saúde, apreende o processo de assimilação das informações, com o objetivo de considerar os sistemas de noções de valores e modelos de pensamento e de condutas que são utilizadas pelas pessoas para apropriar-se dos objetos inseridos em seu cotidiano (JODELET, 2001). A apreensão de Representações Sociais da biossegurança, elaboradas pelos funcionários de enfermagem da clínica de hemodiálise, possibilita a compreensão da realidade intrínseca construída no convívio social que determina as ações das equipes no cotidiano do trabalho. A apreensão do conhecimento do senso comum desses trabalhadores vem influenciar aspectos na tomada de decisão para melhora da qualidade do cuidar em enfermagem. As conseqüências da posição social sobre os modos de vida se encontram geralmente cominados a impulsos de personalidade, nuances de caráter, preferências pessoais. As ciências sociais conduzem o trabalho justamente de 20 desmentir o que o coloquial parece dar como definitivo e que não é, de fato, nada que um produto das acomodações e da História. Nesse sentido a Teoria das Representações Sociais pode exercer o papel de uma teoria crítica, o que permite compreender os comportamentos que determinam estilos de vida (ROUQUETE, 2005). Para Moscovici (1978), a elaboração e o funcionamento de uma representação podem ser compreendidos através dos processos de objetivação e ancoragem. A objetivação e a ancoragem são as formas específicas em que as representações sociais estabelecem mediações, trazendo para um nível quase material a produção simbólica de uma comunidade e dando conta da existência concreta dessas representações na vida social. A ancoragem constitui o acúmulo de conhecimentos que o individuo agrega, ao longo do tempo, sobre um fato, objeto ou fenômeno. A objetivação é a forma como o sujeito expressa a imagem, simboliza, um sentido apropriado do conhecimento acumulado na ancoragem. O campo da saúde, durante todo o processo de aprendizagem e desenvolvimento de atividades relativas ao processo do cuidar, está envolvido com conteúdos de medidas de biossegurança. São muitas as situações que permeiam o universo dos trabalhadores da saúde, onde o indivíduo vivencia práticas e apreende comportamentos. A acomodação às condições de trabalho e a prática reproduzida de atividade de riscos condicionam os indivíduos a praticarem atividades sem observar a proteção devida para minimização ou eliminação de riscos inerentes a estas atividades; nesse sentido, vão se construindo representações que orientam condutas. Para Jodelet (2001), as representações sociais é uma forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Igualmente designada como saber do senso comum, ou ainda, ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico. Entretanto, é apresentada como um objeto de estudo tão legítimo quanto este devido à sua importância na sua vida social, à elucidação possibilitadora dos processos cognitivos e das interações sociais. As RS se manifestam em palavras, sentimentos, atitudes e condutas e se institucionalizam. Portanto, podem e devem ser analisadas a partir da compreensão 21 das estruturas e dos comportamentos sociais. Sua mediação privilegiada é a linguagem tomada como forma de conhecimento e de interação social (FARR, 2003). Segundo Moscovici (1978), a origem da construção de uma representação social pelos indivíduos está situada na necessidade que eles possuem de estar ao corrente, não ser ignorante, nem ficar fora do circuito coletivo. Conhecendo-se o motivo pelo qual uma representação é criada, faz-se necessário esclarecer o motivo pelo qual ela é empregada, do que e de onde resulta, uma vez que, quando um objeto proveniente de fora se insere em nosso campo de atenção, um desequilíbrio se estabelece. Para Jodelet (2007), o conhecimento de senso comum, ou seja, o ingênuo, o natural é construído a partir de nossas experiências, de informações, saberes, crenças, modelos de pensamento, da convivência com pessoas próximas ou longínquas, como também do que recebemos e transmitimos através da comunicação social. É a partir desse limite entre o psicológico e o social que encontramos a noção de representação social. Esse conhecimento de senso comum, em contraposição ao pensamento científico, poderia ainda ser chamado de conhecimento prático. Com o entendimento de que o grupo de funcionários da clínica de hemodiálise estão inseridos em um ambiente de convivência social, é natural que haja um processo de construção de conhecimento socialmente elaborado, inclusive sobre a temática biossegurança. Com a intenção de buscar no contexto das atividades de hemodiálise, o universo simbólico individual e social desse grupo, as imagens e as representações elaboradas pelos profissionais de enfermagem sobre a temática biossegurança, delimitou-se o objeto de estudo, elaborou-se questões norteadoras e traçou-se objetivos. 1.2 Questões norteadoras e objetivos A partir do contexto apresentado, delimitou-se como objeto de estudo as representações sociais da biossegurança elaboradas por profissionais de enfermagem de um serviço de hemodiálise e foram definidas as questões norteadoras: 22 • Quais as representações sociais de biossegurança elaboradas por profissionais de enfermagem de um serviço de hemodiálise? • Que aspectos dessas representações estão relacionados com a adoção das medidas de biossegurança pelos profissionais de Enfermagem de um serviço de hemodiálise? Na busca de responder essas questões elaborou-se os objetivos do estudo: • Apreender representações sociais da biossegurança elaboradas por profissionais de enfermagem em uma clínica de hemodiálise; • Descrever as representações sociais da biossegurança elaboradas por esses profissionais; • Explorar as representações sociais, buscando aspectos relacionados à adoção das medidas de biossegurança pelos profissionais de enfermagem de um serviço de hemodiálise. 1.3 Aspectos sócio-históricos e políticas da biossegurança Ao longo da história, o homem construiu ações precursoras de medidas de biossegurança, porém não uma sistematização de conhecimento com a conotação que é dada atualmente à biossegurança. Por volta de 1.700, d.C, surgiu a sistematização médica da etiologia ocupacional das doenças com a criação de questionamento sobre a ocupação dos pacientes na anamnese médica. Em 1830, surge o primeiro serviço de medicina do trabalho, em uma indústria têxtil inglesa, era o empregador se resguardando com anteparo para possíveis reivindicações operárias, na possibilidade de associações causais entre o trabalho e a morbidade operária (HINRICHSEN, 2004). Interpretando o significado da palavra biossegurança, “bio,” do grego, significa vida, “segurança,” proteger, cuidar, resguardar; portanto, biossegurança é vida com segurança. Na sua amplitude de abrangência física e complexidade no seu campo de aplicação, biossegurança é: Um conjunto de ações voltadas para a preservação, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, 23 ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, riscos que podem comprometer a saúde do homem, dos animais, do meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos (TEIXEIRA e VALLE, 1996, p.13). Segundo Mastroeni (2006), várias personagens que fizeram história nas ciências da saúde serviram de base para pesquisas mais avançadas, contribuíram para os rumos atuais. Florence Nightingale (1863) reduziu a infecção hospitalar com medidas de higiene e limpeza; Louis Paster (1664) derrubou a teoria da geração espontânea e desenvolveu a técnica da pasteurização; Josef Lister (1867) tratou os ferimentos cirúrgicos com fenol, reduziu a infecção hospitalar; Robert Koch (1876) descreveu os postulados de Koch, demonstrando, pela primeira vez, que uma doença infecciosa específica é causada por um microrganismo específico. Para Couto, Pedrosa e Nogueira (2003), as descobertas intencionais, acidentais ou ainda ocasionais de fatores que ocorreram ao longo da história vieram contribuir com a prevenção, minimização ou eliminação de riscos para os profissionais, são ações precursoras das medidas de biossegurança na área hospitalar e outros estabelecimentos de saúde. Segundo Hinrichsen (2004), a descoberta dos agentes microbianos fortaleceu a busca constante de riscos que respondessem por correlação entre causa e efeito, distúrbios específicos, que satisfizessem a situações de perigo localizadas no ambiente físico que desconsideravam o trabalho humano enquanto dimensão biopsicossocial e que superavam ocorrências com equipamentos, máquinas e matérias-primas no centro das atenções das atividades fabris. Ainda, de acordo com Neves et al. (2006), estudos no setor saúde proporcionaram o entendimento de que as causas laborais de dano ao homem estavam voltadas, principalmente, ao ambiente laboral, valorizando os espaços e os sujeitos neles presentes, ou seja, o ambiente produtivo. Nas últimas três décadas do século XX, o desenvolvimento tecnológico impulsionou o crescimento cientifico, o que evidenciou repercussão sobre a insegurança do homem frente a novas descobertas e iniciou expressivo discurso no mundo sobre o tema biossegurança. Na década de 1970, na cidade de Azilomar, estado da Califórnia - Estados Unidos da América (EUA), a comunidade cientifica iniciou a discussão sobre os impactos da engenharia genética na sociedade. A maior preocupação naquele momento era quanto ao impacto da liberação de organismos geneticamente 24 modificados (OGM) no ambiente. Nesta mesma década, o National Institute of Health divulgou normas de segurança laboratorial que deveriam ser seguidas, obrigatoriamente, por projetos custeados com verbas federais, comportamento seguido por nações européias, Inglaterra, França e Alemanha (MASTROENI, 2006). Mais recentemente, em 1992, os EUA apresentaram o Documento de Escopo com normas muito rígidas que, segundo os pesquisadores, inibiam o desenvolvimento de novos produtos. Em 1993, um documento britânico, elaborado pela Câmara dos Lordes, apresentou um quadro regulatório para seus próprios interesses e criticou o documento de Escopo, como excessivamente preventivo, obsoleto e acientífico e, em 1994, a Comissão das Comunidades Européias apresentou o documento Carta Branca com o propósito de abrandar os dispositivos até então existentes e reivindicar nova política de biossegurança européia para fazer face à competição internacional (HINRICHSEN, 2004). A discussão sobre o tema biossegurança prosseguiu e, o que inicialmente era preocupação com organismos geneticamente modificados, incorporou os chamados riscos periféricos: são os riscos físico, químico, radioativo, e ergonômico que fazem parte do ambiente dos trabalhadores na saúde. Mais recentemente, na década de 1990, o conceito de biossegurança passou por mudanças, agregando temas como ética em pesquisa, meio ambiente, animais e processos envolvendo tecnologia do DNA recombinante (COSTA; COSTA, 2004; ANDRADE, 2007). A biossegurança, embora represente um tema de preocupação internacional, em cada país tem suas peculiaridades; portanto, cada um desses deve ser autônomo em sua política de biossegurança, observando as normas dos acordos internacionais. O Brasil vem crescendo na construção de instrumentos legais, a primeira lei de biossegurança foi criada em 1995, Ministério da Ciência e Tecnologia, com especificidade para organismos geneticamente modificados OGM. O conjunto de instrumentos legais, incluindo leis, portarias, resoluções, instruções normativas e normas regulamentares que partem, principalmente, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Ministério da Saúde (MS), dão o embasamento legal e norteiam a implementação de ações de medidas de biossegurança em todo o território brasileiro. A partir da primeira lei de biossegurança em 1995, Lei 8.974 do Ministério da Ciência e Tecnologia, foi instituída a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, cuja função 25 primordial era propor a Política Nacional de Biossegurança no Brasil – PNB (BRASIL, 1995). A Comissão Técnica apresenta como suas principais funções elaborar o Código de Ética de Manipulações Genéticas; estabelecer os mecanismos de funcionamento das Comissões Internas de Biossegurança (CIBio), obrigatórias em qualquer instituição que se dedique ao ensino, pesquisa, desenvolvimento e utilização das técnicas de engenharia genética; emitir Certificado de Qualidade em Biossegurança (CQB) referente às instalações destinadas a atividade ou projeto que envolva Organismos Geneticamente Modificados (MASTROENI, 2006). Em 2005, foi aprovado o Projeto de Lei de Biossegurança nº. 2401-C/2004 com o propósito de atualizar e ampliar a abrangência da Lei 8.974 de 1995, incluindo dispositivos legais sobre o DNA recombinante, que já era incorporado nos diversos segmentos do setor produtivo como na saúde, agricultura, pecuária, meio ambiente (BRASIL, 2005). Referente aos serviços de saúde, foi publicada em 1988 a resolução nº. 1 do Conselho Nacional de Saúde, que aprovou as normas de pesquisa em saúde. Em 19 de fevereiro de 2002, foi publicada a Portaria nº. 343/GM Ministério da Saúde, que instituiu a Comissão de Biossegurança em Saúde, o que veio representar um importante passo para as atividades em biossegurança na área da saúde, visando, principalmente, acompanhar e participar da elaboração e reformulação de normas de biossegurança no âmbito da saúde e promover debates públicos sobre o tema (BRASIL, 2002). Outros aparelhos legislativos, como legislação sanitária (MS), legislação de controle de infecção hospitalar (MS), legislação de segurança e saúde do trabalhador (MTE), fazem parte do conjunto de instrumentos legais que abrangem normatização de medidas de biossegurança para consultórios odontológicos, laboratórios e hospitais (BRASIL, 2002). Mais recentemente, foi aprovada pela Portaria GM/ 485, em 11 de novembro de 2005, a Norma Regulamentar (NR) 32, Segurança e Saúde no Trabalho em serviços de Saúde, Ministério do Trabalho e Emprego. Esta NR contempla normalização de procedimentos preventivos de riscos biológicos, químicos, radiações ionizantes e instrumentaliza gestores e trabalhadores da saúde com medidas de proteção no trabalho, o que melhora na qualidade do atendimento à 26 população. Para implementar a NR 32, foi criada a comissão tripartite formada por representantes do governo, dos empregadores e dos trabalhadores (BRASIL, 2005). Essa Norma Regulamentadora não considera medidas de biossegurança em relação aos riscos ergonômicos e físicos em serviços de saúde. Ainda, do Ministério do Trabalho e Emprego, partem outros instrumentos normativos que tratam de medidas preventivas para eliminação e/ou minimização de outros riscos, Norma Regulamentadora 17, sobre ergonomia e Norma Regulamentadora 09, programa de prevenção de riscos ambientais, incluídos nesta norma os riscos físicos (BRASIL, 2005; BRASIL, 2006). As atividades de hemodiálise nos serviços de saúde têm seu funcionamento respaldado na RDC Nº 154, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), de 15 de junho de 2004, que estabelece o regulamento técnico para o funcionamento dos serviços de diálise no Brasil. Esta resolução contempla a regulação de todo o processo de realização de hemodiálise, instalação física, equipamentos, dimensionamento de recursos humanos, uso de equipamentos e insumos, qualidade da água, realização dos procedimentos, uso de EPI’s, soluções para reprocessamento dos dializadores e linhas venosas e arteriais (BRASIL, 2004). Em face do exposto, a biossegurança dispõe de um conjunto de instrumentos legais e normativos que asseguram todas as condições técnicas e éticas do seu desenvolvimento, devendo os profissionais das diversas áreas de trabalho observá-las e cumpri-las no desempenho de suas atividades, incluindo as de hemodiálise tratadas nesse estudo. 27 2 METODOLOGIA 2.1 Tipo de estudo Trata-se de um estudo exploratório, pois este tipo possibilita a apreensão dos fenômenos relacionados ao objeto do estudo, tendo como estratégia a busca do conhecimento informal dos sujeitos sociais, a partir de suas representações sociais. O ciclo de toda pesquisa começa com um processo exploratório denominado fase exploratória da pesquisa, caracterizada pela busca de condições preliminares para sua realização: definição do objeto, pressupostos, teoria mais apropriada para fundamentação dos resultados, metodologia, sendo considerada a fase de construção do projeto de investigação (MINAYO, 2003). A idéia de ciclo da pesquisa não se solidifica em etapas estanques, mas em planos que se complementam. Por isso, os ciclos de uma pesquisa nunca se fecham. Após o trabalho de campo, tem grande função exploratória e pode confirmar ou afastar hipóteses, pois produção de conhecimentos estimula questionamentos que ficarão abertos a aprofundamentos posteriores (MINAYO, 2007). Para Gil (2002), a pesquisa descritiva exploratória tem como objetivo a descrição das características de determinadas populações ou fenômenos, proporcionando maior familiaridade com o problema, visando torná-lo mais explícito. Possui a finalidade básica de desenvolver, esclarecer e modificar conceitos para a formulação de abordagens posteriores. Daí, justifica-se a escolha dessa abordagem para a realização de trabalhos que buscam apreender representações sociais. Nesse estudo, representações sociais de biossegurança na hemodiálise elaboradas por profissionais de enfermagem. 2.2 Cenário do estudo A pesquisa foi realizada na clínica de hemodiálise do Hospital Getúlio Vargas (HGV), do Sistema Único de Saúde (SUS). Este hospital é de grande porte, geral, com 347 leitos, atende em sistema ambulatorial e internação, realizando procedimentos de média e alta complexidade em saúde. Até agosto de 2008 era responsável pelo principal serviço de urgência e emergência da rede pública do Estado do Piauí. 28 Atualmente, o HGV conta com serviços de: nefrologia e hemodiálise, terapia intensiva, centro cirúrgico, neurologia, urologia, clínica médica, ginecologia, ortopedia, oftalmologia e dermatologia. O serviço de nefrologia, onde se situa a clínica de hemodiálise, conta com 45 funcionários da área de enfermagem, sendo que 35 desenvolvem suas atividades exclusivamente na sala de hemodiálise, 28 técnicos de enfermagem e 07 enfermeiros. O serviço de nefrologia do HGV dispõe de um setor de internação com dez leitos, um posto de enfermagem, um setor de administração, sala de espera, setor de osmose reversa, que é uma construção à parte, onde se processa o tratamento da água. Conta ainda com duas salas para hemodiálise: uma denominada “sala branca”, com doze máquinas, dez para pacientes “brancos” (não portadores de hepatite), uma máquina para “pacientes cinza” (portador de hepatite C) e uma máquina reserva; outra sala denominada de “sala amarela”, com duas máquinas para pacientes portadores de hepatite B. Além desses setores, a clínica de hemodiálise dispõe de três ambientes onde são realizados os procedimentos de limpeza e desinfecção de alto nível dos dializadores: “reuso branco”, “reuso amarelo” e “reuso cinza”, respectivamente, conforme a classificação dada aos tipos de pacientes. Estes setores contam com uma estrutura física própria para adaptar os dializadores com suas linhas acessórias a serem preenchidas com o ácido que faz a limpeza desses. Estes, com suas caixas de acondicionamento, são personalizados para cada paciente e guardados em gavetas próprias, garantindo a sua exclusividade de uso pelo respectivo paciente. A clínica de hemodiálise tem seu funcionamento respaldado na RDC Nº 154, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), de 15 de junho de 2004, que estabelece o regulamento técnico para o funcionamento dos serviços de diálise no Brasil. Esta resolução contempla a regulação de todo o processo de realização de hemodiálise, instalação física, equipamentos, dimensionamento de recursos humanos, uso de equipamentos e insumos, qualidade da água, realização dos procedimentos, uso de EPI’s, soluções para reprocessamento dos dializadores e linhas venosas e arteriais (BRASIL, 2004). 29 2.3 Sujeitos do estudo e critérios de inclusão Os sujeitos da pesquisa foram 12 auxiliares, técnicos e enfermeiros da clínica de hemodiálise do HGV que aceitaram participar do estudo por livre e espontânea vontade e selecionados pelos critérios de inclusão: trabalhar há pelo menos 4 anos na sala de hemodiálise deste hospital, desenvolvendo todos os procedimentos de hemodiálise e procedimentos no ambiente reuso. Quanto às características sócio-demográfiacas dos sujeitos, um era do sexo masculino e 11 do feminino, com idade entre 25 e 53 anos e tempo de serviço em torno de 4 a 29 anos. Todos foram informados sobre a pesquisa e seus objetivos e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme Resolução nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1995) que trata das normas de pesquisa envolvendo seres humanos e disponibiliza os requisitos obrigatórios para execução de uma pesquisa científica. Garante ainda, a esses sujeitos, o sigilo das informações fornecidas e, para efeito de apresentação dos dados, foi escolhida uma identificação numérica para cada depoimento. As pessoas que participam de uma pesquisa são sujeitos que elaboram conhecimentos e produzem práticas para intervir nos problemas que identificam. Portanto, é presumível que tenham conhecimento prático de senso comum e suas representações elaboradas formem uma concepção de vida que orientem as suas atividades e comportamentos individuais (CHIZZOTTI, 2003). 2.3.1 Procedimentos Técnicos da Equipe de Enfermagem na Hemodiálise O dia de trabalho do profissional de enfermagem na hemodiálise começa na recepção do usuário quando é iniciado o procedimento, verificando o peso, antes de conduzi-lo à máquina. Pela manhã, a equipe do plantão noturno passa o plantão com o dializador e linhas adaptadas na máquina. Ao lado da máquina de hemodiálise fica a cadeira de altura fixa, alcochoada, reclinável, com altura aproximada de 50 cm, onde o paciente é colocado em decúbito dorsal (folley alto). Em seguida, é verificada a pressão arterial, puncionada a fístula arteriovenosa ou outro acesso como o cateter de duplo lúmen e instalado o processo de hemodiálise que dura quatro horas ininterruptas. 30 O procedimento de punção do acesso e instalação do processo de hemodiálise requer do funcionário o uso obrigatório de EPI’s como luvas de procedimento, óculos ou viseira, segundo a NR 32 (ANVISA). Ressalta-se que o funcionário, seguindo normas e rotinas próprias da clínica de hemodiálise do HGV; para acompanhar o paciente nesse procedimento, verifica a pressão arterial do paciente de uma em uma hora (o recomendado é de 30 em 30 minutos), o que exige deste uma postura desconfortável em relação à altura da cadeira (BRASIL, 2008). Após o término do processo de hemodiálise, é providenciada a retirada do paciente da máquina e desconectado o dialisador, o qual é, juntamente com as linhas arterial e venosa, encaminhado ao reuso, devendo o funcionário permanecer usando obrigatoriamente os EPI’s: máscara e luvas específicas para risco químico, avental impermeável, viseira e botas, realizam a limpeza e acondicionamento do material em suas respectivas caixas. Em todos esses procedimentos são indispensáveis a utilização de medidas de biossegurança. 2.4 Os instrumentos e produção dos dados Para a produção dos dados, foi utilizada na pesquisa a técnica de entrevista semi-estruturada, auxiliada por um roteiro organizado com quatro perguntas: Como você representa a biossegurança? Você já recebeu alguma informação sobre biossegurança? Você acha importante a biossegurança na Clínica de Hemodiálise? Fale de um dia de trabalho na hemodiálise (APÊNDICE A), com gravação e posterior transcrição, na íntegra, do conteúdo das entrevistas. A entrevista é uma técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação (MINAYO, 2003). A opção por essas estratégias metodológicas ocorreu pelo entendimento de que são importantes para a abordagem das Representações Sociais da Biossegurança elaboradas pelos profissionais da Clínica de Hemodiálise, em estudo, objetivando bons resultados. Os dados do estudo foram coletados e processados no período de maio a julho de 2008, após a entrevista piloto para testagem da adequação das questões 31 constantes do roteiro e os possíveis ajustes, garantindo, dessa forma, a qualidade de sua produção. A pesquisa foi submetida à análise e parecer do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Piauí (UFPI), parecer 042/08 e (CEP) do Hospital Getúlio Vargas, com uso e destinação dos dados coletados exclusivamente para esta finalidade. 2.5 Tratamento e análise dos dados Os dados foram processados pelo software ALCESTE 4.8, de Reinert (1998), que permite efetuar, de maneira automática, a análise de entrevistas de perguntas abertas, coleção de textos diversos e tem como objetivo quantificar um texto para extrair o mais forte significado de uma estrutura. O software ALCESTE (Analise Lexical Contextual de Conjunto de Segmentos de Textos) foi criado por Reinert (1998), na França, no final dos anos 70 e introduzido no Brasil em 1998, sendo cada vez mais difundido nos estudos das representações sociais. Segundo Reinert (1998), este programa pode indicar as representações ou campos de imagens sobre um objeto, ou apenas aspectos de uma representação social, dependendo do conteúdo e da relação estabelecida entre esse objeto e o plano de pesquisa. Este programa permite a aferição de uma análise de conteúdo informatizada, lexicográfica, de material textual, dentro de uma Classificação Hierárquica Descendente (CHD), delimitando classes lexicais semânticas em função da ocorrência e co-ocorrência de seus vocabulários e de sua contextualização dentro dos segmentos de textos articulados nos discursos dos sujeitos. Em se tratando deste estudo, o tratamento e análise dos dados permitiram as deduções sobre a organização do sistema de pensamento dos sujeitos produtores dos discursos, apontando as representações sociais sobre a biossegurança elaboradas por profissionais de enfermagem da Clínica de Hemodiálise, obedecendo ao Plano de Tratamento e Análise seguinte (Figura 1). 32 PLANO DE TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS CORPUS 1 PREPARAÇÃO: CORREÇÃO, CODIFICAÇÃO, ORGANIZAÇÃO EM ARQUIVOS TRATAMENTO ANALÍTICO SOFTWARE ALCESTE COM CLASSIFICAÇÃO HIERÁRQUICA DESCENDENTE ETAPAS (A, B, C, D) CLASSE 1 CLASSE 2 EIXO DE ANÁLISE CLASSE 3 CLASSE 4 REPRESENTAÇÕES SOCIAS DE BIOSSEGURANÇA NA HEMODIÁLISE NA PRÁTICA PROFISSIONAL Figura 1: Plano de Tratamento Análise dos Dados. Fonte: Relatório Alceste 2008. 33 A aplicação desse plano de trabalho iniciou-se com a preparação do corpus, por meio de leituras, correções e codificação das variáveis segundo as orientações de Reinert (1998). A seguir as variáveis utilizadas no Quadro 1: SUJEITOS SEXO *suj_1 a *suj_12 *sex_1 (sexo masculino) (sujeitos entrevistados de 1 a 12). *sex_2 (sexo feminino) IDADE TEMPO DE SERVIÇO *ida_1 (idade de 25 a 34 anos) *temps_1 ( 4 a 10 anos) *ida_2 (idade de 35 a 44 anos) *ida_3 (idade de 45 a 54 anos) *ida_4 ( + de 54 anos) *temps_1 ( 11 a 20anos) *temps_1 ( 21 a 30 anos) *temps_1 ( + de 30 anos) Quadro 1 - Banco de dados para codificação das variáveis. Fonte: Relatório Alceste (2008). Após o processamento dos dados, o software ALCESTE, versão 4.8, a partir do corpus analisado, forneceu 12 UCI’s compostas de 107 UCEs, com aproveitamento de 84,11% do total, o que corresponde a 90 UCEs; por meio da Classificação Hierárquica Descendentes, indicou 4 classes apresentadas no Gráfico 1- Dendograma das Classes: 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 |----|----|----|----|----|----|----|----|----|----| Cl. 1 (11UCE) |-----------------+ 14 |---------------+ Cl. 2 (15UCE) |-----------------+ | 18 |------------- + Cl. 4 (34UCE) |---------------------------------+ | 19 | Cl. 3 (30UCE) |------------------------------------------------+ Gráfico 1 - Dendograma das classes. Fonte: Relatório Alceste, (2008) 34 Classe I: Estratégias para uso da biossegurança na hemodiálise: trata dos conhecimentos dos profissionais de enfermagem e estratégias frente às condições de risco a que estão sujeitos na execução de suas atividades diárias, na clínica de hemodiálise; Classe II: Contexto para o uso da biossegurança na hemodiálise: refere-se à importância das medidas de biossegurança nas circunstância dos procedimentos que proporcionam riscos no desempenho das na hemodiálise; Classe III: Riscos ergonômicos na hemodiálise: evidencia as manifestações dos profissionais de enfermagem sobre os efeitos dos riscos ergonômicos posturais a que estão submetidos no processo de trabalho; Classe IV: EPI’s utilizados nos procedimentos de hemodiálise: ressalta os comportamentos dos profissionais de enfermagem em relação ao uso de medidas de biossegurança nas situações que determinam riscos quando realizam atividades inerentes à hemodiálise. 35 3 BIOSSEGURANÇA NA HEMODIÁLISE E AS REPRESENTAÇÃOES SOCIAIS DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM Para a investigação e análise das representações sociais elaboradas pelos profissionais de enfermagem sobre a biossegurança, no contexto da hemodiálise, buscou-se o universo simbólico individual e social desse grupo. As imagens e as representações elaboradas pelos profissionais de enfermagem, a partir desses atributos, possibilitaram a apreensão de processos e mecanismos pelos quais esses sujeitos constroem o sentido da biossegurança em seus procedimentos para a realização da hemodiálise, envolvendo aspectos relacionados aos sentimentos, conhecimentos e posicionamentos no campo de suas representações sociais. Para Silva e Abrantes (2005), as Representações Sociais se manifestam em atitudes, condutas, gestos e imagens decorrentes das vivências cotidianas do grupo e sua expressão define o entendimento das representações pelos indivíduos, o que resulta no senso comum referente a determinado objeto, em que os indivíduos estabelecem relações, constroem sua vida cotidiana e as explicam com base nos seus esquemas de conhecimento. A interpretação dos resultados, a partir das falas dos profissionais de enfermagem da hemodiálise, considerando os atributos supra citados, possibilitou a apreensão das representações sociais desse grupo sobre a biossegurança, bem como a influência dessas representações em sua prática diária na hemodiálise. Desta forma, as quatro classes semânticas oriundas das 12 unidades de contexto iniciais (UCIs) e formadas a partir das 90 unidades de contexto elementar (UCEs) contidas no corpus analisado pelo software ALCESTE, versão 4.8, conforme apresentadas na Figura 3- Dendograma das classes, abaixo, trazem os vocábulos e os fragmentos que evidenciam o conhecimento elaborado e compartilhado socialmente pelos profissionais de enfermagem no cotidiano de seu trabalho, em seu grupo de “pertença”, em que esses saberes circulam pela comunicação intra e intergrupal e fazem emergir comportamentos, sentimentos, posicionamentos relacionados às práticas de biossegurança realizadas por esses profissionais na clínica de hemodiálise. 36 DENDOGRAMA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA BIOSSEGURANÇA ELABORADAS POR PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA HEMODIÁLISE Classe 1 Classe 2 Classe 4 Classe 3 Estratégias para uso da biossegurança na hemodiálise Contextos para o uso da biossegurança na hemodiálise EPI’s utilizados nos procedimentos de hemodiálise 11 UCE’s – 12,22% 15 UCE’s – 16,67% 34 UCE’s – 37,8% Palavras de maior associação / formas reduzidas: Palavras Freq. χ² Reuso 120 15 sorologia 132 11 deseinfeccao 32 9 questão 113 9 materi+ 78 8 funcionar+ 56 6 capilar+ 20 6 limpeza 72 6 possivel 97 6 relacao 117 5 soluc+ 131 5 quim+ 114 4 lav+ 70 3 Palavras de maior associação/formas reduzidas: Palavras Freq. χ² acidente+ 2 26 quim+ 114 13 ergonom+ 44 12 preven+ 102 12 importante 63 11 contamin+ 27 11 fisico+ 53 10 biossegurança 16 9 ach+ 1 9 clinica+ 24 9 forte+ 55 7 evitar 45 7 biologico+ 15 7 problema+ 104 5 Palavras de maior associação/formas reduzidas: Palavras Freq. χ² mascara+ 77 34 luva+ 74 26 viseira+ 151 24 usar 141 15 bata+ 14 14 avent+ 12 14 sapato+ 124 13 óculos 86 13 fechado+ 49 13 protecao 109 11 jaleco 69 11 individual 64 11 trabalh+ 124 10 perfurante+ 92 9 cortante+ 28 9 equipamento+ 42 9 treinamento+ 134 5 utiliz+ 142 5 Variáveis * suj_02 * temp_3 Freq. 225 238 χ² 8 8 Variável *suj_01 * ida_1 * suj_02 * temps_3 Freq. 224 219 225 238 χ² 6 2,89 4,41 4,41 Variável *suj_01 *suj_02 *suj_03 Freq. 05 06 07 Riscos ergonômicos na hemodiálise 30 UCE’s – 33,33% Palavras de maior associação/formas reduzidas: Palavras Freq. χ² verific+ 148 20 coluna 26 20 arteri+ 10 20 pressão 101 18 vertebral 169 15 cadeira+ 18 12 procedimento+ 105 12 vei+ 145 11 puncion+ 111 9 maquina+ 76 9 venos+ 147 6 sin+ 129 6 Variáveis *sex_2 * suj_09 *suj_11 Freq. 223 232 234 χ² 09 11 11 Figura 3: Dendograma das classes de Representações Sociais da Biossegurança, Corpus I, Eixo I. Fonte: Relatório Alceste (2008). χ² 7 3,60 5 37 As classes apresentadas trazem as palavras em suas formas reduzidas, com suas respectivas frequências e correspondentes χ². Estas medeiam a apreensão de representações sociais que permeiam transversalmente a temática em questão, sendo estas evidenciadas por meio de manifestações e explicações que justificam seus posicionamentos nas práticas de hemodiálise, relativos às medidas de biossegurança. Essas palavras ainda são indicativos sensíveis do conhecimento elaborado e compartilhado socialmente por esses profissionais, vinculados às construções sociais resultantes da cultura expressa nas opiniões, atitudes, estereótipos e da própria história desse grupo, nesse contexto. Com base na Teoria das Representações Sociais de Moscovici (2004), o conhecimento desse grupo expresso nas opiniões, atitudes, estereótipos, entre outros atributos, evidenciam suas representações sociais as quais são relevantes para a formação de condutas e orientação das comunicações, podendo ser entendidas como uma teoria do “senso comum”, designando uma forma de pensamento social. Assim, apresentam-se as classes que evidenciam as Representações Sociais sobre a biossegurança elaboradas pelos profissionais de enfermagem que trabalham na clínica de hemodiálise onde se comportam de forma favorável ou não ao controle dos fatores de risco surgidos da inobservância das medidas de precaução padrão. Classe I: Estratégias para uso da biossegurança na hemodiálise Classe constituída de 11 UCE’s, 12,22% do total, relaciona-se diretamente com a classe II e indiretamente com as classes III e IV. É a menor classe no contexto e trata das estratégias utilizadas pelos profissionais de enfermagem para o emprego das medidas de biossegurança na hemodiálise, por meio das quais expressam suas representações sociais que embasam a prática cotidiana. Os fragmentos extraídos de suas falas, bem como as palavras em suas formas reduzidas, são indicativos das medidas das medidas de biossegurança adotadas em suas condutas e posicionamentos ao realizarem procedimentos técnicos geradores de riscos. 38 Os traços lexicais predominantes nas falas desses sujeitos, “reuso” (15), “sorologia” (11), “desinfecção” (9), bem como as UCEs seguintes, referem-se aos riscos físicos, “químicos”, “biológicos” e “ergonômicos”, para a prevenção dos quais utilizam estratégias apropriadas: [...] Em relação aos vírus, às vezes, manipulando pacientes novos, com sorologia desconhecida, sempre que possível é descartado o material destes pacientes novos, e um cuidado ainda maior é com relação ao risco biológico, também o risco ergonômico [...]. [...] O risco físico nunca aconteceu nada, tem extintor, o funcionário do reuso tem o risco químico e o biológico, mas, com relação ao vírus, procuramos fazer o mais rápido possível a sorologia, a gente não conhece a sorologia deles [...]. Reforça-se que as UCE’s supracitadas denotam que os profissionais de enfermagem identificam os riscos a que estão expostos e manifestam conhecimento prático das situações que podem comprometê-los. Preocupam-se com a condição de manipular pacientes com sorologia desconhecida e dão ênfase aos riscos biológicos e químicos. Nesse sentido, as falas dos profissionais de enfermagem trazem evidências de que têm suas atitudes, posicionamentos e comportamentos determinados pelas representações sociais que conseguem elaborar quanto ao contágio e prevenção de doenças, com especificidade a aids, cujo campo simbólico está associado ao estigma criado na vivência dos indivíduos ao longo do tempo, mediante a relevância que tem o tema no meio social desses sujeitos. Segundo Silva e Abrantes (2005), representações foram elaboradas a partir do conhecimento difundido ao longo da trajetória desde o aparecimento da aids, de que essa síndrome é a morte, pois ela vem apontar a incapacidade da ciência em visualizar a real dimensão das doenças infecciosas. Demonstra-se, portanto, a necessidade de apreender a ecologia das doenças de forma menos simplista, coloca em suspeita o modelo da relação harmônica entre microorganismo e o ser humano. Sobre essa questão, Caldas e Sá (2005) ressaltam que as representações sociais são construídas a partir de falas cotidianas sobre objetos sociais de maneira que o mundo interno (representado pelo sujeito) e o mundo externo (representado pelo objeto) formam um contexto inseparável e o objeto só é representado pelo sujeito porque é socialmente relevante. 39 Assim, a elaboração da representação social em relação a algumas doenças, no caso a aids, é construída ao longo do tempo pela relevância dessa patologia, pois a contaminação com o vírus HIV é, mundialmente, considerada como um perigo iminente de contração de doença grave, de alta morbimortalidade e rodeada de preconceitos. Para Moscovici (2004), as representações sociais são construídas quando existe a necessidade do sujeito de se posicionar, na sociedade, frente a novos objetos sociais recriados a partir de fatos cotidianos relevantes no meio em que vive. Neste caso, as estratégias referentes às medidas de biossegurança adotadas pelos profissionais de enfermagem que assistem pacientes em hemodiálise, não estão relacionadas ao entendimento que conseguiram formular no processo de formação profissional mas às informações que circulam nos grupos sociais a que pertencem. Os profissionais de enfermagem da clínica de hemodiálise estão diuturnamente inseridos em uma rotina de trabalho onde a essência do labor dá-se com manipulação de sangue na punção da fístula arteriovenosa, circulação extracorpórea e processo de limpeza e esterilização de materiais e equipamentos, com probabilidade de manipular sangue contaminado com microorganismos que podem constituir risco biológico. Sobre a exposição aos riscos, no exercício do trabalho, principalmente no que diz respeito aos riscos biológicos, é motivo de preocupação, uma vez que causam muitos problemas de saúde aos trabalhadores. Na maioria, os riscos biológicos são provenientes de fluidos corporais, por onde circulam os microorganismos (BALSAMO; FELLI, 2006). Quanto aos riscos físicos, químicos e biológicos estes estão incluídos no contexto da Norma Regulamentadora 32, que contempla a segurança e saúde no trabalho em serviço de saúde/Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Conforme essa norma, a probabilidade de exposição ao risco biológico obedece a dois critérios, exposição deliberada e exposição não deliberada (BRASIL, 2008). No ambiente de trabalho, no serviço de hemodiálise, a categoria de exposição do sujeito é considerada do tipo não deliberada. Nesses casos, a presença da probabilidade da exposição ao risco ocupacional existe, mas, não implica na manipulação direta deliberada do agente biológico como objeto principal do trabalho (BRASIL, 2008). 40 O modo apreensivo representado na manifestação dos sujeitos tem sustentação na probabilidade desconhecida da presença do agente biológico. A adoção de técnicas e métodos adequados e a aplicação das medidas eficazes de higiene e segurança do trabalho eliminam ou minimizam os riscos ocupacionais. Os agentes biológicos são as bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros. A prática de medidas de controle de riscos biológicos está relacionada a conhecimentos diversos que envolvem higiene e biossegurança do trabalho num contexto onde estão envolvidos educação, administração, engenharia, e recursos legislativos (VIEIRA; PADILHA, 2008). Ainda, como parte do conteúdo semântico da classe I, identifica-se manifestações relativas à percepção do contexto de trabalho, onde os sujeitos estão expostos a condições climáticas hostis do setor reuso e fazem a circulação do material no ambiente de maneira inadequada, como a manipulação de material contaminado e solução química para o seu processamento: [...] se você entra no reuso você vai ver que é um forno, tem funcionário que usa tudo bem direitinho, mas tem funcionário que não usa nada, outro ponto negativo, só para ter noção, é a entrega do material, é totalmente errada, o material é recebido e entregue neste local, onde estamos aqui, por cima de onde estamos sentadas [...]. Aqui é um ambiente bom para trabalhar [...]. [...] Antes de começar a receber o material sujo, entro do reuso e preparo a solução para a lavagem, inclusive a solução que faz a limpeza capilar de cinco a dez minutos, o uso do capilar depende do prime do mesmo [...] [...] Troca de dializador por rompimento das fibras ou coagulação do sistema, hematoma da fístula arteriovenosa, embolia gasosa, reação ao dializador ou síndrome do primeiro uso por hipersensibilidade à membrana, hemolise, câimbra muscular [...] As representações sociais dos sujeitos da pesquisa sobre o setor reuso são indicativas de que este é um setor não atrativo, pela temperatura elevada, condição em que se amparam para justificar o não uso de EPI’s adequadamente. “Tem funcionário que usa tudo bem direitinho, mas, têm outros que não usam nada“. Além da sensação de temperatura elevada, neste setor são recebidos os materiais (dializadores com suas linhas) com presença de sangue para serem submetidos a processo de esterilização química. Portanto, nesse ambiente observam-se três tipos de riscos, biológico, químico e físico, vejamos os depoimentos: 41 [...] Quando o paciente por um motivo é dializado sem heparina força muito o capilar e o material é descartado mais rápido, com poucas vezes de uso; fico de duas horas e meia a três horas dentro do reuso, fazendo a limpeza e preparo do material [...] [...] E é feito tudo novamente, às vezes os pacientes sentem cefaléia, vômitos, dor abdominal, diarréia, hipotensão, hipoglicemia; o material é lavado no reuso com água tratada, e após é cheio com solução de peroxitane para fazer esterilização [...] Sobre os agentes físicos que desencadeiam situações de riscos destacamse as condições de pressões anormais e temperaturas externas; entre os agentes químicos estão os compostos ou produtos que significam situações de risco quando absorvidos por via respiratória, pele ou por ingestão (BRASIL, 2005). Os trabalhadores, ao longo do tempo em convivência social cotidiana, elaboraram uma forma de conhecimento do senso comum que demonstra um sentimento de oposição à situação de perigo a que estão submetidos. Mesmo assim, realizam atividades, às vezes, sem as medidas de biossegurança necessárias para minimização ou eliminação de riscos. Não raro se negam a utilizar viseira, máscara, avental impermeável apropriados para o setor reuso, mesmo sendo conhecedores da condição que leva a riscos. Esse conhecimento foi elaborado a partir da vivência sociocultural dos indivíduos que ao se adaptarem às situações de perigo, acomodam-se e dispensam a adoção de medidas de prevenção dos riscos físicos, com alegações de adversidades que os impossibilitam. Segundo Neves, Cortez e Moreira (2006), os riscos são objetos sociais relacionados a contextos. Refere a autora que formar uma crença sobre um risco é uma ação ao mesmo tempo cognitiva e executiva, descritiva e normativa, ao se identificar um risco, também se faz uma criação e valoração do mesmo, pois se dá visibilidade às conseqüências danosas que poderiam existir em uma atividade ou em um ambiente. Com base nessa afirmativa, a Norma Regulamentadora 9, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), estabelece obrigatoriedade e implementação por parte de todos os empregadores e instituições que admitem trabalhadores como empregados do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA. 42 A preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores se dá através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir. Para efeito dessa norma regulamentadora, consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos existentes no ambiente de trabalho, e que em função da sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar dano à saúde do trabalhador (BRASIL, 2005). Os riscos físicos são as formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores. Os agentes causadores são: ruídos, vibrações, pressões anormais, radiações ionizantes e não ionizantes, ultra-som e infra-som. A caracterização dos riscos físicos é feita através de avaliações ambientais quantitativas (BRASIL, 2005) Os riscos químicos são oriundos de substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato com a pele ou por ingestão. Os riscos químicos são caracterizados através de avaliações ambientais qualitativas e quantitativas (BRASIL, 2005) Classe II: Contextos para uso da biossegurança na hemodiálise Classe constituída de 15 UCE’s, correspondendo a 16,67% do total. Está diretamente ligada à classe I e indiretamente à classe IV e III. Os traços lexicais que predominam nesta classe levam à interpretação da construção de representações sociais indicativas da importância de medidas de biossegurança no contexto das atividades de hemodiálise. A importância das medidas de biossegurança está diretamente relacionada ao grau de conhecimento dos sujeitos em afinidade ao objeto, o que justifica a interrelação das classes I e II, complementando uma a outra. As ocorrências (“acidente+” 26), (“quim+ 13), (“ergonom+”12), (“contamin+” 11), (importante-11), (biossegurança9), (ach+ 9) são traços lexicais que caracterizam situações de riscos para as quais construíram conhecimentos e estratégias de ação que determinam comportamentos e atitudes no cotidiano da atividade no espaço da clinica de Hemodiálise. No 43 contexto semântico seguinte apresenta-se a importância das medidas de biossegurança no ambiente da clinica frente a determinadas situações: [...] Acho muito importante a biossegurança na hemodiálise, porque a gente lida direto com sangue, soluções químicas fortes e estamos expostos a riscos biológicos, químicos, ergonômicos e outros riscos e é preciso usar máscara luva e viseira [...] [...] A biossegurança são métodos de prevenção contra [...] essa biossegurança me é repassada como uma precaução que você tem que ter contra esses acidentes que podem ser físicos químicos ergonômicos ou biológicos [...] [...] A biossegurança representa os cuidados que eu devo ter para evitar os acidentes de eu me contaminar, levar contaminação para o paciente; tem o risco químico por conta do produto que usamos para fazer o reuso, pois ele tem o cheiro muito forte [...] [...] a biossegurança significa assim, medidas que você toma para prevenir acidentes, tanto em relação a você como em relação a pessoa que você está cuidando, paciente [...]. No contexto da hemodiálise, os sujeitos manifestam sua importância, considerando biossegurança como “precaução”, “prevenção”, “métodos de prevenção”. Assim, fica evidente nas falas “me é repassada como uma precaução” “precaução que você tem que ter”, “biossegurança são métodos de prevenção” e “biossegurança representa os cuidado que eu devo ter”. O conhecimento dos procedimentos, o reconhecimento do grau de seriedade e a atitude de respeitar a importância das medidas de biossegurança, são evidenciados nessa classe como essenciais no desempenho das atividades diárias de hemodiálise e estão determinadas nas manifestações dos sujeitos. As falas são indicativas da valorização do cumprimento das medidas de biossegurança. Estas indicam manifestações positivas, pelo reconhecimento das medidas de biossegurança, exteriorizadas com ênfase na importância da prevenção. Reconhecer os riscos implica em identificar, no ambiente de trabalho, fatores ou situações com potencial de dano à saúde do trabalhador ou, em outras palavras, se existe a possibilidade deste dano. 44 Para tanto, é fundamental que as pessoas envolvidas em atividades que representem algum tipo de risco químico ou biológico estejam dispostas e preparadas a enxergar e apontar os problemas (BRASIL, 2005). [...] riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e acidentes, toda essa informação serve para mantermos sempre atenção, pois esta e a regra básica no serviço da nefrologia, assim como em qualquer serviço que cuida da vida [...] [...] um sangue que pode estar contaminado, secreção pode cair no seu olho, também tem o material químico, solução forte, solução peracetico, e a água oxigenada, peróxido de hidrogênio, também pode causar problema visual e respiratório [...] [...] você usa medida de precaução também para não esta levando contaminação de paciente para paciente são medidas de precaução uso de equipamentos que você usa para evitar contaminação, uma serie de medidas pra evitar infecção [...] [...] acho muito importante a pratica da biossegurança na hemodiálise, neste setor e um lugar que você trabalha, onde tem varias patologias e, com circulação extracorpórea, praticamente lidando diretamente com o sangue do paciente[...] A importância da biossegurança expressada pelos sujeitos nessa classe é motivada pelo grau de conhecimento adquirido no convívio do ambiente de trabalho com elementos que implicam riscos e a relevância de que estes se revestem. Embora seja dada importância aos riscos biológico, químico, físico e ergonômico, observa-se maior ênfase em relação à exposição aos riscos biológicos e químicos. Os acidentes do trabalho com exposição a material biológico entre os trabalhadores da área de saúde têm sido considerados fatores preocupantes, não só pelos prejuízos que acarretam às instituições, como aos próprios trabalhadores. A exposição ocupacional é caracterizada pelo contato direto com fluídos potencialmente contaminados e pode acontecer de três modos distintos: por inoculação percutânea, também chamada de parenteral; pelo contato direto com membranas mucosas e contato direto com pele não-íntegra, isto é, cortada, arranhada ou afetada por dermatites ou solução de continuidade. Inoculação parenteral pelos vírus da aids e das hepatites dos tipos B e C responsável pela maioria das exposições ocupacionais (SAILER; MARZIALE, 2007). 45 Considerando a importância dos riscos físicos, químicos e biológicos é recomendável o seu reconhecimento para planejamento de medidas de biossegurança. Os agentes físicos, químicos e biológicos existentes no ambiente de trabalho são considerados riscos ambientais em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, capazes de causar danos à saúde do trabalhador (BRASIL, 2008). Para Oppermann (2003), a biossegurança é um processo funcional e operacional de essencial importância que aborda medidas de controle de infecções para proteção da equipe de assistência e usuários em saúde, tendo um papel fundamental na promoção da consciência sanitária e da redução geral de riscos à saúde e acidentes ocupacionais. Consiste em um processo progressivo que não inclui acabamento em sua terminologia, devendo sempre ser supervisionado e atualizado (OPPERMANN, 2003). O conhecimento de “senso comum” construído a partir do convívio social na clinica de hemodiálise, e expressos nas opiniões e atitudes e comportamentos sobre biossegurança, formou o substrato para a apreensão da importância dada às medidas de biossegurança no convívio social dos trabalhadores de enfermagem. Segundo Moscovici (2004), as representações sociais têm contribuição relevante para a formação de condutas e orientações das comunicações e pode designar uma forma de pensamento social. Classe III - Riscos ergonômicos na hemodiálise Classe constituída de 30 UCE’s, correspondendo a 33,33% do total. Está indiretamente ligada às outras e as sobrepõem. Embora não apresente o maior número de UCEs, destaca-se pela relevância no campo simbólico das representações sociais dos profissionais de enfermagem sobre biossegurança, na hemodiálise. A posição assumida por essa classe no gráfico da classificação hierárquica descendente traduz sua importância, expressa pelo trabalhador de enfermagem que evidencia os efeitos dos riscos ergonômicos posturas, associando-os diretamente ao processo de trabalho: 46 [...] Vem aquele problema de dores na coluna; a própria punção venosa em uns pacientes é fácil e tem outras punções venosas que são mais difíceis e demoramos muito para puncionar a veia e a artéria e passamos muito tempo com a coluna vertebral em posição desconfortável. Dói muito a coluna vertebral [...]. [...] Em relação á postura as cadeiras são muito baixas. Por mais que você lute para não sentir dor na coluna vertebral, você sente. São muitos pacientes e passo muito tempo com a coluna vertebral dobrada e sentimos muitas dores [...]. [...] Acho um risco muito grande, ergonomicamente é muito ruim. Dor nas costas, na coluna vertebral. Para uma pessoa que é mais alta tem que se curvar para fazer procedimento com o paciente, eu acho um risco muito grande, pois a cadeira é baixa, é horrível [...]. [...] Quando vamos puncionar os pacientes usamos óculos, máscaras e luvas de procedimento, quando chega no final do plantão estamos cansados, com dor nas pernas e coluna vertebral, principalmente, mais é um serviço gratificante [...]. Observa-se que no contexto semântico desta classe os fragmentos lexicais (“verifc+” 20), (coluna 20), (“arteri+”), (“pressão” 18), (“vertebral” 15), (“cadeira+” 12), (“procedimento”+ 12), (“vei”+ 11) exibem as relações estabelecidas pelos profissionais de enfermagem entre os efeitos negativos produzidos pelos riscos ergonômicos e as manifestadas expressas pelo sintoma de dor na “coluna” “vertebral”, no cotidiano das práticas de hemodiálise. Estas manifestações encontram-se permeadas por crenças e carregadas de representações sociais que definem o grau de cuidados de determinados grupos com sua saúde, no caso desse estudo, dos profissionais de enfermagem. O desempenho das atividades no decorrer da realização da hemodiálise como a “verificação” da “pressão” “arterial”, “punção” arteriovenosa, e outros, requerem sistematicamente, a adaptação postural para adequar condições confortáveis para o profissional na clínica de hemodiálise. Quando estes procedimentos são realizados em condições inadequadas, oferecem riscos ergonômicos, simbolizados nesse estudo, pelos efeitos patológicos “dor na coluna”, decorrente de vícios posturais da coluna vertebral, situação vivenciada pelos profissionais de enfermagem ao longo dos anos de trabalho e silenciada na acomodação do dia a dia de trabalho. 47 Entre as doenças de grande repercussão na classe trabalhadora, destacamse as doenças osteoarticulares que levam às dores crônicas na coluna vertebral, e atingem 80 em cada 100 pessoas, no Brasil (SILVA et al., 2002). No ambiente de trabalho desses profissionais existe um conjunto de fatores que os levam a uma situação de riscos, portanto predispostos a doenças ocupacionais. Percebe-se, pelas falas dos sujeitos, que o comportamento postural para realizar as atividades inerentes à hemodiálise traz desconforto durante o processo de trabalho e condiciona aos riscos ergonômicos. O usuário encontra-se em “cadeiras,” acomodado na posição semi-deitado, a uma altura mais ou menos 60 cm do chão e o funcionário encontra – se de pé. Esta posição traz desconforto postural cujos efeitos se acumulam ao longo dos anos de serviço. Esses profissionais geralmente estão mais atentos às recomendações da Norma Regulamentar 32, (MTE) que preconiza medidas relativas aos riscos físicos, químicos e biológicos, ficando os cuidados preventivos dos riscos ergonômicos alheios ao conhecimento dos trabalhadores (BRASIL, 2008). Para Pereira Filho, Oliveira e Cardoso (2006), a depender do local de trabalho e da função que exerce, o trabalhador se torna cada vez mais predisposto aos riscos ocupacionais, sendo sua saúde afetada diretamente quando os agentes patogênicos não forem controlados. Um agravante para o trabalhador é que, muitas vezes, não é associada ao risco ocupacional a gravidade da sua saúde que se mostra fragilizada pela relação saúde-trabalho-doença. Tratando dos riscos ergonômicos, denomina-se ergonomia um conjunto de ciências e tecnologias que procuram fazer um ajuste confortável e produtivo entre o homem e o seu trabalho. Nesse sentido, o intercâmbio da pessoa com os objetos e espaços onde vive ou desenvolve seu trabalho, em qualquer circunstância, é de suma importância para que sejam favorecidas a segurança e a eficiência no desempenho da atividade (PEREIRA FILHO; OLIVEIRA; CARDOSO, 2006; NISHIDE, 2004). Para Guimarães et al. (2005), a ergonomia francesa ou contemporânea é uma área interdisciplinar onde se articulam conhecimentos de várias ciências, fisiologia, psicologia, sociologia e antropologia e busca conhecer o trabalho humano levando em consideração o trabalhador e a situação de trabalho. Portanto, o contexto do ambiente de trabalho tem um amplo valor para a análise de sua atividade. 48 No contexto das condições físicas e de estresse aos quais estão submetidos os sujeitos desse estudo, as situações de riscos colaboram para o surgimento de alterações psicofisiológicas que contribuem para a construção de suas representações sociais evidenciadas sobre os efeitos dos riscos ergonômicos por eles manifestados pelo sintoma de dor. [...] muitos paciente são idosos e a altura da cadeira não ajuda, são muito baixas e é preciso ajudá-los a se deitar e levantar e isso forca a nossa postura e sentimos muita dor na coluna vertebral, pois ficamos com a coluna envergada [...] [...] existe um risco postural pois a cadeira e desproporcional a nossa altura e toda da hora devemos nos curvar para puncionar a veia e a artéria do paciente, para verificar os sinais vitais que são de meia em meia hora [...] [...] as cadeiras dos usuários são confortáveis para eles, mais ruim para nos pois se tornam baixas para quem vai puncionar, verificar a pressão, retirar a hemodiálise, e outros procedimentos junto ao paciente[...] [...] quando você vai fazer muitos curativos em cateter, pessoas mais altas se curvam muito por causa da altura da cadeira, fica com dor nas costas, na coluna vertebral [...] . Considerando-se a temática biossegurança nos serviços de saúde, principalmente na área hospitalar, extensivo à hemodiálise, o cuidado com o agente que causa o risco ergonômico é esquecido e não prevalece o conhecimento e a aplicação da Norma Regulamentar 17 – do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Esta norma confere a proteção do trabalhador em relação aos riscos ergonômicos e estabelece parâmetros que permitem a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente (BRASIL, 2006). O presente estudo pautado na Teoria das Representações Sociais foi de fundamental importância para a compreensão das representações sociais dos profissionais de enfermagem sobre a biossegurança na hemodiálise com destaque para os efeitos dos riscos ergonômicos, apontados nessa classe. Segundo Sá (1998), a TRS favorece o desvelar de cognições e representações sociais que se manifestam no pensamento popular. 49 Classe IV: EPI’s utilizados nos procedimentos de hemodiálise A classe é constituída de 34 UCE’s, correspondendo a 37,78% do total. Está indiretamente ligada às classes I, II e III. Apresta o maior percentual dentre as demais e expressa uma forma de comportamento dos profissionais de enfermagem em relação ao uso rotineiro dos EPI’s na clínica de hemodiálise. As palavras reduzidas (“mascara’+ 34), (“luva “+ 26), (“viseira “+ 24), (“usar” 15), (“bota”14), (“aventa+” 14), (“sapato+”13), (“óculos”13), (“fechado” 13) são traços lexicais predominantes e evidenciam as manifestação da vivência cotidiana dos profissionais de enfermagem quanto ao uso de equipamentos de proteção individual, nesse contexto de trabalho. Também são indicativos de comportamentos adotados em relação ao uso de medidas de biossegurança frente às situações que determinam riscos. De igual modo, as unidades de contexto elementar seguintes referem-se ao uso de EPI’s nos procedimentos de hemodiálise, refletindo no conhecimento e posicionamentos desses profissionais indicativos de suas representações sociais sobre a biossegurança na hemodiálise: [...] Eu represento a biossegurança usando materiais e equipamentos de proteção individual: luvas, viseira, óculos de proteção, jaleco, botas, máscaras; manejando corretamente os materiais perfurantes e cortantes recondicionando nos locais adequados; já recebi treinamento orientando a usar materiais descartáveis, seleção de lixo hospitalar, limpeza terminal em final de semana [...]. (...) Normalmente, a gente tanto aplica a biossegurança como enfermeira quanto orienta o funcionário sobre a importância do uso de equipamento de proteção individual completo, [...] a roupa, sapato fechado, o uso de óculos, luvas e máscara [...]. [...] Coloco o óculos a viseira, a máscara, quando necessário o jaleco, botas [...]. [...] falar de trabalho é muito importante. Chegamos cansados, lavamos nossas mãos, colocamos nossas batas, máscara, viseira, luvas. Já venho toda paramentada: temos que usar sapato fechado para evitar contato com o sangue do paciente [...]. [...] Luvas especiais, viseira, máscara, jaleco impermeável, quando trabalhamos com pacientes, pois tem os fluidos [...]. Como evidenciado nas falas dos sujeitos, os equipamentos de proteção individual: “máscara”, “viseira”, “usar”, entre outros, surgem no campo simbólico de 50 suas representações sociais sobre biossegurança na hemodiálise, sendo o uso destes, essencial para eliminação ou minimização de riscos biológicos e químicos. Embora a preocupação desses sujeitos com o tema biossegurança na hemodiálise se refira aos riscos biológicos e químicos, observa-se que a atenção está centrada no risco biológico, pois este risco traz repercussão tanto na disseminação de infecção como na gravidade de seus efeitos. O conhecimento desses sujeitos sobre a importância do uso dos EPIs está pautado em informações advindas de treinamentos ministrados em serviço sobre as medidas de precauções – padrão e da própria experiência entre os pares que resulta na construção do saber prático. Estas informações condicionam o tipo de representações sociais ao tempo que determinam suas atitudes, que também fazem parte das dimensões da estrutura dessas representações. O controle dos riscos nos serviços de saúde está relacionado à aplicação de medidas de biossegurança, o que inclui uso de equipamento de proteção individual EPI’s, onde estão incluídas as precauções padrão, uso de equipamento de proteção coletiva (EPC), imunização, programa de educação continuada e a medida mais simples, porém a mais importante, a higienização correta das mãos. Os protetores oculares, na forma de óculos, viseiras ampolas de plástico ou de vidro e protetores da face contra fluidos têm o objetivo de proteger os trabalhadores, especialmente a mucosa ocular e a face, do contato direto com sangue e outros fluidos do paciente. Há muita resistência dos trabalhadores em usar este EPI pelo incômodo que causam, há queixas de diminuição e embaçamento da visão devido ao escape da respiração da máscara cirúrgica (BRASIL, 2005). As luvas são utilizadas em diversos procedimentos nos hospitais e classificam-se como luvas cirúrgicas e luvas de procedimento. As cirúrgicas são feitas de látex, esterilizadas, descartáveis, recomendadas para procedimento crítico e tem por objetivo proteger o paciente e o trabalhador. As luvas de procedimentos não críticos são feitas de látex, não são estéreis, apenas limpas e têm como objetivo a proteção do trabalhador. Devem ser trocadas entre um procedimento e outro, entre um paciente e outro, e desprezadas ao término do uso. Aliado ao uso da luva é obrigatório a higienização das mãos observado o tipo de lavagem especifica para cada tipo de ação a ser realizada (BRASIL, 2005). A partir desse contexto, torna-se importante o conhecimento e envolvimento de trabalhadores e gestores locais dos serviços de saúde, em especial os que 51 trabalham em situação de grande vulnerabilidade, como é o caso dos trabalhadores de enfermagem da clínica de hemodiálise, para que seja garantido um trabalho com segurança. Torna-se interessante o gerenciamento das situações de riscos que estão envolvidos no ambiente da clínica de hemodiálise, pois são etapas importantes para a prática da biossegurança. Para Moscovici (1978), as Representações Sociais possuem três dimensões: informação, campo de representação ou imagem e atitude. A informação está relacionada com a sistematização dos conhecimentos que determinado grupo tem sobre um objeto social. Esta informação condiciona o tipo de representação que determinado grupo terá sobre um objeto social. Enquanto isso, o campo de representação ou imagem centra-se na imagem de modelo social, ao conteúdo concreto e limitado das proporções sobre um aspecto preciso do objeto da representação. A atitude focaliza a orientação global acerca do objeto da representação social, tornando-se a mais frequente das três dimensões. Em face do exposto, justifica-se o conhecimento, bem como as atitudes dos profissionais de enfermagem em relação à biossegurança, na clínica de hemodiálise que nem sempre corresponde ao esperado. As manifestações dos sujeitos em relação às medidas de precauçõespadrão limitam-se ao uso de EPI’s: uso de luvas, máscara, avental, óculos protetores e escudo facial, revelando a vivência cotidiana do uso de equipamentos de proteção individual. Portanto, ressaltam o comportamento adotado por estes profissionais em relação ao uso de medidas de biossegurança frente às situações que determinam riscos. Embora os trabalhadores revelem nas suas representações sociais, o conhecimento que referencia o uso dos EPI’s, ainda assim não é garantido que o estejam fazendo com o rigor que se requer em todas as situações de atendimento dos pacientes na hemodiálise. Para Santos (2005), os conhecimentos dos indivíduos prevalecem como ancoragem da ação, sendo a ancoragem a solidificação da representação numa rede de significações convenientes com os valores sociais e as crenças dos sujeitos. A questão da acomodação dos profissionais de enfermagem no contexto da hemodiálise se sustenta na constatação da experiência empírica no ambiente de trabalho dentro das instituições de saúde. Leva-se em conta que muitos profissionais de saúde, em especial os da enfermagem, são alheios à identificação de riscos no 52 ambiente de trabalho em relação às atividades que desenvolvem, sendo essas atividades insalubres e expositoras do trabalhador a situações de risco ocupacional. Para Aguiar et al. (2008), as medidas de precauções-padrão são medidas de proteção contra disseminação de contaminação entre indivíduos. As medidas de precaução são: os EPI’s tipo: luvas, avental, máscara, óculos protetores e escudo facial, também vacinas e, em especial, a higienização das mãos. Também funciona como medidas de precaução o controle e monitoramento dos procedimentos invasivos e a prescrição padronizada e controlada de antimicrobianos. Quanto a higienização das mãos, percebe-se que, embora considerada nas UCEs representativas das falas dos sujeitos, é imperceptível o seu destaque enquanto traços lexicais presentes no campo simbólico de suas representações sociais. Sobre a higienização das mãos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) através do programa Aliança Mundial para Segurança do Paciente, firmado com vários países, vem dando maior atenção ao tema por representar segurança no cuidado do paciente nos serviços de saúde. Segundo a OMS, embora a higienização das mãos seja a ação mais importante e reconhecida há muitos anos na prevenção e controle de infecções nos serviços de saúde, colocá-la em prática ainda é uma tarefa complexa e difícil. (BRASIL, 2005). A higienização correta das mãos no ambiente de trabalho, embora básica e muito importante enquanto medida de biossegurança, é difícil de ser realizada por falta do cultivo desse hábito. Mesmo com as orientações fornecidas em treinamentos ministrados e disponibilizados os equipamentos necessários, os sujeitos desse estudo não destacam a importância dessa ação como medida de biossegurança na hemodiálise. Acredita-se que essa atitude seja proveniente da vivência anterior do sujeito enquanto profissional que apreende diferentes formas de lavar as mãos e, de acordo com seus valores e crenças, atribuem sentidos para estes procedimentos que se mantém em seu sistema cognitivo, tornando-se difícil a operacionalização de novas mudanças. 53 CONSIDERAÇÕES FINAIS As representações sociais dos sujeitos do estudo foram evidenciadas nas quatro classes e no contexto da clínica de hemodiálise, os profissionais de enfermagem apresentam muita ênfase aos riscos ergonômico, biológico e químico, enquanto o físico é pouco valorizado. Os resultados são indicativos de que as RS de biossegurança determinam as condutas, posicionamentos e atitudes dos sujeitos ao realizarem procedimentos técnicos geradores de riscos, no cotidiano de seu trabalho. O grande envolvimento desses profissionais com as atividades e o seu grau de relacionamento formam um contexto onde se tornam parte integrante do ambiente de trabalho e defensores dos conhecimentos construídos e das condutas aplicadas. Os profissionais de enfermagem conhecem os procedimentos e reconhecem a importância de respeitar as medidas de biossegurança como essenciais para o desempenho das atividades diárias na atividade de hemodiálise. Diante de argumentação, assumem e recomendam o uso de EPI’s, embora se observe lacunas entre o discurso e a prática desses sujeitos. A autoconfiança, a acomodação e a pressa ou a falta de instrumentos apropriados levam a imaginar que algo errado não acontece em algum momento de lapso. São representações sociais ou conhecimento de senso comum construídos a partir das vivências e costumes dos indivíduos que agregaram hábitos que levam a banalizar ações consideradas essencias. Os riscos ergonômicos na hemodiálise são responsáveis pelos efeitos negativos produzidos nos profissionais de enfermagem e se destacam por sua relevância para a formação de suas representações sociais. Os profissionais destacam os sintomas de dor quando submetidos aos efeitos negativos produzidos, principalmente, pelo mau hábito postural, ao longo do tempo. Culturalmente, os trabalhadores estão inseridos nesse contexto e desconhecem hábitos posturais saudáveis e os instrumentos normativos a respeito dos riscos ergonômicos. O comportamento cotidiano dos sujeitos na clínica de hemodiálise, em relação ao uso de EPI’s, apontam suas representações sociais e resultam em fatores que se compatibilizam na determinação das ações. 54 Conforme todo o circunstanciado em relação às representações sociais elaboradas pelos sujeitos do estudo, em relação à biossegurança na clínica de hemodiálise, é pertinente apresentar questões para reflexões e sugestões sobre o conhecimento apreendido e usá-lo em prol da construção de instrumentos para melhoria das condições de trabalho para o servidor e assistência ao usuário do serviço de hemodiálise. Em face do exposto, sugere-se sistematizar programas de educação continuada com participação dos profissionais de forma ativa, crítica e reflexiva, de modo a melhorar o nível de conscientização em relação à prática laboral agradável, prazerosa e segura; adequar às condições ambientais, ampliar e climatizar setor reuso; adequar parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de maneira a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente; adequar, segundo NR 17, o trabalho manual, quer seja sentado ou em pé, devendo os acessos ao trabalho serem proporcionais ao trabalhador, dando-lhe boas condições de postura. 55 REFERÊNCIAS AGUIAR, D. F. et al. Uso das precauções-padrão na assistência de enfermagem: um estudo retrospectivo. Rev. Enferm. Esc. Anna Nery. Rio de Janeiro. 2008. v. 15, nº. 2, p. 571-75 ANDRADE, A. C.; SANNA, M. C. Ensino da biossegurança na graduação em enfermagem: uma revisão da literatura. Rev. bras. Enferm. Brasilia, set/out, 2007, v. 60, nº. 5, p. 617-613. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Relatório anual. 2005. BALSAMO, A.C; FELLI,V. E. A. estudo sobre acidente de trabalho com exposição aos líquidos corporais humanos em trabalhadores da saúde de um hospital universitário. Rev. Latino-Americana de Enfermagem. Ribeirão Preto, Maio/junho, v. 14, nº. 3, 2006. BRASIL. Lei nº 8.794, de 5 de janeiro de 1995. Estabelece o uso das normas técnicas de engenharia genética e liberação no meio ambiente de organismos geneticamente modificados, autoriza o Poder Judiciário a criar, no âmbito da Presidência da República, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurançae dá outras providencias. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 6 de janeiro de 1995. ______. Higienização das mãos em serviços de saúde. Brasília, 2002. ______. Ministério da Saúde, Diretrizes Gerais para o trabalho em contenção com material biológico. Série A: Normas e Manuais Técnicos, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Brasília. 2004. ______. ANVISA. Informes técnicos institucionais-biossegurança. Rev Saúde Pública. 2005. v. 39, nº. 6, p. 989-91. ______. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Diretrizes gerais para o trabalho em contenção com material biológico. Brasília, 2006. p. 60. 56 ______. Ministério do Trabalho e Emprego. Riscos Biológicos: guia técnico: os riscos biológicos no âmbito da Norma Regulamentadora nº 32. Brasília, 2008. CALDAS, D. L; SÁ, C. A. A Representação Social do Doente Mental entre familiares de pacientes de dois modelos distintos de assistência à saúde mental. In TURA, L. F. R.; MOREIRA, A. S. P. (org.) Saúde e Representações Sociais. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB. 2005. CAMARGO, B. V. ALCESTE: um programa informático de análise quantitativa de dados textuais. In: MOREIRA, A.S.P. et al. Perspectivas teórico-metodológicas em representações sociais. João Pessoa: Universitária, 2007. p. 511-539. CORREA, F. C; DONATO, M. Biossegurança em uma Unidade de Terapia Intensiva - Apercepção da Equipe de Enfermagem. Escola Ana Nery Revista de Enfermagem. Rio de Janeiro. 2007, v. 11, n°. 2, p. 93-87. COSTA, M. A. F.; COSTA, M. F. B. Educação e competência em biossegurança. Ver. Brás. Educ. Méd. 2004, v. 28, n. 1, p. 65-59. COUTO, C. R; PEDROSA, G.M. T; NOGUEIRA, M. J. Infecção Hospitalar e outras complicações não-infecciosas da doença. Rio de Janeiro: Medsi. 2003 CHIZZOTTI, A. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2003. DOTA, L. T. Representações Sociais do Ser Professor. Campinas, SP. Editora Alínea, 2006. FERMI, M. R. V. Manual de diálise para enfermagem. Rio de Janeiro (RJ): Intexto; 2003. FERNANDES, A. T. Infecção Hospitalar e suas Interfaces na Área da Saúde. São Paulo: Editora Atheneu, 2000. GUIMARÃES, R. M. et al. Fatores ergonômicos de risco e de proteção contra acidentes de trabalho: um estudo caso-controle. Rev. Brás. Epidemiol. São Paulo, 2005, v. 8, nº. 3, p. 43-36. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2002. 57 HINRICHSEN, S. L. Biossegurança e controle de infecções. Medsi. Rio de Janeiro, 2004. JODELET, D. Contribuições das representações sociais para a análise das relações entre educação e trabalho. In: PARDAL, L. (org.). Educação e trabalho: representações, competências e trajectórias . Aveiro: Universidade de Aveiro. p. 1125, 2007. ______. Representações Sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D. (Org.). As Representações Sociais. Tradução Lílian Ulup. Rio de Janeiro: UERJ, 2001. LIMA, F. A. et al. Acidentes com material perfurocortante: conhecendo os sentimentos e emoções dos profissionais de enfermagem. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem. Rio de Janeiro (RJ): v. 11, nº. 2, 2006. LONDONO, M. et al. Administração hospitalar. Rio de Janeiro (RJ): Guanabarakoogan; 2003. MASTROENI, M.F. Biossegurança aplicada a laboratórios e serviços de saúde. 2ª edição. São Paulo: Atheneu. 2006. MINAYO, M. C. S (Organizadora), DESLANDES, S. F. Pesquisa Social – Teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ. Vozes, 2003.. ______. O desafio do conhecimento. 10ª ed. São Paulo. São Paulo: HucitecAbrasco, 2007. MOSCOVICI, S. Representações Sociais: investigação e psicologia social. Petrópolis, RJ Editora vozes, 2004. ______. A Representação Social da Psicanálise. Rio de Janeiro (RJ): Zahar; 1978. MOURA, M. E. B.; TYRREL, M. A. R. Infecção Hospitalar no Piauí: a critica e os aspectos críticos no processo de cuidar/cuidado [tese]. Rio de Janeiro (RJ): Escola de Enfermagem Ana Nery. Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2001 58 MOURA, M. E. B. et al. Representações sociais das infecções hospitalares elaboradas pelos profissionais de saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 61, p. 418-422, 2008. NEVES, T. P.; CORTEZ, E. A.; MOREIRA, C. O. F. Biossegurança como ação educativa: contribuições à saúde do trabalhador. Cogitare enferm. [on-line]. 2006, vol.11, no. 1 [citado 17 Fevereiro 2009], p.50-54. Disponível em: <http://www.portalbvsenf.eerp.usp.b. php?script=sci_arttext&pid=S141485362006000100008&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1414-8536. NEVES, Z. C. P; TIPLE, A. F. V; SOUSA, A. C. S; PEREIRA, M. S; MELO, D.S; FERREIRA, L. R. Higienização das mãos: o impacto de estratégias de incentivo à adesão entre profissionais de saúde de uma unidade de terapia intensiva neonatal. Rev. Latino-am Enfermagem. 2006, v. 2, nº. 3, p. 93-85. OPPERMANN, C. M. PIRES, L.C. Manual de biossegurança para serviços de saúde. Porto Alegre. PMPA/SMS/CGVS. 2003. PEREIRA FILHO, R. L.; OLIVEIRA, M. M. C.; CARDOSO, M. V. L. M. L. Riscos ergonômicos na prática de enfermagem de um centro obstétrico. Rev. Rene. Fortaleza, 2006, v. 7, nº 1, p. 67-53. REINERT, M. A. Analyse de Donnes Textualles. Paris: Societé IMAGE, 1998,Versão 4.8. ROUQUETE, M. L. As representações sociais no quadro geral do pensamento social. In MOREIRA, A. S. P. et al. Perspectivas teórico-metodológicas em representações sociais. João Pessoa, PB. UFPB / Editora Universitária. 2005, p 189-199 SÁ, C. P. A Construção do objeto de pesquisa em representações sociais. Rio de Janeiro: Eduerj,1998. SAILER, G. C.; MARZIALE, M. H. P. Vivência dos trabalhadores de enfermagem frente ao uso dos antiretrovirais após exposição ocupacional a material biológico. Texto contexto – enferm. 2007, Florianópolis, v. 16, nº.1, p. 143-138. SANTOS, C. M. Enfermagem na Prevenção e Controle da Infecção Hospitalar. 2ª ed revis. Editora Iatria. São Paulo, 2005. 59 SILVA, G. A.; ABRANTES, V. L. M. M. Por detrás de luvas e máscaras: representações das enfermeiras sobre a Aids. In: TURA, L. F. R.; MOREIRA, A. S. P. (orgs). Saúde e representações sociais. João Pessoa: Ed. Universitária. 2005. p. 97-128. SILVA, L. F. et al. Doença crônica: o enfrentamento pela família. Acta Paul. Enferm. 2002. São Paulo, v. 13, nº 2, p. 91-86. SOUSA, C. M. M. et al. Os direitos dos usuários da saúde em casos de infecção hospitalar. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 61, p. 411-417, 2008. TEIXEIRA, P. VALLE, S. (Org). Biossegurança: uma abordagem multidisciplinar. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1996. TURA, L. F. R., MOREIRA, A. S. P. (Orgs). Saúde e Representações Sociais. João Pessoa: Ed. Universitária/UFPB. 2005. VIEIRA, M.; PADILHA, M. I. C. S. O HIV e o trabalhador de enfermagem frente ao acidente com material perfuro-cortante. Ver. Esc. Enferm. USP. 2008. São Paulo, v. 42, nº 4, p. 198-186. 60 APÊNDICES 61 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM APÊNDICE A Estamos desenvolvendo uma pesquisa sobre as Representações sociais da biossegurança elaboradas pelos profissionais de enfermagem na Clinica de Hemodiálise do Hospital Getúlio Vargas. Suas respostas de forma espontânea e individual são muito importantes para atingirmos o nosso objetivo. Sexo: Idade: Tempo de serviço na instituição: Categoria profissional: Enfermeiro ( ) Auxiliar de Enfermagem ( ) Técnico de Enfermagem ( ) 1 Como você representa a biossegurança?. 2 Você já recebeu alguma informação sobre biossegurança? 3 Você acha importante a biossegurança na Clinica de Hemodiálise? 4 Fale de um dia de trabalho na hemodiálise. 62 ANEXOS 63 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário(a), em uma pesquisa. . Você precisa decidir se quer participar ou não. Por favor, não se apresse em tomar a decisão. Leia cuidadosamente o que se segue e pergunte ao responsável pelo estudo qualquer dúvida que você tiver. Este estudo está sendo conduzido por Maria Eliéte Batista Moura. Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa, você não será penalizado(a) de forma alguma. Em caso de dúvida, você pode procurar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí pelo telefone (086) 3215-5564. ESCLARECIMENTOS SOBRE A PESQUISA: Título do Projeto: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA BIOSSEGURANÇA ELABORADAS POR PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA HEMODIÁLISE Pesquisador Responsável : Maria Eliéte Batista Moura Telefone para contato (inclusive ligações a cobrar): (086) 9982 1611 Pesquisadores participantes: Francisca Cortez Prado Brito Telefones para contato : (086) 3222-9666 / 9981 6406 ♦ O presente estudo se configura em uma pesquisa exploratória de abordagem qualitativa. A ser realizado em um hospital público estadual, na cidade de teresinaPI. Os sujeitos serão os(as) Enfermeiros(as), Auxiliares e Técnicos de Enfermagem que trabalham na Clinica de Hemodiálise, maiores de 18 anos. Serão utilizadas as técnicas de entrevista semi-estruturada, em que todo o percurso da entrevista será gravado e as falas serão gravadas e transcritas em relatório após as entrevistas. A análise será pelo software ALCESTE 4.8. Objetiva-se neste estudo apreender as Representações Sociais elaboradas pelos profissionais de enfermagem da clínica de hemodiálise sobre biossegurança e analisar como estas Representações influenciam e comprometam a qualidade da assistência prestada ao paciente na clinica de hemodiálise; ♦ Ressalta-se que a presente pesquisa não trará riscos, prejuízos, desconforto, lesões, formas de indenização, nem ressarcimento de despesas. Não há benefício direto para o participante. Cabe informar que a participação é voluntária, podendo o participante interrompê-la ou cancelá-la a qualquer momento sem riscos ou prejuízos. Para tanto, encontra-se neste termo o contato das pesquisadoras. Esperase que o final do estudo possa trazer subsídio aos sujeitos da pesquisa , à Clinica de Hemodiálise do Hospital Getúlio Vargas para melhoria na prestação de serviço aos usuários deste setor. 64 ♦ As pesquisadoras comprometem-se a tratar todas as suas respostas de forma anônima e confidencial, isto é, em nenhum momento será divulgado o nome das pessoas que participaram deste estudo, seja no seu decorrer ou no seu encerramento; a não fornecer, em nenhuma hipótese, cópia das informações obtidas, a pessoas estranhas ao grupo de pesquisa; e a não fazer perguntas que fujam das coletas através de formulário de produção de dados. ♦ Garantia de acesso: em qualquer etapa do estudo, você terá acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. O principal investigador é o Dra. Maria Eliéte Batista Moura que pode ser encontrado no endereço Rua Rio Grande do Sul, Edifício Luis Fortes, apto. 200 ou pelo tel. 869982-1611. Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí, no mesmo endereço, pelo telefone (086) 3215-5564. ♦ O período de participação será de janeiro a março de 2008, o participante terá o direito de retirar o consentimento a qualquer tempo. Data: ___/____/200__. Assinatura CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO Eu_________________________________________________________________ RG/____________________CPF/____________________________matrícula_____ _____________________________________ abaixo assinado, concordo em participar do estudo __ Representações Sociais da Biossegurança Elaboradas por Profissionais de Enfermagem na Hemodiálise, como sujeito. Fui suficientemente informado a respeito das informações que li ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo “Representações Sociais da Biossegurança Elaboradas por Profissionais de Enfermagem na Hemodiálise. Eu discuti com a Dra Maria Eliete Batista Moura. sobre a minha decisão em participar nesse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas e q ue tenho garantia do acesso a tratamento hospitalar quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu acompanhamento/ assistência/tratamento neste Serviço. Teresina, ___, de ____________ de 200__. _____________________________________________________________ Nome e Assinatura do sujeito ou responsável: 65 Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimentos sobre a pesquisa e aceite do sujeito em participar. Testemunhas (não ligadas à equipe de pesquisadores): Nome: ______________________ ___ ______________________ _________ Assinatura: _____________________ ______________________ ______________________ __________________ Nome:_________________ ______________________ __________________ Assinatura:_____________ ______________________ ______________________ ______________________ _____ 66 ANEXOS 67 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM ANEXO B - DECLARAÇÕES DOS(S) PESQUISADOR(ES) Ao Comitê de Ética em Pesquisa - CEP Universidade Federal do Piauí Eu (nós), Maria Eliete Batista Moura, pesquisador(es) responsável(is) pela pesquisa intitulada “Representações Sociais da Biossegurança elaboradas por profissionais de enfermagem na hemodiálise ", declaro (amos) que: • Assumo (imos) o compromisso de cumprir os Termos da Resolução nº 196/96, de 10 de Outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde e demais resoluções complementares à mesma (240/97, 251/97, 292/99, 303/2000, 304/2000 e 340/2004). • Assumo (imos) o compromisso de zelar pela privacidade e pelo sigilo das informações, que serão obtidas e utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa; • Garato(imos) que: Os materiais e as informações obtidas no desenvolvimento deste trabalho serão utilizados apenas para se atingir o(s) objetivo(s) previsto(s) nesta pesquisa e não serão utilizados para outras pesquisas sem o devido consentimento dos voluntários; Os materiais e os dados obtidos ao final da pesquisa serão arquivados sob a responsabilidade de __________ da área de ___________ da UFPI; que também será responsável pelo descarte dos materiais e dados, caso os mesmos não sejam estocados ao final da pesquisa. Não há qualquer acordo restritivo à divulgação pública dos resultados; Os resultados da pesquisa serão tornados públicos através de publicações em periódicos científicos e/ou em encontros científicos, quer sejam favoráveis ou não, respeitando-se sempre a privacidade e os direitos individuais dos sujeitos da pesquisa; O CEP-UFPI será comunicado da suspensão ou do encerramento da pesquisa por meio de relatório apresentado anualmente ou na ocasião da suspensão ou do encerramento da pesquisa com a devida justificativa; O CEP-UFPI será imediatamente comunicado se ocorrerem efeitos adversos resultantes desta pesquisa com o voluntário; Esta pesquisa ainda não foi total ou parcialmente realizada. Teresina, __ de ___________ de 200__. __________________________________________________________ Pesquisador responsável (assinatura, nome e CPF) Demais pesquisadores (assinatura, nome e CPF). 68