NASF Núcleo de Assistência à Saúde do Funcionário Universidade Federal de São Paulo/ Escola Paulista de Medicina. Hospital São Paulo A experiência em um Ambulatório de Saúde Mental para trabalhadores da Área da Saúde Saúde Mental do Núcleo de Assistência da Saúde do Funcionário UNIFESP/SPDM Dulce Dedino Psicóloga Psicanalista Mailto: [email protected] O trabalho na saúde está contextualizado no mundo, no desenvolvimento dos processos produtivos. Capitalismo global – automação – informática = necessidade cada vez menor do trabalho humano. O trabalho e o trabalhador vão perdendo seu valor de uso. Saúde Ocupacional/ Medicina do Trabalho e mesmo Saúde do trabalhador - expor o problema do adoecimento dos trabalhadores da saúde como uma questão relevante de saúde pública do Brasil Psicanálise “Compreende Freud que o sintoma é a semente de onde pode germinar o que existe de singular na pessoa. Freud definitivamente atestou que o sintoma não é um erro, mas a via de acesso da pessoa a si mesma. Freud lembrou-nos que a semente, longe de ser um resto inútil, é um resto útil. O sintoma, para a medicina, é algo que deve ser eliminado, para a psicanálise, sustentado”. Atualmente: O contexto produtivo-social = intensas exigências em relação a qualidade do trabalho Segundo plano - necessidades, transitoriedades e dificuldades que são próprias de cada sujeito. Um ambulatório de Saúde Mental no contexto de trabalho A conduta clínica é praticada na articulação entre o contexto de trabalho e o contexto clínico. Realizando intervenções que propiciam o enfrentamento e a superação das dificuldades, validando as potencialidades e a construção de um lugar legítimo no grupo de trabalho. RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO O trabalho = um ganha pão = a parte mais significativa da vida interior de um ser humano. Marx (1967-94) = a correlação entre trabalho e desenvolvimento humano Afirma: a essência do ser humano está no trabalho. Sua essência = aquilo que ele produz e o modo como o produz. Freud - os homens fazem um pacto entre si Trocavam uma parcela de liberdade pulsional por um pouco de segurança Ou seja enfatiza a questão da economia libidinal. A SUBLIMAÇÃO Geralmente NÃO se utiliza o potencial que o trabalho oferece enquanto um meio privilegiado de realização humana. - dificuldade individual de desenvolvê-lo - limitação ligada à sua configuração social - Nem todos podem escolher o que fazer!!!! Se pensarmos o trabalho = UMA ESCOLHA Concluiremos: - ele é mais uma contingência do que uma escolha - não é uma escolha livre - há leis e regras para escolher e há limites e níveis de escolha. Por isso, o trabalho ao mesmo tempo que possibilita a vida, engendra o desgaste, aponta para o adoecimento Sabemos que os AFASTAMENTOS * do trabalho, por licença médica se referem: 1º. Lugar problemas osteosmusculares 2º. Lesões e envenenamentos 3º. Lugar transtornos mentais * Segundo o ministério da Previdência Social, 2004 O que o trabalho tem a ver com saúde e doença? Por intermédio do amor e do trabalho a espécie foi se desenvolvendo. É impossível falar sobre saúde sem falar em gente trabalhando. E gente implica em RELAÇÕES Do ponto de vista da saúde a questão não é: trabalhar ou não trabalhar A questão é: Que tipo de trabalho? Que relações estabelecer no trabalho? Para cada homem, mulher ou criança, saúde é ter meios de traçar um caminho original. Pode-se então dizer que saúde é ter estes meios Para isso um Investimento em um AMBULATÓRIO DE SAÚDE MENTAL NO AMBIENTE DE TRABALHO NASF - Núcleo de Assistência à Saúde do Funcionário Funciona há muitos anos Em 2003 nossa equipe chega no NASF - estruturação de uma equipe de saúde mental - mudança na forma de atendimento - trazer a demanda para ser atendida dentro do NASF Como trabalhamos: • Vamos na contramão do conceito de adaptação, de modelos universais e normativos • A saúde é antes de tudo um processo em constante construção; dá trabalho, dá trabalho viver. • A própria vida é uma invenção, uma produção constante de novas formas de viver • Vida é saúde. • Viver implica na dor de escolha, de viver as perdas. • Saúde remete a capacidade de tolerar as variações, o estranho, o estrangeiro em nós e no outro: criando novas regras. Saúde Mental no NASF: • Estimulamos a produção de sujeitos autônomos • Livres para escolher e criar formas singulares de estar no mundo • Analisar a relação do sujeito consigo mesmo, com a vida, com o trabalho: procurando sentidos a esta relação. • Estimulamos aos usuários a encontrar as palavras para comunicar e elaborar os sentimentos OBJETIVO: Possibilitar que os sujeitos tenham suas dificuldades e potencialidades singulares acolhidas e validadas. MÉTODO: Usamos a psicanálise para a compreensão da subjetividade, e o trabalho com grupos enquanto dispositivo terapêutico levando-se em conta a multiplicação de fenômenos e vivências que este propicia e a potência e a terapêutica desse espaço criado A conduta clínica articulação entre o contexto de trabalho e o contexto clínico. Realizamos: Intervenções que propiciam o legítimo enfrentamento e a superação da dificuldades, validando as potencialidades e a construção de um lugar legítimo no grupo de trabalho. Trabalhamos a partir de 2 momentos no Setor de Saúde Mental: * PRIMEIRO ATENDIMENTO onde são acolhidas as demandas psiquiátricas, psicológicas e psicopedagógicas, realizado por psicólogo * GRUPO DE ACOLHIMENTO - onde são trabalhadas as demandas. Assim como as mais emergenciais e pontuais como uma prevenção da não medicalização em excesso, e para que um problema pontual não se transforme em uma desordem psíquica e uma situação aguda não se torne crônica. TRATAMENTO * GRUPO DE PSICOTERAPIA acontecem sempre com os mesmos pacientes e terapeuta. Neste contexto que é possível que cada um tenha sua história e suas questões testemunhadas e validadas por um coletivo, podendo, com isso, compartilhar e encontrar no outro/grupo um sentido para si e uma identidade própria. TIPOS DE ATENDIMENTOS - Individual / Grupo / Clínica Ampliada O QUE TRATAMOS? - Pessoas com dificuldades pessoais, no trabalho, nos relacionamentos afetivos - Neuroses - Psicoses - Depressões - Transtorno do pânico e fobias - Dependentes de álcool e outras drogas - Familiares de pacientes Um valioso instrumento de se criar novas formas de viver Favorecer a produção de saúde mental e a qualidade no viver nas mais diversas formas CLÍNICA AMPLIADA -Sentido de ampliação -Ampliação da clínica, seja pela instalação de modos de funcionar que convoquem diferentes saberes/ poderes a entrar em relação na construção de objetos de investimento mais coletivos, seja pela própria desestabiliazação da própria noção de clínica Relato da visita dos Pacientes à Exposição do Artista Plástico Arthur Lescher Local: Instituto Tomie Ohtake Data: 01/08/2006 Público: Pacientes do Grupo de Expressão e Pacientes do Grupo de psicoterapia Os pacientes saíram do NASF por volta das 13:00 hs, quando chegamos ao Instituto Tomie Ohtake fomos recepcionados por dois monitores estudantes de artes plásticas e uma artista plástica - nos acompanharam durante toda a visita e oficina. Ao iniciarmos a visita cada um se apresentou. Os monitores iniciaram um diálogo com os pacientes para saber o que eles esperavam encontrar nessa visita, o que imaginavam que iriam ver: Uma paciente disse que veria coisas antigas, outro disse que estava imaginando que iria encontrar esculturas, um outro ainda falou que não tinha nenhuma idéia do que iria encontrar Percebemos que essa introdução foi interessante, porque já nos possibilitou entrar em contato com a idéia de arte que povoa o imaginário dos pacientes. Os pacientes foram falando - diferença entre arte moderna x arte contemporânea. Arte contemporânea - todo tipo de material pode ser aproveitado e serviria para expressar o que o artista pretendia comunicar, ou seja tudo pode ser visto como arte e tudo pode servir para fazer arte, depende do olhar e da sensibilidade de cada um. Passado esse primeiro aquecimento, iniciamos a visita às instalações: havia uma sala onde era projetado um vídeo, contando um pouco sobre o autor. Essa sala despertou pouco interesse dos pacientes. Numa outra sala, havia uma obra em que toda a sala foi utilizada para a sua montagem: havia um grande vidro preto, dando a impressão de profundidade colocado no chão de uma ponta a outra da sala e ao fundo duas grandes bobinas de papelão que começavam no chão e depois ficavam suspensas, sugerindo algo como um redemoinho, algo que não tem fim ou que não podemos saber onde termina. Os pacientes começaram a circular pela sala e todos ficaram livres para vivenciar a proposta do artista. Foi muito interessante os comentários que iam surgindo a medida que os paciente atravessavam este espelho fixado ao chão : - sentiram dificuldades em atravessar o espelho - sensação de perda do equilíbrio, medo de cair - diziam: é como se estivessem caindo num abismo - como se estivesse entrando numa outra sala, - muito receio em atravessar o chão espelhado, sentindo que era como se houvesse algo que lhe puxava para baixo. Depois de um tempo, conseguiu fazer a travessia ajudada pela terapeuta. Depois que conseguiram fazer essa travessia parecia que tinham conseguido cumprir uma difícil tarefa, que os tornavam mais fortalecidos por terem conseguido ultrapassar os medos e sensações de contato com algo desconhecido suscitada por esta instalação. Tudo parecia muito novo e também estranho para essas pessoas. Parecia que se deliciavam experimentando novas percepções, sensações e possibilidades, como se fossem ampliados os seus limites, possibilitando novas vivências jamais experimentadas e como esse novo assusta e seduz! Outra sala: uma espécie de colchão d’água. No fundo da sala havia também uma tela de projeção em que era passada a travessia de uma pessoa por este colchão. Tudo feito muito devagar como se o artista quisesse mesmo mostrar que podemos funcionar em outra dimensão, quando queremos. As sensações de estarem descobrindo algo era visível. Diziam: a sensação era de flutuação, de leveza , de fluidez, ao mesmo tempo que tinham que manter um certo equilíbrio para poder fazer a travessia, caso contrário poderiam cair. Observamos que eles ficavam muito curiosos em saber o que o artista queria comunicar com aqueles trabalhos e construíam algumas teorias como: na tela, ele mostra como devemos andar nesta superfície, devemos apoiar o pé por inteiro e então podemos até ter a sensação de que estamos ‘’voando’’. Fica bastante evidente que esses contatos possibilitaram, realmente, uma ampliação de suas possibilidades em todos os sentidos. Terminada a visita fomos para uma outra sala, onde seria realizada a oficina. Acompanhados por uma artista plástica e dois monitores. A idéia era que os pacientes pudessem produzir algo com os diferentes materiais que estavam na sala: caixas de papelão, barbantes, plástico bolha, flanelas, fita gomada, papel de seda, fitas coloridas, tesouras, etc. Os pacientes se dividiram em três grupos e começaram a se movimentar e se relacionar com os materiais disponíveis. Cada grupo pode construir uma obra ou se quisermos uma instalação artística. Foi muito interessante observar a movimentação e interesse dos pacientes em produzir algo seu. Houve um grupo que utilizou um grande espaço da sala, fazendo algo que flutuava apoiado por barbantes e fios , essa utilização do espaço já nos diz muito do espaço que esses pacientes sentem que podem dispor nas suas vidas. Outros se limitaram a trabalhar utilizando apenas um canto da sala. Finalizada a oficina, os pacientes se posicionaram em relação aos trabalhos produzidos por seus colegas, interpretando e dizendo o que cada um suscitava neles. Falaram em: -equilíbrio e a falta deste -em espaço (como esse espaço pode ser utilizado e como pode se relacionar com o que já existe no ambiente) -falaram em leveza e flutuação -no quanto que eles gostariam que o seu trabalho pudesse refletir no ambiente. As artistas e monitores estimularam muito nossos pacientes, acolhendo todos os seus comentários com bastante interesse. Fato esse por si só de maior relevância, tendo em vista a tão baixa autoestima apresentada por esses pacientes. -Baixa auto-estima por estarem afastados do trabalho, referência tão fundamental na vida de qualquer ser humano. - Por se sentirem discriminados por estarem com problemas de ordem emocional, enfim por uma série de aspectos que os fazem sentirem-se menor e diferente dos outros.