CMYK CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quarta-feira, 1º de outubro de 2014 • Economia • 9 CONJUNTURA / Decisão de vender lotes da frequência de 700MHz este ano para Correio Econômico por Vicente Nunes / [email protected] Travessia dolorosa ão é o desempenho do mercado financeiro, que vem reagindo negativamente à possível reeleição da presidente Dilma Rousseff, o que desperta a atenção dos agentes econômicos. “Isso é o de menos”, diz o presidente de uma das maiores empresas do país. “A nossa grande preocupação é com uma ruptura na economia real, o que será um desastre para o país”, alerta. Sem nenhuma perspectiva de mudança na política econômica de Dilma, se vitoriosa, o empresariado teme uma onda de desemprego, que levará à queda da renda, ao aumento da inadimplência e ao travamento do crédito, que já anda escasso. Se esse quadro se confirmar, o consumo entrará em colapso, arrastando a produção e afastando de vez os investimentos. “É uma situação desesperadora, que ainda pode ser afastada se a presidente não insistir nos erros”, afirma o mesmo executivo. “Posso garantir: os nervos estão à flor da pele no meio empresarial”, emenda. A sensação que se tem hoje entre empresários e investidores é a mesma ou pior do que a que se viu em 2002, quando havia um temor sobre o que seria um governo do PT. Felizmente, o então candidato Lula cedeu ao bom senso e não só lançou a Carta ao Povo Brasileiro, assumindo o compromisso de manter a estabilidade da economia, como , depois de eleito, reforçou os três pilares da economia: o sistema de metas de inflação, o câmbio flutuante e o ajuste fiscal. Agora, pelo que se depreende do discurso de Dilma, não há mais esse compromisso. A perspectiva é de que as contas públicas continuem se deteriorando, a inflação continue próxima do teto de meta e o câmbio seja usado para que a carestia não extrapole os 6,5%. “Olhando para a frente, vemos um quadro desolador”, admite um técnico do Banco Central, onde o clima é de decepção. Ele conta que não há mais ilusão dentro da instituição. “Não há a menor possibilidade de o governo cumprir a meta de superavit primário deste ano, de 1,9%. Pior: a gastança do governo vai continuar pressionando a inflação e, se o dólar subir mais, não restará outra alternativa que não seja o aumento dos juros”, diz. O BC acreditou que, ao sinalizar uma aproximação com os agentes econômicos, o governo fosse mudar a rota da política econômica. Não foi o que aconteceu. “A situação só piorou. Veja os resultados do Tesouro Nacional em agosto. Mesmo tendo arrecadado R$ 12 bilhões em receitas extraordinárias, ainda computou um rombo de R$ 10 bilhões”, assinala o técnico da autoridade monetária. “Na real, em vez de superavit de R$ 4,7 bilhões de janeiro a agosto, o governo tem um deficit”, afirma. “É por isso que todo mundo está desconfiado. Sozinho, o BC não pode fazer nada”, emenda. A grande pergunta que se faz entre empresários e investidores é: “Até quando a economia vai piorar?” Poucos se arriscam a dizer, diante das incertezas criadas por Dilma, que amplia as chances de vencer no primeiro turno. “A única certeza que temos, neste momento, é de que a travessia para o próximo ano será dolorosa”, reforça um executivo do setor siderúrgico. “Não se pode esquecer que nada do que o atual governo fez para estimular a economia deu certo. A atividade só foi para o buraco e levará tempo para sair dele”, frisa. N A grande preocupação de empresários e investidores é com uma ruptura na economia real, o que será um desastre para o país Lição foi aprendida? » O desânimo do setor produtivo com Dilma Rousseff não surpreende Tony Volpon, diretor de Pesquisas para as Américas da Nomura Securities. Diante dos erros de política econômica cometidos nos últimos anos, ele se pergunta: “Será que ela aprendeu a lição?”. Ele diz acreditar que sim e, caso a presidente obtenha mais quatro anos de mandato nas urnas, a tendência é de ela ser mais amigável ao setor privado. Sacrifício das contas » Para Volpon, a ponte entre Dilma e os empresários e os investidores poderia começar a ser reconstruída com o anúncio do nome do futuro ministro da Fazenda. “Precisa ser um nome forte”, afirma. E questiona: “Até quando a presidente está disposta a sacrificar as contas públicas para proteger o mercado de trabalho, caso a economia mundial não retome as forças?” O economista da Nomura diz mais: “Se o governo não fizer o ajuste necessário na economia, o mercado tratará de fazê-lo. “Nesse contexto, o dólar poderá subir até R$ 2,60, o que derrubará o deficit nas contas externas, dos quase 4% atuais, para 2% do PIB”, prevê. Censura na Funcef » O conselho deliberativo da Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal, decidiu submeter ao Comitê de Ética o diretor de Administração, Antonio Augusto de Miranda e Souza. Justificativa: ele criticou publicamente o nível de interferência do governo nas decisões de investimento da fundação. Para a Funcef, Souza feriu o código de conduta da entidade. A decisão provocou um racha na direção do fundo. fazer caixa frustra governo, que esperava arrecadar até R$ 8,2 bilhões com o negócio Leilão de telefonia 4G rende 30% a menos » SIMONE KAFRUNI pressa de realizar o leilão da frequência de 700 megahertz (MHz) para as operadoras oferecerem serviço de banda larga móvel de quarta geração (4G) saiu caro ao governo, que pretendia fazer caixa para fechar as contas fiscais de 2014. Com quatro participantes na disputa por seis lotes, o ágio ficou em apenas 1% em duas ofertas, e nas outras duas, os vencedores pagaram o preço mínimo. Dois lotes nem sequer foram arrematados por falta de interesse. Com isso, o governo, que esperava arrecadar até R$ 8,2 bilhões no certame, vai levar somente R$ 5 bilhões. As três maiores empresas de telefonia móvel do Brasil, Claro,TIM e Vivo, conseguiram suas licenças nacionais da frequência 700 MHz para operar o 4G. A Claro, do grupo mexicano Telmex (Claro/Embratel/NET), ficou com o primeiro lote, pagando R$ 1,947 bilhão, R$ 20 milhões a mais do que o preço mínimo de R$ 1,927 bilhão. A TIM Participações arrematou o lote 2 com uma oferta igual a da Claro, de R$ 1,947 bilhão, portanto também apenas 1% acima do piso determinado em edital. Com as outras duas concorrentes fora do lance, pois já tinham sido vencedoras dos lotes anteriores, a Telefônica Brasil, que opera a marca Vivo, manteve a estratégia de oferecer sempre o mínimo e conseguiu arrematar o terceiro lote, oferecendo R$ 1,927 bilhão, sem qualquer ágio. A Tecnologia barata Com apenas quatro participantes, ágio ficou em 1% em duas ofertas e preço mínimo nas outras duas O que foi oferecido Na primeira rodada, a Anatel leiloou quatro lotes nacionais e dois regionais » Lotes 1, 2 e 3 — abrangência nacional total » Lote 4 — abrangência nacional subtraídos 87 municípios dos estados de MG, MS, GO e SP e as cidades de Londrina e Tamarana, ambas no Paraná » Lote 5 — 87 municípios dos estados de MG, MS, GO e SP » Lote 6 — cidades de Londrina e Tamarana (PR) Resultado Na primeira rodada, dois lotes não receberam propostas, e na segunda, também não houve oferta » Lote 1 — arrematado pela Claro por R$ 1,947 bilhão, com ágio de 1%. O preço mínimo era de R$ 1,927 bilhão » Lote 2 — arrematado pela TIM por R$ 1,947 bilhão, com ágio de 1%. O preço mínimo era de R$ 1,927 bilhão » Lote 3 — arrematado pela Telefônica Brasil (Vivo) pelo preço mínimo de R$ 1,927 bilhão » Lote 5 — arrematado pela Algar Telecom por R$ 29,567 milhões. O preço mínimo era de R$ 29,560 milhões A operadora regional Algar Telecom optou por fazer oferta apenas no lote 5, em que já opera. A Algar ofereceu R$ 29,567 milhões, praticamente o mínimo previsto no edital da disputa, que era de R$ 29,560 milhões. O total pago pelas operadoras chegou a R$ 5,850 bilhões. Contudo, o governo não arrecadará esse valor. O presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), João Batista Rezende, explicou que o montante de R$ 3,6 bilhões que as operadoras terão que pagar pela limpeza da frequência de 700MHz, hoje ocupada por canais da tevê analógica, seria rateado entre as vencedoras dos seis lotes. Como duas licenças continuarão com a União, o governo terá que assumir uma parcela desse custo. “Como não houve vencedor para o lote 4, teremos que abater dos outros três lotes cerca de R$ 300 milhões de cada, totalizando R$ 900 milhões”, disse Rezende. Com isso, o valor que entra efetivamente para o Tesouro Nacional será de aproximadamente R$ 5 bilhões. A esse montante, Rezende explica que podem ser acrescidos R$ 350 milhões relativos à permissão para as operadoras utilizarem outras faixas, antes estimado em R$ 500 milhões por incluir uma possível vencedora do lote 4, o que não ocorreu. A ausência da operadora Oi no leilão frustrou as expectativas de arrecadação, mas, mesmo assim, o presidente da Anatel demonstrou satisfação com a disputa. “O leilão vai possibilitar uma melhoria importante na qualidade e na capilaridade dos serviços de internet móvel no país”, afirmou. Segundo ele, não há previsão para que os lotes rejeitados voltem a ser ofertados ao mercado. O presidente da Claro, Carlos Zenteno, afirmou que a operadora conseguiu arrematar o lote mais disputado do leilão e está satisfeita com o resultado. “Agora vamos trabalhar para limpar a frequência e entregar o serviço antes do previsto. O prazo máximo é 2018, vamos acelerar o processo”, garantiu. Na avaliação do presidente da TIM, Rodrigo Abreu, o prazo de implementação foi avaliado e está dentro da estratégia da companhia. Antonio Carlos Valente, presidente da Telefônica Vivo, comentou a estratégia da empresa: “A participação de menos concorrentes permitiu que o leilão fosse menos competitivo”, pontuou. Bancários param em todo país » DIEGO AMORIM Os bancários entraram em greve por tempo indeterminado e, enquanto as negociações entre patrões e sindicalistas não avançarem, os clientes terão de ficar atentos. Os bancos deixaram claro que não isentarão ninguém da cobrança de juros, caso pagamentos vençam durante a paralisação. O atendimento em caixas eletrônicos, nos Correios, em casas lotéricas e em outros estabelecimentos credenciados, pela internet ou por telefone não foram afetados. Agências amanheceram ontem fechadas, com adesivos de greve e sindicalistas na porta. A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) informou que movimento alcançou 6.572 agências, em todos os estados, além do Distrito Federal. Após recusar a proposta de reajuste de 7,35% nos salários feita pela Federação Nacional dos Bancos (Febraban), a entidade pediu uma nova rodada de conversa, mas acrescentou que não recebeu resposta. Fique atento! Detalhes e dicas para o consumidor não sofrer perdas durante a greve dos bancários » Os bancos já avisaram que não livrarão os clientes dos juros, caso pagamentos não sejam feitos durante a greve » Verifique com atenção a data de pagamento das contas, para se programar. Não há prazo para o fim da greve » Contas com débito automático não serão afetadas. Devem ser descontadas normalmente das contas correntes » Pagamentos em boleto com Em nota, a Febraban disse confiar na manutenção das negociações para desfecho da convenção coletiva de 2014/2015 e aproveitou para lembrar os clientes de bancos públicos e vencimento durante a paralisação poderão ser negociados com os prestadores de serviço » Procure alternativas para realizar as transações financeiras, como caixas eletrônicos, internet, aplicativo de celular e mesmo por telefone » Serviços bancários em casas lotéricas, agências dos Correios, redes de supermercados e outros estabelecimentos comerciais credenciados não serão prejudicados pela greve privados da existência de “vários canais” para a realização de transações financeiras. Não é em razão da greve, alerta a coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (ProTeste), Maria Inês Dolci, que pagamentos podem ser ignorados. “Nessa situação, a pessoa só pode ser isentas dos juros por atraso caso o serviço desejado seja oferecido única e exclusivamente nas agências”, explicou. A greve foi confirmada em assembleia na noite de domingo. Os bancários querem 12,5% de aumento, o “fim de metas abusivas”, “melhorias das condições de trabalho”, entre outras reivindicações. “Eles têm direito de fazer greve, mas não estava sabendo e acabei prejudicada”, lamentava a desempregada Ana Paula Chagas, 29 anos, moradora de Sobradinho que ontem pegou ônibus para tentar negociar um empréstimo na Asa Sul, mas deparou-se com a agência fechada. A Contraf-CUT avisou que a paralisação poderá se estender para setores mais estratégicos dos bancos. “A greve só não é pior porque hoje em dia faço quase tudo pela internet”, afirmou o correntista e servidor público Juarez Pereira, 47. IPD reforça federalismo Carlos Moura/CB/D.A Press O Instituto de Direito Público (IPD) lançou para uma plateia de secretários de Fazenda e representantes de 12 estados,o Núcleo de Estudos sobre Federalismo e Relações Intergovernamentais. O diretor de Pesquisas e Projetos da instituição, Ricardo MorishitaWada, explicou que serão desenvolvidos estudos sobre financiamento e gestão de políticas socias, controle do endividamento público, regulação e mercados, além da guerra fiscal.“Queremos repensar o federalismo para dar mais qualidade de vida aos cidadãos”, detalhou. Durante o evento, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes avaliou que essas discussões são relevantes diante da necessidade de um novo modelo político institucional. Fundo garante não haver crise » A Funcef informa que não se manifesta sobre assuntos discutidos no conselho deliberativo, pois o colegiado não se manifestou “conclusivamente” sobre o caso de Souza. A fundação garante que não há crise e que vem funcionando “dentro da mais absoluta normalidade”. Para a Associação Nacional dos Participantes da fundação, a decisão do conselho não é democrática e é preciso dar mais transparência aos investimentos realizados com dinheiro dos trabalhadores. Com Antonio Temóteo CMYK