INTERAÇÃO DA RADIAÇÃO COM A MATERIA Prof. André L. C. Conceição DAFIS Curitiba, 24 de abril de 2015 Interação de Radiação Eletromagnética com a matéria Interação da radiação com a matéria Radiação incide em um sistema biológico na forma de um feixe de raios X ou radia Interação Primário com um elétron Fóton é espalhado Radiação de frenagem (A) Elétron absorve energia na forma de energia cinética Ionizações, excitações, quebra de ligações moleculares, calor Alterações químicas (B) (C) Repete-se as possibilidade (A) e (B) Alterações biológicas (D) 1 Interação da Radiação Eletromagnética com a matéria Existem 5 tipos de interação da radiação ionizante com a matéria que deve ser considerada na física radiológica: 1. Efeito Fotoelétrico 2. Efeito Compton (espalhamento inelástico) 3. Produção de pares 4. Espalhamento elástico (espalhamento Rayleigh) 5. Interações fotonucleares 1, 2 e 3 resultam na transferência de energia ao elétron por interação Coulombianas. Interação da Radiação com a matéria • A importância relativa do efeito Compton, efeito fotoelétrico e produção de pares depende de ambos: a energia do fótons (E = h) e o número atómico Z do meio absorvedor. Modos de Interação da Radiação com a matéria Baixo Z Alto Z 2 Coeficiente de atenuação 𝜇 = 𝜎𝑐𝑜ℎ + 𝜎𝑖𝑛𝑐𝑜ℎ + 𝜏 + 𝜅 + 𝐼𝐹𝑁 Interação da radiação com a matéria dℓ N0 𝑑𝑁 = −𝜇𝑑ℓ 𝑁 N 𝑁 ℓ 𝑁0 𝑑𝑁 =− 𝑁 𝐿 𝜇 𝑑ℓ ℓ=0 𝑵 = 𝑵𝟎 𝒆−𝝁ℓ 𝜇 = 𝜇1 + 𝜇2 + 𝜇3 + ⋯ 𝜇𝑛 Exercício Um feixe contendo 103 fótons incide sobre um material cuja espessura é 16 cm e tem coeficiente de atenuação linear igual a 0,10 𝑐𝑚−1 . Determine o número de fótons transmitidos. 202 3 Camada semi-redutora ou HVL HVL: a espessura de um material que atenua o feixe incidente em 50%. 𝑵 = 𝑵𝟎 𝒆−𝝁ℓ 𝐻𝑉𝐿 = 𝑥ℎ = 0,693 𝜇 Exercício Em uma unidade de Co-60 a diferença entre a taxa de exposição a 1 metro da fonte quando está ligada em relação ao momento em que a unidade está desligada é de 2.400.000 vezes. Estime a espessura de chumbo que deveria ser utilizada para termos a mesma taxa de exposição em ambas situações (ligada e desligada), dado o coeficiente de atenuação linear do chumbo em 66 m-1. R: 0,222 m de Pb ou 22 HVL (0,231 m de Pb) Coeficiente de atenuação de massa O que difere estas substâncias? 𝜇𝑎𝑏 = 𝜇 𝜌 Massa específica 4 Efeito Compton Efeito Compton • A descrição do efeito Compton pode ser convenientemente subdividida em dois aspectos: cinemática e seção de choque • A primeira descreve as energias e ângulos das partículas participantes quando o efeito Compton ocorre; a segunda prediz a probabilidade de que a interação por efeito Compton ocorra. • Em ambos aspectos assumiremos que o elétron no qual o fóton incide está livre e inicialmente em repouso. Efeito Compton - Cinemática 5 Efeito Compton - Cinemática • Após a colisão o elétron é espalhado em um ângulo , com energia cinética T e momento p • O fóton é espalhado em um ângulo com uma nova, menor energia h e momento h/c • A solução da cinemática desta colisão é baseda na conservação da energia e do momento • Da conservação da energia temos: T h h Efeito Compton - Cinemática • A conservação do momento na direção do fótons incidente(0°) pode ser expressa como: or h h cos p cos c c h h cos pc cos • A conservação do momento na direção perpendicular à incidência resulta em: h sin pc sin Efeito Compton - Cinemática • Como resultado da substituição para pc, nós temos um conjunto de três equações simultâneas relacionando 5 parâmetrons: h, h, T, , and . h 1 h / m0 c 2 1 cos T h h h h tan cot 1 2 m 2 0c 6 Exercício Calcule a energia do fóton espalhado após interação Compton para um ângulo 𝜑 = 45° e ℎ𝜈 = 50 𝑘𝑒𝑉. E = 48,609 keV Seção de choque Klein-Nishina para efeito Compton • A seção de choque diferencial para um fóton espalhado no ângulo , por unidade de ângulo sólido e por elétron, pode ser escrito como: 2 d e r02 h h h sin 2 d 2 h h h onde h é dada pela equação de Compton • Para baixas energia, como previamente apontado, h h; esta equação torna-se: d e r02 r2 2 sin 2 0 1 cos 2 d 2 2 que é o raio clássico do elétron. Seção de choque Klein-Nishina • A seção de choque Klein-Nishina diminui gradualmente para fótons de alta energia de forma que e (h)-1 • e é independente do número atômico Z uma vez que a energia de ligação dos elétrons foi assumida ser zero. • Assim, a seção de choque K-N por átomo em para um dado Z é escrita como: a Ze 7 Seção de choque Klein-Nishina • A correspondente seção de choque K-N por unidade de massa, /, é chamado de coeficiente de atenuação de massa Compton sendo obtido de: N AZ 2 e (cm /g) A Coeficiente de efeito Compton Coeficiente de efeito Compton 8 Efeito Fotoelétrico Efeito Fotoelétrico • É o efeito mais importante de interação de fótons de baixa energia com a matéria. • Enquanto a seção de choque para o efeito Compton diminui conforme h diminui abaixo de 0,5 MeV, the seção de choque para o efeito fotoelétrico apresenta um grande aumento nessa região, especialmente para materiais com alto Z. Efeito Fotoelétrico - Cinemática E fóton hν T Energia Cinética Eb Energia de Ligação elétrons Se h > Eb Ocorre Efeito Fotoelétrico Se h < Eb Não ocorre o efeito Fotoelétrico • O fóton é totalmente absorvido pelo elétron e desaparece. 9 Efeito Fotoelétrico - Cinemática • A energia cinética entregue ao elétron, independente de seu ângulo de espalhamento , é: T h Eb Ta h Eb • A energia cinética Ta referente ao recolhimento do átomo é aproximadamente zero, justificando o uso do sinal de igualdade ao invés do sinal de aproximado. Efeito Fotoelétrico - Cinemática Resumo • O elétron é ejetado após a interação em um ângulo em relação à direção do fóton incidente, com um momento linear p • Como o fóton foi totalmente absorvido no efeito fotoelétrico, nenhum fóton é espalhado para conservação do momento como acontece no efeito Compton. • No efeito fotoelétrico este papel é assumido pelo átomo, no qual o elétron foi removido. Além disso, embora sua energia cinética Ta seja 0, seu momento pa não pode ser desprezado. Efeito Fotoelétrico – Seção de Choque • A seção de choque por átomo para o efeito fotolétrico, integrada sobre todos os ângulos de emissão do fotoelétron, pode ser escrita como: k a Zn h m (cm 2 /átomo) onde k é uma constante, n 4 para h = 0,1 MeV, aumentando gradativamente para 4,6 em 3 MeV; m 3 para h = 0,1 MeV, diminuindo gradativamente para 1 em 5 MeV 10 Efeito Fotoelétrico – Seção de Choque • Na região de energia h 0,1 MeV e abaixo, onde o efeito fotoelétrico torna-se o mais importante, é conveniente lembrar que: 4 ~ Z h 3 a (cm 2 /átomo) e consequentemente o coeficiente de atenuação de massa para o efeito fotoelétrico é: ~ Z h 3 (cm 2 /g) Coeficiente de atenuação de massa para o Carbono Coeficiente de atenuação de massa para o Chumbo 11 Espalhamento Elástico (Rayleigh) Espalhamento Elástico (Rayleigh) • Espalhamento Elástico ou também denominado espalhamento Rayleigh é chamado de coerente porque o fóton é espalhado pela combinação da ação de todo o átomo. • O evento é elástico no sentido de que o fóton não perde nenhuma fração de sua energia inicial; o átomo move-se apenas o suficiente para conservar seu momento. • O espalhamento Rayleigh não contribui para o kerma ou dose, uma vez que nenhuma energia é entregue a qualquer partícula carregada, nem qualquer ionização ou excitação é produzida. Espalhamento Elástico (Rayleigh) • O ângulo de espalhamento dos fótons depende do número atômico Z e da energia h: 2/3 dos fótons são espalhados em ângulos menores que os exibidos abaixo: Elemento h = 0.1 MeV 1 MeV 10 MeV Al 15° 2° 0.5° Pb 30° 4° 1.0° • O espalhamento Rayleigh tem maior importância prática em baixas energias, onde o ângulo de espalhamento é maior. 12 Espalhamento Elástico (Rayleigh) • A seção de choque atômica para espalhamento Rayleigh é a 2 ~ Z R h 2 (cm 2 /átomo) ou em unidades de massa R ~ Z h 2 (cm 2 /g or m 2 /kg) Coeficiente de atenuação de massa para o Carbono Coeficiente de atenuação de massa para o Chumbo 13 Produção de Pares Produção de Pares • A produção é um processo de absorção em que um fóton desaparece e dá origem a um par elétron-pósitron. • Somente pode ocorrer em um campo de atração Coulombiana, usualmente próximo do núcleo de átomos. – Porém pode também ocorrer, com baixa probabilidade, no campo coulombiano, na eletrosfera. – Este processo é chamado de “produção de tripleto”, porque o elétron que promove a força coulombiana também adquire energia cinética e momento. Assim dois elétron e um pósitron são ejetados do local da interação. Produção de Pares • Para ocorrer a produção de pares é necessário que os fótons tenham energia mínima de 2m0c2 = 1,022 MeV no campo nuclear. • Para o campo na eletrosfera o limiar de 4m0c2 é o necessário para a produção de tripleto, por causa da conservação do momento. 14 Produção de Pares - Cinemática • O fóton incidente h sofre interação Coulombiana fazendo com que toda sua energia quântica seja convertida na criação do par elétron-pósitron com energias cinéticas T- e T+. • A equação da conservação da energia, desprezando a pequena energia cinética transferida ao núcleo é: h 2m0 c 2 T T 1.022 MeV T T Produção de Pares - Cinemática • O elétron e o pósitron não recebem necessariamente a mesma energia cinética, mas a energia média entregue a ambos é: T h 1.022 MeV 2 • Para valores de h bem acima do limiar de energia 2m0c2, são fortemente direcionados para a direção do fóton incidente. Produção de Pares – Seção de choque • A seção de choque por átomo para a produção de pares no campo nuclear é dada por: a d a 0Z 2 T h 2 m c 0 2 0 P dT h 2m0 c 2 T 0Z 2P 0 Z 2 P d 2 0 h 2 m c 0 1 • Evidentemente a é proporcional ao quadrado do número atômico. 15 Produção de Pares – Seção de choque • A dependência de a com a energia h é grosseiramente logarítmica através do termo𝑃 , tendendo a tornar-se constante independente de h para energias muito altas. • O coeficiente de atenuação de massa para a produção de pares é obtida por: N a A A (cm 2 /g) • Como Z/A é praticamente constante (exceto para o hidrogênio) , / Z Produção de Tripleto • Na cinemática da produção de pares no campo da eletrosfera (isto é, a produção de tripleto), o fóton divide sua energia entre o par elétron-pósitron e o elétron local. • A conservação da energia torna-se: h 1.022 MeV T T1 T2 e a energia cinética média das três partículas: T h 1.022 MeV 3 Produção de Pares – Seção de choque • Para muitos propósitos em física radiológica e dosimetria, a seção de choque total é dada pela soma das seções de choque para produção de pares e para produção de tripletos, mas ainda chamada seção de choque para produção de pares. pares nuclear eletrosfera 16 Coeficiente de atenuação de massa para o Carbono Coeficiente de atenuação de massa para o Chumbo Interações Fotonucleares 17 Interações Fotonucleares • Em uma interação fotonuclear um fóton de alta energia (excedendo alguns MeV) excita um núcleo, que então emite um próton ou um neutron. • Os eventos (, p) contribuem diretamente para o kerma, mas ainda representam somente 5% daquele devido à produção de pares. • As interações (, n) tem maior importancia prática porque os neutrons produzidos podem ocasionar problemas para a radioproteção. • Ocorre principalmente em geradores de raios X de alta energia (Aceleradores lineares, betatrons, ciclotrons, etc), onde elétrons são acelerados e atingem energia de 10 MeV ou mais. Coeficiente de atenuação de massa • O coeficiente de atenuação total de massa para interações de radiação ionizane (raios X e raios ray), desprezando as interações fotonucleares pode ser escrita, em unidades de cm2/g ou m2/kg, como: R em que / é a contribuição do efeito fotoelétrico, / do efeito Compton, / da produção de pares e R/ do espalhamento Rayleigh. Coeficiente de atenuação de massa para o Carbono 18 Coeficiente de atenuação de massa para o Chumbo Interação de partícula carregada com a matéria Interação de partícula carregada Ao contrário das partículas não-carregadas, as partículas carregadas ao passarem pela matéria, interagem (via interação coulombiana) com um ou mais elétrons ou também com o núcleo de praticamente todo átomo por onde passa. Muitas destas interações transferem apenas uma pequena parcela da energia cinética da partícula incidente, de modo que é conveniente pensar que a perda de energia cinética por parte da partícula incidente é gradual. 19 Tipos de interação Os diferentes tipos de interação coulombiana podem ser caracterizados em termos do parâmetro de impacto clássico (b) e do raio atômico (a): • Colisões Fracas (b >> a) • Colisões Fortes (b ~ a) • Interações com o campo nuclear interno (b << a) Colisões Fracas (b>>a) Quando uma partícula carregada passa por um átomo a uma distância considerável, a influencia do campo de força de Coulomb afeta o átomo como um todo produzindo distorção, excitação para níveis maiores de energia e, muitas vezes ionização (através da ejeção de um elétron da banda de valência). Neste caso, a energia líquida transferida é pequena (alguns poucos eV). Colisões Fortes (b~a) Quando o parâmetro de impacto é da ordem das dimensões atômicas, a partícula carregada interage com apenas um elétron atômico, produzindo ionização (geralmente nas camadas mais internas). A energia transferida ao elétron ejetado, chamado raio δ, é significativa e portanto, estes têm energia suficiente para iniciar um caminho próprio de interações. A quantidade de energia entregue pelas partículas carregadas primárias é compatível nos dois processos de colisão. 20 Interações com o campo nuclear Este tipo de interação é mais importante para elétrons e pósitrons. As interações com o campo nuclear externo se dividem em elásticas e inelásticas, sendo as elásticas são as mais prováveis. Nesta interação, o elétron muda sua direção de propagação transferindo pouca energia e não emite radiação nem excita o núcleo. Porém, em 2-3% das vezes o elétron interage inelasticamente com o núcleo, emitindo um fóton (cuja energia pode ser de até 100% da energia do elétron), chamado bremsstrahlung. Stopping Power de massa O stopping power de massa, 𝑆 𝜌, é o valor esperado da taxa de energia perdida por unidade de caminho (𝑥) por partícula carregada do tipo (𝑌) e energia cinética (𝑇), num material de número atômico (𝑍). 𝑆 1 𝑑𝑇 = 𝜌 𝜌 𝑑𝑥 Unidade: 𝐽. 𝑚2 . 𝑘𝑔−1 𝑇,𝑌,𝑍 Stopping Power de massa Como a perda de energia da partícula carregada pode se dar por colisões (interações fracas ou fortes) ou por perdas radiativas, pode-se escrever 𝑆 𝜌 como uma soma de componentes independentes: 𝑆 1 𝑑𝑇 = 𝜌 𝜌 𝑑𝑥 Onde: 1 𝑑𝑇 𝜌 𝑑𝑥 𝑅 1 𝑑𝑇 𝜌 𝑑𝑥 𝐶 + 𝐶 1 𝑑𝑇 𝜌 𝑑𝑥 𝑅 é o stopping power devido a colisões e é o stopping power devido a perdas radiativas. 21 Alcance O alcance ℛ de uma partícula carregada de um dado tipo e energia em um determinado meio representa o valor esperado da distância que a partícula percorrerá até ser completamente freada (excluindo movimento térmico). 𝑇0 ℛ= 0 𝑑𝑇 𝑆𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑇 Transferência Linear de Energia (LET) A Transferência Linear de Energia (𝐿∆ ) ou também chamado Stopping Power Restrito representa a fração da energia perdida por uma partícula carregada ( 𝑑𝐸∆ ) devido a colisões ao atravessar uma material por unidade de caminho 𝑑ℓ, excluindo a soma das energia cinéticas de todos os elétrons liberados com energia cinética maior que ∆, como por exemplo os raios 𝛿 que perderão sua energia longe do local de origem. 𝑑𝐸∆ 𝐿∆ = 𝑑ℓ A transferência linear de energia tem grande importância em aplicações de radiação em sistemas biológicos, uma vez que os danos biológicos microscópicos estão relacionados à energia depositada localmente ao redor do caminho da partícula. Interação de partícula carregada 22