BC0209–Fenômenos Eletromagnéticos Terceiro quadrimestre de 2013 Prof. José Kenichi Mizukoshi Aula 15 (versão 08/01/2014) Lei da indução de Faraday amperı́metro ■ Considere um circuito formado por uma espira de fio conectada a um amperı́metro. Conforme observados por M. Faraday em 1831 e por J. Henry, aproximadamente na mesma época, uma corrente elétrica é induzida no circuito quando há o movimento do ı́mã em relação à espira. I ➠ uma corrente elétrica é induzida em um circuito quando o campo magnético variar com o tempo. Aula 15 I 2 / 23 Lei da indução de Faraday ■ Considere agora um outro aparato, com o ı́mã sendo substituı́do por uma espira conectada a uma bateria. Mantendose as duas espiras em repouso, o ponteiro do amperı́metro deflete momentaneamente quando a chave é fechada ou aberta. ➠ Uma corrente elétrica é induzida no circuito secundário quando há variação de corrente elétrica no circuito primário. ■ Aula 15 Em ambos os experimentos, uma fem é induzida em um circuito quando o fluxo magnético através da superfı́cie limitada pelo circuito varia com o tempo. 3 / 23 Lei da indução de Faraday ■ Os resultados anteriores podem ser explicados pela lei da indução de Faraday, a qual afirma que “A intensidade da fem induzida em um circuito é igual à taxa com que o fluxo magnético que o atravessa varia com o tempo“. Matematicamente, Aula 15 Z dΦB d ~ · dA ~ = B |E| = dt dt 4 / 23 Lei de Lenz ■ O sentido (sinal) da fem induzida é determinado pela lei de Lenz, cujo enunciado é: “A polaridade da fem induzida em uma espira é tal que produz uma corrente cujo campo magnético gerado por ela se opõe à variação do fluxo magnético através da espira, na tentativa de manter o fluxo original.” ■ Levando-se em conta a lei de Lenz, a lei de Faraday é dada por Z dΦB d ~ · dA ~ E =− =− B dt dt ~ dA ~ é ■ De acordo com a nossa notação, o sentido de dA determinado através da “regra da mão direita”. 1111 0000 0000 1111 0000 1111 I Aula 15 E 5 / 23 Lei da indução de Faraday: exemplo Ex. 1 Considere uma espira de raio r = 0,32 m e resistência R = 2,5 Ω, paralela ao plano xy, locali~ = Bz k̂, zada numa região com campo magnético B tal que Bz (t) = −4,0 − 5,6t + 2,2t2 ~ B y x onde t é dado em segundos e Bz em tesla. Determine a intensidade e o sentido da corrente na espira em t = 1 s e t = 2 s. Solução ■ ~ = −dAz k̂, com dAz > 0 (ou seja, aponta para dentro da Adotando dA página) e sabendo-se que a área da espira é constante, pela lei de Faraday Z Z dB d z 2 dBz ~ ~ E =− B · dA} = dAz ⇒ E = πr {z | dt dt dt | {z } = −Bz dAz = πr2 Aula 15 6 / 23 Lei da indução de Faraday: exemplo dBz ■ Como = −5,6 + 4,4t, temos que dt E = πr2 (−5,6 + 4,4t) dBz < 0). ■ Para t = 1 s, obtemos E = −0,39 V (E < 0, pois dt ~ (para dentro da página), pela ◆ De acordo com a nossa escolha de dA regra da mão direita o sentido da fem (e portanto da corrente) seria no sentido horário. Como E < 0, conclui-se que a corrente é no sentido anti-horário. O seu valor absoluto é dado por |E| 0,39 I= = R 2,5 Aula 15 ⇒ I = 0,16 A 7 / 23 Lei da indução de Faraday: exemplo ■ Podemos conferir o sentido da corrente através da lei de Lenz. A variação do fluxo magnético com o tempo é dada por dΦB dBz = −πr2 dt dt Para t = 1 s ela é positiva, ou seja, há um aumento do fluxo para dentro da página. No intuito de conter esse aumento, surge na espira uma corrente induzida, a qual produzirá um campo magnético no sentido para fora da página. Pela regra da mão direita, essa corrente precisa estar no sentido anti-horário. ■ Para t = 2 s, obtemos E = 1,03 V. Segue que E I= R ⇒ I = 0,41 A Como E > 0, conclui-se que a corrente está no sentido horário. Aula 15 8 / 23 Lei da indução de Faraday: exemplo ■ Aula 15 O sentido da corrente induzida é determinado pelo sentido da mudança do ~ campo (a qual muda o fluxo magnético). Observa-se que para 0 ≤ t . 3 s, B aponta sempre para dentro da página, no entanto nesse intervalo de tempo o ~ dB sentido (sinal) de muda. dt 9 / 23 A fem de movimento ■ Considere um condutor reto de comprimento ℓ, deslocando-se com velocidade constante em uma região com campo magnético uniforme. Os elétrons praticamente livres do condutor sofrem uma força magnética ~ B F~E F~B ~ E ~v ~ F~B = (−e)~v × B na direção vertical, no sentido para baixo. ■ Devido à ação de F~B , elétrons migram para a extremidade inferior da barra, o que resulta no acúmulo de cargas negativas nessa região e o acúmulo de cargas positivas na extremidade oposta. Como consequência, surgirá um ~ dentro do condutor, fazendo com que os elétrons sintam a campo elétrico E força elétrica para cima, dada por ~ F~E = (−e)E Aula 15 10 / 23 A fem de movimento ■ Na situação de equilı́brio, tem-se que F~E + F~B = 0 ⇒ eE − evB = 0 Como o campo elétrico é uniforme, Z ~ · d~ℓ = Eℓ ∆V = − E ⇒ ⇒ E = vB ∆V = Bℓv ➠ Uma diferença de potencial é mantida entre as extremidades da barra enquanto o condutor está se deslocando através do campo magnético. Aula 15 11 / 23 A fem de movimento: exemplos Ex. 2 Considere uma barra condutora de comprimento ℓ girando com uma velocidade angular constante ω em um ~ perpendicular à barra. campo magnético uniforme B, Obtenha a diferença de potencial entre as extremidades da barra. ω ~ B ~v Solução ■ Para um segmento de barra de comprimento dr e velocidade v perpendicular ao campo magnético, tem-se que (veja resultado da pág. anterior) dV = Bvdr Como v = ωr, a diferença de potencial entre as extremidades da barra é Z Z Z ℓ Bωℓ2 rdr ⇒ ∆V = ∆V = dV = Bωrdr = Bω 2 | 0 {z } = ℓ2 /2 Aula 15 12 / 23 A fem de movimento: exemplos Ex. 3 Considere a situação em que a barra condutora faz parte de um circuito fechado. ~ B A barra pode deslizar sem atrito sobre dois trilhos condutores paralelos e fixos, cujas extremidades à esquerda estão conectadas por um fio condutor com uma resistência R. F~B Supondo-se que a barra se desloque com velocidade ~v , sob ação de uma força aplicada F~apl para à direita, obtenha a corrente induzida no circuito. ~v F~apl I y x Solução ■ Aula 15 Conforme visto, surgirá uma diferença de potencial ao longo de um condutor se deslocando em uma região com um campo magnético. Contudo, desta vez ocorre a indução de uma corrente elétrica, pois há um circuito fechado. 13 / 23 A fem de movimento: exemplos ■ ~ no sentido de B, ~ a fem induzida é dada por Tomando dA Z dx d d ~ ~ B · dA = − (Bℓx) = −Bℓ E =− dt dt dt Como ■ dx = v, temos que dt E = −Bℓv Sabendo-se que a resistência do circuito é R, a corrente induzida será |E| I= R ⇒ Bℓv I= R ~ foi escolhido para dentro da página, ◆ Como E < 0 e o sentido de dA segue que a corrente induzida será no sentido anti-horário. Aula 15 14 / 23 A fem de movimento: exemplos Obtenha as potências fornecida pela força aplicada e a dissipada no resistor. Solução ■ Como há corrente na presença de um campo magnético, os lados da espira experimentam forças magnéticas. Em particular, na barra móvel atua uma força magnética ~ B F~B F~B = −IℓB ı̂ F~apl Se a barra estiver se movendo com velocidade constante ~v , temos que F~B + F~apl = 0 ■ ⇒ I IℓB = Fapl Revisão: potência instantânea de uma partı́cula sob ação de uma força F~ , com velocidade ~v : dW F~ · d~r d~r ~ P= = =F· dt dt dt Aula 15 ~v ⇒ P = F~ · ~v 15 / 23 A fem de movimento: exemplos ■ A potência instantânea fornecida pela força aplicada é dada por Papl = Fapl v = IℓBv Utilizando a corrente encontrada na p. 14, obtemos Papl = ■ Bℓv Bℓv R ⇒ Papl B 2 ℓ2 v 2 = R Por outro lado, a potência dissipada no resistor é dada por Bℓv PR = Ri = R R 2 2 ⇒ B 2 ℓ2 v 2 PR = R ou seja, é igual a potência fornecida pela força aplicada. Aula 15 16 / 23 A fem de movimento: exemplos ■ A potência fornecida pela força aplicada pode ser escrita como Papl = IBℓv = I|E| que é a potência fornecida pela fem induzida. Aula 15 ■ Como a potência é energia transferida por unidade de tempo, interpretamos os resultados acima da seguinte forma: a energia fornecida para puxar a barra através de uma força F~apl (possivelmente uma energia mecânica), é transformada em energia eletromagnética (energia fornecida pela fem induzida ao circuito) e posteriormente transformada em energia térmica através do efeito Joule no resistor. ■ Resumindo, toda a energia externa transferida ao circuito é dissipada, portanto a barra se moverá com velocidade constante. 17 / 23 A fem de movimento: exemplos Ex. 4 Considere novamente o sistema do exemplo anterior, onde uma barra de massa m e comprimento ℓ desloca-se sobre dois trilhos paralelos na presença de um campo magnético uniforme, apontando para dentro do plano da figura. Sabendo-se que desta vez não exista uma força externa aplicada sobre a barra, encontre a sua velocidade em função do tempo, se ela for solta no instante t0 = 0 com velocidade ~vi para à direita. ~ B F~B ~vi y x I Solução ■ Aula 15 Similarmente ao exemplo anterior, o aumento de fluxo do campo magnético irá induzir uma fem dada por Z d ~ ~ B · dA = Bℓv |E| = dt 18 / 23 A fem de movimento: exemplos ■ A corrente induzida é dada por |E| Bℓv I= = R R ◆ De acordo com a lei de Lenz, a corrente elétrica está no sentido anti-horário. ■ Força resultante sobre a barra: F~res = m~a = F~B onde a força magnética é dada por 2 ℓ2 v B ı̂ F~B = −IℓB ı̂ = − R F~B B 2 ℓ2 v Portanto, ~a = =− ı̂ = ax ı̂ m mR Aula 15 19 / 23 A fem de movimento: exemplos dv ■ Como ax = , segue que dt B 2 ℓ2 v dv =− dt mR dv B 2 ℓ2 =− dt v mR ⇒ ⇒ Z Z dv B 2 ℓ2 t dt =− mR 0 vi v | {z } | {z } v =t = ln v v vi Logo, v vi B 2 ℓ2 t v ln = − vi mR 2 2 ⇒ v(t) = vi e ℓ t − BmR t Aula 15 20 / 23 Aplicação da lei de Faraday: gerador de corrente alternada ■ ■ A figura ao lado mostra uma representação pictórica de um gerador de corrente alternada. Bobina Anéis de contato As fontes externas de rotação podem ser e.g. a queda d’água em uma usina hidrelétrica ou o vapor de água que gira as pás de uma turbina. Fonte externa de rotação ■ Supondo-se que a bobina possui N espiras enroladas, todas com a mesma área A e se a velocidade dθ angular = ω for constante, a fem induzida na dt bobina será dada por =A z Z }| { Z d d ~ ~ B · dA} = −N B cos θ dA E = −N {z | dt dt Circuito externo Escovas ~ B ~ dA ω = B cos θdA Aula 15 21 / 23 Aplicação da lei de Faraday: gerador de corrente alternada ■ Como dθ = ω = constante dt Logo (tomando θ0 = 0), E = −N BA(−sen ωt) ⇒ ⇒ θ = θ0 + ωt d (ωt) dt E =N {z } sen ωt | BAω = Emax O gráfico ao lado exibe o comportamento da fem induzida em função do tempo. ■ Se a resistência no circuito é R, a corrente induzida será I= Aula 15 E R ⇒ I(t) = N BAω sen ωt R 22 / 23 Referências Aula 15 ■ R. A. Serway, e J. W. Jewett Jr., Princı́pios de Fı́sica, Vol. 3, Cengage Learning; ■ D. Halliday, R. Resnick e K. S. Krane, Fı́sica, Vol. 3, LTC; ■ H. D. Young e R. A. Freedman – Sears e Zemansky, Fı́sica III: Eletromagnetismo, Pearson Addison Wesley. 23 / 23