China - Um País e Dois Sistemas "Bush defende uma China única, mas ajudará Taiwan a se defender de Pequim" (CNN português, 25 abr. 2001) A informação acima pode suscitar algumas dúvidas que nos levem a questionar: • Existem duas Chinas? • Taiwan nãp é um "tigre asiático"? Por que então a China considera Taiwan apenas uma província rebelde? Essas questões encontram justificativa na longa disputa travada entre nacionalistas e comunistas pelo poder na China, que durou de 1927 até 1949, com apenas uma trégua para expulsar os japoneses, o inimigo comum, do Norte do país, na década de 1930. Vitoriosos, os comunistas, liderados por Mão Tse-tung, proclamaram a República Popular da China, que ocupa a porção continental e está em terceiro lugar entre os maiores países do mundo. Derrotados, os membros do Partido Nacionalista do Kuomintang, cujo líder era Chang Kaichek, refugiaram-se na ilha de Formosa ou Taiwan, a alguns quilômetros do litoral chinês, onde estabeleceram a República da China Nacionalista, que adotava o modo de produção capitalista. Desde então, o governo chinês considera Taiwan uma "província rebelde", o que causa constantes atritos entre as duas nações. Dentro da política do cordão sanitário, para impedir a expansão socialista na Ásia, os Estados Unidos patrocinaram o Ingresso da China Nacionalista na ONU, onde esta permaneceu até 1971, quando se retirou em protesto à admissão da República Popular da China na organização. Há algum tempo, Taiwan vem recusando propostas da China para a sua reintegração ao país, com base na máxima "um país, dois sistemas", ou seja, preservando sua economia capitalista, como aconteceu com Hong Kong, devolvido pêlos ingleses em 1997. Essa posição da China insular aumenta cada vez mais a tensão entre as "duas" Chinas. O Grande Timoneiro Após a Revolução Chinesa (1949), Mão Tse-tung, o Grande Timoneiro na condução do país, instaurou um regime totalitário controlado pelo Partido Comunista Chinês, do qual era secretário-geral. A princípio, adotou o modelo soviético de economia planificada, cujos principais pontos foram: a instalação de fazendas coletivas, que receberam o nome de comunas populares na economia agrária, e o controle do Estado sobre os meios de produção. Na época, a população chinesa, constituída de 540 milhões de habitantes, era predominantemente rural. Foi apenas a partir de 19 5 7 que o governo chinês resolveu investir na indústria, criando toda a infra-estrutura necessária para a instalação de um grande parque industrial. As indústrias de base e bélica foram prioridades no projeto denominado "Grande Salto à Frente". O plano fracassou, trazendo os mesmos problemas enfrentados mais tarde pela exURSS: baixa produtividade e pouca competitividade no mercado externo. Outro fator, a Revolução Cultural (1966-1976), acabou por juntar o caos político à crise econômica. A Revolução Cultural perseguiu pessoas, impôs os pensamentos de Mao que estavam expressos no Livro Vermelho e colocou o país no isolamento em escala internacional. Afastados da URSS desde 1960, devido à disputa pela hegemonia nuclear no bloco socialista, os chineses romperam definitivamente com os soviéticos em 1965. Isolada após esse rompimento no mundo da guerra fria, a China cedeu às tentativas de aproximação dos Estados Unidos. Em 1972, o presidente Richard Nixon visitou o país. Nesse mesmo ano, a Republica Popular da China ingressou no Conselho de Segurança da ONU. O Grande Timoneiro morreu em 1976. Seu substituto, Deng Xiao Ping, realizou uma nova "revolução chinesa", a revolução para a modernidade. Economia socialista de mercado A China adotou mecanismos de economia de mercado, isto é, de modo de produção capitalista, tendo o cuidado de não abrir mão do regime totalitário severamente controlado pelo Partido Comunista Chinês. O processo de abertura econômica na China começou em 1978. Para contornar os problemas do país, o dirigente Deng Xiao Ping resolveu introduzir mudanças na economia, como a iniciativa privada, ao mesmo tempo que permitia a entrada do capital estrangeiro, para não perder a corrida pêlos mercados mundiais, que estavam sendo tomados pêlos seus vizinhos, Japão e tigres asiáticos, além dos países europeus e dos Estados Unidos. No entanto o governo chinês nunca abriu mão da ditadura, porque a abertura política não estava em seus planos. O mundo teve uma prova disso por ocasião da visita de Mikhail Gorbachev a China em 1989. Há muito os estudantes chineses protestavam contra a corrupção no governo e reivindicavam uma maior abertura política. Animados pela glasnost dos soviéticos, inúmeros jovens saíram às ruas, em Pequim, pedindo liberdade política. A resposta do governo foi uma dura repressão com tropas armadas e tanques que massacraram mais de 2 mil pessoas. O episódio ficou conhecido como o Massacre da Praça da Paz Celestial, local do confronto. As reformas de DengXiao Ping Deng Xiao Ping começou pela agricultura, transformando o mercado de produtos agrícolas no país: • Foram extintas as comunas populares,fazendas coletivas da época de Mão Tse-tung. • Os agricultores receberam permissão para vender a produção após entregar a parte que cabia ao Estado, criando um pequeno mercado consumidor. • O povo recebeu subsídios para comprar produtos agrícolas e ativar o mercado desses produtos. • Criou-se o trabalho assalariado no campo, dando condições ao camponês de tornar-se consumidor. Essas medidas trouxeram como consequência o aumento da produtividade e o surgimento de uma abastada classe de agricultores. A abertura no setor industrial, porém, só começou na década de 1980. Ao permitir a entrada de capital estrangeiro, o governo possibilitou a instalação de empresas de capital misto. As empresas estatais enfrentaram, pela primeira vez, o peso da concorrência. Foram criadas as Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), verdadeiros "oásis capitalistas", onde capital, experiência e tecnologia estrangeiros eram muito bem-vindos. As exportações tornaram-se prioridade do governo. No entanto, a principal atração para os capitais estrangeiros era a barata e disciplinada mão-de-obra chinesa. Em 1997,a China recebeu Hong Kong,que desde 1842 pertencia ao Reino Unido, aumentando ainda mais seu poder econômico, que desde a década de 1980 já vinha crescendo cerca de 10% ao ano. Nesse mesmo ano, morria o artífice da modernização da China, Deng Xiao Ping. Seu substituto, Jiang Zemin, começou as negociações para o ingresso da China na Organização Mundial do Comércio (OMC}, o que se concretizou em 2001. Em 1998, a China sofreu com a crise que afetou todo o mercado do Pacífico, do qual ela faz parte. Recuperou-se em 1999, alcançando um crescimento econômico de 1% nesse ano. Desde então a economia chinesa se mantém estável. O outro lado do dragão Terceiro país do mundo em extensão (9 536 499 km2) e campeão absoluto em população (1,3 bilhão de habitantes em 2001), a China é um país de muitas faces. As mudanças econômicas que levantaram a economia chinesa também trouxeram alguns problemas. As Zonas Econômicas Especiais, beneficiadas por essa abertura, ocupam uma pequena parcela do litoral do território chinês, ao passo que a maior parte da população está concentrada nas áreas rurais do interior do país. Esse fato fez com que a riqueza se localizasse em alguns pontos, o que aumentou as desigualdades regionais já existentes e as migrações internas. O desemprego, que não era motivo de preocupação na economia planificada, passou a ser um problema crescente nessa nova fase, pois as indústrias localizadas nas ZEEs não conseguiam absorver toda a mão-de-obra disponível no país. Os direitos humanos não são respeitados na China. Prisões de dissidentes, perseguições a religiosos, execuções sem julgamento adequado de presos políticos e criminosos comuns são frequentes no país. Além disso, a China desde 1950 domina politicamente o Tibete e reprime duramente o movimento separatista da província muçulmana de Xinjiang, no oeste do país. Potência nuclear, a China tem atualmente como principal ponto de tensão as relações com Taiwan, que os chineses pretendem reintegrar como província ao seu território. Principais regiões naturais chinesas China ocidental, onde estão as províncias de Sin-kiang, a Mongólia Interior e o Tibete. Marcada por climas desérticos, semi desérticos e montanhosos, é a parte menos populosa e menos industrializada do país. Além de ser rica em recursos minerais, a China ocidental possui áreas irrigadas para a agricultura. China oriental, que compreende a Mancharia e as Planícies Orientais. O clima nessa região varia de norte para sul, de temperado continental a temperado oceânico, subtropical e de monções. As Planícies Orientais são formadas por terras férteis, compostas de sedimentos amarelos denominados loess, e atravessadas pêlos principais rios chineses - o Yang-tsekiang e o Huang-ho. Rica em recursos minerais é a parte mais desenvolvida do país. Aí se concentram as áreas industrializadas e estão localizadas as Zonas Econômicas Especiais. A China oriental abriga 90% da população chinesa. Fonte: Geografia/Lúcia Marina e Tércio