Atenção em promoção de saúde bucal Clotilde Teixeira1 Mirella

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Atenção em promoção de saúde bucal
Clotilde Teixeira1
Mirella Giongo
João P. Bittencourt
Marcia Torres
Elisete Casotti
Coordenação de Saúde Bucal da Superintendência de Saúde Coletiva
Introdução
Ampliando o olhar
O princípio da integralidade que rege a oferta de serviços do SUS não se
traduz só pelo atendimento da doença nas diferentes especialidades e níveis de
complexidade, mas no cuidado que se antecipa às doenças, que promove e recupera
a saúde. Respeitar este princípio significa planejar a atenção com o cuidado de não
a segmentar nos diversos setores ou programas do serviço; nem tampouco dissociar
o usuário da comunidade na qual se insere.
A odontologia, historicamente, atendeu a uma demanda desvinculada de
qualquer estratégia de integralidade e integração setorial e esteve muito distante
de qualquer possibilidade de ação multi/interdisciplinar. A ampliação dos direitos
de cidadania, a mudança do perfil demográfico e epidemiológico da população e as
evidencias de que os problemas bucais – até então tratados como independentes da
condição sistêmica dos indivíduos – são variáveis, que levaram à necessidade de
redefinição do papel do dentista e da programação em Saúde Bucal.
Atenta a essa necessidade de abordagem na assistência prestada à população,
a Coordenação de Programas de Saúde Bucal da Secretaria Municipal de Saúde – RJ
(CSB/SMS-RJ), vem apresentando e incentivando propostas de atenção
interprogramática com ações interdisciplinares.
Objetivo
Onde queremos chegar
O objetivo deste trabalho é de aproximar e incorporar a odontologia às demais
áreas da saúde, numa perspectiva de promoção, prevenção e cuidado, permitindo
trocas e construções de conhecimentos, colaborando desta forma para a
integralidade da atenção. Partindo da proposta de acolhimento e extensão de
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cobertura à população adulta, está sendo desenvolvida uma metodologia de
capacitação e acompanhamento, baseada na ação programática em saúde e nas
atividades coletivas já existentes nos serviços de saúde. O dentista então sai da
cadeira, para participar junto com os outros profissionais de saúde dos grupos. Esta
nova abordagem requer do profissional de saúde bucal uma nova atitude, diante das
necessidades de saúde da clientela. Desta forma, não se enfoca mais unicamente a
boca, e sim atenção ao usuário, que antes de ser um doente é um cidadão, com
sua história, sua cultura e seu conhecimento de vida, que deve ser respeitado e
avaliado – a partir de critérios sociais, epidemiológicos e clínicos – acolhido e
acompanhado.
Assim como nas unidades básicas, nas unidades de média e alta complexidade
estão sendo implantadas ações de promoção de saúde ao paciente internado. Com
bases no princípio da integralidade e na ação interdisciplinar, entende-se que a
assistência em saúde bucal no leito, deve ser incorporada à rotina diária do hospital,
possibilitando desta forma a criação de um espaço privilegiado de promoção,
prevenção e cuidado em saúde bucal, como também um espaço de disseminação e
troca de informações em saúde entre as equipes de enfermagem, médica e
odontológica, aumentando assim o potencial da unidade em gerar/recuperar saúde
e minimizar e ou eliminar os agravos oriundos das doenças bucais.
Metodologia
Fazendo acontecer - o dentista saindo da cadeira
O primeiro passo para a construção desse caminho, foi a ampliação de
cobertura da Saúde Bucal, estendendo-se a atenção a clientelas até então não
prioritárias (adolescentes, adultos e idosos). Em paralelo, amplia-se também o
quantitativo de profissionais de Saúde Bucal da Secretaria Municipal de Saúde do Rio
de Janeiro (SMS-RJ).
Diante deste novo quadro, grandes desafios foram lançados, dentre eles o de
reorganizar a rede para o acolhimento a uma demanda ampla e até então excluída
da atenção à Saúde Bucal. Para o alcance das metas, um novo conjunto de
atribuições foi solicitado ao CD (Cirurgião Dentista) da Unidade de Saúde, chamandose de CD- Promotor de Saúde o profissional com este novo perfil.
Conjunto de atribuições do profissional de Promoção da Saúde
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Realizar o acolhimento das diversas demandas;
Realizar atividades componentes do Procedimento Coletivo (PC);
Participar dos grupos já existentes na unidade;
Discutir com os participantes dos grupos e profissionais envolvidos as
necessidades de intervenção assistencial e as prioridades, considerando os riscos
sociais e sistêmicos, contemplando assim, o princípio da equidade;
Controlar o fluxo de encaminhamento (dos pacientes em procedimentos
coletivos) ao tratamento clínico e/ou de retorno, de acordo com o risco e atividade
de doença;
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Realizar as revisões de manutenção dos pacientes em alta, fora da cadeira
odontológica, de forma a descongestionar o acesso as ações curativas no
consultório;
Responsabilizar-se pela atenção e cuidado ao paciente internado na unidade
hospitalar.
Orientações metodológicas para o desenvolvimento da ação:
No ambulatório
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Identificar e conhecer (objetivos, metas e metodologias) os programas
implantados na Unidade e suas rotinas;
Fazer mapeamento das atividades coletivas identificando profissionais envolvidos
nas mesmas;
Discutir com a equipe de saúde bucal a participação dos CDs nas atividades
coletivas, integrando esses profissionais a equipe dos programas, para
desenvolvimento de ações interdisciplinares;
Planejar a participação da equipe de saúde bucal junto aos programas
consolidados na Unidade, com propostas de acolhimento, acompanhamento e
fluxo desses pacientes já inscritos nos demais programas;
Encaminhar à Coordenação de Saúde Bucal, quando solicitado, relatório
identificando o profissional responsável pela atenção programática na Unidade e
dos profissionais envolvidos nas atividades, apresentando planejamento de ação
da saúde bucal, seguindo os passos sugeridos no item anterior.
No leito
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Identificar na rotina de assistência quais os cuidados prestados e/ou orientações
realizadas em relação à saúde bucal dos pacientes internados, bem como
profissionais envolvidos nessas atividades;
Realizar levantamento do quantitativo de leitos, perfil de morbidade,
distribuição/localização espacial dos pacientes e tempo médio de permanência,
por clínica (dados encontrados no setor de planejamento);
Identificar, a partir do perfil de cada clínica, necessidades de saúde dos pacientes,
orientando o planejamento de ações.
Buscar integração e parceria com equipe de enfermagem e equipe médica da
rotina, a fim de estabelecer um fluxo para integração dos profissionais da saúde bucal
na atenção ao paciente, estabelecendo trocas de conhecimento, permitindo assim a
ação interdisciplinar.
Atividades a serem executadas com os pacientes internados
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Atividade educativa;
Entrega de kits (escova e pasta de dente, fio dental);
Escovação supervisionada / Aplicação tópica de flúor (quando possível);
Exame bucal para o levantar as necessidades de tratamento;
Na necessidade de intervenção de emergência, prestar assistência no próprio leito
ou se possível no ambulatório da unidade;
Toda avaliação e diagnóstico, assim como tratamento / prescrição / orientação,
devem ser registrados em prontuário e discutidos com a equipe de saúde que
assiste o paciente.
Partindo da proposta de acolhimento e extensão de cobertura, as etapas de
elaboração de protocolos, capacitação e acompanhamento, estão sendo aplicadas
numa metodologia participativa, com grupos de discussão formados por CDs dos
serviços, com o propósito de estruturar as ações, sob forma de protocolos.
Reuniões também estão ocorrendo com as outras coordenações e gerências
de programas da SMS, a fim de se trabalhar de forma integrada, baseada na ação
programática em saúde e nas atividades coletivas já desenvolvidas nas unidades.
Para o acompanhamento e avaliação das ações de promoção de saúde nos
serviços, foi implantada uma planilha de planejamento, de metodologia participativa,
para avaliação e revisão de metas trimestralmente.
Conclusão
Enfrentando os desafios e vencendo os obstáculos
A inserção da saúde bucal na promoção de saúde está em fase de construção.
É uma proposta pioneira em nosso país, com o desafio de organizar toda uma rede
para acolher, cuidar e acompanhar a população de nossa cidade.
A dificuldade inicial foi a de rompimento do paradigma baseado no
intervencionismo clínico, ainda preponderante na saúde bucal, que limita a percepção
do potencial que tecnologias leves e atividades mais simples tem de impactar no
estado de saúde da população. Este desafio vem sendo enfrentado através de grupos
de discussões, capacitações e divulgação de experiências bem-sucedidas. Outra
barreira que está sendo rompida é a do isolamento do setor de Saúde Bucal nas
Unidades de Saúde. É possível avaliar pelos relatos tanto das chefias de Saúde Bucal
quanto dos demais setores e dos diversos profissionais de saúde o quanto as
parcerias tem aumentado e com isso o potencial resolutivo das ações realizadas de
forma interdisciplinar.
No ano de 2003 foram realizados quatro grandes encontros, de capacitação
em promoção em saúde e ação programática, grupos de discussões das propostas e
elaboração de protocolos. Participaram destes encontros Chefia de Saúde Bucal das
Unidades de Saúde, CDs-promotores de saúde e Assessores de Saúde Bucal das
Áreas de Planejamento. Contamos também com a participação de coordenadores e
gerentes dos demais programas, iniciando, de maneira integrada, um processo de
troca e construção rumo a interdisciplinaridade.
As parcerias vêm aumentando e estão sendo sempre estimuladas, pois
acreditamos que concretização e o êxito dessa proposta, que está em início de
caminho, ocorrerão com a participação e colaboração de todos os atores e setores
empenhados na melhoria da qualidade de vida da população.
Bibliografia
1. Buss PM. e Ferreira JR. Promoção da Saúde e a Saúde Pública. Contribuição para
o debate entre as escolas de saúde pública da América Latina. Fiocruz, RJ, 1998.
2. Campos, Carlos EA, O desafio da integralidade segundo as perspectivas da
vigilância da saúde e da saúde da família. Ciência & Saúde Coletiva. Volume 8,
n.2, 2003.
3. Schraiber LB., Nemes, MIB, Mendes-Gonçalves RB. Saúde do Adulto – Programas
e Ações na Unidade Básica. HUCITEC, SP, 1996.
4. Mendes EV. Uma agenda para a saúde. HUCITEC, SP. 1996
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