ID: 51973403 24-01-2014 Tiragem: 15100 Pág: 41 País: Portugal Cores: Preto e Branco Period.: Semanal Área: 21,62 x 15,56 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 1 DIOGO SERRAS LOPES Diretor de Investimentos, Banco Best Cuidado com as Aparências 2014 será, à partida, um ano atípico desde que a Crise Financeira dominou as atenções dos analistas – de 2008 em diante. Ao contrário dos cinco anos anteriores, em que existiam diversos riscos e oportunidades identificadas pelos analistas e, através dos quais, ponderando os seus efeitos nos mercados financeiros, era possível aos analistas construírem um outlook onde os cenários podiam ser os mais variados, existindo mesmo riscos identificáveis como catalisadores de eventos ‘impensáveis’, – uma hipérbole para ‘muito improváveis’ ao raciocínio de quem neles pensasse em 2007: como o fim do Euro - 2014 parece ser um ano de aparente maior serenidade. De facto, alguns dos riscos mais relevantes, que nos últimos anos dominaram as atenções dos analistas, parecem ter-se reduzido. Um deles, já mencionado, o risco sobre o fim do Euro, é agora remoto, pois foram dados durante 2013 passos políticos, tanto a nível económico, como regulamentar, como monetário, para uma maior confiança na região. Além do mais, o caminho é de maior integração, como os esforços levados a cabo no final do ano para supervisão e resolução comum do sistema financeiro. Da mesma forma, parece existir uma renovada orientação política para crescimento económico ao invés de consolidação orçamental, tanto para as economias ‘centrais’ como para as economias ‘periféricas’, fator que, juntamente com a proatividade política, pode induzir maior crescimento económico na região; algo que, aliás, é perspetivado à entrada do ano. Nos EUA, o cenário também aparenta ser mais calmo. A estabilidade política foi alcançada na reta final do ano, após um shutdown (paralisação do governo) em outubro e da suspensão do teto de dívida em maio. O risco não foi completamente expurgado, mas parece que o governo federal se manterá em atividade por dois anos e os cortes automáticos de despesa foram suavizados, reduzindo a penalização no crescimento de uma política fiscal mais restritiva. Assim, tal como na Zona Euro, o crescimento económico dos EUA deverá acelerar, e o FMI afirmou recentemente que pode rever em alta a sua estimativa para o crescimento do PIB norte-americano. A Política Monetária nas economias desenvolvidas continuará, tal como nos anos anteriores, a assumir um papel central nos mercados financeiros. Contudo, ao contrário dos últimos anos, não é a forma nem os timings da expansão monetária que centram as atenções dos analistas e investidores, mas sim a retirada dos estímulos monetários nos EUA. O tiro de partida foi dado no dia 18 de dezembro, quando a Reserva Federal norte-americana reduziu os estímulos monetários (Quantitative Easing) em $10 mil milhões para $75 mil milhões por mês. É esperado que ao longo do ano este montante mensal de compra de títulos continue a ser reduzido, mas a Fed reforçou que pretende manter os juros baixos mesmo quando a Taxa de Desemprego nos EUA atingir os 6,5%. Algo que os mercados receberam de forma favorável. Em suma, política monetária e fiscal favorável nas economias desenvolvidas, às quais se juntam um ambiente microeconómico ainda positivo, tal como nos anos anteriores. Ou seja, espera-se, em geral, um ano de 2014 positivo e sem grandes riscos aparentes. Costuma-se dizer que “as aparências enganam”. Neste caso, para 2014, talvez não seja necessário ser tão sarcástico. No entanto, é preciso ter “cuidado com as aparências” e prosseguir com cautela. Duas destas aparências parecem exigir uma análise mais detalhada: 1) Na Zona Euro ainda não existe, de facto, um sistema financeiro comum, nem, uma maior integração ao nível fiscal, apostas políticas para as quais se trabalha, mas cujos avanços são apenas modestos; e 2) os mercados financeiros norte-americanos parecem conviver bem com o fim dos estímulos monetários, mas será o mesmo verdade noutras regiões, nomeadamente nas economias emergentes, os motores do crescimento económico mundial nos últimos anos? Sobre o primeiro ponto será necessário verificar como se desenvolverá o debate em torno do Sistema Comum de Resolução Bancária, ao qual o Parlamento Europeu (PE) se opõe nos atuais moldes – de notar que existem eleições para o PE em maio de 2014. Sobre o segundo ponto o consenso aponta para que não e, com efeito, estima-se que as economias emergentes sofram de uma inversão de fluxos de capital, à medida que a liquidez é reduzida, o que penalizará o seu crescimento económico.