a valorização da paisagem pelo turismo rural

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Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2014. ISSN 2317-9759
A VALORIZAÇÃO DA PAISAGEM PELO TURISMO RURAL
MIRANDA, Everton
SANTOS, Ana Flávia Borges dos
SANTOS, Silvana Kloster dos
Introdução
O turismo é uma atividade em constante abordagem em quase todos os campos
científicos na atualidade, em especial no campo econômico. A sua maior motivação é a
geração de renda principalmente nas comunidades receptoras. Mas, mais que uma atividade
econômica, o turismo pode ser encarado como uma atividade beneficiadora dessas
comunidades receptoras por meio da valorização cultural e ambiental local.
Nesse aspecto o turismo, como elemento transformador do espaço, se aproxima do
campo científico da Geografia quando estudamos os conceitos de produção do espaço, lugar e
paisagem. O que se vende e o que se consome no turismo é o espaço, os lugares naquilo que
eles são com toda a sua complexidade.
São vários os segmentos de turismo que são abordados em projetos de desenvolvimento local.
Nesse artigo, optamos em abordar o turismo rural em nossos estudos. De acordo com
essa terminologia, o turismo rural está diretamente relacionado a uma atividade específica
rural, agrícola ou pecuária, ou seja, para que uma atividade de turismo e/ou propriedade rural
seja caracterizada como turismo rural, é necessário que pelo menos uma atividade
agropecuária ocorra, sendo o turismo uma atividade complementar. Essa atividade econômica
promove a mudança e/ou transformação do espaço rural em espaço de consumo. O turismo
rural está inteiramente interligado ao conceito de paisagem pois, através de seus símbolos que
são as lidas rurais, a agricultura e a pecuária, a paisagem rural, a culinária típica, etc,
consideramos esses elementos como essências naturais e culturais que representam tradições e
paisagens. A valorização desses espaços rurais pelos indivíduos depende dos olhares e
percepções que dão significados a ela. Portanto o turismo rural busca a essência bruta da
paisagem para proporcionar sua valorização, através da relação indivíduo-campo.
Objetivos
Esse artigo objetiva discorrer sobre a relação entre a paisagem e o turismo rural;
Mostrar como o turismo rural abarca a paisagem e como ele ajuda a valorizar os atributos
desta paisagem.
Metodologia
O texto corresponde a uma análise teórica que tem por objetivo discutir a paisagem e
o turismo rural buscando a reflexão de teorização centrada nos conceitos de paisagem,
turismo rural e suas relações. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica centrandose na contribuição de autores oriundos de diversas tradições disciplinares e teóricas. Com
isso, pretende-se contribuir com debate mostrando como o turismo envolve a paisagem
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valorizando seus elementos endógenos, ou seja, elementos culturais pertencentes ao território
turístico.
Resultados e discussões
O Turismo Rural possui uma formação diferenciada do produto turístico
convencional ou de massa, tendo visto que é planejado como turismo especializado e
praticado em pequena escala, adaptado às características do espaço rural. Diferentes
atividades agropecuárias realizadas num mesmo espaço podem ser consideradas de grande
potencial para o desenvolvimento local e regional, associando atividades diferentes num
mesmo espaço turístico (Kloster, 2013). Para o Ministério do Turismo o turismo rural está
relacionado a um conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural envolvendo a
produção agropecuária, garantindo a valorização de produtos e serviços e promovendo e
resgatando os patrimônios naturais e culturais da comunidade. (BRASIL, Ministério do Turismo,
Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Rural no Brasil. Brasília Ministério do Turismo,
2003:11 apud KLOSTER, 2013).
Kloster (2013), com base em vários autores, acredita que o turismo rural pode ser
utilizado como uma forma de valorização da paisagem, respaldando nas questões identitárias,
na cultura e abarcando os produtos e o modo de produção e a própria paisagem local. Para a
autora, “[...] o turismo rural envolverá as atividades rurais, os produtos típicos rurais e a
própria paisagem”. (KLOSTER, 2013, p.36)
Portanto, o turismo rural enfoca na essência da cultura do campo, envolvendo as tradições e
paisagens, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural. O próprio em sua
maioria está ligado às vivências campesinas e as tradições do campo, mostrando a cultura
local e a identidade de seus indivíduos envolventes. Por envolver as tradições e as paisagens,
ele também abarca o turismo gastronômico, o cultural e o de lazer.
Para Almeida (2010), o turismo concebe o ambiente turístico como uma combinação entre o
natural e o cultural sendo que são os grupos sociais existentes nele é que lhe atribui um
significado impondo-lhe uma identidade e que nos revelam tais significados a partir de suas
representações. Por envolver aspectos culturais, o turismo foca nas vivências e nos
significados da cultura material e imaterial, respaldando nas tradições culturais como a
gastronômia, resgatando os aromas e sabores do campo e retratando a identidade local através
dos pratos típicos como, por exemplo: o Castropeiro e o Barreado que são pratos típicos do
Paraná.
A paisagem, em seu conceito mais concreto e amplo, pode ser entendida por meio da
percepção do olhar dos indivíduos estando ligada a questões de percepções e imagens dos
próprios indivíduos, onde “[...] as paisagens são formadas pelas preferências paisagísticas. As
pessoas veem seu entorno através das lentes da preferência e do costume, e tendem a moldar o
mundo a partir do que veem” (LOWENTHAL, 1968 apud HOLZER, 1999, p.156). Como
pode ser observado na (Imagem 1):
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Figura 1 - A zona rural em Fartura/SP. Fonte: Gabriel, Adrielle, 2013.
Vários autores relacionam o conceito de paisagem à de espaço vivido, entre eles,
Holzer (1999). Como espaço vivido, a paisagem arremete a um olhar mais ligado às
essências culturais, mostrando que ela é criada e recriada ao longo do tempo-espaço, em que
seus símbolos e memórias estarão permeando-a, e isto, refletirá nas vivências das paisagens.
Gamalho e Heidrich (2006) expõem que “[...] a paisagem enquanto paisagem cultural enfoca
nas relações sociais e nas transformações espaciais contidas no espaço [...] a paisagem
cultural compõem uma localidade, que tem sua territorialidade, identidade e temporalidades”
(GAMALHO; HEIDRICH, 2006, p.03-04).
Consideramos a paisagem cultural como um dos fatores determinantes para o
desenvolvimento de atividades de turismo rural. Mas, para o êxito na atividade, é necessária
a oferta de produtos diferenciados considerados elementos endógenos desse espaço vivido.
Esses elementos são os produtos típicos do meio rural. O crescimento da demanda por
produtos diferenciados e com identidade territorial é uma tendência mundial. Como exemplo:
a Rota do Pinhão (região metropolitana de Curitiba), o Circuito Italiano de Turismo Rural
(Colombo), o Caminho do Guajuvira (Araucária), o Caminho do Vinho (São José dos
Pinhais), o Circuito Verde que te Quero Verde (Campo Magro), a Rota dos Tropeiros
(Campos Gerais) e o Roteiro de Turismo Rural nas Colônias Polonesas (Campo Largo e
Campo Magro).
Em todo turismo rural a questão da gastronomia é importante, sendo, essências
identitárias, transformando o prato típico em alimento identitário 1 recheado de significados
tornando-se essência cultural da paisagem (GIMENES, 2011), como por exemplo: a paçoca
de carne e o biscoito de polvilho de Tibagi/PR. Como mostram as (Imagens 2 e 3):
1
Saiba mais em: MONTANARI, Massimo. Comida como cultura. São Paulo: Ed. do Senac, 2008. E
em: MATIAS, Lindon Fonseca; MASCARENHAS, Rúbia Gisele Tramontim. Culinária tropeira e suas
potencialidades no turismo dos Campos Gerais do Paraná: uma análise nos municípios de Castro, Lapa e Tibagi.
CULTUR – Revista de Cultura e Turismo, ano.02, n.02, p.17-46, 2008. E ainda em: GIMENES, Maria
Henriqueta Sperandio Garcia. Cozinhando a tradição: festa, cultura e história no litoral paranaense. 2008.
Tese (Doutorado em História) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, 2008. E também em: MENEZES, Sônia de Souza Mendonça. Alimentos identitários: uma reflexão para
além da cultura. Geonordeste, ano XXIV (Edição Especial), n.2, p.120-136, 2013. Estes autores iram
discorrer/abordar a questão da comida (alimento) como cultura e identidade de uma localidade, e como este
alimento identitário cria significados e símbolos na paisagem, e ainda representam as pessoas destas localidades.
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Figura 2 - Pratos típicos de Tibagi/PR. Fonte: www.viagemnaboa.com/destinos/tibagi.
O alimento traz à tona o sentido de pertencimento à paisagem. Está marcada pelos
espaços de vivências, onde os alimentos criam imagens e representações construindo
símbolos e significados na paisagem.
Considerações Finais
O turismo rural é feito de tradições e paisagens. Auxilia a resgatar o patrimônio
cultural e a valorizar os recursos naturais e as raízes culturais, além de ressignificar as
paisagens através dos símbolos e memórias, mostrando um pouco do meio rural a partir das
percepções, além de promover o desenvolvimento local pautado na cultura e nas paisagens.
O turismo rural é pautado numa série de elementos encontrados na paisagem
tornando esses elementos uma simbologia única de cada lugar, um espaço único com
características simbólicas como: produtos típicos, gastronomia, elementos da natureza,
tradições, modos de vida, construções, etc, que favorecem a atração de visitantes.
Quando mencionamos o turismo rural, devemos nos ater para o fato de que o
crescimento da atividade, mais do que uma resposta a programas específicos de
desenvolvimento turístico atualmente, é também fruto de mudanças amplas da sociedade que
levaram a alterações sobre sua percepção do meio rural. Destacamos que o conceito de
‘turismo rural’ relaciona-se mais às atividades rurais, produtos típicos rurais e a própria
paisagem.
Referências
ALMEIDA, M. G. A sedução do turismo no espaço rural: das naturezas e políticas. In
SANTOS, E. O. ; SOUZA, M. (orgs) Teoria e Prática do turismo no espaço rural. Barueru,
SP: Manole, 2010.
GAMALHO, Nola Patrícia; HEIDRICH, Álvaro Luiz. Paisagem híbrida, territorialidades
múltiplas e temporalidades diversas: notas para discussão a partir da leitura da paisagem do
Vale do Rio Três Forquilhas (RS). In: Anais do I Colóquio Nacional do Núcleo de Estudos
em Espaço e Representações. Curitiba: NEER/UFPR, 2006 (CD-ROOM), p.01-11.
GIMENES, Maria Henriqueta Sperandio Garcia. Viagens, sabores e cultura: reflexões sobre
os pratos típicos no contexto do turismo gastronômico. In: POSSAMAI, Ana Maria De Paris;
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PECCINI, Rosana. (Orgs.). Turismo, história e gastronomia: uma viagem pelos sabores.
Caxias do Sul, RS: Educs, 2011, p.19-30.
HOLZER, Werther. Paisagem, imaginário, identidade: alternativas para o estudo geográfico.
In: ROSENDAHL, Zeny; CORRÊA, Roberto Lobato. (Orgs.). Manifestações da cultura no
espaço. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999, p.149-168.
KLOSTER, Silvana. Riscos e potencialidades da atividade de turismo rural na
microrregião de Ponta Grossa. 112 f. Dissertação (Mestrado em Gestão do Território),
Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ponta Grossa, 2013.
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