Evolução molecular do gene env do HIV-2 e colapso do sistema imunitário em doentes infectados por via vertical Cheila Rocha1, Helena Barroso1,2, Inês Bártolo1,2, José Marcelino3, Lino Rosado4, Nuno Taveira1,2 1 Unidade dos Retrovírus e Infecções Associadas, Centro de Patogénese Molecular, Faculdade de Farmácia de Lisboa, Portugal. 2 Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz. 3 UTPAM, Departamento de Biotecnologia, Instituto Nacional de Engenharia Tecnologia e Inovação, Lisboa. 4 Unidade de Imunohematologia, Hospital de Dona Estefânia, Lisboa. Palavras-chave: HIV-2; transmissão vertical; dinâmica populacional; evolução molecular. Resumo A evolução molecular do HIV in vivo reflecte a sua dinâmica replicativa e a natureza da sua interacção com o sistema imunitário. Contudo, pouco se sabe sobre a evolução molecular do HIV-2 in vivo. O objectivo deste estudo foi caracterizar a natureza da evolução molecular do gene env do HIV-2 em duas crianças infectadas por via vertical em 1993 (doente SC) e 1998 (doente CT), em que ocorreu progressão rápida da doença. Foram colhidas amostras bianuais das duas crianças ao longo de 8 anos de infecção. A partir de cada amostra, o gene env foi amplificado por PCR, clonado e sequenciado. As sequências de nucleótidos e de aminoácidos dos isolados virais foram analisadas sob múltiplos parâmetros genéticos e evolutivos com recurso a diferentes programas de computador. A taxa de substituição nucleotídica no gene env dos isolados virais das duas crianças foi duas vezes superior à observada em doentes HIV-2 e HIV-1 com infecção crónica (1,0%/ano vs 0,5%/ano). Contudo, a maior parte das substituições nucleotídicas observadas nestes doentes foram de natureza sinónima (razão dN/dS significativamente <1), ou seja não conduziram a alterações na sequência de aminoácidos da proteína Env. Estes resultados sugerem que há constrangimentos funcionais importantes que limitam a evolução molecular da proteína Env do HIV-2 durante a infecção. Os codões do gene env sujeitos a maior pressão selectiva durante a infecção foram identificados por máxima verosimilhança utilizando diferentes modelos de evolução genética. Estes codões assinalam normalmente regiões no Env que são alvo da acção de anticorpos neutralizantes. Os resultados obtidos com ambos os doentes demonstram que na glicoproteína de superfície gp125 as regiões variáveis V1/V2 são as que possuem maior número de codões sujeitos a pressão selectiva. Estas foram também as regiões do gene env que mais variaram ao longo da infecção em termos de dimensão (nº de aminoácidos) e de localização e número de locais de glicosilação. Na glicoproteína transmembranar gp36, a região mais variável e com maior número de codões sujeitos a pressão selectiva localiza-se entre os aminoácidos 608 e 668 e engloba o domínio HR2. Concomitante com o aumento da replicação viral, diminuição do número de linfócitos CD4+ e progressão clínica da infecção, ocorreu nos dois doentes, um aumento do número relativo de mutações sinónimas e uma diminuição progressiva do número de codões sujeitos a pressão selectiva. Em conclusão, a grande variabilidade e rápida evolução molecular das regiões V1/V2 e HR2 durante a infecção HIV-2 sugerem que estas regiões escapam com facilidade à acção dos anticorpos neutralizantes. Consequentemente, estas duas regiões não são candidatos interessantes a antigénios vacinais. A diminuição progressiva do número de substituições não sinónimas no Env associada à progressão clínica da infecção é consistente com a diminuição da pressão selectiva imposta pelos anticorpos neutralizantes sobre o Env em consequência do colapso do sistema imunitário observado nestes doentes. 2 Índice 1. Introdução………………………………...…………………………………… 3 2. Material e Métodos…………………………………………. ………………... 6 3. Resultados e Discussão………………………………………………………... 7 4. Conclusões. ……………………………………………………………………. 14 Agradecimentos…………………………………………………………………... 14 Bibliografia……….………………………………………………………………. 15 1. Introdução O HIV-2, um dos agentes etiológicos da SIDA, é responsável por epidemias localizadas em alguns países da África Ocidental, nomeadamente na Guiné-Bissau, Senegal, Gambia, Burkina Faso, Ghana, Costa do Marfim, Nigéria e Cabo Verde. A nível mundial estima-se que cerca de 420000 indivíduos estejam infectados com HIV-2. A prevalência de infecções pelo HIV-2 é relativamente elevada em Portugal (cerca de 3% dos casos de SIDA), devido às ligações históricas e socio-económicas com a GuinéBissau e Cabo Verde, mas é muito reduzida na maior parte dos outros países com casos conhecidos de infecção pelo HIV-2. Incluem-se aqui França, Holanda, Alemanha, Suécia, Espanha e Índia (Peeters et al, 2003; van der Loeff & Aaby, 1999). O HIV-2 exibe uma elevada diversidade genética, superior inclusive à do HIV-1. Esta diversidade traduz-se na existência de oito grupos filogenéticos, classificados de A a H, sendo o grupo A o mais prevalente em todo o mundo (Damond et al, 2004; van der Loeff & Aaby, 1999). O HIV-2 transmite-se essencialmente por via heterossexual. Contudo, a taxa de transmissão do HIV-2 por esta via é cerca de 5 a 9 vezes inferior à do HIV-1 (O'Donovan et al, 2000, Reeves & Dooms, 2002). Da mesma forma, a taxa de 3 transmissão vertical do HIV-2 é cerca de 10 a 20 vezes inferior à do HIV-1. As manifestações clínicas da infecção pelo HIV-2 são semelhantes às da infecção pelo HIV-1, mas o HIV-2 é geralmente menos patogénico (Berry et al, 2002; Brun-Vezinet et al, 1987; Clavel et al, 1987; O'Donovan et al, 2000; Reeves & Doms, 2002). As razões para a reduzida taxa de transmissão e menor patogenicidade do HIV-2 ainda não são conhecidas, mas parecem dever-se a características particulares do próprio vírus e à sua relação com o hospedeiro. Por exemplo, a fraca capacidade replicativa do HIV-2 in vivo, leva a que nunca se atinjam cargas virais plasmáticas elevadas durante a infecção, o que compromete a transmissão do vírus e a progressão da infecção (Berry et al, 2002; Blaak et al, 2006; O'Donovan et al, 2000). Por outro lado, durante a fase crónica da infecção HIV-2, existe uma forte resposta humoral neutralizante por parte do hospedeiro, o que poderá controlar a carga viral plasmática e, consequentemente, limitar a transmissão do vírus e progressão da doença (Anderson et al, 2004; Berry et al, 2002; Lizeng et al, 2004; Popper et al, 1999). A evolução molecular do HIV in vivo reflecte a sua dinâmica replicativa e a natureza da sua interacção com o sistema imunitário. Não admira por isso que não haja concordância absoluta sobre o perfil e a natureza da evolução do HIV-1 ao longo da infecção (evolução intra-hospedeiro). Alguns estudos sugerem que a diminuição da diversidade viral ao longo da infecção está relacionada com uma diminuição do número de células CD4+/µl e com uma progressão rápida para a doença (Ganeshan et al, 1997; Lukashov et al, 1995; Shankarappa et al, 1999; Wolinsky et al, 1996). Em conformidade, os vírus detectados em doentes que progridem lentamente para SIDA (progressores lentos) exibem uma maior diversidade e divergência (em relação ao vírus inicial) genéticas quando comparados com as populações virais de progressores rápidos (Bagnarelli et al, 1999; Halapi et al, 1997; Zhang et al, 2006). Em contraste, outros 4 estudos sugerem que a diversidade e divergência genéticas aumentam ao longo da infecção, e que divergências genéticas elevadas estão correlacionadas com a diminuição do número de células CD4+/µl, com o aumento da replicação viral e com progressão rápida para SIDA (Castiglione et al, 2004; Joos et al, 2005; Markham et al, 1998; McNearney et al, 1992; Strunnikova et al, 1995; Sullivan et al, 2005; Troyer et al, 2005). Em relação à infecção pelo HIV-2, um estudo longitudinal sugere que a progressão mais rápida para SIDA está associada a uma maior diversidade genética da região V3 do env (Sankalé et al, 1995). Por outro lado, num estudo mais recente de natureza transversal detectou-se uma associação directa entre número de anos de infecção e diversidade genética do HIV-2, de tal modo que os vírus dos doentes infectados há maior número de anos exibiam maior diversidade genética no env (região C2V3C3) do que os vírus de doentes infectados recentemente (Barroso & Taveira, 2005). O gene env do HIV-1 evolui, em geral, por selecção natural (Choisy et al, 2004; Mikhail et al, 2005; Nielsen & Yang, 1998; Wolinsky et al, 1996; Yang et al, 2003). Isto significa que a maioria das substituições que ocorrem ao longo do tempo no env são não sinónimas, ou seja, dão origem a aminoácidos diferentes. Estas mutações estão em geral concentradas nos epitopos neutralizantes e nos locais de glicosilação, que se encontram sobre elevada pressão selectiva imposta pelos anticorpos neutralizantes (Choisy et al, 2004; Lemey et al, 2006; Mikhail et al, 2005; Yamaguchi & Gojobori, 1997; Zhang et al, 2006). O aumento do número de aminoácidos nas regiões V1 e V2 da glicoproteína de superfície foi associado a progressão mais lenta para doença, na infecção pelo HIV-1 e pelo HIV-2 (Masciotra et al, 2002; Shi et al, 2005). Pelo contrário, a compactação da região V1-V4 na gp120 do HIV-1 foi associada a maior 5 sensibilidade viral à neutralização (Botarelli et al, 1991; Derdeyn et al, 2004; Isaka et al, 1999; Pollakis et al, 2001; Polzer et al, 2002). A dinâmica populacional e a natureza da evolução do HIV-2 durante a infecção aguda e crónica são praticamente desconhecidas. Este estudo teve por objectivo caracterizar a natureza da evolução molecular do gene env do HIV-2 em duas crianças infectadas por via vertical em que ocorreu progressão rápida da doença. O interesse deste estudo prendeu-se com o facto destes doentes constituírem um modelo de evolução rápida da infecção pelo HIV-2, quando habitualmente os doentes infectados por este vírus progridem lentamente para SIDA. Adicionalmente, nestes doentes sabe-se exactamente a data de transmissão o que permitiu investigar, pela primeira vez, a evolução molecular do env desde o início da infecção. 2. Material e Métodos Foram colhidas amostras de sangue de duas crianças infectadas por via vertical, a cada dois anos, ao longo de uma média de sete anos de infecção. A criança SC foi infectada em 1993 e faleceu em 2001 (Tabela 1). A criança CT foi infectada em 1998 e a sua situação clínica e imunológica tem vindo a agravar-se. A partir de cada amostra, o gene env foi amplificado por PCR e clonado. Foram sequenciados oito clones de cada amostra. A análise filogenética foi realizada no programa Treefinder pelo método de máxima verosimilhança utilizando o modelo GTR de substituição nucleotídica com distribuição gama. Calculou-se a distância nucleotídica entre as populações virais recorrendo ao modelo de evolução de Kimura a dois parâmetros com o programa MEGA. A frequência média de substituições sinónimas (dS) e não sinónimas (dN) foi determinada pelo método de Nei-Gojobori modificado segundo o modelo de evolução de Jukes-Cantor. Analisou-se a similaridade entre as 6 sequências dos vírus fundadores e os vírus dos anos subsequentes com o programa Simplot. Os codões sujeitos a pressão positiva durante a infecção foram identificados com o modelo de evolução GTR no programa HyPhy. Identificaram-se os locais de glicosilação (NXT/S) das proteínas Env com o programa N-Glycosite. Tabela 1 – Dados clínicos e imunológicos dos doentes CT e SC. Estado Clínico Doente e ano Idade Carga viral (cópias Nº células da amostra (meses) ARN/ml plasma) CD4/Zl (Classificação CDCPediátrico) CT98 0 <200 5342 N CT00 24 1355 2919 A1 CT03 66 20968 209 B2 SC93 1 <200 1670 C1 SC01 96 1250 44 C3 (morte) 3. Resultados e Discussão A análise filogenética das sequências dos vírus dos doentes SC e CT revelou que estes eram do grupo A e que as sequências dos vírus de cada doente formavam subgrupos monofiléticos correspondentes a cada ano de infecção (Figura 1). A análise filogenética e a análise das distâncias evolutivas revelaram ainda que as populações virais dos primeiros anos de infecção (1993 e 1998) eram geneticamente homogéneas nos dois doentes (Figuras 1 e 2). 7 CT98.23 CT98.24 CT98.20 100 CT98.13 92 CT98.18 CT98.8 CT98.19 84 100 CT98.21 99 CT00.16 72 CT00.10 CT00.20 CT00.30 CT00.6 CT00.22 100 CT00.19 99 CT00.24 CT03.18 98 83 CT03.32 CT03.21 100 CT03.33 72 100 100 CT03.17 CT03.4 CT03.47 73 CT03.50 A.GW.x.ALI AF082339 A.DE.x.PEI2 U22047 A.GM.90.CBL24 U05353 A.GM.x.CBL23 U05352 A.GW.86.FG J03654 A.GW.x.CAM1 U05359 A.GW.x.MDS Z48731 A.GW.87.CAM2CG D00835 A.SN.85.ROD M15390 SC93.15 SC93.20 SC93.17 100 SC93.18 SC93.19 76 SC93.16 100 SC93.21 SC93.13 SC01.15 100 100 91 SC01.17 SC01.5 SC01.14 100 SC01.6 89 SC01.13 96 SC01.10 SC01.12 A.GW.x.CAM5 U05357 A.GM.x.ISY J04498 A.x.x.CBL21 U05350 A.SN.x.ST M31113 A.GH.x.GH1 M30895 A.DE.x.BEN M30502 A.CI.88.UC2 U38293 94 A.GM.87.D194 J04542 H2AB.CI.-.7312A L36874 H2G.CI.-.ABT96 AF208027 H2B.CI.88.UC1 L07625 H2B.GH.86.D205 X61240 A 85 99 85 95 71 80 99 72 98 100 99 100 100 G B 0.05 Figura 1 – Árvore filogenética, obtida com sequências de referência do env de diferentes grupos de HIV-2, juntamente com as sequências obtidas neste estudo (CT98, CT00, CT03, SC93 e SC01). Os valores apresentados em cada nodo representam o 8 bootstrap que suporta cada um dos ramos internos que determinam um subtipo. A escala representa a distância evolutiva (número de substituições por site). Diversidade genética (%) 6 5 nucleótidos aminoácidos 4 3 2 1 0 CT98 CT00 CT03 SC93 SC01 Amostra Figura 2 – Diversidade genética do env dos vírus dos doentes CT e SC. Estes resultados sugerem que em ambos os casos houve transmissão selectiva de um variante viral particular das mães para os filhos. Tal como na infecção por HIV-1, a diversidade populacional e a divergência genética entre as populações virais que estabeleceram as infecções e as encontradas nos anos subsequentes aumentaram substancialmente ao longo do tempo (Figura 2 e 3) (Castiglione et al, 2004; Joos et al, 2005; Troyer et al, 2005). Estes aumentos ocorreram paralelamente a um agravamento das situações clínica e imunológica em ambos os casos (Tabela 1). 9 A B 9 7 6 5 CT SC 4 3 2 1 Divergência genética em aminoácidos (%) Divergência genética em nucleótidos (%) 14 8 12 10 8 CT SC 6 4 2 0 0 1 2 3 4 5 6 Tempo (anos) 7 8 9 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Tempo (anos) Figura 3 – Evolução da divergência genética média do gene env dos vírus dos doentes CT (linha) e SC (tracejado) em nucleótidos (A) e aminoácidos (B), em função do número de anos de infecção. A taxa de substituição nucleotídica no gene env dos isolados virais das duas crianças foi cerca de 1%, valor semelhante ao descrito para HIV-1 e SIV em infecções agudas e progressivas (Bernardin et al, 2005; Blay et al, 2006; Shankarappa et al, 1999) e o dobro do valor descrito para infecções crónicas por HIV-2 e por HIV-1 (infecções em progressores lentos) (Lemey et al, 2006b). Estes resultados indicam que o HIV-2 evolui com a mesma rapidez que o HIV-1 durante as fases iniciais da infecção. Contudo, a maior parte das substituições nucleotídicas observadas nestes doentes HIV-2 foram de natureza sinónima (razão dN/dS <1), ou seja, não conduziram a alterações na sequência de aminoácidos da proteína Env (Tabelas 2 e 3). Estes resultados demonstram que, na globalidade, a evolução do env do HIV-2 é neutra ou negativa, e sugerem que há constrangimentos funcionais importantes que limitam a evolução molecular da proteína Env do HIV-2 durante a infecção (Barroso & Taveira, 2005; Choisy et al, 2004; Wolinsky et al, 1996). 10 Tabela 2 – Frequência média de substituições sinónimas (dS) e não sinónimas (dN) e da sua razão (dN/dS) entre amostras colhidas em cada ano. Amostra dN dS CT98 0,011 0,016 0,7 CT00 0,022 0,027 0,8 CT03 0,022 0,036 0,6 SC93 0,007 0,007 1,0 SC01 0,028 0,046 0,6 Tabela 3 – Frequência média de substituições sinónimas (dS) e não sinónimas (dN) e da sua razão (dN/dS) entre amostras colhidas em anos sucessivos. Amostra dN dS CT98 – CT00 0,040 0,046 0,9 CT98 – CT03 0,075 0,079 1,0 SC93 – SC01 0,069 0,085 0,8 A análise por regiões do env demonstrou que as regiões variáveis V1 e V2 da gp125 são A B as que apresentaram maior variabilidade genética, maior variação no número de aminoácidos ao longo da infecção e na localização e número de locais de glicosilação (Figura 4). Estas regiões também possuem maior número de codões sujeitos a pressão selectiva em ambos os doentes (Figuras 5 e 6). Na glicoproteína transmembranar gp36, a região mais variável e com maior número de codões sujeitos a pressão selectiva localiza-se entre os aminoácidos 608 e 668 e engloba o domínio HR2 (Figuras 4, 5 e 6). 11 SimPlot - Query: CT98 SimPlot – Referência: CT98 FileName: E:\Lab\CT\CT980003\CT_8clonestodos\CT.fasta SC01 CT00 CT03 1,0 0,95 0,95 0,9 0,9 0,85 0,85 Similarity 0,8 Similaridade Similarity 1,0 Similaridade SimPlot SimPlot -- Query: Query: SC93 CT98 SimPlot – Referência: SC97 FileName: E:\Lab\CT\CT980003\CT_8clonestodos\CT.fasta FileName: E:\Lab\SC\SC9301.fasta CT00 CT03 0,75 0,7 0,65 0,8 0,75 0,7 0,65 0,6 C1 V1V2 0,55 C2 V3 C3 V4 C4 V5 C5 HR1 0,6 HR2 GP125 C1 0,5 0 V1V2 0,55 GP36 C2 V3 C3 V4 C4 V5 C5 HR1 GP125 HR2 GP36 0,5 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 1.600 1.800 2.000 2.200 2.400 2.600 Position 0 200 400 600 800 800 1.000 1.000 1.200 1.200 1.400 1.400 1.600 1.600 1.800 1.800 2.000 2.000 2.200 2.2002.400 2.4002.600 2.600 Position Posição (aminoácido) Posição (aminoácido) Window : 200 bp, Step: 20 bp, GapStrip: On, Kimura (2-parameter), T/t: 2,0 Window : 200 bp, Step: 20 bp, GapStrip: On, Kimura (2-parameter), T/t: 2,0 Figura 4 – Análise da similaridade genética entre o vírus fundador e os vírus dos anos subsequentes dos doentes CT (A) e SC (B). 25 V1 V2 V3 V4 V5 20 dN/dS 15 10 5 852 829 806 783 760 737 714 691 668 645 622 599 576 553 530 507 484 461 438 415 392 369 346 323 300 277 254 231 208 185 162 139 93 116 70 47 1 24 0 Codões Figura 5 – Análise longitudinal dos codões sobre pressão positiva no gene env dos vírus do doente CT. As regiões variáveis encontram-se assinaladas a azul. Os codões sobre pressão positiva com significado estatístico encontram-se assinalados a vermelho (distribuição binomial com P < 0,05). 12 25 V1 V2 V3 V4 V5 20 dN/dS 15 10 5 817 841 769 793 721 745 673 697 625 649 577 601 529 553 481 505 433 457 385 409 337 361 289 313 241 265 193 217 145 169 97 121 73 49 25 1 0 Codões Figura 6 – Análise longitudinal da locais sobre pressão positiva no gene env dos vírus do doente SC. As regiões variáveis encontram-se assinaladas a azul. Os codões sobre pressão positiva com significado estatístico encontram-se assinalados a vermelho (distribuição binomial com P < 0,05). Estes resultados sugerem que no HIV-2, à semelhança do HIV-1, as regiões V1, V2 e HR2 possuem epitopos neutralizantes, e que a evolução molecular destas regiões é função da selecção natural exercida pelos anticorpos neutralizantes (Choisy et al, 2004; Gorny & Zolla-Pazner, 2003; Masciotra et al, 2002; Shi et al, 2005). Concomitante com o aumento da replicação viral, diminuição do número de linfócitos CD4+ e progressão clínica da infecção, nos dois doentes ocorreu um aumento do número relativo de mutações sinónimas e uma diminuição progressiva do número de codões sujeitos a pressão selectiva (Tabelas 2 e 3 e Figuras 5 e 6). Estes resultados sugerem que a pressão selectiva imposta pelos anticorpos neutralizantes diminui progressivamente ao longo da infecção. 13 4. Conclusões Tal como na infecção vertical por HIV-1, a infecção vertical por HIV-2 leva a um rápida progressão clínica, imunológica e virológica. Ao longo da infecção observa-se um aumento progressivo da complexidade genética das populações virais. Contudo, em contraste com o HIV-1, a evolução molecular do invólucro do HIV-2 é relativamente limitada, o que poderá reflectir constrangimentos funcionais e estruturais desconhecidos no Env do HIV-1. A identificação e caracterização destes constrangimentos evolutivos poderão ter impacto no desenho de vacinas e de fármacos inibidores de entrada que actuem eficazmente no HIV-1 e HIV-2. Os nossos resultados sugerem que a quantificação do número de codões sujeitos a selecção positiva no Env pode constituir um bom parâmetro de monitorização da progressão da infecção HIV-2. É importante continuar a analisar a utilidade deste parâmetro biológico como marcador da infecção HIV-2 uma vez que há muito poucos marcadores laboratoriais disponíveis para monitorizar a infecção por HIV-2. A grande variabilidade e rápida evolução molecular das regiões V1,V2 e HR2 durante a infecção pelo HIV-2 sugerem que estas regiões escapam com facilidade à acção dos anticorpos neutralizantes. Consequentemente, para o desenho de vacinas anti-HIV-2 deverá optar-se por outras regiões do Env que sejam imunogénicas e exibam menor variabilidade ao longo da infecção. Neste contexto, as regiões C2-V3-C3 poderão ser promissoras (Marcelino e tal., 2006). . Agradecimentos Este trabalho foi financiado pelo projecto POCTI/ESP/48045/2002 da Fundação para a Ciência e Tecnologia e pela Associação Portuguesa para o Estudo Clínico da SIDA através de uma bolsa de investigação da GlaxoSmithKline atribuída a Cheila Rocha. 14 Bibliografia Anderson, D. E., Llenado, R. A. and Torres, J. V. 2004. Humoral immunity and the evolution of HIV-2. Viral Immunol. 17: 436-439. Bagnarelli, P., Mazzola, F., Menzo, S., Montroni, M., Butini, L. and Clementi, M. 1999. Host-specific modulation of the selective constraints driving human immunodeficiency virus type 1 env gene evolution. J Virol. 73: 3764-3777. Barroso, H. And Taveira, N. 2005. Evidence for negative selective pressure in HIV-2 evolution in vivo. Infect Genet Evol. 5: 239-246. Bernardin, F., Kong, D., Peddada, L., Baxter-Lowe, L. A. and Delwart, E. 2005. 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