COMPORTAMENTO ELÉTRICO DOS MATERIAIS: 1 – A LEI DE OHM E A CONDUTIVIDADE ELÉTRICA. V = R.I Onde V é a tensão (Volts, V), I é a corrente (Ampère, A) e R é a resistência (Ohm, Ω) para o fluxo de corrente. A resistência R é uma característica do tamanho, forma e propriedades dos materiais que compõe o circuito. R = ρ ( /A) = ( /σ σA) Onde " " é o comprimento (em cm) do condutor, "A" é a área de seção transversal (cm2) do condutor, "ρ ρ" é a resistividade elétrica (Ω Ω.cm) e "σ σ", que é a recíproca de "ρ ρ", é a condutividade elétrica -1 -1 (Ω Ω .cm ). Pode-se usar essa equação para projetar resistores, uma vez que se pode variar o comprimento ou a área de seção transversal do dispositivo. Em componentes projetados para conduzir energia elétrica, minimizar a perda de potência é importante não apenas para conservar energia mas também para minimizar aquecimento. A 1 potência elétrica (P, em watts) perdida quando a corrente flui através da resistência, é dada por: P = V.I = I2.R Uma alta resistência resulta em maior perda de potência. Uma segunda forma da Lei de Ohm é obtida combinando-se as duas primeiras equações: I/A = σ (V/L). Definindo-se I/A como densidade de corrente “J” 2 (A/cm ) e V/L como o campo elétrico ξ (V/cm), então: J = σξ Pode-se também determinar que a densidade de corrente J é: J = n.q.v 2 Onde "n" é o número de carregadores de cargas (carregadores/cm3), "q" é a carga sobre cada carregador (1,6 x 1019 C) e " " é a velocidade média (cm/s) na qual os carregadores de carga movem-se, Figura 1. v Figura 1: Carregadores de carga, tais como elétrons, são defletidos por átomos ou defeitos de rede e possuem um caminho irregular através do condutor. A taxa média na qual os carregadores movem-se é a velocidade líquida " ". v Onde ∆x v= . ∆t 3 Assim, σ.ξ ξ = n.q.v σ = n.q. (v/ξ ξ). 2 mobilidade µ (cm /V.s): O termo v/ξ ξ é chamado de µ=v/ξ Finalmente: σ = n.q.µ A carga q é uma constante. Então, a partir da equação anterior, pode-se controlar a condutividade elétrica dos materiais, controlando: 1 – O número de carregadores de cargas no material. 2 – A mobilidade, ou a facilidade de movimento dos carregadores de carga. 4 OBS: A mobilidade é particularmente importante em metais, enquanto o número de carregadores é mais importante em semicondutores e isolantes. Os elétrons são os carregadores de cargas nos condutores (tais como os metais), semicondutores e isolantes, entretanto os íons são os portadores de cargas em compostos iônicos (Figura 2). A mobilidade depende da ligação atômica, imperfeições da rede, microestrutura, e, em compostos iônicos, taxas de difusão. Figura 2: Carregadores de cargas em diferentes materiais: (a) Elétrons de valência nas ligações metálicas movem-se facilmente, (b) ligações covalentes devem ser quebradas em semicondutores e isolantes para um elétron ser capaz de mover-se, e (c) íons inteiros devem difundir para carregar carga em muitos materiais ligados ionicamente. Devido a esses efeitos, a condutividade elétrica dos materiais varia tremendamente, conforme mostrado na tabela 1. 5 Tabela 1: Valores da condutividade elétrica de alguns metais e materiais. MATERIAL Metais Alcalinos Na K Metais Alc. Terrosos Mg Ca Metais Grupo IIIA Al Ga Metais de Transição Fe Ni Metais Grupo IB Cu Ag Au Materiais Grupo IV C (diamante) Si Ge Sn Polímeros Polietileno Politetrafluoretileno Poliestireno Epoxi Cerâmica Alumina Vidro Cerâmico Nitreto de Boro (BN) Carbeto de Silício Carbeto de Boro (B4C) ESTRUT. ELETR. CONDUTIVIDADE (OHM-1.Cm-1) 1s22s22p63s1 ..................... 3s23p64s1 2,13 x 105 1,64 x 105 1s22s22p63s2 ..................... 3s23p64s2 2,25 x 105 3,16 x 105 1s22s22p63s23p1 ...............3s23p13d104s24p1 3,77 x 105 0,66 x 105 ......................3d64s2 ......................3d64s2 1,00 x 105 1,46 x 105 ......................3d104s1 ......................4d105s1 ......................5d106s1 5,98 x 105 6,80 x 105 4,26 x 105 .............1s22s22p2 ..................... 3s23p2 ............................ 4s24p2 ……………………5s25p2 < 10-18 5 x 10-6 0,02 0,9 x 105 10-15 10-18 10-17 a 10-19 10-12 a 10-17 10-14 10-17 10-17 10-1 a 10-2 1 6 a 2 A tabela 2 mostra algumas unidades úteis e suas relações. Tabela 2: Relações entre unidades. 1 Elétron Volt = 1eV = 1,6 x 10 –19 Joule = 1,6 x 10-12 erg 1 Amp. = 1 Coulomb / Segundo 1 Volt = 1 amp. X ohm k = Const. Boltzmann = 8,63 x 10-5 eV/K = 1,38 x 10-23J/K k.T na temperatura ambiente = 0,025 eV EXEMPLO 1: PROJETO DE UMA LINHA DE TRANSMISSÃO: Projete uma linha de transmissão elétrica, com 1500m de comprimento, que transportará uma corrente de 50A com não mais que 50 x 105 W de perda de potência. A condutividade elétrica de vários materiais está inclusa na Tabela 1. SOLUCÃO: A potência elétrica é dada pelo produto da voltagem e da corrente, ou: P = V.I = I2.R = (50)2 x R. Conforme descrito no problema, o valor da potência dissipada não deve ser maior que 50 x 105 W. Então: 7 (50)2 x R = 50 x 105 W R = 200 Ω. R = ρ ( /A) = ( /σ σA) Porém, sabe-se que: A = /(σ σ.R) A = 1500(m) / (200Ω Ω x σ) =[ 7,5/σ σ] (m/Ω Ω). Como na tabela 1 as -1 -1 unidades são em cm e ohm , então deve-se fazer a conversão para cm. A = [7,5(m/Ω Ω) x (100cm/1m)] / σ = 750 (cm/Ω Ω ) / σ. Pode-se considerar três metais: alumínio, cobre e prata, que têm excelentes condutividade elétrica. A tabela abaixo inclui dados apropriados e algumas características da linha de transmissão para cada metal. A (cm2) 0,00199 0,00125 0,00110 σ (cm-1 x ohm-1) 3,77 x 105 5,98 x 105 6,80 x 105 METAL Alumínio Cobre Prata Diâmetro (cm) 0,050 0,040 0,037 Qualquer um dos três metais vai atender aos requisitos técnicos do projeto, porém o custo será um fator determinante. A expressão da densidade é dada por: ρ = m/V, onde V = A . . Então; ρ = m/(A. ) m = ρ.(A. ). Para o Alumínio, cuja ρ = 2,7 g/cm3 e 1lb = US$-0,80/lb, tem-se: m = ρ(A. ) m = 806g. 1,78lb. m = 2,7 (g/cm3).(0,00199 cm2).(150.000 cm) Como 1lb = 452,81g, então: 806g . (1lb/452,81g) = Custo = 1,78lb x US$-0,80/lb = US$-1,42. Para o Cobre, cuja ρ = 8,93(g/cm3) e 1lb = US$-1,10, tem-se: 8 m = ρ(A. ) m = 8,93 (g/cm3). (0,00125 cm2).(150.000 cm) m = 1674g. 3,69lb. Como 1lb = 452,81g, então: 1674g . (1lb/452,81g) = Custo = 3,69lb x US$-1,10/lb = US$-4,06. Para a Prata, cuja ρ = 10,49 (g/cm3) e 1lb = US$-64,00, tem-se: m = ρ(A. ) m = 10,49 (g/cm3). (0,00110 cm2).(150.000 cm) m = 1731g. 3,81lb. Como 1lb = 452,81g, então: 1731g . (1lb/452,81g) = Custo = 3,81lb x US$-64,00/lb = US$-244,00. Baseado nessa análise, o alumínio é a escolha mais econômica, apesar do arame ter o maior diâmetro. Entretanto, outros fatores, tais como se o arame pode suportar seu próprio peso entre os pólos de transmissão, também contribuem para a escolha final. EXEMPLO 2: Assumindo que todos os elétrons de valência contribuem para o fluxo de corrente, (a) calcule a mobilidade de um elétron no cobre e (b) calcule a velocidade líquida média para os elétrons em um arame de cobre de 100cm quando 10 V são aplicados. SOLUCÃO: 1 – A valência do cobre é um. Dessa forma o número de elétrons de valência iguala-se ao número de átomos de cobre no material. O parâmetro de rede do cobre é 3,6151 x 10-8cm e, uma vez que a estrutura cristalina do cobre é CFC, existem 4 átomos/célula unitária. A partir da tabela 1, a resistividade = 1/σ σ 5 -6 = 1/5,98 x 10 = 1,67 x 10 ohm.cm: 9 n = [(4 átomos/cela) x (1 e-/átomo)]/( 3,6151 x 10-8cm)3/cela. n = 8,466 x 1022 elétrons/cm3. Como q = 1,6 x 10-19 C e µ = σ/nq = 1/ρ ρnq. Então: µ = 1 / (1,67 x 10-6).(8,466 x 1022). (1,6 x 10-19) µ = 44,2cm2/ohm.C = 44,2cm2/V.s. 2 – O campo elétrico é: ξ = V/l = 10/100 = 0,1 V/cm. Como a mobilidade é 44,2cm2/V.s, dessa forma: v = µξ = (44,2).(0,1) = 4,42 cm/s. TEORIA DE BANDA. No capítulo intitulado A estrutura do Átomo, verificou-se que os elétrons num átomo simples, ocupam níveis discretos de energia. O princípio da exclusão de Pauli permite cada nível de energia conter apenas dois elétrons. O nível 2p contém três níveis de energia e um total de seis elétrons. Quando N átomos juntam-se para produzir um sólido, o princípio de Pauli ainda requer que apenas dois elétrons no sólido inteiro tenham a mesma energia. Cada nível de energia amplia-se para Conseqüentemente, a banda 2s num uma banda (Figura 3). sólido contém N níveis de energia discretos e 2N elétrons, dois em cada nível de energia. 10 Figura 3: Os níveis de energia transformam-se em bandas de energia, à medida que o número de elétrons agrupados aumenta. Cada um dos níveis 2p contém N níveis de energia e 2N elétrons. Desde que três bandas 2p normalmente sobrepõem-se, pode-se alternadamente descrever uma simples banda 2p expandida, contendo 3N níveis de energia e 6N elétrons. ESTRUTURA DE BANDA DO SÓDIO. A figura 4 mostra uma fotografia idealizada da estrutura de banda do sódio, que tem uma estrutura eletrônica de 1s22s22p63s1. As energias dentro das bandas dependem dos espaçamentos entre os átomos; a linha vertical representa o espaçamento interatômico de equilíbrio no sódio sólido. Os níveis de energia 3s são as bandas de valência. Os níveis de energia 3p vazios, os quais estão separados da banda 3s por um “gap” de energia, formam uma banda de condução. Sódio e outros metais alcalinos na coluna IA da tabela periódica, têm apenas um elétron no nível s mais externo. A banda de valência 3s no sódio é semi-preenchida, e no zero absoluto, apenas os menores níveis de energia são ocupados. A energia de Fermi (EF) é a energia na qual metade dos níveis de energia possíveis na banda são ocupados por elétrons. 11 Figura 4: A estrutura de banda simplificada para o sódio. Os níveis de energia expandem-se para bandas. A banda 3s, que é apenas semi-preenchida com elétrons, é responsável pela condução no sódio. Mas quando a temperatura do material aumenta, alguns elétrons ganham energia e são excitados para níveis de energia vazios na banda de valência (Figura 5). 12 (a) 13 (b) Figura 5: (a) No zero absoluto, todos os elétrons no nível de energia mais externo têm a menor energia possível. (b) Quando a temperatura é aumentada, alguns elétrons são excitados para níveis não preenchidos. Note que a Energia de Fermi é imutável. Essa condição cria um número igual de níveis de energia vazios, ou buracos, criados por elétrons excitados. Apenas um pequeno aumento na energia é requerido. Uma carga elétrica pode então ser carregada por ambos: elétron excitado e buracos recém-criados. 14 A ESTRUTURA DE BANDA DO MAGNÉSIO E OUTROS METAIS. A estrutura de banda simplificada, para o magnésio (1s22s22p63s2) é mostrada na Figura 6. Figura 6: Estrutura de banda simplificada para o magnésio. No espaçamento interatômico de equilíbrio, os níveis de energia 3s (preenchido) e 3p (vazio) sobrepõem-se. Magnésio e outros metais na coluna IIA da tabela periódica têm dois elétrons nas suas bandas s mais externas. Esses metais têm uma alta condutividade porque a banda p sobrepõe a banda 15 s no espaçamento interatômico de equilíbrio. Essa sobreposição permite os elétrons serem excitados para um maior número de níveis de energia não ocupados nas bandas combinadas 3s e 3p. A sobreposição das bandas 3s e 3p no alumínio e outros metais da coluna IIIA promove um efeito similar. Nos metais de transição, desde o Scandio até o níquel, uma banda 3d não preenchida sobrepõe-se a banda 4s. Essa sobreposição promove níveis de energia para os quais os elétrons podem ser excitados; entretanto, interações complexas entre as bandas evitam que a condutividade seja tão alta como em alguns dos melhores condutores. Mas no cobre, a banda interna 3d é cheia, e esses elétrons são firmemente mantidos pelo núcleo do átomo. Conseqüentemente, existe pouca interação entre os elétrons nas bandas 4s e 3d, e o cobre possui alta condutividade. Uma situação similar é encontrada para a prata e o ouro. ESTRUTURA DE BANDA DOS SEMICONDUTORES E DOS ISOLANTES. Os elementos do grupo IVA – carbono (diamante), silício, germânio e estanho – contêm dois elétrons nos seus orbitais mais externos p e têm uma valência de quatro. Baseado em discussões anteriores, pode-se esperar que esses elementos tenham uma alta condutividade devido à banda p não preenchida, mas esse comportamento não é observado!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Esses elementos são ligados covalentemente; assim sendo, os elétrons nas bandas mais externas s e p são fortemente ligados aos átomos. A ligação covalente produz uma mudança complexa na estrutura de banda, ou hibridação. Os níveis 2s e 2p dos átomos de carbono no diamante podem conter até 8 elétrons, mas existem apenas 4 elétrons de valência disponíveis. Quando átomos de carbono são juntados para formar o diamante sólido, os níveis 2s e 2p interagem e produzem duas bandas (Figura 7). Cada banda híbrida pode conter 4N elétrons. Desde que existem apenas 4N elétrons disponíveis, a menor banda (ou de valência) 16 está completamente preenchida; entretanto, a banda superior (ou de condução) está vazia. Um grande intervalo (“gap”) de energia, Eg, separa os elétrons da banda de condução no diamante. Poucos elétrons possuem energia suficiente para alcançarem a zona proibida para a banda de condução. Conseqüentemente, o diamante tem uma condutividade elétrica menor que 10-18Ohm-1.cm-1. Outros materiais covalentemente e ionicamente ligados têm uma estrutura de banda similar e, como o diamante, comportam-se como isolantes elétricos. Figura 7: A estrutura de banda para o carbono na forma de diamante. Os níveis 2s e 2p combinam para formar duas bandas híbridas separadas por um “gap”de energia Eg. 17 A Tabela 1 mostra a condutividade elétrica de vários materiais poliméricos e cerâmicos na temperatura ambiente. Aumentando-se a temperatura ou aplicando-se uma voltagem, a energia requerida para os elétrons sobrepor o “gap” energético é atingida. Por exemplo, a condutividade elétrica do Nitreto de Boro aumenta de cerca de 10-13 Ohm-1.cm-1 na temperatura ambiente para 10-4 Ohm-1.cm-1 a 800°°C. Embora germânio, silício e estanho tenham a mesma estrutura cristalina e estrutura de banda que o diamante, o gap de energia é menor. De fato, o gap de energia no estanho é tão pequeno que o estanho comporta-se como um metal. O gap de energia é um pouco maior no silício e no germânio – esses elementos comportam-se como semicondutores. A Tabela 1 inclui a condutividade elétrica desses quatro elementos. CONTROLANDO A CONDUTIVIDADE DOS METAIS: A condutividade de um metal puro, livre de defeitos, é determinada pela estrutura eletrônica dos átomos. É possível mudar a condutividade influenciando a mobilidade, µ, dos carregadores de carga. A mobilidade é proporcional à velocidade livre, "v", que é baixa se os elétrons colidem-se com imperfeições na rede. O caminho livre médio é a distância média entre duas colisões; um longo caminho livre médio permite altas mobilidades e altas condutividades. Efeito da Temperatura: Quando a temperatura de um metal aumenta, a energia térmica faz os átomos vibrar (Figura 8). Num determinado instante, os átomos podem não estar nas suas posições de equilíbrio, e eles interagem com os elétrons espalhados. O caminho livre médio diminui, a mobilidade dos elétrons é reduzida, e a resistividade aumenta. 18 Figura 8: Movimento de um elétron através de: (a) um cristal perfeito, (b) um metal aquecido a temperatura alta, e (c) um cristal contendo defeitos de rede. O espalhamento de elétrons reduz a mobilidade e a condutividade. A variação da resistividade em relação à temperatura pode ser estimada a partir da equação: ρT=ρ ρr ( 1 + a∆ ∆T) Onde ρT é a resistividade devida, somente, à vibração térmica; ρr é a resistividade na temperatura ambiente (25°°C), ∆T é diferença entre a temperatura de interesse e a temperatura ambiente, e “a” é o coeficiente de resistividade-temperatura. A relação entre a resistividade e a temperatura é linear, sobre uma ampla faixa de 19 temperaturas (Figura 9). Exemplos de coeficientes de resistividade-temperatura são dados na tabela 3. Figura 9: O efeito da temperatura na resistividade elétrica de um metal com uma rede perfeita. A inclinação da curva é o coeficiente de resistividade temperatura. Tabela 3: Coeficiente de Resistividade-temperatura para alguns metais selecionados. METAL Be Mg Ca Al Cr Fe Co Ni Cu Ag Au RESISTIVIDADE A COEFICIENTE DE TEMPERATURA AMBIENTE RESISTIVIDADE -6 (X10 OHM.Cm) TEMPERATURA (OHM.Cm/°°C) 4,00 4,45 3,91 2,65 12,90 9,71 6,24 6,84 1,67 1,59 2,35 20 0,0250 0,0165 0,0042 0,0043 0,0030 0,0065 0,0060 0,0069 0,0068 0,0041 0,0040 EXEMPLO 3: Calcule a condutividade elétrica do cobre puro a: (a) 400°°C e 100°°C. SOLUCÃO: A resistividade elétrica do cobre a temperatura ambiente é 1,67 x 10-6 Ohm.Cm, e o coeficiente de resistividade-temperatura é 0,0068 Ohm.cm/°°C. (a) A 400°°C: ρT=ρ ρr ( 1 + a∆ ∆T) = (1,67 x 10-6 ).[ 1 + 0,0068(400 – 25)] ρT= 5,929 x 10-6 Ohm. cm σ = (1 / ρT) = ( 1 / 5,929 x 10-6 ) σ = 1,69 x 105 Ohm-1.cm-1. (b) A -100°°C: ρT=ρ ρr ( 1 + a∆ ∆T) = (1,67 x 10-6 ).[ 1 + 0,0068(-100 – 25)] ρT= 0,251 x 10-6 Ohm.cm σ = (1 / ρT) = ( 1 / 0,251 x 10-6 ) σ = 39,8 x 105 Ohm-1.cm-1. EFEITO DOS DEFEITOS DA REDE: As imperfeições na rede espalham elétrons, reduzindo a mobilidade e a condutividade do metal (figura 8C). Por exemplo, o aumento na resistividade devido a átomos em solução sólida é: 21 ρd= b.( 1 – x ).x, onde ρd é o aumento na resistividade devido aos defeitos, x é a fração atômica de impurezas, ou átomos presentes em solução sólida e b é o coeficiente de resistividade devido a defeitos. De uma maneira geral, vacâncias, deslocações, e contornos de grãos reduzem a condutividade do metal. Figura 10: A resistividade elétrica de um metal é composta de uma contribuição constante, devido a presença de defeitos (ρ ρd) e uma contribuição variável com a temperatura. 22 Cada defeito contribui com um aumento na resistividade do metal. Assim, a resistividade total é: ρ = ρT+ ρd, onde ρd representa a contribuição de todas as imperfeições. efeito do defeito é independente da temperatura (Figura 10). O EFEITO DO PROCESSAMENTO E DO REFORÇAMENTO. Mecanismos de reforçamento e técnicas de processamento de metais afetam suas propriedades elétricas de diferentes maneiras, Tabela 4. LIGAS COBRE PURO RECOZIDO COBRE PURO DEFORMADO 80% LIGA Cu-0,7% Al2O3 REFORCADA POR DISPERSÃO. OBSERVAçÕES (σ σliga/σ σCu).100 101 98 85 LIGA Cu-2%Be, SOLUBILIZADA 18 LIGA Cu-2%Be ENVELHECIDA 23 Cu-35%Zn 28 POUCOS DEFEITOS DE REDE PARA ESPALHAREM ELÉTRONS; O PASSO LIVRE MÉDIO É LONGO. MUITAS DESLOCAçÕES, MAS DEVIDO A NATUREZA EMARANHADA DA REDE DE DESLOCAçÕES, O PASSO LIVRE MÉDIO AINDA É LONGO. A FASE DISPERSA NÃO ESTÁ HOMOGENEAMENTE ESPAçADA COMO SOLUçÕES SÓLIDAS ATÔMICAS, TÃO POUCO ELA É COERENTE, COMO ACONTECE NO ENVELHECIMENTO. ASSIM, O EFEITO NA CONDUTIVIDADE É PEQUENO. A LIGA É MONOFÁSICA; ENTRETANTO, A PEQUENA QUANTIDADE DE REFORÇAMENTO POR SOLUCÃO SÓLIDA, DO BERÍLIO SUPERSATURADO, DIMINUI A CONDUTIVIDADE SIGNIFICATIVAMENTE. DURANTE O ENVELHECIMENTO, O Be SAI DA REDE DO COBRE PARA PRODUZIR UM PRECIPITADO COERENTE. O PRECIPITADO NÃO ENTERFERE COM A CONDUTIVIDADE TANTO QUANTO OS ÁTOMOS EM SOLUÇÃO SÓLIDA ESSA É UMA SOLUÇÃO SÓLIDA REFORÇADA POR ZINCO, QUE TEM UM RAIO ATÔMICO PRÓXIMO AO DO COBRE. A CONDUTIVIDADE É BAIXA, MAS NÃO TANTO QUANTO QUANDO O BERÍLIO ESTÁ PRESENTE. 23 O reforçamento por solução sólida é uma maneira pobre de se obter altas resistências em metais onde se pretende ter altas condutividades. Os caminhos livres médios são muito curtos devido à distribuição aleatória de átomos intersticiais ou substitucionais. A Figura 11 mostra o efeito do zinco e de outros elementos ligantes na condutividade do cobre; conforme a quantidade de elementos de liga aumenta, a condutividade diminui substancialmente. O endurecimento por envelhecimento e o reforçamento por dispersão reduzem a condutividade menos que o reforçamento por solução sólida, desde que exista um caminho livre médio maior entre os precipitados, quando comparado com o caminho entre dois defeitos pontuais. O encruamento e o controle do tamanho de grão têm mesmo menos efeito na condutividade (Figura 11 e Tabela 4). Uma vez que os contornos de grãos e as deslocações são mais separados (estão mais distantes) do que átomos em solução sólida, existem mais volumes de metal que possuem um caminho livre médio longo. Figura 11: (a) Efeito do reforçamento por solução sólida e do trabalho a frio na condutividade elétrica do cobre e (b) Efeito de elementos de liga selecionados na condutividade elétrica do cobre. 24 Conseqüentemente, o trabalho a frio é uma maneira efetiva de aumentar a resistência mecânica de um condutor metálico, sem prejudicar as propriedades elétricas do material. Além disso, os efeitos do trabalho a frio na condutividade, podem ser eliminados pelo tratamento térmico de recuperação em baixas temperaturas, nas quais uma boa condutividade é restaurada enquanto a resistência mecânica é retida. SUPERCONDUTIVIDADE: Alguns cristais, resfriados até o zero absoluto, comportam-se como supercondutores, desde que a resistividade elétrica tornase nula e a corrente flua indefinidamente no material. Infelizmente, obter-se zero absoluto não é prático. Entretanto, alguns materiais mostram comportamento super condutivo acima do zero absoluto, mesmo quando o cristal contém defeitos. Figura 12: A resistividade elétrica de um supercondutor torna-se zero abaixo de alguma temperatura crítica Tc. 25 A mudança da condução normal para a super condução, que ocorre abruptamente numa temperatura crítica Tc (figura 12), é um fenômeno complexo; elétrons tendo a mesma energia mas “spins” opostos combinam-se para formarem pares. Quando a freqüência das vibrações atômicas (fônons) dentro da rede está sincronizada com a freqüência ou comprimento de onda do par de elétrons, a supercondutividade pode ocorrer. Uma variedade de metais e compostos intermetálicos mostra esse efeito (Tabela 5), com temperaturas críticas até cerca de 20K. Esse efeito permite que materiais sejam super condutivos por intermédio do resfriamento com Hélio (He) líquido a 4K. Um número expressivo de ferramentas para diagnósticos médicos, incluindo imagem de ressonância magnética, usa esses supercondutores. Tabela 5: A temperatura crítica e o campo magnético para super condutividade de materiais selecionados. MATERIAL TC(K) H0 (OERSTED) SUPERCONDUTORES TIPO I TUNGSTÊNIO (W) 0,015 1,15 ALUMÍNIO (Al) 1,180 105,00 ESTANHO (Sn) 3,720 305,00 SUPERCONDUTORES TIPO II NIÓBIO (Nb) 9,25 1.970,00 Nb3Sn 18,05 250.000,00 GaV3 16,80 350.000,00 CERÂMICAS SUPERCONDUTORAS (La,Sr)2CuO4 40,00 YBa2Cu3O7-X 93,00 TlBa2Ca3CU4O11 Para um material ser supercondutor, o campo magnético deve ser excluído do condutor (isso explica a habilidade dos supercondutores levitarem acima de um magneto). Para os 26 supercondutores do tipo I, os quais incluem tungstênio e estanho, aumentando-se o campo magnético diminui-se a temperatura requerida para a super condução. Para um campo magnético maior que Hc, linhas de fluxo magnético entram no condutor e suprimem completamente a super condução. O efeito do campo na temperatura crítica é dado por: Hc = H0[1 – (T/Tc)2], Onde H0 é o campo magnético crítico a zero Kelvin (0K), Figura 13. A combinação de temperaturas e campos magnéticos, dentro do “envelope” criado por H0 e Tc promovem supercondutividade nos materiais do tipo I. Muitos materiais, incluindo Nb3Sn, são tipo II ou supercondutores de alto campo. Figura 13: (a) O efeito do campo magnético na temperatura abaixo da qual a supercondutividade ocorre e (b) O “envelope”de supercondução, mostrando os efeitos combinados de temperatura, campo magnético, e densidade de corrente. Condições dentro do envelope produzem supercondutividade. 27 Esses materiais passam por três estágios à medida que o campo magnético aumenta, mudando de completamente super condutivo (1) para um estado misto (2), para uma condução normal (3) sobre a mesma faixa de campos. Em um ponto dessa faixa, a superfície do material está supercondutiva, enquanto o centro exibe condução normal. Os supercondutores tipo II tipicamente têm maiores temperaturas críticas e campos magnéticos do que os materiais do tipo I. A densidade de corrente (A/cm2) fluindo através de um condutor afeta a supercondutividade; se a densidade de corrente J é muito Materiais alta, a supercondutividade é perdida (Figura 13). supercondutores teriam altas temperaturas críticas, campos magnéticos e densidades de correntes. Até cerca de 1986, o Hélio líquido (a 4K) era usado para resfriar os materiais abaixo das temperaturas críticas e, conseqüentemente, as aplicações para supercondutores eram limitadas. Entretanto, um grupo de materiais cerâmicos possui temperaturas críticas que excedem 77K, permitindo resfriamento por nitrogênio líquido, que é relativamente de baixo custo. Esses materiais incluem os compostos 1-2-3 da forma YBa2Cu3O7-x, onde x indica que alguns íons estão faltando da complicada estrutura cristalina da perovskita (figura 14). Um comportamento similar foi encontrado para uma variedade de outras cerâmicas, incluindo algumas (tal como TlBa2Ca3Cu4O11) que têm temperaturas críticas acima de 100K. 28 Figura 14: A estrutura cristalina do composto supercondutor YBa2Cu3O7-x é composta de três células perovskita numa forma de camada, dando uma estrutura ortorrômbica. Densidades de correntes de 106 A/cm2 são obtidas usando-se supercondutores do tipo II, mas densidades de correntes menores que 103 A/cm2 são obtidas em cerâmicas produzidas por processos de sinterização convencionais. Maiores densidades de corrente podem ser obtidas em cerâmicas com uma orientação preferida, requerendo processos de solidificação direcional. O uso de finos filmes ao invés de corpos cerâmicos reduz esses problemas de processamento e permite maiores densidades de corrente (Figura 15). As cerâmicas são também frágeis e difíceis de fabricar. Além das aplicações médicas, o uso potencial para materiais supercondutivos incluem chaves eletrônicas, linhas de transmissão de energia, computadores de alta velocidade, trens levitados magneticamente, baterias melhoradas para automóveis elétricos não poluentes, plantas de fusão nuclear e outras. 29 Figura 15: A densidade de corrente crítica de supercondutores cerâmicos é menor que aquela do Nb3Sn, mas é dramaticamente influencida pelo método no qual o material é produzido. EXEMPLO 4: Projeto de um Sistema Supercondutor. Projete o campo magnético limitante, que permitirá ao nióbio servir como um supercondutor em temperaturas do Hélio (He) líquido. SOLUÇÃO: Da tabela 5, Tc = 9,25K e H0 = 1970 Oersted. Uma vez que a temperatura de operação será 4K, necessita-se determinar o campo magnético máximo permissível, usando a equação: Hc = H0[1 – (T/Tc)2] Hc = (1970) . [ 1 – (4/9,25)2] 30 Hc = (1970).(0,813) Hc = 1602 Oersted. Dessa forma, o campo magnético deve permanecer abaixo de 1602 Oersted para que o Nióbio seja supercondutivo. CONDUTIVIDADE EM OUTROS MATERIAIS: A condutividade elétrica em muitas cerâmicas e polímeros é normalmente muito baixa. Entretanto, materiais especiais apresentam condução limitada ou mesmo boa condução. Condução em Materiais Iônicos. A condução em materiais iônicos freqüentemente ocorre pelo movimento entre os íons, uma vez que o gap de energia é muito grande para os elétrons entrar na banda de condução. Dessa forma, muitos materiais iônicos comportam-se como isolantes. Em materiais iônicos, a mobilidade dos carregadores de cargas, ou íons, é: µ = [(ZqD) / kT ] onde D é o coeficiente de difusão, k é a constante de Boltzmann, T é a temperatura absoluta, q é a carga e Z é a valência do íon. A mobilidade é muitas ordens de grandeza menor que a mobilidade dos elétrons, uma vez que a condutividade é muito pequena: σ = nZqµµ 31 Impurezas e vacâncias aumentam a condutividade; vacâncias são necessárias para a difusão em estruturas cristalinas do tipo substitucional e as impurezas podem difundir-se e ajudar a “carregar a corrente”. Altas temperaturas aumentam a condutividade porque a taxa de difusão aumenta. EXEMPLO 5: Suponha que a condutividade elétrica do MgO é determinada primeiramente pela difusão dos íons Mg+2. Estime a mobilidade dos íons Mg+2 e calcule a condutividade elétrica do MgO a 1800°°C. Solução: O coeficiente de difusão para os íons Mg+2 no MgO a 1800°°C é 10cm2/s. Para o MgO, Z = 2 íons, q = 1,6 x 10-19C, k = 1,38 x 1023 J/K e T = 2073K. 10 µ = [(ZqD) / kT ] = [2. (1,6 x 10-19C).10-10] / [(1,38 x 10-23J/K) (2073K)] µ = 1,12 x 10-9 C.cm2/J.s, desde que C = A.s e J = A.V.s µ = 1,12 x 10-9 cm2/V.s. O MgO tem a estrutura do NaCl, com quatro íons magnésio por célula unitária. O parâmetro de rede é 3,96 x 10-8 cm, então o número de íons Mg+2 por centímetro cúbico é: n = [4 Mg+2 (íons/cela)] / (3,96 x 10-8 cm)3 = 6,4 x 1022 íons/cm3. σ = nZqµ µ = (6,4 x 1022).(2).(1,6 x 10-19).(1,12 x 10-9) σ = 22,94 x 10-6C.cm2/cm3.V.s Desde que C = A.s e V = A.Ohm: σ =2,294 x 10-5Ohm-1.cm-1. 32 CONDUÇÃO EM POLÍMEROS: Devido ao fato de seus elétrons estarem envolvidos em ligações covalentes, os polímeros têm uma estrutura de banda com um grande “gap”de energia, apresentando uma baixa condutividade elétrica. Os polímeros são freqüentemente usados em aplicações que requerem isolação elétrica, para evitar curtos circuitos, arcos voltaicos, etc. A Tabela 1 mostra a condutividade de alguns polímeros comuns. Em alguns casos, entretanto, a baixa condutividade é um obstáculo. Por exemplo, a eletricidade estática pode acumularse superficialmente em equipamentos eletrônicos, tornando o polímero transparente para a radiação eletromagnética que prejudica os dispositivos eletrônicos internos. Se a luminosidade “bombardeia” a matriz polimérica de um compósito do qual é feita a asa de um avião, muitos danos podem ocorrer. Resolvem-se esses problemas de duas maneiras: (1) introduzindo um aditivo ao polímero para melhorar a condutividade, e (2) criando polímeros que inerentemente tenham boas condutividades. A resistividade pode ser reduzida adicionando-se compostos iônicos ao polímero. Os íons migram para a superfície do polímero e atraem misturas, as quais dissipam as cargas estáticas. As cargas estáticas também podem ser dissipadas introduzindo materiais de adição condutores, tal como o carbono preto. A figura 16 mostra que quando são introduzidas fibras de carbono em quantidades suficientes ao Nylon para assegurar o contato fibra-fibra, a resistividade é reduzida treze ordens de grandeza em magnitude. Aditivos e fibras condutivas são também usados para produzir polímeros que apresentam blindagem contra a radiação eletromagnética. 33 Figura 16: Efeito das fibras de carbono na resistividade elétrica do Nylon . Alguns polímeros inerentemente têm boa condutividade, como resultado da dopagem ou técnicas de processamento. Quando polímeros do tipo acetato são dopados com agentes tais como penta fluoreto de arsênico, elétrons ou buracos são capazes de saltar livremente de um átomo para outro ao longo da coluna vertebral da cadeia, aumentando a condutividade para valores muito próximos do metais. Alguns polímeros, tais como a polifitalocianina, podem ser cross-linked por processos especiais de cura, com o intuito de aumentar a condutividade para valores tão altos quanto 102 Ohm-1.cm-1; um processo que permite o polímero tornar-se um semicondutor. Por causa das ligações cruzadas (cross-linking) os elétrons podem mover-se mais facilmente de uma cadeia para a outra. SEMICONDUTORES INTRÍNSECOS. Materiais semicondutores, incluindo o Silício e o Germânio, são os alicerces para muitos de nossos dispositivos eletrônicos. Esses materiais têm uma condutividade elétrica facilmente controlada e, quando propriamente controlada, podem atuar 34 como chaves, amplificadores e dispositivos de estocagem (armazenagem). Silício e Germânio puros comportam-se como semicondutores intrínsecos. O gap de energia Eg entre as bandas de valência e de condução nos semicondutores é pequena (Tabela 6) e, como conseqüência, alguns elétrons possuem energia térmica suficiente para exceder o gap e entrar na banda de condução. Tabela 6: Estrutura eletrônica e condutividade elétrica de elementos do grupo IV A a 25°°C. ELEMENTO C DIAM. Si Ge Sn ESTRUTURA ELETRÔNICA 1s22s22p2. 1s22s22p63s23p2. ................4s24p2. ................5s25p2. CONDUTIVIDADE GAP DE MOBILIDADE MOBILIDADE ELÉTRICA ELETRÔNICA DOS -1 -1 2 (OHM .cm ) ENERGIA (cm /V.S) BURACOS 2 (eV) (cm /V.S) < 10-18 5x10-6 0,02 0,9 x 105 5,4 1800 1400 1,107 0,67 0,08 1900 3800 2500 500 1820 2400 Os elétrons excitados deixaram para trás níveis de energia não ocupados, ou buracos na banda de valência. Quando um elétron move-se para preencher um buraco, um outro buraco é criado na fonte original do elétron; conseqüentemente, os buracos aparecem para atuar como elétrons carregados positivamente e também carregar uma carga elétrica. Quando uma voltagem é aplicada ao material, os elétrons na banda de condução aceleram em direção ao terminal positivo, enquanto que os buracos na banda de valência movem-se em direção ao terminal negativo, Figura 17. 35 A condutividade é determinada pelos números de pares elétronburaco de acordo com a expressão: σ = neqµµe + nhqµµh Onde ne é o número de elétrons na banda de condução, nh é o número de buracos na banda de valência e µe , µh são as mobilidades dos elétrons e dos buracos, Tabela 6. 36 Figura 17: Quando uma voltagem é aplicada a um semicondutor, os elétrons movem-se através da banda de condução, enquanto os “buracos” se movem através da banda de valência na direção oposta. 37 Em semicondutores intrínsecos: n = ne = nh Dessa forma a condutividade é: σ = nq(µ µe + µh) Em semicondutores intrínsecos, controla-se o número de carregadores de cargas e, dessa forma, a condutividade elétrica, controlando a temperatura. No zero absoluto, todos os elétrons estão na banda de valência, entretanto todos os níveis de energia na banda de condução estão desocupados, conforme Figura 18 (a). 38 (a) 39 (b) Figura 18: Distribuição de elétrons e buracos nas bandas de valência e de condução (a) no zero absoluto e (b) numa temperatura elevada. Conforme a temperatura aumenta, existe uma maior probabilidade que um nível de energia na banda de condução seja ocupado ( e uma igual probabilidade que um nível de energia na banda de valência esteja desocupado, ou que um buraco esteja presente), Figura 18 (b). O número de elétrons na banda de condução, que é igual ao número de buracos na banda de valência, é dado por: 40 n = ne = nh = n0 exp (-Eg/2KT) onde n0 pode ser considerado constante, embora ele, também, realmente depende da temperatura. Maiores temperaturas permitem mais elétrons atravessarem a zona proibida, e dessa forma, aumentar a condutividade: σ = n0q(µ µe + µh) exp(-Eg/2KT) Note que ambos n e σ estão relacionados com a temperatura por uma equação de Arrhenius: Taxa = A exp(-Q/RT). O comportamento de um semicondutor é o oposto aquele dos metais (Figura 19). Conforme a temperatura aumenta, a condutividade de um semicondutor aumenta devido ao fato de mais portadores de cargas estarem presentes, enquanto a condutividade de um metal diminui devido a menor mobilidade dos carregadores de carga. Se a fonte de energia excitante ou voltagem for removida, os buracos e elétrons re-combinam, mas apenas sobre um período de tempo. O número de elétrons na banda de condução diminui numa taxa dada por: 41 n = n0 exp (-t/ττ) Onde t é o tempo após um campo ser removido, n0 é uma constante, e τ é uma constante chamada de tempo de recombinação. Essa característica é importante na operação de um número de dispositivos semicondutores. Figura 19: A condutividade elétrica versus temperatura para semicondutores comparados com metais. 42 EXEMPLO 6: Para o Germânio a 25°°C, estimar: (a) o número de carregadores de carga, (b)a fração do total de elétrons na banda de valência que são excitados para a banda de condução, e (c) a constante n0. SOLUÇÃO: Da tabela 6: σ = 0,02Ω Ω-1.cm-1. Eg = 0,67eV, µe=3800cm2/V.s µh = 1820 cm2/V.s 2KT = 2 . (8,63 x 10-5)(eV/K) (273 + 25) = 0,0514 eV a T = 25°°C. Da equação: σ = neqµ µe + nhqµ µh e n σ = nqµ µe + nqµ µh σ = nq(µ µe + µh) = ne = nh tem-se que: = σ / [q(µ µe + µh )] n = (0,02) / [(1,6 x 10-19).(3800 + 1820)] = 2,2 x 1013elétrons/cm3. Existem 2,2 x 1013elétrons/cm3 e 2,2 x 1013 buracos/cm3, ajudando a conduzir uma carga no germânio, na temperatura ambiente. O parâmetro de rede do Germânio é 5,6575 x 10-8 cm. O número total de elétrons na banda de valência do Germânio é: nTOTAL = [(8átomos/cela).(4elétrons/átomo)] / (5,6575 x 10-8cm)3. nTOTAL = 1,77 x 1023 elétrons Fração Excitada = [2,20 x 1013 elétrons] / [1,77 x 1023 elétrons] Fração Excitada = 1,24 x 10-10. Da Equação n = ne = nh = n0 exp (-Eg/2KT), tem-se: 43 n0 = n / [exp (-Eg/2KT)] = [2,20 x 1013] / exp(-0,67/0,0514) n0 = 1,01 x 1019 carregadores/cm3. SEMICONDUTORES EXTRÍNSECOS: Não se pode controlar precisamente o comportamento de um semicondutor intrínseco, devido ao fato de moderadas variações de temperatura implicar em mudanças na condutividade. Entretanto, através da adição intencional de um pequeno número de átomos de impurezas ao material (chamado de dopagem), pode-se produzir um semicondutor extrínseco. A condutividade do semicondutor extrínseco depende primeiramente do número de impurezas, ou dopantes, do número de átomos, e numa certa faixa de temperaturas, pode mesmo ser independente da temperatura. Semicondutores do Tipo n. Suponha que se adicione um átomo de impureza tal qual o Antimônio, que tem uma valência de cinco (5), ao Silício ou ao Germânio. Quatro dos elétrons do átomo de Antimônio participam do processo de ligação covalente, enquanto o elétron extra entra num nível de energia num “estado doador”, logo abaixo da banda de condução (Figura 20). 44 Figura 20:Quando um átomo dopante, com valência maior que quatro, é adicionado ao Silício, um elétron extra é introduzido e um estado de energia “doador”é criado. Agora, os elétrons são mais facilmente excitados para a banda de condução. 45 Desde que o elétron extra não é firmemente ligado aos átomos, apenas um pequeno aumento na energia, Ed, é requerida para o elétron entrar na banda de condução. Ed é freqüentemente definida como a diferença de energia entre o topo da banda de valência e a banda doadora. Nesse caso, o aumento de energia requerido seria definido como Eg - Ed. O “gap”de energia controlando a condutividade é agora Ed ao invés de Eg, Tabela 7. Não são criados buracos correspondentes quando elétrons doadores entram na banda de condução. Tabela 7: Os gaps de energia doadora e receptora em elétrons volts, quando os semicondutores Silício e o Germânio são dopados. DOPANTE P As Sb B Al Ga In SILÍCIO Ed 0,045eV 0,049eV 0,039eV Ea 0,045eV 0,057eV 0,065eV 0,160eV GERMÂNIO Ed Ea 0,0120eV 0,0127eV 0,0096eV 0,0104eV 0,0102eV 0,0108eV 0,0112eV Um pouco de semicondução ainda ocorre, com um pouco de elétrons ganhando energia suficiente para saltar o grande gap Eg. O número total de carregadores de carga é: ntotal = ne (dopante) + ne (intrínseco) + nh (intrínseco) ou n0 = n0d . exp( - Ed/KT ) + 2n0 . exp (- Eg/2KT ), onde n0d, n0 são aproximadamente constantes. Em baixas temperaturas, poucos elétrons e buracos intrínsecos são produzidos e o número de elétrons é cerca de: ntotal n0d . exp( - Ed/KT ) 46 Conforme a temperatura aumenta, um maior número de elétrons doadores salta o gap Ed até, eventualmente, todos os elétrons doadores entrarem na banda de condução. Nesse ponto, atinge-se a exaustão do doador (Figura 21). A condutividade é virtualmente constante; os elétrons doadores não são mais possíveis e a temperatura é ainda muito baixa para produzir muitos elétrons e buracos intrínsecos, particularmente quando Eg é grande. A condutividade é: σ = ndqµ µe, onde nd é o número máximo de elétrons doadores, determinado pelo número de átomos de impurezas que são adicionados. Figura 21: O efeito da temperatura sobre a condutividade do Silício dopado com Fósforo. Em baixas temperaturas, a condutividade aumenta à medida que mais elétrons doadores entram na banda de condução. Em temperaturas moderadas, ocorre a exaustão do doador. Em altas temperaturas, a 47 semicondução intrínseca torna-se importante. esquemático e (b) Plot de arrhenius. (a) Diagrama Em altas temperaturas, o termo exp (- Eg/2KT ) torna-se significante e a condutividade aumenta novamente de acordo com: σ = qndµe + q(µ µe + µh)n0 exp(- Eg / 2KT ) Se se plotar σ versus 1 / T, obter-se-á uma relação de Arrhenius da qual Eg e Ed podem ser calculadas. SEMICONDUTORES DO TIPO p. Quando se adiciona uma impureza tal como o Gálio, que tem uma valência de três, a um semicondutor, não existem elétrons suficientes para completar o processo de ligação covalente. Um buraco é criado na banda de valência que pode ser preenchido por elétrons de outras localizações na banda (Figura 22). 48 Figura 22: Quando um átomo dopante com uma valência menor que quatro é introduzido na rede do Silício, um buraco eletrônico é criado na estrutura e um nível de energia receptor é criado logo 49 acima da banda de valência. Pouca energia é requerida para excitar os buracos eletrônicos a movimentarem-se. Os buracos atuam como receptores de elétrons. Esses buracos têm um nível de energia um pouco maior que o normal e criam um nível receptor de possíveis energias eletrônicas logo acima da banda de valência (tabela 7). Um elétron deve ganhar uma energia de apenas Ea para criar um buraco na banda de valência. O buraco então, move-se e carrega a carga elétrica. Agora, tem-se um semicondutor do tipo p. À medida que nos semicondutores do tipo n, a temperatura tornase elevada o suficiente para causar a “saturação do receptor” então; σ = na.q.µ µh, onde na é o número máximo de níveis receptores, ou buracos, introduzidos pelo dopante. COMPOSTOS SEMICONDUTORES. Silício e Germânio são os únicos elementos que têm aplicações práticas como semicondutores. Entretanto, um maior número de cerâmicas e compostos intermetálicos mostram o mesmo efeito. Exemplos são dados na Tabela 8. Tabela 8: “Gaps” de Energia e mobilidades para compostos semicondutores. COMPOSTOS ZnS GaP GaAs GaSb InSb InAs ZnO CdS PbS GAP ENERGIA MOBILIDADE (eV) ELETRÔNICA (cm2/V.S) 3,54 180 2,24 300 1,35 8.800 0,67 4.000 0,165 78.000 0,36 33.000 3,20 180 2,42 400 0,37 600 50 MOBILIDADE BURACOS (cm2/V.S) 5 100 400 1.400 750 460 600 Os semicondutores estequiométricos, normalmente compostos intermetálicos, têm estruturas cristalinas e estruturas de banda similares ao Silício e ao Germânio. Elementos do grupo III e do grupo V da tabela periódica são exemplos clássicos. O Gálio do grupo III e o Arsênico do grupo V combinam-se para formarem um composto GaAs, com uma média de quatro elétrons de valência por átomo. Os níveis 4s24p1 do Gálio e os níveis 4s24p3 do Arsênico produzem duas bandas híbridas, cada uma capaz de conter 4N elétrons. Um gap de energia de 1,35eV separa as bandas de valência e de condução. O composto GaAs pode ser dopado para produzir um semicondutor do tipo “n” ou um do tipo “p”. O grande gap de energia Eg conduz a um amplo platô de exaustão, e a alta mobilidade dos carregadores de carga no composto conduzem a altas condutividades. Os semicondutores não estequiométricos, ou defeitos semicondutores, são compostos iônicos contendo um excesso de outros ânions ( produzindo um semicondutor do tipo p ) ou de cátions ( produzindo um semicondutor do tipo n ). Um número de óxidos ou sulfetos tem esse comportamento, incluindo o ZnO, que tem a estrutura cristalina da blenda de zinco. Por exemplo, se um átomo extra de Zinco é adicionado ao ZnO, o átomo extra, entra na estrutura como um íon Zn+2, fornecendo dois elétrons que contribuem para o número de carregadores de cargas. Esses elétrons podem ser excitados por um pequeno aumento na energia para carregar corrente (Figura 23). O ZnO, agora se comporta como um semicondutor do tipo "n". 51 Figura 23: Átomos intersticiais de Zinco podem ionizar e introduzir elétrons extra, criando um defeito semicondutor do tipo "n" no ZnO. Outro defeito semicondutor é criado quando dois íons Fe+3 são substituídos por três íons Fé+2 no FeO, criando dessa forma uma vacância (Figura 24). 52 Figura 24: Dois íons Fe+3 e uma vacância substituem três íons Fe+2, mantendo a carga total balanceada, mas criando um nível receptor. O resultado é um defeito semicondutor do tipo p. Os íons Fe+3 atuam como receptores de elétrons, e um semicondutor do tipo p é produzido. EXEMPLO 7: PROJETO DE UM SEMICONDUTOR. Projete um semicondutor do tipo “p”, baseado no Silício, que forneça uma condutividade constante de 100 Ohm-1.cm-1 sobre uma faixa de temperaturas. SOLUÇÃO. Para obter-se a condutividade desejada, deve-se dopar o Silício com átomos tendo uma valência de +3, adicionando-se dopante suficiente para fornecer o número requerido de carregadores de cargas. Se se assumir que o número de carregadores intrínsecos é pequeno, então: 53 σ = ndqµ µh, onde σ = 100 Ohm-1.cm-1 e µh= 500 cm2/V.s (Tabela 6). Lembrando-se que C = (A).(s) e V = (A).(Ohm), o número de carregadores de carga requerido é: nd = σ / (qµ µh) = (100) / (1,6x10-19).(500) = 1,25 x 1018 elétrons/cm3. Além disso, nd= (1e-/átomo dop).(x átomos dop/átomo de Si).(8átomos Si/cela) (5,4307 x 10-8)3 cm3/cela x = (1,25 x 1018) (e-/cm3).( 5,4307 x 10-8)3 cm3/cela/(8átomos Si/cela) x = 25 x 10-6 átomos dopantes/átomo de Si. Ou x = 25 átomos dopantes/ 106 átomos de Si. Os possíveis dopantes seriam Boro, Alumínio, Gálio e Índio. EXEMPLO 8: Projeto de um defeito semicondutor. Projete um defeito semicondutor do tipo n no ZnO, que fornecerá 20 x 1020 carregadores de cargas por cm3. SOLUÇÃO. Para produzir o número apropriado de carregadores de carga, deve-se determinar o número de íons Zn em excesso que seria incorporado no cristal. O ZnO tem a estrutura da blenda de Zinco. Vê-se que nessa estrutura, os íons tocam-se ao longo da diagonal do corpo, onde: 4rZn + 4rO = [ (3)] a0. Os raios iônicos são: rZn = 0,74 e 54 rO = 1,32 Assim, 4(0,74) + 4(1,32) = 8,24 . Como 4rZn + 4rO = [ (3)] a0. Então: 8,24 = [ (3)] a0. a0 = 4,757 = 4,757 x 10-8cm. O número de íons de Zn+2 em um centímetro cúbico de ZnO estequiométrico é: (4íons Zn+2/cela) / (4,757 x 10-8)3cm3/cela = 3,72 x 1022 íons Zn+2/cm3. Os carregadores de carga no ZnO não estequiométrico são elétrons introduzidos pelo excesso de íons Zn+2. Dois elétrons são introduzidos para cada íon em excesso. Se se quiser 20x1020 carregadores de cargas por cm3, precisa-se adicionar 10x1020 íons em excesso/cm3, pois cada íon Zn+2 contribuirá com dois portadores de cargas. O número de íons em excesso por íon regular é: (10x1020 íons em excesso/cm3)/( 3,72 x 1022 íons Zn+2/cm3) = = 0,027 íons em excesso/íons normais ou 2,7 íons em excesso / 100 íons normais. Dessa forma, a percentagem atômica de Zn será: (102,7 Zn) x 100 = 50,67% at de Zn, (102,7Zn + 100 O) ou a percentagem em peso será: 50,67 . ( 65,38)(g/mol) x 100 = 80,8% em peso de Zn (50,67x65,38)+(49,33 x 16) Agora conhece-se as percentagens corretas de elementos requeridos para construir o cristal de ZnO para produzir o número desejado de carregadores de cargas. 55 APLICAÇÃO ELÉTRICOS. DE SEMICONDUTORES EM DISPOSITIVOS Muitos dispositivos eletrônicos foram desenvolvidos usando-se características de semicondução. Alguns desses dispositivos são descritos aqui; outros deles – particularmente aqueles que interagem com a luz – serão discutidos no capítulo propriedades ópticas dos materiais. TERMISTORES. A condutividade elétrica depende da temperatura. Os termistores usam essa relação para medir a temperatura. Termistores são também usados em outros dispositivos, incluindo alarmes de fogo. Quando o termistor aquece, ele conduz uma grande corrente através de um circuito e ativa o alarme. TRANSDUTORES DE PRESSÃO. A estrutura de banda e o gap de energia são funções do espaçamento entre os átomos num material. Quando uma pressão é aplicada ao semicondutor, os átomos são forçados a aproximarem-se, o gap de energia diminui e a condutividade aumenta. Medindo-se a condutividade, podese calcular a pressão atuando sobre o material. RETIFICADORES (DISPOSITIVOS DE JUNÇÃO p-n). Os retificadores são produzidos juntando um semicondutor do tipo n com um semicondutor do tipo "p", formando uma junção pn (Figura 25). Elétrons são concentrados na junção tipo "n"; buracos são concentrados na junção tipo "p". O desbalanço elétrico resultante cria uma voltagem, ou contato potencial, através da junção. 56 Figura 25: Comportamento de uma junção p-n: (a) O equilíbrio é causado por elétrons concentrando-se no lado n e buracos no lado p. (b) O movimento de elétrons e buracos (forward bias) causa um fluxo de corrente, e (c) o movimento inverso (reverse bias) não permite fluir corrente. Aplicando-se uma voltagem externa na junção p-n, de tal forma que o terminal negativo esteja no lado do tipo "n", ambos: elétrons e buracos mover-se-ão em direção à junção e eventualmente recombinarem-se. O movimento dos elétrons e dos buracos causam a produção de uma corrente líquida. Isso é chamado de “forward bias”[Figura 25 (b)]. Aumentando-se esse movimento de elétrons e de buracos, a corrente passando através da junção aumenta [Figura 26 (a)]. 57 Figura 26: (a) Característica corrente-voltagem para uma junção p-n. Note as escalas diferentes no primeiro e terceiro quadrantes. (b) Se um sinal alternante for aplicado, a retificação ocorre e apenas metade do sinal de entrada passa pelo retificador. Devido ao fato que a junção p-n permite a corrente fluir em apenas uma direção, passa apenas metade de uma corrente alternante, dessa forma, convertendo a corrente alternante em corrente direta [Figura 26(b)]. Essas junções são chamadas de diodos retificadores. Tipicamente, um pequeno vazamento de corrente é produzido para o fluxo reverso de elétrons e buracos (reverse bias), devido ao movimento de elétrons e buracos termicamente ativados. Quando a reverse bias torna-se muito grande, entretanto, alguns carregadores que escapam pela barreira de isolação da junção são altamente acelerados, excitam outros carregadores de cargas, e causam alta corrente na direção inversa [figura 26(a)]. Pode-se utilizar esse fenômeno para projetar dispositivos de voltagem limitante. Através de dopagem e construção apropriadas de junções p - n, a quebra ou avalanche de voltagem pode ser pré-selecionada. Quando a voltagem no circuito exceder a quebra de voltagem, uma alta corrente flui através da junção e é desviado do resto do circuito. Esses dispositivos, 58 chamados diodos Zener, são usados para proteger circuitos de altas voltagens acidentais. TRANSISTOR DE JUNÇÃO BIPOLAR. Um transistor pode ser usado como uma chave ou um amplificador. Um exemplo é o Transistor de Junção Bipolar, ou, “Bipolar Junction Transistor” (BJT), que é freqüentemente usado na central de processamento de unidades de computadores, devido a sua rápida resposta. Um transistor de junção bipolar é um “sanduíche” de materiais semicondutores n-p-n ou p-n-p. Existem três zonas no transistor: a emissora, a base e o coletor. Na junção p-n, elétrons estão inicialmente concentrados no material tipo "n" e os buracos estão concentrados no material tipo "p". A figura 27 mostra um transistor n-p-n e seu circuito elétrico, em ambas situações: representado esquematicamente e como ele poderia aparecer quando implantado num chip de Silício. O sinal elétrico a ser amplificado está conectado entre a base e o emissor, com uma pequena voltagem entre essas duas zonas. O sinal de saída do transistor, ou sinal amplificado, está conectado entre o emissor e o coletor e opera numa voltagem maior. O circuito está conectado de tal forma que um fluxo direto é produzido entre o emissor e a base ( a voltagem positiva está na base tipo "p" ), enquanto o fluxo reverso é produzido entre a base e o coletor (com a voltagem positiva no coletor tipo "n"). O fluxo direto causa movimento de elétrons saindo do emissor e chegando na base. 59 (a) (b) Figura 27: (a) Um circuito para um transistor de junção bipolar np-n. O sinal de entrada cria um fluxo direto e um fluxo reverso, fazendo elétrons moverem-se do emissor, através da base, para o coletor, criando uma saída amplificada. (b) Croqui da seção transversal do transistor. 60 Os elétrons e os buracos tentam recombinar-se na base; entretanto, se a base for excepcionalmente fina (delgada) e levemente dopada, ou se o tempo de recombinação "ττ" for longo, quase todos os elétrons passam através da base e entram no coletor. O fluxo reverso entre a base e o coletor acelera os elétrons através do coletor, o circuito é completado, e um sinal de saída é produzido. A corrente através do coletor é dada por: Ic = I0 exp(VE/B) Onde I0 e B são constantes e VE é a voltagem entre o emissor e a base. Se a voltagem de entrada VE for aumentada, uma corrente muito grande IC é produzida. TRANSISTOR DE EFEITO DE CAMPO. Um segundo tipo de transistor, que é mais freqüentemente usado para armazenagem de dados em memórias de computadores, é o Transistor de Efeito de Campo ( “Field Effect Transistor”, FET), que comporta-se de uma maneira diferente que o transistor de junção bipolar. A Figura 28 mostra um exemplo de um Transistor de Efeito de Campo, feito a partir de um semicondutor de óxido metálico ( “Metal Oxide Semiconductor”, MOS), no qual duas regiões do tipo n são formadas dentro de um substrato do tipo p. 61 Figura 28: Transistor de Efeito de Campo n-p-n, a partir de um semicondutor de óxido metálico Uma das regiões do tipo n é chamada de fonte; a segunda é O terceiro componente do transistor é um chamada de dreno. condutor, chamado de portão, que é separado do semicondutor por uma fina camada isolante de SiO2. Um potencial é aplicado entre o portão e a fonte, com a região do portão sendo positiva. O potencial retira elétrons das vizinhanças do portão, mas os elétrons não podem entrar no portão devido a presença da sílica. A concentração de elétrons sob a região do portão faz essa região mais condutiva, de tal forma que um grande potencial entre a fonte e o dreno permite elétrons fluir da fonte para o dreno, produzindo um sinal amplificado. Mudando a voltagem de entrada entre o portão e a fonte, o número de elétrons no caminho condutivo muda, mudando assim também o sinal de saída. Os transistores de efeito de campo são geralmente menos dispendiosos para produzir do que os transistores de junção bipolar. Devido ao fato dos Transistores de Efeito de Campo ocuparem menos espaço, eles são preferidos em circuitos 62 microeletrônicos interados, onde talvez 100.000 estão presentes num único chip de Silício. FABRICAÇÃO DE DISPOSITIVOS SEMICONDUTORES. Para produzir componentes eletrônicos que requerem pouca potência, operam muito rapidamente, ainda são de baixo custo, circuitos microeletrônicos integrados formados sobre chip de Silício podem conter tanto quanto 1.000.000 de transistores ou outros dispositivos, cada um tendo dimensões da ordem de 10-4 cm. Para produzir esses circuitos, tecnologias especiais são requeridas. O ponto de partida para muitos dispositivos comuns é um monocristal de silício puro. As etapas descritas na Figura 29 resumem a produção de um Transitor de Efeito de Campo (FET). Enquanto muitos materiais e tecnologias exóticas são usados para produzir circuitos integrados, a próxima geração de dispositivos semicondutores deve ser mais rápida. Tempos de respostas mais rápidos podem ser atingidos fazendo-se dispositivos individuais menores, usando-se feixes de elétrons ou raios x ao invés de radiação ultravioleta para fotolitografia; produzindo melhores isolantes para as regiões dos portões nos FET’s; produzindo chips tridimensionais com camadas alternantes de Silício e sílica; ou usando semicondutores tais como o GaAs, no qual os elétrons movem-se de duas a cinco vezes mais rápidos que nos dispositivos a base de Silício. 63 Figura 29: Fabricação de um dispositivo semicondutor do tipo FET: (a) Um substrato de Silício do tipo p é oxidado. (b) Fotolitografia: a radiação ultravioleta passando através da máscara expõe uma porção da camada resistente à luz. (c) A camada foto-resistente exposta é dissolvida. (d) A sílica exposta é removida por ataque. (e) Um dopante do tipo n é introduzido para produzir uma fonte e um dreno. (f) O silício é novamente oxidado. (g) A fotolitografia é repetida para introduzir outros componentes. ISOLANTES E PROPRIEDADES DIELÉTRICAS. Materiais usados para isolarem um campo elétrico de suas vizinhanças são requeridos num grande número de aplicações 64 elétricas e eletrônicas. Isolantes elétricos obviamente devem ter uma condutividade muito baixa, ou alta resistividade, para evitar o fluxo de corrente. Isolantes são produzidos a partir de materiais cerâmicos e poliméricos, nos quais existe um grande gap de energia entre as bandas de valência e de condução. Entretanto, a alta resistividade elétrica desses materiais não é sempre suficiente. Em altas voltagens, uma quebra catastrófica do isolante pode ocorrer, similar ao que acontece com diodos p-n durante um grande fluxo reverso (reverse bias), e a corrente pode fluir. Para selecionar apropriadamente um material isolante deve-se entender como o material armazena e conduz carga elétrica. Para fazer isso, deve-se examinar o comportamento dielétrico desses materiais. Fazendo isso, constatar-se-á que esses materiais especiais além de meramente promoverem isolação elétrica, eles podem ser usados como capacitores para armazenarem carga elétrica, ou como transdutores para criarem ou receberem informações. DIPOLOS E POLARIZAÇÃO. A aplicação de um campo elétrico causa a formação e o movimento de dipolos contidos dentro dos materiais. (Dipolos são átomos ou grupos de átomos que têm uma carga desbalanceada). Sob a ação de um campo elétrico, os dipolos tornam-se alinhados no material, causando a polarização. Dipolos. Quando um campo elétrico é aplicado a um material, os dipolos são induzidos dentro da estrutura atômica ou molecular e tornam-se alinhados com a direção do campo. Além disso, alguns dipolos permanentes já presentes no material estão alinhados com o campo, e o material é polarizado. A 2 polarização P (C/m ) é: P = Zqd 65 Onde Z é o número de centros de cargas, que são dispostos por metro cúbico, q é a carga elementar e d é o deslocamento entre as extremidades positivas e negativas do dipolo. Quatro mecanismos causam a polarização: (1) polarização eletrônica, (2) polarização iônica, (3) polarização molecular e (4) cargas espaciais ( Figura 30). Figura 30. Mecanismos de polarização em materiais: (a)polarização eletrônica, (b) polarização iônica, (c) polarização molecular e (d) cargas espaciais. Polarização Eletrônica. Quando um campo elétrico é aplicado a um átomo, o arranjo eletrônico é distorcido, com elétrons concentrando-se no lado dos núcleos próximos a extremidade positiva do campo. O átomo atua como um dipolo induzido Esse efeito, que ocorre em todos os materiais, é temporário. pequeno e temporário. EXEMPLO 9. Suponha que o deslocamento médio dos elétrons relativo aos núcleos nos átomos de Cobre é 1 x 10-8 , quando um campo elétrico é imposto a uma placa de Cobre. Calcule a polarização. 66 SOLUÇÃO. O número atômico do Cobre é 29, então existem 29 elétrons em cada átomo de Cobre. Assim, O parâmetro de rede do Cobre é 3,6151 . Z = [(4átomos/cela).(29elétrons/átomo)] / (3,6151 x 10-10 m)3. Z = 2,46 x 1030 elétrons/m3. P=Zqd=(2,46 x 1030 elétrons/m3).(1,6 x 10-19 C/elétron).(10-8 m/ ).(10-10 ). P = 3,94 x 10-7 C/m2. POLARIZAÇÃO IÔNICA. Quando um material ionicamente ligado é colocado num campo elétrico, as ligações entre os íons são elasticamente deformadas. Conseqüentemente, a carga é minuciosamente distribuída dentro do material. Dependendo da direção do campo, cátions e ânions movem-se juntos ou separados. Esses dipolos temporariamente induzidos favorecem a polarização e podem também mudar as dimensões totais do material. POLARIZAÇÃO MOLECULAR. Alguns materiais contém dipolos naturais. Quando um campo é aplicado, os dipolos alinham-se em relação ao campo imposto. As moléculas de água, mostradas esquematicamente na Figura 30 (c), representam um material que possui polarização molecular. Muitas moléculas orgânicas comportam-se de uma maneira similar, conforme faz a uma variedade de óleos orgânicos e ceras. Num número de materiais, os dipolos permanecem em alinhamento quando o campo elétrico é removido, causando polarização permanente. O titanato de Bário (BaTiO3), uma cerâmica cristalina, tem uma estrutura assimétrica na temperatura ambiente (Figura 31). 67 Figura 31: A estrutura cristalina do Titanato de Bário, BaTiO3. Devido ao deslocamento dos íons O-2 e Ti+4, a célula unitária é um dipolo permanente e produz excelente polarização. O íon Titânio é deslocado moderadamente do centro da célula unitária e os íons oxigênio são deslocados moderadamente nas direções opostas a partir de suas posições de face centrada, causando uma tetragonalidade ao cristal e uma polarização permanente. Quando uma corrente é aplicada ao titanato de bário, o íon Titânio move-se para frente e para trás entre suas duas posições possíveis, para assegurar que a polarização esteja alinhada com o campo. Nesse material em particular, a polarização é altamente anisotrópica e o cristal deve estar apropriadamente alinhado com relação ao campo aplicado. 68