Cairé Pereira de Andrade - Monografia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO
Curso de Comunicação Social
Habilitação em Jornalismo
Cairé Pereira de Andrade
O Festival Lollapalooza e a Transição do Modelo de Negócio na Indústria da Música
João Pessoa
2014
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CAIRÉ PEREIRA DE ANDRADE
O FESTIVAL LOLLAPALOOZA E A TRANSIÇÃO DO MODELO DE NEGÓCIO NA
INDÚSTRIA DA MÚSICA
Monografia apresentada ao curso de Comunicação Social,
habilitação em Jornalismo, no período 2013/2, como requisito
básico para a obtenção do grau de Bacharel na Universidade
Federal da Paraíba.
Orientador: Prof. Dr. Thiago Soares
João Pessoa
2014
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CAIRÉ PEREIRA DE ANDRADE
O FESTIVAL LOLLAPALOOZA E A TRANSIÇÃO DO MODELO DE NEGÓCIO NA
INDÚSTRIA DA MÚSICA
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi submetido à avaliação da Banca
Examinadora, composta pelos professores abaixo relacionados, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em
Jornalismo, outorgado pela Universidade Federal da Paraíba.
João Pessoa, __ de fevereiro de 2014
Banca Examinadora
_____________________________
Prof. Dr. Thiago Soares
______________________________
Prof.ª Me. Cândida Nobre
Orientador
_______________________________
Prof. Me. Matheus Andrade
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Aos meus pais, por sempre apoiarem as minhas escolhas.
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AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Analice Pereira e Chico Ferreira, por sempre apoiarem as minhas escolhas.
Ao meu orientador, Thiago Soares, pela confiança.
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RESUMO
Este trabalho visa realizar uma análise sobre o novo papel da indústria fonográfica tendo
como objeto de debate o festival Lollapalooza. Desde o seu surgimento, a indústria
fonográfica passa por um processo de transição, inclusive nos dias de hoje, com a
disseminação da internet. Essa transição trouxe a popularização do formato MP3 de
músicas, juntamente com os downloads, resultando na diminuição de compras de CDs e
DVDs. Como alternativa para tentar se reestabelecer novamente, é fácil encontrarmos
atualmente diversas maneiras de comprar músicas ou mesmo de assinar rádios, tudo online.
Entretanto, essas mudanças vêm aumentando o número de apresentações ao vivo, que
trazem mais vantagens aos artistas, como melhor reconhecimento dos fãs e uma maior
visibilidade para novos públicos. Não sendo diferente, o crescimento do número de
grandes e pequenos festivais no mundo todo traz uma série de experiências para o público,
que, por sua vez, tem contatos distintos em cada um desses eventos. O Festival
Lollapalooza é de origem estadunidense e que chegou ao Brasil em 2012. Desde então, tem
sido um dos principais eventos no Brasil de uma música mais alternativa (underground) e
também mainstream, diferenciando-se de outros festivais como o Rock in Rio, por
exemplo. A pesquisa foi feita a partir de experiências pessoais nas duas edições brasileiras
do evento, em 2012 e 2013, na qual estão fatores como o público presente, os gêneros de
música que tocam no festival e as ações dos patrocinadores, que contam com atividades
paralelas à programação musical. Vimos, neste trabalho, como a marca do festival se
mantém através de ações de marketing online nas suas páginas oficiais em diferentes
mídias sociais; como as ações dos patrocinadores do evento se mantêm com programações
paralelas; e como ocorre o diálogo entre as bandas brasileiras com as bandas vindas de
outros lugares onde o festival ocorre: Estados Unidos, Chile e Argentina.
Palavras-chave: indústria fonográfica; música ao vivo; festivais; Lollapalooza.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Roda Gigante da marca de cerveja Heineken.....................................................33
Figura 2 – Um dos Óculos Gigantes da Chilli Beans...........................................................34
Figura 3 – Um dos Óculos da Chilli Beans e a Roda Gigante da Heineken........................34
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SUMÁRIO
Introdução.............................................................................................................................9
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Indústria Fonográfica: Crescimento e Queda...........................................................11
1.1 Indústria da Música em Transição..................................................................................16
2
O Mercado da Música ao Vivo e os Shows de Rock..................................................20
2.1 A Gênese da Cultura dos Festivais.................................................................................23
2.2 Cultura dos Festivais no Brasil.......................................................................................26
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Downloads, Experiências, Festivais: Novas Configurações do Mercado Musical..30
3.1 O Festival Lollapalooza: Espaços Codificados das Marcas...........................................31
3.2 Endereçamento de Público.............................................................................................36
3.3 Estética Circense e Lúdica.............................................................................................38
Considerações finais...........................................................................................................41
Referências..........................................................................................................................42
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INTRODUÇÃO
Este estudo monográfico tem como objetivo verificar e analisar a ascensão da
música ao vivo, exemplificada pelo aumento de experiências com eventos e festivais pelo
mundo e, principalmente, no Brasil. O momento atual da música estabelece um diálogo
muito mais direto entre artista – público, e as experiências em eventos de música que têm
acontecido com cada vez mais frequência estão mudando a perspectiva de consumo de
bens culturais.
Por meio de um apanhado sobre a ascensão da música ao vivo em relação ao
momento atual pelo qual o Brasil está passando, observamos a chegada do festival
americano Lollapalooza à capital paulista em 2012, em diálogo com a edição chilena,
chegada a Santiago no ano anterior, e à sede em Chicago, EUA, além de realizar uma
comparação com a primeira edição em Buenos Aires, Argentina, a ser realizada em abril de
2014.
Em 2011, o Lollapalooza chegou à capital do Chile, Santiago, e no ano seguinte,
chegou ao Brasil. Para São Paulo, o Lollapalooza trouxe cerca de 60 bandas e artistas nos
dias 7 e 8 de abril na sua primeira edição, e, no ano seguinte, outras 60 atrações
distribuídas entre os dias 29, 30 e 31 de março.
Artistas como Madonna, Nine Inch Nails e Radiohead se desvincularam de grandes
gravadoras, colaborando, dessa forma, para uma nova compreensão em relação ao mercado
da música. Assim, estratégias de venda acerca da música ao vivo têm crescido cada vez
mais, inclusive no que se refere ao consumo de CDs e DVDs de festivais e shows solo.
O Radiohead, por exemplo, anunciou no seu site oficial o lançamento do novo
álbum da banda, In Rainbows. O álbum foi lançado no mesmo site, semanas depois, no
esquema onde o fã escolhia o preço que achasse necessário pagar e, em seguida, recebia o
formato digital do produto. Quando chegou às lojas, em janeiro do ano seguinte, o In
Rainbows se tornou o mais vendido dos Estados Unidos, atingindo 122 mil cópias vendidas
na primeira semana (ROLLING STONE, 2013).
Outro objetivo desta monografia é ver como a música era consumida até 1996 além
de repensar a forma pela qual estamos consumindo atualmente, em um contexto que sugere
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um momento de transição e de reorganização do mercado. (HERSCHMANN, 2010).
Temos como objeto de estudo o festival americano Lollapalooza, que traz tanto bandas
mais renomadas e conhecidas, quanto bandas independentes e estreantes. Como um
festival relativamente recente, pois só possui duas edições brasileiras, ele tem tido sucesso
de público, com seus ingressos esgotados1 em ambas as edições2.
Dessa forma, estudamos aspectos da ascensão da música ao vivo no Brasil com
foco no Lollapalooza, e analisamos essa nova forma de consumo, que não mais se resume
à compra de CDs e DVDs.
Para o primeiro capítulo, fizemos um levantamento histórico acerca dos altos e baixos
enfrentados pela indústria fonográfica de acordo com o pesquisador Wilson Lannes (2009),
desde a criação do primeiro aparelho reprodutor de músicas até os dias de hoje, com o
aumento do número de downloads pela internet.
A partir de Micael Herschmann (2010), vimos que a música ao vivo está se tornando
cada vez mais presente, bem como a quantidade de festivais. Sendo assim, listamos os
principais festivais de rock do Brasil e do exterior, relacionando-os a partir de suas
principais características e diferenças.
No terceiro capítulo, realizamos uma análise sobre o festival estadunidense
Lollapalooza, apresentando suas principais características, bem como estudando seu
público, suas estratégias de marketing (tanto no mundo real quanto no virtual), sua estética
e no que ele se diferencia dos outros festivais que acontecem no Brasil atualmente.
1
Disponível em http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/02/ingressos-do-1-dia-do-lollapalooza-com-foofighters-estao-esgotados.html. Acesso em: 31 jul. 2013.
2
Disponível em http://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2013/03/31/organizacao-comemora-ingressosesgotados-do-terceiro-dia-e-confirma-edicao-do-lollapallooza-para-2014.htm. Acesso em: 31 jul. 2013.
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1 INDÚSTRIA FONOGRÁFICA: CRESCIMENTO E QUEDA
Para fazermos a discussão sobre o mercado de festivais de música, tema desta
monografia, precisamos antes conhecer a crise pela qual a indústria fonográfica passa.
Esta poderosa indústria atualmente está em crise, mas nem sempre foi assim. Com uma
história cheia de altos e baixos, este segmento presenciou crises na economia e passou por
diversas transformações: dos seus produtos finais, dos aparelhos (players), dos formatos
das músicas e dos processos de gravação.
De acordo com Lannes (2009, p. 27), o pontapé inicial se deu pela criação do
fonógrafo por Thomas Edison, em 1877. A partir de imitações do aparelho foi que
começou o movimento na indústria fonográfica – incluindo o “grafofone”, criado em 1887
–, que utilizavam um cilindro gravado que reproduzia sons pela leitura de sulcos na sua
superfície. Alguns anos depois, as companhias Victor, Columbia e HMV iniciaram suas
atividades. Curiosamente, o grafofone conseguiu se estabelecer no mercado melhor do que
o “fonógrafo melhorado” do próprio Edison, criado em 1888. Essas invenções estavam
logo disponíveis à venda para o público, que o utilizava mais para trabalho – basicamente
por pessoas de negócios, advogados e repórteres –, mas em breve o aparelho seria utilizado
para entretenimento, o que causaria o primeiro pico na indústria.
Após alguns anos, as vendas não iam bem e a indústria fonográfica estava prestes a
falir. Até a criação de um fonógrafo operado por moedas, que tinha alguns cilindros com
músicas gravadas e era disponibilizado ao público. Logo, as companhias que produziam o
aparelho passaram a também produzir cilindros, e alguns tiveram seu design reparado para
se tornarem mais baratos e simples, fazendo com que as pessoas os comprassem para as
próprias casas (LANNES, 2009, p. 27).
O gramofone surgiu como uma evolução do fonógrafo, o qual reproduzia discos ao
invés de cilindros, criado por Emile Berliner. Em 1893, Berliner começou a vender
gramofones baratos e discos de 7” feitos de borracha rígida. Não demorou para Berliner se
associar a Eldridge Johnson, um maquinista de Camden – New Jersey –, que projetou um
gramofone melhorado, transformando-se, pouco tempo depois, no futuro Victor Talking
Machine Company, uma das maiores fabricantes do aparelho e de discos no início do
século XX.
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Segundo Lannes (2009, p. 28), na virada do século XIX para o XX, as maiores
companhias na indústria de discos e aparelhos nos Estados Unidos eram a Edison, a Victor
e a Columbia, enquanto a HMV e outras subsidiárias – também de Edison e da Columbia –
dominavam o mercado europeu. A indústria fonográfica estava em ascensão, vendendo 3
milhões de discos por ano nos EUA e se tornando uma das mais importantes indústrias do
mercado mundial. Mas isso não durou muito tempo, pois, antes mesmo da crise dos anos
30, havia uma competição excessiva entre as companhias provocada pela baixa dos preços,
quase levando a indústria fonográfica à falência.
O rádio também surgiu como concorrente na indústria. As transmissões, que
tiveram início nos anos 1920 nos EUA e na Europa, começaram a atrair mais
consumidores do que os discos, mesmo com a baixa qualidade de transmissão. Com a crise
da indústria, que teve diminuição de metade de seu tamanho na década de 20, ao final do
mesmo período os fabricantes realizaram uma nova forma de gravação com a esperança de
atrair de volta seus consumidores, chamada de “gravação elétrica” (LANNES, 2009, p.
29). O processo era simples: eram necessários microfones e amplificadores eletrônicos
dentro de um estúdio para realizar as gravações, que podiam ser reproduzidas nos
aparelhos mais antigos. Além disso, também foram inventadas combinações de “rádiofonógrafo”, que amenizaram a situação, mas não o suficiente para a indústria superar a
Grande Depressão.
A partir do cinema falado , foi que a indústria da música voltou a ter uma melhoria.
As indústrias precisavam de discos para trilha sonora dos filmes, mas isso logo foi
substituído por uma tecnologia que utilizava uma faixa na borda do próprio rolo de filme.
Uma curiosidade dessa época se dá pela inovação de Walt Disney, responsável pela
primeira gravação radiofônica lançada para o público como parte do filme “Fantasia”, em
1940 (LANNES, 2009, p. 30).
No início da década de 1930, as compras de discos continuaram baixas, realizadas
principalmente por fãs de música clássica e pelas próprias rádios. Mas isso começou a
mudar ao final desse período, quando a economia americana voltou a melhorar em junção
ao alto número de jukeboxes que surgiram, consumindo, dessa forma, um grande número
de discos e que eram trocados em média uma vez por semana.
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Apesar de trágico, o período da Segunda Guerra Mundial serviu para dar um
impulso na indústria fonográfica. Por exemplo, as forças armadas americanas
patrocinavam a gravação de discos de 10” e de V-Discs – discos de 16” feitos de vinil
flexível, facilitando o transporte sem risco de quebras, para entreter as tropas. Enquanto
isso, os consumidores estavam em segundo plano.
Ao final da guerra, em 1945, a Alemanha “liberou” uma tecnologia melhorada dos
gravadores magnéticos para seus aliados, que havia sido desenvolvida entre os anos 30 e
início dos 40 pelas companhias AEG e I.G Farben. Essa tecnologia foi a base para
gravadores de fita para utilização em estúdio, que mais tarde traria muitas mudanças na
criação de discos e trilhas sonoras de filmes. Segundo Lannes (2009, p. 32): “entre 1948 e
1949, a Victor e a Columbia introduziram os novos discos de 45-rpm para singles e os LPs
para álbuns. Esses novos discos de alta fidelidade marcaram uma nova era na reprodução
doméstica de música”.
Nos anos 50, o LP surpreendeu pelo sucesso que fez. Por ser mais caro do que os
outros modelos de discos, como o de 45-rpm, e por não ser feito para singles, ninguém
esperava que fosse vender tanto. Esse sucesso deve-se ao movimento hi-fi, que enfatizava a
música clássica, e também às gravações das trilhas sonoras da Broadway.
Não demorou para que as gravadoras pensassem no lucro que teriam com a venda
dos LPs. Elas descobriram que, se recusassem a lançar o disco de 45-rpm com o single que
se tornara hit, os consumidores seriam forçados a comprar o álbum inteiro que tivesse a tal
música. Sendo assim, enquanto os discos de 45-rpm custavam até 1 dólar, os álbuns
chegavam a custar mais de 4 dólares.
Uma novidade para a época era o recurso utilizado pelos músicos Les Paul e Mary
Ford, que gravavam por cima de músicas já gravadas por eles mesmos, resultando numa
composição em que a voz de Mary parecia acompanhar a si própria. A partir da introdução
dos gravadores multitrack, os instrumentos puderam ser gravados separadamente para
depois serem mixados.
O rock and roll, gênero recém criado nos anos 50, permitia aos artistas uma maior
experimentação. Em sua fase psicodélica, no final dos anos 60, os músicos utilizavam de
todos os recursos possíveis para criação de suas músicas. Álbuns como Sgt. Pepper’s
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Lonely Hearts Club Band (1967) e Magical Mystery Tour (1967), do grupo britânico The
Beatles, podem representar essa fase.
Os toca-discos e rádios “portáteis” já existiam, mas a tal portabilidade se referia
apenas a uma alça, que facilitava o transporte, visto que os aparelhos ainda precisavam ser
ligados na energia. A partir de meados dos anos 1950, com a comercialização do transistor,
surgiram rádios menores, que logo se tornaram sucesso de vendas – principalmente entre a
população mais jovem. Os toca-discos com transistores também foram lançados, mas não
venderam tanto quanto os rádios, já que estes possuíam gravadores de fita e as pessoas
geralmente utilizavam seus aparelhos para gravar as músicas transmitidas no rádio ou de
discos.
Ao final da década de 1960, os portáteis eram o tipo de gravador mais vendido.
Para Lannes (2009, p. 34),
Algumas companhias, como a RCA-Victor, promoviam gravadores
domésticos e as fitas para sua reprodução. Mas as vendas eram
baixas comparadas às dos LPs, e o custo era de no mínimo um
dólar a mais. Introduzido pela Ford, as fitas do sistema de 8 pistas
(canais) tiveram altas vendas no final dos anos 60 e início dos anos
70, até corresponderem a um terço do mercado fonográfico. Por
fim, o sistema seria abandonado, mas abriu os caminhos para a
música em fitas cassete. À medida que a tecnologia dos cassetes se
desenvolveu, eles deixaram de ser brinquedos de criança para se
tornarem parte da aparelhagem de som doméstica.
O lançamento do Walkman no mercado só colaborou para que o consumo de fitas
cassetes aumentasse, chegando a superar os LPs em 1990. Só lançamentos muito populares
eram lançados em LP, a maioria era lançada apenas em cassetes. O momento da economia
americana e a disseminação do rock ajudavam, visto que as vendas de discos no país
passaram de US$600 milhões em 1960 para US$1.2 bilhão em 1970.
O surgimento da Music Television (MTV) chegou às televisões americanas com o
propósito de tornar a música “visível”, com exibições e lançamentos de videoclipes na
década de 1980, inovando na indústria. A década de 1980 também é marcada pelo
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Compact Disc, originalmente inventada pela Phillips no final dos anos 70. Vejamos o que
diz Lannes sobre esse assunto:
A Phillips, que havia sido a introdutora do cassete, desenvolveu um
disco a laser para gravações em vídeo no fim dos anos 70. A
Phillips se uniu à Sony, que havia desenvolvido um gravador de
fita digital para gravações “master” na mesma época. Os novos
discos foram criados pela regravação de fitas de estúdio ordinárias
em fita digital, que era usada para a gravação dos discos a laser.
Uma cópia do disco a laser “master” era então utilizada para a
impressão de duplicatas em plástico, que eram depois revestidas
com alumínio brilhante, recebiam camadas protetoras, e eram
embalados para venda. (LANNES, 2009, p. 35)
Por ser menor, o CD chamou a atenção da maioria dos consumidores, mas era bem
mais caro do que o LP, visto que um CD custava cerca de 16 dólares, além do player custar
mais de 2000 dólares quando foi lançado. Mas, como acontece com a maioria dos produtos
eletrônicos, logo o seu preço baixou, chegando a custar cerca de 150 dólares alguns anos
depois, até que o CD superou o LP em vendas.
O processo de gravação em estúdio estava em transformação. Não era mais
necessária uma banda inteira para gravar uma música, pois a partir da gravação digital era
simples e relativamente barato utilizar essa nova tecnologia para todo o processo – desde a
criação até a mixagem de músicas. Dessa forma, o artista poderia gravar uma música
inteiramente sozinho, e foi quando surgiram as one hand bands.
O CD regravável chegou ao mercado como um sucessor da fita cassete, mas só se
disseminou a partir do final da década de 1990. Com o formato MP3 de músicas era
possível transferir do próprio computador muito mais músicas do que se poderia antes e
contava com a vantagem de poder ouvir nos aparelhos de som, em aparelhos de DVD e nos
computadores.
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1.1 Indústria da Música em Transição
A partir dos anos 1990, a indústria da música mundial começou a passar por um
processo de transição mais bruto. As gravadoras têm perdido gradualmente o seu público
consumidor, que, desde então, tende a preferir outros meios de consumo que não se
resumam à compra de CDs e DVDs, mas incluem a compra online de músicas, assinaturas
mensais em sites de compartilhamento e streaming, e experiências em festivais, entre
outros. De acordo com Micael Herschmann, existem dois fatos recorrentes das
transformações na indústria da música nos últimos anos:
a) presenciamos não só a desvalorização vertiginosa dos fonogramas, mas
também o crescente interesse e valorização da música ao vivo executada
especialmente nos centros urbanos; b) em segundo lugar, a busca
desesperada por novos modelos de negócio fonográfico (que hoje emergem
na forma de diferentes tipos de plataformas digitais e nos serviços da
telefonia móvel), ou melhor, no crescente emprego das novas tecnologias e
das redes sociais na web como uma forma importante de reorganização do
mercado (a utilização das tecnologias em rede como uma relevante
estratégia de comunicação de conteúdos, de gerenciamento de carreiras
artísticas, de formação e renovação do público, de construção de alianças
com os consumidores, etc.). (HERSCHMANN, 2010. p. 61)
Com a disseminação da internet, a indústria musical vem perdendo uma importante
parte do público. Segundo uma matéria publicada no site da revista Rolling Stone em 2007,
os dados já indicavam um declínio nas compras de CDs, enquanto as compras online
estavam em uma espantosa ascensão.
Em 2000, os consumidores nos Estados Unidos compraram 785,1 milhões
de discos; em 2006, foram 588,2 milhões (entre CDs e discos baixados na
internet – dados da SoundScan). Em 2000, os dez discos mais comprados
no país venderam, juntos, 60 milhões de cópias; em 2006, os dez mais
somaram somente 25 milhões de cópias. As vendas digitais crescem – fãs
adquiriram 582 milhões de músicas pela internet no ano passado, um
aumento de 65% em relação a 2005. (HIATT, SERPIK, 2007)
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No Brasil o negócio não foi diferente. De acordo com a matéria publicada no jornal
Valor Econômico:
Em 13 anos, a receita do setor no Brasil foi reduzida de US$ 1,3 bilhão –
recorde estabelecido em 1999 – a um quinto desse valor no ano passado, ou
US$ 257 milhões. A boa notícia é que em 2012 as vendas mundiais de
música cresceram pela primeira vez em mais de uma década, numa
reversão iniciada um ano antes no Brasil. E qual o nome do salvador da
pátria? A internet. (MADUREIRA, 2013)
De acordo com Micael Herschmann, essa transição da indústria da música se dá
como uma espécie de resposta do público consumidor em relação às gravadoras. Sendo
assim, a música gravada começa a perder valor e a “grande indústria” passa a adotar
medidas de repressão aos sites que oferecem trocas e downloads gratuitos de músicas.
Segundo Herschmann (2010, p. 65), “O aumento de consumo de música através dos sites
peer to peer (P2P) produz problemas para a grande indústria, mas não necessariamente
efeitos negativos para os artistas”.
Ao mesmo tempo em que a internet – inicialmente – dificultou a comercialização
da música, atualmente ela se tornou a principal forma de negócio. Com a facilidade de
acesso à internet na virada do século, a pirataria se tornou a maior vilã das gravadoras. Mas
ao passar dos anos, a indústria foi se adaptando ao novo modelo de consumo, tanto que se
aliou a ele, a começar pelo iTunes, que oferece uma rica gama de músicas de diversos
gêneros, nacionais e internacionais, incluindo listas dos álbuns e singles mais
comprados/baixados (algumas músicas estão disponíveis para baixar gratuitamente), além
de pré-lançamentos de álbuns, como o Britney Jean (2013) da cantora pop Britney Spears.
O iTunes foi o precursor desse novo meio de consumo, em que não é mais necessário
comprar o álbum inteiro online, e sim as músicas que desejar. Além dele, as rádios também
são populares na web, nas quais paga-se uma mensalidade (cerca de R$15 em média) para
ter acesso às músicas e ouvir onde estiver. Deezer, Rdio e Last.fm são os programas mais
populares. Nestes, pode-se acessar todo o acervo de músicas sem precisar realizar o
download.
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A Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) foi criada em 1933,
atualmente é sediada em Londres, e tem escritórios regionais em Bruxelas, Hong Kong e
Miami. Ela é a responsável pelas gravadoras do mundo todo e conta com 1300 membros de
66 países, além de afiliados de 55 países. No Brasil, são membros a CID Entertainment
Ltda, EMI Brazil, Microservice Tecnologia Digital S.A e Warner Music Brazil Ltda. De
acordo com o site oficial3, a federação tem três missões: promover o valor da música
gravada, registrar os direitos dos produtores fonográficos e expandir o uso comercial da
música gravada. No site também diz quem pode se associar (em tradução livre): “A
associação à IFPI está aberta para a pessoa jurídica ou física que seja produtora de
fonogramas ou vídeos de música, cujas cópias estejam disponíveis para o público em
quantidades razoáveis4”.
No Brasil o negócio vai além. De acordo com os dados do site Pro Music, o Brasil
possui mais de 15 plataformas online de consumo de música, entre pagas e gratuitas. Além
do iTunes, do Deezer e do Rdio, estão na lista: Ideas Musik, iMusica, Mercado da Música,
MSN, Mundo Oi, Nokia Mix Rádio, Power Music Club, Rara.com, Sonora, TIM, UOL
Megastore, VEVO, Vivo, Xbox Music, Yahoo Music e Youtube. De acordo com a matéria
publicada no site Valor Econômico (MADUREIRA, 2013),
na Sony Music, as vendas digitais vão representar 40% do
faturamento neste ano, segundo o vice-presidente de novos
negócios, Claudio Vargas. ‘Em 2012, o digital cresceu acima de
50% e, para este ano, esperamos um avanço de 30%’, disse Vargas.
A expectativa da Sony é que, até 2015, metade das vendas sejam
do meio digital.
Além das grandes gravadoras, os selos independentes também continuam
procurando novos artistas e divulgando suas descobertas. Se nas grandes gravadoras é
necessário um exército de pessoas para lançar um disco, nos selos independentes às vezes
só é necessário um responsável pelo trabalho, o produtor (além da banda). Em entrevista ao
site O Globo, o produtor Bernardo Palmeira (Bolacha Discos) defendeu o mercado
alternativo da música: “No selo, o artista tem mais atenção. Pensamos nele como um todo,
3
Disponível em: <http://www.ifpi.org/>. Acesso em: 06 fev. 2014.
Texto original: “Membership of IFPI is open to a legal entity or person which is either a producer of
phonograms or music videos, copies of which are made available to the public in reasonable quantities”.
Disponível em: < http://www.ifpi.org/apply.php>. Acesso em: 06 mar. 2014.
4
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19
não apenas no lançamento de um CD. Investir em nomes novos é montar um catálogo para
o futuro”. (SOBRAL, 2010) Atualmente, a relação entre os selos e as bandas não se dá
mais por meio de contratos, e sim de parceria, na qual há uma divulgação mútua.
A Associação Brasileira de Música Independente (ABMI) surgiu com o propósito
de organizar o mercado fonográfico independente não apenas do Brasil, mas também de
outros mercados estrangeiros, dos quais é parceira. Em seu site 5, a associação se define
como a maior e mais importante articuladora política do setor, comandante inclusive do
movimento de imunidade tributária da música brasileira por meio da PEC da Música.
Apesar de os números de compras e downloads online estarem cada vez maiores,
ainda há uma grande parte do público consumidor que prefere ter o CD/DVD físico em
mãos. Aliás, muitas vezes esse processo se dá quando já se conhece o trabalho em questão
e quer ter – também – o seu formato físico, geralmente provocado pelo fanatismo. Sendo
assim, a recém aprovada Proposta de Emenda à Constituição (PEC) estabelece uma
isenção de impostos na comercialização de CDs e DVDs de autores brasileiros. Segundo
Dias (2013), apesar de a emenda não determinar uma diminuição do preço do produto
final, pelo menos sugere um espaço para que haja a redução, que pode variar entre 19% e
23%.
Com a disseminação da internet e a concorrência entre a compra de CDs físicos e
os downloads gratuitos, cresce cada vez mais a quantidade de shows e festivais, sejam
mainstream ou de caráter independente, sejam de bandas iniciantes ou de veteranos na
indústria fonográfica.
5
Disponível em: <http://abmi.com.br/website/abmi.asp?id_secao=3>. Acesso em: 29 dez. 2013.
19
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2
O MERCADO DE MÚSICA AO VIVO E OS FESTIVAIS DE ROCK
A indústria fonográfica está entre as mais poderosas do mundo. Um método para
que o público saiba o quanto os artistas vendem em CDs e DVDs foi a criação dos discos
de ouro, platina e diamante. No Brasil, temos a Associação Brasileira de Produtores de
Discos (ABPD), responsável por representar as gravadoras no país. De acordo com o site
oficial, o objetivo da associação é
conciliar os interesses destas organizações [gravadoras] com os de
autores, intérpretes, músicos, produtores e editores musicais, além
de defender coletiva e institucionalmente os direitos e interesses
comuns de seus associados, combater a pirataria musical e
promover levantamentos estatísticos e pesquisas de mercado6.
A ABPD tem sede no Rio de Janeiro, e também procura realizar “pesquisas de
mercado, dados estatísticos e de vendagens do setor fonográfico no Brasil e pela emissão
dos certificados que autorizam as gravadoras a premiar intérpretes com ‘discos especiais’
(discos de ouro, platina e diamante)”. No site não foram encontrados dados de CDs
vencedores de “discos especiais”, mas uma lista com os campeões de vendas em
2012/2013. Seguem em ordem decrescente de vendas: Roberto Carlos (Esse Cara Sou Eu),
Paula Fernandes (Meus Encantos), Padre Marcelo Rossi (Ágape Amor Divino (Ao Vivo),
Roberto Carlos (Roberto Carlos em Jerusalém), e Padre Marcelo Rossi (Ágape Musical).
Anualmente também ocorrem as premiações de música, como o Grammy Award, a
maior do gênero. A intenção do evento é premiar artistas que realmente tenham um
trabalho reconhecível, sem considerar o número de vendas, colaborando para que seus
respectivos vencedores tenham uma maior visibilidade para o público. O Grammy é visto
como o “Oscar da Música”, visto que em ambos existe um júri especializado para
selecionar os vencedores de cada categoria. Mas esta não é a única premiação da música,
observando que Os Brit Awards e NME Awards (ambos britânicos) também fazem parte
da lista. Também há o World Music Awards, em Mônaco, que premia anualmente artistas
da indústria musical, mas dessa vez baseados em sua popularidade de acordo com o
6
Disponível na íntegra em: <http://www.abpd.org.br/sobre_apresentacao.asp>.
20
21
número de vendas reconhecidas pelas próprias gravadoras e pelo IFPI. Com a popularidade
dos videoclipes, em 1984 foi criado o Video Music Awards, promovido pela MTV
Americana (também com edições em outros países), que tem a intenção de incentivar os
artistas para divulgar seus vídeos e, claro, promover o canal.
Como diz Micael Herschmann, a atual situação da indústria fonográfica não deve
ser vista apenas como decadente, mas como um momento de “transição e de reorganização
do mercado”, tendo em vista que a crise está relacionada a três fatores:
Um crescimento da competição entre os produtos culturais, entre as
empresas que oferecem no mercado globalizado bens e serviços
culturais; limites dados pelo poder aquisitivo da população
(especialmente em países periféricos como o Brasil); e o
crescimento da chamada ‘pirataria’, não só aquela realizada através
de downloads, na rede, mas também a concretizada fora da rede.
(HERSCHMANN, 2010, p. 63)
Mesmo com suas tentativas, a indústria fonográfica não fatura mais tanto quanto
gostaria com CDs (físicos), a menos que o consumidor já conheça o trabalho do artista e
queira um registro fora do mundo virtual, incluindo o desejo de ver a arte do encarte de
perto e o ato de colocar o próprio CD para tocar. Curiosamente, estamos passando por um
momento de nostalgia em que a atenção está cada vez mais voltada aos LPs, talvez por
serem mais resistentes, ou mesmo pela vontade de se sentir (quase) como nossos avós se
sentiam quando se sentavam para colocar uma boa música na vitrola. Do mesmo modo, as
vitrolas imitam o design retro dos aparelhos mais antigos, com cores que se aproximam da
madeira e o formato quadrado que lembra o de um baú antigo, por exemplo (apesar de
também existirem os aparelhos com design mais moderno, de metal cromado e outras
variações).
A popularização do YouTube também funciona como uma alternativa gratuita para
os amantes da música. Fundado em 2005, o site permite que usuários assistam a clipes e
vídeos diversos dos seus artistas favoritos, como participações em premiações e
apresentações em festivais, por exemplo. Por ser uma plataforma de transferência de
fundos, as grandes gravadoras têm uma conta e publicam frequentemente vídeos de seus
artistas ou bandas contratados. A Universal Music Group e Sony (incluindo a Sony Brasil),
21
22
além dos canais dos próprios artistas, têm bastantes assinaturas, com destaque para os
artistas pop, como as americanas Beyoncé (mais de quatro milhões de assinantes) e Britney
Spears (mais de dois milhões de assinantes) 7. Deve-se levar em consideração a importância
do YouTube também pela possibilidade de difundir a cultura de um extremo ao outro do
mundo, como foi o caso do artista coreano Psy (que possui mais de seis milhões de
assinantes no seu canal oficial), em 2012, e seu sucesso meteórico com a música Gangnam
Style, que atualmente conta com mais de um bilhão e novecentas milhões de
visualizações8.
Mas as experiências musicais vão ainda mais além. Estamos vivenciando a época
da música ao vivo, em que estão sendo cada vez mais valorizados os artistas que têm uma
boa apresentação nos palcos e, claro, contam com uma boa produção nos bastidores. Isso
resulta em uma avalanche de CDs e DVDs com o registro desses shows. De acordo com
Herschmann (2010, p. 80): “a indústria da música gravada se desenvolveu tanto que, em
determinado momento, passou a usar a música ao vivo como forma de promover a música
gravada, invertendo a situação de centralidade da música ao vivo, até então, para atividade
musical”.
Portanto, com a ascensão da música ao vivo, está crescendo cada vez mais o
número de apresentações, sejam em grandes estádios, ou mesmo em espaços alternativos
menores. Da mesma forma acontece com os festivais, os quais contam periodicamente com
novas edições no Brasil e no exterior.
O Multishow, atualmente o principal canal nacional de transmissão de shows ao
vivo, declara, em uma de suas chamadas veiculadas no mês de julho de 2013, que “o
melhor da música é ao vivo”, trazendo à tona pontos como a ascensão do negócio,
inclusive no Brasil, que está passando por um período de efervescência de shows e
festivais, tanto de produção nacional, quanto de produção estrangeira. Na mesma chamada,
são citados festivais considerados os maiores do país, a exemplos do Rock In Rio (100 mil
pessoas por dia) e do Lollapalooza (60 mil pessoas por dia).
Para listar os festivais, é necessário saber como se rotulam os gêneros musicais. De
acordo com Soares e Pereira (2009):
7
8
Dados adquiridos no dia 10 de fevereiro de 2014.
Dado adquirido no dia 10 de fevereiro de 2014.
22
23
Discorrer sobre uma abordagem dos gêneros para objetos da
comunicação é desafiador, sobretudo porque a intenção pode soar
um tanto quanto “retrógrada” ou “ultrapassada”, frente às
abordagens recentes que prevêm apontar a caracterização dos
objetos a partir do viés do hibridismo e da suposta ausência de
regras na dinâmica de produção e consumo que os estudos da
corrente pós-moderna empreendem. Uma rápida olhada pelas
prateleiras das lojas que comercializam produtos culturais – seja
álbuns fonográficos, livros, DVDs, entre outros –, entretanto,
trazem à tona divisões baseadas em critérios que envolvem
gêneros, entendendo que tal caracterização pressupõe o gênero
como uma categorização que “atravessa” o texto e pode ser
encarado através de suas inúmeras formas de apropriação.
(SOARES; PEREIRA, 2009, p. 9)
Ainda segundo os autores, a definição de gêneros musicais segue também em
plataformas virtuais, onde se encontram músicas rotuladas pelos próprios usuários dos
programas ou sites de compartilhamento. Portanto, tenhamos como referência de gêneros
musicais uma visão relativamente genérica, visto que citaremos gêneros e subgêneros, mas
seguindo a mesma lógica das lojas com a rotulação de CDs e DVDs.
2.1 A Gênese da Cultura dos Festivais
A cultura dos festivais teve início com o Woodstock, em 1969, o maior evento de
música ao ar livre até hoje. O resultado foi de meio milhão de espectadores assistindo a 32
apresentações de bandas e artistas, durante três dias. Em meio à efervescência da
contracultura e da era hippie, o festival foi realizado na fazenda de 600 acres de Max
Yasgur, na cidade rural de Bethel, Nova York, e a intenção inicial era que ocorresse na
pequena cidade de Woodstock, mas os moradores locais não permitiram. A princípio,
Michael Lang, John P. Roberts, Joel Rosenman e Artie Kornfeld pretendiam criar um
estúdio de gravação em Woodstock, mas, em reunião, a ideia acabou evoluindo para o
festival tal qual é conhecido até hoje. O projeto tinha em vista um retorno financeiro, no
qual os ingressos custavam 18 dólares e eram vendidos em lojas de discos, na área
metropolitana de Nova York ou via correio. Mais de 180 mil ingressos foram vendidos
23
24
antecipadamente, e os organizadores esperavam por um público de cerca de 200 mil
pessoas.
Porém, no primeiro dia de evento, mais de 500 mil pessoas compareceram, pularam
as cercas e a situação fugiu do controle da organização, tornando o festival gratuito – pelo
menos para os que romperam com as barreiras das cercas e para os que compareceram nos
dois dias seguintes. Mesmo com a participação de alguns dos artistas mais conhecidos da
época, o destaque do festival foi para o público, que conviveu harmoniosamente durante os
três dias, tendo em vista, e considerando o elevado número de pessoas, que aconteceram
apenas duas fatalidades: uma pessoa faleceu por overdose de heroína e outra de
atropelamento por um trator. Até hoje, nenhum evento de música superou o Woodstock em
relação à quantidade de espectadores. Apresentaram-se na edição de 1969 32 bandas e
artistas, dentre eles Ravi Shankar, Joan Báez, Santana, Janis Joplin, The Who, Jefferson
Airplane e Jimi Hendrix.
Celebrando os 25 anos da sua edição original, em 1994 foi realizada uma nova
versão do Woodstock. Dessa vez o evento foi realizado em uma fazenda de 840 acres em
Saugerties, Nova York, e reuniu alguns dos principais nomes da música na época, como
Bob Dylan, The Cranberries, Green Day e Red Hot Chili Peppers. Cerca de 350 mil
pessoas compareceram. Já em 1999 completaram-se 30 anos do primeiro festival, e sua
nova edição foi realizada em Roma, no estado de Nova York, onde 45 artistas e bandas se
apresentaram, divididos entre três palcos, sendo dois destes para nomes mais conhecidos e
um para artistas emergentes. Entre os destaques, estão James Brown, Willie Nelson,
Parliament/Funkadelic, The Roots, The Dave Matthews Band, Counting Crows, Alanis
Morissette e Metallica, que tocaram para aproximadamente 200 mil pessoas.
O também americano Coachella Valley Music and Arts Festival, mais conhecido
como Coachella, surgiu em 1999, e, desde 2001, é realizado anualmente na segunda
quinzena do mês de abril. Suas ideias se divergem um pouco das originadas no Woodstock,
apesar de serem visualmente parecidas e abrangerem um público esteticamente
equivalente. O evento é realizado na cidade de Indio, na Califórnia, onde a temperatura
alcança os 38°C por ter um entorno desértico. Sua programação consta de bandas e artistas
alternativos a exemplo das principais atrações da sua primeira edição: Beck, Morrissey e
The Chemical Brothers. O festival era menor, recebendo cerca de 25 mil pessoas. Já em
2010, o Coachella recebeu cerca de 225 mil espectadores no total de três dias de evento.
24
25
No local, há uma área reservada apenas para acampamento, onde são realizadas atividades
paralelas para quem deseja curtir mais de um dia de festival.
O Glastonbury Festival é atualmente um dos maiores festivais de música a céu
aberto do mundo. É realizado próximo à cidade de Glastonbury, Inglaterra, e é o
equivalente ao Coachella nos Estados Unidos, pois reúne apresentações desde artistas mais
alternativos até os mais mainstream, com foco no indie rock e música eletrônica. Ocorre
anualmente na Worthy Farm, e já recebeu mais de 150 mil pessoas em um único dia de
evento – em 2009, dia em que o músico Bruce Springsteen se apresentou. De acordo com o
site oficial do evento (http://www.glastonburyfestivals.co.uk), sua primeira edição foi em
1970 (um ano após o Woodstock nos EUA), que na realidade foi inspirado em um pequeno
festival chamado Blues festival at the Bath & West Showground. Essa edição teve shows
de Marc Bolan, Keith Christmas, Stackridge, Al Stewart e Quintessence e contou com um
público de 1500 pessoas. O ingresso custou £1 com direito a leite de graça produzido na
própria fazenda. Atualmente, o Glastonbury tem apoio das ONGs Greenpeace, WaterAid e
Oxfam e, ainda segundo o site, o espaço onde ocorre o festival é dividido em diversas
áreas, responsáveis por entreter o público de diferentes maneiras. Por exemplo, há os main
music stages (palcos principais), que são divididos entre Pyramid Stage – onde ocorrem os
shows dos headliners, ou seja, das bandas mais esperadas da noite – Other Stage e John
Peel Stage, onde são realizados shows de bandas mais alternativas. Além dos shows, o
Glastonbury conta com a área Theatre & Circus, que, como o nome sugere, dispõe de
diversas atividades dos gêneros circense e teatral, “do sublime ao ridículo –
impressionante, de tirar o fôlego e instigante” (em tradução livre do site oficial). The Green
Fields, por sua vez, é um espaço dedicado ao cuidado com o meio ambiente, onde se pode
deparar com ideias e oportunidades interessantes de como lidar com os desafios
apresentados pelos desgastes dos recursos naturais. Já o Kidz Field é um espaço destinado
às crianças, que conta com diversas atividades e personagens infantis, como palhaços e
alienígenas, e espaços como rotundas e barcos, onde as crianças podem aproveitar, pois
todas as atividades são gratuitas: “The Kidz Field representa o caráter original do
Glastonbury. Mantemos o espírito utópico vivo e acreditamos na mágica do
compartilhamento e da brincadeira 9”.
9
Disponível em: http://www.glastonburyfestivals.co.uk/areas/. Acesso: 12 fev. 2014.
25
26
2.2 Cultura dos festivais no Brasil
Pelo Brasil a cultura de grandes festivais ainda não é tão forte quanto em outros
países. Mesmo assim, existem alguns que já são motivo para fortalecer a imagem de “bom
público” para as bandas de fora, além de influenciar, de certa maneira, uma série de
eventos menores.
De acordo com o infográfico disponível no site Rock in Chair 10, o ano de 2013 foi
bastante produtivo no que se refere a shows de bandas estrangeiras. A pesquisa só se refere
a apresentações realizadas no estado de São Paulo, mas já nos ajuda a contextualizar a cena
de shows no Brasil todo. 493 artistas passaram pelo estado neste ano, realizando 580 shows
solo (fora de festivais) e 143 shows em festivais, que totaliza 723 apresentações. Foram
564 noites de evento (incluindo as noites separadas de cada festival), e 19 festivais ao todo
realizados em São Paulo. 20 megaeventos (mais de 10 mil pessoas), 70 eventos grandes (2
mil a 10 mil pessoas), 216 eventos médios (500 a 2 mil pessoas) e 251 eventos pequenos
(até 500 pessoas) fizeram parte da cena paulista de shows em 2013. Rock, metal, jazz, indie
e pop foram os principais gêneros desses shows, que vieram dos Estados Unidos,
Inglaterra, França, Alemanha e Canadá.
Como parte dessa efervescência de apresentações ao vivo, a cultura dos festivais
está cada vez mais presente na vida dos amantes da música em todo o Brasil. Para listar
alguns, levei em conta os diferentes públicos-alvo de acordo com os principais gêneros
musicais em cada evento.
A começar pelo Coquetel Molotov, evento realizado em Recife anualmente, desde
2004. O festival surgiu por meio do programa de rádio que era veiculado duas vezes por
semana na Rádio Universitária AM em Recife pelos atuais produtores, que naquela época
eram estudantes. A intenção inicial do festival era reunir bandas e artistas do país inteiro,
que os idealizadores gostavam, e que não chegariam em Recife por serem mais
underground. Para isso, eles decidiram “dar um gás” na cena independente local.
Atualmente o festival acontece no Teatro da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
e conta com dois palcos principais, além de stands dos patrocinadores e apoiadores, os
10
Disponível em: <http://www.rockinchair.com.br/especial-shows-2013.php>. Acesso em: 13 fev. 2014.
26
27
quais realizam atividades paralelas, vendendo e promovendo seus produtos. A décima
edição do evento, realizada em 2013, teve como principais atrações os músicos Juvenil
Silva (SP), Bixiga 70 (SP), Perfume Genius (EUA), Cícero (RJ), Metá Metá (SP),
Hurtmold (SP), Clarice Falcão (PE) e Rodrigo Amarante (RJ).
Outro festival pernambucano reúne um público bastante diferente do Coquetel
Molotov. O Abril Pro Rock é realizado todo ano, também em Recife, desde 1993. O
festival traz grandes bandas de fora e também bandas alternativas, nacionais e estrangeiras,
mas visando a música mais “pesada”, de gêneros como punk, metal e rock progressivo.
Realizado no Chevrolet Hall, os destaques para edição deste ano já foram confirmados,
Sebadoh e Obituary, ambos estadunidenses.
O Planeta Terra Festival foi criado pelo portal Terra em 2007, e procura realizar
shows de bandas estrangeiras e nomes mais conhecidos nacionalmente, além de bandas
emergentes, priorizando o pop e rock indie. Atualmente é um dos principais festivais da
América Latina, com transmissão na íntegra ao vivo por meio do portal Terra para milhões
de espectadores gratuitamente com imagem em alta definição (HD). Em 2012, por
exemplo, o festival foi transmitido para mais de 4 milhões de pessoas; com a banda
estadunidense The Strokes liderando o lineup, neste mesmo ano, os 20 mil ingressos
vendidos pela internet esgotaram-se 14 horas depois de iniciadas as vendas. O festival
acontece em um único dia, contando com mais de 10 horas de apresentações simultâneas, e
já foi realizado na Vila dos Galpões (2007 e 2008), no Playcenter (2009, 2010, 2011 e
2012) e no Campo de Marte (2013), todos na cidade de São Paulo. O Planeta Terra Festival
já trouxe ao Brasil nomes como Kings of Leon, Pearl Jam, Iggy Pop, Lily Allen, Smashing
Pumpkins e Sonic Youth.
O Rock in Rio não é só o maior festival de música do Brasil, mas do mundo,
reunindo mais de 6 milhões de pessoas em 13 edições. O festival demonstra preocupação
com o meio ambiente, abordando temas como sustentabilidade e responsabilidade
socioambiental, e “assumiu o compromisso de conscientizar as pessoas que, com pequenas
atitudes no dia a dia, dá pra fazer do mundo um lugar melhor”11.
O Rock in Rio teve início em 1985, por ideia do empresário Roberto Medina, que
também idealizou a Cidade do Rock, espaço criado para receber o festival, que abrange o
11
Disponível em: http://rockinrio.com/rio/rock-in-rio/historia/. Acesso: 13 fev. 2014.
27
28
total de 250 mil metros quadrados de área e que, em outras ocasiões, poderia ser utilizada
multifuncionalmente para eventos. Naquele ano, apresentaram-se bandas como AC/DC,
Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Queen e brasileiras como Paralamas do Sucesso, Barão
Vermelho e o músico Gilberto Gil.
Sua segunda edição aconteceu apenas em 1991 e, dessa vez, o lugar escolhido foi o
icônico estádio do Maracanã, que recebeu mais de 700 mil pessoas em 9 dias de festival.
Faith No More, Guns N’ Roses, Megadeath, Joe Cocker e Carlos Santana, além dos
brasileiros como Sepultura, Engenheiros do Hawaii e Titãs foram alguns dos principais
nomes desta edição, mas o destaque foi para os noruegueses do A-HA, que tocaram para
cerca de 198 mil pessoas, entrando para o Guinness Book of Records como o maior
público pagante em apenas um evento musical até então.
Dez anos após a última edição, o festival retornou à nova Cidade do Rock, em
Jacarepaguá, que passou a ter capacidade para 250 mil pessoas. Na terceira edição do Rock
in Rio, em 2001, o festival bateu um novo recorde de público, com mais de 1 milhão de
pessoas presentes nos 7 dias de festa, que contou com 128 artistas. Além do retorno do
Guns N’ Roses e Iron Maiden para o festival, a programação recebeu outras grandes
bandas de rock, como Foo Fighters, REM, Queens Of The Stone Age, Red Hot Chili
Peppers e Oasis. Além do Rio de Janeiro, o Rock in Rio atualmente passa também por
Lisboa e Madrid. Na edição carioca de 2013, o evento levou à Cidade do Rock artistas pop
como Beyoncé, Justin Timberlake e Alicia Keys, bem como a baiana Ivete Sangalo.
O Rock in Rio é o festival mais diversificado entre os citados, mas isso não oferece
desconforto para os espectadores, pois é dividido tematicamente por dia de evento. De
acordo com Soares e Pereira, o que compõe um evento é a harmonia entre tema e público:
Além desses dois fatores imprescindíveis na concepção de eventos,
não se pode deixar de considerar toda a parte operacional, iniciada
com o planejamento, posteriormente a execução, o controle e a
avaliação final. Esses pormenores estão designados ao organizador,
ou seja, ele será o gerador do evento. No que consiste ao campo
organizacional, tem-se adotado o evento como sendo uma espécie
de canal para a propagação do marketing institucional. (PEREIRA;
SOARES, 2009, p. 9)
28
29
Conhecendo alguns dos principais festivais dentro e fora do Brasil, percebe-se que
cada um tem seu próprio público-alvo, levando em consideração, especialmente, os
gêneros musicais presentes em cada um deles, que variam entre rock, pop, metal, indie e
até jazz. Dessa forma, vejamos como o festival Lollapalooza, originado nos Estados
Unidos, procura se estabilizar no Brasil e, consequentemente, se adaptar à cultura
brasileira.
29
30
3 DOWNLOADS, EXPERIÊNCIAS, FESTIVAIS: NOVAS CONFIGURAÇÕES DO
MERCADO MUSICAL
Em resposta à indústria fonográfica, os downloads e a pirataria, de uma forma
geral, têm crescido em relação à imagem negativa construída das majors (grandes
gravadoras). Dessa forma, entendemos que o novo meio de consumo em crescimento da
música se refere também ao consumo do entretenimento, no sentido de experiências
pessoais em grandes ou pequenos shows e festivais. De acordo com Herschmann:
A música gravada, portanto, parece ter perdido valor, e a chamada
grande indústria tenta de alguma forma reagir a essa situação e sair
da ‘crise’ adotando estratégias de intensa repressão aos sites peer
to peer (P2P), que oferecem trocas e downloads gratuitos de
música, e ao mercado ilegal da venda de CDs, aliadas ao emprego
de ferramentas de controle de circulação e reprodução de
fonogramas,
oferecidas
pelas
novas
tecnologias.
(HERSCHMANN, 2010, p. 64)
A partir do momento em que mais fãs conhecem os trabalhos de artistas mais
underground (visto que conhecer o trabalho destes antes da popularização da internet não
era tão simples), surge também um interesse maior dos produtores em realizar festivais
mais abrangentes no que se refere a gêneros musicais. O Lollapalooza apresentou, nas suas
duas edições no Brasil, atrações de música eletrônica (Srkillex, Deadmau5), rock (Foo
Fighters, Pearl Jam), indie pop (Of Monsters and Men, The Temper Trap) e indie rock
(Arctic Monkeys, The Killers) – as rotulações se referem apenas à estética musical, e não
ao vínculo com alguma major. Sendo assim, o consumo da música não se resume mais à
compra de CDs e DVDs, mas a toda uma atmosfera que cerca as experiências musicais,
deixando as majors de lado e valorizando mais os próprios artistas, visto que “o aumento
de consumo de música através dos sites peer to peer (P2P) produz problemas para a grande
indústria, mas não necessariamente efeitos negativos para os artistas”. Sobre a ascensão da
indústria da música gravada, esclarece ainda Herschmann:
30
31
A indústria da música gravada se desenvolveu tanto que, em
determinado momento, passou a usar a música ao vivo como
forma de promover a música gravada, intervendo a situação
de centralidade da música ao vivo, até então, para atividade
musical. (HERSCHMANN, 2010, p. 65)
Analisando o sucesso das execuções ao vivo ou mesmo de algumas iniciativas com
fonogramas, Herschmann (2010) afirma que o público se mobiliza especialmente em
virtude das experiências únicas e memoráveis geradas, ou seja, são elas que tornam este
conjunto de bens e/ou serviços economicamente sustentáveis. Não se trata mais de comprar
CDs e DVDs, mas à “compra” de um dia inteiro (ou mais) num ambiente repleto de artistas
e bandas que seguem o gosto do público ou não, visto que o meio de consumo inclui áreas
variadas para diversas atividades, como os espaços destinados aos patrocinadores, que
competem com os palcos dos grandes festivais. Ou seja, o consumo se dá pela experiência,
por algo que não se resume apenas ao dinheiro gasto num produto, mas em uma série de
fatores que será única para cada um presente no respectivo evento.
3.1 O Festival Lollapalooza: Espaços codificados das Marcas
O Lollapalooza tem origem estadunidense. Surgiu em 1990, em Chicago (Illinois,
EUA), por meio de uma ideia de Perry Farrel, vocalista e líder da banda de rock também
estadunidense Jane’s Addiction. Juntamente com os outros integrantes, Ted Gardener,
Marc Geiger e Don Muller, a intenção inicial era realizar uma turnê de despedida para a
banda, que acompanharia o evento por algumas cidades dos Estados Unidos e Canadá. Esta
primeira edição também contou com uma tenda com exibição de obras de arte, jogos de
realidade virtual, mesas de informações sobre políticas ambientais sem fins lucrativos, e
grupos que promoviam a contracultura e a consciência política. Nos anos seguintes, o
festival continuou com o formato de turnê (lembrando o processo passado pelos circos,
com grandes tendas), passando pelas cidades dos Estados Unidos e Canadá, mas em 2005
ele se consolidou da mesma forma em que acontece atualmente, no Grant Park, na cidade
de Chicago, Illinois. A palavra Lollapalooza vem dos séculos XIX e XX, e significa, de
acordo com o perfil oficial do festival no Facebook, “uma extraordinária ou incomum
31
32
coisa, pessoa, ou evento; um exemplo excepcional ou circunstância”. Posteriormente, o
termo passou a significar também um pirulito grande (derivado de lollipop)12.
Nas duas primeiras edições brasileiras, o festival distribuiu o seu line up entre cinco
palcos, destinando cada palco a um público relativamente diferente. Para começar, os
palcos Cidade Jardim e Butantã são os principais do festival, que ficam localizados nas
duas extremidades da área do Jockey Club, na cidade de São Paulo. Lá se apresentam os
headliners (as atrações mais aguardadas, encontradas no topo da lista de festivais, ou
“manchetes”, em tradução livre), bem como bandas mais mainstream (populares,
comerciais). As bandas mais underground (fora de grandes gravadoras e mais
desconhecidas) ficam no palco Alternativo, próximo ao Cidade Jardim. Já as atrações
eletrônicas se concentram no palco do Perry, uma tenda mais escura e mais ambientada
para o gênero, próxima ao palco Butantã. O palco Kidzapalooza se destina às crianças e,
por isso, fica localizado em uma área mais reservada, mais distante dos palcos principais.
As crianças têm uma programação especial, para o qual elas têm entrada gratuita até os 10
anos de idade e os pais têm acessos diferenciados para entrar e sair do festival.
De acordo com Soares e Pereira (2009), no caso de megaeventos, como festivais de
música, é comum a simulação de um espaço, um “não-lugar”, ou seja, um ambiente
construído com a intenção de criar algo inteiramente novo, sem qualquer referência ou
vestígio histórico, como a Disney World, por exemplo. Dessa forma, o público que paga
pelo ingresso para um festival como o Lollapalooza, não compra apenas o ingresso para
shows de bandas de seu gosto pessoal, mas compra a entrada para um ambiente com uma
atmosfera totalmente diferente do que seria um show apenas das tais bandas em questão.
Vale destacar que todos os shows começam pontualmente, como uma espécie de
“herança” que a edição brasileira ganhou da original em Chicago. Por parte da produção do
evento, percebemos uma preocupação em manter o padrão estadunidense de palcos com
shows simultâneos e atrações dos patrocinadores, além de oferecer programas não musicais
variados dentro dos 120 mil metros quadrados do Jockey Club de São Paulo.
Um dos exemplos foi a marca holandesa de cerveja Heineken, patrocinadora
oficial, que realizou diversas ações espalhadas pelo espaço do Jockey Club, como: o
“espaço de sombra”, que contou com uma área ocupada por pufes para o público descansar
12
Disponível no endereço http://pt.wikipedia.org/wiki/Lollapalooza. Acesso em: 28 jul. 2013.
32
33
ou se proteger do sol; a “tenda da sustentabilidade”, onde, juntando uma certa quantidade
de copos plásticos de chopp da Heineken o público poderia trocar por brindes da marca; a
“roda gigante”, que possibilitava ao público uma visão privilegiada do evento e dos
arredores; e a possibilidade de ganhar um pôster exclusivo do Lollapalooza a partir da
compra de um pack de Heineken em pontos de venda selecionados pelo evento.
Figura 1: Roda Gigante da marca de cerveja Heineken.
Fonte:
http://niespm.files.wordpress.com/2013/03/884366_10151677704862355_1259148036_o.j
pg
Além da Heineken, o Lollapalooza contou com atividades da marca de óculos
Chilli Beans, que implicava em transitar por três óculos gigantes espalhados na área do
festival, e, além de poder escrever ou desenhar nos óculos, poderia pedir para o
representante carimbar uma parte do seu corpo com a logomarca da loja. Atingindo os três
carimbos de cores diferentes, era possível ir no stand da loja, mostrar os carimbos e trocar
por uma raspadinha, que poderia ter, desde descontos de 30 a 50% em qualquer produto
Chilli Beans, até óculos de graça.
33
34
Figura 2: Um dos óculos gigantes da Chilli Beans.
Fonte: http://chillibeans.com.br/lollapalooza_2013/imgs/fotos/53.jpg
Figura 3: Um dos óculos da Chilli Beans e a Roda Gigante da Heineken.
Fonte: http://chillibeans.com.br/lollapalooza_2013/imgs/fotos/58.jpg
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35
Já a Redecard, marca de equipamentos para cartões de crédito e débito, foi o meio
de pagamento do Lollapalooza em 2013. A marca disponibilizou cerca de 500 terminais
nas bilheterias e estabelecimentos do local, mas também ofereceu o Espaço Redecard, onde
se podia encontrar o sistema de acesso à internet Wi-Fi gratuito e carregadores para
celular.
Os Correios tinham um stand que era dividido em várias categorias para o público
do Lollapalooza: na Cabine Fotográfica, o público podia tirar fotos e compartilhar nas
redes sociais, além de levar uma cópia impressa como recordação; no espaço do Cartão
Postal, era possível enviar, gratuitamente, um cartão postal para qualquer pessoa do Brasil
que não pode comparecer ao festival; o Ponto de Encontro serviu para possibilitar o check
in nas redes sociais e facilitar o encontro entre amigos; e o Correio Elegante procurou
aproximar as pessoas no evento, conhecidas ou não, por meio de cartões.
A loja de sapatos e artigos esportivos Netshoes também participou de várias ações
no festival, cujos participantes das atividades no stand puderam ganhar brindes exclusivos
e vouchers de desconto da marca, mas dentro das atividades o destaque vai para o Espaço
Netshoes, que simulou um backstage com diversos camarins de estrelas do rock, abertos
para o público tirar fotos e compartilhar com os amigos. A marca de alimentos Seara
apoiou o evento sendo a responsável pela alimentação do público, com lanchonetes
espalhadas no Jockey Club.
A marca de roupas e sapatos Adidas disponibilizou um stand onde era possível tirar
fotos na cabine, imprimi-las na hora e ainda compartilhar nas redes sociais; também tinha
um artista exclusivo para customizar as roupas e outros produtos dos participantes que
ganharam um concurso cultural feito anteriormente no Facebook; o espaço também
ofereceu Wi-Fi grátis por trinta minutos. Já a Roland, loja de instrumentos musicais,
equipamentos eletrônicos e software, foi, juntamente com a Boss, a marca dos
instrumentos utilizados no palco do Kidzapalooza, além de oferecer jogos gratuitos com
equipamentos.
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3.2 Endereçamento de público
Apesar de o Lollapalooza ter um palco destinado apenas às crianças, podemos
perceber, especialmente após conhecer o perfil dos patrocinadores, que o interesse
principal do festival é atrair jovens e adolescentes, buscando trazer para o line up bandas
novas ou bandas que estejam com material novo, sejam independentes ou não, mas
focando no underground.
Percebemos também uma espécie de diálogo entre a música brasileira e as edições
no Chile e nos Estados Unidos, a exemplo de artistas cariocas como a banda O Rappa, que
se apresentou em Chicago (2012), o rapper Marcelo D2, que se apresentou no Chile (2013)
e da banda de rap rock Planet Hemp, da qual Marcelo D2 também é vocalista, em Chicago
(2013). Já a banda pernambucana Nação Zumbi fará parte do line up da Argentina e do
Chile na edição deste ano. Da mesma forma, esse diálogo costuma acontecer com os
artistas estadunidenses e chilenos nas edições brasileiras.
Devemos considerar que, atualmente, o Lollapalooza é o único festival deste porte
de origem estrangeira e que continua atuando no mercado da música no Brasil, ao contrário
do Sónar (festival de música eletrônica que acontece anualmente em Barcelona e
completou 20 anos em 2013), por exemplo, cuja produção afirmou ter cancelado a edição
deste ano em São Paulo por “dificuldades e instabilidade no mercado de entretenimento do
Brasil”. (ROLLING STONE, 2013)
Nas duas edições brasileiras, o Lollapalooza foi realizado no Jockey Club de São
Paulo (SP). Na edição de 2014, o festival mudou para o Autódromo de Interlagos. Se o
Jockey Club dispunha de um espaço de 120 mil metros quadrados de área para 60 mil
pessoas por dia, o Autódromo de Interlagos oferece 600 mil metros quadrados para receber
100 mil pessoas. Entretanto, diferente dos anos anteriores que tinham três dias, neste ano o
festival terá apenas dois: 5 e 6 de abril.
Já no Chile, o Lollapalooza teve início um ano antes de chegar ao Brasil, em 2011.
Acontece no Parque O’Higgins desde sua primeira edição, que contou com bandas como
The Killers, Jane’s Addiction, Kanye West e Yeah Yeah Yeahs. Em 2014, a edição
acontece no final de semana anterior à edição brasileira: nos dias 29 e 30 de março.
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Mas o Lollapalooza não é mais apenas brasileira, chilena e estadunidense. Como
resultado da boa receptividade dos dois públicos latinoamericanos, a partir de 2014, a
Argentina ganha uma versão do festival, que acontecerá no Hipódromo San Isidro, em
Buenos Aires, nos dias 1º e 2 de abril, no meio da semana que separa as outras duas
edições.
O que podemos perceber, especialmente após conhecer as ações dos patrocinadores,
é que a internet está presente na maioria das atividades dentro do festival, principalmente
no que se refere ao compartilhamento de fotos. Ou seja, o consumo da marca acontece
antes do consumo do produto a que ela se refere.
Durante os anos de 2012 e 2013, o Lollapalooza foi produzido e realizado pela GEO
Eventos, das Organizações Globo. Em agosto de 2013, a GEO anunciou que não ia mais
produzir o festival, passando para a Time For Fun, a maior produtora de eventos ao vivo da
América do Sul, que também realiza as produções do Planeta Terra Festival. Em matéria
publicada no jornal online Estadão, a empresa informou:
esta parceria vem fortalecer o posicionamento estratégico da T4F
como a maior empresa de entretenimento da América do Sul na
medida em que adicionamos mais um conteúdo ao nosso portfólio,
aumentando ainda mais a diversificação de nossas receitas e maior
diluição de custos fixos. Além disso, aumentamos nossa exposição
ao segmento de festivais que cada vez mais tem ocupado espaço no
Brasil e no mundo13.
A mudança de produtoras pode não ter sido inicialmente um ponto positivo para o
Lollapalooza. Entretanto, o novo contrato assinado pela Time For Fun que consiste em
mais cinco anos produzindo o festival, resulta em uma maior estabilidade e,
consequentemente, em uma maior expectativa para as próximas edições.
13
Disponível no endereço: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,time-for-fun-assume-o-festivallollapalooza,1060830,0.htm. Acesso em: 18 fev. 2014.
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3.3 Estética Circense e Lúdica
As duas edições brasileiras do Lollapalooza foram sucesso de público, contando
com os ingressos esgotados duas vezes: em 2012, no dia em que a banda Foo Fighters
(EUA) se apresentou14, e em 2013, no dia em que a banda Pearl Jam (EUA) se
apresentou15. Entretanto, as mudanças não ficaram apenas por conta das produções, mas
também dos patrocinadores, que agora são: Skol, Chevrolet e Pepsi. A classificação etária
para participar do festival é de 15 anos, mas crianças de 5 a 14 anos podem ir
acompanhadas dos pais e crianças menores do que 10 anos não pagam entrada.
A estética do festival se aproxima da temática circense, com figuras mitológicas
como homem-polvo, mulher barbada, palhaços e pernas-de-pau, por exemplo. Essas
figuras estão sempre presentes nas referências do festival, como no site oficial do evento,
páginas em redes sociais, vídeos e fotos de divulgação. No ano de estreia do Lollapalooza
em São Paulo, em 2012, houve uma recepção com várias dessas personagens na entrada do
Jockey Club, o que podemos considerar como um dos principais elementos do não-lugar,
colaborando, assim, para uma experiência totalmente inédita.
Como a internet é o principal acesso às informações do Lollapalooza, o site oficial
do evento (http://www.lollapaloozabr.com/) conta com páginas bastante coloridas onde
prevalecem tons de vermelho, amarelo e azul, incluindo detalhes em cores neon com fotos
grandes dos artistas e informações sobre eles. No site, os destaques são para incentivar os
fãs a comprarem o ingresso e a formarem a sua própria programação a partir do line up de
cada dia, de acordo com as preferências pessoais, para poder compartilhar e comparar com
os amigos. Também podem ser acessadas playlists, fotos e vídeos e assinar a newsletter
para receber em primeira mão, por meio do e-mail cadastrado, as novidades do evento. Dá
para conferir o line up, a programação oficial de cada dia, o mapa do local e saber onde
estarão posicionados os palcos, bares, lanchonetes, lojas e espaços dos patrocinadores,
além de tirar dúvidas através do quadro de perguntas mais frequentes (FAQ). Em todas as
14
Disponível no endereço: http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/02/ingressos-do-1-dia-do-lollapaloozacom-foo-fighters-estao-esgotados.html. Acesso em: 31 jul. 2013.
15
Disponível no endereço: http://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2013/03/31/organizacao-comemoraingressos-esgotados-do-terceiro-dia-e-confirma-edicao-do-lollapallooza-para-2014.htm. Acesso em: 31 jul.
2013.
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páginas do site, a linguagem é coloquial e acessível, com muitas gírias e hashtags, tendo
em vista o público-alvo do evento.
A internet ajuda, atualmente, não só a encontrar e conhecer as bandas de qualquer
lugar do mundo presentes no referente festival, como também a compartilhar as
experiências nas ações dos patrocinadores, nos shows e em outras atividades com os
amigos, como em um simples piquenique na grama, por exemplo. Vale lembrar que em
megaeventos como o Lollapalooza, as pessoas vão vestidas especialmente para curtir o
espaço e também chamar atenção, então percebe-se desde um estilo mais despojado, como
shorts ou calça, camiseta e coturnos ou botas, até fantasias, como perucas, chapéus
enormes e maquiagens extravagantes, por exemplo. Também é comum encontrar bandeiras
de diferentes estados do Brasil e de outros países. Sendo assim, vários blogs e sites como o
G1 realizam uma série de publicações de fotos só com as pessoas mais bonitas e mais
“estilosas” do evento, que servem tanto para quem está presente, quanto para quem procura
inspiração na hora de se vestir.
Para a edição de 2014, as ações online da produção do Lollapalooza na internet
começaram logo após a divulgação do Autódromo de Interlagos ser o novo lugar a receber
o evento. Em outubro do ano passado, Perry Farrel foi à cidade de São Paulo para uma
coletiva de imprensa e realizar o trajeto de trem, com o objetivo de mostrar a facilidade
para se chegar ao Autódromo. Há entrevistas e imagens do criador do Lollapalooza
registradas
em
vídeo
no
próprio
canal
do
festival
(http://www.youtube.com/user/LollapaloozaBR). Desde então, o festival atualiza com
frequência as suas redes sociais com as novas informações da próxima edição: Twitter,
Facebook, Youtube, Flickr e Instagram.
Considerando que a edição brasileira do Lollapalooza recebeu em média 60 mil
pessoas por dia (e a partir deste ano receberá até 100 mil por dia), a cidade de São Paulo se
prepara em relação ao tráfego de pessoas, carros e ao horário de transportes públicos,
principalmente do metrô e ônibus, quando, nos dias de festival, esse horário é esticado para
que as pessoas possam voltar para casa/hotel com mais tranquilidade. Uma maior
quantidade de táxis também circula pela região do festival como opção para quem quer
mais conforto. Neste ano, no Autódromo de Interlagos, é possível comprar uma vaga do
estacionamento no local, pagando antecipadamente, pelo site, a taxa de R$50.
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Por meio da criação de um não-lugar, como uma maneira de fazer o público
“absorver” ainda mais a atmosfera do Lollapalooza, o festival possui uma moeda própria, a
qual pode ser trocada por dinheiro ou comprada pelo cartão de débito nos postos
localizados dentro do festival. As “pillapaloozas” valem dois reais cada, e com elas é
possível comprar alimentos e bebidas nos pontos fixos. Mas também há os vendedores que
passam pela área inteira do festival vendendo chopp da patrocinadora Heineken ou mesmo
realizando a troca das “pillapaloozas” por dinheiro.
Também ficam espalhadas várias unidades da loja oficial do festival, que conta com
diversos produtos, como lenços, bandanas, camisetas, bolsas, chaveiros, bonés e até
mesmo palhetas e baralhos. Lá podem ser encontrados tanto os produtos do próprio
festival, quanto os das bandas que se apresentam no respectivo dia. Nessas lojas, os
produtos podem ser comprados no cartão de crédito, ou seja, as “pillas” não são
necessárias nesse caso.
Na era da internet, nada mais conveniente do que criar uma página na rede social de
maior número de usuários do mundo. A página oficial do festival Lollapalooza Brasil no
Facebook tem mais de 600 mil curtidas, ou seja, mais de 600 mil pessoas que desejam
conhecer mais sobre o festival e saber de novidades sobre a nova edição, ou mesmo
relembrar os momentos das edições passadas. Lá são publicadas, quase diariamente,
novidades dos artistas e bandas que estarão no festival, como entrevistas, videoclipes
novos, concursos culturais para ganhar ingressos, entre outras coisas. Dessa forma, os fãs
também podem ter um fácil acesso à programação diária do festival, a informações sobre a
venda de ingressos e à divulgação do line up da próxima edição, um dos momentos mais
aguardados durante o ano.
Chegamos ao final do capítulo, certos de que pudemos observar como o festival
estadunidense, Lollapalooza, adapta-se ao Brasil, trazendo bandas do seu país de origem e
estrangeiras, realizando um diálogo com algumas bandas nacionais e intercalando essas
apresentações, atualmente, nas quatro edições do festival: Chicago (EUA), Santiago (CL),
São Paulo (BR) e Buenos Aires (AR). Vimos também a facilidade que a internet traz em
relação à divulgação de novas bandas e de novidades do próprio festival, como line up e
vídeos promocionais do evento, bem como a adaptação dos patrocinadores em realizar
atividades que envolvem, principalmente, o compartilhamento de fotos e momentos em
geral com os amigos e o público do festival.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para analisar a ascensão da música ao vivo mundial com foco no Brasil e a chegada
do festival americano Lollapalooza para São Paulo, realizamos um levantamento de dados
por meio do site oficial do evento em suas quatro versões: a americana, a brasileira, a
chilena e a estreante argentina. Estudamos neste trabalho uma série de fatores presentes no
festival de música Lollapalooza que o tornam diferente em vários aspectos para o público
brasileiro, que já esteve em outros festivais. O Lollapalooza trouxe para o Brasil bandas de
estética independente, sejam de rock, pop ou música eletrônica, concentrando, em cada um
dos três dias da sua edição de 2013, 60 mil pessoas em média. Atualmente ele “compete”
com outros dois festivais: o Rock In Rio, que tem em seu line up atrações mais
mainstream, mais comerciais, e o Planeta Terra, evento promovido pelo portal Terra e que
segue a mesma estética do Lollapalooza, mas comporta cerca de 20 mil pessoas em suas
edições, que acontecem em apenas um dia no segundo semestre do ano.
Sendo assim, fizemos um estudo comparativo entre o Lollapalooza e outros
festivais presentes no Brasil neste contexto da música, pegando como ponto de partida a
adaptação do festival americano ao público brasileiro em relação aos nacionais.
Outro fator importante para o sucesso do festival em terras tupiniquins é a presença
das campanhas publicitárias no espaço do Jockey Club nos dias do evento, além dos
diversos concursos culturais na página oficial do festival brasileiro no Facebook, que pode
atrair o público-alvo de jovens e adolescentes.
Englobando todos os itens acima, foi realizado um levantamento bibliográfico com
o embasamento necessário para a elaboração desta monografia, a respeito do crescimento
na indústria da música e conceitos como majors e indie, bem como questões acerca do
mercado de festivais pelo mundo, a chegada deles no Brasil até os dias atuais, e a indústria
da música gravada em declínio em contraponto à ascensão da música ao vivo.
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