Os usos evidenciais não-predicativos de diz que

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COSTA, A.N. CASSEB-GALVÃO, V.C. Os usos evidenciais não-predicativos de diz que: um estudo em tempo real de curta duração. In:
CONGRESSO DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO DA UFG – CONPEEX, 3., 2006, Goiânia. Anais eletrônicos do XIV Seminário de
Iniciação Cientifica [CD-ROM], Goiânia: UFG, 2006. n.p.
Os usos evidenciais não-predicativos de diz que: um estudo em tempo real de curta
duração.
COSTA, Adriana Nunes1; CASSEB-GALVÃO, Vânia Cristina2.
Palavras-chave: Evidencialidade, Gramaticalização, diz que não-predicativo.
1.INTRODUÇÃO (justificativa e objetivos)
Este estudo pretende descrever o processo de difusão do paradigma evidencial
gramaticalizado no português falado no Brasil, a partir dos vários usos nãopredicativos de diz que verificados em duas sincronias: 1980 e 2000. Este estudo
auxiliará na identificação do momento da instanciação dos usos do diz que não
predicativos e, com isso, será possível observar a regularidade existente na ação
dos princípios que regem a variação e que subjazem ao sistema lingüístico do
português. Além disso, permitirá confirmar e/ou ampliar a tipologia apresentada por
Casseb-Galvão (2001), que fez um estudo desses usos a partir de amostras do
português escrito. Assim, um estudo desta natureza é relevante para a descrição da
língua portuguesa, pois auxilia no entendimento do seu processo de constituição.
2.METODOLOGIA
Este estudo é realizado a partir da análise dos dados do grupo de estudos PEUL
(Programa de Estudos do Uso da Língua), sediado na Universidade Federal do Rio
de Janeiro. Os dados estão armazenados eletronicamente e conta com amostras
sistematizadas de duas sincronias: a amostra CENSO, coletadas de 1980 a 1984, e
a amostra RECONTATO, coletadas nos anos de 1999 e 2000. A partir dos
pressupostos teóricos funcionalistas, em um primeiro momento, fizemos a
identificação e a classificação de todas as ocorrências de diz que não-predicativo.
Depois, foi realizamos uma análise quantitativa em que se atentava para os
princípios de variação lingüística estabelecidos pelo sociolingüista William Labov.
3.RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Da análise Qualitativa dos dados
As questões que norteiam essa investigação estão em Casseb-Galvão
(2001). Para ela, o envolvimento do falante com a situação pode ser revelado nos
COSTA, A.N. CASSEB-GALVÃO, V.C. Os usos evidenciais não-predicativos de diz que: um estudo em tempo real de curta duração. In:
CONGRESSO DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO DA UFG – CONPEEX, 3., 2006, Goiânia. Anais eletrônicos do XIV Seminário de
Iniciação Cientifica [CD-ROM], Goiânia: UFG, 2006. n.p.
domínios da experiência pessoal [+dir], da inferência [-dir], e do ouvir-dizer [ind], nos
quais o grau de evidência pode ser [+dir], [-dir], ou [ind], de acordo com a
experiência cognitiva envolvida.
Dentro do domínio da experiência pessoal, Casseb-Galvão (2001) considera
que o operador gramatical diz que só ocorre de forma indireta quando a função
evidencial é a reportativa de mito. No entanto foram encontradas ocorrências cujas
características se identificam mais com o grau de evidencia [-dir] que corresponde à
função citativa reportativa. No trecho seguinte, a falante descreve o pai:
(1) F- (...) Ele era um homem muito forte, era homem mais valentão da polícia. (est) (risos) É! Era diz que ele era fora de série, era bonito, as mulher até brigava por ele! (risos e) Minha mãe tinha
maior ciúme das mulher com ele. (barulho de avião)
Com isso, podemos afirmar que o operador evidencial gramatical diz que
integra também domínio da evidencialidade reportativa citativa, uma vez que
verificamos em (1) que a fonte da informação asseverada pode ou não ser
identificada.
Encontramos também, uma ocorrência de inferência na qual o falante parte
de premissas para chegar a uma conclusão:
(2) F-Eu acho que as crianças de hoje em dia, elas são mais voluntárias, querem- diz que (...) as
crianças querem ser mais autônomas e que [("é") da épocas], e é- independente- e tem outra coisa,
não se pode contrariar uma criança, porque logo vem ter problemas- que eu acho isso um absurdo!
(C18)
O domínio evidencial mais recorrente em nossa investigação é o de ouvirdizer, como verificamos neste trecho de entrevista:
(3) F: Não aqui em casa eu quase não faço fritura, porque também por causa da idade, e diz que o
colesterol é bom você fazê uma prevenção desde novo, então já que não fizeram em mim eu faço na
[minha filha 79] né (risos) (R9)
Outra ocorrência freqüente é a de instauração de boato. Para Casseb-Galvão
(2001), este uso demonstra pouca credibilidade da informação, uma vez que a
origem da mesma é indefinida:
(4) F- [não dava, não é? é, não.] Aí fiquei. Gostaria, porque dizem que a Bahia tem coisas muito
bonitas, não é? Não sei. Tem? Você conhece? Mas também, diz que lá tem muito lugar que é muito
sujo, não é? (C18)
Em nossa investigação encontramos também o diz que não-predicativo
desempenhando a função especulativa. Segundo Casseb-Galvão (2001, p.114) esse
COSTA, A.N. CASSEB-GALVÃO, V.C. Os usos evidenciais não-predicativos de diz que: um estudo em tempo real de curta duração. In:
CONGRESSO DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO DA UFG – CONPEEX, 3., 2006, Goiânia. Anais eletrônicos do XIV Seminário de
Iniciação Cientifica [CD-ROM], Goiânia: UFG, 2006. n.p.
domínio evidencial, “só existe na mente do falante” que por alguma necessidade
exterioriza essa informação, como demonstra a seguinte fala:
(9) F- Ah! Se quiser casar, não e?(risos) Mas ele me ajuda bem, (f) (est) ele é (hes) minha mão
direita, (est) meu braço direito é ele. (riso e) Me ajuda muito. (f) Mas ele não casa, não. Ele diz:” Ah!
Eu não, mãe.” Bem carro e- (muxoxo) que não falta hoje em dia é moça e- [tem uma que] está
sempre aqui. (est) Trabalha também lá no banco. Diz que é namorada dele, ele nem está ligando.
(risos) [namorada] Dele. (C16)
Nesse caso a falante, apesar dizer ao entrevistador que cabe ao filho a
decisão de casar ou não, demonstra claramente que essa não é sua vontade.
3.1.2 Da Análise Quantitativa dos dados
A - Resultados da Amostra CENSO
Dos 60 entrevistados da amostra CENSO, 14 utilizaram um ou mais tipos de
diz que não-predicativos, como demonstra o seguinte gráfico:
50
45
40
35
Falantes que usaram
diz que nãopredicativo
30
25
Falantes que não
usaram diz que nãopredicativo
20
15
10
5
0
1
2
Gráfico 1
O diz que não predicativo foi mais utilizado pelo gênero feminino que
representa 30 % do número de informantes desse gênero e 64,28% do total de 14
usuários -, por pessoas com mais de 50 anos e com nível escolar 1. Já em relação
ao tipo de diz que não-predicativo, no geral, a ocorrência maior é a de esperiência
pessoal reportativa intermediária, seguida da de ouvir-dizer instauradora de boato.
B - Resultados da Amostra RECONTATO
Dos 15 entrevistados da amostra RECONTATO, 03 utilizaram diz que nãopredicativo, como está representado no gráfico 2:
14
12
10
8
Série1
6
4
2
0
Falantes que não
Falantes que usaram
usaram diz que nãodiz que nãopredicativo
predicativo
Gráfico 2
COSTA, A.N. CASSEB-GALVÃO, V.C. Os usos evidenciais não-predicativos de diz que: um estudo em tempo real de curta duração. In:
CONGRESSO DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO DA UFG – CONPEEX, 3., 2006, Goiânia. Anais eletrônicos do XIV Seminário de
Iniciação Cientifica [CD-ROM], Goiânia: UFG, 2006. n.p.
Ao contrário da amostra CENSO, na RECONTATO a incidência do uso do diz
que não-predicativo foi maior no sexo masculino. Quanto à escolaridade há um
representante para cada nível escolar: fundamental 1, fundamental 2 e Ensino
Médio. Já em relação à faixa etária, verificamos um predomínio do uso dos
informantes que possuem de 26 a 49 anos. Com relação ao tipo de diz que nãopredicativo, verificamos 05 ocorrências de diz que não-predicativo, as quais são
predominantemente do tipo experiência pessoal - reportativa intermediária.
4.CONCLUSÃO
A análise esboçada anteriormente nos revelou fatos importantes para se
compreender a língua portuguesa falada no Brasil e principalmente para atestar que
o operador evidencial gramatical diz que está presente, não só na língua escrita,
mas também na língua em uso oral, independentemente da comunidade de fala
envolvida. Além disso, verificamos que uso de diz que não-predicativo está presente
nas duas sincronias, mostrando que o intervalo de tempo de aproximadamente 20
anos não favoreceu o desuso desse operador evidencial, pelo contrário, esse uso
parece se implementar cada vez mais no português. Atestamos, ainda que a
tipologia proposta por Casseb-Galvão (2001), corresponde satisfatoriamente às
funções da expressão evidencial diz que não-predicativo, podendo ainda ser
ampliada.
5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASSEB-GALVÃO V.C.C. Evidencialidade e gramaticalização no português do
Brasil: os usos da expressão diz que. Tese de Doutorado em Lingüística e Língua
Portuguesa. Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista,
Campus de Araraquara, 2001.
1
Bolsista de iniciação científica. Faculdade de Letras, [email protected]
2
Orientadora/Faculdade de Letras/UFG, [email protected]
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