IBMEC SÃO PAULO Faculdade de Economia e Administração Análise Econômica de Protocolos de Redução de Poluentes Ricardo Rosso Corrêa São Paulo 2009 Ricardo Rosso Corrêa Análise Econômica de Protocolos de Redução de Poluentes Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas, como requisito para obtenção do grau de Bacharel do Ibmec São Paulo. Orientador: Prof. Dr. Daniel Augusto Motta – Ibmec SP São Paulo 2009 Corrêa, Ricardo Rosso Análise econômica de protocolos de redução de poluentes / Ricardo Rosso Corrêa: Ibmec-SP, 2009. 28 f. Monografia: Faculdade de Economia e Administração. Ibmec São Paulo. Orientador: Prof. Dr. Daniel Augusto Motta 1. Economia Política 2. Comércio Internacional 3. Sustentabilidade Ricardo Rosso Corrêa Análise Econômica de Protocolos de Redução de Poluentes Monografia apresentada à Faculdade de Economia do Ibmec São Paulo como parte dos requisitos para conclusão do curso de graduação em Economia. Aprovado em Dezembro 2009 EXAMINADORES ____________________________________________________________________ Prof. Dr. Daniel Augusto Motta Orientador ___________________________________________________________________ André Duarte Examinador ____________________________________________________________________ Aloísio Buoro Examinador Resumo CORRÊA, Ricardo Rosso. Analise econômica de protocolos de redução de poluentes / Ricardo Rosso Corrêa: Insper, 2009. Monografia 28f – Faculdade de Economia e Administração - Ibmec São Paulo. Muito se tem discutido sobre os efeitos do homem no meio ambiente. O ritmo de consumo e de degradação ambiental atual são insustentáveis no longo prazo e arriscam as futuras gerações. Medidas para a mitigação dos problemas ambientais são cada vez mais urgentes e estão cada vez mais na pauta dos políticos. Um marco na tentativa de diminuir os efeitos do homem no meio ambiente em âmbito internacional foi o Protocolo de Kyoto, que impunha um corte na emissão de gás carbônico dos países para diminuir os efeitos do aquecimento global. A não-aderência de alguns países como os Estados Unidos gerou grande discussão sobre o comprometimento dos países com o futuro do planeta. O objetivo desta monografia é avaliar os efeitos econômicos da aderência de um país líder num protocolo de redução de poluentes e suas implicações na economia seguidora, simulando assim os efeitos esperados caso os Estados Unidos tivessem assinado e cumprido o Protocolo de Kyoto. Palavras-chave: Protocolo de Kyoto, Economia Política, Comércio Internacional, Sustentabilidade, Marketing de produtos ecologicamente corretos Abstract CORRÊA, Ricardo Rosso. Economical Analyzis of Pollution Reduction Protocols / Ricardo Rosso Corrêa: Insper, 2009. Monograph 28f– Faculdade de Economia e Administração - Ibmec São Paulo. There’s being a lot of discussion about the effects of humankind on the environment. The current consumption level and worsening conditions of the environment are unsustainable on the long run and risks the future generations. Policies to mitigate the environmental problems are each day more urgent and under political discussion. A milestone on the efforts to diminish the effects of humankind on the environment on international grounds was the Kyoto Protocol, which imposed a cut on the CO2 emissions in order to diminish the effects of global warming. Some countries did not ratify the protocol and it created a lot of discussion under the commitment of the countries with the future of our planet. The objective of this monograph is to evaluate the effects of ratifying an protocol like Kyoto on the leader economy and the follower, simulating the expected effects if the United States have had ratified and followed the Kyoto Protocol. Keywords: Kyoto Protocol, Political Economy, International Trade, Sustainability, Green Products Marketing Sumário 1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2. Revisão Literária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 3. Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 3.1 Aprofundamento Metodológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 4. Desenvolvimento do Modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 4.1 Primeiro Período . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 4.2 Segundo Período . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 5. Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 6. Críticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 7. Bibliografia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 1. INTRODUÇÃO Muito se tem discutido sobre os efeitos do homem no meio-ambiente. Problemas como poluição de rios, qualidade do ar e aquecimento global são apenas exemplos de como o modo de vida da nossa sociedade afeta o meio em que vivemos. Com um crescimento explosivo populacional e um rápido crescimento econômico nos países emergentes, fica claro que a nossa sociedade não pode continuar nesse ritmo de consumo, a degradação ambiental que isso geraria iria destruir o mundo como conhecemos hoje e arriscar o futuro das novas gerações. Muitas empresas conscientes do problema ambiental adotaram políticas ecologicamente corretas: mudaram sua dependência energética para energias limpas, diminuíram suas emissões de gases poluentes, desenvolveram novas tecnologias de produção, etc. Definido por Stuart Hart (1997), elas adotaram o conceito de empresas “sustentáveis”, ou seja, empresas que têm uma preocupação com o meio ambiente e mudam seu processo produtivo de forma que esse seja mais limpo e sustentável no longo prazo. Porém, o desafio vai além das empresas, é necessário a criação de uma economia mundial sustentável, aquela que, como dita por Hart, é capaz de se sustentar indefinidamente. Logo, não apenas um país, mas o todo o mundo deve se conscientizar e combater os efeitos da poluição no planeta em conjunto. O primeiro movimento mundial nesse sentido foi a Toronto Conference on the Changing Atmosphere, onde foi proposta uma diminuição nos níveis de emissão de gases que causam o efeito estufa e, conseqüentemente, o aquecimento global. O efeito do aquecimento global é o mais discutido e dito como o mais grave dos danos que o homem causa no meio ambiente. Fato é que a dependência mundial em fontes de energia que emitem CO2 é enorme e a poluição gerada por essa combustão corresponde a cerca de 60% (de acordo com o Intergovernmental Panel on Climate Change) da magnitude do efeito no planeta. Assim, o caminho da sustentabilidade mundial passa pela mudança da matriz energética nos países, o que gerará custos que podem ser repassados as empresas. Para ilustrar como essa 6 dependência é grande, o gráfico abaixo mostra a demanda mundial por energia primária, que é a energia que ingressa no sistema econômico mundial antes de ser transformada ou consumida: Gráfico 1 – Demanda Mundial por energia primária O gráfico é a matriz mundial de 2005, podemos ver que a dependência em recursos que emitem gás estufa é de 81% (soma de carvão, petróleo e gás natural). Uma mudança na matriz energética acarretaria em uma mudança na emissão desses gases, energias renováveis como biomassa ou limpas como solar e eólica são alternativas. Porém, em custo-beneficio, os emissores de gases se apresentam mais eficientes. Fonte: 2007 World Energy Outlook – http://www.worldenergyoutlook.org/2007.asp. O passo mais importante tomado no sentido da diminuição do efeito estufa foi o Protocolo de Kyoto. Discutido e negociado em 1997, esse protocolo tinha como meta uma diminuição de 5,2% dos níveis de emissão de CO2 dos países participantes com base no ano de 1990. Porém esse protocolo não teve o suporte esperado. Os Estados Unidos (principal emissor de CO2 no planeta na época) não assinou o protocolo alegando que essa diminuição geraria uma queda no crescimento do país e desemprego. A posição norte-americana quanto ao protocolo gerou criticas no mundo inteiro, mas muitos países que se comprometeram não cumpriram o acordo. Um protocolo supranacional como o de Kyoto ainda interfere na soberania dos países, que tem de se limitar para atender as exigências mundiais. Além disso, metas deveriam ser impostas aos países emergentes como China e Índia que serão grandes emissores no futuro, mas o protocolo teve uma ênfase maior nos países desenvolvidos. Após o protocolo houve uma maior conscientização da população em relação aos efeitos da ação do homem no planeta. As ONGs desempenham um importante papel nesse contexto: influenciando a opinião publica, 7 colocando os problemas ambientais nas pautas políticas, desenvolvendo pesquisas e informando a população e gerando pressões sociais a favor de uma mudança nas políticas ambientais. A mídia também passou a dar mais ênfase na questão, documentários como “An Incovenient Truth” de Al Gore abriram os olhos da população e aumentaram o nível de consciência ambiental. A eleição de um presidente norte-americano que tinha na sua agenda política a defesa do meio ambiente ilustra bem essa mudança de consciência até mesmo na população norte-americana, que parecia alienada quanto às preocupações ambientais. No final do ano de 2009 haverá outra reunião dos países para discussão ambiental, a conferência de mudanças climáticas em Copenhagen. Essa mudança na conscientização da população mundial vai ser posta em cheque contra os interesses de grupos lobistas contrários aos protocolos, já que uma diminuição na emissão significa maiores custos para as indústrias e, conseqüentemente, para a produção. A batalha na decisão governamental de que medida tomar nesses protocolos e os seus efeitos globais é a função desse artigo. Nele, analisaremos protocolos de redução de poluentes como o de Kyoto. Supondo a aderência de um país líder no protocolo, iremos analisar quais os incentivos para os países não entrarem no acordo e quais as implicações econômicas desta aderência. A motivação é justamente toda a polêmica gerada por esses protocolos e a necessidade imediata de mudança na atitude dos países para um mundo sustentável. Para tal, faremos uma análise de economia política sobre tratados de redução de poluentes utilizando um modelo de Stackelberg com dois estágios envolvendo dois países de diferentes magnitudes no comércio mundial. No primeiro estágio, dado a posição do país líder, o governo da economia seguidora maximiza sua utilidade condicionada a grupos lobistas e popularidade para decidir se assina ou não o tratado. No segundo estágio, analisaremos as implicações econômicas da decisão governamental no país líder e seguidor. Um diferencial interessante nessa monografia sobre outros artigos de economia política será a adição da variável “nível de consciência ambiental” e como ela interagirá no modelo. 8 2. REVISÃO LITERÁRIA Temos uma literatura vasta sobre economia política envolvendo acordos comerciais entre países (preferenciais ou de livre comércio) e sobre sustentabilidade. Para desenvolvermos a literatura, trataremos o acordo de redução de poluentes como um acordo comercial entre países e adicionaremos o conceito de sustentabilidade nas empresas que entrarão no acordo. Economia Política Tradicionalmente defendido pela economia do bem-estar, a função do governo é a de maximizar, através da função de utilidade, o bem-estar de sua população. Assim toda decisão tomada deve ser baseada no aumento do bemestar geral, a busca do ótimo de Pareto. Essa teoria, que se deriva das concepções desenvolvidas por Keynes (1937), diz que a intervenção do Estado, através de políticas públicas, impulsiona o bem-estar conjunto da sociedade através da correção das falhas de mercado. Harry Johnson (1954) traz a idéia de um governo como um empregado benevolente, subordinado aos interesses da população. Já Buchanan e Tullock (1962) criam a chamada teoria da Escolha Pública. Nela, se critica a visão romântica do Estado benevolente advinda da teoria do bem-estar. Analisando as bases contratuais e institucionais para a tomada de decisão, se refuta a idéia do político que busca o bem-estar da população pois, de acordo com o artigo, a economia e a política têm dois vetores distintos. Um procura a maximização do bem-estar através da eficiência e o outro busca a conquista de poder e reeleição. Assim, com a politização da economia, se conclui que o agente público age por interesse próprio e não em busca do bem da população. Vendo a atuação dos lobistas na política podemos comprovar as idéias desenvolvidas por Buchanan. Lobistas são grupos de pessoas com interesses em comum que tem como objetivo influenciar as decisões públicas para o próprio interesse. Essas decisões podem favorecer os lobistas, sendo assim a parte da população representada por eles ganha, em detrimento do resto. Pode 9 se ver que, dependendo do tamanho da população representada pelos lobistas, essa inferência pode trazer uma queda no bem-estar em geral. A discussão dos efeitos que o lobby tinha na economia nacional já havia sido apresentada na literatura econômica. Porém, Grossman e Helpman (1995) foram os primeiros a introduzir o conceito de lobby internacional nas relações comerciais entre os países. Nesse artigo, o governo recebe contribuições de diversos grupos lobistas nacionais. Cada contribuição é determinada pela maximização do bem-estar do grupo lobista. Dado as contribuições, o governo toma sua decisão, baseado na maximização de sua utilidade, no mercado internacional: aumenta a tarifa do bem x, subsidia a produção do bem y, etc. Assim, as ações do governo no comércio internacional dependem das contribuições dos lobistas. A principal conclusão é que existe uma correlação positiva entre os níveis de proteção de uma indústria e o seu nível de organização política, representado pelos lobistas. Krishna (1998) defende que os grupos que ganham na criação de um acordo comercial são aqueles que são mais organizados. Tratando o comércio como um bem público, afirma que os grupos politicamente organizados têm vantagens em acordos comercias que grupos sem organização política. O resumo da literatura nos leva a considerar fortemente a ação dos lobistas nos acordos comerciais, o acordo definido pelo governo benevolente defendido pelas teorias econômicas que teria um aumento do bem-estar social difere completamente do efetivo, que é influenciado pela ação dos grupos de interesses. Nos acordos comerciais, a briga dos lobistas se dá em setores comerciais como agronomia e produtos industriais. Já nesse trabalho, vamos analisar a ação de lobistas a favor de empresas ecologicamente corretas contra empresas não - ecologicamente corretas e a influência da população. A organização desses grupos difere da setorial e como elas irão agir. 10 3. METODOLOGIA: Para analisarmos os efeitos da assinatura de um país líder na própria economia e na economia seguidora, devemos primeiramente dividir nossa análise em dois períodos. No primeiro, a economia seguidora decide se entra ou não no tratado maximizando sua utilidade condicionada à decisão do país líder e no segundo período analisamos as implicações econômicas das escolhas governamentais, os pay-offs. Assim, a metodologia se baseia nos conceitos desenvolvidos em Teoria dos Jogos. Utilizaremos um modelo de dois estágios com dois países de diferentes magnitudes. Escolhemos o modelo de dois estágios pois primeiro analisaremos o processo de decisão dos países, depois as conseqüências, e países de diferentes magnitudes para analisarmos as conseqüências da ação de um no outro. Teremos então um modelo de Stackelberg com dois períodos com um país líder e o outro seguidor para a análise dos incentivos e efeitos das decisões governamentais. No primeiro período, se desenvolve os conceitos de maximização da utilidade governamental desenvolvidos por Grossman e Helpman (1995) e Motta (2005), onde o governo age por interesse próprio. Utilizaremos os modelos desenvolvidos por estes autores devido à inclusão das contribuições lobistas nos acordos internacionais e sua influencia nas decisões do governo. A idéia no primeiro período é descobrir qual a motivação do governo em entrar num protocolo de redução de poluentes. Através da posição do país seguidor no primeiro período (se adere no protocolo e faz coalizão com o país líder ou não) vamos analisar no período seguinte as implicações da decisão em ambas as economias. O país seguidor estará envolvido em um jogo com cinco jogadores: governo, empresas, eleitor-médio, ONGs e mídia. A função de utilidade do Governo, que será maximizada no primeiro estágio, depende diretamente da sua popularidade perante o eleitor-médio e dos lobbys praticados pelas empresas. As empresas estão decididas a oferecer um valor de lobby menor 11 ou igual ao benefício gerado pela não-assinatura do protocolo. Já o eleitormédio se preocupa com o seu bem-estar, que é dado pelo seu excedente e adicionaremos a variável “consciência ecológica” da população. A função das ONGs e da mídia é a de formar opinião e influenciar a variável “consciência ecológica” do eleitor-médio. De acordo com a função de maximização de utilidade governamental, se dará a escolha do país seguidor no protocolo. No segundo período, divergimos nossa análise do modelo de Grossman e Helpman (1995). Utilizaremos até o final do primeiro período o mesmo modelo que é utilizado em negociações de comercio internacional para um protocolo de redução de poluentes. No segundo período do modelo, os acordos comerciais são então definidos, onde cada governo tenta alterar a estrutura do acordo para ter um ganho maior de utilidade. Aí se faz um estudo analisando o poder de barganha do país líder e seguidor (Motta 2005). Porém num protocolo de redução de poluentes como o de Kyoto não existe essa barganha, os países devem decidir se aderem e cumprem as metas de redução ou não. Nesse contexto também não existe a possibilidade de exclusão de setores da economia ao protocolo como existe nos acordos comerciais. Assim, os governos no segundo período não podem negociar um formato mais favorável, não há poder de negociação. O protocolo de redução de poluentes é dado e o governo tem duas escolhas: status quo ou aderência. Motta (2005) abre uma possibilidade para estudo. Ao analisar coalizões das economias seguidoras, se vê um ganho maior no poder de negociação nos acordos comerciais. Assim, poderíamos relaxar nossa hipótese quando existe uma coalizão de economias seguidoras, a possibilidade de barganha e negociação de um protocolo de redução de poluentes se faz possível quando existe esta coalizão que pressiona para um acordo mais favorável. Porém, a análise do poder de barganha dos governos não é o objetivo deste artigo. Vamos, no segundo período, analisar através dos impactos no comércio internacional e no nível de preços as implicações econômicas das decisões governamentais tomadas no primeiro período, os pay-offs. 12 3.1 Aprofundamento Metodológico Vamos começar definindo as funções do modelo de economia política do primeiro período seguindo Motta (2005) e Grossman e Helpman (1995). Como ambas as economias (líder e seguidora) apresentam características similares para as funções descritas, elas serão iguais. Cada economia segue as seguintes funções: n Preferências Individuais: u (c) = c0 + ∑ u i (ci ), u ' (.) > 0, u" (.) < 0 , onde n i =1 é o número de bens e 0 refere-se ao numerário n Demandas per capita: Di (q i ), i = 1,..., n e y − ∑ Di (q i ), i = 0 , onde q i = i =1 índice de preços ao consumidor doméstico Excedente do Consumidor: S i (q i ) = u i [ Di (q i )] − qi Di (q i ) Olhando para a oferta agregada da economia, rejeitamos a hipótese de concorrência perfeita. No modelo apresentado, as empresas tem um lucro econômico maior que zero. De acordo com Motta (2005), “cada mercadoria apresenta retornos constantes de escala para o fator trabalho e um fator de produção específico ao respectivo setor econômico, cujo retorno é π i ( p i ) ”. Assim, a função de oferta agregada é dada por: Oferta Agregada: X i ( pi ) = π ' ( p i ) > 0 , onde p i : índice de preços ao produtor doméstico π i ' ( pi ) : função derivada de π í ( pi ) Os proprietários dos fatores específicos formam grupos de interesse e pressionam o governo para tomar medidas que maximizem os lucros para o setor. Assim, são formados grupos lobistas, que oferecem contribuições financeiras para o governo em troca de posições favoráveis em acordos comerciais. Em nosso trabalho, esses grupos lobistas percebem que uma diminuição na emissão de gases acarretará um custo maior na sua produção e 13 tentarão influenciar o governo a não assinar o acordo de redução de poluentes. A contribuição que os lobistas aceitam pagar para influenciar as decisões do governo segue a seguinte regra: Lobby Ofertado: K i ≤ π iNA − π iA , onde π iNA : lucro da empresa i sem a assinatura do acordo π iA : lucro da empresa i com a assinatura do acordo Ou seja, o lobby ofertado nunca vai ser maior que a diferença entre a lucratividade nas duas situações, supondo que a empresa i seja mais lucrativa na situação onde o acordo não é assinado. Dado a oferta e demanda agregada, o governo toma sua decisão de assinar ou não o protocolo de redução de poluentes baseado na sua função objetivo. Baseado no modelo proposto por Grossman e Helpman(1995), a função objetivo do governo é resultado da soma das contribuições dos grupos lobistas(C) mais o bem estar do eleitor-médio(W). Assim se segue a função utilidade governamental e bem-estar do eleitor médio: Utilidade Governamental: G ≡ ∑i C i + aW , onde a : parâmetro de sensibilidade do governo ao bem-estar do eleitor médio relativamente às contribuições dos lobistas Bem-estar do eleitor médio: n n W = ∑ S i (q i ) + L + ∑ π i ( p i ) − f (θ | PolAmbt ) i =1 i =1 O bem-estar do eleitor médio depende do excedente do consumidor ( Si ), da renda do trabalho (L), dos lucros e do nível de satisfação do eleitor com as políticas ambientais até o instante t. Essa função depende do nível de consciência ambiental do eleitor médio ( θ ), quanto maior for o nível de consciência ambiental e menor as atitudes do governo com o meio ambiente, pior será o bem-estar do eleitor médio. Assim, as políticas adotadas pelo governo em relação ao meio ambiente influenciam no bem-estar do eleitor, a magnitude é dada pelo nível de consciência ambiental da população. A variável “consciência ambiental” é determinada por três variáveis explicativas: 14 Consciência Ambiental: θ = ONGs + educ + mídia Ou seja, a soma da influência das ONGs e da mídia na população mais o nível de educação da população. Com essas equações espera-se desenvolver no primeiro estágio, um modelo que analisa a racionalidade por trás da decisão de assinatura de um acordo de redução de poluentes. Com as decisões tomadas no primeiro período, no segundo utilizaremos os conceitos de microeconomia, comércio internacional e marketing para analisar os efeitos da decisão do país líder em ambas economias. 4. DESENVOLVIMENTO DO MODELO 4.1 – Primeiro Período Como o objetivo dessa monografia é avaliar os impactos econômicos da aderência do país líder num protocolo de redução de poluentes, vamos supor que, pela maximização da utilidade, o governo da economia líder decida assinar o protocolo. Primeiro então devemos analisar sobre que bases essa aderência irá se realizar. Para implementar medidas que mitigam as externalidades ambientais, o governo tem a sua disposição três estruturas de governança a serem implementadas: (i) comando e controle, (ii) valores e normas em comum e (iii) incentivos ao mercado (Van Kooten, 2003). Nos Incentivos ao mercado se cria um novo mercado, onde se é comercializado emissões de CO2: O governo estipula um nível aceitável de emissão para as empresas, se estas passarem do limite devem comprar as emissões excedentes no mercado, da mesma forma que empresas que forem mais “limpas” e alcançarem emissões menores que as estipuladas, podem vender seus créditos no mercado. Logo no esquema de incentivos ao mercado, a escolha da empresa dependerá dos custos de se reduzir a emissão, se estes forem maiores que o valor das emissões no mercado não haverá cooperação da empresa com a redução de poluentes. No comando e controle, o governo através das regulamentações e normas impõe as empresas do país um novo patamar de emissão aceitável, 15 sendo o próprio governo responsável pela fiscalização e pelo cumprimento das metas. O problema do comando e controle é que, embora seja o mais efetivo para se alcançar o nível de emissão desejado, as intervenções podem levar a uma falha nas políticas e o preço a ser pago pela população é muito maior que nos instrumentos de mercado. Os incentivos de mercado são claramente mais eficientes (menos custoso) que o comando e controle para se alcançar as metas do protocolo (Stavins 2002; Field e Olewiler 2002). Os valores e normas em comum seria o meio termo entre comando e controle (centralizado) e incentivos ao mercado (liberal) e suas ações incluem medidas voluntárias, educação e até subsídios. O esquema a ser adotado por cada governo depende muito das características de cada sociedade. De acordo com o Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis, “Valores e normas em comum são mais facilmente desenvolvidas em sociedades mais homogêneas como a Holanda, enquanto Incentivos ao mercado são mais apropriadas para sociedades mais heterogêneas como a Alemanha”. Fato é que nenhum país utiliza-se de apenas um dos instrumentos, sendo que um mix dos três é necessário para o controle. Assim, vamos supor que a nossa economia líder adota uma mistura de regulamentação com forte subsídios e um mercado de carbono pouco desenvolvido. Já o país seguidor faz uma análise da viabilidade do acordo para sua economia. Primeiramente, a assinatura do protocolo levará pelo aumento de custos nas empresas a um aumento dos preços do consumidor (este aumento depende muito do esquema a ser adotado para regulação da emissão como vimos acima), assim dado a assinatura o eleitor médio terá uma diminuição no seu excedente. O nível de consciência ambiental do país seguidor também é menor, a educação no país mais pobre é de baixa qualidade, as ONG’s são um fenômeno recente e a atenção da mídia nacional não é voltada para assuntos ambientais. Os eleitores de maior renda são os que apresentam um maior nível de consciência, porém são a minoria da população. Assim, dado um aumento de custos nas empresas e/ou um aumento nos gastos governamentais (dependendo do instrumento adotado pelo governo para o protocolo) e também 16 um baixo nível de consciência ecológica, os eleitores do país seguidor escolhem não assinar o protocolo. Como o bem-estar da população sustenta a preferência unilateral do governo contra o acordo de redução de poluentes, cabe às contribuições financeiras dos lobistas uma pressão para a aderência no acordo. De acordo com Motta (2005), “as contribuições financeiras dos grupos lobistas vinculados à preferência unilateral do governo devem ser estritamente não negativas e nunca superiores aos respectivos lucros no regime comercial escolhido”. Pelas características do país seguidor onde a concentração de renda é centralizada na mão de uma pequena elite dominante, o parâmetro de sensibilidade do governo para contribuição dos lobistas é alto, maior que no país líder. Porém, a organização de grupos lobistas que são favoráveis ao protocolo é extremamente fraca, são poucas as empresas que se beneficiariam do acordo e se pulverizam em diferentes setores da economia onde uma maior integração se torna mais difícil. Além disso, as características da indústria do país seguidor nunca foram aliadas à uma visão ecologicamente correta, a idéia de sustentabilidade desenvolvida por Grossman (1995) é uma novidade nas indústrias que nunca precisaram se importar com as emissões de gás carbônico. Assim a maioria dos setores e os players mais fortes da economia não adeririam ao protocolo. Nas contribuições dos grupos, seria uma enorme desvantagem para o pequeno, economicamente fraco e desorganizado grupo dos industriais que se favoreceriam com a assinatura do governo. Pelas características de organização dos grupos lobistas a favor do protocolo, devemos rejeitar a hipótese de mínima coordenação que leva a escolha do regime pressionado (Grossman e Helpman 1995). Mesmo que as preferências não pressionadas e pressionadas sejam distintas, pela maximização da sua utilidade o governo do pais seguidor resolve não aderir ao protocolo. Fatos estilizados podem conjurar uma opinião diferente ao que foi resolvido. O que não foi captado no modelo é o comportamento free rider que os países seguidores podem adotar. Como o tratado é assinado por países com sua soberania reconhecida, não há um enforcement supranacional que garanta que os níveis serão cumpridos. Assim um país pode assinar o tratado, 17 se beneficiar da redução de emissão mundial e de um aumento nos preços dos produtos internacionais (benefícios no comércio internacional) e ao mesmo tempo não ter nenhum comprometimento com o acordo, já que não há uma punição para seu descumprimento. Logo a assinatura não significa um comprometimento do país, onde no nosso modelo a adesão do país reflete esforços para alcançar as metas estabelecidas. 4.2 - Segundo Período Com as escolhas definidas, precisamos analisar os efeitos da aderência do país líder e da não aderência do país seguidor em ambas as economias. Primeiramente vamos analisar as implicâncias na economia interna do país seguidor. As empresas locais agora competem com um produto diferenciado vindo do país líder, um produto que é ecologicamente mais correto porém, pelo aumento de custos que a diminuição nos níveis de poluição gerou, mais caro. Assim, internamente as empresas vão avaliar a precificação dos consumidores desse premium que o produto do país líder oferta e comparar com os custos. Essa precificação não depende diretamente do nível de consciência ecológica. De acordo com Ester & van der Meer (1982), “a preocupação ambiental da população é associada mas não existe uma clara correlação com o comportamento do consumo”. Killbourne e Beckmann (1998) afirmam que existe uma relação muito fraca entre consciência ecológica e a compra de produtos ecologicamente corretos. Consumidores, independente do seu nível de consciência ecológica, não compram produtos ecologicamente corretos apenas pelo seu impacto ambiental (Henion, Gregory e Clee, 1981). Existem outros motivos que levam os consumidores a comprar estes produtos, tais motivos podem ser um produto mais saudável, de maior qualidade ou até mesmo de disponibilidade (Connolly, McDonagh, Polonsky e Prothero, 2006). A influência de uma maior consciência ambiental não significa que os consumidores irão necessariamente pagar mais caro nos produtos. Bagozzi (1992) defende que há três tipos de intenção: orientadas no presente, no futuro e numa meta. A compra de produtos ecologicamente corretos é um claro 18 exemplo de intenção orientada como meta mas que não implica em ação, existem fatores conflitantes que impedem a influência direta da preocupação ambiental com a decisão comportamental. Drumwright (1994) explica que embora as decisões de compra sejam baseadas nas características individuais de cada consumidor, o contexto organizacional também influencia na escolha do produto. Stern (2005) afirma que as variáveis pessoais (como recursos financeiros, status social e conhecimento) são menos prováveis de influenciar comportamentos pró meio ambiente quando fatores externos (leis e regulamentações, incentivos financeiros e pressão social) são fortes. Colocado isto, podemos partir para nossas observações sobre o comportamento da população do país seguidor em relação à cesta de produtos importados. A análise parte primeiro das exportações do país líder para a economia seguidora, que tipos de produtos são comercializados? De acordo com o modelo de crescimento de Paul Romer (1990), os países que apresentam maior crescimento econômico são aqueles com maior progresso técnico (investimento maior em P&D), sendo assim podemos inferir que o país líder é também o com o maior progresso técnico e especializado em manufaturas de alta tecnologia. Ainda pelo mesmo modelo, podemos inferir que a economia seguidora se especializa em manufaturas de baixo nível tecnológico e outros setores. Assim, a cesta de importação do país seguidor consiste prioritariamente em bens de alta tecnologia. Como a indústria de bens de alta tecnologia do país seguidor é extremamente defasada para não dizer inexistente, dado o aumento no preço desses bens pelo premium ambiental, os consumidores da economia seguidora compram esse produto mais pela falta de concorrência que pela produção mais limpa do produto. Fatos empíricos conjuram em nossa direção: Wysokinska (2005) faz um estudo sobre o comércio mundial de produtos ecologicamente corretos onde a representatividade de países subdesenvolvidos e em desenvolvimento é quase nula, tanto na exportação quanto na importação destes bens. Assim, pelos consumidores podemos dizer que não existe essa percepção e precificação da melhora ambiental na produção dos bens do país líder nem que há uma precificação por essa particularidade. Dado isso, a aderência do país líder ao protocolo pouco muda 19 a competitividade e as estratégias das empresas do país seguidor que competem em nível local. Já para os exportadores a situação é diferente. Vamos agora analisar o mercado para produtos ecologicamente corretos na economia líder. Para auxiliar na explicação e dar mais embasamento com fatos estilizados é proposto a economia norte-americana como base de análise. Primeiramente, as preocupações ambientais se tornaram uma norma socialmente aceita por grande parte da sociedade americana (Crimmins, 1991), 90% dos consumidores americanos se dizem preocupados com as conseqüências das suas compras no meio ambiente e 75% dizem que levam em consideração aspectos ambientais quando compram um produto (Kleiner, 1991). Mesmo assim, de acordo com Landler (1992), poucos produtos chamados “verdes” fizeram sucesso no mercado americano. Estudos mais recentes sobre o comportamento do consumidor americano (Grocery Manufacturers Association, Deloitte 2009) mostram a fraca relação entre consciência ambiental e consumo americano: 95% dos consumidores entrevistados considerariam comprar produtos “verdes” enquanto 54% dizem levar em consideração as questões ambientais na compra de produtos e apenas 22% realmente compraram os produtos. Esta disparidade entre o que os consumidores afirmam nas pesquisas e o que realmente compram foi estudada mais a fundo por Dietz, Stern e Dan (2009). De acordo com o artigo, essa disparidade se dá pois os entrevistados levam em consideração os aspectos pessoais como suas crenças e valores nos aspectos ambientais e não nos possíveis benefícios e custos do produto em questão. Assim, as interpretações estatísticas podem ser viesadas e nos levar a erros no modelo. Os produtos da economia seguidora entrarão no mercado do país líder a um preço mais baixo, porém com um viés ambiental. Como explicado anteriormente, a economia líder se especializa em bens manufaturados de alta tecnologia, assim ela importa bens de base, bens de consumo não-duráveis e manufaturas de baixa tecnologia. Dado o aumento de preços nos produtos da economia líder, os consumidores irão sofrer um choque negativo na renda. 20 Este choque induz consumidores à procura de novos produtos que maximizam sua utilidade e atenuam o choque na renda. Mesmo com o viés ambiental, os consumidores tendem a preferir os produtos mais baratos como forma de diminuir o efeito renda através da substituição dos produtos. Fatos que suportam nossa afirmação vêm das pesquisas e dos estudos sobre consumo de produtos “verdes” descritos acima. Sem a clara correlação entre nível de consciência ambiental e o consumo não há como afirmar que os produtos da economia seguidora não serão comprados pelo país líder nem que existirá uma preferência pelos produtos nacionais. Um preço mais baixo das mercadorias do país seguidor causa no país líder uma substituição de produtos para amenizar o efeito renda negativo do choque nos preços. Assim, os exportadores do país seguidor se beneficiam e aumentam suas exportações para o país líder. Já no país líder, temos um aumento do nível de preços gerados pelo protocolo, um aumento nas importações de bens de baixo nível tecnológico como forma de atenuação dos efeitos na renda e as exportações podem sofrer ou não uma diminuição dependendo da defasagem tecnológica do país seguidor e sua dependência. 5. Conclusão Com o desenvolvimento do modelo, vimos que no primeiro período, devido à falta de organização dos grupos lobistas, o baixo nível de conscientização ecológica da população e a diminuição do excedente do consumidor que o acordo traria, o país seguidor decide não aderir ao tratado de redução de poluentes. No segundo período, essa decisão afeta diretamente os consumidores e os exportadores, já que para entrar no acordo o país líder precisa alterar a estrutura econômica e incorre de custos que serão repassados aos consumidores via impostos ou preço dos produtos. Como vimos, os produtos de alta tecnologia do país líder continuam sendo exportados mesmo com um preço maior devido à defasagem tecnológica do país seguidor. As exportações do país líder dependem 21 diretamente dessa relação de dependência tecnologia do país seguidor: quanto mais desenvolvido for o país seguidor menos ele irá importar os produtos do país líder que são mais caros. Por outro lado, os exportadores do país seguidor têm uma vantagem de custo sobre os produtos da economia líder, como os consumidores do país líder sofrem um choque negativo na renda e como não existe correlação direta entre consumo de bens ecologicamente corretos e a conscientização, há um aumento nas exportações da economia seguidora. O efeito final da assinatura do país líder na economia seguidora depende diretamente do efeito negativo que o aumento dos preços dos produtos de alta tecnologia tem na economia e dos ganhos que o país tem no comércio internacional com o aumento das exportações advindas do aumento dos preços internacionais. Já no país líder, temos um aumento do nível de preços gerados pelo protocolo, um aumento nas importações de bens de baixo nível tecnológico como forma de atenuação dos efeitos na renda e as exportações podem sofrer ou não uma diminuição dependendo da defasagem tecnológica do país seguidor e sua dependência. Podemos ver que existe uma racionalidade grande para a nãoassinatura de protocolos de redução de poluentes. Mesmo quando o país líder adere ao protocolo, é mais racional ao país seguidor não assinar, isto quando inferimos que não existe comportamento free rider das economias. Assim, podemos minimizar a polêmica gerada pela não-assinatura dos Estados Unidos no Protocolo de Kyoto observando que, mesmo se o país tivesse assinado, a posição dos países menos desenvolvidos seria o de não seguir o protocolo. 22 6. Críticas Vamos aqui fazer uma extensão do trabalho e apresentar outras variáveis que não foram captadas no modelo e que são cruciais para o entendimento da eficiência de protocolos de redução de poluentes e para os problemas ambientais. Primeiramente vamos discutir os problemas do protocolo de Kyoto, tanto seu arranjo institucional quanto seus mecanismos e normas. Depois uma discussão sobre o desafio ambiental. Um protocolo como o de Kyoto é uma instituição supranacional voltada para um assunto específico: meio ambiente. Para nossa análise institucional devemos analisar primeiro o direito internacional, no qual o protocolo se sustenta. O conceito de um sistema internacional onde existe um poder supranacional que é observado e seguido por um país foi criado na Europa no século XIX com a decadência do absolutismo. Foram criadas leis que os Estados europeus eram obrigados a seguir, não pela obediência a Deus como antigamente, mas pelos princípios acordados com os outros Estados. Assim se criou o direito internacional, do consentimento dos Estados europeus sobre leis acordadas entre eles. Embora aceito e defendido em muitos países, o direito internacional é muito questionado na Política Internacional. Na visão realista, acredita-se que no arranjo mundial, os Estados estão apenas interessados no poder e nos interesses próprios. Como na ordem mundial não existe um ente superior ao qual os países devem obedecer, estes têm que lutar pela sua sobrevivência no sistema anárquico mundial. Assim, para sua sobrevivência, os Estados brigam pelos próprios interesses e não por um bem comum. Para os realistas, qualquer tipo de instituição supranacional é uma afronta à soberania nacional por limitar de alguma forma as ações do país. No realismo, a política internacional voltada aos interesses próprios da nação é o que realmente importa, os outros assuntos como meio ambiente são considerados “low politics”. 23 O protocolo de Kyoto faz parte de uma instituição supranacional segurada pelo direito internacional onde a crítica realista (voltada para os interesses nacionais e numa maior influência no sistema mundial) pode ser usada para defender a posição Norte-Americana no tratado. A aderência do país danificaria sua economia doméstica, enfraquecendo sua posição dominante no balanço de poder mundial. Parafraseando George Bush Sr na Eco-92, “O american way of life não está em discussão”. Parafraseando a máxima do pensamento realista desenvolvido por Maquiavel, “os fins justificam os meios”. Além da crítica baseada em Política Internacional, podemos fazer uma crítica ao protocolo baseado na Teoria dos Jogos. Imaginemos que o protocolo de Kyoto seja ratificado por todos os países e todos se esforçam para cumprilo. O aumento de custos nos produtos causados por uma produção mais limpa será compartilhado por todo o mundo, assim teremos produtos mais caros porém a concorrência no mercado mundial será preservada. Dado isso, é muito vantajoso para um país descumprir o protocolo. Primeiramente, menores custos dado uma produção mais suja o farão ter uma vantagem competitiva bem maior no comércio mundial e os preços domésticos também serão menores. Além disso, o estrago ambiental causado por esse país vai ser minimizado pelo esforço dos outros países em diminuir a poluição no mundo, que é um bem comum. Assim, a aderência dos países no protocolo de Kyoto pode gerar um comportamento oportunista em alguns países, que se aproveitarão dos benefícios de um planeta menos poluído e de um mercado internacional com preços mais caros que sua produção doméstica. Outra crítica ao protocolo é a menor taxação para países em desenvolvimento. Países como China e Índia que estão em pleno desenvolvimento têm uma percentagem menor de controle de CO2 no tratado, porém apresentam uma emissão extremamente grande e danosa para o meio ambiente. A exclusão no arranjo dos países emergentes para expansão econômica pode gerar danos irreversíveis ao meio ambiente além de gerar problemas no longo prazo para o controle de emissão destes países. John Howard, ex-primeiro ministro australiano, cita exatamente essa falta de controle sobre os países emergentes como motivo para a não aderência de seu país no 24 protocolo de Kyoto, de acordo com ele “não é que a Austrália não tenha interesse em ratificar o protocolo. É que a Austrália não tem interesse em ratificar um protocolo que exclui países em desenvolvimento e que irá nos custar empregos e danos a nossa indústria”. Por último, o mecanismo de créditos de carbono gera incentivos adversos pois permite que países comprem o excesso de emissão de outros países. Um país pode continuar com sua atividade econômica mais suja e simplesmente comprar créditos ao invés de mudar sua estrutura econômica e social para uma produção mais limpa e sustentável. Como também não há punição para os países que não alcançarem as metas, não há fortes incentivos para que os países cumpram o protocolo. Fora do escopo institucional dos protocolos, gostaria de finalizar com uma reflexão sobre o futuro do conflito meio ambiente e economia. Muitos ambientalistas e até economistas defendem que na criação de um mundo mais sustentável, seria criado uma nova economia para os produtos verdes e que os investimentos em pesquisa e as gerações de empregos seriam suficientes para contornar os problemas econômicos que a redução de poluentes inicialmente traria. Schumpeter defende o conceito de destruição criativa, onde um novo produto inicialmente trás um custo de adaptação negativo para a economia, mas que depois da adaptação a economia se encontraria num patamar mais elevado de desenvolvimento. Parece ser essa a idéia desses ambientalistas com a destruição do modelo econômico que conhecemos, porém fica a questão: Seria melhor ou pior em termos econômicos o resultado da adaptação a uma economia mais sustentável? 25 7. Bibliografia BAGOZZI, R. P.. The self-regulation of attitudes, intentions and behavior. Social Psychology Quarterly 55, pp. 178-204, 1992. BUCHANAN, J.M.; TULLOCK,G.. The Calculus of Concent. 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