INSTITUTO FBV - CURSOS À DISTÂNCIA CURSO DE NEUROPSICOLOGIA AVALIAÇÃO PARA NOTA DENISE REGINA PONTES VIEIRA São Luís/MA 2011 NEUROPSICOLOGIA A neuropsicologia é uma interface ou aplicação da psicologia e da neurologia, que estuda as relações entre o cérebro e o comportamento humano, dedicando-se a investigar como diferentes lesões causam déficits em diversas áreas da cognição humana, ou tal como denominado pelos primeiros estudos nesse campo, estuda as funções mentais superiores, deixando áreas como agressividade, sexualidade para abordagens mais integrativas da fisiologia e biologia (neurobiologia, neurofisiologia, psicofisiologia, psicobiologia), ou melhor, da neurociência. Entre as principais contribuições desse ramo do conhecimento estão os resultados de pesquisas científicas para elaborar intervenções em casos de lesão cerebral, quando se verifica o comprometimento da cognição e de alguns aspectos do comportamento. Atribui-se ao psicólogo canadense Donald Olding Hebb (1904-1985) a cunhagem do termo neuropsicologia. A Neuropsicologia investiga as relações entre cérebro e cognição e que, atualmente, tem como uma área de pesquisa prioritária o envelhecimento, de uma forma genérica, tem mostrado que essas afirmações do senso comum apresentam alguma base científica, mas uma análise mais minuciosa do declínio cognitivo durante o envelhecimento mostra que tais constatações são apenas parcialmente verdadeiras. Apesar do declínio de algumas capacidades de memória (mas não todas) ser mais acentuado do que o das capacidades lingüísticas (que envolve conhecimentos aprendidos durante a vida do indivíduo) nesse artigo tentaremos mostrar que (1) existem diferentes memórias e que apenas algumas sofrem um decréscimo durante o envelhecimento; (2) que outras funções cognitivas, como atenção e planejamento podem afetar tanto a memória como a compreensão de linguagem e que (3) outros fatores de ordem biológica (alimentação adequada) ou psicológica (estado de humor positivo) influem na manutenção das funções cognitivas. Outras causas que provocam um declínio das funções cognitivas e que podem ser tratadas durante o envelhecimento indicam alguns caminhos para um envelhecimento cognitivo mais estável. Em outras palavras, a Neuropsicologia tem demonstrado que a crença de que o envelhecimento constitui um período de declínio inevitável está sendo atualmente desafiada, considerando o aumento de sujeitos que envelhecem não apenas de forma ativa e independente como também de forma criativa. A nova ciência mostrou que, como órgão, como parte do corpo, o cérebro está sujeito às mesmas espécies de influencias e disfunções dos outros órgãos. Tal como um conjunto de músculos, ele responde ao uso e à falta de uso desenvolvendo-se e permanecendo vital ou deteriorando-se; assim, pela primeira vez, estamos aprendendo a ver as deficiências mentais como sistemas físicos que necessitam de treinamento e prática (Ratey,2002). Kandel define que a tarefa da ciência neural é a de fornecer explicações do comportamento em termos de atividade cerebral, de explicar como milhões de células neurais individuais no cérebro, atuam para produzir o comportamento e como por sua vez elas são influenciadas pelo meio ambiente, inclusive pelo comportamento de outras pessoas. Entendendo que o homem é ao mesmo tempo biologia, comportamento e mente a psicologia entra nas neurociências através da neuropsicologia, com o objetivo de criar novas hipóteses sobre as interações cérebro-comportamentais. Utilizando instrumentos especificamente padronizados para avaliação das funções neuropsicológicas envolvendo principalmente habilidades de atenção, percepção, linguagem, raciocínio, abstração, memória, aprendizagem, habilidades acadêmicas, processamento de informação, afeto, funções motoras e executivas. (CRP, 2004) Aprendizagem envolve a capacidade de adquirir e armazenar novas informações. Quando se estuda sobre aprendizagem, consideram-se as regiões do cérebro que estão envolvidas nesse processo. Ocorrem alterações estruturais e funcionais. As alterações moleculares também são de suma importância na aquisição de informações. O estudo da forma como as células nervosas se comunicam ajuda na compreensão de como se forma a memória. Novas sinapses vão se formando, outras fortalecem e outras enfraquecem. A partir de estudos de lesões cerebrais com déficits de memória, chegou-se ao hipocampo e à divisão da memória em dois tipos: explícita (declarativa) e implícita (não-declarativa). As funções neuropsicológicas (atenção, memória, linguagem, inteligência, funções executivas e outras), se desenvolvem na dependência de vários fatores. O desenvolvimento se dá através de uma interação contínua das experiências sociais e ambientais. Vamos identificar a seguir os principais fatores envolvidos e suas influencias nesse processo. A emoção é um importante fator de influência, pois o desenvolvimento do organismo é extremamente vulnerável ao ambiente. A interação entre o cérebro e o comportamento pode ser completamente alterada de acordo com as experiências emocionais iniciais da criança. No período neonatal as sensações (ex: Fome) ativam vias neurais específicas com suas respectivas associações límbicas que por sua vez modulam o humor e a emoção. Esses padrões de atividade neural forneceram a base para o desenvolvimento psicológico da criança, o funcionamento do organismo tem uma importante implicação nas respostas emocionais. A cultura é um importante fator motivacional do comportamento humano. Por cultura se entende o comportamento aprendido que pode ser atribuído a experiências de socialização de uma sociedade, a totalidade de ideias e costumes no qual cada pessoa nasce e cresce. Assim ela descreve aquilo que será aprendido e em que idade será aprendido, modulando assim o perfil do desenvolvimento das habilidades cognitivas. Em algumas culturas determinadas habilidades, com leitura, escrita e outras podem ser menos valorizadas. Observa-se, por exemplo, em crianças africanas um desenvolvimento motor precoce comparando com crianças européias. Os fatores culturais alteram o desenvolvimento do cérebro, que reflete e é influenciado por estes, por exemplo, o desenvolvimento das funções cognitivas superiores é ativado no processo de interação social da criança que pode se dar de forma distinta em diferentes culturas. Outro fator que afeta o desempenho cognitivo é o nível socioeconômico. Este se refere a fatores como: condições nutricionais, escolaridade, quantidade e qualidade de estímulos, cuidados médicos, estilos de interação familiar, condições de habitações e outros. Todos estes fatores manifestam-se na integridade do sistema nervoso, e também no desempenho neuropsicológico. A compreensão do desempenho neuropsicológico aumenta à medida que o inserimos dentro dos sistemas psicossociais e emocionais. Sendo assim o diagnóstico permitirá compreender não só o sintoma, mas a inserção do sintoma nos vários níveis de articulação com o ambiente. O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de origem genética que tem início na infância persistindo por toda a vida. Caracteriza-se por três grupos de alterações: Desatenção, Hiperatividade e Impulsividade. Os pacientes com TDAH podem apresentar dificuldades sociais, acadêmicas e familiares quando não diagnosticados e tratados corretamente. O diagnostico de TDAH deve ser feito por um profissional especializado, pois este será capaz de distinguir entre as diferentes causas que podem ocasionar sintomas como os do TDAH. Cabe ressaltar que não existe nenhum exame capaz de realizar esse diagnóstico. Sendo assim este é feito através da historia do paciente, da observação clínica e com o auxilio de testes especializados. A desatenção pode se manifestar de diversas formas. Falta de concentração, falha na interpretação de textos, erros por trocas ou omissões de informação, falha para manter o foco em um determinado assunto, por exemplo, em uma aula, todos esses exemplos podem ser justificados por uma falha na atenção. A hiperatividade é o aumento da atividade psicomotora, normalmente as crianças são descritas como aquela que não para um minuto, levanta-se a toda hora, revira-se o tempo todo, bate os pés, mexe as mãos e etc. Cabe ressaltar que inúmeras condições podem causar desatenção e hiperatividade em níveis significativos tal como outros transtornos psiquiátricos, doenças físicas, medicações e outros. A interpretação dos resultados na avaliação neuropsicológica infantil é um dos seus aspectos de grande importância. Toda avaliação deve levar em conta aspectos socioeconômicos, historia clínica, o estado atual da criança, humor, motivação e outros fatores. A interpretação dos escores obtidos em testes de forma isolada fornece pouca informação acerca do funcionamento do paciente. Sendo assim faz-se importante verificar como o paciente se comporta frente ao examinador, como reage a uma determinada tarefa e como modula suas emoções frente à avaliação. Devemos entender o porquê de não conseguir executar algumas tarefas. No caso de pacientes com lesões neurológicas, esses distúrbios podem produzir diferentes tipos de efeitos no comportamento do indivíduo que não são aferidos por testes. No caso da avaliação infantil devemos ressaltar que fatores afetivos e emocionais interferem significativamente no desempenho cognitivo da criança. Dessa forma faz-se necessário analisar o contexto no qual a criança se desenvolve e possíveis estressores. Alguns dados qualitativos podem ser obtidos através da observação do paciente durante a execução dos testes, tais como: a qualidade da interação que a criança estabelece com o examinador, se estabelece diálogo espontâneo, se faz contato ocular de forma adequada, se consegue inibir comportamentos não apropriados, se tem humor exaltado ou apático e outros. Todos esses dados tem extrema relevância ao se ponderar uma hipótese diagnóstica. O transtorno da aprendizagem é um distúrbio neurobiológico no qual o indivíduo acometido apresenta dificuldades significativas em leitura, aritmética e/ou na escrita não justificadas pela sua capacidade cognitiva global. Essas dificuldades provêm de um funcionamento cerebral atípico, os indivíduos processam e adquirem informações de forma diferente daquela esperada para crianças ou adultos que podem aprender sem maiores dificuldades. Esse transtorno pode se manifestar na vida acadêmica como dificuldades em compreensão de textos, cálculos, raciocínio lógico, soletração, ortografia e outros. Existem várias formas de funcionamento atípico do cérebro que podem causar um transtorno da aprendizagem. Pesquisas mostram que no caso da dislexia, há um funcionamento atípico de áreas cerebrais envolvidas no processamento fonológico, na nomeação rápida e em sistemas visuais. No caso da discalculia, pesquisas recentes usando neuro-imagem constatam que há um funcionamento atípico de áreas responsáveis pelo processamento linguístico. Transtornos da aprendizagem podem estar associados a varias outras patologias, tais como: transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, Transtorno opositivo desafiador, distúrbios neurológicos e outros. Ter um transtorno da aprendizagem pode fazer com que um indivíduo tenha sintomas depressivos e ansiosos clinicamente significativos derivados do seu baixo rendimento escolar e de dificuldades de socialização principalmente no âmbito acadêmico. Entretanto cabe ressaltar que esses transtornos não são predominantemente emocionais e nem causados por distúrbios afetivos. Quando se suspeita da presença de um transtorno da aprendizagem, a avaliação neuropsicológica é de extrema importância. Através do exame das funções cognitivas envolvidas no TA tais como: Linguagem, Habilidades visoperceptivas, memória, velocidade de processamento e raciocínio lógico. Podemos estabelecer com mais precisão o diagnóstico. Outra informação de extrema relevância que pode ser obtida através da avaliação neuropsicológica é a capacidade cognitiva global, segundo os critérios diagnósticos deve-se excluir a presença de déficit cognitivo. O transtorno da aprendizagem é crônico, e pode trazer dificuldades na vida social, acadêmica e profissional. Sendo assim uma identificação precoce do quadro, com uma avaliação neuropsicológica pode ser relevante para a orientação de condutas terapêuticas adequadas e dessa forma proporcionar um melhor prognóstico. A avaliação neuropsicológica e recomendada em qualquer caso onde exista suspeita de uma dificuldade cognitiva ou comportamental de origem neurológica. Ela pode auxiliar no diagnostico e tratamento de diversas enfermidades neurológicas, problemas de desenvolvimento infantil, comprometimentos psiquiátricos, alterações de conduta, entre outros. O exame neuropsicológico da criança pode fornecer auxilio a diferentes profissionais, tais como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos e psicopedagogos. O conjunto dos instrumentos utilizados possibilita uma avaliação global das capacidades da criança, bem como suas dificuldades nas atividades do dia a dia. Na avaliação em crianças, cabe ressaltar que o desenvolvimento cerebral infantil tem características próprias a cada faixa etária. É importante a elaboração de instrumentos de acordo com o processo maturacional do cérebro. Diferente do adulto a criança ainda está em desenvolvimento, tendo características próprias que garantem uma diferenciação e especificidade de funções. O interesse da neurologia pelos problemas de leitura iniciou-se em 1890. A partir dessa data advirão vários estudos em busca dos marcadores biológicos da dislexia. Esses estudos são em grande parte de natureza experimental, feitos com pequenas amostras o que torna os seus achados de difícil generalização. Estudos realizados com células cerebrais de disléxicos postmortem encontraram anomalias de células no córtex cerebral da região silviana esquerda (lobo temporal). Em outro estudo constataram falta da esperada assimetria, no planun temporale, região do hemisfério esquerdo maior que do direito. Esses estudos supõem que o cérebro dos disléxicos tenha sofrido durante a vida intrauterina, alguma agressão de tipo química, hormonal ou imunológica. A análise de Eletroencefalogramas de disléxicos sugere um problema de maturação cerebral nessas crianças, a desconexão natural dos córtices sensoriais primários, um dos fatores importantes de desenvolvimento cerebral, poderia estar falha nessas crianças. Em um estudo no qual foi avaliado o fluxo sanguíneo cerebral de disléxicos, por meio de tomografia por emissão de pósitrons (PET), encontrouse um padrão alterado de ativação no córtex temporal-médio posterior e no córtex parietal inferior, predominantemente no hemisfério esquerdo, durante a realização de tarefas de leitura. Utilizando-se a técnica de ressonância magnética Encontraram funcional, alteração foram na avaliadas ativação do crianças giro japonesas temporal disléxicas. medial e um processamento incomum de ativação bilateral do lobo occiptal e do gira frontal inferior, que poderia indicar diferenças nas funções hemisféricas a fim de compensar as dificuldades de leitura. Quanto aos fatores hereditários e genéticos, alguns estudos apontam para o possível lócus dos distúrbios de leitura no cromossomo 6. Em estudos com gêmeos, mono e dizigóticos, de 6 e 7 anos encontrou-se uma hereditariedade estimada em 0,60 nas crianças de 6 e 7 anos. Devemos considerar que a maioria dos estudos citados acima utilizarão técnicas de imagens funcionais do cérebro. Considerando que o funcionamento cerebral depende também da ativação do ambiente, as anomalias apontadas podem ser influenciadas por fatores ambientais. Sendo assim, podem ser remediáveis ou alteradas por meio de intervenções terapêuticas. REFERÊNCIAS C.H. Silver et al. Learning disabilities: The need for neuropsychological evaluation. Archives of clinical neuropsychology, 23, 2008, p. 217-219 Conselho Federal de Psicologia. Resolução nº 2 de 03 de março de 2004. Diário Oficial da União.2004, mar 05;44,120. D., Costa; L., Azambuja; M., Portuguez; J., Costa. Avaliação Neuropsicológica da Criança. Jornal de Pediatria - Vol 80, n°(supl),2004 Kandel, E.; Schwartz, J.; Jessell, T. (2000) Fundamentos da neurociência do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. Kirby, J. R., Parrila, R. K., & Pfeiffer, S. L. (2003). Naming speed and phonological awareness as predictors of reading development. Journal of Educational Psychology, 95, 453–464 Lombroso, P. (2004). Aprendizado e memória. Revista Brasileira de Psiquiatria, 26(3): 207-210. Miranda, M.C.; Muszkat, M. Neuropsicologia do Desenvolvimento. In:Andrade, V.M.; Santos, F.H. dos e Bueno, O.F.A. Neuropsicologia Hoje.São Paulo: Artes Médicas, 2004. Rohde L.A. Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Jornal de pediatria- Vol. 80, n°2(supl), 2004 Salles J., Parente M., Machado S., Interações. Vol. IX. n°17. p. 109-132. jan-jun 2004 Salgado C., Capellini S. Programa de remediação fonológica em escolares com dislexiado desenvolvimento. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2008 jan-mar;20(1). Ratey, J. (2002) O Cérebro - Um guia para o usuário: como aumentar a saúde, a agilidade e longevidade de nossos cérebros através das mais recentes descobertas científicas. Rio de Janeiro: Objetiva.