GRAMATICALIZAÇÃO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO. ITEM AGORA NO Calmon Elane S. UFMG RESUMO: Este artigo constitui-se de uma análise diacrônica do item AGORA no Português Brasileiro sob a perspectiva da Gramaticalização. O objetivo principal é analisar o número de frequência desse item em dois corpora: 1986 e 2006, observando se nesse item ocorre o aumento da frequência como se espera em um processo de Gramaticalização. Para chegar a isso, analiso, antes, trabalhos anteriores dedicados ao agora. PALAVRAS-CHAVE: Gramaticalização, Mudança Linguística, Variação, Discursivização Antes de uma análise sobre esse item, fez-se necessário investigar outros trabalhos sobre a gramaticalização do agora. Encontrei poucos estudos realizados especificamente sobre esse item. Um deles, é o de Lins (2007), que desenvolveu sua pesquisa numa abordagem funcionalista e considera o agora como operador argumentativo, ou “amarrador textual de porções de informações progressivamente liberadas ao longo da fala”, recorrente no interior de atos interacionais. O Funcionalismo vê para cada estrutura linguística uma função, estando esta a serviço do uso. O falante, conscientemente ou não, faz suas escolhas de acordo com sua intenção comunicativa. Segundo os teóricos funcionalistas, a linguagem é uma atividade sociocultural de per si, justificando que o sentido é contextualmente dependente (Givón:1995). Abaixo, exemplos encontrados no trabalho de Lins. (1) ...é, dá um tempo aí, mas, aí, agora, por causa do telefone, perdi o fio da meada, não sei por que razão... (2) (Não), poderia viajar, mas por lazer, não é? Eu, agora, vou viajar, eu pretendo ir à Europa agora. Lins observa em (1) que o agora, mesmo em função temporal, costuma vir acompanhado de elementos como mas, aí, então... Em (2) A autora cita Neves (1992), a qual diz que o advérbio agora (hac hora) não exprime momento ou período fisicamente delimitado, mas apresenta variação de abrangência, que pode reduzir-se a um mínimo (pontual), mas pode abranger um período maior ou menor, não só do presente, mas, também, do passado ou do futuro, desde que toque o momento da enunciação ou se aproxime dele. Neves refere-se aos traços circunstanciais de tempo desse item, relacionando-o a cinco vieses como dêiticos temporal: a) Agora: neste momento; b) Agora: na época atual; c) Agora: nesse momento ou período, prolongando-se para o momento seguinte a este; d) Agora: no momento , período imediatamente anterior a este; e) Agora: nos últimos tempos. Para ilustrar seu posicionamento, Neves cita os exemplos: (3) “Pedi um, ai, meu Deus, como é que se diz o nome? Pedi um esqueci até esqueci agora.”(a.Agora: neste momento). (4) “Agora está muito bom no morro (“Ele”) está ótimo, está bom demais.” ( b. Agora: na época atual). (5) “(Não), poderia viajar, mas por lazer, não é? Eu, agora, vou viajar, eu pretendo ir à Europa agora.” (c.Agora: nesse momento ou período, prolongando-se para o momento seguinte a este). (6) “Você recebe a carteira de identidade pelo correio. Isso eu sei que é verdade! Agora mesmo, ó, eu comprei um livro para minha filha, de medicina, então eu pedi pelo correio. Telefonei.” (d. Agora: no momento, período imediatamente anterior a este). (7) “O morro agora está bom, está calmo à beça...” ( e. Agora: nos últimos tempos). Veja que, no exemplo (1), esse item, ao ser analisado, embora tenha sido caracterizado por Lins como advérbio de tempo, pode se confundir facilmente com um marcador discursivo. Não estaria o falante marcando pausa em seu discurso? Veja que podemos substituí-lo por marcadores como: aí, mas, então, agora, é... Daí surge a necessidade de estabelecer critérios para definir a qual classe gramatical esse item estaria pertencendo em seus diferentes tipos de ocorrência. No exemplo (2) Lins observa que agora também teria função temporal, desde que se aproximasse do momento da enunciação. Veja que o agora está se referindo a um tempo futuro bem próximo do locutor. Mas, também podemos observar que, em gramáticas tradicionais, o hac hora, neste momento, não estaria de acordo com as classificações tradicionais de advérbio de tempo. Lins também aponta em seu estudo o trabalho de Risso(1993), a qual afirma que uma característica da forma adverbial agora é que ela provê apoio à referência temporal na fala em curso e informa que esse traço constante e necessário faz de agora uma unidade sistematicamente integrada no quadro de componentes evocadores do que Benveniste(1966) chama de “instância do discurso”, o que associa agora a outros dêiticos correlatos pessoais (eu - meu), espaciais (aqui- lá- ali ), ou temporais ( ontem - hoje - amanhã ), num ato concreto de produção discursiva a que essas indicações retomam. Risso cita o exemplo: (8) “Acabou o baile. É uma arruaça. Tem vez que está calmo. Agora mesmo está calminho. Está uma beleza. A gente pode andar até de noite, como eu ando mesmo. Nesse exemplo (8), ela analisa o agora acompanhado do pontualizador mesmo. De acordo com Risso, o acompanhamento do fluxo discursivo em diálogos ou elocuções formais revela, com efeito, a presença de um conjunto de palavras ou locuções envolvidas no “amarramento” textual das porções de informação progressivamente liberadas ao longo da fala, e no encaminhamento de perspectivas assumidas em relação ao assunto, no ato interacional. Entre seus exemplares mais frequentes estão as formas “agora”, “então”, “ depois” , “aí ” , “mas”, “bem” , “bom” , às vezes duplicando em ocorrências com “agora então” , “então aí”, “mas então”. Risso propõe que o item agora sofra um processo de Discursivização, alegando que ele passa por um processo de mudança que leva um elemento linguístico a perder suas restrições gramaticais, sobretudo de ordenação vocabular e assumir restrições de caráter pragmático e discursivo. Para exemplificar, apresenta o seguinte quadro representante da proposta de Abrahan, 1991, Apud Bybee e Dasher, 2000: (LOCATIVO) > ( TEMPORAL) > CONECTOR LÓGICO > FUNÇÃO DISCURSIVA/ ILOCUCIONÁRIA Para ela, essa escala pressupõe elementos indicadores de espaço externo, por transferência metafórica a ser empregados como indicadores temporais e, por fim, como elementos de organização do espaço textual, assim como um deslizamento possibilitado pelas relações anafóricas e catafóricas. Um exemplo de Risso que traduz essas relações catafóricas em relação ao discurso é o que intitula seu capítulo “Agora... o que eu acho é o seguinte...”. A autora apresenta a forma agora como abertura de um tópico, passando uma ideia de que esse item seria responsável por uma organização textual. Abaixo, outros exemplos citados por ela: (9) “...agora, se eu partir do princípio por exemplo de um outro modelo...de que a inteligência não é algo CONtínuo...” (10) “ ...agora se tivéssemos...éh:: por exemplo no mode::lo:: behaviorista... nós confeccionaríamos os instrumentos de outra FORma...” Veja que, nos exemplos (09) e (10) Risso apresenta a sinalização de cada etapa de desenvolvimento para a progressão do discurso, para atender a dados situacionais de comunicação em sala de aula, com finalidade didática, portanto direcionada à compreensão dos ouvintes. A autora, mais adiante em seu trabalho, assinala o envolvimento de agora na sequenciação de uma estrutura tópica de teor comparativo, que se ramifica de acordo com as diferenças entre vários modelos psicológicos postos em confronto. ( Grifo meu ). Veja exemplo da autora: (11) “...de uma das gêmeas (...agora a outra gêmea...ela...como vai va::i o que:: está muito bom::...” (12) “...do menino de treze anos ( agora o menino gosta muito de mecânica o :: de treze anos, né?)” Schiffrin (1987: p.241) assinala que agora tem um foco catafórico que direciona a atenção sobre aquilo que o falante está para dizer, ainda que seu pronunciamento tenha como referente a informação dada em um ponto anterior da fala. Veja que os exemplos (11) e (12) apontam para um momento anterior da fala: “...agora a outra gêmea” nos remete ao assunto anterior: “as gêmeas” e “agora o menino gosta muito de mecânica” aponta para a referência anterior: “o menino de treze anos”. Observe que essa função dêitica, leva o discurso para uma progressão contrária em relação à fala anterior, o que me leva a classificar esse item como conjunção adversativa, substituível por mas. Veja um exemplo retirado do corpus (2006) que tem a mesma análise daqueles que encontramos em (11) e (12): (13) “...o cara meteu o revólver na cara dele, né....seu frango de raça...cê num vai corrê não?...os cara saiu catano barranco.... ..catano cavaco... o pau quebrano...é...num botô os pé nos menino não...aí...no outro dia tava todo mundo lá de novo, véio, ...não botô pé no menino...o menino foi lá e botô todo mundo pra corrê...aí ele falô assim: ó...amanhã eu quero vocês aqui, tá?....vou dá um tiro no pé e na mão....eles num botô pé...num botô mesmo....tava todo mundo lá de novo... agora... os menino... na hora que eles toma uns gole...fuma uns trem muito doido aí....o menino fica que nem valentão na dele...agora... tem dia que você anda aí, ó...agora não, mas uns dia atrás aí era....com nego assim cum revólver assim no (?incompreensível?)...na mão... Observe em (13) que, em uma das ocorrências, o item agora nos remete à referência anteriormente citada “no menino...o menino...”. No enunciado anterior o falante menciona o “menino” e, ao usar o articulador agora, progredimos numa direção contrária ao que os “menino” faziam, ou seja, “na hora que eles toma uns gole”, levando-nos a entender que eles ( os meninos ) agem de maneira diferente da anteriormente citada, corroborando o que Schiffrin assinala como foco catafórico assim como também afirma a ideia contrária, levando-me a entender essa ocorrência como conjunção adversativa mas. Também encontrei um artigo de Ingedore Koch (2001), que traz uma abordagem do agora como “articulador textual, responsável pela progressão textual, ou seja, são marcadores discursivos continuadores, que operam o “amarramento” de porções textuais”. Para Koch, trata-se de marcadores como aí, daí, então, agora, aí então, extremamente freqüentes em textos falados, e também freqüentes em textos escritos, especialmente quando se deseja dar a estes uma feição semelhante à da fala, como é comum na literatura infanto-juvenil (para um maior aprofundamento, nesse caso, consulte-se Werneck. dos Santos, 2003). Veja exemplo de Koch: (14) “...bom esses pratos não são mui::to trabalhosos mas são demorados não é?... agora se você souber::... preparar a massa em casa... então você prepara... né?... se não souber é muito mais prático você ir ao supermercado comprar:: um pacotinho de lasanha (...) agora se você quiser prepará-la mesmo... então o negócio é fazer a massa... depois cozinhar essa massa... aí:: entra a dificuldade... porque na hora de cozinhar a massa (...) você tem que cozinhar com bastante água... e::... aos poucos... porque senão ela embola tudo e fica uma grande porcaria né... então você tem que cozinhar aos poucos (...) (DID SP 235:231-244) A autora, assim como Risso, inclui o item na categoria de “amarrador” do discurso. Veja que no exemplo (14) agora está concorrendo como outros marcadores de progressão textual como: aí, então, né. Essa abordagem corrobora a conclusão desta pesquisa, já que o agora não tem o aumento de frequência esperado nos processos de Gramaticalização. Analisando novamente os corpora, observei que essa frequência não aumentou exatamente porque o agora enquanto conjunção e marcador discursivo concorre com outros marcadores textuais, mas , principalmente, com a partícula mas com valor de conjunção adversativa e, também, com valor de marcador discursivo . Encontrei um artigo de Rodrigues (1994), UFRJ, também de abordagem funcionalista, no qual ela alega que o que está mais próximo do verbo cognitivamente também estará na estrutura frasal. Para ilustrar, tomou como exemplo o item, denominado advérbio que, ao se afastar do verbo que o modifica, também se afasta cognitivamente de sua função original, criando novo contexto e exercendo nova função, (grifo meu) como se evidencia no esquema a seguir: Advérbio (+) próximo ao verbo OU advérbio ( - ) próximo ao verbo > conectivo Advérbio ( - ) próximo ao verbo > marcador, conectivo etc. Seria, segundo Rodrigues, o caso de, segundo as gramáticas tradicionais, quanto mais próximo o advérbio estiver do verbo, mais assumirá a categoria adverbial. A autora traz como exemplos: (15) /.../ começa a engatinhar, engatinha, [pra finalmente/ conseguir] se colocar em pé (NURC-RJ, INQ. 010, l. 419) (16) /.../ o meu filho mais velho tem trinta e dois anos, depois eu tenho um filho de vinte e oito, ai há um intervalo de oito anos, eu tenho uma filha, [e finalmente com outro intervalo de seis anos tem um garoto] (NURC-RJ, INQ. 084, 1. 37) Rodrigues explica que nos exemplos (15) e (16) , classifica-se o item finalmente tradicionalmente como o chamado advérbio de modo. O vocábulo finalmente tem dois valores essenciais: o cronológico e o conclusivo. Segundo ela, isso explica a existência do item com noção temporal como nos exemplos dados. O valor temporal evidencia-se nestes casos, já que os itens se realizam em enumerações, contexto típico para representar a seqüência de eventos. Em (15), Rodrigues explica que o item é usado para organização do discurso, que é dependente da organização cronológica, pois evidentemente engatinha-se antes de andar. Em (16), o falante enumera os filhos que tem, começando pelo mais velho até chegar ao mais novo, o que é esperado. Rodrigues ainda cita Cunha, Martelotta e Oliveira (2003:50), autores que apontam para o fato de que quando algum fenômeno discursivo, em decorrência da freqüência de uso, passa a ocorrer de forma previsível e estável, sai do discurso para entrar na gramática. No mesmo sentido, quando determinado fenômeno que estava na gramática passa a ter comportamentos não previsíveis, em termos de regras selecionais, podemos dizer que sai da gramática e retorna ao discurso. Segundo ela, nessa mesma linha de raciocínio, é que o conceito de gramaticalização trabalha: um elemento antes, com alto grau de mobilidade - o advérbio - passa a ter uma posição mais fixa - o conectivo. Rodrigues lembra ainda que a noção de circunstância prototípica para a caracterização dos advérbios - deve ser considerada de modo amplo e relativo no sentido de que constitui um continuum de abstração, que vai desde o cenário espacial do evento até o processo de construção do texto, já que os usos de alguns advérbios apresentam uma polissemia conseqüente de processos de gramaticalização que levam elementos espaciais e temporais a serem utilizados com valor de conectivo. Para explicar o estudo de Rodrigues, usaremos os corpora utilizados nesta pesquisa, onde encontramos exemplos do item agora com função de advérbio de tempo e como conector com ideia de adversidade. (17) “...essas maioria dessas repúblicas que eu falei em Ouro Preto....elas são particulares...a da UFOP, ela fica dentro da UFOP... são poucas, num são muitas não...aí tem trotes, essas coisas toda...agora...já no...no...em Viçosa...o que eu achei engraçado.. lá não tem bicho, que são os rapazes que tão tentando uma vaga na república...” ( Corpus 2006) Veja que em (17) o item agora deixou de ter valor circunstancial de tempo e passou a exercer uma função de conectivo. Observe que o conector divide duas sentenças adversativas “em Ouro Preto....elas são particulares...” e “agora...já no...no...em Viçosa... lá não tem bicho, que são os rapazes que tão tentando uma vaga na república...” . Agora contrasta situações diferentes entre Ouro Preto e Viçosa, ou seja, em uma cidade acontece de uma maneira, mas (agora) em Viçosa, acontece de outra. Outro trabalho sobre o tema é o artigo de Demier Rodrigues (2001), que descreve a respeito dos operadores discursivos. Seu artigo não é sobre o item agora, mas, como encontrei nos exemplos da autora alguns parênteses sobre esse item, achei interessante apresentá-los.. Demier Rodrigues analisa relações textuais-discursivas nos enunciados, propiciando a reorientação do discurso em funções variadas como: iniciar o desenvolvimento de um tópico novo, quer seja após um comentário inicial, quer na troca de um tópico por outro; (18) “Andréa... agora... eh::... o último::/ a última coisa que eu vou te pedir... é que você me dê a opi/ a sua opinião sobre um assunto que te chame atenção... a gente tinha conversado antes... e:: você já deve ter pensado... mais ou menos sobre o que você vai falar... você me dá a sua opinião sobre isso...” (D&G Juiz de Fora/oral) substituir um tópico maior por um menor (sub-tópico), ou vice-versa; (19) “...quanto à... à política... não tenho / não tem como explicar eh... a vida está... tudo caro... né? pra mim... pro Brasil sair... dessa crise... acho que... sabe? só:: só milagre... agora... esse presidente Itamar Franco... sabe? está fazendo alguma coisa... né? agora... política... acho que... sabe? todos eles... sinceramente... são uma cambada de ladrões... que adoram... sabe? pegar dinheiro... dos outros sabe eh:: fazer... sacanagem... fazer troço assim...” (D&G Rio de Janeiro/ oral/ Ensino Médio) focalizar um tópico do enunciado apresentando um ponto de vista. (20) “... é raro você ... encontrar eh ...menino que queira ouvir conselho ...que ouça conselho do pai ...que atenda o pai ... até / nem / no ... no bom sentido de ... de não fazer alguma coisa ...de fazer ou / NAda ... não há ... não há ... não há jeito de ... de fazer ... de fazer nada ... agora ... se isso é bom ou ruim ... não sei ...” (Nurc) Para Demier Rodrigues, um outro ponto de relevância em relação às categorias propostas para a análise é o fato de que estas não constituem grupos fechados e sim prototípicos. Trata-se de uma característica importante, pois há exemplos, nos corpora (1986,2006) que podem transitar em mais de uma categoria. Suas conclusões levam a crer que o tradicional advérbio de tempo agora passa por um processo de gramaticalização, no qual caminha da gramática para o discurso e representa um ciclo contínuo de transformações. Este fato me chamou atenção para esta pesquisa, já que em várias passagens dos corpora, não consegui identificar se o falante estava colocando em uso o advérbio de tempo ou um marcador discursivo. Observe os exemplos: (21)“...uma coisa assim...é...uma coisa que eu aprendi...do aspecto humano...sertanejo... ele é um sujeito honesto...é um sujeito de palavra...e é um trabalhador...difícil você encontrá um cara tão trabalhadô quanto o sertanejo...nessa época agora em janeiro...em março...nesta época lá...é a...a...chamada época do...do....ca...do...inverno....nessa época ... agora é muito bom...”( corpus 2006) Observe que em (21) “...nessa época ... agora é muito bom...” e em “... aí ele pegô... foi e tirô ele pra mim podê vê ele...depois nunca mais vi. (E ele tá onde?) Agora... eu não sei onde que ele tá, só sei que ele tava em Venda Nova, ...” não sabemos se o falante está usando o advérbio circunstancial de tempo ou se é uma pausa preenchida pelo marcador discursivo. Podemos perceber isso pela pausa que o falante faz. No primeiro exemplo “nessa época agora em janeiro...em março...” o agora assume o valor dêitico, apontando para o valor temporal citado antes “nessa época”, exercendo tal qual o seu antecedente, a função de tempo, o que não ocorre no segundo exemplo de (21). Observe que, mesmo que o item agora venha também precedido por “nessa época”, o falante não parece estar se referindo anaforicamente e essa expressão, mas apenas marcando uma pausa conversacional. Atente-se para o fato de que, no primeiro exemplo “...nessa época agora em janeiro...” não conseguimos substituir o agora por aí, então...” ...nessa época agora( então, aí...) em janeiro...Já no segundo caso esse item pode ser detectado também como marcador discursivo. Veja: “...nesta época lá...é a...a...chamada época do...do....ca...do...inverno....nessa época ... agora ( é...aí...então...) é muito bom...” Como se vê, ao analisar alguns estudos feitos sobre o item agora, pouco encontrei em relação à gramaticalização especificamente desse item ,por isso, proponho uma análise, pelo processo de gramaticalização de dois usos do item agora. Uma, que perpassa pelas Gramáticas tradicionais, cujo uso é classificado como advérbio de tempo. Outra, que vai além das proposta dos teóricos tradicionais, que classifica esse item como articulador, marcador discursivo, interjeição, expressão idiomática. Referências: BYBEE, Joan., PERKINGS, R, PAGLIUCA, W. The evolution of grammar: tense, aspect, and modality in the language of the world. Chicago: The University of Chicago Press, 1994. KOCH, Ingedore. Palestra ministrada na UFES em 2006. LINS, Maria da Penha Pereira. Revista Contextos Linguísticos. Vitória. 2007.p.135 a 153. MARTELOTTA, M.; VOTRE, S.; CEZARIO, M.M. (orgs). Gramaticalização no Português do Brasil: uma abordagem funcional. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996. NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de Usos do Português. SP.Ed.Unesp,2000. RISSO, M.S. Gramática do Português Falado. Vol III. Org. CASTILHO. 1993.UNICAMP. /Fapesp. RODRIGUES, Fernanda Costa Demier. DELTA, vol. 17, 2001, p. 81- 95. Almanaque CiFEFiL, 2009, 2ª edição. ISSN 1676-3262