Embolia Pulmonar Aguda

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Embolia Pulmonar Aguda
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Rudolf K. F. de Oliveira
Residente de Pneumologia do HSPE-SP
Raphael A. B. da Silva
Residente de Clínica Médica do HSPE-SP
Mauri M. Rodrigues
Pneumologista do Serviço de Doenças Respiratórias do HSPE-SP
Maria Raquel Soares
Pneumologista do Serviço de Doenças Respiratórias do HSPE-SP
Carlos AC Pereira
Diretor do Serviço de Doenças Respiratórias do HSPE-SP
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Relato do caso:
•
Masculino, 74 anos, procedente de São Paulo, Ex-tabagista há 3 anos, 60 maços/ano.
QD: Dispnéia
HMA: Paciente admitido em 02/03/2010 na sala de emergência com queixa de dispnéia súbita há 1 dia, iniciada
ao repouso e incapacitante, sem outros sintomas associados. Referia viagem recente de carro com tempo
superior a cinco horas e com pouca movimentação durante trajeto.
Antecedentes pessoais:
• Setembro de 2008 – Teve fratura de fêmur direito (correção cirúrgica) evoluindo com déficit funcional
importante, permanecendo acamado a maior parte do tempo;
• Dezembro de 2008 – Apresentou dispnéia súbita e dor torácica. Realizado diagnóstico de embolia
pulmonar aguda por angiotomografia. Iniciado terapia anticoagulante com varfarina;
• Junho de 2009 – Após sete meses de anticoagulação oral, com melhora funcional importante foi
retirada a anticoagulação.
Exame Físico:
MEG, dispnéico, cianose de extremidades
PA: 140 x 90 mmHg / FC: 108 bpm / Saturação: 78% em ar ambiente
AR: Sons respiratórios normais, sem ruídos adventícios
ACV: 2BRNF, sem sopros
Extremidades: ausência de edema, varizes de MMII
Gasometria alterial: pH 7,43
PaCO2 24,2
PaO2 46,7
HCO3 15,8
BE -8,4
SatO2 82,1%
Probabilidade Clínica de TEP - Escores
Escore de Wells: 7,5 pontos (alta probabilidade)
• Sinais e Sintomas de TVP: 3 pontos
• Diagnóstico alternativo é menos provável que TEP: 3 pontos*
• TVP ou TEP prévios: 1,5 pontos*
•
•
•
•
FC>100bpm: 1,5 pontos*
Imobilização ou cirurgia nas últimas quatro semanas: 1,5 pontos*
Hemoptise: 1 ponto
Câncer em atividade: 1 ponto
Escore de Wells dicotomizado: > 4 pontos (embolia pulmonar é provável)
Escore de Genebra Original: 10 pontos (probabilidade intermediária)
• Idade 60-79 anos: 1 ponto*
• Idade≥ 80 anos: 2 pontos
• TVP ou TEP prévio: 2 pontos*
• Cirurgia Recente: 2 pontos
• FC > 100bpm: 1 ponto*
• PaCO2 < 36,2 mmHg: 2 pontos*
• PaCO2: 36,2 - 38,9 mmHg: 1 ponto
• PaO2 < 48 mmHg: 4 pontos*
• PaO2: 48,8 – 59,9 mmHg: 3 pontos
• PaO2: 60 - 71,2 mmHg: 2 pontos
• PaO2: 71,3 - 84,2 mmHg: 1 ponto
• Radiografia de tórax com atelectasia em faixa: 1 ponto
• Radiografia de tórax com elevação da hemicúpula diafragmática: 1 ponto
Escore de Genebra revisado: ≥11 pontos (alta probabilidade)
• Idade > 65 anos: 1 ponto*
• TVP ou TEP prévios: 3 pontos*
• Cirurgia ou imobilização nos últimos 30 dias: 2 pontos*
• Câncer em atividade: 2 pontos
• Dor no membro inferior unilateral: 3 pontos
• Dor à palpação da perna ou edema de membro inferior: 4 pontos
• Hemoptise: 2 pontos
• FC 75 a 94 bpm: 3 pontos
• FC ≥ 95bpm: 5 pontos*
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Questão 1:
Em relação aos escores de probabilidade de embolia pulmonar, assinale a INCORRETA:
A. O escore mais validado é o proposto por Wells.
B. O maior problema com o escore de Wells refere-se à pontuação de diagnóstico alternativo menos provável
que TEP
C. Síncope, dor torácica e dispnéia súbita devem fazer parte da avaliação de probabilidade de TEP.
D. Baixa probabilidade pelo escore de Genebra afasta embolia pulmonar sem exames adicionais.
Discussão:
A embolia pulmonar (EP) é uma emergência cardiovascular relativamente comum. Por levar à oclusão do
leito arterial pulmonar, pode provocar falência ventricular direita aguda com risco de vida, mas potencialmente
reversível. O diagnóstico de EP é difícil e pode falhar devido a uma apresentação clínica inespecífica. Por isso, é
fundamental o diagnóstico precoce, uma vez que o tratamento imediato é bastante eficaz. Dependendo da
apresentação clínica, a terapêutica inicial é dirigida primordialmente: quer para a restauração imediata do fluxo
sanguíneo nas artérias pulmonares (AP) ocluídas, quer para a prevenção de recidivas precoces potencialmente
fatais. Tanto a terapêutica inicial como a anticoagulação a longo prazo, que é necessária para a prevenção
secundária, devem ser justificadas para cada doente pelos resultados de uma estratégia diagnóstica devidamente
validada.
Apesar da limitada sensibilidade e especificidade individual dos sintomas, sinais e testes mais frequentes, a
combinação dessas variáveis, quer implicitamente pelo clínico ou pelo uso de uma regra de previsão, torna
possível separar doentes com suspeita de EP em categorias de probabilidade clínica ou pré-teste correspondendo
a uma prevalência aumentada de EP. Isto se tornou um passo-chave em todos os algoritmos diagnósticos de EP.
De fato, a probabilidade pós-teste da EP depende não só das características do teste utilizado, mas também da
probabilidade pré-teste. O valor do julgamento clínico implícito foi demonstrado em várias grandes séries, uma
das quais foi a Prospective Investigation on Pulmonary Embolism Diagnosis (PIOPED). Este estudo permitiu
chegar a três conclusões principais: (i) classificar doentes segundo três categorias de possibilidade clínica de EP
é bastante exato, aumentando a prevalência da EP com o aumento da probabilidade clínica (baixa, 9%;
moderada, 30%; alta, 68%); (ii) 90% dos doentes têm uma probabilidade clínica baixa ou moderada (ou seja,
não alta); e (iii) para resultados idênticos em cintigrafias pulmonares de ventilação-perfusão (cintigrafia V/Q), a
prevalência da EP varia consideravelmente consoante a probabilidade pré-teste ou clínica.
As principais limitações do juízo clínico implícito são a falta de padronização e a impossibilidade de o
ensinar. Assim, várias regras de previsão clínicas explícitas foram desenvolvidas nos últimos anos. A regra de
previsão mais frequentemente utilizada é a de Wells et al. Esta regra tem sido validada extensivamente usando
esquemas de três categorias (baixa, intermédia ou alta probabilidade clínica) ou de duas (EP provável ou
improvável). É simples e baseada em informação fácil de recolher. No entanto, a reprodutibilidade interobservador mostrou ser variável devido ao peso de um item subjetivo da regra (diagnóstico alternativo menos
provável que a EP). A regra de Genebra revista também é utilizada na Europa. É simples, baseada inteiramente
em variáveis clínicas e padronizada. Também foi validada interna e externamente, embora menos
extensivamente que a regra de Wells. Qualquer que seja a regra utilizada, a proporção de doentes com EP é de
cerca de 10% na categoria de baixa probabilidade, 30% na categoria de probabilidade intermédia e 65% na
categoria de alta probabilidade clínica.
Em um estudo multicêntrico prospectivo, Courtney M. e cols buscaram relacionar fatores de risco para
episódio embólico. As variáveis que mais se relacionaram à TVP e EP foram: paciente com história de EP
prévia, edema em perna unilateralmente, cirurgia recente, uso de estrogênio, saturação de oxigênio menor que
95%, câncer ativo ou paciente com história de trombofilias. Relacionaram também além dos fatores citados e
dos relacionados aos escores de Wells e Genebra, outros fatores como: dor torácica pleurítica e história familiar
de TVP. Outros achados como dispnéia ou aparecimento súbito dos sintomas, que são relacionados com EP, não
tiveram uma boa correlação clínica-diagnóstica de EP. Outras variáveis, relacionadas previamente com fator de
risco, também não foram confirmadas como: sexo feminino, tabagismo, história de neoplasia inativa, obesidade
e gestação.
Num artigo de revisão, Stein P.D. e cols também referem que há evidências sugestivas de que existe uma
enorme dificuldade no diagnóstico de EP. Grandes embolias muitas vezes só são diagnosticadas post mortem.
Achados clínicos, como dispnéia, taquipnéia e dor torácica, são úteis para selecionar pacientes para suspeita de
EP. Muitos autores concordam que se deve avaliar a sensibilidade e especificidade de cada teste, variando de
acordo com a probabilidade de EP pré-teste, lembrando a importância dos escores de probabilidade. Vários
estudos convergem em relacionar que quanto maior a probabilidade clínica pré-teste, pelos escores de
probabilidade, maior o evento EP é encontrado.
Miniati M. e cols propõem um modelo de escore com 16 variáveis, das quais 10 se relacionam com fator de
risco para fenômeno embólico (idade, sexo masculino, imobilização, trombose venosa profunda prévia, dispnéia,
dor torácica, desmaio ou síncope, hemoptise, edema unilateral de perna e achado em eletrocardiograma de cor
pulmonale agudo) e 6 como fatores não relacionados (doença cardíaca ou pulmonar prévia, febre, ortopnéia,
crepitações e sibilos em ausculta pulmonar). Os autores concluem que o modelo previsto teve uma boa
correlação clínica com o diagnóstico de EP; assim, infere que os fatores relacionados com fenômeno embólico
(as 10 primeiras variáveis) devem fazer parte de todo tipo de escore para identificação de um risco embólico;
assim como a presença das 6 últimas variáveis devem levantar a suspeita de outros diagnósticos.
Em suma, a avaliação clínica torna possível a classificação de doentes em categorias de probabilidade
correspondendo a um aumento da prevalência para a EP, quer seja por avaliação por juízo clínico implícito, quer
por uma regra de previsão validada. Resposta correta: letra D.
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Exames Laboratoriais: (02/03/2010)
Hb 15,8g/dl
Ht 47,8%
Leuc 11.360/mm3
Plaq 338.000/mm3
Na 142mg/dl
K 5,0 mg/dl
Uréia 38 mg/dl
Creat 1,1 mg/dl
D-dímero 20,7mcg/ml
Troponina 0,14ng/ml
BNP 142,3pg/ml
CK-MB 2,1 ng/ml
Cálculo do gradiente alvéolo-arterial de oxigênio: P (A-a) = 60 mmHg
Angiotomografia de tórax: (02/03/2010)
Ecocardiograma: (02/03/2010)
Ventrículo direito: aumento importante, hipocinético
Átrio direito: aumento importante
Ventrículo esquerdo: alteração de relaxamento discreta
Átrio esquerdo: normal
PSAP: 47mmHg (subestimado)
Função sistólica VE: preservada
Conclusão:
• Aumento importante de câmaras direitas
• Disfunção moderada / importante e difusa de VD
• Hipertensão Pulmonar Importante
• Alteração de relaxamento de VE
• Obs: Forame oval patente com mínimo shunt D / E.
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Questão 2:
Em relação aos marcadores de prognóstico na embolia pulmonar (EP) aguda, qual das alternativa abaixo
está incorreta:
a. Choque e hipotensão arterial são os principais marcadores de alto risco de morte precoce na EP aguda.
b. Além da disfunção de ventrículo direito, o ecocardiograma também pode identificar dois marcadores
específicos, cada um duplicando o risco de mortalidade na EP: shunt direito esquerdo por forame oval
permeável e a presença de trombos no coração direito.
c. O gradiente alvéolo-arterial de oxigênio não contribui em predizer o prognóstico de curto prazo de
embolia pulmonar aguda.
d. Níveis baixos de BNP ou NT-proBNP podem ser usados com confiança na identificação de doentes
com bom prognóstico no que diz respeito à mortalidade precoce ou a uma evolução clínica complicada.
e. A lesão do miocárdio em doentes com EP pode ser detectada testando a troponina T ou I.
Discussão:
Em relação à avaliação do prognóstico da embolia pulmonar aguda podemos dividir em cinco partes:
avaliação clínica do estado hemodinâmico do paciente, marcadores de disfunção ventricular direita,
marcadores de lesão miocárdica, e marcadores de risco adicionais e o gradiente alvéolo-arterial de oxigênio.
1-Avaliação clínica do estado hemodinâmico:
A evidência existente acerca do significado prognóstico do choque e hipotensão na EP aguda foi revista
recentemente. É, sobretudo, derivada de estudos observacionais como o ICOPER e registro Management and
Prognosis in Pulmonary Embolism Trial (MAPPET). Em uma análise post-hoc dos dados do ICOPER, a taxa de
mortalidade por todas as causas aos 90 dias foi de 52,4% (IC 95%, 43,3-62,1%) em doentes com pressão arterial
sistólica (PAS) < 90 mmHg comparada com 14,7% (IC95%, 13,3-16,2%) em doentes normotensos. De acordo
com dados do MAPPET, a hipotensão sistêmica (definida como PAS < 90 mmHg ou uma redução de pelo
menos 40 mmHg por pelo menos 15 minutos) parece apresentar um risco ligeiramente inferior comparado com o
choque (mortalidade intra-hospitalar por todas as causas 15,2 vs. 24,5%, respectivamente). No entanto, a
mortalidade esperada é ainda muito elevada e justifica a classificação de EP de alto risco, requerendo tratamento
agressivo imediato. Síncope e parada cardíaca podem ocorrer na EP. Na maioria dos casos, um episódio destes
está relacionado com a hipotensão sistêmica persistente e/ou choque, que são marcadores de alto risco. Nos
poucos doentes que imediatamente recuperam a consciência e uma pressão arterial estável, a avaliação do risco
deve ser feita caso a caso. Deve ser tomada em conta a gravidade da disfunção ventricular e a presença de
embolia iminente devido a um trombo venoso proximal ou flutuante no coração direito. Em resumo, o choque e
a hipotensão são os principais marcadores de alto risco de morte precoce na EP aguda.
2- Marcadores de disfunção ventricular direita (DVD):
Ecocardiograma: Os achados ecocardiográficos que sugerem DVD ocorrem em pelo menos 25% dos
doentes com EP. Uma meta-análise encontrou um risco de mortalidade relacionada com a EP mais de duas vezes
superior em doentes com sinais ecocardiográficos de disfunção ventricular direita. Dois dos sete estudos
incluíram uma estimativa de risco em doentes normotensos com EP. Nestes doentes, a DVD teve uma
sensibilidade de 56-61% e estava relacionada com o aumento absoluto na mortalidade precoce relacionada com
a EP de 4-5%. Um fato importante: os doentes com achados ecocardiográficos normais tiveram um excelente
resultado clínico, com uma mortalidade intra-hospitalar relacionada com a EP <1% na maioria das séries
relatadas. Infelizmente, os critérios ecocardiográficos para a DVD diferem entre os estudos publicados e incluem
dilatação do VD, hipocinesia, aumento do índice de diâmetro VD/VE e velocidade aumentada do jato de
regurgitação tricúspide. Assim, uma vez que falta uma definição universal da DVD em ecocardiografia, só um
resultado completamente normal pode ser considerado como definindo o baixo risco. Isto é particularmente
importante porque em alguns ensaios, sinais ecocardiográficos de sobrecarga ventricular do VD sozinhos (como
um aumento do gradiente de pico da insuficiência tricúspide e a diminuição do tempo de aceleração de ejeção do
VD) foram considerados suficientes para classificar um doente como pertencente ao grupo da DVD. Para além
da DVD, a ecocardiografia também pode identificar dois marcadores específicos, cada um duplicando o risco de
mortalidade na EP: shunt direito esquerdo por forame oval permeável e a presença de trombos no coração
direito.
Tomografia computadorizada (TC): A angio-TC helicoidal permite a avaliação do índice ventricular
direito/esquerdo, mas não dá nenhuma informação direta sobre a função do VD. Com a tomografia
computadorizada com detector único (TCDU), a identificação do mais longo dos eixos menores do VD e VE
requer inspeção de planos torácicos transversos relevantes. Um índice VD/VE >1,0 foi encontrado em 58% de
120 doentes inicialmente estáveis com EP confirmada e tinha um VPP de 10% no que diz respeito à mortalidade
relacionada com a EP aos 30 dias (IC 95%, 2,9-17,4%). A combinação de um índice VD/VE >1,0 e um índice
de obstrução vascular >40% derivado da TC aumentaram o VPP da mortalidade relacionada com a EP aos 3
meses para 18,8%. O valor preditivo de um índice VD/VE ≤1,0 para um resultado clínico sem problemas foi de
100% (IC 95%, 94,3-100%). Dois estudos realizados pelo mesmo grupo relataram a experiência com uma TC
com 16 detectores. Um estudo piloto encontrou que um índice VD/VE >0,9, medido numa janela de 4 câmaras,
com imagens reformatadas não ativadas por ECG, era ligeiramente superior a medições de imagens axiais para
identificar doentes com EP e pior prognóstico. Em um estudo de seguimento incluindo 431 doentes, um índice
VD/VE >0,9 estava presente em 64% dos doentes com EP, e os seus VPN e VPP para a mortalidade a 30 dias
foram de 92,3% e 15,6%, respectivamente. A razão de probabilidades (OR) do índice VD/VE>0,9 para predizer
a mortalidade aos 30 dias foi de 5,17 (CI 95%, 1,63-16,35; P = 0,005) depois de um ajuste para outros fatores de
risco como pneumonia, neoplasia, doença pulmonar crônica obstrutiva e idade. Quando relatos sobre populações
menores de doentes são também tomados em consideração, a maioria dos estudos sugere que a TC contribui
para a estratificação de risco dos doentes com EP confirmada. O seu maior valor parece ser a identificação de
doentes de baixo risco baseada na falta de dilatação VD. Outros índices derivados da TC, como a forma do septo
interventricular ou as dimensões das artérias pulmonares não parecem ser de relevância prognóstica, e a
evidência do índice de obstrução vascular obtido por TC não é conclusiva.
Peptídeo Natriurético tipo B (BNP): A disfunção ventricular está associada com um aumento do estiramento
miocárdico que leva à libertação do peptídeo natriurético do tipo B (BNP). Há evidência de que na EP aguda os
níveis de BNP ou do terminal N do proBNP (NT-proBNP) refletem a gravidade da DVD e o comprometimento
hemodinâmico. Relatórios recentes sugerem que o BNP ou o NT-proBNP como marcadores de DVD podem dar
informação prognóstica adicional àquela obtida com a ecocardiografia. Embora concentrações de BNP ou NTproBNP elevadas estejam relacionadas com um pior desfecho, o seu VPP é baixo (12-26%). Por outro lado,
níveis baixos de BNP ou NT-proBNP podem ser usados com confiança na identificação de doentes com bom
prognóstico no que diz respeito à mortalidade precoce ou a um resultado clínico complicado (VPN 94-100%).
Outros marcadores de disfunção do VD: A distensão da veia jugular, quando não é causada por
tamponamento cardíaco ou tumores do mediastino, pode ser um sinal de DVD em doentes com EP. Outros
sinais clínicos, como sopro de regurgitação tricúspide e galope do VD são mais subjetivos, pelo que podem
potencialmente induzir a erro. O aparecimento de novos sinais eletrocardiográficos de sobrecarga do VD como a
inversão das ondas T nas derivações V1-V4, padrão QR em V1, o clássico padrão S1Q3T3 e o bloqueio
completo ou incompleto de ramo direito são úteis, porém de sensibilidade limitada. A cateterização do coração
direito permite a avaliação direta da pressão de enchimento do VD e do débito cardíaco, mas a sua utilização de
rotina para estratificação do risco na EP aguda não é recomendada.
3- Marcadores de lesão do miocárdio:
Troponinas cardíacas: O enfarte transmural do VD, apesar da permeabilidade das artérias coronárias, foi
encontrado em autópsias de doentes que morreram com EP maciça.Vários estudos observacionais já relataram
níveis elevados de troponinas cardíacas na EP. Embora o miocárdio do VD possa não ser necessariamente a sua
única fonte, níveis elevados de troponinas têm sido repetidamente relatados como estando associados com pior
prognóstico em doentes com EP. Em um dos primeiros estudos, a prevalência de um teste de troponina T
positivo, definido como >0,1 ng/mL, foi relatado em 0, 35% e 50% dos doentes com EP não maciça, submaciça
e clinicamente maciça, respectivamente. A troponina T positiva estava relacionada com uma mortalidade intrahospitalar de 44%, comparada com 3% para troponina T negativa (OR, 15,2; IC 95%, 1,2 -190,4). Em outro
estudo, os níveis de troponina I e T são ambos correlacionados com a mortalidade intra-hospitalar e um curso
clínico complicado.Um aumento da mortalidade intra-hospitalar também foi relatado em doentes normotensos
com EP usando valores de exclusão para a troponina T tão baixos como 0,01ng/mL (OR, 21,0; IC 95%, 1,2389,0).Uma nova amostragem de sangue colhida 6-12h após a admissão deve ser considerada, porque resultados
inicialmente negativos podem converter-se em positivos, com implicações prognósticas. Ainda outro estudo
derivado de um grande ensaio terapêutico analisou os dados de 458 doentes com EP submaciça e relatou que
13,5% destes tinham níveis de troponina cardíaca I >0,5ng/mL medidos menos de 24 horas após a apresentação
clínica. A elevação das troponinas cardíacas estava associada com um risco três vezes e meia mais elevado de
mortalidade por todas as causas aos três meses de seguimento (IC 95%, 1,0-11,9).201 A prevalência da TnIc
>2,3mg/L, correspondendo aos níveis indicando enfarte agudo do miocárdio, era de 3,5% (IC 95%, 2,0-5,6). A
maioria dos ensaios reportou como VPP e VPN da troponina elevada relacionada com a mortalidade precoce da
EP entre 12-44%, com VPN bastante elevado (99-100%), independentemente dos vários métodos e valores de
exclusão aplicados. Uma meta-análise recente confirmou que os níveis elevados de troponina estavam
associados com uma mortalidade aumentada no subgrupo dos doentes hemodinamicamente estáveis (OR, 5,9;
IC 95%, 2,7-12,9). Em resumo, a lesão do miocárdio em doentes com EP pode ser detectada testando a
troponina T ou I. Os resultados positivos estão relacionados com um risco intermédio na mortalidade precoce da
EP aguda. A avaliação prognóstica baseada em sinais de lesão miocárdica é limitada pela falta de critérios
aceitos universalmente.
4- Marcadores de risco adicionais:
Testes clínicos e laboratoriais de rotina: Várias variáveis coligidas durante a avaliação clínica e laboratorial
de rotina têm relevância prognóstica na EP. Muitas delas estão mais relacionadas com condições pré-existentes e
comorbidades de um doente específico do que com a gravidade do episódio de EP. Por exemplo, no registro
ICOPER, uma idade >70 anos, neoplasia, insuficiência cardíaca congestiva e doença pulmonar crônica
obstrutiva foram identificados como fatores de mau prognóstico.Várias outras características clínicas e
diagnósticas foram estudadas e propostas pontuações de risco para estratificação diagnóstica que foram
validadas. Estas pontuações de risco utilizam variáveis clínicas e/ou marcadores laboratoriais de prognóstico.
Alguns deles têm como intenção identificar doentes de baixo risco, que são candidatos potenciais para uma alta
rápida e tratamento ambulatorial, enquanto outros modelos procuram detectar doentes de alto risco que
poderiam beneficiar de tratamento mais intensivo. A pontuação de prognóstico de Genebra utiliza um sistema de
classificação de oito pontos e define seis preditores de resultado adverso: neoplasia e hipotensão (<100mmHg),
2 pontos cada; insuficiência cardíaca, TVP prévia, hipoxemia arterial (PaO2 <60 mmHg) e TVP diagnosticada
por ecografia, 1 ponto cada. O sexo masculino, taquicardia, hipotermia, estado mental alterado e baixa saturação
arterial de oxigênio também foram identificados como marcadores de prognóstico clínico e utilizados num
modelo clínico de avaliação do risco. Nesta pontuação de risco, 11 variáveis clínicas são utilizadas para gerar
uma pontuação que divide os doentes em cinco classes de risco para a mortalidade por todas as causas aos 30
dias. Níveis séricos elevados de creatinina também foram reportados com tendo uma relevância prognóstica
significativa nos doentes com EP aguda.Outro estudo relatou que níveis de D-Dímero abaixo dos 1500 µg/L têm
um VPN de 99% na predição da mortalidade por todas as causas aos três meses. Em resumo, múltiplas variáveis
providenciadas pela avaliação clínica e testes laboratoriais de rotina estão relacionadas com o prognóstico na EP
aguda e a consideração de fatores pré-existentes relacionados com o doente pode ser útil na estratificação de
risco final.
5- Gradiente alvéolo-arterial de oxigênio :
Hsu J.T. e cols investigaram também a utilidade do gradiente alvéolo-arterial de oxigênio P(A-a)O2 em
predizer o prognóstico a curto prazo de embolia pulmonar aguda e concluíram que se trata de uma medida muito
útil e simples para este fim. No estudo foi observado que o gradiente alvéolo-arterial tem alto valor preditivo
negativo e moderado valor preditivo positivo para morte em 30 dias de todas as causas e morte em 30 dias de
complicações da EP, sugerindo que estratégias agressivas de tratamento trombolítico deve ser considerada para
pacientes com P(A-a)O2 ≥ 53 mmHg. Posteriormente, os mesmos autores, em outro estudo retrospectivo de 202
pacientes com EP confirmada por tomografia computadorizada ou cintilografia pulmonar de alta probabilidade,
concluíram também que o valor de corte da razão a/PAO2<0,49 apresenta estabilidade em valores FiO2 variável
e é um preditor prognóstico em EP. Resposta correta: letra c.
Evolução:
Ainda na sala de emergência, sob suporte clínico intensivo, foi realizado trombólise química com alteplase
100mg IV em duas horas. O paciente evolui com melhora clínica significativa, sendo então transferido para a
enfermaria da pneumologia, em uso de enoxaparina 60mg SC de 12/12h. Encontrava-se eupneico, acianótico,
com saturação de 96% em ar ambiente e FC 86bpm.
Evolução Laboratorial:
D-dímero:
Troponina:
BNP:
(02/03/2010)
20,7mcg/ml
0,14ng/ml
142,3pg/ml
→
→
→
(06/03/2010)
2,0mcg/ml
0,01ng/ml
36,7pg/ml
US doppler de MMII: TVP em segmento poplíteo e tibial posterior direito.
Angiotomografia de tórax de controle: (pós-trombólise)
02/03/2010
Ecocardiograma de controle: (09/03/2010)
07/03/2010
Ventrículo direito: normal
Átrio direito: normal
Ventrículo esquerdo: alteração de relaxamento discreta
Átrio esquerdo: normal
PSAP: 36mmHg
Função sistólica VE: preservada
Conclusão:
• Alteração de relaxamento de VE
Evolução:
O paciente evolui assintomático, sendo iniciado varfarina 5mg uma vez ao dia. Após atingir a faixa alvo de
anticoagulação (INR 2,0 a 3,0) recebeu alta para seguimento ambulatorial, com programação para manutenção
da anticoagulação por tempo indeterminado.
Questão 4:
Quais as indicações para terapia fibrinolítica na embolia pulmonar aguda?
a. Hipotensão persistente secundária a EP (PAS < 90 mmHg ou queda de 40 mmHg)
b. Todo paciente com disfunção de ventrículo direito ao ecocardiograma
c. Dependendo do caso em questão e pesando-se os riscos e benefícios pode-se considerar a terapia
fibrinolítica nas seguintes situações: hipoxemia grave, grande defeito de perfusão na cintilografia V/Q
ou embolia pulmonar extensa à tomografia computadorizada de tórax, disfunção de ventrículo direito,
trombo livre em câmaras cárdicas direitas ou forame oval patente
d. As alternativas a e c estão corretas
Discussão:
O tratamento da embolia pulmonar aguda baseia-se no suporte respiratório, suporte hemodinâmico,
anticoagulação e trombólise. A anticoagulação deve ser iniciada já na suspeita clínica, enquanto são tomadas as
medidas para confirmação diagnóstica. Já a terapia fibrinolítica não tem sua indicação muito bem estabelecida.
Atualmente a única indicação amplamente aceita para trombólise é a hipotensão persistente secundária a EP
(PAS < 90 mmHg ou queda de 40 mmHg). Porém outras situações também são passíveis de terapia fibrinolítica,
devendo-se analisar caso a caso, pesando-se o risco-benefício. São elas: hipoxemia grave, grande defeito de
perfusão na cintilografia V/Q, tromboembolismo pulmonar extenso à tomografia computadorizada de tórax,
disfunção de ventrículo direito, trombo livre em átrio ou ventrículo direito, e forame oval patente. Os efeitos
hemodinâmicos da trombólise incluem melhora da hipertensão pulmonar, da função do ventrículo direito e da
perfusão pulmonar, porém seus efeitos a longo prazo e seu impacto na mortalidade ainda não são bem
conhecidos. As contra-indicações absolutas incluem acidente vascular encefálico hemorrágico prévio, neoplasia
intracraniana em atividade, cirurgia intracraniana ou traumatismo craniano nos últimos 2 meses e sangramento
interno nos últimos 6 meses. As contra-indicações relativas são: diátese hemorrágica, hipertensão grave não
controlada (PAS > 200 mmHg ou PAD > 110 mmHg), acidente vascular encefálico não hemorrágico nos
últimos 2 meses, cirurgia nos últimos 10 dias e trombocitopenia (plaquetas < 100.000/mm3). Importante ressaltar
que menstruação não constitui contra-indicação à terapia fibrinolítica.
Uma vez tomada a decisão pela trombólise e avaliado a ausência de contra-indicações, deve-se escolher qual
agente fibrinolítico utilizar. As drogas mais estudadas são a estreptoquinase, alteplase e uroquinase. Elas devem
ser administradas preferencialmente em acesso venoso periférico, evitando-se acessos venosos profundos
principalmente em veias não compressíveis.
As doses recomendadas são:
• Estreptoquinase (STK): 250.000U EV por 30min, seguido de 100.000U/h EV por 24h ou 1.500.000U
EV em 2h (preferir administração em bolus);
• Alteplase (rt-PA): 100mg EV em 2h (associar heparina);
• Uroquinase (UK): 4.400U/Kg EV em 10min, seguido de 4.400U/Kg/h EV em 12h.
O principal efeito colateral é o sangramento. Em pacientes tratados com rt-PA, sua incidência é de 19%.
Quarenta e cinco porcento não possuem sítio conhecido, 30% são provenientes do trato gastrointestinal, 15%
retroperitoneal, 5% cerebral e 5% esplênico. São considerados preditores independentes para sangramento o uso
de drogas vasoativas, a presença de neoplasia, diabetes mellitus e INR elevado. Procedimentos invasivos devem
ser evitados. Resposta correta: letra d.
Abaixo apresentamos uma sugestão de algoritmo para o tratamento da embolia pulmonar aguda:
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