Cartel de Sinaloa e outras organizações do narcotráfico aproveitam-sedo espaço aéreo da América Central Muitas aeronaves já não podem fazer voos diretos da Colômbia ou Venezuela para o sudeste do México. Aviões carregados de centenas de quilos de cocaína estão pousando na Guatemala, em Honduras e na Costa Rica. Julieta Pelcastre | 27 dezembro 2013 Com cada vez mais frequência, aeronaves carregadas de cocaína pousam e decolam em pistas improvisadas em zonas despovoadas ou regiões de selva na América Central. O Cartel de Sinaloa, o Los Zetas e outras organizações criminosas transnacionais estão se beneficiando do espaço aéreo da região para contrabandear centenas de quilos de drogas provenientes da América do Sul com destino aos Estados Unidos. O Exército e as forças de segurança da Guatemala e de Honduras desativaram dezenas de pistas de pouso ilegais no último ano. No México, nos últimos dois ou três anos, radares cedidos às Forças Armadas por meio da Iniciativa Mérida trabalharam 100%, diz Raúl Benítez Manaut, diretor da organização Coletivo de Análise da Segurança com Democracia (CASEDE). “Muitas aeronaves utilizadas para fazer voos diretos da Colômbia ou Venezuela para o sudeste do México já não podem fazer isso. Aviões carregados de centenas de quilos de cocaína estão pousando na Guatemala, em Honduras e na Costa Rica”, diz Manaut. As pistas de pouso têm 1 km de extensão, mas já foram encontradas pistas com 2,5 km. Os aviões são geralmente do tipo Caravan ou Cessna, capazes de transportar de 600 kg até 1 tonelada de cocaína. Segundo autoridades centro-americanas, os violentos cartéis de Sinaloa e Los Zetas, assim como os cartéis colombianos, são responsáveis pela crescente invasão do espaço aéreo da América Central. O coronel Erick Escobedo, porta-voz do Ministério da Defesa da Guatemala, disse recentemente à BBC News que “o problema ultrapassa a América Central”. “As ameaças de segurança têm efeitos transnacionais, porque os cartéis mexicanos não respeitam fronteiras, mares ou países”, disse Escobedo. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o Cartel de Sinaloa, liderado pelo chefão das drogas foragido Joaquín “El Chapo” Guzmán, e o Los Zetas transferiram 90% de suas operações para a América Central para traficar cocaína aos Estados Unidos. O governo estima que mais de 80% do principal fluxo de cocaína traficada aos Estados Unidos passe primeiro pelo corredor centro-americano, de acordo com o Relatório Estratégia Internacional de Controle de Narcóticos 2013 (INCSR), do Departamento de Estado dos EUA. O relatório destaca que as organizações locais e internacionais do narcotráfico exploram as “fracas instituições públicas e a disseminada corrupção na Guatemala” para movimentar drogas, pessoas e dinheiro. Por meio de quatro gangues locais, como Los Lorenzana e Los Mendoza, o Cartel de Sinaloa e o Los Zetas estão disputando a região da Guatemala. Desde o ano passado, soldados do Exército Guatemalteco destruíram pelo menos 50 pistas de pouso ilegais no departamento de Petén, no norte do país, um dos locais com as maiores concentrações de drogas de todo o istmo. Segundo a agência de notícias AGN, a situação mudou em outubro de 2011, quando o primeiro radar na Costa Rica passou a operar e os “narcoaviões” mudaram suas rotas de voo para o espaço aéreo hondurenho. Os Estados Unidos estimam que 87% de todos os voos ilícitos transportando cocaína da América do Sul pousem em Honduras. A região é vulnerável ao tráfico de drogas devido “à distância remota, falta de infraestrutura e baixa presença de forças governamentais”. Segundo as autoridades, das 330 t de cocaína que entraram no México através da Guatemala em 2010, 267 t passaram primeiro por Honduras, um país onde 62 pistas de pouso ilegais foram detectadas apenas em 2012. Em Honduras, existem mais de 200 pistas de pouso clandestinas na região próxima ao Oceano Atlântico, “o que torna a área um dos mais ativos corredores de drogas do mundo”. O Cartel de Sinaloa controla a movimentação de drogas na região, disse o vice-ministro da Defesa de Honduras, Carlos Roberto Funes, à agência de notícias Clarín. Em dezembro de 2013, o ministro da Defesa, Marlon Pascua, disse que as Forças Armadas Hondurenhas desativaram 100 pistas irregulares desde o início do ano. As regiões onde foram detectadas as aeronaves com drogas incluem Petén, na Guatemala, o litoral caribenho da Costa Rica e La Mosquita, em Honduras. Esse fenômeno começou quando os cartéis colombianos deram espaço para os cartéis mexicanos. O fluxo irregular de aviões aumentou em 2006 com a implementação da estratégia de segurança do México contra os cartéis de drogas, diz Ana Glenda Tager Rosado, diretora da Aliança Internacional para a Construção da Paz (Interpeace) na América Latina. Embora a maioria das cargas seja movimentada por via terrestre ou marítima, os países centro-americanos “estão observando um grande fluxo de tráfico de cocaína”, segundo Benítez Manaut. “Mas o tráfico de cocaína é o mesmo. As drogas têm de aterrissar antes de continuar o trajeto”, explica. “Há anos, as organizações criminosas compram propriedades rurais, usando-as como pistas de pouso para aumentar os lucros”, afirma Ana Glenda, da Interpeace. Em 28 de junho, um avião do tipo Cessna, ao sobrevoar o território guatemalteco sem autorização, estraçalhou-se em uma área florestal na comunidade de San Marcos, matando seus ocupantes, cinco mexicanos e um venezuelano. A aeronave havia decolado no estado mexicano de Chiapas. As vítimas estariam ligadas ao Cartel de Sinaloa. Soldados do Exército apreenderam aproximadamente US$ 2 milhões do avião, segundo as autoridades. Copyright 2017 Diálogo Americas. All Rights Reserved.