Abstenção ganha espaço por falta de pedagogia

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26-01-2016
Vitória sem cartazes na campanha
Com um orçamento de cerca de 150 mil euros, Marcelo Rebelo de Sousa,
Presidente da República eleito, não teve um único cartaz na campanha eleitoral.
Apostou, no entanto, na presença na Internet, com um “site” sempre actualizado.
Coimbra
Abstenção ganha espaço
por falta de pedagogia
Vozes
Foi votar?
Como analisa o resultado?
Eleições Sociólogo analisa vitória de Marcelo e relação cidadãos/política
As elevadas taxas de abstenção
nas eleições em Portugal - e não
só no país – são um problema
que só se consegue inverter
com acções pedagógicas que
não sejam esporádicas e que
envolvam Governo, sistema
educativo e instituições, defende
o sociólogo Elísio Estanque.
Ao analisar as eleições presidenciais de domingo, que registaram uma abstenção de 51%
(em 2011 ainda foi pior, na segunda vitória de Cavaco Silva,
atingindo 53%), o professor da
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra repara
que tem havido um afastamento dos actos eleitorais, com
um aumento que oscila com o
tipo de eleição, dando o exemplo das europeias, as de nível
mais alto de abstenção.
«Além desta tendência geral»,
nestas eleições houve «um outro efeito, algo contraditório,
controverso», porque surgiu um
candidato que foi «dado como
uma certeza, difícil de combater». Uma larga faixa de pessoas
terá votado, não pela identificação política mas «pela sensação
de proximidade», por Marcelo
Rebelo de Sousa aparecer nas
casas, através da televisão, por
ser «informal, de fácil relacionamento». Os aspectos «mais
FIGUEIREDO
Abstenção reclama reflexão e combate sistematizado
plásticos» foram mais decisivos,
assinala Elísio Estanque, ao notar que isso é também «um problema para democracia».
A abstenção também o é, e o
fenómeno não é exclusivo de
Portugal. Há ideia de que a política é «sinónimo de banha da
cobra, de pessoas que não merecem credibilidade». Depois,
Elísio Estanque alude a outro
critério de afastamento, o etário.
Desde logo registado nos de
idade sénior e «menos alfabetizados», mas também nos mais
novos, que surgem até com «repulsa» da política. O sociólogo,
que tem centrado o estudo
desta questão na juventude universitária, observa que não há
dados de abstenção por faixa
etária, mas o que tem observado é que os jovens chegam à
universidade já formatados,
com «grau zero de politização».
«Penso que a nossa juventude
está um pouco confusa nesta
matéria, com uma ideia distorcida do que é a actividade política», analisa.
Na perspectiva do docente,
para inverter o fenómeno é necessário o envolvimento do sistema educativo (antes da universidade), do Governo e das
instituições na formação cívica,
com acções que não sejam esporádicas. A democracia e a cidadania visam o bem-estar geral e a consciencialização de deveres, assinala o sociólogo, ao
lembrar que a política tem um
dever com a comunidade. Ora,
no que se está a passar, com «cidadãos desconfiados, crise, problemas económicos, falta de
perspectivas», o individual não
está a fazer a relação com o colectivo. Um outro problema reside no facto de se falar por
pouco tempo na abstenção.
Empresários confiantes
Numa outra perspectiva, mais
associada à problemática económica, o Diário de Coimbra
ouviu a reacção do presidente
do Conselho Empresarial do
Centro, que expressa um sentimento de conforto perante à
eleição de Marcelo Rebelo de
Sousa, face ao que foi dizendo
na campanha. «Estamos relativamente cómodos», afirmou
José Couto, ao lembrar que o
Presidente eleito disse apostar
num «Portugal moderno, competitivo», com aposta nos jovens
e valorização da mão-de-obra.
Palavras que, atendendo à função do Presidente da República,
que também é um magistério
de influência, agradaram ao
meio empresarial e saíram reforçadas no discurso de vitória,
quando revelou a vontade de
dar atenção ao interior e à coesão social. O Presidente da República, observou José Couto,
pode, através da influência diplomática, ajudar a mediar o
acesso a mercados e na valorização de empresas. |
Alexandre Santos
Abilino Costa
Reformado
Reformado
Claro que votei. A esquerda
foi a grande culpada, porque
surgiu dividida nas eleições,
são uns bebe-água. O doutor
Marcelo ganhou [à primeira
volta] por dois por cento por
culpa do PS, e ainda houve
aquela barraca da Maria
de Belém. A verdade é que
o povo português está
desiludido e a política
está a ficar de parte.
Votei sim senhor, com
certeza. E quando ouço alguém criticar e sei que não
votou, digo-lhe que não tem
autoridade para criticar.
As eleições não foram grande
coisa, não sou do doutor
Marcelo, que andou uma
série de anos a fazer publicidade e nem precisou
de campanha.
António Gomes
Rui Oliveira
Reformado
Reformado
Voto sempre. Marcelo
não era o meu candidato,
espero que seja dedicado,
honesto e responsável, que
tenha bem senso, moderação e saiba congregar
esquerda e direita.
Não votei, nunca passei
cartão a isso e faço
questão de não passar.
Só me recenseei porque
fui obrigado.
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