BV4 a crítica BEM VIVER MANAUS, SÁBADO, 21 DE OUTUBRO DE 2006 erudito >>> Quatro pianistas se reúnem para executar obras de J.S. Bach com a Orquestra de Câmara do Amazonas, em concerto que acontece amanhã, no Teatro Amazonas Uma ‘conversa’ de pianos Fotos: Luiz Vasconcelos JONY CLAY BORGES ESPECIAL PARA A CRÍTICA 3 Com quantos pianos se faz um concerto? Para o compositor Johann Sebastian Bach (1685-1750), um instrumento só às vezes era muito pouco, e por isso ele compôs uma série de concertos para dois, três e até quatro pianos. Algumas destas obras poderão ser conhecidas no concerto que a Orquestra de Câmara realiza amanhã, a partir das 17h, no Teatro Amazonas. O espetáculo é aberto ao público. Com regência de Marcelo de Jesus, titular da OCA, o concerto vai contar com a participação dos pianistas convidados Ricardo Ballestero, Vânia Pajares e Franco Bueno, além de Irina Kazak, da Amazonas Filarmônica. O espetáculo abre com “Adágio e Fuga em Dó menor”, de W.A. Mozart (1756- 1791), em homenagem ao aniversário de 250 anos do compositor austríaco. O restante do programa será inteiramente dedicado aos concertos compostos por Bach para dois ou mais pianos: o “Concerto para dois pianos em Dó menor nº 1”, com solos executados por Irina Kazak e Franco Bueno; o “Concerto para dois pianos em Dó menor nº 3”, por Ricardo Ballestero e Vânia Pajares; o “Concerto para três pianos em Ré menor nº 4”, por Ricardo, Vânia e Franco; e, por fim, o “Concerto para quatro pianos em Lá menor nº 6”, reunindo os quatro instrumentistas. As peças de Bach selecionadas, de acordo com Marcelo, não são o “supra-sumo” da obra do compositor alemão, porém DESTAQUE O espetáculo musical vai se encerrar com uma peça de bis de Franz Liszt (18111886) para piano, baseada na ópera “As bodas de Fígaro”, de W.A. Mozart. O concerto integra a Série Guaraná 3 de concertos de música erudita. O projeto tem patrocínio da Ambev. representam criações inusitadas para a época em que foram compostas. “E vale também para não ficar apenas no repertório tradicional. (O concerto) é uma grande exploração de uma obra não usual no repertório de Bach”, salienta o maestro. Escritas originalmente para cravos, instrumento precursor do piano, as peças musicais são Os pianistas e a OCA vão apresentar concertos para dois, três e quatro pianos representativas do barroco e trazem todas as características do estilo, com melodias que se sucedem em diversas variações. De acordo com os pianistas convidados, encontrar a sintonia entre os vários instrumentos é um dos maiores desafios oferecidos pelas obras. “Não são melodias acompanhadas, elas são separadas umas das outras. É preciso ter uma noção de fraseado, e é importante ouvir o que o outro está tocando”, afirma Franco. “Descobrir qual das linhas musicais vem para a frente e passar o bastão um para o outro é um desafio”, completa Ricardo. A execução das obras de Bach para dois ou mais pianos não é comum, o que aumenta a importância da realização do concerto de hoje no TA. “São concertos raros de serem executados, a ponto de eu nunca ter visto ou ouvido falar de uma apresentação”, comenta Marcelo. Embora raras, algumas peças são relativamente conhecidas, como o primeiro dos concertos do programa de Bach. No conjunto, as obras são belas e agradáveis, facilmente assimiláveis, trazendo momentos líricos e dramáticos, por vezes bucólicos. “A música de Bach é sempre divina”, conclui Vânia. BUSCA RÁPIDA P Instrumentos de vários lugares Para realizar o concerto de amanhã, o Teatro Amazonas reuniu em seu palco todos os pianos pertencentes à Secretaria Estadual de Cultura. Além dos dois instrumentos Steinway and Sons que fazem parte do acervo da casa de ópera, foram trazidos ainda um modelo meia-cauda da mesma marca, oriundo do Centro Cultural Palácio da Justiça, e um outro meia-cauda Yamaha, vindo do Centro Cultural Usina Chaminé. SERVIÇO ??? O QUE É: Concerto da Série Guaraná 3 ONDE: Teatro Amazonas, Largo de São Sebastião, Centro QUANDO: Amanhã, às 17h ENTRADA: Gratuita Dos bastidores dos ensaios para o centro dos palcos Um detalhe importante acerca do concerto de amanhã é que todos os pianistas convidados são co-repetidores, como são chamados aqueles que fazem o acompanhamento musical nos ensaios. Segundo Marcelo de Jesus, essa foi uma forma de valorizar essa categoria de músicos pouco reconhecida, em comparação com os pianistas solistas. “Ele trabalha mais, é o verdadeiro assistente do maestro, e ainda assim é pouco valorizado. Às vezes, os nomes nem saem nos programas. Muitos nem consideram o co-repetidor um pianista”, argumenta o maestro, que também atua ao piano. Para os artistas, sair dos bastidores dos ensaios e participar de um concerto é um desafio. “Estamos acostumados a substituir a orquestra nos ensaios, e agora estamos do outro lado”, comenta Ricardo, que se disse feliz com a oportunidade de tocar ao lado dos colegas. “Meu in- Da esquerda, Ricardo Ballestero, Franco Bueno, Vânia Pajares e Irina Kazak teresse é aprender. Queremos criar um diálogo, e não apenas ‘encaixar’ a música”. Atuando pela terceira vez como solista, Irina também destaca a importância de participar do concerto. “A sensação de estar no palco é muito boa. E é pre- ciso ter responsabilidade, o que é muito bom”, afirma Vânia, que já esteve em Manaus em outras ocasiões, apreciou a chance de rever o Teatro Amazonas: “É um prazer tocar nesse teatro. É um dos mais lindos em que já toquei”.