JOVENS ESTUDANTES TRABALHADORES Fabiana Barbieri (*) Juliana Guimarães (*) Vanessa Morais e Silva (*) Ronaldo Gazal Rocha (**) Resumo No presente artigo procuramos levantar o histórico do ensino noturno, buscando avaliar motivos que levam a evasão e ao fracasso escolar dos alunos matriculados no Ensino Médio noturno – regular e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Focamos nosso estudo na modalidade presencial das escolas estaduais Pedro Macedo e Yvone Pimentel. Através da aplicação de um questionário pôde-se realizar uma comparação entre as duas modalidades de ensino, obtendo dados referentes às dificuldades encontradas pelos alunos em sala de aula, bem como a realidade vivenciada por estes estudantes-trabalhadores sugerindo alternativas metodológicas para o desenvolvimento de uma melhor relação ensino-aprendizagem voltada aos jovens matriculados no ensino noturno. Como resultado da pesquisa, o desestímulo e o trabalho surgiram como os principais aspectos responsáveis pelas estatísticas de fracasso escolar. As alternativas metodológicas giram em torno da motivação, que é um dos fatores de maior importância nesta análise, além de apontar para a necessidade de reestruturação do ensino noturno, visando adequar e melhorar a qualidade destas modalidades. Palavras chaves: evasão escolar; ensino noturno; fracasso escolar; motivação. Introdução Analisando a história educacional brasileira, as primeiras referências ao ensino noturno no país datam do período do Brasil-Império. Os registros são de 1869 e 1886, nas províncias do Amazonas, Grão-Pará, Sergipe, Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais e Paraná já demonstram que eram oferecidos cursos primários destinados ao adolescente. Através do decreto Nº7.031 de 06 de setembro de 1878, foram estabelecidas algumas normas para o funcionamento desta modalidade, como por exemplo, a utilização das escolas primárias ociosas no período noturno. Sobre isso, CARVALHO (1984, p. 23) afirma que: “Alguns registros de 1870-1880 dão conta de algumas características deste tipo de ensino: destinado ‘aos que a idade e a necessidade de trabalhar não permitiam que freqüentassem cursos diurnos’, servem ‘ao homem do povo que vive do salário’ funcionam, em locais improvisados ou cedidos, seus professores recebem apenas uma gratificação para se encarregar destas aulas” ______ (*) Acadêmicas do 4º ano de Licenciatura Plena em Biologia; Faculdades Integradas Espírita (**) Professor de Prática de Ensino e Doutorando em Educação - UFPR 950 A partir de 1933, os cursos populares noturnos são caracterizados como de adultos, com atendimento de jovens a partir de 15 anos e, somente na década de 40, o ensino noturno no Brasil passa a ser destinado a todos nas cidades e nos campos, demonstrando a “preocupação” dos governos federais e estaduais. BEISEIGEL (1997, p. 211) cita que a Campanha Nacional de Educação de Adultos realizada em 1947, a qual: "mediante a instalação do maior número possível de classes noturnas de ensino de adultos nas áreas rurais e urbanas de todo o território do País (...) pretendia, progressivamente, com o tempo, estender a educação primária à totalidade dos jovens e adultos ainda iletrados." Na década de 50, por reivindicação popular pelo acesso à escola, são instalados ginásio noturno nos grupos escolares, para que as crianças e jovens já inseridos no mercado de trabalho possam estudar. Na década de 70 e 80, o número de matrículas no período noturno aumenta consideravelmente, coincidindo com o número de jovens inseridos na população economicamente ativa, porém persiste a precariedade do ensino, que se estende até os dias de hoje. Como podemos perceber, ao longo da história educacional brasileira, o ensino noturno sempre foi considerado “marginalizado”, sendo marcado pelo descaso e improvisação. Através da aplicação de um questionário no Colégio Estadual Pedro Macedo (Ensino Médio regular), localizado no bairro do Portão e Colégio Estadual Yvone Pimentel (EJA – Ensino Médio presencial), situado no bairro Novo Mundo em Curitiba-PR, pretendeu-se realizar uma comparação entre as duas modalidades de ensino e obter dados referentes às dificuldades encontradas pelos alunos em sala de aula, bem como a realidade vivenciada por estes estudantes-trabalhadores sugerindo alternativas metodológicas para o desenvolvimento de uma melhor relação ensino-aprendizagem voltada aos alunos matriculados no ensino noturno. Função Social da Escola A rotina das escolas que abrem suas portas, à noite, preocupa professores e diretores pela desmotivação com a qual seus alunos entram em sala de aula. Neste momento estes jovens deixam de ser trabalhadores e passam a ser estudantes. 951 Os jovens, embora dentro do espaço escolar, permanecem cada vez menos dentro da sala de aula, parecendo cada vez mais desanimados em relação ao seu processo de formação como meio de ascensão social e mais distante de seus professores. Diante deste fato, VALLE (2003, p.30) afirma que: “A grande maioria desses jovens é produto de uma escolaridade sem qualidade, a que muitas crianças e jovens do nosso país estão submetidos. Chama a atenção um novo tipo de exclusão social: antes, as pessoas não tinham vagas na escola; hoje, elas entram e não aprendem, repetem ou são empurradas para as séries seguintes, até evadirem. Tornam-se jovens e adultos que recebem, apenas, um ‘verniz’ de escolaridade e um acúmulo de histórias educacionais de fracasso” Outro grande problema associado ao ensino noturno é a falta de estrutura e inadequação para o seu funcionamento. O mesmo livro/material didático, a mesma estrutura de gestão e a mesma formação de educadores utilizados para o ensino diurno, é erroneamente utilizado no período noturno. Faltam recursos condizentes com a expectativa do aluno, professores capacitados com alternativas metodológicas que motivem e chamem a atenção destes jovens trabalhadores. De acordo com ALMEIDA (1995, p. 22) "...o poder público valeu-se da instalação de classes noturnas para a expansão do ensino secundário. Assim, ao oferecer o ensino noturno, o fez pensando em expandir a Escola diurna, sem considerar que esta última fora organizada para atender ao aluno com tempo e condições diferentes daquele do noturno." A trajetória escolar é uma característica que diferencia os alunos do Ensino Médio noturno. A existência de várias realidades: a do aluno e do estudantetrabalhador, a do aluno que percorre a trajetória de escolarização sem interrupções e a daquele que retorna à escola após períodos de abandono, sugere a necessidade de se contemplar a possibilidade de oferta diversificada de ensino, criando ambientes escolares capazes de acolher a diversidade, potencializando suas escolhas futuras. A repetência e a evasão escolar são os principais responsáveis pela “gordura” do número de matrículas. Há, ainda, um número significativo de alunos em idade cronológica superior à correspondente esperada a cada série (acentuada distorção série/idade) (OLIVEIRA, 2003 p.26). 952 Causas da Evasão Escolar São várias e as mais diversas as causas da evasão escolar ou infreqüência do aluno. No entanto, levando-se em consideração os fatores determinantes dessa situação, consideram-se alguns pontos relevantes como: a escola não atrativa, professores despreparados ou insuficientes e ausência de motivação. Alunos desinteressados, indisciplinados, com problema de saúde, gravidez, responsabilidades profissionais, pois a grande maioria já está inserida no mercado de trabalho. Esta dupla condição dos jovens – trabalhadores durante o dia e estudantes à noite – é um dos principais motivos que levam estes alunos a chegarem cansados e acharem as aulas maçantes, sem o atrativo de aulas mais dinâmicas e participativas, como a utilização de computadores e de laboratório. Alguns autores, como MELLO (1983); LEITE (1988), indicam que quando indagados sobre as possíveis causas do fracasso escolar, educadores apontam como fonte principal, certas características do aluno, tais como: subnutrição, imaturidade, problemas emocionais, abandono dos pais, falta de condições econômicas, desorganização familiar entre outros. Já na obra de SOUZA (1997) diz que professores no início do processo de alfabetização de seus alunos já tendem a considerar que esses apresentem dificuldades de aprendizagem, fazendo um pré-diagnóstico que não acredita na capacidade dos estudantes para aprender, além de responsabilizá-los por suas dificuldades na escola. Na realidade existe um ciclo vicioso entre professor e aluno que precisa ser rompido: o professor tende a entrar na sala de aula, cheio de expectativas, mas também repleto de preconceitos, não acreditando que aquele aluno, daquela camada social mais desfavorecida, seja realmente capaz de aprender. De acordo com OLIVEIRA (2003, p.67): “Cabe ao professor ajudar o aluno, com acúmulo de fracassos escolares, a retomar sua autoestima e acabar com estratégias ego-defensivas que cria uma distância cada vez maior de seu próprio processo de aprendizagem. É inegável que, quando falamos da realização de qualquer tarefa, a maturidade com que o indivíduo a ela se dedica determina a qualidade do produto da mesma e a eficiência com que é realizada” Analisando a teoria de Maslow sobre a motivação, pode-se concluir que a mesma têm origem interna e não externa; as necessidades são hierárquicas, 953 (seguem uma ordem de prioridade) e, uma vez satisfeita não é mais uma força motivadora (fig. 01). Cada um de nós acende nessa hierarquia motivacional, de acordo com o seu ritmo e sua história de vida, pode-se observar que cada pessoa tem um grau de interesse, desejo, habilidade, aptidão para realizar suas atividades pessoais e profissionais. Fig. 1 - Necessidades apresentadas por MASLOW, em sua pirâmide: Fonte:Princípios e Métodos de Gestão Escolar Integrada, vol. I p.71 A maior parte das pessoas nas sociedades com elevado padrão de vida tem as suas necessidades dos três primeiros níveis (fisiológicas, de segurança e sociais) regularmente satisfeitas sem muito esforço e sem muito efeito motivacional. As necessidades superiores não surgem somente à medida que as mais baixas vão sendo satisfeitas, mas predominam as mais baixas de acordo com a hierarquia das necessidades traçada por Maslow. O comportamento do indivíduo é influenciado simultaneamente por um grande número de necessidades concomitantes, porém as necessidades mais elevadas têm uma ativação predominante em relação às necessidades mais baixas. As necessidades das camadas inferiores requerem um ciclo motivacional relativamente rápido (comer, dormir, etc.), enquanto as necessidades mais elevadas requerem um ciclo motivacional extremamente longo. Porém, se alguma necessidade mais baixa deixar de ser satisfeita durante muito tempo, ela torna-se imperativa, neutralizando o efeito das necessidades mais elevadas. A privação de uma necessidade mais baixa faz com que as energias do indivíduo se desviem para a luta pela sua satisfação. 954 Ensino Médio Regular X Ensino de Jovens e Adultos (EJA) Os alunos matriculados no ensino médio regular noturno apresentam em parte maiores interesses, ambições e expectativas, mostrando haver caminhos variados para alcançar diversos pontos de chegada. As suas motivações e o valor da educação, em sua maioria, referem-se ao trabalho e a continuidade dos estudos seguidos da realização pessoal e do valor da educação na inserção social geral, ao contrário dos alunos da educação de jovens e adultos (EJA), em que em algumas das suas manifestações sobre o sentido de se educarem é obter emprego via concursos; ter condições de ser seletivo na hora de arranjar emprego; ter um título a ser respeitado; ter dignidade sem discriminação e ter a condição de entender e fazer comparações. Comparando as duas modalidades de ensino, percebe-se que há um grande preconceito referente à Educação de Jovens e Adultos sendo o mesmo considerado de segunda oportunidade, destinado aos alunos considerados "mais fracos", defasados e menos privilegiados dos pontos de vista social e educacional. Ambas as modalidades compreendem as camadas populares, caracterizadas pela sua condição periférica. A escola noturna é marginalizada e a ela se estendem "as mazelas do ensino diurno de modo mais agravado e cumprindo as funções de seletividade e hierarquização social comumente identificadas na escola" (HADDAD et al., 2002, p. 96). Ela é a última opção de trabalho dos professores, o que, inclusive, não permite a constituição de uma identidade com a realidade da escola. Por seu lado, a educação de jovens e adultos também continua a ter condição marginal, seja no interior da unidade escolar, estigmatizada como o turno da evasão, seja no interior das secretarias de educação, pelo descompromisso. Apesar do baixo nível de escolaridade, a população brasileira permanece longo tempo na escola, persiste nela e opta pelo ensino regular, mesmo fora da idade, manifesta indícios de confiança e persistência. Sendo opção voluntária, a permanência no ensino regular, apesar da seriação, do custo de oportunidade resultante da idade mais avançada e outros possíveis fatores. Desse modo, a educação de jovens e adultos não parece estar cumprindo as suas funções, ao 955 contrário, está constituindo uma alternativa negligenciada de democratização educacional no país. Estatísticas Analisando o relatório do SAEB – Sistema de Avaliação do Ensino Básico, publicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira em 2004, pode-se avaliar uma situação extremamente crítica no Ensino Médio. Segundo a escala de desempenho proposta, cerca de 42% dos alunos do terceiro ano do Ensino Médio no país, se enquadraram em situação “muito crítica”, sendo que deste percentual 76% está matriculado no ensino noturno. Outra estatística alarmante refere-se às taxas de evasão que compreendem 17% do total de matrículas, sendo que 70% dos casos de abandono são de alunos do ensino noturno. No Paraná, de acordo com o censo escolar de 2004, foram matriculados no Ensino Médio regular (rede estadual) 61.259 alunos e na EJA Ensino Médio modalidade presencial 7.563 alunos. Analisando as escolas contempladas na presente pesquisa, os dados referentes sobre o rendimento/movimento escolar das escolas Pedro Macedo e Yvone Pimentel, obtidos através da Secretaria Estadual de Educação do Paraná, demonstram o índice de aprovação, repetência e abandono escolar (gráfico 01) de ambas instituições de ensino. Quando comparados os gráficos, percebemos que o índice de reprovação no Ensino Médio regular é muito maior que o índice encontrado na Educação de Jovens e Adultos, por outro lado quando analisamos a taxa de evasão, percebemos que a maior taxa de abandono escolar está associada a Educação de Jovens e Adultos. 956 GRÁFICO 1 - Rendimento/Movimento Escolar – Ensino Médio (Regular e EJA) MOVIMENTO ESCOLAR - ENSINO MÉDIO REGULAR 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% MOVIMENTO ESCOLAR - EJA ENSINO MÉDIO MODALIDADE PRESENCIAL 100,00% 75,90% 65,70% 71,20% 80,00% 78,90% 74,10% 60,00% 40,00% 22,00% 22,80% 11,50% 2,10% 2002 Taxa de aprovação 2003 Taxa de reprovação 21,20% 7,60% 20,00% 21,10% 0,00% 0,00% 2004 Taxa de abandono 2002 Taxa de aprovação 25,10% 0,80% 2003 Taxa de reprovação Taxa de abandono FONTE: SERE/ABC, DATA:18/07/2004 Ainda de acordo com dados da mesma secretaria, no ano de 2005 foram matriculados, no ensino médio regular noturno na Escola Estadual Pedro Macedo, 370 alunos. Destes 113 são do 1° ano, 107 do 2° ano e 150 do 3° ano. Tomando como base o livro de freqüência do 1º bimestre do 1° e 3° ano do ensino médio noturno, foi observado que o provável índice de evasão escolar do 1° ano é de 37,34% e do 3° ano de 23,37%. Com isso observa-se que os alunos do 1° ano têm uma tendência maior ao abandono do ano letivo. Não sabendo os reais motivos; podendo optar pelo retorno ao ano letivo seguinte, transferência para o EJA ou abandono total dos estudos. Na educação de jovens e adultos modalidade presencial da Escola Estadual Yvone Pimentel foram matriculados em 2005, 239 alunos, sendo 101 no segundo módulo, 67 no terceiro módulo e 61 no quarto módulo. Para evidenciar as possíveis causas da evasão e o perfil dos alunos do Ensino Médio noturno regular e Educação de Jovens e Adultos, modalidade presencial, foi realizada a aplicação de um questionário envolvendo um total de 135 alunos, sendo 91 estudantes do Ensino Médio regular noturno e 44 da EJA – Ensino Médio presencial. No questionário foram abordados itens como renda familiar, inserção no mercado de trabalho, repetência, evasão, qualidade do ensino e perspectivas futuras. No Ensino Médio Regular, os dados obtidos revelam que a idade média dos alunos matriculados no primeiro ano é 17 anos (31%), no segundo ano, 16 anos 957 (53%) e no terceiro ano, 17-18 anos (28 e 25 % respectivamente), a média mensal da renda familiar situa-se em 03 salários mínimos (35%), de 03 a 06 salários mínimos (42%), e 06 ou mais salários (23%). Dentre os entrevistados, 66% dos alunos do primeiro ano, 94% dos alunos do segundo ano e 79% dos alunos do terceiro ano estão inseridos no mercado de trabalho, sendo que 41% realiza uma carga horária de 8 horas diárias. Com relação à evasão escolar, 33% destes alunos em algum momento já abandonaram os estudos. Quando indagados sobre os motivos, a grande maioria respondeu que o trabalho e o desestímulo são os principais responsáveis. A repetência mostrou-se altíssima: 80% dos alunos do 1ºano, 61% dos alunos do segundo ano e 56% dos alunos do terceiro ano já reprovaram alguma vez, sendo a incidência maior de repetências no Ensino Fundamental. Os principais problemas referentes ao ensino apontados foram a falta de interesse do aluno (44%), falta de contato aluno-professor (21%) e a falta de recursos – infra-estrutura (20)%. Com relação do que planejam fazer quando concluírem o Ensino Médio, 45% respondeu que pretende realizar vestibular, 23% realizar um curso técnico e 15% ainda não definiram. Quando indagados sobre a possibilidade de migrarem para a EJA, 70% respondeu que não é a favor, optando por concluir seus estudos no ensino regular. Na Educação de Jovens e adultos, a faixa etária dos alunos matriculados é bem diversificada (18 a 45 anos), 66% dos entrevistados estão inseridos no mercado de trabalho realizando a carga horária de 8 horas diárias. A renda familiar mensal é de 03 salários mínimos (45%), 03 a 06 salários mínimos (36%) e 06 ou mais salários (19%). A taxa de evasão escolar, quando comparada com o Ensino Médio Regular é quase o triplo (93%), sendo os mesmos motivos indagados. A repetência compreende 72%, sendo a maior freqüência também no Ensino Fundamental. Com relação ao o que pretendem fazer após a conclusão dos estudos, 44% pretende realizar um curso técnico e 30% pretende realizar um vestibular. O maior problema de ensino enfrentado também foi a falta de interesse dos alunos (55%), seguido da falta de recursos – infra-estrutura (31%). Quando questionados os motivos que o levaram a realizar a EJA, 81% alegou a conclusão dos estudos em menos tempo, ou “pelo fato de ser mais rápido e pelo 958 atraso que cometi ao abandonar o colégio” ou “por ser mais rápido, já perdi muito tempo para fazer o normal”. Através da aplicação do questionário realizado, pode-se perceber algumas diferenças entre as duas modalidades. A Educação de Jovens e Adultos compreende um público mais velho, que considera já ter perdido muito tempo para poder concluir os estudos no ensino regular. Demonstra também que os estudantes do período noturno, realizam uma dupla jornada, conciliando trabalho e estudo. Dentre os alunos com maior tendência a abandonar os estudos ou migrar para a Educação de Jovens e Adultos, chamamos a atenção para os estudantes do 1° ano, onde a distorção série/idade é mais alta. Considerações Finais A partir da pesquisa realizada, observa-se os contrastes do ensino noturno, principalmente quando comparamos duas modalidades consideradas “marginalizadas”. O resultado do questionário demonstrou que o trabalho, a desmotivação e a falta de interesse dos alunos são os principais problemas relacionados à escola. È necessário rever a estrutura do ensino noturno, adequando-o a realidade dos alunos. A metodologia de trabalho dos professores precisa ser revista, pois o estudante do ensino noturno, possui uma vivência diferenciada dos alunos matriculados no ensino diurno. Uma das formas de melhorar a qualidade do ensino noturno, é capacitar os professores, melhorar os seus salários para que não realizem “triplas” jornadas, prejudicando os alunos. Outra forma é a inserção de metodologias diferenciadas, explorando a participação dos alunos com temáticas atuais para o trabalho com estes jovens estudantes trabalhadores. Assim pode-se gradativamente mudar a realidade e o panorama do ensino brasileiro, diminuindo as histórias de fracasso e abandono escolar, cumprindo a proposta da LDB que em seu artigo 22 diz “assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meio para progredir no trabalho e em estudos posteriores”. 959 Referências ALMEIDA, Laurinda Ramalho. "Curso noturno: uma abordagem histórica." In: TOZZI, Devanil A. (Coord.) Ensino no período noturno: contradições e alternativas. São Paulo: FDE, 1995. BEISIEGEL, Celso de Rui. "A política de educação de jovens e adultos analfabetos no Brasil". In: OLIVEIRA, Dalila Andrade. (Org.) A gestão democrática da educação. Desafios contemporâneos. Petrópolis: Editora Vozes, 1997. CARVALHO, Célia Pezzolo de. Ensino noturno: realidade e ilusão. SP: Cortez, 1984. (Coleção polêmicas do nosso tempo; vol.12) HADDAD, Sergio et al. Educação de jovens e adultos (1986-1998) Brasília: MEC/Inep/Comped, 2002.(Série Estado do Conhecimento, n. 8) INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira. Censo Escolar 2004. Disponível em: <http://www.inep.gov.br> Acesso em: 11/08/2005. INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira. Qualidade da educação: uma nova leitura do desempenho dos estudantes da 3º série do Ensino Médio. Disponível em: <http://www.inep.gov.br> Acesso em: 13/08/2005. LEITE, S. A. da S. (1988). O fracasso escolar no ensino de 1o grau. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, 69(163), 510-540. MEC – Ministério da Educação e Cultura. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Disponível em: <http://www.mec.gov.br> Acesso em: 11/08/2005. MELLO, G.N. (1983). Magistério de 1o Grau: Da competência técnica ao compromisso político. São Paulo, Cortez. OLIVEIRA, Eloiza da Silva Gomes de. Princípios e Métodos de Gestão Escolar Intergrada. Vol.1. Curitiba: IESDE, 2003. 960 SEED - Secretaria Estadual de Educação. Portal Dia-a-dia Educação. Consulta às Escolas. Disponível em: <http://www.seed.pr.gov.br/portals/portal/home.php> Acesso em: 09/05/2005. SOUZA, M.P.R. (1997). A queixa escolar e o problema de uma visão de mundo. Em A.M. Machado & M.P.R. Souza. Psicologia Escolar em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do Psicológo. VALLE, Bertha de Borja Reis do. Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino Fundamental. Curitiba: IESDE, 2003.