VARIABILIDADE DA FREQUÊNCIA CARDÍACA EM INDIVÍDUOS COM INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO Ferraz, A. C. G.¹, Santos, J. M.¹, Kawaguchi, L. Y. A.¹ ¹Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) / Fisioterapia, [email protected], [email protected] [email protected] Resumo- O objetivo deste estudo foi avaliar a Variabilidade da Freqüência Cardíaca (VFC) em homens com infarto agudo do miocárdio em tratamento clínico, durante a posição supina, e comparar estes dados estatísticos com valores encontrados na literatura sugeridos como normais, para indivíduos saudáveis sem nenhum comprometimento cardiovascular. Foram estudados 7 voluntários provenientes do hospital municipal Dr. José de Carvalho Florence, com idade entre 50 e 70 anos, pós Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), para a coleta de dados foi utilizado um frequêncímetro para avaliação da VFC durante 15 minutos em repouso. Os dados foram tratados com auxílio do software MatLab 6.1. Os resultados mostram que houve uma diminuição da VFC nos cardiopatas avaliados e salienta a importância da reabilitação cardiovascular e a valorização da análise da VFC como instrumento para investigação do Sistema Nervoso Autônomo. Palavras-chave: Variabilidade da freqüência cardíaca, Infarto Agudo do Miocárdio. Área do Conhecimento: Ciências da Saúde e Fisioterapia Introdução Nas últimas décadas, tem aumentado significativamente o número de pacientes com enfermidades cardiovasculares que necessitam de cuidados intensivos clínicos ou cirúrgicos. Diante dessa realidade, a assistência geral a esses pacientes teve grande incremento e aperfeiçoamento com o avanço das especialidades médicas, da tecnologia e da participação de uma equipe multidisciplinar para tratar esses pacientes, usar os equipamentos com eficiência e reduzir a mortalidade. (REGENGA, 2000). O coração humano saudável apresenta uma variação de sua freqüência de funcionamento, batimento a batimento, como conseqüência dos ajustes promovidos pelo sistema nervoso autônomo (SNA) para manutenção da homeostasia. Existem alguns meios de avaliar essa interação coração e SNA entre elas temos a análise da variabilidade da freqüência cardíaca. A análise da variabilidade da freqüência cardíaca (VFC) permite uma avaliação não invasiva e seletiva da função autonômica constituindo um indicador prognóstico de algumas doenças cardíacas. Algumas pesquisas demonstram que a maior atividade simpática e a reduzida atividade parassimpática, ou seja, que a diminuição da variabilidade da freqüência cardíaca está relacionada a um maior índice de mortalidade cardiovascular e a uma alta variabilidade da freqüência cardíaca reflete uma melhor saúde do sistema cardiovascular, envolvendo indivíduos saudáveis com boa função do mecanismo de controle autonômico (PASCHOAL; PETRELLUZZI; GONÇALVES, 2002). A diminuição da VFC constitui um importante fator prognóstico para o aparecimento de eventos cardíacos. Em pacientes após infarto agudo do miocárdio (IAM) a redução da VFC já foi estabelecida como um fator de risco (FARREL, 1991). A VFC pode ser determinada através do sinal eletrocardiográfico, resultando em séries de tempo (intervalos RR) cujas variações na duração, fornecem informações sobre o SNA e seu controle sobre o coração (TASK FORCE, 1996). Por isso, o objetivo deste estudo foi avaliar a VFC em indivíduos do sexo masculino, infartados, e comparar com a VFC de indivíduos sadios. Metodologia Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Paraíba (protocolo n° H014/CEP/2009), e os voluntários, após concordarem em participar do experimento, assinaram um termo de consentimento formal de participação na pesquisa. Foram estudados 7 voluntários no Hospital Municipal Dr. José de Carvalho Florence – São José dos Campos - SP, com idade entre 50 e 70 anos do sexo masculino, com Infarto agudo do miocárdio em área inferior, antes de serem submetidos a angioplastia ou terem sofrido IAM XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 prévio, todos faziam uso de terapia betabloqueadora. Os voluntários estavam em tratamento clínico com tempo médio de internação de 10 dias, durante a coleta estavam na posição supina no leito, com cabeceira elevada a 45º. Critérios de exclusão: indivíduos que apresentavam fibrilação atrial, disfunção do nó sinusal, distúrbios de condução atrioventricular e marcapasso artificial. A coleta de dados foi constituída de Entrevista para explicação; avaliação semiológica, anamnese; história da moléstia pregressa e atual, investigação de patologias associadas, hábitos e vícios, uso de medicamentos; exame físico dando ênfase à avaliação cardiopulmonar, avaliação dos sinais vitais, e; análise de informações do prontuário, sobre área de IAM, eletrocardiograma, cateterismo cardíaco e outros exames; e captação dos intervalos RR através do frequêncímetro da marca Polar® S810i e cinta de transmissão para obtenção dos dados para a análise da variabilidade da freqüência cardíaca. Os experimentos foram realizados num mesmo período do dia (16:00h-18:00h), e no mínimo 24h após o exame de cateterismo cardíaco. Os voluntários foram orientados a se manterem em repouso, evitando conversar. Universidade do Vale NASCIMENTO, 2007. por Tabela 1- Parâmetros Estatísticos no Domínio do Tempo (DT) e da Frequência (DF). Indice RMSSD(ms) Obtido os intervalos RR, os dados foram transmitidos para o software POLAR PRECISION PERFORMANCE SW, através do sensor infravermelho, onde foram filtrados (aceitos dados com correção de até 5% do sinal), depois salvos em arquivo .txt e tratados com o auxílio do software Matlab 6.1, no domínio do tempo e da freqüência, através da função 'analisevfc' desenvolvida no Instituto de Ensino e Pesquisa da Paraíba Figura 2- Transmissão do sinal do monitor Polar S810i® para software Polar Precision Perfomance® via infravermelho. Disponível em: www.polar.fi/en/support/product_support. Acesso em 28/08/2009. SDNN(ms) Figura 1- Sensor WearLink® e Monitor Cardíaco Polar S810i® para captação do intervalo RR. Disponível em: www.sportsonline.com.br/monitor_cardiaco_polar_ s810.htm . Acesso em 28/08/2009. do Domínio Definição DT Média do padrão intervalos medida segmentos minutos. DT Raiz quadrada da média das diferenças sucessivas ao quadrado, entre RR adjacentes. pNN50(%) DT Relação Simp./ Parassimp. DF desvio dos R-R, em de 5 Porcentagem das diferenças sucessivas entre os intervalos R-R que são >50ms. Interações entre os componentes de baixa e alta freqüência, simpático e parassimpático, do sistema nervoso autônomo no coração. Resultados XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 O índice RMSSD foi usado como referência preferencial por ser considerado o mais específico, embora todos os índices da VFC obtidos pelo DT e DF tenham sido igualmente avaliados. SDNN RMSSD pNN50 9,816 11,129 14,943 12,162 21,447 17,637 16,263 8,747 0 0,18 0 2,34 1,25 0,99 0 20,409 28,976 21,711 21,510 33,148 21,535 Relação 0,067 4,498 3,784 0,841 1,130 3,417 3,769 Na relação simpático/parassimpático encontramos média de 2,50 ms, com o menor valor encontrado de 0,06 ms, sendo valor bem inferior a normalidade. Figura 3 - Representação gráfica do índice RMSSD em relação aos voluntários participantes da pesquisa. Tabela 2 – Resultados em Médias e Desvios padrão dos sujeitos avaliados expressos nos índices no domínio do tempo (DT) SDNN, RMSSD, pNN50, e no domínio da freqüência (DF) Relação Simpático/Parassimpático. Indice Média Desvio Padrão SDNN(ms) 22,44 7,33 RMSSD(ms) 14,61 4,30 pNN50(%) 0,68 0,89 Relação Simp / Parassimp 2,50 1,76 Observamos na tabela 2 que a média e desvio padrão respectivamente dos índices RMSSD foram de de 14,61 ± 4,30 e a Relação Simpatico/Parassimpático foi de 2,50 ± 1,76. Tabela 3 - Resultados de cada sujeito isoladamente, expressos nos índices no domínio do tempo (DT) SDNN, RMSSD, pNN50, e no domínio da freqüência (DF) Relação Simpático/Parassimpático. Discussão Nossos resultados corroboram com os dados de Kunz (2007) onde indivíduos sadios, sedentários, com idade média de 56 anos em posição supina apresentaram valores medianos de RMSSD de 21,75 ms e Relação simpático/parassimpático de 2,82 ms; No grupo de infartados, pós angioplastia, apresentaram valores medianos de RMSSD de 14,54 ms, e Relação simpático/parassimpático de 2,14 ms, demonstrando que a VFC se mostra diminuída em indivíduos cardiopatas infartados mesmo após cirurgia. Outro estudo, de Reis (2005), também apresenta valores medianos de RMSSD de 21,74 ms para um grupo de homens de meia idade, saudáveis, sedentários, em posição supina, sendo este superior aos valores encontrados nos indivíduos infartados deste estudo, indicando uma menor variabilidade após a lesão cardíaca. Esta diminuição da VFC representa uma menor adaptação a variações dos intervalos RR, indicando a presença de um mau funcionamento fisiológico (PUMPRLA, 2002). Neste estudo, os indivíduos faziam uso de betabloqueadores à um tempo médio de 10 dias, fato que influencia na VFC, de modo positivo, porém discreto devido ao pouco tempo do uso do medicamento. Segundo Lampert (2003) um estudo realizado com indivíduos infartados, com uma semana e após seis semanas de uso de propranolol, apresentaram maior VFC após o uso das seis semanas do betabloqueador. Também devemos levar em consideração o fato dos indivíduos estarem na meia idade. Trabalhos como os de Stratton (2003) e Antelmi (2004) têm associado a diminuição da variabilidade da frequência cardíaca, no processo XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 de envelhecimento, com a redução da atividade vagal sobre o nodo sinusal. Depressão relativa ou absoluta da atividade parassimpática pode ocorrer também em associação com hiperatividade simpática absoluta (simpaticotonia absoluta), como no caso do infarto agudo do miocárdio (JUNIOR, 1998). A presença de cardiopatias podem levar a um decrèscimo na atividade vagal e relativa predominância simpática. Por outro lado, o treinamento físico aeróbio com exercício dinâmico realizado por período, intensidade e duração adequados pode alterar o balanço simpato-vagal no coração. (NOVAIS, 2004). A prática regular de exercícios físicos é capaz de influenciar os sistemas nervosos autônomos simpático e parassimpático a longo prazo (FILHO; RIBEIRO, 2005). O reajuste do balanço simpato-vagal no coração com aumento da modulação vagal é uma das mudanças adaptativas na regulação neural produzida pelo exercício físico; efeito similar tem sido descito em alguns trabalhos em relação ao treinamento físico aeróbio aumentar a VFC em pacientes pós-infarto do miocárdio (LELLAMO, 2001). Estudos como de Mendes (2008), salientam a importância da Fisioterapia Cardiovascular e adequação de hábitos de vida para que o indivíduos cardiopatas infartados possam ter uma melhora da VFC e conseqüente melhor qualidade de vida, prevenindo novos eventos cardíacos e sintomas da lesão, como angina, dispnéia e outros. signal-averaged electrocardiogram. Am. Journal of Cardiology, v.18, p. 687-97, 1991. FILHO, R. S. M.; RIBEIRO, J. P. Variabilidade da Frequência Cardíaca como instrumento de investigação do sistema nervoso autônomo em condições fisiológicas e patológicas. Rev HCPA, v. 3, n. 25, p. 99-106, 2005. J. THOMAS BIGGER at al. Task Force - Heart Rate Variability. European Heart Journal, v. 17, p. 354–381, 1996. JUHA S. PERKIOMAKI. Autonomic Markers as Predictors of Nonfatal Acute Coronary Events after Myocardial Infarction - A.N.E. v. 13, n. 2, 2008. JUNIOR, L. F. J. Disfunção Autonômica Cardíaca. Doenças do Coração – Tratamento e Reabilitação. Ed. 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