43 Trabalho 7 - 1/4 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE COM XERODERMIA PIGMENTAR: RELATO DE EXPERIÊNCIA Renata Pereira de Melo1 Lívia Zulmyra Cintra Andrade2 Fernanda Jorge Magalhães3 Flávia Paula Magalhães Monteiro4 Introdução: O Xeroderma Pigmentoso (XP) é uma doença autossômica recessiva rara, na qual o paciente apresenta extrema sensibilidade à radiação ultravioleta, devido à falha no mecanismo de excisão e reparo do ácido desoxirribonucleico (DNA). Caracteriza-se, principalmente, por manifestações dermatológicas, tais como: atrofia cutânea, queratose, telangectasias, hiperpigmentação e neoplasias em áreas expostas à luz solar. As lesões cutâneas estão presentes nos primeiros anos de vida evoluindo de forma lenta e progressiva, as quais estão diretamente relacionadas à exposição solar. Dados referem que cerca de 80% dos indivíduos com XP apresentam alterações oftalmológicas como fotofobia, conjuntivite, opacidade da córnea e o desenvolvimento de tumores oculares; 20% apresentam alterações neurológicas tais como microcefalia, ataxia, diminuição ou perda dos reflexos motores, espasticidade, surdez neurossensorial e retardo mental. Em alguns casos, podem estar associados à hipodesenvolvimento sexual e nanismo. O XP predispõe o desenvolvimento de neoplasias cutâneas, com destaque para o carcinoma basocelular e o espinocelular, com acometimento mais frequente de face e o pescoço.1 Diante de tais aspectos e da oportunidade de realizar o cuidado de enfermagem a uma criança com XP, surgiu a indagação: é possível propor uma assistência de enfermagem embasada nas etapas da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) a uma criança com diagnóstico de XP? Objetivo: Descrever uma experiência de cuidado holístico e humanizado a uma criança com XP, embasadas nas cinco etapas da SAE. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência desenvolvido na unidade pediátrica de um hospital-escola da cidade de Fortaleza-CE1 *Atividade desenvolvida junto à disciplina Processo de Enfermagem no Cuidar da Criança II do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Enfermeira, discente do curso de Doutorado em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Bolsista CAPES; 2 Acadêmica do 7º semestre do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará; 3 Enfermeira especialista em enfermagem neonatal. Professora substituta do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará; 4 Enfermeira, discente do curso de Doutorado em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Bolsista CNPq. 44 Trabalho 7 - 2/4 Brasil. O participante do estudo foi uma criança de 10 anos, sexo masculino, com diagnóstico de Xerodermia Pigmentosa e Carcinoma Basocelular (CBC). O mesmo recebeu assistência de enfermagem embasada na SAE pelas acadêmicas de enfermagem, durante o período de maio de 2010, no estágio curricular da disciplina de Processo de Enfermagem no Cuidar da Criança II. Para a coleta dos dados foi realizada a primeira etapa da SAE, mediante roteiro de levantamento de dados por meio de anamnese e exame físico céfalo-caudal, contemplando os 13 domínios de Enfermagem da Taxonomia II da NANDA2. Além disso, foram colhidas informações advindas da responsável/cuidadora. Para análise dos dados, foi realizada busca na literatura pertinente ao tema, assim como utilização das outras etapas da SAE, como: diagnóstico de enfermagem, planejamento, implementação (intervenções de enfermagem) e a evolução ou avaliação de enfermagem3. Resultados: Durante o processo de aprendizado, como acadêmicas de enfermagem ao prestar assistência a uma criança com XP e CBC, observou-se que a primeira etapa da SAE traz informações preciosas para compreender a história pregressa do paciente, a evolução da patologia e como a criança se encontra no momento atual em relação aos aspectos bio-psico-desenvolvimental. Portanto, traz-se um relato sucinto sobre a criança em estudo como: Criança, sexo masculino, 10 anos, consciente, orientado, pouco contactante, deambulando, higienizado, eupnéico, anictérico, acianótico, hipocorado, emagrecido, normotérmico, normocefálico, presença de lesão serosanguinolenta, profunda, com bordas irregulares, placas de alopécia químicas em couro cabeludo. Face desfigurada por lesão extensa, serossanguinolenta, com áreas necróticas e odor fétido. Perda do globo ocular direito, cartilagem e osso nasal com lesões necróticas. Lesão perioral, exteriorização de dentes, presença de dentes cariados e comunicação verbal prejudicada. Lesão na região auricular bilateralmente. Pele do tipo xerótica, com efélides difusas e lesões cutâneas com secreção purulenta. Quanto à avaliação nutricional, criança apresentou desnutrição crônica devido ao peso muito baixo para a idade, IMC e estatura muito baixo para a idade. Queixa-se de desconforto e dor durante a limpeza das lesões. Refere disfagia significativa, prejudicando alimentação e administração de terapia medicamentosa. Eliminações fisiológicas presentes. O paciente se apresenta introspectivo e não interage com as outras crianças. Além disso, o responsável refere que a criança sente-se só, pois foi abandonado pelos genitores devido patologia. Na segunda etapa, evidenciamos 45 Trabalho 7 - 3/4 alguns diagnósticos de enfermagem, específicos para a condição clínica e psicológica da criança, baseados na Taxonomia da NANDA, dos quais consideramos como críticos e passíveis de intervenção: Integridade da pele prejudicada, Percepção sensorial perturbada, Nutrição desequilibrada: menos do que as necessidades corporais, Dor crônica, Mucosa oral prejudicada, Deglutição prejudicada, Interação social prejudicada. No que diz respeito à terceira etapa da SAE, verificamos a importância de um planejamento adequado e direcionado à criança com XP e CBC. Por conseguinte, a quarta etapa da SAE, constituída pela implementação das intervenções de enfermagem na qual se propõe um cuidado holístico, humanizado e eficaz para o binômio criançafamília4, foram desenvolvidos os cuidados: aplicar permanganato de potássio e clorexidina para limpeza as lesões; realizar curativo ocular; proceder a um cuidado meticuloso com a pele; proteger a área lesionada da luz solar; orientar quanto a aceitação e aprendizado de métodos alternativos para viver conviver com a redução da visão; providenciar alimentos com alto teor calórico e protéico para suprir as necessidades corporais do metabolismo e crescimento; acrescentar suplementos nutricionais aos alimentos; utilizar estratégias não-farmacológicas a fim de minimizar a dor referida pela criança; apoiar a presença do cuidador durante os procedimentos dolorosos de modo a transmitir segurança e confiança à criança; cuidar das lesões orais com tratamento medicamentoso prescrito, assim como orientar a equipe multidisciplinar, em especial a nutricionista a administrar uma dieta branda e pastosa, assim como evitar sucos cítricos, alimentos quentes ou condimentosos; estimular a criança a participar de atividades com outras crianças e com familiares, incentivando-o ao vínculo de amizades. Considerações Finais: Estes achados possibilitaram às acadêmicas de enfermagem a compreensão da utilização do Processo de Enfermagem no cuidado à criança portadora de patologias cutâneas, identificando os principais problemas e intervindo nas reais necessidades apresentadas, de forma crítica-reflexiva e científica, fundamentado na literatura pertinente. Além disso, vale ressaltar a satisfação em explicitar a experiência da realização da SAE junto a uma criança com diagnóstico de XP e CBC, visto compreender uma atividade de enfermagem específicamente respaldada na lei, a qual se caracteriza pela relevante contribuição para a assistência adequada à criança no ambiente hospitalar. Palavras-chave: Enfermagem; Criança; Sistematização da Assistência. 46 Trabalho 7 - 4/4 Área temática: Sistematização da Assistência de Enfermagem na Atenção à Saúde ao indivíduo nas diferentes fases da vida. Referências 1- Oliveira CRD, Elias L, Barros ACM, Conceição DB. Anestesia em paciente com Xeroderma Pigmentoso: relato de caso. Rev. Bras. Anestesiol. [serial on the Internet]. 2003 Feb [cited 2010 May 16] ; 53(1): 46-51. Available from: http://www.scielo.br/scielo. 2- NANDA, North American Nursing Diagnosis Association. Diagnóstico de Enfermagem da NANDA: definições e classificação 2009-2011. Porto Alegre: Artmed; 2009. 3- Alfaro-Lefevre R. Aplicação do processo de enfermagem: promoção do cuidado colaborativo. 5a ed. Porto Alegre: ArtMed; 2005. 4- Arone EM, Cunha ICKO. Tecnologia e humanização: desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistência. Rev. Bras. Enferm 2007; 60 (6): 721-723.