assistência de enfermagem ao paciente com

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ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE COM
XERODERMIA PIGMENTAR: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Renata Pereira de Melo1
Lívia Zulmyra Cintra Andrade2
Fernanda Jorge Magalhães3
Flávia Paula Magalhães Monteiro4
Introdução: O Xeroderma Pigmentoso (XP) é uma doença autossômica recessiva rara,
na qual o paciente apresenta extrema sensibilidade à radiação ultravioleta, devido à
falha no mecanismo de excisão e reparo do ácido desoxirribonucleico (DNA).
Caracteriza-se, principalmente, por manifestações dermatológicas, tais como: atrofia
cutânea, queratose, telangectasias, hiperpigmentação e neoplasias em áreas expostas à
luz solar. As lesões cutâneas estão presentes nos primeiros anos de vida evoluindo de
forma lenta e progressiva, as quais estão diretamente relacionadas à exposição solar.
Dados referem que cerca de 80% dos indivíduos com XP apresentam alterações
oftalmológicas como fotofobia, conjuntivite, opacidade da córnea e o desenvolvimento
de tumores oculares; 20% apresentam alterações neurológicas tais como microcefalia,
ataxia, diminuição ou perda dos reflexos motores, espasticidade, surdez neurossensorial
e retardo mental. Em alguns casos, podem estar associados à hipodesenvolvimento
sexual e nanismo. O XP predispõe o desenvolvimento de neoplasias cutâneas, com
destaque para o carcinoma basocelular e o espinocelular, com acometimento mais
frequente de face e o pescoço.1 Diante de tais aspectos e da oportunidade de realizar o
cuidado de enfermagem a uma criança com XP, surgiu a indagação: é possível propor
uma assistência de enfermagem embasada nas etapas da Sistematização da Assistência
de Enfermagem (SAE) a uma criança com diagnóstico de XP? Objetivo: Descrever
uma experiência de cuidado holístico e humanizado a uma criança com XP, embasadas
nas cinco etapas da SAE. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência
desenvolvido na unidade pediátrica de um hospital-escola da cidade de Fortaleza-CE1
*Atividade desenvolvida junto à disciplina Processo de Enfermagem no Cuidar da Criança II do curso de graduação em
Enfermagem da Universidade Federal do Ceará.
Enfermeira, discente do curso de Doutorado em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Bolsista CAPES;
2
Acadêmica do 7º semestre do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará;
3
Enfermeira especialista em enfermagem neonatal. Professora substituta do curso de graduação em Enfermagem da Universidade
Federal do Ceará;
4
Enfermeira, discente do curso de Doutorado em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Bolsista CNPq.
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Brasil. O participante do estudo foi uma criança de 10 anos, sexo masculino, com
diagnóstico de Xerodermia Pigmentosa e Carcinoma Basocelular (CBC). O mesmo
recebeu assistência de enfermagem embasada na SAE pelas acadêmicas de
enfermagem, durante o período de maio de 2010, no estágio curricular da disciplina de
Processo de Enfermagem no Cuidar da Criança II. Para a coleta dos dados foi realizada
a primeira etapa da SAE, mediante roteiro de levantamento de dados por meio de
anamnese e exame físico céfalo-caudal, contemplando os 13 domínios de Enfermagem
da Taxonomia II da NANDA2. Além disso, foram colhidas informações advindas da
responsável/cuidadora. Para análise dos dados, foi realizada busca na literatura
pertinente ao tema, assim como utilização das outras etapas da SAE, como: diagnóstico
de enfermagem, planejamento, implementação (intervenções de enfermagem) e a
evolução ou avaliação de enfermagem3. Resultados: Durante o processo de
aprendizado, como acadêmicas de enfermagem ao prestar assistência a uma criança com
XP e CBC, observou-se que a primeira etapa da SAE traz informações preciosas para
compreender a história pregressa do paciente, a evolução da patologia e como a criança
se encontra no momento atual em relação aos aspectos bio-psico-desenvolvimental.
Portanto, traz-se um relato sucinto sobre a criança em estudo como: Criança, sexo
masculino, 10 anos, consciente, orientado, pouco contactante, deambulando,
higienizado, eupnéico, anictérico, acianótico, hipocorado, emagrecido, normotérmico,
normocefálico, presença de lesão serosanguinolenta, profunda, com bordas irregulares,
placas de alopécia químicas em couro cabeludo. Face desfigurada por lesão extensa,
serossanguinolenta, com áreas necróticas e odor fétido. Perda do globo ocular direito,
cartilagem e osso nasal com lesões necróticas. Lesão perioral, exteriorização de dentes,
presença de dentes cariados e comunicação verbal prejudicada. Lesão na região
auricular bilateralmente. Pele do tipo xerótica, com efélides difusas e lesões cutâneas
com secreção purulenta. Quanto à avaliação nutricional, criança apresentou desnutrição
crônica devido ao peso muito baixo para a idade, IMC e estatura muito baixo para a
idade. Queixa-se de desconforto e dor durante a limpeza das lesões. Refere disfagia
significativa, prejudicando alimentação e administração de terapia medicamentosa.
Eliminações fisiológicas presentes. O paciente se apresenta introspectivo e não interage
com as outras crianças. Além disso, o responsável refere que a criança sente-se só, pois
foi abandonado pelos genitores devido patologia. Na segunda etapa, evidenciamos
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alguns diagnósticos de enfermagem, específicos para a condição clínica e psicológica da
criança, baseados na Taxonomia da NANDA, dos quais consideramos como críticos e
passíveis de intervenção: Integridade da pele prejudicada, Percepção sensorial
perturbada, Nutrição desequilibrada: menos do que as necessidades corporais, Dor
crônica, Mucosa oral prejudicada, Deglutição prejudicada, Interação social prejudicada.
No que diz respeito à terceira etapa da SAE, verificamos a importância de um
planejamento adequado e direcionado à criança com XP e CBC. Por conseguinte, a
quarta etapa da SAE, constituída pela implementação das intervenções de enfermagem
na qual se propõe um cuidado holístico, humanizado e eficaz para o binômio criançafamília4, foram desenvolvidos os cuidados: aplicar permanganato de potássio e
clorexidina para limpeza as lesões; realizar curativo ocular; proceder a um cuidado
meticuloso com a pele; proteger a área lesionada
da luz solar; orientar quanto a
aceitação e aprendizado de métodos alternativos para viver conviver com a redução da
visão; providenciar alimentos com alto teor calórico e protéico para suprir as
necessidades corporais do metabolismo e crescimento; acrescentar suplementos
nutricionais aos alimentos; utilizar estratégias não-farmacológicas a fim de minimizar a
dor referida pela criança; apoiar a presença do cuidador durante os procedimentos
dolorosos de modo a transmitir segurança e confiança à criança; cuidar das lesões orais
com
tratamento
medicamentoso
prescrito,
assim
como
orientar
a
equipe
multidisciplinar, em especial a nutricionista a administrar uma dieta branda e pastosa,
assim como evitar sucos cítricos, alimentos quentes ou condimentosos; estimular a
criança a participar de atividades com outras crianças e com familiares, incentivando-o
ao vínculo de amizades. Considerações Finais: Estes achados possibilitaram às
acadêmicas de enfermagem a compreensão da utilização do Processo de Enfermagem
no cuidado à criança portadora de patologias cutâneas, identificando os principais
problemas e intervindo nas reais necessidades apresentadas, de forma crítica-reflexiva e
científica, fundamentado na literatura pertinente. Além disso, vale ressaltar a satisfação
em explicitar a experiência da realização da SAE junto a uma criança com diagnóstico
de XP e CBC, visto compreender uma atividade de enfermagem específicamente
respaldada na lei, a qual se caracteriza pela relevante contribuição para a assistência
adequada à criança no ambiente hospitalar.
Palavras-chave: Enfermagem; Criança; Sistematização da Assistência.
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Área temática: Sistematização da Assistência de Enfermagem na Atenção à Saúde ao
indivíduo nas diferentes fases da vida.
Referências
1- Oliveira CRD, Elias L, Barros ACM, Conceição DB. Anestesia em paciente com
Xeroderma Pigmentoso: relato de caso. Rev. Bras. Anestesiol. [serial on the
Internet]. 2003 Feb [cited 2010 May 16] ; 53(1): 46-51. Available from:
http://www.scielo.br/scielo.
2- NANDA, North American Nursing Diagnosis Association. Diagnóstico de
Enfermagem da NANDA: definições e classificação 2009-2011. Porto Alegre:
Artmed; 2009.
3- Alfaro-Lefevre R. Aplicação do processo de enfermagem: promoção do cuidado
colaborativo. 5a ed. Porto Alegre: ArtMed; 2005.
4- Arone EM, Cunha ICKO. Tecnologia e humanização: desafios gerenciados pelo
enfermeiro em prol da integralidade da assistência. Rev. Bras. Enferm 2007; 60 (6):
721-723.
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