UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA DEPARTAMENTO DE BIOTECNOLOGIA SARA DE MORAIS DOS SANTOS BACTÉRIAS RESISTENTES A ANTIBIÓTICOS Lorena 2016 SARA DE MORAIS DOS SANTOS BACTÉRIAS RESISTENTES A ANTIBIÓTICOS Monografia apresentada à Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo como requisito parcial para obtenção do título de Engenheira Bioquímica. Orientadora: Professora Bernadete de Medeiros Lorena 2016 Doutora Maria AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizado da Escola de Engenharia de Lorena, com os dados fornecidos pelo(a) autor(a) Santos, Sara de Morais dos Bactérias resistentes a antibióticos / Sara de Morais dos Santos; orientadora Professora Doutora Maria Bernadete de Medeiros. - Lorena, 2016. 50 p. Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão de Graduação do Curso de Engenharia Bioquímica - Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo. 2016 Orientadora: Professora Doutora Maria Bernadete de Medeiros 1. Bactérias resistentes . 2. Antibióticos. 3. Infecção hospitalar. I. Título. II. Medeiros, Professora Doutora Maria Bernadete de, orient. AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, a quem devo tudo. Pela fé maravilhosa que me vivifica a cada dia. A qual tem me guiado por um caminho impensado. Aos meus pais, por muitas coisas mais principalmente pelo apoio, companhia e zelo. A minha irmã Ana pelas conversas e ajudas prestadas na elaboração desse trabalho. E aos outros três irmãos, que sempre estão dispostos a colaborar. Aqueles cinco pequenos, que trouxeram uma nova luz em minha vida. A professora Maria Bernadete, pela paciência e orientação. Bem como esforço que nos tem contagiado durante todos esses meses. Também, a Bárbara e ao Fabrício. A Regina Horta pelas palestras e sugestões. E a todos os funcionários da biblioteca pelo suporte. A teacher Ariane que me ajudou com o abstract. E, aos demais, professores, colegas e amigos, dos quais fizeram parte desse projeto, indiretamente. Mas cujas ações foram essenciais no aprendizado e amadurecimento. RESUMO SANTOS, S.M. Bactérias resistentes a antibióticos. 2016. 50f. Monografia (Graduação) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2016. O crescente aumento na proporção de bactérias resistentes a antibióticos se deve a fácil replicação desses microrganismos, que leva apenas 20 minutos; e também, pela transferência horizontal de genes (conjugação) através de plasmídeos, que contenham os genes de resistência. Estudos realizados revelaram que as bactérias resistentes estão freqüentemente associadas a infecções: cirúrgicas; respiratórias; gastrointestinais; urinárias e do sangue. Assim como infecções dermatológicas em casos de queimaduras. O perfil do paciente infectado varia muito, sendo mais comum entre idosos (acima de 60 anos) e recém-nascidos, dependendo do patogênico. A presença de doenças crônicas como diabetes e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) são agravantes no quadro clínico do paciente. Fatores externos como tempo de hospitalização acima de duas semanas aumentam o risco de contrair microrganismos resistentes e em casos de bactérias mais agressivas esse tempo pode se limitar a 3 dias. Os tratamentos utilizando dois ou mais antibióticos combinados levou a redução na mortalidade dos pacientes. E, quando o medicamento não é utilizado por um período, a resistência a ele diminui, sendo assim, a utilização de antibióticos de forma intercalada seria uma solução na tentativa de prolongar a usabilidade das drogas. Diante da crise eminente no setor farmacêutico, causado pela dificuldade no desenvolvimento de novos antibióticos, as diversas técnicas disponíveis devem ser empregadas em conjunto. Além da conscientização da população para o uso racional da droga. Palavras chave: Bactérias resistentes; Antibióticos; Infecção hospitalar. ABSTRACT SANTOS, S.M. Antibiotic-resistant bacteria. 2016. 50f. Monografia (Graduação) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2016. The rising on the proportion of resistant bacteria to antibiotic is due to the facilitated replication of this microorganism, which takes only 20 minutes; and also because of the horizontal genes exchange in conjugation, when the plasmids are exchanged and which contains the resistance genes. Studies have shown that bacteria’s resistant are usually related to surgery, respiratory, gastrointestinal, renal and blood infections, besides, in cases of burns dermatological infections. The general profile of patients varies, being more common between elderly (over 60 years old) and newborn babies, depending on the pathogenic. If the patient has a chronic disease like diabetes or AIDS that would makes his clinical situation worse. External factors, as hospitalization time over two weeks, rise the risk of getting a infection, and, when the bacteria is more aggressive, this time can be reduced to three days. The mortality rate decreased when two or more medicines were used together with combined effects. And, when the drug isn’t used for a while the resistance drops, so, shifting the antibiotics would be a solution to prolong the usage. In front of the crisis in the pharmaceutical industry, due to difficulty of developing new antibiotics, all the techniques must be consider and used together. Also, the population needs to become aware of the problems of using antibiotic unconsciously. Key-words: Resistant bacteria; Antibiotic; Hospital-acquired infections. LISTA DE FIGURAS Figura 3.1 – Placa de cultivo original de Fleming, que mostra uma colônia de Penicillium provocando a lise de estafilococos....................................................................................... 16 Figura 3.2 – Estrutura da parede celular de bactérias Gram-positivas e seus principais constituintes. ........................................................................................................................ 17 Figura 3.3 – Estrutura da parede celular de bactérias Gram-negativas e seus principais constituintes. ........................................................................................................................ 18 Figura 3.4 – Espectro de ação antibiótico de diversas drogas antimicrobianas. .................. 23 Figura 3.5 – Estrutura química da penicilina G, com o anel β-lactâmico sinalizado. ......... 25 Figura 3.6 – Penicilinas semi-sintéticas através de síntese orgânica. .................................. 25 Figura 3.7 – Estrutura química geral de cefalosporinas....................................................... 26 Figura 3.8 – Estrutura química da tetraciclina e análogos. .................................................. 27 Figura 3.9 – Estrutura química de estreptomicina e kanamicina, pertencente à classe dos antibióticos aminoglicosídeos. ............................................................................................. 28 Figura 3.10 – Estrutura química da eritromicina, pertencente ao grupo dos macrolídeos. . 29 Figura 3.11 – Mapa genético do plasmídeo de resistência R100......................................... 31 Figura 3.12 – Ação da β-lactamase sobre a penicilina. ....................................................... 33 Figura 3.13 – Mecanismos de resistência a antibióticos, onde o antimicrobiano (ATM) é inibido de diversas formas. .................................................................................................. 34 LISTA DE TABELAS E GRÁFICO Tabela 3.1 – Número de antibióticos produzidos por grupos de microrganismos. .............. 20 Tabela 3.2 – Mecanismos de resistência bacteriana a antibióticos. ..................................... 35 Tabela 3.3 – Estimativa das infecções adquiridas em Hospitais, nos Estados Unidos em 2011...................................................................................................................................... 38 Gráfico 4.1 – Vendas de antibióticos em 2009 no mundo. .................................................. 47 LISTA DE ABREVIATURAS 6-APA - Ácido-6-aminopenicilânico AcBMR - Acinetobacter baumannii multirresistente ADN - Ácido desoxirribonucléico ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária ARN – Ácido ribonucléico ATM – Antimicrobiano CDC – Centros de Controle e Prevenção de Doenças Norte Americano ERV - Enterococcus resistentes a vancomicina KPC - Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenamase LPS - Lipopolissacarídeo OMS - Organização Mundial da Saúde PABA – Ácido para-aminobenzóico PAMR - Pseudomonas aeruginosa multirresistente SARM - Staphylococcus aureus resistentes a meticilina SARV - Staphylococcus aureus resistente a vancomicina SIDA – Síndrome da imunodeficiência adquirida UTI – Unidade de Tratamento Intensivo SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 12 2 OBJETIVOS .......................................................................................................... 13 2.1 Objetivo específico ............................................................................................... 13 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 14 3.1 Bactérias patogênicas ............................................................................................ 14 3.1.1 Breve histórico da microbiologia médica ............................................................. 14 3.1.2 Parede celular bacteriana ..................................................................................... 17 3.1.3 Método de coloração de Gram .............................................................................. 19 3.2 Antibióticos ........................................................................................................... 20 3.2.1 Modo de ação ........................................................................................................ 22 3.2.2 Estrutura química dos principais antibióticos ...................................................... 24 2.3 Resistência bacteriana a antibióticos ..................................................................... 29 3.3.1 Mecanismos de resistência .................................................................................... 32 2.4 Infecção Hospitalar................................................................................................ 35 3.4.1 Casos de resistência bacteriana a antibióticos ..................................................... 38 4 DESENVOLVIMENTO ....................................................................................... 43 4.1 Desenvolvimento de sintéticos antimicrobianos ................................................... 43 4.2 Busca por novas técnicas e antígenos.................................................................... 44 4.3 Mercado dos antibióticos....................................................................................... 46 5 CONCLUSÕES ..................................................................................................... 48 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 49 12 1 INTRODUÇÃO Atualmente, o mercado mundial de antibióticos movimenta aproximadamente US$ 40 bilhões por ano (HAMAD, 2010), sendo um setor representativo na economia do país produtor. Entretanto, sua importância não está apenas relacionada ao seu valor econômico, mais também ao seu valor como quimioterápico na saúde pública. Os antibióticos podem ser bactericidas ou bacteriostáticos, e sua utilização possui uma tradição de sete décadas. No início, acreditava-se que essas drogas eram milagrosas e muitos profissionais se acomodaram diante dessa perspectiva. Mas com o tempo provou-se o contrário. As bactérias desenvolveram resistência aos antibióticos, deixando de serem susceptíveis. Como resultado, tornou-se um problema de saúde pública mais grave, com o consumo indiscriminado de antibiótico. A exposição da droga à bactéria induz uma resposta seletiva e, como resultado, a ocorrência de linhagem resistente. Recentemente, muitas pesquisas têm sido realizadas com o objetivo de obter informações a respeito da gravidade desse problema. Algumas são específicas a pacientes internos em instituições de saúde, devido à debilidade dos pacientes, que facilita a disseminação da bactéria resistente; como também, à grande variedade de antibióticos de importância clínica como os da família dos β-lactâmico, aminoglicosídeo e tetraciclina que são utilizados nos hospitais, tornando freqüentes as infecções por bactérias resistentes. Pesquisas têm sido desenvolvidas com o objetivo de novas soluções, como a utilização de antibióticos sintéticos com modo de ação distinto dos existentes e novos protocolos de tratamento clínico. 13 2 OBJETIVOS O trabalho tem como proposta o estudo da resistência das bactérias Grampositivas e Gram-negativas a uma variedade de antibióticos de uso clínico. Partindo do primeiro antibiótico descoberto, penicilina, até os mais recentes; possibilitando assim, visualizar a disseminação da resistência entre as linhagens de bactéria. 2.1 Objetivo específico Identificar na literatura possíveis soluções para o grave problema de infecção hospitalar por bactérias resistentes. Realizando um estudo qualitativo dos dados expressos nos artigos. 14 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 Bactérias patogênicas Desde a antiguidade os microrganismos vêm causando inúmeras epidemias e levando a óbito varias pessoas. As doenças causadas por bactérias são responsáveis por inúmeros distúrbios no organismo humano. Como conseqüência impede o funcionamento normal de órgãos ou organelas e desequilibra parte ou completamente o sistema metabólico. Em alguns casos excreta toxinas que danificam as células hospedeiras e induz uma resposta imune no sistema de defesa orgânica. Para combater as bactérias patogênicas são utilizados uma variedade de antibióticos. Entretanto nos anos de 1970 e início de 1980, as bactérias classificadas como Gram-negativas resistentes aos antibióticos foram o principal obstáculo do uso terapêutico dos antibióticos (ROSSI; ANDREAZZI, 2005). Nessa monografia será dada ênfase ao processo de resistência das bactérias aos antibióticos. As bactérias são microrganismos procarióticos e unicelulares com dimensão de 0,2 a 0,3 µm de diâmetro. As células podem ser esféricas, cilíndricas, espiraladas e pleomórficas. Possuem cromossomo circular, nucleóide sem membrana e plasmídeo. As organelas ribossomos são compostas das subunidades 30, 50S e 70S. No sistema de classificação de Woese estão no domínio Bactéria. Não são vistas a olho nu devido a sua dimensão (ROSSI; ANDREAZZI, 2005). 3.1.1 Breve histórico da microbiologia médica O uso do microscópio para observar os microrganismos teve início em 1675, com um equipamento doméstico idealizado pelo holandês Antony van Leeuwenhoek. No século XVIII, devido à qualidade dos microscópios, outros microrganismos foram identificados e classificados quanto à sua célula. Entretanto somente em 1841 em um hospitalmaternidade em Viena, foi relacionado um agente invisível, como causador de morte de paciente (ROSSI; ANDREAZZI, 2005). 15 O professor de química e bacteriologista Louis Pasteur identificou que as bactérias eram os contaminantes no processo de fermentação da produção de vinho. Como resultado comprometia a qualidade do produto. Introduziu os termos de aeróbio e anaeróbio relacionados com a assimilação ou fermentação dos glicídios (ROSSI; ANDREAZZI, 2005). Somente em 1877, o médico patologista Robert Kock publicou um trabalho que define de maneira explicita que uma bactéria causa uma doença específica. Em seguida, Albert Ludwig Neisser médico e cientista alemão, conhecido por ter descoberto o agente patogênico causador da doença sexualmente transmissível, definiu a bactéria Neisseria gonorrhoeae como agente da gonorréia (ROSSI; ANDREAZZI, 2005), A pesquisa de Robert Koch atingiu o ápice com a publicação dos postulados de Kock que demonstram a participação do bacilo da tuberculose no desenvolvimento da tuberculose. Nessa época Hans Christian Gram desenvolveu um método muito simples para identificar as bactérias e, atualmente é conhecido como coloração de Gram (ROSSI; ANDREAZZI, 2005). Em 1929, Alexander Fleming publicou no British Journal of Experimental Pathology, o trabalho que descreve a presença da penicilina e seus efeitos no cultivo da bactéria Gram-positiva da espécie Staphylococcus aureus. As placas de Petri com o cultivo em meio Agar da bactéria foram examinadas após três semanas da inoculação. O fungo filamentoso Penicillium contaminou o cultivo e provocou uma lise impedindo o crescimento da bactéria. A cultura ficou na bancada do laboratório até que Fleming voltasse de férias. Enquanto estava ausente, a cultura foi submetida a temperaturas frias e mornas, condições necessárias para que a penicilina fosse descoberta (ROSSI; ANDREAZZI, 2005) (Figura 3.1). 16 Figura 3.1 – Placa de cultivo original de Fleming, que mostra uma colônia de Penicillium provocando a lise de estafilococos. Fonte: Modificado (TURTORA; FUNKE; CASE, 2010). Durante a Segunda Guerra Mundial os rumores de invasão nazista à Grã-Bretanha levaram Fleming e outros cientistas a se refugiarem nos Estados Unidos. Onde no Departamento de Agricultura em Peoria, Illinois, buscavam elaborar técnicas para potencializar a produção da penicilina a nível industrial (SANTESMASES; GRADMANN, 2011). A demanda de medicamentos para curar as infecções dos soldados, proporcionou o desenvolvimento do processo de produção de penicilina em larga escala (LIMA et al., 2001). A penicilina foi à segunda, em uma série de antibióticos, precedida pela sulfonamida e seguida pela estreptomicina, efetiva no tratamento da tuberculose, e depois pelo cloranfenicol e as tetraciclinas (SANTESMASES; GRADMANN, 2011). Em 1940, Florey e Chain pesquisadores de Oxford, utilizando o fungo isolado por Fleming produziram extrato de penicilina e demonstraram que poderia curar infecções de animais. Florey, Chain e Fleming recebem o Nobel de Medicina em 1945 (SANTESMASES; GRADMANN, 2011). A descoberta da penicilina deu origem à era dos antibióticos e mudou a maneira como a medicina e a saúde pública estavam sendo praticadas. O pesquisador Charles Fletcher demonstrou que a penicilina não é tóxica ao homem. Na ocasião Selman Waksman definiu antibiótico como substância química que inclui composto ou preparações produzidas por microrganismos e que possui propriedades antimicrobianas. Em seguida, o pesquisador Waksman, que descobriu o potencial dos actinomycetes em produzir antibióticos, completou a definição de antibióticos, como sendo substâncias químicas produzidas por micróbios que inibem o crescimento ou podem destruir outros micróbios (ROSSI; ANDREAZZI, 2005). 17 Os pesquisadores Chain e Abraham descobriram, em 1940, uma substância sintetizada por Escherichia coli que pode destruir a penicilina. Foi o primeiro registro de um produto de origem bacteriano, resistente a um agente antibacteriano (ROSSI; ANDREAZZI, 2005). Em 1959, o microbiologista Sawada demonstrou que a resistência aos antibióticos pode ser transferida entre linhagens de Shigella e E. coli através de plasmídeos. Em 1966, William Kirby e Alfred Bauer estabeleceram padrões para os testes de sensibilidade aos antibióticos com base no princípio de disco difusão. Essa técnica distingue linhagens sensíveis e resistentes aos antibióticos e é amplamente utilizada nas análises clínicas (ROSSI; ANDREAZZI, 2005). 3.1.2 Parede celular bacteriana Está presente em todos os procariotos, exceto nos micoplasmas. Com relação às bactérias Gram-positivas a parede celular é composta por uma espessa camada de peptidoglicano que representa 90% da parede (Figura 3.2). Contendo também ácidos teicóico e lipoteicóico. Figura 3.2 – Estrutura da parede celular de bactérias Gram-positivas e seus principais constituintes. Fonte: Modificado (MIGUEL JR, 2008). 18 A estrutura básica do peptidoglicano é um dissacarídeo composto por Nacetilglicosamina ligado por ligação glicosídica do tipo β (1-4) ao ácido N-acetil murâmico. As cadeias de tetrapeptídeos são interligadas por ligações cruzadas, entre o COOH terminal da alanina de um tetrapeptídeo e o grupo NH2 da lisina do tetrapeptídio vizinho, por oligopeptídeo composto por cinco unidades de glicina. O tetrapeptídeo é formado por L-alanina, ácido D-glutâmico, L-lisina e D-alanina (ROSSI; ANDREAZZI, 2005). Todas as bactérias Gram-positivas sintetizam polímeros aniônicos que contêm carboidratos, os ácidos teicóicos, que são ligados ao ácido murâmico do peptidoglicano através de ligações fosfodiéster. Existe uma diversidade na composição química do polímero do ácido teicóico. Quando o ácido teicóico está ligado à membrana citoplasmática é denominado de ácido lipoteicóico (ROSSI; ANDREAZZI, 2005). Com relação às bactérias Gram-negativas a parede celular é constituída por uma membrana externa, peptidoglicano e o espaço periplasmático (Figura 3.3). A membrana externa possui permeabilidade seletiva e contém fosfolipídeos, proteínas, lipoproteínas e lipopolissacarídeos (LPS). Separa o ambiente externo do espaço periplasmático. Possui como características a distribuição assimétrica dos seus lipídeos. A sua estrutura externa contém LPS, enquanto que na interna estão os fosfolipídeos e a porção lipídica das lipoproteínas. A presença da membrana externa torna as bactérias patogênicas Gramnegativas resistentes às defesas do hospedeiro, como a lisozima e aos antibióticos (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Figura 3.3 – Estrutura da parede celular de bactérias Gram-negativas e seus principais constituintes. Fonte: Modificado (MIGUEL JR, 2008). 19 Outra propriedade biológica importante da parede é a toxicidade para os animais. As espécies, principalmente dos gêneros Salmonella, Shigella e Escherichia, causam inúmeras doenças ao homem e outros mamíferos devido às toxinas de parede. Principalmente as endotoxinas, localizadas no espaço periplasmático, são responsáveis por diversas infecções incluindo a alimentar por Salmonella. Além das endotoxinas a parede celular de bactérias Gram-negativas possui porinas, que são proteínas localizadas na membrana externa e que formam canais para entrada e saída de substâncias hidrofílicas de baixa massa molecular. Portanto a permeabilidade da membrana externa é maior quando comparada à membrana citoplasmática (MADIGAN et al., 2009). 3.1.3 Método de coloração de Gram Também conhecido como coloração de parede celular de bactérias. Foi desenvolvido pelo dinamarquês Hans Christian Gram, em 1884. A técnica é utilizada para diferenciar as bactérias classificadas no domínio Bactéria, em dois grupos. As bactérias são classificadas em Gram-negativas e Gram-positivas, dependendo da estrutura e composição da parede celular, como conseqüência da sua capacidade de reter o complexo cristal violeta-iodo quando expostas a solventes orgânicos, como o etanol ou acetona (CANTEY; DOERN, 2015). Inicialmente, as células são coradas com o corante cristal violeta, que penetra na parede celular dos dois tipos de bactérias, corando-as de azul-violeta. Em seguida, é usado o mordente que é uma solução de iodo que se complexa com o cristal de violeta, formando um complexo que dificulta a saída do corante. A solução de álcool remove os LPS, presentes na membrana externa das Gram-negativas, ocasionando a saída do complexo. Nas bactérias Gram-positivas, que possuem peptidoglicano mais grossa e sem membrana externa, o complexo permanece, enquanto que, as Gram-negativas são descoradas. Adição do corante contraste fucsina penetra somente na parede celular das bactérias Gramnegativas que estavam incolor. As bactérias Gram-positivas ficam violeta-azul e as Gramnegativas, avermelhadas (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). 20 3.2 Antibióticos Antibióticos podem ser definidos como substâncias produzidas por microrganismos durante o metabolismo secundário, com capacidade, em doses reduzidas, de inibir o crescimento ou mesmo destruir outros microrganismos. Por definição, os antibióticos são substâncias de origem natural, o que não impede, entretanto, sua produção por via sintética, como sucede com o cloranfenicol e ciclosserina. Antibióticos semisintéticos são aqueles em que as moléculas sintetizadas por microrganismos, são submetidas a modificações, através de síntese orgânica, de modo a alterar certas características biodinâmicas, porém conservando as suas propriedades antibióticas (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Apesar do grande número de antibióticos descobertos ao longo dos anos, menos de 1% deles são considerados de valor clínico. Porém, esses causaram grande impacto no tratamento de doenças infecciosas. Além disso, pequenas modificações químicas nos antibióticos podem torná-los mais efetivos, como os semi-sintéticos (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). A era dos antibióticos pode ser classificada em três gerações, com base no microrganismo utilizado para a sua produção. A primeira geração surgiu com os estudos de Fleming, onde foram utilizados fungos filamentosos. A penicilina foi o destaque dessa geração, e sua primeira utilização na medicina se realizou em 1941. Dentre os fungos apenas os Deuteromicetos, especialmente os gêneros Penicillium e Aspergillus, produzem antimicrobianos de interesse para o homem (LIMA et al., 2001). Os fungos filamentosos quando comparados com Eubactéria produzem um número significativo de antibióticos, cerca de 1600, dados da Tabela 3.1. Tabela 3.1 – Número de antibióticos produzidos por grupos de microrganismos. Microrganismos Número de antibióticos Fungos 1.600 Actinomicetos 4.600 Bactérias Fonte: Modificado (LIMA et al., 2001). 950 21 A segunda geração de antibióticos teve início como os trabalhos de Waksman. Na utilização de actinomicetos do gênero Streptomyces, como um potencial produtor de antibióticos. Principalmente as espécies Streptomyces griseus e Streptomyces fradiae na produção de estreptomicina e neomicina, respectivamente. (LIMA et al., 2001). Os actinomicetos são bactérias que tem como habitat o solo, são Gram-positivas e com pseudomicélio formado de escassa rede ramificada de filamentos. Os Streptomyces produzem antibióticos durante a esporulação, um processo iniciado quando o actinomiceto detecta a falta de nutrientes no meio. O antibiótico inibe o crescimento de outros organismos e permite a formação do esporo, que aumenta a probabilidade de sobrevivência do microrganismo (MADIGAN et al., 2009). São registrados 4.600 antibióticos produzidos por actinomicetos. Das diferentes espécies de Streptomyces, isoladas do solo, aproximadamente 50% são produtoras de antibióticos. Entretanto a maioria da sua estrutura química é conhecida ou não atendem as condições necessárias para a sua utilização na medicina. Vários actinomicetos produzem mais de um tipo de antibiótico. Dentre os antibióticos de utilidade médica, estimulantes de crescimento animal, conservantes de alimentos, e os utilizados na bioquímica e biologia molecular aproximadamente 60 deles são produzidos por Streptomyces (MADIGAN et al., 2009). A terceira geração utiliza a bactéria do gênero Bacillus na produção de antibióticos peptídicos (LIMA et al., 2001), como a bacitracina, polimixina, tirocidina, gramicidina e circulina. Os Bacillus, são bactérias Gram-positivas, liberam o metabólito durante a esporulação, quando o crescimento da bactéria passa para a fase estacionária. A bacitracina produzida pelo B. licheniformis, e a polimixina, sintetizada pelo B. polymyxa são os antibióticos de maior aplicação e melhor mercado dessa geração (MADIGAN et al., 2009). No início da década de 80, observou-se que algumas linhagens de Gonococcus se tornaram imunes a penicilina. Esse mesmo fenômeno foi observado antes, foram apenas alguns anos entre a descoberta da sulfonamida, na década de 1930, até o aparecimento de linhagens resistentes. E sucessivamente a penicilina, a estreptomicina (BLACK, 2002). E ao longo dos anos a descoberta de novos antibióticos tem sido o objetivo de diversos cientistas, que financiados pelas indústrias farmacêuticas buscam desenvolver uma nova geração de antibióticos para combater as linhagens resistentes. No entanto, o processo de encontrar uma nova droga que seja suficientemente tóxica aos organismos, mas que não 22 danifique as células do hospedeiro é demorado e oneroso (LIMA et al., 2001). No desenvolvimento de novos antibióticos, da descoberta ao uso clínico, o tempo médio é de 15 anos e o custo de US$ 1 bilhão (MADIGAN et al., 2009). 3.2.1 Modo de ação Os antibióticos são considerados eficazes no tratamento clínico e devem possuir as seguintes características: atividade letal ou inibitória contra diversas espécies de bactérias patogênicas, atuação em largo espectro, mas que não atue sobre os inócuos, a flora natural presente no corpo humano; ausência de efeitos colaterais, como alergias, irritações, lesões; e, também, devem ser capazes de eliminar as formas mais simples de resistência (PELCZAR; REID; CHAN, 1980). Geralmente, as bactérias Gram-positivas são as mais sensíveis do que as Gramnegativas, no entanto alguns antibióticos só agem em bactérias Gram-negativas. Quando um antibiótico atua tanto nas Gram-positivas como nas Gram-negativas é então denominado antibiótico de amplo espectro. Entretanto, existem antibióticos com espectro de ação muito limitado, com atividade somente numa espécie (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). A atividade antibiótica varia segundo as classes de antibióticos. As tetraciclinas possuem um amplo espectro de ação, sendo efetivas contra clamídias e ricketisias, bactérias parasitas obrigatórias, além de bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. A Figura 3.4 apresenta também alguns quimioterápicos sintéticos como a sulfonamida, quinolonas e isoniazida. Antes da penicilina, a sulfonamida era utilizada como antígeno contra infecções microbianas, tais como a gonorréia e infecções por estreptococos. 23 Figura 3.4 – Espectro de ação antibiótico de diversas drogas antimicrobianas. Fonte: Modificado (MADIGAN et al., 2009). Mecanismos de ação dos antibióticos para inibir ou destruir os microrganismos são: Inibindo a biossíntese da parede celular: A penicilina impede a incorporação do peptídeo do ácido N-acetilmurâmico à parede celular de bactérias Gram-positivas, resultando em lacunas na parede e como conseqüência perda do material do citoplasma, provocando a morte celular. Importante destacar que antibióticos que atuam na síntese da parede, não são eficazes nas células após o crescimento celular, nessa fase a parede está concluída. Antibióticos que também inibem a síntese da parede são as cefalosporinas, ciclosserina, bacitracina, novobiacina, vancomicina e as ristocetinas (PELCZAR; REID; CHAN, 1980). Desestruturando a membrana citoplasmática: Como as polimixinas, que interferem na estrutura lipoproteica da membrana e impede que funcione como barreira osmótica (PELCZAR; REID; CHAN, 1980). A daptomicina se liga a membrana citoplasmática de bactérias, formando poros, e induz a despolarização da membrana. Com isso, a célula perde a capacidade de sintetizar macromoléculas como proteínas e ácidos nucléicos levando a morte celular (MADIGAN et al., 2009). Interferindo na síntese de proteína: Alguns antibióticos inibem algumas reações cruciais envolvendo aminoácidos, bases purínicas ou pirimidínicas, nucleotídeos ou o transporte de membrana, bloqueando totalmente a síntese protéica. As tetraciclinas, a estreptomicina, a neomicina, a kanamicina, a gentamicina, o cloranfenicol, e a viomicina são antibióticos que agem dessa forma. A estreptomicina é utilizada no tratamento contra 24 bactérias Gram-negativas (PELCZAR; REID; CHAN, 1980). Os aminoglicosídeos, assim como as tetraciclinas, atuam interferindo na síntese de proteínas nas subunidades 30S dos ribossomos bacterianos, podendo ligar-se de modo irreversível a proteína das subunidades 30S livres do complexo 70S (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Inibindo a síntese dos ácidos nucléicos: Atuam bloqueando a replicação e o reparo das moléculas de Ácido Desoxirribonucléico (DNA) ou de Ácido Ribonucléico (RNA), assim como inibindo a síntese dos precursores dessas moléculas. Tem efeito em bactérias Gram-positivas e Gram-negativas; são utilizados como quimioterápicos para combater as células tumorais, de crescimento rápido (WALSH, 2003). Antibióticos desse tipo não são utilizados em tratamento clínico, devido a sua toxicidade tanto às células hospedeiras quanto às infectadas, mas são utilizadas em estudos e pesquisas. Como a actinomicina e a mitomicina (PELCZAR; REID; CHAN, 1980). Alguns antibióticos não são letais para os microrganismos, apenas inibem o seu crescimento e, essa ação inibitória pode ser reversível. Os que inibem a síntese da parede celular ou lesam a membrana citoplasmática são classificados como bactericidas, entretanto os que interferem nas funções enzimáticas são bacteriostáticos, inibe somente o crescimento das bactérias (PELCZAR; REID; CHAN, 1980). 3.2.2 Estrutura química dos principais antibióticos Os antibióticos podem ser classificados de acordo com a sua estrutura química. Os que contem carboidratos são aminoglicosídios (estreptomicina), lactonas macrocíclicos (rifamicina) e as quinonas (tetraciclina). Os com aminoácidos e antibióticos peptídeos são classificados como peptideos (bacitracina), β-lactâmicos (penicilina e cefalosporina). Um grupo importante de antibióticos são os β-lactâmicos, que possuem na sua estrutura, um anel β-lactâmico. As penicilinas são dipeptideos cíclicos, formados a partir dos aminoácido L-cisteina e D-valina, possuem um núcleo comum que é o ácido- 6aminopenicilânico (6-APA). As penicilinas podem ser naturais ou semi-sintéticas. A penicilina G descoberta por Fleming (Figura 3.5), inicialmente foi ativa somente contra bactérias Gram-positivas, devido à impermeabilidade da parede celular das Gramnegativas. 25 Figura 3.5 – Estrutura química da penicilina G, com o anel β-lactâmico sinalizado. Fonte: Adaptado (HERNANDEZ, 2013). Porém algumas modificações na sua estrutura, na produção de penicilinas semisintéticas, mudaram significativamente as propriedades dos antibióticos desse grupo (Figura 3.6). A penicilina V e ampicilina ambas são penicilinas semi-sintéticas, possuem amplo espectro de ação antimicrobiana, incluindo bactérias Gram-negativas.O resultado é devido a uma pequena modificação química no radical N-acil da estruturado ácido-6aminopenicilânico. A nova estrutura permite que a amplicilina seja transportada através da membrana externa da bactéria Gram-negativa e inibe a síntese de parede celular (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Figura 3.6 – Penicilinas semi-sintéticas através de síntese orgânica. Fonte: Adaptado (MADIGAN et al., 2009) 26 As cefalosporinas são antibióticos β-lactâmico, porém difere das penicilinas por possuírem um anel diidrotiazínico ligado ao carbono 6 de sua estrutura ao invés de um anel tiazolidínico ligado ao carbono 5 (Figura 3.7). Com ação semelhante às penicilinas as cefalosporinas impedem a transpeptidase e D-ala carbopeptidase na síntese da parede. Como são resistentes a ação das β-lactamases, as cefalosporinas possuem um espectro de atividade antibiótica maior quando comparado ao da penicilina (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Figura 3.7 – Estrutura química geral de cefalosporinas. Fonte: Retirado de (“CEFALOSPORINAS - Laboratorios Sintesis”, [s.d.]). Para uso clínico são utilizadas as cefalosporinas semi-sintéticas. As cefalosporinas naturais, classificadas na primeira geração, foram modificadas para serem flexíveis a ação das β-lactamases, no uso oral. Essa segunda geração de antibióticos foi mais eficaz contra bactérias Gram-negativas. Após modificações químicas adicionais obteve-se uma terceira geração de cefalosporinas, com alta estabilidade diante das β-lactamases e amplo espectro de ação (LIMA et al., 2001). Um dos primeiros antibióticos caracterizados como de amplo espectro de ação e bacteriostáticos foram as tetraciclinas. A denominação deve-se por possuírem uma estrutura com quatro anéis (Figura 3.8). Os derivados como clorotetraciclina, possuem um átomo de cloro; a oxitetracilina tem uma hidroxila adicionada. As tetraciclinas citadas são de origem microbiana, porém existem as semi-sintéticas, nas quais são inseridos outros compostos ao anel. As tetraclinas agem nas unidades 30S dos ribossomos, ligando-se de maneira reversível e, inibem a síntese das proteínas (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). 27 Figura 3.8 – Estrutura química da tetraciclina e análogos. Fonte: Adaptado (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 2004). As tetraciclinas com os β-lactâmicos são os dois antibióticos mais importantes de utilidade na medicina e de maior mercado. Deve-se considerar que o seu uso não se restringe apenas à saúde humana. As tetraciclinas vêm sendo utilizadas na medicina veterinária e, em vários países como suplemento alimentar de suínos e aves domésticas (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Os antibióticos classificados como aminoglicosídeos são bactericidas que apresentam em sua estrutura um anel aminociclitol e duas ou mais moléculas de açúcares aminados unidos por ligações glicosídicas. Entre os aminoglicosídeos pode-se citar a estreptomicina e a kanamicina, ambos na Figura 3.9; além da gentamicina, neomicina entre outros. 28 Figura 3.9 – Estrutura química de estreptomicina e kanamicina, pertencente à classe dos antibióticos aminoglicosídeos. Fonte: Retirado (MADIGAN et al., 2009). Historicamente, a estreptomicina foi um grande avanço na medicina, porque foi o primeiro antibiótico eficaz no tratamento da tuberculose. Entretanto, atualmente nenhum antibiótico aminoglicosídeo vem sendo utilizado no tratamento clínico, devido aos sérios efeitos colaterais ao paciente e ao desenvolvimento de linhagens resistentes. No momento são prescritos os semi-sintéticos ou as tetraciclinas. Os aminoglicosídeos são antibióticos de reserva e são utilizados quando os demais antibióticos são ineficientes (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Os macrolídeos são bacteriostáticos e são produzidos por Streptomyces. Contêm anéis lactona ligados a açúcares. As variações tanto no anel lactona como nos açúcares resultam em uma grande variedade de antibióticos macrolídeos. O antibiótico mais conhecido é a eritromicina (Figura 3.10). Outros macrolídeos de aplicação no setor clínico é a diritromicina, claritromicina e azitromicina. São macrolídeos claritromicina, azitromicina, oleandomicina, espiramicina, e tilosina. A claritromicina e azitromicina são semi-sintéticos com amplo espectro de ação (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). 29 Figura 3.10 – Estrutura química da eritromicina, pertencente ao grupo dos macrolídeos. Fonte: Adaptado (MADIGAN et al., 2009) 2.3 Resistência bacteriana a antibióticos Quando um microrganismo é resistente a um antibiótico significa que em algum momento era sensível. Porém uma linhagem desse microrganismo já não é mais suscetível a ação deste antimicrobiano. Os antibióticos com ação bacteriostática possibilitam aos microrganismos se recuperarem e desenvolverem a resistência com mais freqüência em relação aos bactericidas. Ainda assim, não é correto afirmar que os antibióticos induzem mutações, no entanto favorecem a seleção dos mutantes resistentes (BLACK, 2002). O desenvolvimento de resistência às drogas é um mecanismo natural que possibilita a sobrevivência das espécies melhores adaptadas. Há dois tipos de resistência microbiana a intrínseca e a adquirida. A resistência intrínseca é definida como aquela resultante do estado fisiológico do microrganismo. Essa resistência é considerada natural e herdada por células, estando presente na maioria das linhagens que compõem um grupo, um gênero ou uma espécie bacteriana (PELCZAR; REID; CHAN, 1980). A resistência à vancomicina, encontrada nos bastonetes Gram-negativos, é um exemplo de resistência intrínseca. O tamanho da droga excede o limite de exclusão das porinas da membrana externa das bactérias Gram-negativas. Portanto a droga não consegue alcançar o seu alvo nestes microrganismos (ROSSI; ANDREAZZI, 2005). As bactérias Gram-negativas são geralmente mais resistentes a um grande número de agentes 30 antimicrobianos comparados às Gram-positivas. Uma das teorias considera a membrana externa como uma barreira que previne o acesso das drogas aos sítios-alvos intracelulares. A resistência adquirida é decorrente de mutação genética bacteriana ou da aquisição de material genético codificando genes de resistência. Essa resistência será característica em algumas estirpes de uma dada espécie bacteriana. Os genes podem estar localizados no cromossomo bacteriano ou nos plamídeos (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Os plasmídeos de resistência às drogas são denominados de plamídeos R e estão amplamente disseminados entre as bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. Vários genes de resistência a antibióticos podem ser carreados por um único plasmideo R e, também, uma célula pode conter vários plasmídeos R. Em ambos os casos, o resultado corresponde à resistência múltipla. A natureza infecciosa dos plasmídeos R conjungativos permitiu sua rápida disseminação nas populações bacterianas. Atualmente, os plasmídeos de resistência são considerados um dos principais problemas da medicina clínica (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Em geral, os genes de resistência codificam proteínas que inativam os antibióticos ou protegem a célula de outro mecanismo. O plasmideo R 100 (Figura 3.11), com 94,3 quilos pares de bases, carreia genes que conferem resistência a sulfonamidas, estreptomicina, espectinomicina, cloranfenicol e tetraciclina. Esse plasmídeo pode ser transferido para bactérias entéricas dos gêneros Escherichia, Klebsiella, Proteus, Salmonella e Shigela. Entretanto não são transferidos às bactérias não entéricas (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). 31 Figura 3.11 – Mapa genético do plasmídeo de resistência R100. Fonte: Adaptado (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 2004). O círculo interno apresenta o tamanho do plasmídeo, em quilo pares de base. O circulo externo mostra a localização dos principais genes de resistência a antibióticos. A sigla cat, resistência a cloranfenicol; oriT origem de transferência conjugativa; mer, resistência ao íon mercúrio; sul, resistência a sulfonamida; str, resistência à estrepromicina; tet, resistência à tetraciclina; tra, funções relacionadas à transferência. Na ausência de antibióticos os fatores R podem ser perdidos pela célula. Essa é uma informação encorajadora, pois significa que com o tempo a resistência adquirida poderia ser revertida e com isso a eficácia de muitos antibióticos poderia ser restabelecida, realizando monitoramentos em longo prazo e utilizando racionalmente (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Algumas evidências sugerem que os plasmídeos R são anteriores a era dos antibióticos. O aumento do uso de antibióticos permitiu que os organismos com os plasmídeos R, com um ou mais gene de resistência predominasse. Em 1946, uma linhagem de Escherichia coli liofilizada continha em seu plasmídeo genes de resistência a tetraciclina e estreptomicina, lembrando que os dois antibióticos somente seriam utilizados após anos. No solo foram encontradas bactérias Gram-negativas não patogênicas que possuíam no plasmídeo genes de resistência. Para esses organismos essa resistência é uma forte vantagem seletiva já que a grande parte dos microrganismos produtores de antibióticos é encontrada também no solo, tais como Streptomyces e Penicillium (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). 32 3.3.1 Mecanismos de resistência Os agentes antimicrobianos são úteis porque eles possuem como alvo de ação as estruturas celulares, vias metabólicas ou enzimas. Entretanto uma variedade de mecanismos resulta na resistência bacteriana a esses agentes. Entre os quais pode-se destacar as alterações no alvo da droga, de modo que a ligação da droga ou a inibição da função não ocorra, a redução da permeabilidade da célula bacteriana à droga, o que resulta na incapacidade do agente alcançar o seu alvo em uma concentração crítica, o efluxo da droga da célula e a destruição ou a modificação do quimioterápico, tornando o seu transporte para o interior da célula ou o reconhecimento do alvo impossível de acontecer. A princípio são considerados seis mecanismos de resistência, cada um deles relacionado a uma estrutura microbiana especifica. Que serão descritos de modo sucinto. 1. Alteração do sítio-alvo de ligação do antibiótico. O antibiótico liga-se a sítios específicos na bactéria. Caso o sítio seja alterado, o antibiótico não pode efetivar a ligação e torna-se ineficiente contra a bactéria. Essa alteração é físico-química e diminui a afinidade da droga pelo sítio e faz com que haja perda da atividade antimicrobiana. Os casos de Staphylococcus aureus resistente à meticilina e Streptococcus pneumoniae a penicilina são exemplos de alterações no sítio-alvo (ROSSI; ANDREAZZI, 2005). 2. Alteração da permeabilidade da membrana. Neste caso a modificação gênica altera a natureza das proteínas de membrana. Modifica a expressão para a produção dos canais de porina na membrana e, como conseqüência impede o transporte de diferentes antibióticos para o citoplasma. Os mecanismos de resistência para tetraciclinas e estreptomicina ocorrem dessa forma (BLACK, 2002). 3. Desenvolvimento de enzimas. Neste caso os antibióticos são inativos ou destruídos por ação de uma enzima, que é sintetizada pelo microrganismo. No caso das penicilinas os plasmídeos R codificam a enzima penicilinase que é uma β-lactamase e hidrolisa o anel β-lactâmico das penicilinas e de algumas cefalosporinas, inativando o antibiótico (Figura 3.12). Algumas bactérias Gram-negativas desenvolveram resistência a estreptomicina e ao cloranfenicol por um mecanismo semelhante (BLACK, 2002). 33 Figura 3.12 – Ação da β-lactamase sobre a penicilina. Fonte: Modificado (BLACK, 2002). 4. Alteração de uma enzima. Nesse caso a alteração permitirá que uma reação anteriormente inibida ocorra. Um exemplo prático são as bactérias resistentes a sulfonamida. Os microrganismos desenvolveram uma enzima com alta afinidade pelo ácido 4-aminobenzóico (PABA) e baixa com a sulfonamida. Portanto, mesmo na presença da droga a enzima fica ativa e as reações metabólicas transcorrem normalmente (BLACK, 2002). 5. Modificação de uma via metabólica. Nesse caso uma reação inibida pelo antibiótico é desprezada e uma nova rota metabólica passa a ser utilizada. Como exemplo, novamente as bactérias resistentes a sulfonamida, que adquirirem a capacidade de metabolizar o ácido fólico presente no meio, sem necessitar sintetizá-lo a partir do PABA (BLACK, 2002). 6. Efluxo ativo de antibióticos. No caso específico desta resistência, novas proteínas de membrana do citoplasma são sintetizadas e, estão envolvidas em um bombeamento da droga para fora da célula, por um mecanismo de anti-porte, dependendo de energia. Como resultado a droga não consegue acumular-se no interior da célula e exercer a sua atividade de inibição (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Na Ilustração (Figura 3.13) alguns dos mecanismos de resistência já descritos, onde o antimicrobiano é modificado; impedido de entrar ou expulso da célula bacteriana. 34 Figura 3.13 – Mecanismos de resistência a antibióticos, onde o antimicrobiano (ATM) é inibido de diversas formas. Fonte: Modificado (RUAN, 2015). Na Tabela 3.2, pode-se observar os mecanismos de resistência presentes em algumas bactérias, o antibiótico e o mecanismo de ação. A partir dessa informação é possível inferir que um mesmo organismo pode utilizar mais de um mecanismo para inibir a ação do mesmo ou de outro antimicrobiano, como é o caso do Staphylococcus aureus. Uma bactéria multiresistente a antibióticos. Provavelmente, possui vários mecanismos de resistência. 35 Tabela 3.2 – Mecanismos de resistência bacteriana a antibióticos. MECANISMOS DE RESISTÊNCIA Redução da permeabilidade da membrana ANTIBIÓTICO Penicilinas BACTÉRIA Pseudomonas aeruginosa Enterobactérias* Staphylococcus aureus Penicilinas Neisseria gonorrhoeae Inativação do antibiótico Cloranfenicol Alteração do alvo Enterobactérias Staphylococcus aureus Eritromicina Staphylococcus aureus Rifamicina Enterobactérias Estreptomicina Enterobactérias Sulfonamidas Staphylococcus aureus Enterobactérias Enterobactérias Staphylococcus aureus Tetraciclinas Efluxo ativo Staphylococcus aureus Aminoglicosídeos Norfloxacina Modificação da via metabólica Enterobactérias Cloranfenicol Enterobactérias Staphylococcus aureus Bacillus subtilis * A família das Enterobactérias compreende as bactérias que colonizam o trato intestinal como Escherichia, Klebsiella e Enterobacter. Além de Shigella, Salmonella e Proteus. Fonte: Modificado (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). 2.4 Infecção Hospitalar O hospital é o lugar onde as pessoas se curam. Entretanto às vezes elas ficam mais debilitadas no ambiente hospitalar. Acontece devido à disseminação de doenças infecciosas. As infecções cruzadas entre os pacientes ou equipe médica e o paciente são uma constante ameaça no hospital. Ocorre devido à ausência de higienização das mãos. As infecções hospitalares são de caráter endêmico e se manifestam constantemente em curto 36 prazo. Portanto, teoricamente esses organismos fazem parte da flora natural dos indivíduos tanto paciente como o pessoal de apoio (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Observando o ambiente hospitalar e as condições de saúde dos pacientes, pode-se afirmar que esse ambiente propicia o desenvolvimento de microrganismos resistentes. Como os pacientes internados se encontram mais debilitados e, por muitas vezes, com o sistema imunológico defasado devido aos medicamentos, a quantidade de espécies microbianas, principalmente as patogênicas, é maior e se expande com facilidade. Como também o uso indiscriminado de antibióticos (BLACK, 2002). Outro fator que auxilia a disseminação de infecções hospitalares é a grande quantidade de pacientes em um mesmo quarto, uma vez que muitos desses podem estar contaminados com linhagens altamente patogênicas. A equipe médica atende inúmeros enfermos por hora, facilitando a contaminação cruzada; muitos procedimentos médicos, tais como cirurgias e incisões, conferem grande risco de contaminação e, também, devido ao estresse ao qual o paciente é submetido, que diminui a resistência imunológica do paciente; em casos de transplante de órgãos, onde o paciente é medicado com drogas imunossupressoras, a susceptibilidade a infecção aumenta. Geralmente, os pacientes com o sistema imunológico debilitado possuem maior probabilidade de adquirirem uma infecção hospitalar, o que justifica a maior ocorrência de infecções em pacientes acima de 60 anos. Recém nascidos também são mais susceptíveis a infecções, devido ao mecanismo de defesa não estar completamente formado (MADIGAN et al., 2009). Estudos têm demonstrado que o tempo de permanência do paciente dentro do hospital é um fator importantíssimo para que esse contraia infecções. Segundo Oliveira e Damasceno (2010) o risco de contrair Enterococcus resistentes a vancomicina (ERV) e Staphylococcus aureus resistentes a meticilina (SARM) é ampliado na presença de pacientes infectados ou quando a permanência nas instalações médicas excede duas semanas. Devido à condição precária dos pacientes as linhagens resistentes podem se desenvolver e disseminar rapidamente no hospital, causando óbitos. Para evitar tais situações e sabendo que o processo de encontrar um antibiótico eficaz é demorado e o desenvolvimento de microrganismos resistentes é um ciclo recorrente, devem-se levar em consideração as seguintes orientações: O uso de antibióticos deve ser limitado às situações imprescindíveis. Dados indicam que tratamento com antibiótico é requerido em apenas 20% dos casos de infecção, mesmo assim, são prescritos em 80% deles (MADIGAN et al., 2009); 37 Os pacientes devem ser tratados apenas com a medicação ao qual a bactéria é sensível e utilizada nas concentrações corretas. O uso de antibióticos no tratamento de viroses é um exemplo do uso inadequado de medicamento (BLACK, 2002); O tratamento deve ser concluído quando o microrganismo estiver erradicado do corpo do paciente. Ou seja, antibiótico deve ser administrado por um período que seja suficiente para que a droga elimine os patogênicos e até mesmo os mutantes resistentes, ou iniba-os e assim o organismo possa eliminá-los. Segundo Madigan et al. (2009) em 50% dos casos, tanto as doses prescritas como a duração do tratamento é inadequada. Em alguns casos o uso de dois ou mais antibióticos combinados surte efeito no tratamento contra bactérias resistentes. O uso de drogas conjuntas, para exercer um efeito maior é denominado sinergismo, e tem como exemplo típico a administração da estreptomicina em conjunto com a penicilina. A estreptomicina terá maior permeação na célula microbiana, uma vez que a parede celular foi danificada pela ação da penicilina. Porém nem todas as drogas apresentam a mesma eficiência quando são empregadas combinadas, esse efeito é chamado antagonismo, e é observado quando associa uma droga bacteriostática com uma bactericida (BLACK, 2002). Ainda sobre o tópico anterior, é necessário avaliar cada situação em particular devido à existência de plasmídeos resistentes a várias drogas, inviabilizando o uso de mais de um antibiótico como tratamento. Os microbiologistas que trabalham no controle de infecções geram e analisam dados de susceptibilidade dos antibióticos, através de antibiogramas. Essa análise tem como objetivo determinar a susceptibilidade das bactérias isoladas ao antibiótico utilizado. Os antibiogramas são usados também no monitoramento dos patogênicos conhecidos para detectar o desenvolvimento de novos patogênicos e para identificar novas linhagens resistentes aos antibióticos (MADIGAN et al., 2009). Atualmente utiliza-se o Método de Disco Difusão (Kirby-Bauer) para avaliar a sensibilidade dos patogênicos aos antibióticos (ROSSI; ANDREAZZI, 2005). 38 3.4.1 Casos de resistência bacteriana a antibióticos Dados obtidos em 2011 estimaram que cerca de 1 em cada 25 pacientes norteamericanos hospitalizados, cerca de 722.000, adquiriram pelo menos uma infecção, dos quais 75.000 morreram durante o período de internação. Mais da metade dos casos de infecção hospitalar foram diagnosticados em pacientes fora das Unidades de Tratamento Intensivo (UTI). Na Tabela 3.3, cita os tipos de infecções mais comuns e a estimativa de casos nos Estados Unidos em 2011, pode-se observar que infecções decorrentes de procedimentos cirúrgicos e pneumonia são as de maior ocorrência, seguidas por doenças gastrointestinais (“Data and Statistics / HAI / CDC”, [s.d.]). Tabela 3.3 – Estimativa das infecções adquiridas em Hospitais, nos Estados Unidos em 2011. PRINCIPAIS TIPOS DE INFECÇÕES NÚMERO DE CASOS ESTIMADOS Infecções cirúrgicas adquiridas em qualquer tipo de cirurgia 157.500 Pneumonia 157.500 Doenças gastrointestinais 123.100 Infecção do trato urinário 93.300 Infecção primária da corrente sanguínea 71.900 Outros 118.500 Número total estimado de infecções hospitalares 721.800 Fonte: (“Data and Statistics / HAI / CDC”, [s.d.]). Um número reduzido de bactérias patogênicas é responsável pela maioria dos casos de infecções hospitalares: Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Estreptococos, Pseudomonas, Klebsiella, Enterobacter, Staphylococcus epidermidis, Bacteróides e Serratia (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Diversas doenças passaram por modificações com relação à prescrição de antibióticos no seu tratamento clínico. Resultando no aumento da resistência por bactérias. Como o caso da sulfonamida, o primeiro quimioterápico obtido por síntese orgânica utilizado e substituído por penicilina. O primeiro antibiótico descoberto e sintetizado por 39 fungo filamentoso e utilizado em tratamentos clínicos. A substituição dos antibióticos teve uma sucessão de etapas. Um quadro clínico clássico é o da penicilina, utilizada no tratamento contra a Neisseria gonorrhoeae, causadora da gonorréia. Várias linhagens de N. gonorrhoeae, desenvolveram resistência a penicilina, com a produção das penicilinases. O antibiótico que passou a ser amplamente utilizado foi a ceftriaxona, uma cefalosporina altamente resistente às β-lactamases. No entanto, a cada ano novas modalidades de antibióticos são sugeridas no tratamento. Atualmente, as linhagens ainda sensíveis a penicilina, como Streptococcus pyogenes, necessitam dosagens mais elevadas para que a droga seja efetiva (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). O agente etiológico de infecções no trato urinário em hospitais é Escherichia coli, geralmente presente na flora natural. Entretanto outras bactérias também podem estar relacionadas como a Pseudomonas aeruginosas e Enterococcus (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Infecção por Enterococcus resistentes a vancomicina (ERV) foram descritas primeiro na Europa nos anos 80 e, em seguida nos Estados Unidos. A presença de bactéria do tipo ERV, na Europa, estava relacionada ao uso de glicopeptídeos, como a avoparcina, como aditivo alimentar para promoção de crescimento em animais. Essa prática perdurou por mais de duas décadas, mas depois foi banida pela União Européia. A grande maioria de ERV isoladas são Enterococcus faecium, que podem transferir a resistência para outras linhagens (ANDERSON, 2014). O Staphylococcus aureus está associado com infecções: no sangue, a septicemia, que é uma resposta forte do hospedeiro a presença desse organismo no sangue; pós cirúrgicas (lesões) e pequenas infecções no trato respiratório. Infecções por esse organismo têm sido um sério agravante em casos de recém nascidos. No passado, apenas as linhagens coagulasses positiva de Streptococcus aureus foram consideradas patogênicas, mas atualmente outras linhagens também são consideradas como causadoras de septicemia e infecções em lesões em hospitais (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). O trato respiratório superior é o “habitat” desse Staphylococcus, normalmente nos canais nasais e se estabelecem como parte da flora natural dos empregados do hospital. Esses quando estão saudáveis podem não apresentar sintomas da doença, mas é mais uma fonte de contaminação para os pacientes. Sendo os Staphylococcus resistentes a baixa umidade, eles são capazes de sobreviverem por longos períodos no ar, junto às partículas de poeiras, e posteriormente infectar algum paciente. Devido ao grande risco de infecção 40 hospitalar esse microrganismo requer medidas de sanitização adicionais (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Nos Estados Unidos, entre 1990 e 1996, o Staphylococcus aureus foi o agente mais comum nas causas de infecções hospitalares, segundo as estatísticas realizadas pelo Sistema Nacional de Vigilância de Infecção Hospitalar do país, ocasionando pneumonias e infecções em lesões cirúrgicas. S. aureus resistentes a meticilina (SARM) foram descritos pela primeira vez na década de 60, e se tornou muito comum nos anos 80. E para eliminar os SARM passou a ser utilizada a vancomicina, porém em 2000, no Japão, foram isoladas S. aureus resistente a vancomicina (SANTOS, 2004). A emergência de S. aureus resistente a vancomicina (SARV) foi antecipada quando Enterococcus resistentes a vancomicina foram descritos. O desenvolvimento dessa linhagem pode ter sido a partir de SARM em presença de vancomicina, após falha no tratamento inicial ou por subseqüente reinfecção. Nos Estados Unidos, o primeiro caso de SARV foi reportado em 2002, na Europa só depois de mais de uma década, em 2013. Em 2014, no Brasil, um jovem com diabetes, que foi tratado com vários antibióticos incluindo vancomicina para infecções na pele, foi relatado com infecção no sangue por SARV. Na maioria dos casos está relacionada a infecções dermatológicas, e muitos pacientes, também, estão infectados com Enterococcus resistente a vancomicina (LOWY, 2014). A Pseudomonas aeruginosas é uma das bactérias mais importantes causadoras de infecções no trato respiratório inferior e urinário. E também em casos de infecção na pele, em pacientes que sofreram queimaduras. Uma das características agravantes no tratamento de infecções nosocomiais por esse organismo é a resistência a antibiótico, que é muito comum, muitas bactérias isoladas de pacientes com infecções geralmente são resistentes a vários antibióticos (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Infecções causadas por Pseudomonas aeruginosa multiresistentes (PAMR) geralmente estão associadas a altos índices de mortalidade, especialmente em pacientes com a síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA). Também, tem sido observada a persistência desses organismos em pacientes com SIDA. Segundo os estudos realizados por Ribeiro et al. (2012), quatro dos quinze pacientes observados adquiriram a PAMR depois de a hemodiálise ter sido realizada por um mesmo técnico, e então foi designado um técnico para cada paciente e a disseminação foi controlada. O uso de cateteres urinários foi uma das fontes prováveis de aquisição de PAMR para seis pacientes, mostrando assim a importância em se prevenir as infecções por transmissão cruzada. 41 Os carbapenêmicos, foram isolados primeiramente na Carolina do Norte, em 1996, linhagens resistentes de Klebsiella pneumoniae. Mas foi a partir de 2001 que os casos de Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenamase (KPC) se tornaram mais freqüentes e espalhados pelo mundo. O primeiro caso de KPC, detectado no Brasil, foi em 2005 na cidade de São Paulo. A opção terapêutica para tratamento dessa infecção é basicamente restrita a polimixinas, apesar de sua toxicidade; e tigeciclinas, recomendada para infecções intra-abdominais, dermatológicas complicadas e pneumonia, mas não para infecções urinárias e septicemias. Os carbapanêmicos continuam a ser a primeira opção no tratamento de muitas infecções causadas por Enterobacter (BEIRÃO et al., 2011). O Los Angeles County relatou 675 casos de KPC em um intervalo de um ano, de junho de 2010 a maio de 2011. O uso de cefalosporinas de amplo espectro e/ou carbapenemas é um importante fator de risco no desenvolvimento de infecção por tal organismo. Para exemplificar, em um estudo de controle de caso, 86% dos pacientes que desenvolveram KPC haviam sido medicados com cefalosporinas nos três meses anteriores. Em 2011, no Centro Clínico de Saúde do Instituto Nacional Norte Americano, ocorreu um surto de KPC com 18 pacientes infectados dos quais 11 morreram. O surto tomou essa proporção devido à dificuldade em detectar a susceptibilidade do microrganismo. Um trabalho realizado revelou que cerca de 87% das linhagens de KPC foram detectadas como susceptível a carbapenêmicos (QUALE; SPELMAN, 2014). Evidencias clínicas sugerem que o tratamento com terapias combinadas pode amenizar taxas de mortalidade. Em um estudo retrospectivo de 125 pacientes com septicemia, infectados por KPC, o índice de mortalidade foi de 42%. A mortalidade foi menor em pacientes medicados com duas ou mais drogas, 34% (22 de 79), comparados com monoterapias com colistina, tigeciclina ou gentamicina, 54% (25 de 46). Resultados similares foram observados em um estudo retrospectivo menor, de 41 pacientes com septicemia por KPC, aonde os índices de mortalidade foram 13% (2 de 15) com terapia combinada, geralmente polimixina ou tigeciclina junto com um carbapenêmico; comparados com 58% (11 de 19) com monoterapia (QUALE; SPELMAN, 2014). No final da década de 40, logo após a introdução de quimioterápicos efetivos foram relatados casos de tuberculose resistente a drogas. As Mycobacterium tuberculosis isoladas eram resistentes a estreptomicina, primeira droga amplamente utilizada no tratamento dessa doença. O desenvolvimento de tuberculose multirresistente está associado ao tratamento inadequado, incluindo práticas de prescrição errada; falta de programas 42 supervisão de tratamento; e programas precários de controle de infecção (SCHLUGER, 2015). Segundo estimativas realizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) são relatadas em média 480.000 casos de tuberculoses multirresistentes anualmente, desses menos de 100.000 pacientes estão sendo tratados apropriadamente. Nos Estados Unidos, de 1993 a 2013 os casos de tuberculose multirresistente diminuíram de 2,4 para 1,3%. Sendo que as maiorias dos casos estavam relacionadas a imigrantes e estrangeiros. A epidemia da SIDA permitiu que a tuberculose multirresistente se espalhasse, pois os indivíduos com SIDA estão mais susceptíveis a adquirir infecções, e o índice de mortalidade nesses casos é alto (SCHLUGER, 2015). A Serratia marcescens causadora freqüente de infecções foi isolada de várias fontes dentro do ambiente hospitalar, dentre elas soluções desinfetantes e anti sépticos, sendo que essas substâncias são utilizadas no controle de microrganismos. Demonstrando assim, o aumento da resistência do organismo também as substâncias químicas. E outros organismos, como o Staphylococcus epidermidis, considerados inócuos no passado, tem atualmente emergido como causadores de infecções hospitalares (SANTOS, 2004). Atualmente, uma bactéria emergindo rapidamente como patogênica multirresistente em hospitais é o Acinetobacter baumannii (AcBMR), caracterizada como bactéria Gram- negativa. Os fatores associados com a mortalidade em pacientes com AcBMR foram: idade superior a 60 anos, pneumonia, diabetes mellitus, doenças renais; uso de mais de dois procedimentos invasivos; e terapia antimicrobiana inapropriada (PRATA-ROCHA; GONTIJO-FILHO; DE MELO, 2012). 43 4 DESENVOLVIMENTO Durante muitos anos, os antibióticos foram considerados “drogas milagrosas”, pois tratavam inúmeras doenças infecciosas de forma eficaz. Entretanto, os médicos tinham uma falsa impressão de segurança e passaram a utilizar os antibióticos de modo errôneo e indiscriminado. A utilização clínica de antibióticos passava uma ilusão de que estava solucionado os problemas de saúde publica (SANTOS, 2004). Porém o uso indiscriminado de antimicrobianos está causando um rápido desenvolvimento de resistência à antibiótico em bactérias patogênicas. Desde que os antibióticos passaram a ser produzidos em escala industrial, o crescimento de linhagens resistentes tem sido proporcional ao consumo de antibióticos. Muitas pesquisas têm comprovado a relação entre o uso indiscriminado dos antibióticos e o desenvolvimento de resistência bacteriana (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). 4.1 Desenvolvimento de sintéticos antimicrobianos Com o tempo e a exposição ao antimicrobiano, as bactérias podem desenvolver resistência a qualquer antibiótico. O uso racional é uma das formas de prolongar a utilidade deles no meio médico. No entanto, a longo prazo a solução seria desenvolver novas drogas. Os novos agentes antimicrobianos criados podem ser análogos aos já existentes ou pertencerem a uma classe totalmente nova (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Produzir novos compostos semelhantes aos existentes é um processo simples e muito empregado, porque estruturas similares a anteriores têm um modo de ação previsível. Geralmente, esses estudos iniciam-se com softwares computacionais e rapidamente são “criados” novos compostos, nesses programas é possível estimar as propriedades físicas e químicas do composto, tais como adstringência e toxicidade. E em alguns casos, os parâmetros como solubilidade e afinidade são alterados modificando a estrutura química, mas sem alterar o modo de ação do antimicrobiano. Devido a resistência ser baseada no reconhecimento estrutural, o novo composto pode ficar irreconhecível diante dos fatores de resistência e, portanto mais potentes que os anteriores (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). 44 Realizando esse procedimento básico, novos antibióticos do tipo tetraciclina e βlactâmicos são comumente sintetizados e testados. Como exemplos têm os semi-sintéticos de penicilina, a oxicilina e a meticilina, que são resistentes as enzimas β-lactamases. Os novos medicamentos análogos a vancomicina são 100 vezes mais potentes que o original, sendo capaz de aniquilar até as linhagens resistentes a vancomicina. Porém, a experiência mostra que a resistência eventualmente se desenvolve tornando o composto modificado menos útil com o tempo (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Identificar novas classes de antibióticos é um processo mais árduo. Normalmente, são isolados de fontes naturais ou desenhados para se ligarem a estruturas bacterianas específica, e então são consideradas com relação à toxicidade e a eficácia. Os efetivos são aqueles que atingem as vias de biossíntese bacteriana ou tenham um diferencial que previna a atuação dos fatores de resistência existentes. Uma classe nova de químicos sintéticos experimentais é das oxazolidinonas. As suas formas solúveis são eficazes no tratamento contra patogênicos Gram-positivos e muitos outros organismos resistentes. Esse composto atua inibindo singularmente a síntese de proteína, possivelmente em uma fase primordial (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Desde as estreptograminas, em 1962, não havia sido introduzido nenhuma classe nova de antibióticos de uso clínico; apenas em 2000, cerca de 40 anos depois, é que descobriram as oxazolidinonas (WALSH, 2003). A bioinformática vem sendo amplamente explorada no desenvolvimento de novos antimicrobianos, utilizando a genética para arquitetar a molécula e, assim, visualizar a sua estrutura terciária. Os softwares são utilizados para criar estruturas que ainda não foram encontradas na natureza, para impossibilitar ou retardar o desenvolvimento de resistência. Essas ferramentas tornam o processo mais eficiente e em menor tempo, maximizando as oportunidades de encontrar novos antibióticos sintéticos (WALSH, 2003). 4.2 Busca por novas técnicas e antígenos A maioria dos antibióticos naturais eficazes sintetizados em quantidades razoáveis pelo microrganismo já foram isolados. Porém aqueles que estão presentes em pequenas concentrações são difíceis de serem identificados, no entanto, a descoberta da platensimicina demonstrou que é possível. Foram analisados 250.000 metabólitos naturais 45 extraídos de 83.000 linhagens diferentes com potencial para produção de antibióticos. Os cientistas identificaram e isolaram a droga a partir de um organismo presente no solo, Streptomyces platensis. Apesar da tarefa árdua de analisar um grande número de linhagens, foi possível identificar um alvo específico quando em pequena concentração (MADIGAN et al., 2009). O primeiro membro de uma nova classe de antibióticos capazes de inibir seletivamente uma enzima importantíssima na síntese de ácidos graxos, a platensimicina, é eficaz contra uma grande variedade de bactérias Gram-positiva, incluindo infecção por SARM e ERV; demonstrou ser efetiva na erradicação de S. aureus em ratos, além de toxicidade nula. Ainda não se conhece um mecanismo para o desenvolvimento de patogênicos resistentes (MADIGAN et al., 2009). Outros bactericidas, que seriam uma opção no tratamento de bactérias resistentes, são os compostos extraídos de vegetais, como os fenóis e flavonóides. Os compostos fenólicos alteram a seletividade da membrana plasmática devido à sua capacidade antioxidante; levando a falta de substâncias intracelulares cruciais, e por fim inibindo o crescimento celular. Ao longo dos anos, muitos estudos comprovaram a atividade antibacteriana desses compostos, muitos deles utilizando SARM como comparativo de eficácia do agente. No entanto, os resultados também revelaram que bactérias Gramnegativas são menos susceptíveis aos compostos fitoquímicos (AL-HABIB et al., 2010). Uma análise feita com dados de estudos anteriores revelou que o banho com clorohexadina é efetivo na prevenção de contaminação, e possivelmente septicemia, por SARM e ERV em pacientes internados em UTIs. Esses microrganismos colonizam a pele dos pacientes, sendo assim a descontaminação da pele, com o banho, pode além de prevenir infecções também reduzir a probabilidade de transmissão cruzada. Porém, com o estudo realizado, não obteve evidências de que o mesmo resultado ocorre para todas as bactérias Gram-negativas resistentes a antibióticos. Mesmo tendo sido desenvolvido em 1950, no Reino Unido, foi apenas recentemente com o aumento no número de infecções por bactérias resistentes à antimicrobianos em UTIs, que passou-se a pensar nesse antiséptico como medida de prevenção a infecções (DERDE; BONTEN; DAUTZENBERG, 2012). De 1983 a 1992, na Hungria, devido ao menor consumo de penicilina observou-se que a quantidade de organismos resistentes também diminuiu. Provando que o processo de seleção de organismos resistentes a antibióticos é reversível. E, também, que o consumo racional, aliado ao monitoramento e conscientização de pacientes e médicos pode reverter 46 os efeitos do consumo indiscriminado de alguns antibióticos (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). 4.3 Mercado dos antibióticos A produção mundial de penicilina foi de 12.000 toneladas por ano, no início da década de 80. Das penicilinas produzidas por processo biotecnológico somente 38% são para fins médicos, sendo que 12% são utilizadas na veterinária e 43% para produção de penicilinas semi-sintéticas. Dos antibióticos de origem fúngicas apenas 10 são produzidos em escala industrial e de importância clínica somente a penicilinas, cefalosporina C, e ácido fusídico. Dentre as semi-sintéticas, treze tipos de cefalosporinas são produzidas com finalidade terapêutica (LIMA et al., 2001). Em 2001, a produção mundial de antibióticos estava em torno de 100.000 toneladas por ano, com vendas brutas anuais de US$ 1 bilhão, somente nos Estados Unidos. A cefalosporina é o antibiótico de maior aceitação ocupando 29% do mercado de antibióticos, seguida da ampicilina e as tetraciclinas. Estima-se que o mercado mundial de antibióticos, como aditivos alimentares, movimentem cerca de US$ 100 milhões (LIMA et al., 2001). Em 2009, a venda mundial de antibióticos chegou às cifras de US$ 42 bilhões, com um crescimento anual de 4% em relação aos anos anteriores. As cefalosporinas continuaram sendo as mais vendidas com uma fatia de US$ 11,9 bilhões e crescimento de 3,4% em relação aos últimos 5 anos. As penicilinas de amplo espectro alcançaram o valor de US$ 7,9 bilhões e crescimento médio de 5% entre 2005 e 2009; o terceiro mais vendido foram as fluoroquinonas com US$ 7,1 bilhões e crescimento médio de 5% entre 2005 e 2009; a venda de macrolides foi de US$ 4,8 bilhões, mas ao contrário dos demais teve um decréscimo de 5% de 2007 a 2009. Em alguns países o consumo de antibióticos tem reduzido na ultima década, como na França e no Japão, onde foi observado um declínio de 21 e 15%, respectivamente, entre 2000 e 2009 (HAMAD, 2010) (Gráfico 4.1). 47 Gráfico 4.1 – Vendas de antibióticos em 2009 no mundo. 2,4% 12,0% Cefalosporina 3,8% 28,3% Penicilinas Fluoroquinolonas 6,4% Macrolides β-lactâmicos 11,4% Tetraciclinas 18,8% 16,9% Fonte: Dados obtidos de (HAMAD, 2010). Aminoglicosideos Outros 48 5 CONCLUSÕES A limitação na venda de antibióticos foi prevista pela Resolução RDC 44 da Associação Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em vigor desde 26 de outubro de 2010. Nela a venda de antibióticos para uso pessoal deve ser realizada mediante prescrição médica. Essa medida teve como objetivo limitar o uso indiscriminado que favorece a propagação de bactérias resistentes. Outras medidas também deverão ser tomadas. Principalmente com relação aos hospitais, onde as condições propiciam o desenvolvimento dessas linhagens resistentes. Dentro de hospitais também é necessário realizar o controle no uso das drogas. Assim como a reafirmação das práticas de higiene, como a lavagem das mãos de forma rotineira pela equipe médica; esterilização adequada dos equipamentos cirúrgicos e a sepcia dos quartos. É conveniente que pacientes com histórico prévio de infecção por bactérias resistentes fossem examinados ao serem internados. Com isso seria possível isolar os pacientes infectados dos demais. O desenvolvimento de novas técnicas de análise clínica é imprescindível no estabelecimento dessa rotina, pois minimizaria o tempo de análise para avaliação do patogênico. Com os resultados obtidos seria possível realizar um melhor monitoramento da saúde pública em níveis regionais e globais. Os estudos comprovaram que a redução no uso de um medicamento levou ao declínio de bactérias resistentes a ele. Portanto, a alternância no uso das drogas é uma técnica a ser utilizada diante da escassez na produção de novos medicamentos. Além da necessidade de investir mais em pesquisas farmacêuticas, as diversas técnicas disponíveis deverão ser empregadas em conjuntos. Inovações nesse setor seriam bem-vindas diante dessa crise iminente. Como a formulação de desinfetantes derivados de compostos fenólicos extraídos de vegetais. Nos quais as pesquisas revelaram atividade antimicrobiana elevada. A população também deve ser educada em relação ao efeito prejudicial do uso indiscriminado de antibiótico, para evitar a obtenção da droga por vias ilegais. E, orientada para os benefícios dos fitoterápicos. 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AL-HABIB, A. et al. 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