XIX CONGRESSO BRASILEIRO DE FÍSICA MÉDICA 17 A 20 DE AGOSTO DE 2014 GOIÂNIA – GO Eficácia de Hipertermia Magnética no Modelo Murino Sarcoma 180 é Aumentada com Múltiplas Injeções Intratumorais de Nanopartículas Magnétias Harley F. Rodrigues1, Francyelli M. Mello2, Gustavo Capistrano1, Luis C. Branquinho1, Nicholas Zufelato1, Elisângela P. Silveira-Lacerda2, Andris F. Bakuzis1 1 Universidade Federal de Goiás, Instituto de Física, 74001-970, Goiânia, Brasil. 2 Universidade Federal de Goiás, Instituto de Ciências Biológicas, 74001-970, Goiânia, Brasil. Resumo: O tratamento de câncer por Hipertermia Magnética (HM) com nanopartículas magnéticas (NPMs) geralmente envolve injeções intratumorais de Fluidos Magnéticos (FM). De fato, alguns estudos tem mostrado que a distribuição de NPM dentro do tumor pode ser afetada pela velocidade de injeção do fluido, assim como pelo número de injeções realizadas em diferentes posições. Além disso, a forma como as NPM estão distribuídas e organizadas no tumor pode afetar sua eficiência térmica [1]. Nesse trabalho, nós comparamos a eficácia de HM com NPMs entre um grupo de 03 animais submetidos a uma única injeção de FM, em comparação com outro grupo, também de 03 animais, que receberam o mesmo volume de FM igualmente dividido em 03 injeções em posições distintas. Nossos dados demonstram que múltiplas injeções intratumorais de nanopartículas magnéticas aumentam a entrega de calor no modelo do sarcoma murino. Por fim, simulações ® numéricas usando o software COMSOL Multiphysics , modelando a configuração experimental de campo magnético não uniforme, para uma dada distribuição espacial de NPM (dentro do tumor após injeção) são apresentadas e comparadas com nossos dados experimentais. Introdução: Hipertermia magnética (HM) consiste no aumento da temperatura de nanopartículas quando seus momentos magnéticos interagem de forma adequada com um campo magnético alternado. Este efeito tem sido idealizado como uma nova terapia para o tratamento do cancro, seja via entrega seletiva de calor ou mesmo pela liberação de fármacos, genes ou outros agentes terapêuticos por meio desta ação externa. Neste trabalho investigamos a entrega de calor em modelo tumoral murino. Método: O procedimento experimental consiste em 30 min de HM utilizando um campo alternado de 300 kHz com intensidades de 9,8 até 13,7 kA/m. Como modelo xenográfico utilizou-se tumores sólidos de Sarcoma 180 (S180) induzidos subcutaneamente em camundongos suíços (Swiss Mouse). Os experimentos foram realizados na configuração de campo magnético alternado e não uniforme. Foi feito o mapeamento do campo magnético alternado gerado pela bobina (na mesma configuração dos experimentos in vivo) utilizando-se uma sonda Hall de campo AC. Logo, os valores reportados de intensidade de campo magnético são valores efetivos (medidos) e, também, estimados à profundidade (subcutânea) do centro do tumor do animal, distante da face da bobina. Nos animais, sempre foi injetado o mesmo volume de FM (90 L) correspondendo à quantidade de 2,0 mg de NPMs. No primeiro grupo (01 injeção) esse volume foi injetado diretamente no centro do tumor (à aproximadamente 4,0 mm de profundidade). No segundo grupo foram feitas 03 injeções de 30 L, em três pontos diferentes (no centro e nas “bordas” do tumor), ao longo da direção do maior eixo do tumor (medido sobre a superfície da pele). O aquecimento da superfície da pele dos animais foi monitorado, em tempo real ao procedimento de HM [2], com uma câmera termográfica (infrared camera – IRCam), enquanto que a temperatura intratumoral foi medida num único ponto (subcutaneamente à 4,0 mm de profundidade) com um termômetro de fibra óptica. Nossa estratégia de monitoramento está resumida na Fig 1. XIX CONGRESSO BRASILEIRO DE FÍSICA MÉDICA 17 A 20 DE AGOSTO DE 2014 GOIÂNIA – GO Figura 1 – Representação esquemática explicando os dois procedimentos de monitoramento, em tempo real, da temperatura superficial da pele do camundongo durante a HM. Um conjunto de dados é obtido com o registro da câmera termográfica (via representada no lado esquerdo da figura) e o outro com a utilização de um termômetro de fibra-óptica (via representada no lado direito da figura). O FM utilizado consistia em NPM de Ferrita de Manganês recobertas com Citrato (MnFe 2O4 – Citrato). Essas NPM foram sintetizadas em nosso grupo e extensivamente caracterizadas por diversas técnicas: Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET), Difração de Raios-X (DRX) e Magnetometria por Amostra Vibrante (MAV). Também, foi avaliada in vitro a potência térmica dissipada (specific loss power – SLP ) por uma amostra (90 L) desse FM. O SLP in vitro foi determinado em função da intensidade de campo magnético, na mesma configuração dos experimentos in vivo. Resultados: Em particular, para a amplitude de campo magnético alternado de 11.8 kA/m, no grupo de 01 injeção, foi medida uma temperatura intratumoral média de 39.0°C (em 30 min de HM). Enquanto que para o grupo de 03 injeções, também em 30 min de HM, tanto a temperatura superficial quanto intratumoral ficaram em torno de 42.7°C. E aumentando a amplitude do campo magnético, como esperado, resultou no maior aquecimento do tumor. Por outro lado, para o grupo de 03 injeções, sob ação de um campo magnético alternado e não uniforme de 13.7 kA/m, foi medido um aumento da temperatura intratumoral (em 30 min de HM) igual a 44.3°C. Discussão e Conclusões: Nesse trabalho foi investigado o efeito de múltiplas injeções intratumorais na entrega de calor durante procedimentos de MH com NPM in vivo. E os valores mais altos de temperatura (em 30 min de HM), acessados no grupo de 03 injeções, podem ser atribuídos a uma melhor distribuição intratumoral das NPM. Para tentar explicar nossos resultados, usando o software ® COMSOL Multiphysics , foram realizadas algumas simulações numéricas considerando a equação de biocalor de Pennes [3] e, também, atribuindo valores reais encontrados na literatura [4] para os parâmetros de transporte de calor em meio biológico. Nesse sentido, foram criados três modelos numéricos, representando três possíveis diferentes distribuições das fontes de calor (NPM) dentro do 3 tumor: (a) uma esfera homogênea de FM (90 mm ) com centro a 4,0 mm de profundidade 3 subcutânea; (b) três volumes esféricos de FM (30 mm cada) distribuídos ao longo do eixo maior do 3 tumor e (c) uma casca esférica de FM em torno do tumor (90 mm ). Nessas três simulações a potência térmica dissipada pelas fontes de calor (in vivo), era uma função contínua da profundidade (medida em relação à superfície da pele) simulando, assim, a intensidade não uniforme do campo magnético alternado dentro do tumor subcutâneo. As comparações entre os resultados experimentais e numéricos usando, também, os valores de SLP in vitro, mostram que os modelos de 01 e 03 esferas de FM não representam bem o aquecimento medido na superfície da pele e dentro do tumor. Já o modelo de casca esférica é mais satisfatório nesse objetivo. As razões para esse desacordo podem ser (a) as NPM, após a injeção, não ficam homogeneamente distribuídas como as simulações pressupõem, e/ou (b) o valor usado para a simulação, numa parte das análises, i.e. o valor in vitro do SLP não descreve corretamente o SLP in vivo. Referências: 1. 2. 3. 4. Branquinho et al., Sci. Rep. 3, 2887 (2013). Rodrigues et al., Int. J. Hyp. 29, 752 (2013). Eugene H. Wissler. Pennes’ 1948 paper revisited. Journal of Applied Physiology, 85:35-41, 1998. Herman, C., Hatwar, R. and Chamnmugam, A., “Thermal Analysis of Cancerous Breast Model”. Proceedings of IMECE 2012.