725 UMA REVISÃO DAS PESQUISAS SOBRE A QUIMICA DA ATMOSFERA· E A MUDANÇA DO CLIMA GLOBAL SILVIO DE OLIVEIRA (1,2,3) l.Departamento de ÁgJa e Energia tletrica - DAEE 2.Departanento de ~teorologia - IAG -USP 3.CEI'ESB As alterações na química da atmosfera e do clima global vem sendo acompanhada por diversos especialistas. Tem se verificado que além da presença das substâncias químicas convencionais, os gases traçadores CH4, N20, CFC e outros têm aumentado sua participação no processo. Suspeita-se também que o SOx possa estar contribuindo para modificações no balanço radiativo. Procu rou-se então sumarizar os trabalhos nessa área e discutir as interações eQ tre os efeitos dos gases lançados na atmosfera e o seu reflexo no clima. INTRODUÇÃO A oxidação de traçadores de gases atmosféricos contendo carbono, hidrogênio, nitrogênio, enxofre e halogênios, ocorrem através das reações químicas iniciadas diretamente ou indiretamente pela radiação solar. Estes proce~ sos químicos produzidos também por produtos de vida média longa,não reativo tais como C02 ou vapor dágua,são removidos da atmosfera por mecanismos físi coso O processo de oxidação ocorre principalmente na troposfera e com isso está previsto concentrações elevadas destas substâncias traçadoras na baixa atmosfera. O processo de oxidação química, geralmente, ocorre na fase gas. Para os componentes voláteis orgânicos incluindo os hidrocarbonetos halogenados, a maior espécie oxidante é o radical oxidrila OH, que reage para extrair ou adicionar o átomo de hidrogênio às ligações não saturadas e assim iniciar o mecanismo de degradação de radicais livres. O propósito deste ~studo é de~ crever o papel dos processos químicos da atmosfera na determinação das mudanças climáticas, com base na literatura vigente. PRINCIPAIS GASES TRAÇADORES A tabela I reune um conjunto de gases traçadores que vem sendo constatado o aumento global das suas concentrações de orígem primária, de acordo com ~uebbles and Edmonds (1988). A maioria destes gases têm efeito direto sobre o clima através dos pro- 726 cessos de absorção da radiação infravermelha (IR). A mudança climática sendo associada com as variações a longo prazo das condições meteorológicas passe a ser caracterizada pelas alterações na temperatura de superfície, precipit~ ção, cobertura de nuvens e outros parâmetros. O estudo de Wuebbles et aI., 1989, tem demonstrado que o acréscimo das concentrações destes gases traçadQ res absorvedores de IR poderá afetar o clima global e com isso despertando cada vez mais o interesse da pesquisa nessa área. A IMPORTÂNCIA DO OH TROPOSFÉRICO O radical hidroxila não é um gas de estufa, com efeito direto sobre o clima, mas é extremamente importante como substância que remove gases traçadores na troposfera. Ele preferencialmente remove, o CH4, CO, CH3CCL3,CH3C~, H2S, S02, DMS e outros hidrocarbonetos e halocarbonos contendo hidrogênio. Algumas destas espécies tais como o CH4 tem efeito direto sobre o clima. POL tanto uma mudança na quantidadé do OH pode impactar a vida média destas espé cies e promover profundas modificações no clima. Os trabalhos de (Cox and Derwent, 1981; Liu, 1989) têm demonstrado que o acréscimo nas concentrações do CH4 e do CO, tendem a decrecer as concentr~ ções do OH, ao passo que um acréscimo no NOx e 03 eleva as concentrações do OH. Mudanças na UV devido à destruição do ozônio estratosférico potencialmente, conduziria a um aumento na eficiência de oxidação através de efeito direto sobre a fotoquímica do 03 e do OH. Um aumento na concentração do vapor dá gua, devido ao aquecimento global, também conduzirá a um aumento na produção do OH. Por outro lado as alterações no balanço do CH4 pode modificar a distribui ção da concentração do ozônio. O OH tem um papel determinante na produção de ozônio por oxidar o NO a N02, remover formas químicas ativas de NO e na baixa troposfera, iniciar a oxidação dos hidrocarbonetos. A tabela 11 sumariza a relação do OH com diversos gases traçadores tanto na sua formação como destrui çao. Na troposfera a fonte geradora do OH e do ijOx (OH,H02,RN03,etc .. ) é através da reação do átomo de oxigênio excitado O(~) com H20: O( lD) + H20 - t 20H (1) onde o O(lD) é gerado pela fotólise do ozon10 aos 300nm: 03 + h v C~ < 31Onm) ---+ 02 + O( 1D) (2) A concentração do NOx troposférico NOx(NO+N02) pode determinar como o 03 é produzido e destruido na condição "background" "áreas limpas". Assim, em r~ giões, de elevada concentração de NOx, uma sequência fotoquímica iniciada pela reação do CO com o OH conduziria a produção do 03: CO + OH ~ C02 H + 02 + M - 7 H02 + NO ~ N02 + h-v O + 02 + M ---+ ~ + H R02 + M OH + N02 NO + O 03 + M Líquido: CO + 202 + h ---+ C02 + 03 (2) 727 Em regiões onde a concentração de NOx é quase zero a sequência de re~ çoes iniciadas pelo OH com o CO conduz a destruição do 03: CO + OH -+ C02 + H H + 02 +M ~ H02 + M H02 + 03 --. OH + 202 Logo a taxa de destruição ou produção global líquida de 03 depende fundamentalmente das concentrações de NOx e do OH. O ENXOFRE NA ATMOSFERA E SUA LIGAÇÃO COM O CLIMA O papel do enxofre na atmosfera sobre o clima, até recentemente, tem sido limitado ao impacto das emissões antropogênicas sobre o aerosol estratosférico (Wang et aI., 1986). Esse conceito tem sido revisto de tal modo que espécies de enxofre de vida média curta pode ter consequências para o clima através de seus efeitos sobre o albedo das nuvens. A propósito deste assunto(Tung et aI., 1986) o aumento da nebulosida de na estratosfera deverá alterar substancialmente o resfriamento e ou aquecimento no início da primavera na região da antártica. Mudanças nas propri~ dades óticas das nuvens pode influenciar o clima. A esse respeito Charlston et aI., (1987) estimou que um aumento global no albedo de 0.005 corresponaeria a uma diminuição de 1.3K na temperatura média de superfície. Logo uma variação pequena na temperatura devido ao aumento dos gases de estufa é importante para entender o processo que conduziria uma modificação no albedo das nuvens. Um processo envolve a alteração nas características da nebulosidade pelas emissões do DMS (Dimetilsulfeto) pelos oceanos. Um outro processo envolve modificações nas nuvens pelo aumento do vapor dágua e as emissões antropogênicas do enxofre, Ghan et. aI., (1989) e Schwartz (1988). Neste me canismo está envolvido o OH que atua para converter o DMS e S02 para partículas de aerosois e sulfatos e são a fonte primária dos núcleos de condens~ ção, capaz de alterar o albedo das nuvens e do clima. Esta discussão mostra que as concentrações localizadas do DMS, S02 e do vapor dágua presupõe a existência de concentrações de partículas e a con sequente formação dos núcleos de condensação que determinarão se mudanças nas emissões de enxofre causará impacto ou não no albedo das nuvens com con sequências para o clima global, tendo em vista que 30% da superfície terre~ tre é coberta por nuvens cujas propriedades óticas deverão ser s~nsíveis a alterações no tamanho das gotículas (Charlston,et. aI., 1987). CONCLUSÃO Discutiu-se a influência de gases traçadores de vida média longa sobre a camada de ozônio, o efeito estufa e seu reflexo sobre o clima. Abordou-se também, aspectos sobre a presença do S02, DMS e do vapor dágua e e o seu impacto sobre a cobertura de nuvens da te~ra, estimada em 30% quais as consequ~ncias para o clima global. 728 BIBLIOGRAFIA Char1ston, R.J., Love10ck, J.E., Andreae, M.O. and S.G. Warren, Oceanic phy top1ankton, atmospheric su1pur, c10ud albedo and c1imate, Nature, 326, 655-661 (1987). Cox, R.A., and R.G. Derwent, Gas phase chemistry of the minor constituents of the troposphere, in "Specia1ist Periodic Report Gas and Energy Transfer", vo1 4, The Roya1 Society of Chemistry, London pp. 189232, 1981. Ghan, S.J., K.E. Taylor, J.E. Penner, and D.J. Erickson, "Mode1 test of CCNc10ud albedo c1imate forcing", Lawrence Livermore National Laborato ry Report No UCRL - 101205 (1989). Liu, S.C., Group report on oxidizing capacity of the atmosphere, in the Chan ging Atmosphere, edited by F.S. Row1and and I.S.A. Isaksen, Wi1ey Interscience,New York, pp. 219-232, 1988. Schwartz, S.E., "Are global c10ud albedo and c1imate Contro11ed by phytop1ankton ", Nature, 336,441-445 (1988). man.ne Tung, K.K., On the re1ationship between the therma1 structure of the strato~ phere and the seasona1 distribution of ozone, Geophys. Res. Lett., 13, 1308, 1986. Wang, W.C. D.J. Wuebb1es, W.M. Washington, R.G. Isaacs and G. Mo1nar, "Trace Gases and Other Potentia1 Perturbations to Global C1imate", Rev. Geophys., 24, 110-140 (1986). Wuebb1es, D.J. Keith E.G. Peter S.C., and Joyce E.P. The Role of Atmospheric Chemistry in C1imate Change, J.PCA, V.39, No.1 - pp. 22-28 (1989). Wuebb1es, D.J. and J.Edmonds, "A primer on greenhouse gases", DOE Report, U. S. Department at Energy, DOE/NBB0083, 1983. 729 TABELA GAS 101: 1 - RESUMO DOS GASES TRAÇADORES Crocelltr.,ç80 (PH1) Tenlência Ablosférica de aor';.dnl'l TB1l'O de vida .oédia 01 345 1.7 CXl 1lJl.1.tido da 0.12 1-2 0.4 0.)1 O.) 150 4 Tipo de frote em:i..aora (",,,,.1 Di&xillo de carbono Mel.", ~Z IMPORTANTES 500 0.4(%/8110) 1 (Ar-biOllfera-oceano) 7 -10 caJbJ5tíYl!l - fós.il aninel dauoÍatic:o-vazaDl!llto ela ..../petrrfleo - vtlr...... de arroz Uso IharllÍtioo: aaric:ultun, irândio_ floreata. cart•• 1O N0 2 Oxido Ni lroao Z) KJx·(to+m óxidode queÍllll de OOIIbJatí.... l fÓ8.il, c:ultivo, ferti liZCIte no 8010. nitr:ll. (Xl) (x-Il a ZC1 2 C {1{) crc-IZ 1-2OxIÕ5 Z.0.10- 5 3. 2x 10-4 crc-ll) ).2xl0- 5 10 gênio não ca~ll'ICido 0.02 75 caJbJIfive1 fósail, qu.iDa de biaauN produzido na inlIl8tru quÍmica produzido na imúetru quÍmica 110 inIIletril química 90 produzido 6-9 produzido na irodatria quÍmica fabricação extintoreo de inoônIio NI OIp::l) ...lilclorofonnio CF 2aJlr alBr ''''-IZII 1.2x1O-4 blO-6 lo-:xJ 1"'-1~1 lxlO-6 não ccOlI!Cido 110 fabricação da extintora da iooênIi.o !D dióxido de """,,[re 1x2Ox1O-5 não coohecido 0.02 queima <Do c~tloli z TABELA 5x1O-4 2-2.5 GAS DE ESTUF A7 CONSF.NTRAÇAo TROPO~ E AFETADA PELA QUIMICA 7 SIM, reage com 011 CO NÃO SIH SIM, reage com 011 NÃO NÃO SIH SIH, re.ge co.. OH, 0) NXO NÃO N1Io SIH, reage com OH 81H SIH SIH EFEITOS INDIRETO SOBRE FE~ICA SIM C2C1 3 f ) CII 3CC1) Cf 2CIBr petróleo queimo de bianaaaa, queiDa de c<JIb.Bi{""l fó.. i1 S~A SIM CFCl) Cf 2C1 2 e 11- EFEITO DIRETO E INDIRETO DOS TRAÇADORES DE GAS NO CLIMA CO 2 CII 4 NZO NO x da carvão lsuJ.. fídrico GAS 12-15 NÃO QUIMICA DA XROPOSFERA NÃO SIM afeta 0" e o) NlIo SIM afeta OH a 0, NXC NÃO NXO NlIo r SIH NÃO Cf 3Br SIH NÃO NXO S02 SIH (fraco) Sim reaga com 011 cos SIH ( freco) Sim reAge com 011 SIM pouco .igoifi c.tivo p.ra O cli..a NÃO ? I QUIMICA DA ESTRATOSFERA? SUl afeta 0) SIH afeta °)"2° Não .ignificativamaota Si.. arat. 0, Si.. afaU 0, Sim afeta O, Si .. afeta O, Sim afeta 0 3 Sim afeta O, si.. afeta O) Si.. afeta 0 3 Silll aumanta o. .. r.ll. aoi. si.. aumenta aaro.oÍl