Literaturas antigas e produção de saber Aluna: Fernanda - PUC-Rio

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Departamento de História
Literaturas antigas e produção de saber
Aluna: Fernanda Monteiro da Silva
( Bolsista PIBIC – CNPQ )
Profa. Flávia Maria Schlee Eyler
Tema: Reflexões sobre a tragédia grega como arte política
Relatório Técnico – Período: Dezembro 2011 – Julho 2012
A partir dos nossos estudos no grupo PIBIC, pensamos que as tragédias gregas
destinavam-se aos cidadãos atenienses e não a um público qualquer.Perguntamos, então,
porque as tragédias seriam uma necessidade da democracia ateniense? As tragédias ocupavam o
mesmo lugar que a Assembleia, que o Conselho dos quinhentos? É verdade que a Atenas do
século Va.C. tinha especificidade? Pela primeira vez na história, uma sociedade teve uma
participação tão alargada na política e suas decisões. Porque será que isso aconteceu? Temos
apenas a certeza de que os gregos acreditavam na participação política. E a participação de
pessoas novas, que jamais tinham tomado conhecimento de debates, necessitavam de algum tipo
de aprendizado.
Tudo era grandioso, novo e mudava rapidamente. A vitória nas guerras médicas
assustava, havia um medo do ciúme dos deuses. Por outro lado não havia um Estado de,
governantes ou instâncias que pudessem se responsabilizar pelos destinos da cidade. Tudo
recaía sobre os cidadãos e a cidade é que era submetida à múltiplos controles. Neste caso, será
que as tragédias podiam prestar algum serviço à infraestrutura mental dos cidadãos? Nas
tragédias havia a presença do pensamento tradicional, mítico e a nova racionalidade, a cultura
popular e a cultura das elites. Não poderíamos então pensar que as tragédias apresentavam sem
cessar o modo mítico e a nova ordem e seu fundamento baseado numa justiça do universo,
numa legalidade imanente ao cosmos?
Sabemos que entre os gregos, a festa desempenhava um papel importante na coesão do
corpo cívico. O corpo dos cidadãos atenienses, ainda que tivesse conflitos, às vezes violentos
que o dividiam, formava ainda um todo relativamente homogêneo e fechado. Crença e arte
parecem ter tido uma fonte comum. Era em comum que as coisas eram vividas. Podemos supor
que a questão de saber como integrar tal ruptura numa ordem sancionada pelos deuses na
imagem tradicional do mundo poderia ser trabalhada.
Pensamos que em certa medida os cidadãos assistiam às tragédias não somente como
espectadores, mas também como cidadãos. Pensamos também que os trágicos se inseriam na
tradição dão pensamento político grego no qual uma grande independência se associa a uma
grande autoridade. Certamente temos que pensar que os poetas trágicos tiveram uma função
política que merece um exame.
Como hipótese temos que no V século a.C., existia entre a tragédia e a política uma
conexão muito estreita. Entre as guerras médicas e a do Peloponeso, houve uma originalidade
do corpo cívico ateniense e de sua situação política que apontava para uma grande novidade e as
tragédias, sobretudo as de Ésquilo e Sófocles que antecedem a crise da democracia.Outra
questão seria como nós esperamos lançar alguma luz sobre as necessidades dos cidadãos
atenienses do século V. Diante da escassez de fontes, talvez sejam as próprias tragédias que
podem nos fornecer respostas aos problemas. Como as tragédias se dirigiam a todos os
cidadãos, sua recepção aponta para tudo aquilo que preocupava e atormentava os cidadãos. Por
outro lado, se até hoje as tragédias nos dizem algo isso não nos deve enganar, é preciso
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considerar esta arte com relação à determinada dimensão política desta civilização em seus
níveis de pensamento e concepções da moral e das crenças.
Atenas do século V era turbulenta, inquietante, excessiva. Vale a pena tentar compreendê-la.
Essa visão era tanto de outros gregos como dos próprios atenienses. Como anunciava Sófocles:
“Il est bien dês prodiges, et rien n´ést plus prodigieux que l´homme”.
Até a época arcaica, Atenas foi uma cidade pouco significativa. Segundo Mossé1, não se
sabe a partir de que momento o poder do rei viu-se limitado pelo controle de um conselho
aristocrático, com sede na colina do Areópago e depois partilhado com três magistrados eleitos
por um ano.
Até o Séc. VII a. C a cidade era dominada por uma aristocracia guerreira, senhora da
terra e do poder político, a distribuição da justiça e do direito. A massa da população era uma
clientela, reunida no seio das fratrias para o culto do ancestral comum ao genos. Às vezes essa
massa era até consultada mas econômica e socialmente era dependente. Entre a aristocracia e os
camponeses há um grupo intermediário de aldeões livres e suficientemente abastados para
servirem como hoplitas nas falanges. Os artesãos são pouco numerosos e trabalham para os
nobres.
No final do séc. VII acontece a entrada de Atenas na história com um primeiro
episódio: Cílon apodera-se da tirania (em 630 a. C.). Ele era um jovem aristocrata, vencedor de
jogos olímpicos e, com a ajuda de amigos seus e de seu sogro Teágenes, tirano de Mégara
tomou o poder em Atenas. O então arconte Mégacles, chamou o povo que acudiu em massa
para assediar a Acrópole. Cílon rendeu-se e foram condenados à morte por Mégacles.
(Tucídides)
Tal gesto foi considerado um sacrilégio e, como a Acrópole é sagrada, a mácula recairia
sobre todos os membros do génos dos alcmeônidas. O que importa aqui é a inegável
importância do Povo e a aspiração à substituição do direito dos géne por uma lei observada por
todos e capaz de por fim às vendettas que dividiam as famílias aristocráticas.
Tentativas pelo reequilíbrio da justiça
. O código de Drácon e dúvidas sobre a redação de um código de leis completo ou a dotação de
uma Constituição para Atenas. Embora prejudicando os privilégios judiciários dos antigos géne,
as leis de Drácon de modo algum feriram o monopólio político da aristocracia ou sua
dominação social.
Ao codificar uma autoridade que até então se baseava no direito divino, Solon fixava-lhes
limites.
. Situação = dependência crescente dos camponesnes atenienses obrigados ao pagamento de 1/6
de sua colheita + perigo de escravidão. Séc. VI aC ⇒ eleito arconte em 594 e, consciente da
ameaça camponesa que poderia desembocar na tirania, ele proclama a sesachtéia = suspensão
dos encargos + anulação das dívidas + proibição de prisão do devedor + retorno dos atenienses
que tinham sido vendidos como escravos no exterior + (questão duvidosa da partilha das terras).
. Reformas jurídicas, políticas e econômicas ⇒ leis tornadas públicas + criação (?) de um
conselho de 400 membros paralelo ao Areópago (futura Boulè clisteana) + divisão dos cidadãos
em 4 classes censitárias 1ª = pentacosimedianos ; 2ª = hippeis ( principais magistraturas para
ambos); 3ª = zeugitas (camponeses médios capazes de servirem como hoplitas); 4ª = tetes
(massa dos camponeses pobres e artesãos que não eram estrangeiros).O objetivo da divisão era
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definir os encargos militares. Critério de fortuna e não de nascimento ⇒ mudança de
mentalidade com o fim dos antigos costumes aristocráticos. A orientação para as culturas
arbustivas + busca de abastecimento regular de cereais + desenvolvimento da cerâmica =
tendências iniciadas na época de Solon e que vão modificar a estrutura social da Ática numa
época posterior.
Depois de Solon houve o renascimento dos conflitos entre as facções aristocráticas + agitação
camponesa + ausência de arconte por 2 anos.
. 561 aC ⇒ confronto entre Licurgo (eteobutades) e Mégacles (alcmeônidas). Mesmo tendo o
clã amaldiçoado, os alcmeônidas desfrutavam de uma posição de influência na Ática.
Pedinomos (gente da planície = aristocracia tradicional?) X Paralianos ( gente do litoral artesãos
e comerciantes ricos ? ) + Psístrato que formou um 3º partido = Diacria ( das colinas ?)
. Psistrato seria um tirano demagogo que se colocou ao lado das massas camponesas contra a
aristocracia.( Heródoto conta o fingimento dele para ser apoiado )
. Depois de exilado, Mégacles aliou-se a Psístrato através do casamento de sua filha. O
casamento acabou não acontecendo e Psistrato tentou voltar a Atenas com o apoio das massas.
Os autores antigos afirmam que Psístrato governou respeitando as leis dadas por Sólon e que os
magistrados eram eleitos e o máximo que ele podia fazer era reservar algumas funções políticas
a seus partidários. Como seus adversários haviam sido condenados ao exílio, Psístrato governou
em paz e quando estes voltaram não foram hostilizados. Pelo contrário, Clístenes, filho de
Mégacles, exerceu o arcontado em 525-524.
. Psístrato segundo Aristóteles dava (seu) dinheiro aos pobres para que eles ficassem nos
campos evitando seu envolvimento com as coisas da política. (Foi o precursor de Péricles)
. Obras de Psístrato = favorece a exportação do vinho e azeite. Estimula o comércio marítimo e
a exploração das minas de prata do Láurio. Estabelece relações com Chipre, Egito, Ponto
Euxino e Etrúria. Move concorrência e esmaga a produção de trigo de Corinto trocando pelo
trigo Cita. Organiza atividades cívicas e constroi templos proporcionando trabalho aos artesãos
e pedreiros e acolhendo os artistas jônicos. Cerâmica ateniense com as primeiras corujas com a
efígie de Atena. Estimulou os cultos que unissem os atenienses: Atena e Dioniso.
. Hípias e Hiparco, filhos de Psístrato, afeitos ao poder pessoal, viam-se tentados a exercê-lo de
modo autoritário e principesco. Hiparco foi assassinado por Harmódio e Aristogiton, os
tiranicidas que depois foram reverenciados pela democracia. Hípias manteve a tirania ainda por
4 anos.
. Clístenes, exilado, não conseguia voltar. O povo não se manifestou pela morte de Hiparco e foi
preciso a intervenção de Cleômedes, rei de Esparta, convocado pela aristocracia ateniense para
causar a derrocada do tirano em 510 aC.
O regime político instituído por Clístenes prefigurava a democracia. Ele introduziu a
isonomia: um regime onde os cidadãos, mesmo os das camadas médias, podiam intervir
regularmente e eficazmente na política, ainda que as ações mais importantes estivessem nas
mãos de um conselho aristocrático, como o Areópago. Mas até aqui há no mesmo sentido o
desenvolvimento de outras cidades como Corinto e Argos. Após a tomada de Cálcias e Eubéia e
com a luta contra os beócios, Atenas se torna, ao lado de Esparta, a cidade mais poderosa. Em
Atenas, a Assembléia do povo se deixa convencer a lutar contra a dominação persa na Ásia
Menor.
É assim que Atenas entra na política internacional. No mais, tudo caminha de modo
muito rápido. Em 490 os persas enviam uma expedição a Atenas por sua participação na
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revolta, mas a armada persa é vencida em Maratona. E ganhou sozinha, pois os espartacitas não
ajudaram Atenas. Em torno de 483, os persas se lançam para conquistar toda a Grécia. Quase ao
mesmo tempo sob o conselho de Temístocles, os atenienses decidem construir uma frota de
guerra. A cidade transformou-se, houve mobilização para a construção e o aprendizado da
navegação. Quando sentiram que os persas se aproximavam, os atenienses fugiram da cidade.
Em setembro de 480 em Salamina, os gregos derrotaram a frota persa. Graças à
estratégia de Temístocles os gregos ganharam, mas surge um novo problema: como libertar os
gregos da Ásia Menor? Os espartacitas já não queriam mais lutar, mas os atenienses fizeram,
então, a liga de Delos para libertar a Jônia em 478. Até então, Atenas era apenas uma cidade
pacata e nunca se imaginou capaz de tamanho alcance para além de suas fronteiras. Seria
impossível a compreensão da história ateniense sem esses dados.
Com a instauração da isonomia houve uma transformação rápida no plano
antropológico em termos de uma representação coletiva com o Conselho dos quinhentos que
preparava os decretos da Assembléia do povo. Como diria Péricles: ‘Nous sommes lês seuls à
considerer celui qui ne prend aucune part à ces affaires non comme um oisif, mais comme um
inutile.” Havia, assim, uma pressão considerável sobre os cidadãos pela participação política. A
dedicação à política exigia certo abandono aos interesses pessoais.
Por outro lado, jamais no mundo grego, após a crise da época arcaica, se impôs uma
dominação pessoal como solução durável para uma cidade ou mesmo para uma região. Pelo
contrário, o poder sempre permaneceu compartilhado no interior das cidades, mas, sobretudo,
entre elas. A estreiteza do mundo grego é o resultado e a causa desta situação política. Nem a
tradicional, nem as novas “classes” podiam se impor e ordenar o mundo da polis. Havia uma
crença muito forte sobre o justo e o injusto.
Neste contexto se forma um pensamento político independente que não estava ligado a
nenhuma tendência particular. Diante do arbítrio dos dominantes, quase impossível de conter,
diante da agitação dos dominados, a ideia da partilha abriu caminho. Era preciso contemplar as
camadas medias com a possibilidade institucional de se oporem contra os abusos dos nobres. Só
assim, a polis podia ser equilibrada. Neste sentido compreendemos o papel dos tiranos.
A análise e a boa vontade não podiam produzir, só por elas, nas grandes camadas da
população,um engajamento durável e regular tão grande que pudesse ser o interesse que levaria
o indivíduo à boa ordem da comunidade e ao mesmo tempo garantir uma melhor proteção
jurídica.Aqui entram em jogo uma característica particular às cidades-estado gregas que, através
da política, da vida dos cidadãos entre si, adquirisse uma potencialmente uma importância fora
do comum.
As cidades eram pequenas, do tamanho do olhar. Neste sentido havia a experiência
concreta de um sentimento de pertencimento. As subdivisões das instituições políticas eram o
principal nível em que se estabeleciam as relações comuns e recíprocas para além do oikós. No
que diz respeito à religião, ela era, em grande medida, um negócio da cidade: as subdivisões do
corpo cívico eram elas mesmas comunidades cultuais, pois pertenciam ao corpo cívico e por
isso tinham uma importância excepcional. Esta excepcionalidade também era marcada pela
nítida separação do estatuto de cidadão diante dos estrangeiros, escravos e mulheres.
A sociedade tinha um caráter agrário. O cidadão devia ser proprietário de terras e ser
guerreiro, saber dar bons conselhos, ser eloquente, belo e praticar certos esportes, mas tudo isso
era um ideal muito estreito e ignorava o pluralismo. Aqui tb estava a causa da não
especialização.Esta significava que um homem ganhava sua vida a partir de algo particular o
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que não era bem visto. O ideal era um corpo cívico masculino fechado sob si mesmo e
homogêneo.
Com o alargamento da participação política as desigualdades apareceram e o
pensamento político se viu obrigado a estabelecer novos critérios de valor que permitissem
distinguir claramente o justo do injusto. Entre a desigualdade de fato e a igualdade
potencialmente inscrita no pertencimento ao corpo cívico, a tensão tornava-se virulenta. Quando
a preponderância dos nobres era colocada em dúvida, a ideia de igualdade ganhava força. Era
assim que a isonomia tornava-se uma palavra de ordem e uma força de mobilização. Apenas na
política os inferiores se igualavam aos aristocratas. Na política não importavam nem a riqueza,
nem a cultura. Mas neste estado de coisas, o papel das camadas médias foi fundamental, elas
podiam garantir a isonomia.
Parece que havia mesmo uma solidariedade das camadas médias. Para incentiv´-la a
fazê-la frutificar, era preciso uma teoria da responsabilidade dos cidadãos, a consciência que
talvez eles fossem realmente capazes, até mais que os nobres, de zelar pelos interesses das
cidades. Aqui se ultrapassava o mundo da necessidade e adentrava-se à esfera da comunidade.
Talvez seja conveniente situar a originalidade da formação da polis num contexto mais
amplo. Ela se caracteriza por um lado, pelo fato que a ordem antiga foi gravemente abalada; que
as liberdades novas se ofereciam à ação e ao pensamento, assim como as normas tradicionais se
tornavam cada vez mais inviáveis e que se fazia urgente colocá-las em questão. É nisto que o
mundo grego difere de Roma pois esta jamais com heceu uma reviravolta tão profunda de uma
ordem antiga: pelo contrário, em Roma, as classes dirigentes puderam consolidar sempre sua
preeminência. O corpo cívico tinha como principal referência a aristocracia que detinha ea
guarda das coisas públicas. Em Roma cada um devia procurar se fazer reconhecer e encontrar
seu lugar no quadro de uma ordem preestabelecida, de preferência na ordem militar ou nos
sistemas particulares. Ainda mais que era por este caminho conjunto que crescia sem cessar que
Roma se tornou uma Respublica. A sociedade ali sempre permaneceu extremamente
hierarquizada.
Por outro lado, entre os gregos, a diferenciação social, de seus papéis foi muito limitada.
O vasto campo de ação que se abria diante deles serviu de início para o acréscimo de novas
poleis de tipo tradicional cujas populações eram basicamente agrárias.Salientamos que a
disparidade de riquezas jamais instalou diferenças de classe ordenadas centralmente por um
chefe monarca. Pelo contrário, entre os gregos, tal evolução fortaleceu a coesão entre os
cidadãos. Eles realmente se sentiam pertencendo a uma comunidade comum e superior a todos.
A vida em comum conservava a estrutura antiga; os antigos valores seguiam as instituições
arcaicas como a assembléia do povo ou o desejo de autarquia. Por tudo isso, havia uma
igualdade potencial entre os cidadãos através da repartição concreta dos direitos e deveres.
Era entre os não-cidadãos, os escravos e metecos, que as sociedades gregas procuravam os
especialistas necessários.As condições que permitiam a evolução em direção à igualdade de
direitos políticos significavam a necessidade de uma ancoragem real na estrutura de interesses
dos cidadãos desde que a situação econômica a permitisse. A vida política muda de tom com as
reformas de Clístenes. Ele soube desenvolver uma solidariedade e um sentido de trabalho
conjunto para os interesses da cidade e que eram independentes doas antigas dependência com
os nobres.
Tudo isso garantiu uma evolução cívica fortemente institucionalizada: entre os diversos
tipos de pertencimento do indivíduo, aquele que o ligava à polis era o mais importante. Fora da
família, a atividade política dava orgulho. A política tomava conta dos cidadãos e dava-lhe
atividades. A idéia de igualdade fez seu caminho junto com o da liberdade. Para esses novos
homens que agora participavam em condições de igualdade com a nobreza tornavam-os
conscientes de sua responsabilidade na coletividade. Houve assim, a formação de uma
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identidade nova. Ao lado das subdivisões da cidade, das Assembléias do povo, do Conselho, as
festas coroam essas funções: a ágora não somente é um lugar de encontro, mas é o luar do
teatro.. Diante dele tudo parece menos importante.
Esse espaço cívico concentra sobre si muita atenção, ambição e energia invejosa é
também o centro da vida da polis. Por outro lado, tal espaço só existe porque há uma separação
entre as esferas doméstica e política.Na cidade, na vida pública, o racional domina de modo
marcante (Clístenes) . Essa ordem repousa sobre uma concepção muito pouco tradicional e que
não corresponde às clivagens sociais. Somente no plano político os cidadãos podiam
contrabalançar a preponderância dos nobres que, aliás, permanecia exatamente como no
passado.
Entretanto, a isonomia não era apenas um sistema muito racional e além do mais lhe
faltava a garantia de uma imagem de mundo para além da que era veiculada pelos mitos. De
uma certa maneira, ela era vulnerável e não podia ser ensinada em escolas, ou universidades.
Ela devia ser formada através de discussões, no mercado, nas praças públicas e nas casas dos
cidadãos.
As isonomias eram empreendimentos perigosos. Se seu fundamento político parecia
sólido, elas supunham não somente certas condições excepcionais na história do mundo, mas
também uma soma extraordinária de esforços, de energia, de sucessos. Havia dificuldades na
igualdade com os nobres e também com a exclusão das mulheres e dos não-cidadãos. Nem
sempre a superioridade tradicional dos nobres era percebida diante de homens bem-sucedidos,
mas não-cidadãos.
Não podemos deixar de lado questões importantes como: qual seria a relação entre a
linguagem racional dos discursos públicos e a linguagem caseira; ou entre esta racionalidade e
as representações coletivas dos mitos nos quais os cidadãos foram educados e que suas
mulheres continuavam a ensinar a seus filhos? Que validade poderia ter uma ordem política que
era em grande parte elaborada na lacuna de representações e mitos habituais? Não devemos
perder de vista que o irracional está sempre presente no racional. O mundo aristocrático já havia
formulado para si o lado luminoso da existência e o privilégio do racional, mas diante de uma
ordem criada artificialmente, um certo número de coisas, de representações, nostalgias e
agressões permaneciam sem solução e de certa forma ameaçavam a ordem racional da cidade.
Tudo isso não era fonte de inquietação?
Talvez a encenação trágica zelasse para garantir as fronteiras entre as diferentes esferas
do mundo e a preocupação que havia no corpo cívico de se delimitar com relação a tantas
novidades que, num lapso de tempo transformou radicalmente a vida dos cidadãos num “querer
é poder”.
Quando na vitória contra os persas, em 480ª. C., Atenas se vê psicologicamente capaz
de dispor de todo seu corpo cívico, há a confirmação de que ali, nenhum homem era tutelado e
que eles tinham por si mesmo discernimento. Essa nova forma de pensar certamente vinha da
experiência.
A história de Atenas após as guerras médicas continuou muito ativa através de alianças.
A ação de Atenas não se limitou à Confederação que englobava a maior parte das cidades e
ilhas do Egeu, mas também as do mar de Marmara e do Bósforo. Ela foi muito mais longe, ao
mar Negro, à Ásia Menor e até Chipree e Egito. Vai também em direção à Grécia Continental w
aos reinos da Macedônia e Trácia. Temporariamente atuou na Sicília. Jamais se viu nada
parecido. Esparta, como exceção, continuava a pensar em termos defensivos, mas acabou
também sendo envolvida no movimento de Confederação de cidades que se colocou contra o
domínio ateniense.
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Mas mesmo com os desafios esternos, as transformações internas da cidade de Atenas
continuavam inovando e incomodando. Desde o começo, houve um apelo aos cidadãos das
camadas inferiores para servirem como remadores o que fez muita diferença nas suas
vitórias.Do ponto de vista jurídico, não havia oposições. A Assembléia do povo estava também
aberta aos tetes. Eles, para reinvidicar um poder político, invocavam seus feitos nas guerras
vitoriosas. Aqui se produz algo importante, pois alguns políticos influentes se colocam numa
posição hostil à Esparta, mas queriam mesmo era afastar o poder do Areópago e deixar a cidade
governada apenas pelas decisões populares da Assembléia do povo. Na violenta agitação, eles
mobilizaram novamente os tetes. Pela primeira vez uma cidade se afastava de seus aristocratas.
Depois de debates públicos, entre diferentes cidadãos, a opinião da maioria prevalecia. Porém,
tal maioria nada sabia de política e seguia os melhores oradores à mercê de seus humores e
paixões.
Ao invés de uma alternância no poder, surgiu a grande novidade: o poder deveria vir do
povo ou da aristocracia tradicional? A isonomia não impunha mais os limites à dominação ou ao
governo da aristocracia? Como algo de bom poderia vir de algo assim?
Por tudo isso que também aparecia como vontade dos deuses, os atenienses encontram
muita desconfiança. Para o exterior, eles se lançam em muitos empreendimentos que para os
outros aparecia como temeridade. Entre eles há o conflito contra Esparta, há uma expedição no
Egito destinada a sustentar a revolta contra os persas. Atenas também foi cercada por altos
muros e dispunha de uma frota capaz de expedições audaciosas. Entretanto, em seu interior
teme-se a conjuração e a guerra civil; o autor do rebaixamento do areópago foi assassinado.
Porém, apesar de tudo isso a democracia sustentava-se e os novos homens da pequena burguesia
adquiriam experiência política.
Havia uma constante participação e envolvimento com as questões da política, mas cada
vez mais, os estrategos dominavam. Diante das situações completamente novas e que exigiam
decisões rápidas, problemas foram surgindo com novas descobertas, dúvidas e
possibilidades.Na política externa Atenas e Esparta formam grandes e distintas alianças. As de
Esparta visam apenas a salvaguarda dos interesses comuns, há deliberações coletivas, já as de
Atenas se apóiam em seu poder militar e somente ela toma decisões. Esparta é passiva e Atenas
sempre procura agir e cobra tributos de seus aliados. Como os pequenos burgueses de Atenas
não podiam competir com a graça da aristocracia, eles forjam um estilo através das artes.
(música, arquitetura, retórica etc) Porém, tal embelezamento é financiado pelo tesouro da
Confederação. Péricles defende esses interesses através do direito de cidade que acabava sendo
um privilégio especial. Desta forma surgia um desejo de homogeneidade e uma demonstração
de que eles superavam todos os outros.
O poder dos oradores em transformar uma causa ruim e fraca em boa e forte era
certamente um savoir-faire, mas uma dúvida começava a surgir: até que ponto as novas
capacidades dos homens podiam servir igualmente à comunidade? A confiança no saber, no
progresso acontecia em quase todo mundo grego, mas em Atenas, assumia proporções maiores.
Péricles acreditava que o acaso podia ser negligenciado quando a superioridade fosse suficiente.
Ele sonhava com um empreendimento militar que mais tarde vamos reconhecer como a guerra
do Peloponeso. A estratégia de Péricles encontra graves resistências e foi rejeitada pela
Assembléia do povo. A divergência entre o projeto do líder e as possibilidades mentais da
maioria da Assembléia popular mostrava a distância entre o demos e sua elite intelectual que
era a da Grécia em geral. Havia realmente uma desconfiança e um medo no povo. Doravante
ninguém mais sabia exatamente o que era justo ou não. Não havia certeza se um direito
estabelecido arbitrariamente era válido como mostra a Antígona de Sófocles e a comédia Os
Pássaros de Aristófanes.
Enfim, que valores seriam válidos depois de tudo isso? Esperando sempre mais os
atenienses encontravam a desilusão. Os projetos viravam hábito e a esperança emudecia na
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própria espera. Havia um sentimento de insegurança. A destruição feita pela peste no começo da
guerra do Peloponeso era considerada como um sinal dos deuses. A vontade de ganhar, a
experiência do desespero, as dificuldades na condução das ações, tudo contribuía para o
agravamento das condições da cidade. Entre 411 e 404, houve uma decpção e uma incapacidade
de ver e avaliar a própria situação. Porém, a democracia recomeça depois do fracasso na guerra
do Peloponeso, mas de forma mais modesta. Ela reinicia com o processo contra Sócrates.
Depois dos acontecimentos de 461ª.C. que viram o Areópago perder seus poderes
políticos, Ésquilo religa-o a terrível história dos Átridas. Agamenon, Clitemenestra, Eletra e
Orestes aparecem ligados ao destino grego. Nenhum deles estava ali por acaso e sim por
necessidade. O encadeamento atroz das vinganças fora rompido pelo procedimento judiciário
que simbolizava a vitória da polis sobre todas as aporias. Substituindo o triunfo da política
humana sobre a divina, o poeta situa a história terrestre da cidade no seu lugar.
Nós ignoramos em que medida os atenienses perceberam a mudança da cidade. No
entanto,num fragmento de Platão que um homem que se afastou por três meses de Atenas,
quando voltou não mais a reconheceu. Mas uma coisa podemos garantir: os efeitos das
mudanças eram visíveis.
A audácia extraordinária da política ateniense, seus sucessos retumbantes, as grandes
mudanças e sua rapidez. Tudo isso não poderia deixar de trazer consequências múltiplas no
nível daquilo que Max Weber chama de saber nomológico. Um saber que permite o ajustamento
ao mundo, àquilo que nós somos perante a ele ou àquilo que poderíamos ser. Esse saber seria
fruto de uma educação, de uma aquisição consciente. Por outro lado, tal saber seria suscetível de
se desenvolver e se modificar, mas nom sentido de nos trazer alguma certeza e por isso deveria
apresentar certa resistência. Embora possa conter algumas contradições, ele não seria nem
sistemático, nem fechado.
Tal saber seria o quadro no qual as coisas, o nosso agir, ganhariam um sentido para nós.
Nós o criamos para nossa própria compreensão e julgamento. O saber nomológico uma imagem
do mundo, opiniões sobre as divindades, sobre o cosmos, a natureza, diversas representações do
acaso e da necessidade, daquilo que seria permitido ou proibido, verdadeiro ou falso, certo ou
duvidoso. As diferentes esferas da existência, natureza e civilização, política, economia, cultura
e vida privada poderiam ser concebidas como autônomas ou como ligadas umas às outras. Em
particular, a ação e o que se vivia politicamente tocavam necessariamente à moral.
No que diz respeito aos gregos atenienses dos séculos VI e V, supomos que esse saber
nomológico foi transmitido pelos aristocratas e foi indispensável para a solidariedade
democrática. Ao contrário do mundo moderno, o cidadão antigo não era um elemento de uma
sociedade dotada de competências determinadas onde uma boa parte das responsabilidades é
delegada a especialistas. Eles não pertencem a uma sociedade pluralista, o corpo dos cidadãos
atenienses era responsável por si mesmo. São justamente os membros populares que diante dos
nobres, deviam mostrar sua aptidão em conduzir essa responsabilidade. Pericles deixava ao
povo uma grande responsabilidade e os atenienses compreendiam que a cidade não era nada
além que o conjunto de seus cidadãos. A isonomia e a democracia deviam sustentar-se por si
próprias.
De saída, uma evidência parece impor-se: a crença na justiça e na responsabilidade.
Mesmo as guerras e as operações navais procediam diretamente do corpo cívico. Sem dúvida os
deuses e o acaso também podiam intervir. Mas, no corpo cívico sempre tomado por exigências
novas diante de situações também novas, não havia lugar para a rotina. A longa tradição de uma
razão de Estado ainda não existia e nem mesmo o modo de considerar e usar o poder dos
romanos. Tudo aquilo que os romanos conquistaram ao longo de séculos, os atenienses
conquistaram de um ano ou menos e deviam, por isso inventar atitudes e instrumentos que
pudessem garantir sua hegemonia.
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Todo saber nomológico era atropelado pelos acontecimentos e discussões eram feitas
sobre as regras morais que deviam orientar ou não os usos do poder. Assim, temos Sófocles que
declara a supremacia da política como o homem que observa as leis de sua pátria e o direito
sagrado dos deuses. Mais tarde Sócrates vai se justificar com relação à impossibilidade de
respeitar as regras morais. Por exemplo: até que ponto era-se livre para colocar para os cidadãos
e para outras cidades uma exigência que visasse exclusivamente o interesse da cidade? Por
exemplo: o problema se coloca quandoAtenas cobra tributos da Confederação para financiar a
política de grandes trabalhos de Péricles. O mesmo problema é evocado por Sófocles em duas
tragédias “Ajax” e “Antígona” onde o drama se dá em torno da questão de saber se a
condenação de qualquer um como inimigo da cidade pode condená-lo à morte. Quais os limtes
entre as ações dos homens e dos deuses? Enfim, Socrates se pergunta: O que é a Justiça?
Mesmo se suas dúvidas de dirigissem a um auditório restrito, diziam respeito à maioria dos
cidadãos.
Nos primeiros anos da criação da isonomia e da democracia nascente, os atenienses
tinham ainda um pensamento muito arcaico. O mito ainda estava fortemente presente, não
somente nas epopeias e tragédias, na poesia coral e nas frisas dos templos, mas igualmente nos
contos que embalaram sua infância e nas imagens que esculpiam.
Segunda parte do relatório: Os mitos homéricos no contexto trágico
Homero viveu por volta do século VIII a.C.,e foi um renomado aedo(poeta que cantava
poemas e feitos heróicos na Grécia antiga),tendo como suas principais obras a Ilíada e a
Odisséia.Apesar de a própria existência de Homero ser contestada,devido à grande inexatidão
com que é mencionado durante a história(as vezes como indivíduo,as vezes como várias
pessoas),Homero fez uma grande contribuição histórica com a Ilíada e a Odisséia,pois ambas
são a fonte de vários conhecimentos que temos sobre as tradições e costumes da Grécia
antiga,após a invasão de tribos Dóricas.De forma resumida,na Ilíada Homero narrou um período
entre o nono e o décimo ano da guerra de Tróia,que foi iniciada segundo o mito,com o sequestro
de Helena,mulher do Rei grego Menelau,e que terminaria com os gregos vitoriosos.E a Odisséia
nos conta as histórias de Ulisses(Odisseu),um famoso herói grego,que volta da guerra de Tróia
para sua cidade natal ,Ítaca,e que no caminho sofre inúmeras provações,narradas na epopéia.
Ambas as epopéias retratam de forma muito fiel os custumes gregos,inclusive a
organização social da época,que era feina em genos,ou, grandes famílias que administravam
determinada cidade ou região.Além disso,a própria existência de Tróia foi descoberta através
da Ilíada(mesmo que a real existência da cidade seja muito contestada).Boa parte do que
sabemos hoje sobre a Grécia após a invasão dórica vem das epopéias homericas.
No decorrer das obras é possível ver a intensidade dos valores homericos,sempre
discorrêndo sobre a excelência humana determinada pelo nascimento, ou, seja pelo genos
(definição para areté). Em muitos cantos discute-se sobre a timé, a honra do heroi e de seu clã,
conceito que se originou da tensão entre o impulso individual e a pressão social, uma vez que as
ações do homem homérico são interferidas divinamente, não há sençação de culpa, mas de
vergonha segundo seu destino não sofrer interferência; Sendo que na Ilíada, há sempre uma
força ou estado que atua na consciência humana: As Moiras ou as Erínias.
Embora haja semelhanças entre as duas obras como o heroísmo e os deuses, o espírito
de nobreza, a amizade, o respeito à família e as tradições mudam. A relação entre o homem e o
deus na Ilíada é como se o mortal fosse um instrumento nas mãos dos deuses, na Odisséia os
deuses são mais tutelares,mais protetores diferentemente da Ilíada em que toda a atividade
psíquica, através da psyché, teria sido originária sob a intervenção divina.
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Em toda a Ilíada, o mundo narrado terá sempre o mundo divino e o mundo mortal,
sempre colocando as ações dos humanos em dependência dos deuses que influenciam suas
ações. A consequência de destino humano estará ligada a um resultado natural, pois os deuses
só podem alterar as ações humanas e não o seu fim. Há em ambas as obras essa interferência
divina, entretanto na Odisséia é de uma forma mais interpretativa pelos gregos. Ulisses,por
exemplo, recusa a imortalidade que lhe é oferecida pela Ninfa Calipso (canto V), e o destino
humano é sempre ligado as Moiras.
Nas duas obras, o sistema político é ligado à religião, toda a justiça que ocorre no plano
dos mortais tem intervenção dos deuses. Assim foram criadas, através da deusa Têmis- deusa da
justiça, diversas leis que passaram de geração à geração oralmente: lei da hereditariedade, que
os erros ou faltas cometidos pelos antepassados eram trasmitidos através das gerações
posteriores; lei da palavra, acordo firmado oralmente já que não havia escrita; lei da retaliação,
que dava direitos aos genos de iniciar uma guerra caso tivesse alguém de seu clã morto por uma
pessoa de fora,ou seja, uma ofensa que geraria uma ofensa proporcionalmente a do ofensor e a
lei da hospitalidade, que trata o lar de forma sagrada, todo visitante que vai à casa de alguma
pessoa é recebido com as mesmas honras de um membro da família.
Em relação aos feitos heroicos na Ilíada, haverá vários herois que tentam ganhar um
espaço maior no genos, como Aquiles que quer ganhar a glória e Menelau que luta pela honra.
Já na Odisséia há um heroi principal, Ulisses, que tenta retornar a Ítaca a fim chega a civilização
e conquistar a glória. Outro ponto é a posição da mulher grega: na Ilíada, elas eram cativas,
escravizadas,como foram Briseide e Criseide. Já na Odisséia, eram ligadas ao plano espiritual,
como Circe, Calipso e as Sereias.
É interessante perceber as mudanças no mundo grego com o surgimento da Polis no
século V, e as mudanças ocorridas na sociedade. Com a tragédia Oréstia de Ésquilo,
representada pela primeira vez em 458 a.c, perceberemos algumas destas mudanças que
marcaram para sempre a civilização grega. Do século VI a.C. ao V d.C., em Atenas, o tirano
Pisístrato organiza o primeiro concurso dramático (534 a.C.). Apresentam-se comédias,
tragédias e sátiras, de tema mitológico, em que a poesia se mescla ao canto e à dança. O texto
teatral retrata, de diversas maneiras, as relações entre os homens e os deuses.
A tragédia grega, está ligada cultos e tradições, é também um reflexo da vida pública
do período clássico. Em Agamemnon, após a queda de Tróia, o comandante aqueu é recebido
como herói por sua esposa, Clitemnestra, que a seguir o assassina junto com a escrava troiana
Cassandra. O crime teria como motivo mais imediato o sacrifício,anos antes, de Ifigênia, filha
do casal, para que a esquadra grega obtivesseventos favoráveis que a levassem a Tróia.
Nas Coéforas, Orestes, diante do túmulo do pai assassinado pela própria esposa,
encontra a irmã, Electra, e ambos, invocando o espírito do morto,decidem a morte da mãe.
Orestes viera do exílio, depois de receber do Oráculo a missão de vingar o pai, caso contrário,
pagaria com a própria vida a omissão, depois de terríveis sofrimentos. Após matar Clitemnestra
e seu amante,
Egisto, Orestes se dirige ao santuário de Apoio em Delfos, para aplacar a maldição que nasce do
sangue derramado da mãe. No final da peça surgem, emsua perseguição, as Erínias ("Fúrias"),
antigas divindades de formas monstruosas,cuja função era vingar crimes entre consanguíneos.
A terceira peça, As Eumênides, inicia-se com Orestes no Templo de Apolo,em Delfos,
mas já alcançado pelas Erínias, que exigem a entrega domatricida. O deus o manda então a
Atenas, onde a deusa Palas Atena julgará odireito das duas partes. Para isso, Atena institui cm
cena o Areópago, o principaltribunal da cidade, que julgava crimes sangrentos. Apolo, durante
o julgamento, se apresenta como testemunha e diz ser o maior responsável pelo crime. Com o
voto a favor de Atena, Orestes é absolvido. Em vista disso as Erínias ameaçam o solo ateniense
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com a esterilidade, mas Atena diz que elas serão bem-vindas e cultuadas na cidade se aceitarem
a decisão que procede de Zeus. A trilogia termina com a tranformação delas em Eumênides,
protetoras da cidade de Atenas.
Neste fim há a criação de um tribunal onde a justiça dos homens, a diké, é uma justiça
humana ligada à politica e as leis. O divino não é mais colocado com interventor das ações
humanas, o heroi assume toda a responsabilidade de seus atos. A justiça divina permite a
violência e vingança de sangue em Homero. Já na Atenas do século V ocorre a criação de
intuições cívicas, com leis que fream essas ações e limitam as paixões. A poesia cantada pelos
aedos tinha a função de demonstar toda a glória dos heróis e a tragédia era uma instituição
politica que colocava em debate a tradição e os costumes dos tempos antigos.
Bibliografia:
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Janeiro: Jorge Zahar Editora,1990.
BRANDÃO,
Junito
de
Grega.Petrópolis:Vozes,1991
Souza.Dicionário
Mítico-etimológico
da
Mitologia
HOMERO.Ilíada.Tradução de Carlos Alberto Nunes,Rio de Janeiro: Ediouro,2001.
HOMERO.Odisséia.Tradução de Carlos Alberto Nunes,Rio de Janeiro: Ediouro,2001.
VERNANT,Jean Pierre.As Origens do Pensamento Grego.São Paulo: Difel,1972.
JAEGER,Werner Paidéia.A Formação do Homem Grego.São Paulo:Martins Fontes,1989.
MEIER, Christian, Política e Graça, Brasília: UnB, 1997.
MOSSÉ, Claude, Atenas: A História de uma Democracia, Brasília: UnB,1982.
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