ID: 54499386 23-06-2014 | Emprego & Universidades Tiragem: 17456 Pág: 4 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 16,24 x 26,63 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 3 ENTREVISTA “Queremos mudar a formação de executivos no mundo” Criar uma nova forma de digitalizar a educação, que revolucione a forma como se ensina nas escolas de negócios é o principal objectivo do reitor do INSEAD, Ilian Mihov, que esteve em Sintra a participar no Forum Global. C riar uma nova forma de ensinar que passa por misturar a formação ‘online’ com o ensino presencial é o principal objectivo do reitor do INSEAD, uma das escolas de negócios que está no ‘top 5’ do mundo. Ilian Mihov, em entrevista ao Capital Humano do Etv , sublinha que escolheu Portugal para realizar a sua conferência anual numa homenagem póstuma a António Borges, que liderou o INSEAD durante sete anos. Porque é que o INSEAD se define como a ‘business school for the world’? A nossa missão é educar os futuros líderes para que sejam mais eficientes. No INSEAD temos alunos de 90 nacionalidades. Não há outra escola no mundo que consiga atingir uma tão grande diversidade nas turmas porque, ao contrário de outras escolas, não existe nenhuma cultura que domine, porque cada país só pode ter, no máximo, cerca de 10% de alunos da turma. As escolas de negócios existem para promover negócios que são fonte de crescimento económico. Não há nenhuma outra forma de resolver o problema da fome e da pobreza, a não ser garantir o crescimento económico. Na China, por exemplo, cerca de 700 milhões de pessoas saíram da pobreza, por causa do crescimento económico. O principal motor do crescimento económico é a criação de negócios. A nossa missão é educar e preparar os líderes de futuro. Para que quando regressarem aos seus países acelerem o processo de criação de negócios para gerar crescimento e, assim, reduzir a pobreza. Como garantir que o que é apren- dido no programa é posto em prática quando se regressa à organização? Há sempre resistência quando se tenta implementar a mudança em todas as empresas. Se um líder de topo fizer o MBA, terá resistência dos gestores intermédios ao tentar implementar o que aprendeu. Se for uma chefia intermédia a fazer a formação a resistência poderá surgir do CEO ou dos seus subordinados. Para o evitar tentamos trabalhar com o maior número de gestores de cada empresa. E depois temos programas que ajudam a implementar a mudança. Para isso criamos o LEAP – Leadership Excellence Through Awareness and Practice, um programa em que acompanhamos semanalmente para verificar se o gestor de topo está a implementar o que aprendeu. Mas fazer a gestão da mudança é muito difícil. Que marca quer deixar no INSEAD? Por um lado quero manter a excelência académica e aumentar a eficiência na gestão da escola. A nossa qualidade de ensino e investigação já é muito elevada, mas quero melhorá-la ainda mais. O INSEAD sempre foi um dos grandes disruptores na formação de executivos. Criámos o primeiro MBA de um ano, o primeiro MBA fora dos EUA e fomos os primeiros a fazer formações à medida das empresas de uma forma global. Recentemente, li o livro “Da intuição à instituição”, que conta a história dos meus antecessores e fiquei impressionado. Mas a digitalização da educação é um dos meus principais objectivos. Apostando nos Massive Open Online Curses (MOOC)? São uma das ferramentas que podemos usar, mas queremos ir mais longe. “ O maior burlão de todos os tempos, Bernie Madoff que roubou 50 biliões de dólares, não tinha um MBA. ID: 54499386 23-06-2014 | Emprego & Universidades Tiragem: 17456 Pág: 5 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 16,48 x 27,21 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 2 de 3 Paula Nunes Ilian Mihov, reitor do INSEAD, veio a Sintra participar na Global Business Leaders Conference & Alumni Forum Europa 2014. “Manter a meta nos 3% não ajuda” Manter o défice da despesa pública em 3% não faz sentido neste momento, diz Ilian Mihov. Pensa que a política do BCE tem sido positiva para Portugal? A política monetária é decidida pelo Banco Central Europeu para toda a Europa. Mas por alguma razão os europeus reagem de uma forma mais lenta que os Estados Unidos e o Reino Unido. Mas não devemos ter deflação. O Banco Central Europeu deveria ter avançado com ‘quantitative easing’ muito mais cedo. Os passos que deu recentemente vão na direcção certa Os juros negativos nos depósitos podem ajudar. Mas continuo a pensar que operações de mercado aberto, em que se emitem eurobonds, introduzindo dinheiro no sistema podem ajudar muito mais. E se formos bem sucedidos podemos mudar a a formação de executivos no mundo. A beleza da formação ‘online’ é muito grande porque chega a todas as partes do o mundo. Mas sou muito cauteloso em relação aos MOOCS, porque a aprendizagem não é um processo que se possa fazer sozinho. Os MOOCS são como os ‘audiobooks’, permitem uma transmissão de informação passiva. Prefiro ler um livro do que ter alguém a a ler-me o livro. Mas se conseguirmos colocar a parte expositiva das aulas ‘online’, poderemos criar mais espaço na sala de aula para o debate. Porque é através da discussão que realmente se aprende. Penso que o futuro passa pela mistura da formação ‘online’ com o ensino presencial. As escolas de executivos foram apontadas como uma das causas da crise ...? Acho que é muito fácil generalizar e dizer que os MBA criaram a crise. Mas o maior burlão de todos os tempos, Bernie Madoff que roubou 50 biliões de dólares, não tinha um MBA. Há pessoas boas a más em todas as profissões. O mundo enfrenta hoje muitos problemas globais. E nas nossas aulas desafiamos os alunos a saber como resolver dilemas éticos e desafios de longo prazo. Neste momento queremos introduzir no nosso currículo mais temas relacionados com a sustentabilidade. ■ Madalena Queirós Capital Humano Segunda-feira e Quinta-feira às 14h45 A ministra portuguesa das Finança diz que flexibilizar o défice não é a solução. Concorda? Penso que manter a meta de 3% não ajuda muito. Mas continua a ser muito importante ter algumas restrições na política orçamental. Mas a questão essencial é que, nos tempos de crescimento económico, quando a economia está bem, os governos gastam dinheiro a mais, depois nos tempos de crise o défice cresce. Para ter um défice baixo em tempos de recessão deve poupar-se nas alturas de crescimento económico. Nos últimos 20 anos, a maioria dos países da UE, os EUA e o Japão tiveram défices em tempos de crescimento económico. Este é o grande problema do sistema monetária. Não existe qualquer incentivo para poupar nos tempos bons para ter dinheiro para os tempos maus. Acha que o euro tem futuro? Estar na moeda única traz mais benefícios do que pensam muitos países. Ter uma moeda estável é muito importante. Ainda há muito a aprender nas questões da União Monetária em economias complexas. Já no passado existiram zonas monetárias, mas em economias simples. Se o objectivo é ter uma política monetária e moeda única há que pensar cuidadosamente em como lidar com a política orçamental e ter flexibilidade em algumas metas. ■ M.Q. ID: 54499386 23-06-2014 | Emprego & Universidades Tiragem: 17456 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 6,94 x 1,34 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 3 de 3 Reitor do INSEAD defende flexibilização do défice P.4/5