o desafio de formar alunos adolescentes em professores

Propaganda
O DESAFIO DE FORMAR ALUNOS ADOLESCENTES EM
PROFESSORES
SANTOS, Antonio Fernando de Araújo – PUCPR.
[email protected]
WINKELER, Maria Sílvia Bacila – PUCPR.
[email protected]
Eixo Temático: Formação de Professores e Profissionalização Docente
Agência Financiadora: PIBID, CAPES
Resumo
Este artigo é resultado parcial da investigação realizada no projeto de pesquisa “O adolescente
hoje e seus estilos de aprendizagens”, desenvolvida por meio do PIBID (Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) da CAPES (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), vinculado à Pontifícia Universidade Católica
do Paraná, no Curso de Pedagogia. O objetivo do projeto de pesquisa foi compreender os
principais mecanismos de aprendizagens utilizados pelos alunos do Curso de Formação de
Docentes do Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto. A metodologia
utilizada para este estudo qualitativo foi um questionário estruturado aplicado a cento e
quarenta e sete alunos do referido curso. Ao analisar as informações advindas da investigação,
o grupo de pesquisa pertencente ao PIBID/Pedagogia percebeu a dificuldade dos adolescentes
quanto à prática leitora. Daí nascera outro trabalho, com o intuito de reconhecer o fenômeno
da crise da leitura na Formação Docente.
Palavra-chaves: Leitura. Formação de professores. Escola.
Introdução
O advento do século XXI não garantiu uma educação de qualidade para todos. Ainda
se vê escolas em descompasso com a pós-modernidade. E, nessa conjuntura, os jovens
encontram-se igualmente deslocados, pois a linguagem entre eles e a escola não se
complementa. Segundo Outeiral (2001, p.98) “o tempo das crianças e dos adolescentes hoje é
muito mais rápido do que o tempo dos adultos...” Isso, porque atualmente, tem-se um mundo
globalizado e tecnologicamente desenvolvido que fez com que a sociedade se modificasse.
Temos hoje a internet, a televisão, o rádio e os jogos eletrônicos e muitas outras facilidades
11530
que fazem parte da vida dos adolescentes, sem falar em outras formas nocivas, como o álcool
e drogas que estão em seu entorno a ameaçar sua integridade física e psicológica.
Observa-se que há escolas não dando conta de trabalhar com o conhecimento
historicamente construído e, consequentemente, não conseguindo desenvolver os aspectos
éticos, até mesmo porque há uma banalização desses princípios. Apesar de toda a adversidade
a escola possui um importante papel social, que nas palavras de Parolin (2001, p.116) serve
[...] para a integração da criança na sociedade, já que é uma instituição que está
socialmente reconhecida e comprometida em repassar o conhecimento científico
acumulado ao longo dos tempos e em construir novos conhecimentos. É na escola
que organizamos nossas diversas aprendizagens. Vivemos num contexto em que o
conhecimento nos é facilitado e nos chega sob inúmeras formas; contudo, não
bastam apenas termos contato com o conhecimento; é necessário também que
integremos essas informações e as elaboremos para que se tornem aprendizagens.
Portanto, a escola hoje vive um momento diferente da escola do passado e para
cumprir sua função, que é ensinar; deve adequar-se ao novo contexto social presente.
Conforme Fabrício e Costa (2001, p.184):
Houve-se um tempo em que era suficiente o comprometimento da escola com o
espaço acadêmico, funcionando como agente transmissor de informações. No
entanto, o jovem de hoje tem muito mais acesso a informações do que teve outrora,
sem precisar contar com a participação efetiva da escola. O adolescente acompanha
ativamente a rapidez dos avanços tecnológicos que favorecem a globalização, a qual
lhe propicia uma gama enorme de opções.
O adolescente hoje não se encaixa com a prática mnemônica e superficial que a escola
insiste em sustentar. Contudo, é importante que os professores conheçam como o adolescente
se desenvolve bio-psico-socialmente, e principalmente, como ocorre a aprendizagem,
reconhecendo seus diferentes estilos de aprendizagem, suas experiências, pois a escola que os
ignora está fadada ao fracasso.
Os adolescentes e seus estilos de aprendizagens
No segundo semestre de 2010 os bolsistas do PIBID/Pedagogia/PUCPR, realizaram
um projeto de pesquisa no Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto
intitulado “O adolescente hoje e seus estilos de aprendizagem”. Tinha como objetivo
11531
conhecer os estilos de aprendizagem apresentados pelos alunos do Curso de Formação de
Docentes em nível médio, na forma integrada, para contribuir com o aperfeiçoamento da ação
docente desses professorandos. A problematização do projeto de pesquisa foi: quais os estilos
de aprendizagens apresentados pelos alunos do Curso de Formação de Docente?
O grupo de pesquisa, primeiramente, observou a prática dos docentes. Os bolsistas
observaram as aulas de diferentes disciplinas. Após, a coordenadora realizava um momento
de reflexão sobre as observações. Atualmente, os bolsistas estão, também, atuando como
docentes. Porém, antes da ação realizavam-se os planejamentos junto às coordenadoras
pedagógicas do Curso de Formação de Docentes do Instituto de Educação do Paraná
Professor Erasmo Pilotto. O colégio está localizado no centro do município de Curitiba.
O Curso de Formação Docente, atualmente, possui seiscentos e quarenta e um alunos
na modalidade integrada. Prepara docente para atuação na Educação Infantil e Anos Iniciais
do Ensino Fundamental, em nível Médio. A forma integrada tem a duração de quatro anos e a
maioria de seus alunos é composta de adolescentes advindos do Ensino Fundamental, de
diversos bairros de Curitiba e região metropolitana.
Foram entrevistados cento e quarenta e sete alunos do Curso de Formação de Docentes
e como instrumento metodológico do projeto de pesquisa foi utilizado um questionário
estruturado. O questionário continha perguntas como: a) aprende melhor quando o professor
utiliza esquemas e/ou resumos no quadro de giz, livros, explicações orais, recursos
audiovisuais ou atividades práticas; b) prefere ouvir as explicações, anotar os exemplos e
conteúdo na lousa, ler os textos junto com o professor, visualizar imagens, esquemas, filmes e
outros; c) aprende melhor sozinho, em grupo, com o auxílio do professor, com auxílio dos
familiares ou com pesquisas na internet sobre o tema; d) nos trabalhos em grupos com os
colegas geralmente fala mais do que escuta, geralmente escuta mais do que fala, toma a frente
dos trabalhos e distribui as funções que cada um tem de desempenhar, espera que alguém diga
o que tem que fazer ou prefere realizar sozinho e colocar o nome dos colegas; e) nos debates e
discussões prefere desempenhar papel secundário a liderar as discussões, prefere liderar as
discussões ou ser o mais participante, se o assunto é de interesse próprio, participa ativamente
das discussões ou respeito às ideias dos colegas, acatando-as sem discussão.
De acordo com a análise das informações, observou-se na primeira questão que o
aluno aprende melhor quando o professor utiliza diferentes metodologias e recursos e há uma
predominância para as atividades práticas. Oitenta e três alunos acreditam que essa é a forma
11532
ideal para aprender. Neste sentido pode-se concluir que (56%) dos alunos entrevistados
possuem inteligência cinestésica visual, o que leva sua memória a captar as informações
imediatas, porém, sendo necessário que essas sejam relacionadas às suas vivencias para se
tornem aprendizagens significativas. Na mesma questão, vale ressaltar, que outros indícios
chamaram atenção; dos alunos pesquisados, pois trinta e um alunos (21%) aprendem melhor
quando o professor utiliza esquemas ou resumos na lousa. Dessa forma, conclui-se que a
utilização de esquemas e resumos contribui para a organização do pensamento, uma vez que
esses alunos além de possuírem um estilo de aprendizagem visual, também se apoiam na
escrita para aprender.
Já em relação aos recursos audiovisuais, como televisão, recursos de multimídia, etc,
vinte e sete alunos dizem que aprendem melhor com tais ferramentas. Uma das prováveis
hipóteses seria que os recursos auxiliariam na aquisição de conceitos mais abstratos e na
compreensão destes em suas relações. Porém, o questionário revelou que a utilização de livros
e textos não estão na preferência dos alunos, constituindo o número de apenas quatro alunos,
(2,7%) entre os cento e quarenta e sete pesquisados. O resultado apresentado levou os
pesquisadores a concluir que tais recursos utilizados por uma grande parte professores,
segundo observações das ações docentes, não surte efeitos tão positivos quanto aos esperados
por eles. Tal fato leva a questionar a forma como estes vem sendo utilizados pelos professores
e de que maneira as mediações estão sendo realizadas.
A segunda questão complementa a primeira, pois questiona a preferência dos alunos
quanto à aprendizagem. Portanto, corrobora a necessidade dos alunos de visualizar imagens,
esquemas, filmes para aprender. Setenta alunos (47%) escolheram esse aspecto como modo
ideal para se obter o conhecimento.
A terceira questão enfatiza a relação do aluno consigo mesmo e com o outro no
processo de ensino e aprendizagem. Quando questionados, cinqüenta e sete alunos (38%)
responderam que a figura do professor é muito importante para construir conceitos. Porém,
apenas um aluno (0,6%) busca na família o auxílio para aprender. Outro aspecto relevante é
que somente nove alunos (6%) utilizam a internet como instrumento de aprendizagem.
A quarta questão ressalta a relação dos alunos com os demais colegas na realização
dos trabalhos escolares. Observou-se que quarenta e nove alunos (33%) falam mais do que
escutam os companheiros. Apenas nove alunos (6%) preferem realizar o trabalho sozinho.
11533
Na quinta questão é enfatizada a postura dos alunos diante dos trabalhos. Observou-se
que cinquenta e dois dos alunos (35%) participam mais quando o conteúdo é envolvente, ou
seja, quando tem significado imediato para ele. Pode-se verificar também que sessenta e um
dos alunos (41%) preocupam-se em discutir e trazer para o grupo as suas ideias.
O projeto de pesquisa demonstrou a necessidade de realizar-se um trabalho de
qualidade com os alunos adolescentes, pois os mesmos esperam que a escola seja mais
dinâmica e não engessada em suas “verdades absolutas”. A escola precisa rever as
metodologias utilizadas, seus mecanismos avaliativos e suas relações interpessoais. Vale
ressaltar, que são futuros profissionais da educação e, portanto, faz-se necessário ter um
ambiente que os estimulem a uma prática pedagógica de sucesso. Concluiu-se que os
adolescentes do curso de Formação de Docentes, de modo geral, possuem características
ativas de estilo de aprendizagem. Apresentam a necessidade de visualizar imagens e mediação
do professor. Por isso, é fundamental conhecer como se dá o processo de aprendizagem dos
educandos. A escola, muitas vezes, ignora ou desconhece as particularidades desses sujeitos e
determinam uma padronização, acreditando que todos aprendem da mesma forma. Sabe-se,
hoje, que cada um possui seu tempo para aprender e cabe à escola adequar-se a essa nova
realidade.
Vale ressaltar que ao analisar as informações advindas dos questinários, o grupo
percebeu que apenas 2,7% por cento dos entrevistados aprendiam com os textos. Portanto, a
prática leitora não se constituía como ferramenta para aquisição de conhecimento. Os alunos
demonstraram uma resistência à leitura.
A crise da leitura na formação docente
É contraditório, presenciar na Formação de Docentes uma “crise de leitura”, pois é o
ambiente formador de novos profissionais da educação. Para melhor exercer a futura profissão
é necessário ler. O professor deve ter uma atualização permanente; deve reconhecer que as
informações são importantes para que saiba concatenar diferentes saberes e, principalmente,
que faça o educando aprender. Ele é o exemplo para o aluno. O professor que não lê, pratica
engodo, pois tem o dever de formar novos leitores; porém, se ele mesmo não possui a prática
leitora, seus alunos conseqüentemente não gostarão de ler. Segundo Freire (1987, p.82):
11534
A confiança implica o testemunho que um sujeito dá aos outros de suas reais e
concretas intenções. Não pode existir, se a palavra, descaracterizada, não coincide
com os atos. Dizer uma coisa e fazer outra, não levando a palavra a sério, não pode
ser estímulo à confiança.
Então, quando os alunos, durante seu desenvolvimento cognitivo, internalizam que a
leitura é enfadonha e insignificante, prejudica-se todo o percurso escolar. Neste círculo
vicioso, quem perde é a sociedade, pois sujeitos iletrados ou mal informados são facilmente
segregados e candidatos à opressão. Formar uma sociedade mais justa e democrática passou a
ser um desafio para a escola. Segundo Bozza (2010, p.41): “Formar leitores é uma estratégia
concreta na luta contra a barbárie! Ler é sinônimo de informação e formação. Não ler é
codinome para a alienação. Não ler é estar à mercê da voz de outrem. É tomar para si os
valores que outros construíram”.
Portanto, é preciso questionar a raiz do insucesso da leitura nas escolas brasileiras.
Vale ressaltar que as “velhas práticas pedagógicas” devem ser revistas, proporcionando de
vez, um ensino mais significativo para os educandos. A leitura não deve estar relacionada a
textos que se processam pela simples decifração do código escrito, prescindindo qualquer
exercício de compreensão do mundo e de si mesmo, pois “a leitura do mundo e a leitura da
palavra estão dinamicamente juntas” (FREIRE, 2005, p.29). O mesmo autor corrobora com:
“a compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das
relações entre o texto e o contexto” (p.11). A partir disso, o educando percebe que o
conhecimento obtido é algo que foi historicamente construído e formulado a partir das
observações do mundo.
O Brasil, nesse século XXI, figura-se como um dos países emergentes que buscam um
cenário melhor no ranking das economias mundiais, ainda possui um dos grandes problemas
para se revolver: o analfabetismo. A taxa de analfabetismo ainda é muito alta. Os últimos
dados apontam que o analfabetismo entre pessoas de quinze anos ou mais de idade caiu de
10% para 9,7% entre 2008 e 2009. No entanto, este porcentual ainda representa um volume
grande em números absolutos, somando 14,1 milhões de analfabetos no país em 2009, a
maioria concentrada entre homens, maiores de vinte e cinco anos e localizados na região
Nordeste. As conclusões constam da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)
11535
de 2009, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 1. Segundo a
Revista Nova Escola (2010, p.08):
O último Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional (Inaf), divulgado em 2008
pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG ação Educativa, revela que apenas
28% dos brasileiros com idade entre 15 e 64 anos têm domínio pleno da leitura e da
escrita- ou seja, conseguem ler textos longos, localizar e relacionar mais de uma
informação, comparar dados e identificar fontes. Entre os 72% restantes, as
habilidades de leitura e escrita são rudimentares ou básicas, limitando-se à
compreensão de títulos, frases e textos curtos.
Essas mazelas obstaculizam o desenvolvimento do país. Mas, vale lembrar, que o
Brasil foi por quase três séculos colônia dependente de Portugal e grande parte desse período
a educação brasileira simplesmente não se consolidou. Fica patente, que a crise da leitura no
Brasil pode ser identificada como uma “história cultural”. A educação brasileira, ao longo do
tempo, provocou uma luta de classes, e isso, instaurou as desigualdades ao acesso à cultura. A
crise da leitura é o resultado do “rompimento de uma barragem” que sofreu sua ruptura no
início da escolarização do Brasil. No entanto, uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro
de Opinião Pública e Estatística (Ibope) e o Instituto Pró-Livro (2010) mostra que 45% da
população não lê nenhum exemplar por ano (desses, 53% dizem simplesmente “não ter
interesse” e outros 42% admitem “ter dificuldades” para obter tais livros. A pouca prática
leitora, as poucas bibliotecas, os livros caros e as escolas que não conseguem disseminar a
leitura nos alunos são reflexos de uma história construída pela e para a elite. Pretendendo-se
mudar esses ranços históricos é preciso formar sujeitos autônomos e livres da alienação.
Freire (1987, p.67) afirmava que “se pretendemos a libertação dos homens não podemos
começar por aliená-los ou mantê-los alienados”. No bojo dessa questão, os professores, a
família e o Estado podem ajudar a construir uma nova sociedade.
A instauração da crise da leitura nas escolas brasileiras e no Curso de Formação de
Docentes, que é o foco de pesquisa, retrata um quadro preocupante. A possibilidade desses
novos professores, recém-formados, de serem alfabetizadores é grande. Isso porque, há uma
“cultura” nas escolas de que os professores “mais velhos de casa” vão lecionar para o quarto e
o quinto ano do Ensino Fundamental, ficando para os jovens professores os primeiros anos.
1
Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foram extraídos do endereço
eletrônico:
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,
ibge-brasil-ainda-tem-141-milhoes-de-analfabetos,
606738,0. htm. Acesso: dia 14 de julho de 2011.
11536
Estes professores, muitas vezes despreparados, recorrem às cartilhas tradicionais e exercícios
prontos. Não trazem novidades, não relacionam o conteúdo ao cotidiano das crianças, até
mesmo porque não sabem fazer isso, falta-lhes fundamentação teórica.
A escola passa por um momento histórico onde se precisa de professores com algo a
mais, que acreditam na educação, que ainda se emocionam, que gostam de gente, que gostam
de estar em sala de aula, que se envolvam no processo de ensino e aprendizagem dos seus
educandos. Ao mediar à leitura, o professor está auxiliando seus alunos a “construir pontes”
entre os conhecimentos e a realidade. Segundo Petit (2008, p.166) “não é a biblioteca ou a
escola que desperta o gosto por ler, por aprender, imaginar, descobrir, É um professor, [...]
que, levado por sua paixão, a transmite através de uma relação individual”.
Entretanto, a escola não pode ser responsabilizada sozinha por uma questão que é
político-social. Mas, sendo o problema da leitura também de competência educacional, faz-se
necessário que ela reveja o seu diálogo pedagógico e apresente soluções para a formação de
leitores, reflexivos e comunicativos.
No Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto, campo da pesquisa, as
coordenadoras pedagógicas juntamente com a equipe de professores e, sobretudo, os da área
de Língua Portuguesa fazem um acompanhamento com os alunos que apresentam
dificuldades de aprendizagem. No curso de Formação de Docentes noturno, a coordenadora
pedagógica relatou que, às vezes, é necessário o resgate da alfabetização, pois os alunos
apresentam dificuldades que não cabem ao Ensino Médio, pois se espera que esses sujeitos já
possuam certos domínios linguísticos estruturados. Portanto, como alfabetizar uma turma de
trinta, quarenta alunos, se os próprios professorandos possuem deficiências? Segundo Pimenta
(1990, p.125) “a alfabetização é o eixo central da atividade na faixa da 1ª. à 4ª. série do 1º.
grau”. Não há como atuar sem estar capacitado. Os professores formados sem a consciência
crítica de sua ação docente são como ligados no “piloto automático”, e consequentemente
impedem que o processo de ensino e aprendizagem se constitua. Ensinar não é tarefa fácil,
requer estudos, requer planejamento do que, como e por que ensinar. Nesse enfoque, o ato de
ensinar não pode se encarado como algo sem metas, pois só se atingem objetivos quando se
sabe para onde se quer chegar.
O Instituto de Educação do Paraná vem utilizando alguns projetos de incentivo à
leitura, a fim de que atenue a problemática. Há o projeto Ler é Cultura, organizado pelas
coordenadoras pedagógicas e que envolvem professores e alunos. O projeto abarca diferentes
11537
obras com cunho pedagógico, e os alunos escolhem aqueles que lhes interessam. Cada aluno
lê a obra escolhida e com a semana do projeto marcada, apresentam suas reflexões. Vale
ressaltar que o grupo de pesquisa também participou do projeto Ler é Cultura realizado em
abril de 2010, ora observando ora lendo e participando das discussões. Existem também
outros projetos como: Seminário de Apresentação dos Livros da Universidade Federal do
Paraná, destinado aos formandos do Curso e enfatiza as obras recomendadas pela
universidade mencionada. Neste projeto os alunos são divididos em grupos e apresentam a
temática do livro escolhido, fazendo possíveis relações ao cotidiano. Este projeto tem também
como objetivo o preparo daqueles alunos que farão o vestibular. No projeto Roda de
Conversa, os alunos apresentam seus livros preferidos. Também há o projeto Sarau de
Contação de Histórias, onde é fornecido para os professorandos do primeiro ano do Curso de
Formação Docente uma oficina de práticas pedagógicas, ensinando-lhes a arte de contar
histórias com poucos recursos didáticos, isto é, utilizando mais a expressão corporal. Após, os
alunos escolhem um livro e o apresenta seguindo os critérios estabelecidos pela oficina.
O ensino na Formação de Docentes busca uma sólida fundamentação teórica que
resulte numa instrumentalização técnica de seus educandos, mas esbarra na falta de prática
leitora que os impede ter uma formação de qualidade.
É preciso propostas de mudanças efetivas para a Formação de Docentes. Conforme
Pimenta (1990, p.20):
O fracasso da escola pública de ensino fundamental, é explicado, entre outros, pelo
fracasso do Curso de Formação de Docentes, que não tem conseguido formar
professores capazes de proceder às alterações necessárias na organização escolar de
forma a melhorá-la.
Então, começar por quem ensina, pode ser um caminho adequado para a
transformação da educação brasileira e consequentemente para uma sociedade mais justa e
democrática. Os profissionais da educação são diretamente responsáveis pela inserção dos
sujeitos na sociedade, e seu fazer pedagógico possui tamanho impacto na vida social de cada
aluno.
11538
Considerações Finais
De acordo com a análise dos dados do projeto de pesquisa, a crise da leitura
demonstrada no Curso de Formação Docente é igualmente preocupante, pois se acredita que
os professorandos exercerão a função de disseminadores da prática leitora e que
desenvolverão nos alunos o interesse pela leitura. Se assim não se configurar, a educação
deixará de formar sujeitos críticos para formar sujeitos autômatos e o país pagará o alto preço
para restaurar esse papel não exercido. Basta vislumbrar a analfabetismo funcional que se
constata em grande parte da população brasileira.
A falta de hábito de leitura tem sido apontada como uma das causas do fracasso
escolar do aluno e, em consequência, do seu fracasso enquanto cidadão. Portanto, é
fundamental que a sociedade reconheça, assim como a instituição escolar, que a leitura se faz
necessária para que o país seja realmente democrático e livre de espectros como o
analfabetismo, a evasão, a repetência escolar e, claro, o estado de alienação provocada pela
crise da leitura. Segundo Pimenta (1990, p. 92)
A escola precisa traduzir o saber historicamente acumulado em conteúdos escolares
a serem ensinados, de modo que os alunos aprendam, deles se apossem como
condição do exercício de sua cidadania no processo de transformação da sociedade.
A educação escolar tem, pois, uma finalidade sócio-política.
Porém, paradoxalmente, a escola não vem cumprindo a função socializante do saber
para todos, vide os espantosos índices de analfabetismo, evasão e repetência escolar.
Entretanto, como a educação terá a finalidade sócio-política se na formação docente há
sujeitos resistentes à prática leitora? Para que a finalidade sócio-política da educação se
constitua é fundamental que na formação docente,
O professor tenha adquirido uma aguda consciência da realidade e uma sólida
fundamentação teórica que lhe permita interpretar e direcionar essa realidade, além
de uma consistente instrumentalização para que possa interferir na realidade em que
atuará. (PIMENTA, 1990, p.94)
A má formação forma maus professores e produz lentamente uma “morte social”. Esse
“falecimento” torna-se patente quando se percebe o grande número de alunos excluídos
11539
socialmente. Porém, o país já se deu conta que essa dinâmica é verdadeiramente letal, pois o
mesmo almeja o desenvolvimento econômico-político-social e não vem encontrando mão-deobra qualificada para o mercado de trabalho, confirmando que algo precisa ser urgentemente
transformado na educação brasileira.
É consenso que na escola deve-se trabalhar com a diversidade textual. Precisam-se
rechaçar os textos pobres que não tem nada a agregar e enfatizam a sistemática da
decodificação. Segundo Petit apud Shön (2008, p.160) “a escola aparece como a instituição
com maior responsabilidade pela perda do encanto das leituras de infância”. No aprendizado
inicial da leitura é comum observar crianças com enormes dificuldades para compreender o
que está escrito, pois não conseguem retirar do texto informações relevantes para si. Ler
pressupõe compreender o significado do texto.
Nas escolas, o livro tornou-se um instrumento básico de complementação às funções
pedagógicas administradas pelo professor. Porém, sua inserção no meio acadêmico não é
garantia de um maior acesso à prática leitora. Pesquisas demonstram que o trabalho da leitura
nas escolas é pouco praticado. A gramática e a ortografia, que são inexoráveis, aparecem com
mais frequência que um trabalho de compreensão de texto, leitura silenciosa ou em grupo.
Apesar de todos os anos de trajetória acadêmica, os jovens pouco leem. Os poucos livros lidos
por completo são exigência do professor, porém, exigir a leitura sem orientar é um ato de
violência, pois ela deve ser realizada com prazer, e este não se exige, se conquista.
REFERÊNCIAS
BOZZA, Sandra. Formar leitores: possibilidades de vencer a barbárie. In: Na escola sem
aprender, isso não! Pinhais, PR: Editora Melo, 2010.
FABRÍCIO E COSTA. Educação para adolescentes: um olhar sobre a diferença. In:
WEINBERG. Geração delivery: adolescer no mundo atual. São Paulo: Sá Editora, 2001. p.
183-191.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
_____________. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo:
Cortez, 2005.
PAROLIN, Isabel. Adolescência nossa de cada dia. In: WEINBERG. Geração Delivery:
adolescer no mundo atual. São Paulo: Sá Editora, 2001. p.115-225.
11540
OUTEIRAL, Luiz. Adultos modernos e adolescentes pós-modernos. In: WEINBERG.
Geração Delivery: adolescer no mundo atual. São Paulo: Sá Editora, 2001. p. 97-114.
NOVA ESCOLA, Revista. Edição Especial- Leitura, n.18. São Paulo: Abril, 2010.
PETIT, Michèle. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: Editora 34, 2008.
PIMENTA, Selma Garrido; GONÇALVES, Carlos Luiz. Revendo o ensino de 2º. Grau:
propondo a formação de professores. São Paulo: Cortez, 1990.
Download